segunda-feira, 13 de junho de 2011

Moby Grape: parte 2


Em 1971, o produtor David Rubinson convidou os membros do Moby Grape para uma nova reunião. Conseguindo um contrato com a Warner Brothers, e tendo ganho na justiça temporariamente o direito sobre o nome Moby Grape, Miller, Stevenson, Mosley e Lewis estavam ainda interessados na recuperação de Spence, que acabara de sair de um longo tratamento. Juntando a fome com a vontade de comer, topam a proposta, voltando a ativa depois de quase dois anos afastados.

20 Granite Creek: Moby Grape como sexteto

Agora, o Moby Grape contava com sua formação oficial, com Bob Mosley (baixo, vocais), Jerry Miller (guitarra, vocais), Peter Lewis (guitarra, vocais), Don Stevenson (bateria, vocais) e Skip Spence (guitarra), adicionados ainda de Gordon Stevens (viola, dobro, mandolim). Com a participação especial do produtor David Rubinson no piano elétrico e congas, além de Andy Narell na percussão, 20 Granite Creek foi lançado como sendo uma grande volta do grupo. 


No geral, um bom álbum, mas que peca por ter uma canção tão boa, mas tão boa, que as demais parecem fracas. O LP abre com "Gypsy Wedding", um boogie pesado, onde baixo e guitarras sobressaem ao lado das vocalizações, cantando o nome da canção, seguido por "I'm the Kind of Man that Baby You Can Trust", um country-rock safado, levado por guitarra, baixo e bateria, tendo as vocalizações novamente presentes acompanhando os vocais de Miller, que faz um maravilhoso solo. Depois do solo de Miller, essa canção transforma-se em um belo blues, onde Lewis, Mosley e Stevenson fazem um bom arranjo para acompanhar as inspiradas escalas de Miller.

"About Time" apresenta Stevenson na guitarra, e ele faz a introdução acompanhado pela viola de Gordon Steven, o baixo e o dedilhado da guitarra de Lewis. Stevenson também canta a primeira parte da canção, a qual transforma-se em um psicodélico country com a entrada da dobro guitar de Stevens, encerrando a canção com um rápido solo de Miller.

"Goin' Down to Texas" é um rock similar as canções do primeiro disco, lembrando a entrada triunfal de "Omaha", sendo cantado por Lewis em um ritmo gostoso feito por Mosley e Stevenson, comprovando serem uma das melhores cozinhas do rock californiano, principalmente durante o duelo de solos de guitarra.

"Road to the Sun" é um boogie swingado, cantado por Mosley, e tendo uma linha funkeada através do andamento marcado de guitarra, baixo e bateria, onde o baixo aparece com mais destaque, bem como as vocalizações trabalhadas estando presentes antes e depois dos tímidos solos de Lewis e Miller.

O country é retomado na leve "Apocalypse", cantada por Lewis, tendo nos dedilhados das guitarras o principal destaque. A viola está presente no andamento da canção, e Miller faz um solo alucinante sob as grudentas vozes de Lewis e Miller.


Rara foto do Moby Grape reunido em 71
Daí vem o lado B, e com ele, a excepcional "Chinese Song", que coloca tudo o que você ouviu até o momento para o ar. Essa canção é tão diferente das demais que sua beleza acaba sendo um brilho ofuscante, tamanha a profundidade alcançada por outra grande composição de Spence, sendo a única que ele participa, mostrando que mesmo sofrendo de excessos de loucura, ainda fazia as melhores canções do grupo. Tudo começa com Spence fazendo o tema central da canção utilizando-se do koto (uma espécie de cítara japonesa), acompanhado apenas pela percussão de Andy Narell.

A guitarra de Miller surge fazendo o tema junto com Spence, tendo ao fundo a marcação de baixo e bateria, além da constante percussão de Narell. Então, koto, guitarra, baixo e bateria fazem uma sessão marcada, com Stevenson comandando o ritmo para viola e koto brincarem em cima do tema inicial, voltando ao trecho marcado e tendo sempre o leve acompanhamento da percussão de Narell, funcionando como um relógio.

A viola aparece junto com o koto, fazendo estripulias em cima do tema principal em um tom abaixo do original, e o rufar da bateria de Stevenson é a deixa para koto, percussão e viola criarem um novo tema, onde Stevenson passa a fazer um estranho acompanhamento, voltando assim para o tema inicial com todos os instrumentos executando a linda melodia que grudará na sua cabeça por dias, encerrando a canção apenas com o koto executando o tema principal. Lindo e emocionante!

Depois dessa maravilha, o LP segue com "Roundhouse Blues", um agitado country cantado por Lewis, onde o dobro, guitarras, baixo e bateria fazem o andamento rápido similar aos clássicos de filmes de faroeste, destacando o solo de viola  feito por             .

"Ode to the Man at the End of the Bar" possui piano elétrico, baixo, mandolim e bateria, onde a bateria é tocada por Mosley e o baixo por Jeffrey Cohen. Os vocais de Miller cantam uma espécie de country-disco, que não faz jus a carreira do Moby Grape. "Wilds Oats Moan" por sua vez é um ótimo funk suingado, comandado pelo longo solo de Lewis e pela forte marcação de baixo e bateria, além de Miller fazendo um ritmo muito bom, sendo realmente as guitarras o maior destaque com seus solos.

O LP encerra-se com "Horse Out in the Rain", onde o tema da guitarra de Miller é acompanhado pelos delirantes acordes de Skip, trazendo a voz de Lewis em uma viajante balada psicodélica, com presença da viola e de um belíssimo arranjo instrumental.


20 Granite Creek ficou apenas na posição 177, mas trouxe o nome Moby Grape novamente para os palcos. Em 21 de maio, o grupo apresentou-se no San Francisco Civic Center, na Califórnia. Em junho, participam dos shows de encerramento nos Fillmores de Nova Iorqe (18 e 19) e San Francisco (24, 25, 26 e 27) e no dia 13 de dezembro de 1971, fazem o último show com Spence, novamente no San Francisco Civic Center.

Durante a turnê, Spence começou a novamente surtar. Os shows no Fillmore, por exemplo, são relatados como os piores da carreira do grupo. Apesar de apresentarem canções inéditas como "When You're Down the Road", "Just A Woman", "There Is No Reason", "We Don't Lnow Now" e "Sailing", bem como uma versão a capela para "Ode To The Man At The End Of The Bar" feita por Mosley, a dinâmica não funcionava.


O pior ocorreu quando Lewis viu Spence a beira da morte, logo após encontrar o colega com a cabeça em uma forca, em uma tentativa de suicídio. Spence estava consumindo mais e mais heroína e cocaína, e durante o período de retorno da banda, chegou a "falecer". No necrotério, pouco antes de verificarem a causa de sua morte, Spence levantou-se e pediu um copo dágua. Na verdade, ele havia entrando em coma por causa da overdose de cocaína.

Skip Spence, gênio indomável
O período de consumo de drogas por Spence era tanto que o rato que ele cuidava, chamado Oswald, também cheirava cocaína. A casa de Spence havia se tornado um imenso chiqueiro, e faminto por sexo, Spence pagava garotas menores de idade para ir até sua casa em troca de serviços. Porém, um dos pais descobriu o que estava acontecendo e chamou a polícia, que logo perceberam que a loucura havia pegado novamente.

Em estado deprimente, Skip foi levado para o Hospital de Saúde Mental do Condado de Santa Cruz, de onde acabou fugindo logo após chegar. Depois de dias, Skip foi encontrado na sala de enfermaria de mulheres, e finalmente, voltou para um longo tratamento. Depois do tratamento, Lewis levou Skip para um monastério em Lucia. Lá, os monges fizeram uma espécie de "sessão de exorcismo" com Spence, lembrada por Lewis como sendo a pior noite de sua vida. Depois da sessão de exorcismo, onde segundo Lewis seu colega uivava como um cão, os monges indicaram que deveriam retornar, já que estavam assustados com o comportamento de Skip.


Na volta para casa, Skip começou a sofrer novamente das insanidades, e sentado no banco de trás do carro de Lewis, tentou estrangulá-lo. Lewis conseguiu se livrar de Skip, e durante as duas horas de viagem entre Lucia e San Jose, por diversas vezes Lewis sentiu medo e a presença de uma força maligna ao redor de Spence. Na chegada a San Jose, os efeitos da viagem passou, e Skip aos poucos foi se recuperando, mas nunca mais foi o mesmo.

Isso tudo ocorreu no período em que a Columbia Records lançou a coletânea Great Grape, em 1972, trazendo 11 canções do período da banda na gravadora. Enquanto Spence era levado para a sessão de exorcismo, Miller e Mosley fundaram o grupo Fine Wine, ao lado de Michael Been (guitarras) e John Craviotto (bateria). O grupo excursionou durante alguns anos, e em 1976 lançou o homônimo Fine Wine, que não chegou a fazer sucesso.

Ainda em 72, Mosley lançou seu primeiro disco solo, Bob Mosley, e em 74, o segundo álbum solo, Never Dreamed. Ainda em 74, fazem uma reunião com Mosley, Miller, Stevenson e Lewis, fazendo shows em maio (08 em Denver, 17 em San Francisco), e passando uma temporada na Califónia durante junho (16 em Berkeley, 28, 29 e 30 em San Anselmo) e julho (19 em San Francisco, 20 e 21 em Berkeley). No início de agosto (02 e 03) apresentam-se em Hayward, Califórnia, e em 08 de setembro, no Orphanage, em San Francisco. Outubro, novembro e dezembro seguiram-se com mais shows pela Califórnia, tocando em San Francisco (04-12/10; 02/11 e 17/12), Santa Monica (05/10) e Arcata (25 e 26/10).

The Ducks: Johnny Craviotto, Bob Mosley, Jeff Blackburn e Neil Young
Em 77, Mosley e Craviotto formaram o The Ducks, ao lado de Neil Young (guitarras) e Jeff Blackburn (vocais), fazendo diversos shows durante 1977, mesmo ano em que uma nova reunião do Moby Grape começou a brotar. Depois de todo o tratamento para recuperar Spence, ele e Lewis se tornaram grandes amigos. Lewis chamou o pessoal do Moby Grape para fazer shows e tentar re-viver (mais uma vez) a carreira de Spence. Stevenson estava ocupado com vendas de ações, enquanto Mosley estava no The Ducks.

O excelente Live Grape

Miller topou o convite, e chamou para completar o grupo o ex-Doobie Brothers Cornelius Bumpus (teclados, saxofone), o baterista John Oxendine e o baixista Chris Powell. Durante alguns shows, Daniel Spence (irmão de Skip) também participou. Esses shows serviram como terapia para Skip, e acabaram sendo registrados pela gravadora Escape Records no excepcional LP Live Grape. Os shows de 77 ocorreram sempre na Califórnia, começando em setembro, no Santa Cruz Civic auditorium (02) e depois Old Waldorf (26 e 27). Em outubro, apresentam-se no dia 31 no Boulder Creek Theater. Já em dezembro, Tocam em Rio, Rodeo (16 e 17) e Keystone, Palo Alto (29).

Já em 78, apresentam-se em janeiro também pela Califórnia, tocando em San Francisco (21), Santa Cruz (21, 22) e Keystone (26). Os shows em Santa Cruz é o que estão em Live Grape. Esse é para mim o melhor LP do grupo. Versátil, contém ótimos blues, excelentes funks,  Miller e Spence voltando a tocar e cantar como nos bons tempos e claro, as velhas linhas country do início dos anos 70. O álbum abre com "The Lost Horizon", onde a psicodélica introdução com o solo de Miller e o dedilhado de Lewis traz os vocais de Lewis em uma bonita canção, destacando a ponte do refrão, com bastante peso e efeitos, além do solo de Miller, com notas bem hardianas para o som tradicional do Moby Grape, e tendo a boa participação dos sintetizadores de Bumpus.

"Here Is It" retorna aos country rocks de 20 Granite Creek, com as vocalizações acompanhando Miller, centro das atenções com mais um interessante solo. A cover de "Honky Tonk" (de Bill Doggett, Shepherd e Scot Bttlerbilrace) começa com o solo bluesístico de Miller, puxando o riff que é marcado pelo bumbo de Oxidine. Lewis, Spence, Bumpus e Powell passam a fazer o ritmo da canção, com Miller solando, construindo um delicioso e safado blues instrumental. Os duelos entre Miller e Spence, interferindo um no solo do outro, são extremamente empolgantes, e o solo de sax feito por Bumpus é o êxtase da canção, que a essa altura, já colocou suas pernas para dançar. Os temas marcados de sax, guitarra, baixo e bateria, mostram que o grupo estava em festa novamente, encerrando essa pérola bluesy com muito pique e com o público indo ao delírio.

Outro cover, agora "Cuttin' In" (de Johnny Watson) abre com o fantástico solo de Miller, acompanhado pela levada de baixo, órgão e bateria. Os vocais de Miller cantam outro magnífico blues, porém mais suave que "Honky Tonk", descendo como um uísque 15 anos em um dia frio, com cada nota do excelente solo de Miller aquecendo seu corpo à temperaturas elevadas. Aos fãs de Stevie Ray Vaughan, fechem os olhos e compreendam por que o guitarrista era tão influenciado em Jimi Hendrix, já que Miller demonstra aqui que o Deus Negro da guitarra apenas tentava imitar o que seu professor ensinava.
Cornelius Bumpus
A engrenada introdução de "Must Be Goin' Now Dear", com baixo, bateria, órgão e as guitarras distorcidas, trazem os vocais de Spence em um boogie pesado e estonteante construído sobre escalas de blues, onde os duelos de Spence e Miller são a maior atração, além de Bumpus construindo as camadas de teclados que ajustam-se aos solos de guitarra lembrando bastante os Stones com Keith Richards e Mick Taylor.

"Your Rider" é outro belo boogie, mais na linha Grateful Dead, cantado por Lewis sobre notas ácidas de guitarra, encerrando o lado A com o solo de Miller tendo muito pique e resgatando as vocalizações durante o refrão, agora contando com a participação de Powell também nos vocais.

"Up in the Air" abre o lado B sendo a canção mais próxima ao som da Califórnia, com uma introdução marcante onde guitarra, órgão e bateria executam o riff que perdura por toda a canção. Lewis canta acompanhado pelas vibrantes notas de Miller, que sola em um mundo a parte do que está acontecendo no cerne da canção, despejando escalas e acordes jazzísticos sobre o leve e delicioso andamento da canção, deixando para seu verdadeiro solo o ponto de maior destaque, com muitos vibratos, escalas rápidas e bends marcantes.

Já "Set Me Down Easy", única canção composta por Bumpus, possui outra marcante introdução, destacando não somente a  performance instrumental de Miller, mas também a excelente interpretação vocal de Bumpus. O solo marcado entre órgão, baixo e guitarra, libera os dedos de Miller, solando suas escalas jazzísticas em um ambiente descontraído e muito bom.

"Love You So Much" apresenta Daniel Spencer na bateria, sendo um blues direto e simples, cantado por Miller e pelas vocalizações, onde os duelos de Spence e Miller chamam a atenção.

A melhor canção do LP encerra o álbum. "You Got Everything I Need" abre com a bateria em batidas secas, seguida de órgão, baixo e guitarra executando um ótimo funk, com Miller solando muito durante toda a introdução. Um tema marcado entre guitarra, baixo, bateria e órgão, interfere durante os solos de Lewis e Miller, e então, Spence passa a cantar em uma levada Motown. As vocalizações do grupo tornam a canção ainda mais dançante.

Depois de duas estrofes, Miller passa a fazer seu longo solo, com suas escalas tradicionais e as vezes com pequenas invenções que alternam entre o jazz e o blues. A canção diminui o ritmo para o solo de saxofone, onde Bumpus primeiro faz algumas notas curtas, aumentando gradativamente o ritmo acompanhado pela marcação das guitarras, baixo e bateria. Miller passa a interferir com acordes jazzísticos, voltando a solar agora sobre a cadência inicial da canção.

Bumpus então retorna ao órgão, e partimos para um viajante solo de Miller, com Oxidine, Lewis, Spence e Powell fazendo o dançante ritmo funk. Então, o tema marcado do início indica o retorno à letra, que é repetida, agora com mais vocalizações, recheando o duelo de saxofone e guitarra que explode no solo de saxofone, para o tema marcado encerrar essa magnífica canção.

O disco do coração, '84


O grupo ainda se apresentou no dia 28 de outubro de 78, antes de novamente encerrar as atividades.  Em 1984, o empresário Matthews Katz propôs paz entre ele e os membros do grupo, convidando-os para gravar um disco. Sem Skip, novamente Mosley, Lewis, Stevenson e Miller voltavam a trabalhar juntos em  '84. Também conhecido como Silver Wheels ou Heart Album, é um LP bem mediano, que abre com a ótima "Silver Wheels", onde a guitarra de Miller sobre o dedilhado de Lewis, traz as lindas vocalizações de onde a voz de Lewis surge, acompanhada por piano, bateria, baixo e o dedilhado da guitarra, em um ritmo muito suave e bonito, tendo na sua sessão instrumental um tímido solo de Miller. "Better Day" relembra os momentos sessentistas, destacando as vocalizações de Mosley e Spence, além da participação do órgão, em outra interessante faixa, que já apresenta uma sonoridade mais moderna na guitarra de Miller.


"Hard Road to Follow" tem um tema muito leve, relembrando os country-rocks com a voz de Mosley, mas sem causar grandes impactos no ouvinte, merecendo destaque as passagens de piano. "Sitting and Watching" é um rock oitentista, cantado por Mosley, com uma levada bem interessante, onde novamente o piano é o principal destaque. Já "City Lights" é um belo country rock, que poderia facilmente estar em 20 Granite Creek. O lado A encerra com "Queen of the Crow", uma linda canção ao violão, com um belíssimo trabalho vocal e com um excelente arranjo.

Jerry Miller em 2007


O lado B abre com "Lost Horizon", a mesma de Live Grape, porém transformada em uma moderna canção, com Miller tocando a guitarra cheia de distorção e sintetizadores, mas que mantém como destaque as belas linhas vocais do grupo.  "I Didn't Lie to You" é um rock 'n'roll com tempero oitentista, que se não agrada, também não desagrada, e além de tudo, tem Miller solando muito bem.

Depois, temos o rock de "Suzzam", outra agitada faixa, destacando as passagens de guitarra de Miller, seguido do boogie de "Too Old to Boogie", a melhor canção do LP, que apesar da sonoridade oitentista, apresenta os belos trabalhos vocais do grupo e também os duelos de Miller e Spence, além da letra satirizando a própria banda.

A sequência final do LP conta com "Think It Over", oitentista demais e sem muitos atrativos, "American Dream", uma balada típicamente anos oitenta, com efeitos nos vocais e distorções na guitarra, além daquele solo bem rasgado e cheio de virtuosismo depois de um grudento refrão enaltecendo os sonhos americanos, e "Reprise, uma vinheta de pouco mais de dois minutos, apresentando um solo de guitarra de Miller em cima do tema de "Too Old to Boogie".

Peter Lewis, muitas histórias com Spence
O disco não emplacou, e a briga entre Katz e os membros continuou, fazendo '84 o mais raro LP da carreira da banda. Mosley lançou mais um disco solo, Wine and Roses (1986) e em fevereiro de 87, o grupo fez duas apresentações na Califórnia (Cupertino, 26 e San Rafael, 27), e em 18 de abril, tocam no Moscone Concention Centre de San Francisco. Já em janeiro de 89, apresentam-se em Seattle nos dias 07 e 09, mesma cidade que os recebeu em 05 de março do mesmo ano. Em 10 novembro, fazem uma única apresentação em Tacoma.

Nesse período, Spence novamente voltou a sofrer com a sua saúde. Logo após Mosley gravar Mosley Grape Live at Indigo Ranch (1989), resolvem gravar um material para arrecadar dinheiro e tentar ajudar Spence. O quinteto original novamente se reuniu, agora para gravar um cassete que saiu originalmente em uma pequena tiragem de 500 cópias, escondido sob o nome de The Melvilles, já que Moby Grape ainda pertencia à Katz.

O último registro do grupo, Legendary Grape

Legendary Grape conta com Bob Mosley (baixo, vocais), Peter Lewis (vocais), Don Stevenson (bateria, vocais), Jerry Miller (guitarra, vocais) e a participação de Dan Abernathy (guitarras), além de Skip Spence no que foi definido como tocando presença e atmosfera. Um ótimo álbum, desde seu início com "Give it Hell", onde o riff da guitara de Abernathy apresenta o solo de Miller, para um boogie pesado ser cantado por Miller, com direito a todas as vocalizações da década de 60 ao fundo, em uma rápida e agitada canção.

"On the Dime" é outro delicioso boogie, não tão rápido quanto a faixa de abertura, destacando os vocais de Lewis e o interessante andamento da cozinha Mosley/Stevenson, além das intervenções de Miller nas guitarras e nos vocais. O primeiro solo de Miller é feito com a steel guitar, enquanto o segundo é feito limpo, apenas com suas influências country.

"Bitter Wind in Tanganikya" é um leve rock composto por Mosley e que tem o nome cantado por todos. A voz de Mosley emociona, cantando as estrofes e principais e o refrão ao lado de seus companheiros de grupo. O arranjo das guitarras, bem como vocal, lembra muito a fase '69 / Truly Fine Citizen. O solo de Miller leva ao encerramento, onde o refrão é repetido e o nome da canção é cantado por diversas vezes.

"Lady of the Night" retoma a pegada de "Give it Hell", em um boogie veloz com pintada oitentista, cantado por Stevenson e novamente com uma boa participação das vocalizações. Claro, o principal destaque são as intervenções e os solos de Miller, que toca lembrando muito Mark Knopfler, porém com a técnica dos anos sessenta, fazendo passagens complicadas e muito interessantes.

O boogie arrastado de "Took it all Away" encerra o lado A, cantado por Mosley, onde as vocalizações auxiliam cantando o nome da canção, e com Miller novamente solando com a slide guitar, dessa vez dividindo espaço com um curto solo de Abernath.


Irreverente e inovador: Moby Grape

O lado B abre com "Nightime Ride", levada pelo violão e por notas da guitarra de Miller que trazem as vocalizações cantando a letra da canção, com a voz de Mosley sobressaindo, em um clima bem sessentista, em uma das melhores canções do cassete. O solo de Miller é simples mas muito bonito, e a canção encerra-se com a repetição da letra pelas vocalizações acompanhando Mosley.

"Talk About Love" possui um riff parecido com o de "Peter Gunn" comanda uma pesada canção cantada por Stevenson, onde teclados são inseridos (supostamente tocados por Spence) e com as vocalizações sendo o maior destaque.

Composto por Spence, "All My Life" é um ótimo, divertido e pesado rock'n'roll, onde Spence esforça-se para tocar piano e cantar. O show de vocalizações do Moby Grape mostra novamente por que eles foram um dos melhores grupos vocais da história. Destaque também para Stevenson, que soca sua bateria com uma fúria rara em suas interpretações.

"You'll Never Know" retorna as leves canções de Miller, com mais um show de vocalizações que incrivelmente não parecem ter sido gravadas ao vivo no estúdio, tamanha a precisão. Essa canção eu fortemente suspeito ser cantada por Spence.

O cassete encerra com "You Can Depend on Me", um funkzão cantado por Stevenson, lembrando "You Got Everything I Need", encerrando o LP em alto astral, com todos fazendo as vocalizações cantando o nome da canção e com mais um fantástico solo de Miller.

O grupo voltou a fazer shows em 20 de junho de 1990, tocando em San Francisco. Nos dias 27 e 30 de outubro do mesmo ano, apresentam-se no Last Day Sallon (San Francisco) e no Shoreline Amphitheater (Mountain View). Em novembro, tocam em San Francisco (02), San Diego (07), Stockton (11) e Chico (12). Em abril de 91, apresentam-se novamente em Chico (26) e San Francisco (27), e no mês seguinte, passam por Santa Cruz (02/05), Sacramento (03/05), Reno (04/05), Eugene (08/05), Salem (09/05) e Portland (10/05).

Excelente coletânea do Moby Grape


Depois de algum tempo novamente afastados, Miller, Lewis e Stevenson reunem-se para uma apresentação no Shoreline Amphitheater, no dia 05 de junho de 1993, mesmo ano de lançamento da coletânea Vintage, a qual apresenta o primeiro álbum do grupo na íntegra e muitas raridades.

Nesse período, Miller lançou seu primeiro álbum solo, Now I See (1993), enquanto Mosley havia desaparecido, e Spence estava sem um lar para morar. Pouco se sabia de suas vidas,  a menos do fato de que Spence havia participado de um programa musical para pessoas com deficiências mentais em 1994, e que em 96 ele havia sido convidado a fazer uma canção para a trilha do filme Arquivo X, a qual não foi usada.

Em 95, Miller lançou o segundo álbum solo, Life is Like That, enquanto Lewis teve seu álbum solo de estreia chegando as lojas, Peter Lewis. Em 96, Lewis encontrou Mosley dormindo na beira de uma auto-estrada em San Diego. Lewis ajudou Mosley a se reerguer, e também conseguiu os direitos do nome Moby Grape para ele. Assim, o dinheiro proveniente dos lançamentos do material do grupo voltava para os membros, o que ajudaria bastante a Spence e Mosley.

Bob Mosley, em 2008

Mais dois shows foram realizados em 96, tocando em 30 de junho em San Francisco e 04 de julho em Del Mar. Em abril de 97, apresentam-se em Nova Iorque (13 e 14), e em agosto, passam por Santa Cruz (06), Nova Iorque (07) e Pennsylvania (09), encerrando o ano com uma apresentação no Fillmore de San Francisco no dia 15 de dezembro. Miller lançou se terceiro álbum solo em 98, Live at Cole's, mesmo ano que o grupo fez três apresentações: Nova Iorque (20/11), Seatlle (11/12) e Santa Rosa (31/12).

Skip Spence
Em 17 de janeiro de 1999, apresentam-se no Whisky-A-Go-Go, e dias depois, Spence foi internado em um hospital de Santa Cruz, vindo a falecer em 16 de abril de 1999, vítima de câncer no pulmão. No período que ficou internado, seus amigos resolveram homenageá-lo com a gravação do tributo More Oar: A Tribute to the Skip Spence Album, trazendo a participaçao de Robert Plant, Beck entre outros, e que foi tocado para Spence dias antes de sua morte. O álbum foi lançado em julho de 1999, enquanto Spence foi enterrado no Cemitério Soquel, no condado de Santa Cruz.

Lewis participou do grupo Electric Prunes, entre 2000 e 2003, gravando o álbum Artifact, e em 2003, lançou Live in Bremen, ao lado de David West, sendo que o Moby Grape fez uma apresentação em San Diego no dia 16 de junho de 2001.  Em 2005, Mosley lançou mais um álbum solo, True Blue. Somente em 2006, os membros do grupo reconquistam o direito do nome Moby Grape. Já em 2007, Miller tocou com sua Jerry Miller Band nas comemorações de 40 anos do festival de Monterey, enquanto os cinco primeiros álbuns do grupo foram relançados em CD e com muitas canções extras.

Em junho de 2008 foi realizado o Skip Spence Tribute Concert em Santa Cruz, trazendo o filho de Spence, Omar Spence, cantando canções e seu pai e do Moby Grape ao lado de Dale Ockerman e Tiran Porter (ambos do Doobie Brothers), Keith Graves (Quicksilver Messenger Service) e o fiel amigo Peter Lewis, que ajudou Spence até seus últimos dias de vida. Um segundo tributo foi feito com os mesmos personagens em outubro de 2008.

Também em 2008, porém em julho, Miller participou de um concerto em benefício a Rick Burton, baixista da Jerry Miller Band, e contra oa violência em Tacoma, onde Miller morava. Em janeiro de 2009, Miller perdeu  praticamente todos os seus bens pessoais e recordações da carreira devido a uma enchente. Nessa perda, encontravam-se numerosas fitas de concertos do Moby Grape e da carreira solo de Miller, bem como ele tocando ao lado de celebridades como Jimi Hendrix e Robert Plant. Dois shows foram realizados em Tacoma para ajudar Miller financeiramente.

Primeiro álbum de Don Stevenson

No verão de 2009, Miller ingressou no California '66, substituindo Sky Saxon (líder do grupo The Seeds) que falecera um mês antes. Já em 2010, o Moby Grape apresentou-se novamente, agora com Miller, Stevenson e Omar Spence, durante o South by Southwest festival. Ainda nesse ano, Stevenson lançou seu primeiro álbum solo, King of the Fools, enquanto, Lewis fez um show ao lado dos The Explosives no SXSW festival, e atualmente, é o único membro do Moby Grape a estar gravando material para um novo disco solo.

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