segunda-feira, 5 de agosto de 2013

War Room: Yes - Drama [1980]


Por Mairon Machado
Convidados: Bruno Marise e Marco Gaspari


O War Room desse mês trata de um dos mais polêmicos discos da história do Rock Progressivo, o álbum Drama, do grupo Yes. Na época de lançamento (1980), o décimo disco de estúdio do quinteto britânico ficou marcado por ser o primeiro sem o vocal marcante de Jon Anderson. 

Contando com a dupla Buggles Trevor Horn (vocais) e Geoff Downess (teclados), além de Steve Howe (guitarras), Cris Squire (baixo) e Alan White (bateria), Drama levou o Yes ao seu fim precoce, sendo tachado de pior disco do grupo. Hoje, passados mais de 30 anos, os fas voltam a descobrir as joias gravadas nesse interessante LP, que foi assim avaliado por Mairon Machado, Bruno Marise e Marco Gaspari. Vamos aos comentários.


1. Machine Messiah

Mairon: O álbum começa com o riff pesadíssimo da guitarra de Steve Howe. Jamais, em nenhum outro LP da história do Yes, ouvimos algo tão pesado e destruidor. É METAL NA VEIA para ninguém botar defeito.

Bruno: Esse comecinho parece doom metal, mas agora já mudou.

Marco: Acho que estou ouvindo outra música, hehe...

Bruno: Asia? hahaha

Marco: Putz, começou o parquinho. Esse cantor tentando emular o Anderson é um porre.

Mairon: Entram os vocais de Horn, agudos, mas não o de Anderson. Porém, a canção é muito bem trabalhada, e é inegável que a guitarra de Howe, bem como o baixo de Squire estão uma cavalice.

Bruno: Sonoridade bem insípida.

Marco: Eu nego. Chato demais.

Bruno: Não é o tipo de som que faz minha a cabeça. Falta química. Falta CULHÕES.

Marco: Você é um garoto do bem, Bruno.

Mairon: Vocês estão loucos.

Marco: Não sei como ainda aguentavam Yes nos anos 80. Desculpem, mas odeio isso.

Bruno: Nem dos anos 70 eu sou muito fã, dos 80 então...

Mairon: O trecho instrumental, com o solo de Downess duelando com o baixo e a guitarra é um dos momentos mágicos da carreira do tecladista.

Bruno: Se dá pra destacar alguma coisa da canção, é sem dúvida a guitarra de Steve Howe.

Mairon: E Howe destruindo no wah-wah como nunca. O Yes ganha uma nova cara, voltada para os anos 80, mas ainda assim, anos-luz do que se fazia na época.

Marco: Eu também acharia um momento mágico da minha carreira estar sentado no lugar que já foi de Wako.

Mairon: Simplesmente embasbacante o peso que o Howe está tirando da guitarra.

Marco: Ficou pesado. Agora cai uma bomba e acaba tudo.

Mairon: Adoro esse trecho com violões e teclados.

Marco: Essa fase do Yes deveria se chamar Maybe.

Bruno: Cara, esses teclados são tudo que eu abomino na música oitentista.

Mairon: Uma música muito bem trabalhada, uma das melhores da carreira do grupo pós-anos 70.

Marco: Parece festival de fogos de artifício lá em São Vicente no final de ano. Nem a bateria salva. Até os Gaviões da Fiel, em jogo em que o Corinthians está perdendo, batucam melhor. E a música não acaba, castanha.

Bruno: Hahahahahaha. Marco, esse tipo de música é o que chamam de som de publicitário?

Marco: Vende cigarro á beça. Desculpe, Mairon. Vou tentar me conter.

2. White Car

Marco: Eu gostei da introdução.

Bruno: Confesso que eu tenho um pouco de birra com esses "interlúdios" nos discos

Mairon: Curta vinheta apenas com violão, sintetizadores e a voz de Horn. É um bonito trecho, apenas isso.

Bruno: Geralmente eu pulo na hora de ouvir, não tenho muita paciência, a não ser que ele crie uma atmosfera que desemboque bem na faixa que vem a seguir.

Mairon: Acho que é o caso aqui Bruno.

Marco: Mas parece que enfiaram o órgão no fiofó do cantor.

3. Does It Really Happens

Mairon: O baixão já começa destruindo com tudo. Lembro que essa faixa era tema de abertura de um programa de rock lá em Pelotas. Uma pena que depois caia em um pop simples e sem sal.

Marco: Ê baixão.

Bruno: A faixa até começa bem com a introdução no baixo, mas depois vem uma tecladeira chata pra estragar tudo.

Marco: É o Yes New Wave. O Yes conseguiu desvirtuar o Drama como arte.

Mairon: Para Yes é ruim, mas é melhor do que muita coisa da mesma época.

Marco: Não concordo. tinha muita coisa mais honesta pelo menos. Isso é uma mentira.

Bruno: Também me soa bastante falso.

Marco: Pasteurizado. Musicos brilhantes fazendo essa merdinha.

Mairon: O Jethro Tull dessa época é muito pior.

Bruno: É uma briga boa.

Marco: Tentando se alinhar com a merda do som da época.

Mairon: Aqui o Howe e o Squire se escapam.

Bruno: Eu gosto de algumas coisas de New Wave.

Marco: Todos são ruins nessa época, totralmente perdidos. Cacete Mairon. estragou meu sábado.

Bruno: Olha lá.

Mairon: Esse encerramento, resgatando o início da faixa com os sintetizadores dos anos 80, mostra como um instrumento pode destruir com uma geração inteira. Ainda bem que temos o baixo de Squire para salvar.

Bruno: Os malditos tecladinhos que infestaram essa década aparecendo de novo.

Marco: Squire é foda.

Mairon: Desculpa ai Marco, eu estava precisando estragar o sábado de alguém, meu vizinho de manhã cedo largou "She Loves You" para ouvir ...

Bruno: Equivalente a Eddie Van Halen tocando teclado em "Jump".
yes_drama_lineup
Steve Howe, Geoff Downess, Alan White, Cris Squire e Trevor Horn

4. Into the Lens

Mairon: Canção aproveitada do tempo do Buggles. Com o Yes ganhou uma "cara" de progressivo. Para mim, é a melhor canção do álbum, graças a um trabalho excepcional de Steve Howe

Marco: Em 1975 eu ainda conseguia ouvir essas quebras. Em 80 é inadmissível. Só se fosse Zeuhl.

Mairon: E quando a voz de Horn, eu não acho que ele tentava imitar o Anderson. Basta ouvir os discos do Buggles para ver que a voz dele era essa mesmo. Em tempo, Drama >>>> A.

Marco: Esse Trevor parece aqueles bonequinhos que tem um apito no fiofó e ficam apertando ele na hora de cantar. Eles estavam gravando trilha sonora de flipperama.

Mairon: As variações de "Into the Lens" são muito bem construídas. Gosto do clipe dessa música também, principalmente os óculos do Squire.

Bruno: Esse som é muito datado.

Mairon: Não é por ser datado que é ruim, e o Howe está tocando muito.

Marco: Mas e daí que ele toca muito, Mairon. Isso não salva o disco, só atenua.

Bruno: Concordo, mas esse é datado de uma época ruim e não boa. Uma época não, porque isso é generalizar, mas acho que vocês entenderam.

Mairon: Agora chegou a fada Sininho.

Bruno: De fato o Squire e o Howe se salvam.

Marco: Olha essa parte, parece coisa de rádio AM vagabunda.

Mairon: Hahahuehauhehuaeuha.

Marco: O teclado é muito chato.

Mairon: Eu gosto disso, falando bem sério. Claro que não é Yes, mas para a época é ótimo. Se o Asia tivesse feito metade disso, seria uma banda muito melhor.

Marco: Volto a dizer: vai ouvir discos da época. O problema é que Progressivo inglês nessa época não colava mais

Bruno: Em relação a isso vou deixar pras considerações finais.

Marco: Eu, quando chegar no final, não terei a mínima consideração, hehe...

Mairon: Mas isso não é mais progressivo inglês. Drama é melhor que Tormato, e tenho dito. O Steve Howe está tocando muito, e não é amenizante apenas. É uma das melhores performances que eu ouvi dele.

Marco: Ah, não é mais progressivo inglês. É o quê: samba de breque?

Bruno: É um desperdício uma banda com Chris Squire e Steve Howe fazer esse tipo de som

5. Run Through the Light

Marco: Até o nome é cafona.

Bruno: Isso parece tema de abertura de série policial dos anos 80, daquelas que passam domingo de manhã no SBT.

Mairon: Essa começa muito bem, mas perde-se com a entrada dos teclados. Gosto da performance vocal de Horn, e é uma faixa que podia estar por exemplo, nos discos do Anderson com o Vangelis (que também são inferiores a esse trabalho).

Marco: Fosse doce seria bala Toffe puxa-puxa.

Bruno: O timbre do Horn já está me incomodando.

Marco: Demorou hein Bruno.

Bruno: Pois é!

Marco: Essa bateria é ridícula, meu deus, o que fizeram com o Yes.

Mairon: O Alan White nunca mais foi um bom baterista depois do Going for the One.

Bruno: Linha de baixo matadora do Squire, que desperdício!

Marco: Se o Horn não tenta emular o Jon... Pô, Mairon, fala sério.

Mairon: Nao acho mesmo. Essa linha vocal dele é a mesma que está no primeiro disco do Buggles, que eu gosto aliás.

Marco: Não comento mais. Vou acabar sendo antipático.

6. Tempus Fugit

Marco: Abertura de fórmula 1 da Globo.

Mairon: Um dos melhores solos de Squire, ao lado de "The Fish" e "On the Silent Wings of Freedom".

Marco: Tem garoto que idolatra essa música.

Mairon: Linhas vocais, baixão e Howe saculejando a casa. Grande faixa!

Marco: Essa bateria e uma eletrônica programada daria na mesma.

Bruno: Essa faixa é até legalzinha, mas o vocal não me desce de jeito nenhum...

Marco: É a faixa menos pior do álbum. Mas é pouco pra Yes.

Mairon: O que mais me chama a atenção é o instrumental. Como o Howe está tocando, e como White decaiu tanto.

Marco: É a praga das baterias do começo dos anos 80. Não tinham personalidade e um timbre de merda.

Mairon: Isso é verdade. A bateria oitentista é terrível.

Bruno: Bateria apagadíssima, mesmo, parece batuque em caixa de fósforo. O pior é que ou é assim ou é aquela bateria com eco que começou ali na metade dos anos 80.

Marco: Quem foi o produtor desse disco, Mairon?

Mairon: Trevor Horn, Yes e Eddie Offord, Marco.

Marco: Acabou? Viva!!!
Considerações finais


Marco: Não sei o que dizer. Tô passado. Esse disco, nas poucas vezes que o ouvi, sempre me causou esse desconforto. Tem todos os clichês do Yes, mas é como se fosse uma banda cover tentando criar a la Yes.

Mairon: Eu gostava mais desse álbum há algum tempo, hoje perdi um pouco o interesse. Acho que na época, o Yes tentou sair-se por um caminho de fácil acesso, e se deu mal. Desde o Tormato a coisa já estava complicada, e Drama foi apenas o atestado de óbito para o fim de uma era maravilhosa que foi o progressivo. Com certeza não é Yes, e sim o tal Yes-Buggles. Só que repito, é melhor do que muita banda da mesma época.

Marco: Posso então considerar que odeio Buggles, hehe...

Bruno: Sempre compro briga com quem diz que os anos 80 foram a década perdida da música. Todos os períodos tem discos maravilhosos e discos abomináveis. Mas esse aqui está mais pro caso do segundo. É impressionante como uma grande quantidade de bandas que reinaram nos anos 70, se perderam completamente na década seguinte. O progressivo era praticamente um suicídio mercadológico, e por isso as bandas do gênero tentaram adaptar sua sonoridade, criando uma música pasteurizada e insípida. Drama é um bom representante dessa fase. Uma banda formada por bons músicos, com o talento desperdiçado em algo que eles não dominavam. Se podemos destacar alguma coisa aqui, sem dúvida é a performance dos veteranos Chris Squire e Steve Howe.

Marco: Pode ser melhor, mas é pouco. Devia ser Yes e não é. Disse bem, Bruno. E disse tudo.

Mairon: Eu sempre penso o que teria acontecido com o Led, por exemplo, nos anos 80. Seria uma verdadeira bomba, vide o que apresentaram em In Through the Out Door. Acho o Drama o encerramento de certa forma decente do Yes. Anos luz distante de 90125 e Big Generator. O Yes só foi recuperar credibilidade mesmo pós o lançamento dos Keys to Ascension (apesar de que Talk é um bom disco, mas não é Yes).

Bruno: É triste dizer isso, mas acho que a morte do Bonzo salvou o Led de um futuro fracasso.

Marco: Você não pode ter certeza disso, Bruno.

Bruno: Certeza, não mesmo.

Mairon: Discordo Bruno. O Led já estava acabando.

Marco: Mas o fato de não existir Led nos anos 80 não fez mal pra ninguém.

Mairon: E fracassando, assim como a gente podia ter ficado sem tanta coisa nos anos 80

Marco: Bom, gente, vou sair por aqui. Foi um prazer estar com vocês e um desprazer ouvir esse disco. Saio empatado, hehe...

Bruno: Valeu mais uma vez.

Mairon: Valeu gurizada, e até a próxima. Aguardamos os comentários dos leitores!

2 comentários:

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