Por Ronaldo Rodrigues
com colaboração de Fernando Bueno
Eis que chega o momento de conhecermos um pouco mais do mais profícuo escriba da Consultoria do Rock. Nosso "Na Caverna" de hoje traz Mairon Machado, o cara do Baú (não o da felicidade, mas quase isso), das Maravilhas (não o Bonde), das Notícias Fictícias que Queríamos que Fossem Reais e daquelas resenhas super esquadrinhadas, que tanto alegram e entretem nossos leitores. Não precisa nem de estatística para saber que Mairon Machado detém a maioria dos textos já publicados pela Consultoria do Rock e, se hoje temos algum sucesso, muito disso se deve ao estilo apaixonado (e por oras polêmico) de sua escrita. Muitas histórias, muitos discos e curiosidades desse craque das letras e da física é o que você lerá abaixo!
Mairon Machado, ídolo da torcida dos Consultores do Rock, nosso craque da camisa 9. Fale um pouquinho sobre você, o que faz, sua rotina e como consegue descolar tempo para nos brindar com tanta quantidade e qualidade de textos.
Mairon Machado (MM): Poxa meu caro, muito obrigado pelas palavras. Bom, tenho 33 anos, nasci em Pedro Osório, uma cidade de quase 10 mil habitantes no sul do Brasil, sou professor de Física com mestrado em Física e Doutorado em Ciências, na área de Física Teórica (isso não serve para nada, mas pelo menos dá um grau ao vivente aqui, risos). Atualmente exerço a função de coordenador do Curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal Farroupilha, Campus São Borja, nota 4 CAPES, onde a nota máxima é 5 (a propaganda é a alma do negócio). Esposo da Bianca, pai do Iago e, por tabela, também do Bruno, um apaixonado por música desde pequeno, metido a escritor e um torcedor Xavante até o fim (apesar de também ter uma queda grande pelo Colorado dos Pampas). Bom, minha vida é bastante agitada, pois além de professor, o tempo como coordenador também exige que eu me dedique para a profissão, fora que amo minha família, e estou sempre dedicando atenção para minha esposa e meu enteado/filho, principalmente nos fins de semana. Como ela trabalha, por vezes acaba que fico sozinho em casa, e nesse tempo, dedico-me para as audições de discos. As vezes, no trabalho, preciso fazer algo que necessita de atenção, e eu só me concentro com música. Então, coloco um disco para ouvir, e enquanto vou fazendo o serviço que tem que ser feito, vou rascunhando mentalmente um texto. Depois, é só sentar e colocar no wordpress, além de catar as fotos.
Na real, como professor de uma disciplina considerada difícil como Física, largo para os alunos a tarefa de escrever tetos sobre bandas que eles nunca ouviram falar, e isso gera alguns pontos para eles. Existe um padrão no qual eles só vão adicionando adjetivos, nomes das músicas e algumas informações que só existem na cabeça deles, mas que vai para o ar e todo mundo acha que é verdade. O Mairon na verdade nem existe, é apenas um fake de um dos caras que comenta no site, mas que não posso revelar o nome nesse momento, mas tem um apelido bem carinhoso pelo pessoal do grupo (risos).
Como foi sua entrada para a Consultoria do Rock? O seu blog pessoal (Baú do Mairon) surgiu antes ou depois do seu ingresso no time de colaboradores?
MM: Eu entrei na Consultoria no final de 2010, através de um convite do Daniel (Sicchierolli). Vou ser bem sincero Ronaldo, por que tenho isso na garganta, e acho que é um momento propício para isso. Naquela época, estávamos todos muito chateados com o que aconteceu com a Collectors Room. O dono daquele site, Ricardo Seelig (Cadão), havia praticamente largado o então blog em meados de 2008, e graças a Fernando Bueno, Daniel Sicchierolli, Eu e o Maurício Rigotto, o blog se manteve na ativa, e começou a gerar muitos acessos. Conseguimos novos colaboradores (você inclusive, foi um que passou a participar mais) e tudo estava indo muito bem. Ficamos como "donos" do negócio por um ano e pouco, e então, o Cadão decidiu voltar a ser o chefe, mas de uma forma muito ditatorial, barrando textos nossos, entre outras coisas. Quando os guris criaram a Consultoria, eles me convidaram logo em seguida. Eu relutei de início, mas pela insistência, resolvi lançar um texto que havia enviado para o Cadão (sobre o Moody Blues) e que ele havia negado, por ser um pouco longo. O pessoal publicou, e o Cadão simplesmente ficou puto comigo. Ele me mandou um e-mail cheio de desaforos, me insultou pelo Orkut (na época) e me expulsou da Collectors Room. Então, fiquei direto na Consultoria, mas como tinha um pequeno conhecimento da bipolaridade do Cadão, pedi para ele se podia copiar minhas matérias, pois no período que ficamos de "donos do blog", escrevíamos direto no editor de texto do blogger, e não havia salvo nada (tinha medo que ele apagasse minhas matérias). Em princípio, ele não se negou, e assim, nasceu o Baú do Mairon, como uma espécie de backup do que eu tinha na Collectors. O problema foi que em seguida que criei o Maravilhas do Mundo Prog, e novamente baixou a pomba-gira no dono da Collectors Room, que me insultou de novo. Então, sem avisar, ele simplesmente deletou todas as minhas matérias da Collectors, tudinho. Isso foi no início de 2011, e como eu estava terminando o doutorado na época, não tive tempo de copiar todas as matérias. Perdi muita coisa, como textos pessoais sobre bandas que nunca mais consegui ter a mesma capacidade (aquela espécie de inspiração) de escrever, como A-ha, Deep Purple, David Bowie, entre outros. Tentei entrar em contato com ele, pedindo que ele pelo menos recuperasse as matérias e me enviasse, mas nunca ele me respondeu. De qualquer forma, ele pelo menos tem o mérito, indiretamente, de com uma expulsão generalizada, ser o responsável por criar uma das coisas que mais gosto de fazer, que é a Consultoria.
Você tem um estilo bem próprio de escrever sobre discos e canções, descrevendo-as em muitos detalhes. Nosso colaborador Marco Gaspari até achou um neologismo pra isso - "maironmachadear". Como você desenvolveu essa forma de escrever? Como é seu processo de resenhar os discos?
MM: Bom, a culpa disso é do Marco. Ele foi o cara que me inspirou a escrever de um jeito que pudesse passar as informações o mais preciso possível para o leitor. Eu não tenho formação de escritor, mas sempre gostei de ler muito e também de escrever. Meus textos iniciais para a Collectors, eram curtos, com informações básicas. Foi depois que li uma matéria do Marco sobre a Flower Travellin' Band, uma das bandas que mais gosto, e mais difíceis de achar informação em português, na revista Poeira Zine, que percebi que um fã não quer saber mais do mesmo, ele quer saber algo diferente. Pode ser quantos shows a banda fez em uma dada turnê, qual a posição que o disco alcançou, quem era o integrante que saiu para entrar outro, qualquer informação adicional que não seja a tradicional. Foi então que decidi que, se ia escrever sobre algo, iria me aprofundar nisso. Passei a ler mais sobre música, buscar fontes confiáveis, assistir documentários, e principalmente, ouvir os discos, sentir o que cada música passa, e transmitir através de palavras o que eu penso sobre as mesmas. Foi assim que o Maravilhas do Mundo Prog ganhou dimensões de suíte (risos) mas também outros textos que acabaram nascendo. Por vezes, penso que é demasiado o que escrevo, e tento diminuir, mas infelizmente para os leitores, me acostumei com isso, e não acho legal fazer uma matéria curtinha onde eu não consiga trazer nada de novo. Mas repito, a culpa é toda do Marco (e do Machado de Assis também).
Outra característica marcante dos seus textos é a imensa variedade de temas e de diferentes estilos nos quais você se aventura a escrever. De free-jazz à música pop, da música experimental ao heavy metal. De onde surgiu esse seu ecletismo?
MM: Velho, acho que isso vem de berço. Meu pai sempre estava ouvindo música em casa, e isso ia desde tangos e boleros até sambões e chorinhos, passando pelos grandes da Era do Rádio e música gauchesca, além de pop e um pouco de rock nacional. Só aí já dá para sentir que a absorção de estilos tão diferentes é bem profunda. Com o meu irmão, Micael, a coisa também foi sendo bastante abrangente, ou o que ele ouvia desde Pet Shop Boys e A-ha até Sepultura e Metallica no mesmo dia, passando por Rush e Legião Urbana, encerrando o dia com Ramones e Exploited. São formações diferenciadas, e isso vai sendo absorvido naturalmente. Como tive uma banda de World Music, meus dois colegas de banda tinham também estilos muito diferentes, mas éramos obrigados a ouvir o que cada um gostava para tentar chegar em um consenso do que iríamos (e podíamos) tocar. Foi aí que conheci o jazz e todas as suas subdivisões, assim como a música clássica e experimental, mas também tive contato com o death metal e o funk de raiz, os quais são ótimos de tocar na guitarra. Então, acabei curtindo de tudo um pouco, e como sei que não conheço nem um quinto do que muita gente que conheço conhece, e essa gente não conhece nem um quinto do que muita gente que só vejo em sites conhece, estou apronto para ouvir coisas novas. As vezes me surpreendo com bandas da nova geração, mas a velharia obscura dos anos 60 e 70 são as que mais me surpreendem, além dos clássicos como Chopin, Paganini, Beethoven, Mozart, Liszt entre outros, que sempre trazem novidades para os ouvidos.
Ao longo da trajetória da Consultoria do Rock, sempre existiram discussões conceituais, das quais você foi protagonista. Especialmente com relação aos limites do rock e a abertura do site para escrever sobre coisas fora do estilo. Qual a sua visão a respeito do que é rock? Qual a importância que você dá para este termo, de fato?
MM: Pergunta difícil. Rock significa pedra, então, pode ser algo duro. Mas "to rock" significa embalar, e então, poderíamos dizer que o rock é uma música que embala o corpo. Mas que tipo de embalo? Um jazz do Miles Davis certamente irá fazer você balançar a perna com um belo uísque em suas mãos, ao mesmo tempo que os Bee Gees e o ABBA embalaram (e ainda embalam) os sábados de muita gente. O funk gostoso de Sly & The Family Stone é embalador até da alma do vivente, e como não embalar a cabeça com as pancadarias do Possessed? Será que tudo então é rock? O nome Consultoria do Rock é bastante genérico, por que nos diz que nosso principal tema é o rock 'n' roll, mas na verdade, somos "consultores" do embalo, do que você leitor irá curtir (ou não), e damos dicas de coisas legais para ouvir, que farão você sentir-se embalado e feliz, e acho que é isso o que o rock pode fazer, seja qual rock você escutar. Na real, acho que isso significa pouco perto do que é a música e sua capacidade de mexer com os sentidos do ser humano (e dos seres vivos em geral).
Você também tem formação musical e é violonista. Conte-nos um pouco a respeito e como isso alterou a forma como você ouve e aprecia música.
MM: Na verdade eu não cheguei a fazer um curso para ser músico. Como disse acima, eu tinha uma banda. Montamos a mesma quando eu tinha 14 anos. Na época, achávamos que éramos capazes de fazer World Music (estilo que mistura ritmos diversos) e então, estudamos muita música e criação de música, mas tudo de uma forma muito amadora. Chegamos a conclusão de que a banda que mais podia nos ajudar a aprender a tocar era Rush. Então, começamos a "tirar" músicas como "YYZ", "La Villa Strangiatto", "The Camera Eye", "The Trees", "2112", "Cygnus X-1: Book Two - Hemispheres", entre outras. Quando vimos que aquilo já era banal nos ensaios, começamos a compor, e criamos músicas que até hoje eu gosto bastante, mas que infelizmente, não tiveram a oportunidade de ver a luz de um CD, afinal, apoio para cultura em uma cidade pequena, é impossível. Saímos cada um para um lado, mas eu não me afastei da música. Com um filho pequeno, fiquei com meu violão como um consolo, e então, decidi aprender violão clássico. Estudei bastante a obra de Andrés Segóvia, um dos maiores gênios da música (e considero poucos como gênios), além de John Williams, Julian Bream, Carlo Domeniconi, Sor, Turíbio Santos e Agustin Barrios. Quando vi Kazuhito Yamashita pela primeira vez, meu mundo caiu. O japinha detonando "Pictures at an Exhibition" fazendo tudo o que o Emerson Lake & Palmer fazia com apenas um único violão me fez cair no chão, e perceber que a música é muito mais do que meras notas extraídas do instrumento. Foi com a música clássica que passei a dar mais valor a composição e a criação, que unidas com uma letra bem feita, gera uma canção perfeita. Infelizmente, o violão tornou-se um hobbie muito distante , mas de vez em quando ainda brinco com ele. Quanto a banda, essa acabou há 12 anos ...
Quais as principais alegrias e tristezas que você teve nesses cinco anos de Consultoria do Rock (relacionado ao site)
MM: Alegrias são várias. Ter conhecido pessoalmente pessoas como Marco Gaspari, Daniel Sicchierolli, Diogo Bizzotto, José Leonardo, Pablo Ribeiro, você, o qual tive o privilégio de entortar várias cervejas, em um boteco sensacional na Urca, além de ter um contato praticamente diário com Fernando Bueno, Davi Pascale, André Kaminski, Bruno Marise, Reis, pessoas que fazem parte (ou fizeram) do consultoria, resgata aquela sensação dos anos 90, quando os amigos se reuniam para ouvir o novo álbum encontrado de uma determinada banda. O retorno dos leitores também é muito legal, seja pelos comentários com elogios ou quando um te reconhece em um show. Poxa, a sensação é muito boa, de saber que alguém que você nunca viu na vida chega e diz "eu li seu texto". O fato de ter a Consultoria como uma segunda família é uma realidade, e gostaria de ter mais tempo para poder conhecer pessoalmente todos os que estão envolvidos com a história do site. Tristezas eu tive quando houveram as dissidências, com a saída do Daniel, do Thiago, do Eduardo, do Bruno, do Pablo e do Bernardo, mas principalmente, com a porcalhada que a Uol Host fez conosco. Mesmo como Baú do Mairon, o fato de trabalhar 40 horas não me permitiu passar tudo o que fiz para a Consultoria para o meu blog. Então, perdi muita coisa (novamente, já não chegou a vez da Collectors), e são textos que, por mais simples que fossem, traziam o sentimento daquele momento. Foi história jogada no lixo, ou melhor, desprezada pelos sem cultura de um provedor nada profissional.
Qual a matéria que você mais gostou de ter feito para o site?
Escolher apenas uma única matéria é complicado, mas posso dizer que minhas quatro preferidas são a que resgatei a história de Antônio Adolfo e a Brazuca, que me exigiu muita dedicação e pesquisa, já que essa foi uma das matérias que fiz para a Collectors e que o Cadão jogou no lixo, e então, tive que retomar muitas fontes e contatos para reescrever como merecia, debulhar a história de "2112" no Maravilhas do Mundo Prog, já que essa é uma das músicas mais marcantes que ouvi, e cuja história eu acho fascinante, e as duas matérias que fiz para o Selos Lendários, aliás uma seção que você criou, contanto a história da ECM Records, especializada no lançamento de jazz, e da nossa brasileiríssima Fábrica de Discos Rozenblit, a qual me foi tão gratificante de fazer que, quando fui em Recife, conversei com alguns locais sobre a mesma, e tive a grata felicidade do pessoal de lá me elogiar por prestar uma homenagem para algo que até mesmo os pernambucanos desconhecem. Entrevistar Arnaldo Baptista foi a realização de um sonho de fã, já que eu o acompanho desde que eu era pequenininho, e para mim, é um dos maiores gênios da música mundial. Outra matéria que eu fiquei satisfeito e me emocionei em realizar foi resgatar a longa discografia de Elis Regina. Tenho uma admiração enorme pela pimentinha, e vejo que muitos menosprezam a cantora mas conhecem apenas algumas canções que circularam quando ela estava viva. A carreira dela é brilhante e muito variada, e isso merece ser descoberto aos poucos, não com pré-conceitos, mas sim como um aprendiz de cozinha, que vai descobrindo a forma de misturar temperos, sabores e aromas, para preparar uma comida de primeira. É uma obra que tenho orgulho de conhecer, ter praticamente completa, mas ainda, de ter tido a oportunidade de passar essas informações para outros amigos, e isso, eu agradeço e muito aos colegas do site, que não barraram uma artista não ligada ao rock e permitiram a sua entrada tranquilamente durante seis domingos. Pena que a Uol Host acabou deletando tudo ...
Você criou algumas colunas que tiveram grande reputação, como o Podcast, A Little Respect e principalmente o Maravilhas do Mundo Prog. Há algum projeto de trazer novas colunas para o site?
Ideias sempre tem, o problema agora é tempo. O trabalho tem me levado boa parte das 24 horas que tenho, tem ficado difícil trazer para o papel aquilo que passa em mente. Por exemplo, eu queria fazer algo que destacasse mais o rock brasileiro feito nos anos 90. Muita música boa foi feita naquela que é considerada a pior década da música nacional, mas tanto no progressivo quanto no metal, muitas bandas de qualidade lançaram discos excelentes, os quais ficaram relegados ao ostracismo. Também queria fazer uma série dedicada aos grandes nomes do synthpop, como Depeche Mode, Tears For Fears, Erasure, não nos moldes do A Little Respect, mas tipo o Maravilhas do Mundo Prog - algo como o Maravilhas do Synthpop - só que isso exigiria muita pesquisa, já que não há praticamente um site dedicado para o estilo como temos no caso do progressivo e do metal. Mas são projetos, que sabe um dia a coisa venha à tona.
O que você caracteriza como principal característica do Consultoria do Rock, que o torna um diferencial nos demais sites de música?
MM: Acho que a principal diferença é a camaradagem que rola nos bastidores. Quem vê o site com postagens a cada dois dias, não sabe o que temos de organização no nosso grupo. Apesar das brigas e buscas por matérias, as vezes de última hora, todo mundo se respeita, e não tem uma distinção de "ah, o fulano não pode publicar isso", ou "o beltrano só vai publicar sobre aquilo se mudar tal coisa". Essa camaradagem abre espaços para que novos consultores se agreguem à nós. Estou feliz que o Ulisses, o Alisson e o André tenham entrado para o grupo. Eles fazem textos que trazem bandas das quais os antigos consultores talvez se quer imaginassem que existam, e isso é mais um diferencial, a ampla variedade de estilos e bandas que rolam pelas nossas páginas. Não somos o melhor site do mundo, claro que não, mas dentro do limite que temos, de sermos todos amadores, com exceção do Diogo, acho que estamos muito bem.
Como você avalia essas matérias colaborativas que é um diferencial do site?
MM: Quando surgiu a ideia de fazermos matérias com mais de um consultor colocando sua opinião, achei que não ia dar certo. Porém, com o passar dos tempos, as colunas relacionadas a isso (Melhores de Todos os Tempos, Consultoria Recomenda e War Room, por exemplo) funcionaram muito bem. Eu gosto muito de participar das mesmas, e principalmente, de ler os comentários dos colegas depois. Parece que flui uma conversa, uma relação entre as pessoas, que pode ser ampliada nos comentários. Acredito que todos aprendem bastante, além de se divertir e ter a oportunidade de conhecer e divulgar novas bandas para os amigos. Posso estar errado, mas acredito que a Consultoria é o único site de música que faz algo nesse estilo. Gostaria muito que o War Room voltasse, por que ele registrava a espontaneidade de nossas conversas, mas com o tempo da gurizada cada vez mais escasso, não sei quando ele voltará a ação, mas também é outro colaborativo que só nós temos (valeu Daniel).
Internamente temos uma discussão infinita sobre bandas velhas x bandas novas, acompanhar as novidades ou focar nas obscuridades da época de ouro, heavy metal x outros estilos, etc. O que você pensa sobre isso?
MM: Discussão infinita pacas, as vezes nada divertida, principalmente quando começam a defender demais o heavy metal. Como o Bruno já disse em uma entrevista anterior, o que vale é a música boa versus a música ruim. Podemos encontrar uma ótima banda velha fazendo um som novo, assim como uma excelente banda nova fazendo um som velho. Obscuridades existem em todos os níveis, seja nos anos 60 e 70, como agora, assim como quando ouvimos uma banda como Cromagnon, de 1969, mas com um som tão inverso do esperado para uma banda de rock, ela acaba gerando a novidade. Acredito que muitos que se dedicam a ouvir obscuridades hoje em dia estão realmente em busca de algo novo, não importa a época da banda. Quanto ao Heavy Metal versus outros estilos, por mais que eu curta o Metal, ainda prefiro descobrir novas bandas no jazz, no progressivo, em outros estilos. O Metal para mim é muito parecido em termos gerais. Quando temos uma banda de destaque, como Black Sabbath, Metallica e Slayer por exemplo, ela se torna uma referência, óbvio, mas quando ouço bandas nova e vejo que eles não tem muito o que acrescentar na obra prima que esses gigantes fizeram nos anos 70 e 80, acabo não criando um vínculo afetivo com aquilo. Por isso, acho que o Metal para mim já não serve mais, não esse metal moderno.
Vamos passar pra sua coleção de discos. A quantas anda?
MM: Nesse momento, consegui terminar de catalogar meus discos. Estou com exatos 2043 vinis, 372 CDs, 212 DVDs e 51 Boxes (onde esses boxes contém 211 CDs, 22 DVDs e 17 LPs). Não é uma coleção muito grande, mas acho ela bem bonitinha (risos).
Pelos números da sua coleção está claro que você prefere os LPs aos CDs. Você tem explicação para isso? Você conseguiu aproveitar a época que todos estavam vendendo seus LPs por quase nada para trocar por CDs? E com essa volta dos LPs com preços bem mais altos que os CDs, como você vai fazer?
Bom, eu sempre fui um defensor do vinil. Mesmo na época que ele andou em baixa, eu sai em defesa do LP. Consegui muita coisa boa por preços inacreditáveis hoje, como por exemplo, o Iron Maiden Live at Donnington - triplo - por R$ 1,50, discos que chegavam as lojas como lançamento, e colocavam em saldão, por 1 real, cinquenta centavos a maioria. Peguei muita coisa que hoje custa fortunas, como No Quarter, Coverdale / Page, Fate of Nations, Zooropa, Black Tie White Noise, Decade of Agression, Fear of the Dark, os A Real Live e A Real Dead do Iron Maiden, 1916, alguns Peter Gabriel, era um bom período, e me arrependo de não ter pego mais por não ter o conhecimento na época de que aquilo iria se tornar valioso. Um exemplo claro de disco que passou pela minhas mãos por 50 centavos e eu não peguei foi o Se o Rádio Não Toca, do Raul, lançado em 1994, e que hoje custa quase mil reais. Aproveitei esse período e a transição quando o LP começou a valer mais, e durante muito tempo, a maioria dos discos que pagava no máximo 10 reais. Lembro quando comprei os Mutantes, quase tudo de uma vez só, que o CD custava 20 reais e o LP 8. Acho o som do vinil melhor, fora que o fato de manusear, cheirar, abrir a capa, é algo que te faz parar para quilo, é um carinho, uma troca de sentimento, que só um bolha consegue sentir. Hoje, com os preços lá em cima, fico chateado de que muito material sem qualidade acaba batendo na casa dos 30, 50, e por que não , 100 reais. Esperar baixar o valor acho que não adianta mais, pelo contrário, acredito que a tendência dos preços dos vinis é se manter em alta, mas vez ou outra, surgem raridades em sebos. O jeito é garimpar, e esperar o momento certo. Por outro lado, fico feliz de ver que uns 60% dos vinis que comprei por preço de banana hoje não sai por menos de 50 reais. Minha família vai lucrar bastante quando eu for assistir a Janis Joplin em outra encarnação (risos).
Colecionar discos, apesar de parecer um hobby solitário, sempre rende ótimas histórias e amizades. Conte-nos sobre situações bacanas ou curiosas que aconteceram envolvendo sua coleção de discos.
MM: Cara, tem muitas. Vou contar três curtinhas aqui, que me marcaram bastante. A primeira foi de uma temporada que passei no Rio de Janeiro, durante meu doutorado. Fiquei um mês na cidade, em um albergue que ficava próximo a três sebos de Copacabana (além da antiga Modern Music, uma das melhores lojas de discos que conheci na minha vida). Nesse mês, eu fiz um curso no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca, e todos os dias, passava pelos sebos e pelas lojas para ver as novidades. Depois de um mês, voltei para Porto Alegre (onde morava na época) com mais de 200 vinis. Foram três malas só de discos. O pessoal do albergue se apavorava cada dia que eu chegava lá, sempre com uma sacola carregada nas mãos. Até hoje, fico sempre no mesmo albergue, e o pessoal lembra daquilo (foi em 2008). Infelizmente a Modern e dois dos sebos fecharam, mas um deles ainda se mantém na ativa, apesar de não ter mais tanta mercadoria para fornecer (ou eu que já estou com disco demais em casa). Nessa mesma temporada, minha passagem de volta para Porto Alegre estava marcada para o sábado de tarde. Pela manha, acordei com a sensação de que tinha que ir em um determinado sebo (cheio de disco, e ainda queria mais). Fui. Por lá, vasculhei todos os discos, e não encontrei nada. Na minha cabeça, rolava a terceira parte de "Eyes of the Heart", obra prima que o Keith Jarrett gravou no disco homônimo, o famoso álbum duplo de três lados, e que eu buscava há algum tempo. Vasculhei a loja com aquela canção na cabeça, e como não encontrei nada, resolvi perguntar para a dona: "Chegou algo novo?". Ela já me conhecia (um mês indo lá praticamente todo dia, não tinha como não conhecer) e ela respondeu: "Tem umas coisinhas que ainda não coloquei preço, acabou de chegar". Era um lote de jazz maravilhoso, e no meio dele, estava o bendito "Eyes of the Heart". Gelei na hora, e perguntei o preço. Ela olhou o vinil e disse: "Esse é 6 reais, por que não tem um lado". Levei ele e mais um Thelonius Monk e dois Duke Ellington por 20 reais, e fechei a temporada com chave de ouro. Outra história que me marcou foi na primeira ida para a Europa. Não tinha nem ideia das restrições nos voos da Ryan Air, uma empresa que vende passagens muito baratas, mas que impõe limites de peso e tamanho das bagagens. Você precisa pagar em euro por quilo de bagagem que superar o limite de 10 kg algo em torno de 50 reais, e eu, viajando da Grécia para a França, estava com no mínimo uns 20 kg de bagagem só em discos, fora roupas. Era o fim de verão na Europa, mas para não pagar as taxas (que seriam um absurdo), vesti todas as roupas que tinha levado. Devo ter ficado pesado uns 150 kg, mas como na mala só tinha vinis, e a mesma coube no limitador de espaços que a empresa oferecia, nem chegaram a pesar a mesma. As caras dos seguranças vendo eu andando com uma jaqueta enorme no meio de um calorão desgraçado era bisonha, mas tudo deu certo, e os discos chegaram sãos e salvos, sem taxas, para as prateleiras que os aguardavam sedentos. Existem outras envolvendo vários artistas com quem conversei, mas posso deixar para os comentários, caso perguntem.
Quais são suas principais lembranças de quando começou a ouvir música? Você ainda tem o primeiro disco que comprou ou ganhou de presente?
MM: Como disse acima, minhas principais lembranças são da minha infância, com meu pai, que nos incentiva bastante a ouvir música e o Micael - que também é colaborador do site - é o responsável pela minha formação musical. Ele que me mostrou o que eu gosto e o que eu não gosto, não por conta de que aquilo que ele comprava eu gostava, mas por que, como ele ouvia muita música, e era o irmão mais velho, ele tinha acesso a amigos que tinham as grandes bandas. Foi ele quem me apresentou ao BRock, ao Thrash Metal e ao grunge, dos quais a maioria eu não curti, mas também ao progressivo do Pink Floyd e do Genesis, que ele não gostou, mas eu adorei de cara. Se não fosse o Micael, e dependesse da minha irmã, talvez hoje eu fosse fã de Zezé di Camargo & Luciano (risos). Sempre fui um curioso musical também, e com as revistas Bizz, Rock Brigade e Top Rock (que o Micael comprava, lógico), eu lia sobre bandas como Yes, Janis Joplin, Santana, The Band, Bob Dylan, etc. Quando ia em uma loja, na época que podia ouvir discos, ouvia um deles, e então, se curtia, levava para casa. A primeira lembrança real que tenho uma data é 1989, quando "Stairway to Heaven" era trilha na novela global Top Model. Lembro que uma vez uma rádio passou a música, que eu já curtia na novela, inteira, e me encantei pelo solo. Naquele momento, minha formação musical começava a ser feita. Tinha seis anos, mas lembro disso claramente, e melhor, dias depois passou o clipe de "Vogue" no Fantástico. Me apaixonei pela Madona, a qual durante muito tempo, foi minha ídola maior. Meu primeiro disco foi minha mãe que me deu, no Natal de 1989, que foi o "Like a Virgin", o qual me desfiz quando virei um rebelde abobado que só ouvia progressivo. O primeiro LP que comprei foi o The Song Remains the Same. Isso foi em 1990. Trabalhei com minha mãe auxiliando na organização dos salgadinhos que ela fazia para fora (ela me deu esse valor pelo trabalho que levo até hoje), e ganhei alguns trocados. Fomos em uma loja em Pelotas e lá, pedi para o dono o disco que tinha a música "Stairway to Heaven". Ele me mostrou o Led Zeppelin IV e o The Song Remains the Same. Quando eu vi que o The Song Remains the Same tinha uma música de 26 minutos e 58 segundos, pirei na batatinha, e comprei aquele duplo, que era mais caro 50 mil cruzeiros, mas valeu a pena. Tenho ele até hoje, bem chatinho de tanto que ouvi, mas valeu muito a pena. O resto é história.
A partir de qual idade você considera que se tornou um colecionador?
MM: A partir do momento que comecei a ganhar meu próprio dinheiro. Isso foi mais ou menos com quinze anos, quando comecei realmente a trabalhar com a minha mãe, agora não mais organizando, mas fazendo salgadinhos, e também com bicos como catador de lixo reciclável, professor particular de Matemática e Física, cobrador, funcionário de locadora de video-games, enfim, o que aparecia e que desse uns trocados. Foi quando comecei a comprar de verdade (antes, eram coisas específicas), através do Micael, que já morava em Porto Alegre, e que tinha contato com as lojas de lá. Nessa leva estavam principalmente os discos do Yes, que acabou se tornando o primeiro a ter a coleção construída. Depois vieram Led (Zeppelin), Genesis, Sabbath, Queen, Purple, Floyd, ELP, Iron Maiden, King Crimson, Metallica, Slayer, as bandas mais tradicionais, as quais consegui os principais discos por preços que hoje são considerados piadas (o mais caro dessas bandas aí devo ter pago 10 reais). Lembro que uma vez vi o Hoje É O Primeiro Dia do Resto de Suas Vidas por 8 reais, e não comprei ... . Mas foi somente quando realmente eu tinha um emprego (no caso, a bolsa de mestrado), que decidi investir mais em discos. Afinal, já tinha um salário fixo, e então, dava para separar um pouco para garimpar nas lojas e no Mercado Livre. Foi aí que fui morar em Porto Alegre, e consegui os discos do Van der Graaf Generator, Raul Seixas, Gentle Giant, Premiata Forneria Marconi, Scorpions, Uriah Heep, UFO, Jethro Tull, Supertramp, David Bowie, entre outros que os álbuns não são tão comuns, todos com preços de no máximo 40 reais, que era o que eu podia pagar. Com o doutorado, aumentou a bolsa e também vieram viagens para outros países. Tive a sorte de viajar com dólar em baixa, e também aproveitei para usar e abusar do cartão de crédito na Amazon e no Ebay. Ali realmente me tornei um garimpeiro, e até hoje, continuo assim, apesar de não com a mesma intensidade de dedicação nos sites para comprar, devido principalmente ao trabalho, que agora me toma tempo fixo.
Quais são seus artistas favoritos e qual a banda que você tem mais itens na sua coleção?
MM: Dizer quais são meus artistas favoritos iria tomar muito tempo de leitura dos amigos, mas posso citar alguns que eu realmente coleciono, os quais são: Elis Regina, Frank Zappa, Yes e afins (Asia, GTR, as carreiras de Bill Bruford, Jon Anderson, Patrick Moraz ...) , David Bowie, U2, R. E. M., Led Zeppelin e afins, Queen, Black Sabbath e afins, Pink Floyd, UFO - e o que puder ligado a Michael Schenker - , Styx, Scorpions - e o que puder ligado a Uli Jon Roth -, King Crimson, Genesis, Triumph, Rush, família Purple (Deep Purple, Trapeze, Glenn Hughes solo, Captain Beyond, Tommy Bolin, Whitesnake, Rainbow, ...), Los Hermanos, progressivo nacional da década de 70 e Madonna. Desses, o que aparecer na frente e que eu não tenha, certamente deverá parar em casa (desde que eu tenhas os pilas para levar, hehehe). A banda que eu tenho mais itens é o Yes. Ao todo, são 81 itens, com 24 LPs, 42 CDs, 13 DVDs e 2 Boxes. Incluindo discos solos e afins, esse número aumenta para 132, com mais 46 LPs e 5 CDs. Depois vem David Bowie, com 76 itens distribuídos entre 50 LPs (incluindo alguns compactos e EPs), 17 CDs (também contando alguns singles), 3 DVDs, 3 Boxes e 3 livros; Frank Zappa, com 59 itens distribuídos em 48 LPs, 10 CDs e 1 DVD; e Elis Regina, com 56 itens distribuídos em 50 LPs (incluindo discos de festivais e/ou participações especiais), 2 CDs, 1 DVD, 1 Box e 2 livros. Todos são originais, e a maioria primeira edição, o que torna os itens mais valiosos (os Zappa, inclusive, 90% são importados). Não é muito, mas eu tenho um carinho bastante especial por cada disquinho desses.
Que outras bandas / artistas tem destaque na sua coleção?
MM: Em termos de números, UFO, com 23 LPs, U2, com 12 LPs e 28 CDs que trazem versões originais e especiais para os lançamentos pós-Zooropa, além de vários singles, R. E. M., com 17 LPs e mais 30 CDs entre lançamentos especiais pós-Out of Time, assim como vários singles. O pessoal curte as coleções completas (dos lançamentos oficiais) em vinil de Queen, Supertramp, Rush, Led Zeppelin, Uriah Heep, Rainbow, Renaissance, Black Sabbath, Rolling Stones, Wings, Pink Floyd, Iron Butterfly, Moby Grape, It's A Beautiful Day, Jefferson Airplane, The Doors, Traffic, Triumph, ZZ Top, Vanilla Fudge, Arnaldo Baptista, Mutantes, Novos Baianos, Raul Seixas, Rita lee, Ney Matogrosso, Secos & Molhados, Styx, Beto Guedes, Captain Beyond, Grand Funk Railroad, The Allman Brothers Band, Van der Graaf Generator, Gentle Giant, Focus, Genesis, Santana, King Crimson, Emerson Lake & Palmer, Metallica, Slayer, Janis Joplin, Kansas, The Who, e a discografia do Elomar, que apesar de curta, eu sei que é bem cobiçada, ainda mais por que são os originais, com aqueles encartes maravilhosos que a gravadora Rio do Gavião fez. Alice Cooper, Jimi Hendrix, Keith Jarrett, Wishbone Ash, Duke Ellington, John Williams e Bob Dylan também tenho uma boa coleção, mas esses são mais difíceis de completar. Tem nomes que citei que as coleções são pequenas (como o Arnaldo e o Novos Baianos, por exemplo), mas que os discos hoje são bem procurados e difíceis de encontrar, e eu tive a sorte de adquirir eles em uma época que o vinil ainda não era tão valorizado assim.
Como você organiza sua coleção?
MM: Tento manter um padrão em termos de estilos. Por exemplo, bandas de rock progressivo ficam todas juntas, assim como as de metal, califórnia, cantoras, cantores, etc. Os artistas brasileiros tem um local só para eles (até por que são artistas que estou adquirindo com frequência, coleções que comecei há pouco), e tento manter nessa ordem a questão do tempo. Portanto, thrash metal e pop, que tem a maioria das bandas na década de 80, estão juntos. Todos os LPs estão catalogados com nome de música e tudo, e os CDs estão catalogados apenas em números (assim como DVDs e Boxes). É dessa planilha que tirei os dados acima.
Você já manifestou através de seus textos que tem um gosto peculiar para certas coisas, defendendo suas opiniões com muita ênfase. O que todo mundo gosta e você não consegue gostar? O que só você gosta e não consegue acreditar que a maioria não dá valor?
MM: Velho, geral me xinga por que eu defendo uns discos bastante menosprezados. Como diria o poeta, a unanimidade é burra. Amo de paixão Hot Space (Queen), Pop, (U2) Never Say Die (Black Sabbath), Brother Were You Bound (Supertramp), The Elder e Dynasty (Kiss), Civilian (Gentle Giant), Nostradamus (Judas Priest), Two Virgins (John Lennon e Yoko Ono), Metal Machine Music (Lou Reed), e a fase experimental do Zappa, e sinceramente, você disse tudo: não acredito por que ninguém parou para dar valor ainda. Esses discos são sensacionais, e claro, não foi de imediato que gostei deles, mas com as histórias de cada disco acompanhadas de uma audição dedicada, vi que eles são espetaculares. Podem até dizer que "nem as bandas gostam desses discos", mas daí pergunto: "Será que não gostam ou precisam colocar o pão na mesa e preferem largar eles de mão?". Quanto ao que todo mundo gosta e eu não consigo gostar, isso vai desde Nirvana até a maioria das bandas de metal pós-anos 90. Nirvana é para mim a mais complicada. Ah, todo mundo gosta de Tábua de Esmeraldas, mas eu, tô fora (risos)!
Fale sobre aqueles itens que causariam estranheza para alguém que vá olhar o conteúdo das suas prateleiras.
MM: Sempre que vou em um país diferente, procuro comprar um LP regional de lá. Então, tenho algumas coisas "diferentes" da Grécia (um álbum de bouzoki, instrumento típico de lá, que é lindíssimo), Itália, Argentina, Bélgica, Chile e Espanha. Um amigo meu do Panamá me presenteou com um LP do presidente da Guarda Nacional Omar Torrijos, que confesso é bastante bizarro, com ele incitando o exército para a luta armada entre outras coisas, e que também veio acompanhado de outros LPs de músicos famosos nas ilhas do Caribe, os quais não ouço com frequência, mas são interessantes por serem coisas que não encontramos no Brasil. Tenho também uns discos gauchescos, para de vez em quando acompanhar um churrasco, mas acho que o mais "estranho" mesmo é ver a coleção da Madonna e do Erasure lado-a-lado com as coleções do Saxon e do Slayer (risos).
Você é um frequentador assíduo de shows. Conte-nos sobre os mais impactantes e as maiores loucuras que já fez para estar próximo dos artistas que admira. E responda aquela pergunta - um disco ou um show?
MM: Meu primeiro show foi em 1998, graças a meu irmão, Micael, que desembolsou a bagatela - na época caríssimos - 50 reais para o ingresso do Yes na turnê do Open Your Eyes. Eu tinha 15 anos, viajei 600 km sozinho da minha cidade Natal (ida e volta) até a capital, e vi, totalmente espremido, Steve Howe há menos de 10 metros do meu nariz, tocar "Mood for a Day" caminhando pelo palco do Opinião. Aquilo foi o êxtase, e ali eu entendi por que um show é tão bom de assistir. Depois, vi o Kiss em 1999, formação mascarada, original, com abertura do Rammstein. Aquele dia é inesquecível, por que fui do inferno ao paraíso. Eu estava viciado em Kiss, e sai de uma excursão de Pelotas (cidade que fica 60 Km de Pedro Osório) para ver o que se prometia ser o maior espetáculo que Porto Alegre já viu. Esse show tem muita história boa, mas duas delas para encurtar a entrevista: na época, celular era um tijolão para poucos. Meu pai me emprestou o dele para eu ligar para o Micael e nos encontrarmos por lá. No meio de 50 mil pessoas, eu com o tijolão no bolso, eis que o Micael me liga, e a gente se encontrou! Hoje, isso é uma banalidade, mas em 1999, era praticamente impossível. Depois, quando começou o show do Rammstein, foi apavorante. Os caras colocaram tudo abaixo, tanto que muitos dizem até hoje que o Rammstein deu de relho no Kiss. O vocalista entrou pegando fogo, eram flechas de fogo jogadas na plateia, e o pior de tudo foi quando o vocalista pegou o tecladista, colocou de quatro e, com um pênis de borracha, fingiu "fazer sexo anal" com o mesmo, ali, diante de um monte de gente apavorada. Não satisfeito, o vocalista fez com que seu penis ejaculasse na própria boca. Cara, até hoje me apavoro daquilo. Depois veio o Kiss, com show 3D, e acalmou os ânimos - considero esse até hoje o melhor show da minha vida. Em maio de 2010, fiz uma indiada munaia. Em menos de três dias, assisti três shows. No domingo, vi ZZ Top em Porto Alegre. Sai do show, tomei um banho e peguei um avião para São Paulo, onde vi o UFO. Lá, fiquei sabendo que havia ganho um ingresso para assistir o Aerosmith em Porto Alegre. Debaixo de muita chuva, vi a turma de Steven Tyler na terça-feira, e quando cheguei em casa, estava podre de cansado, mas valeu muito a pena. Nesse mesmo ano, consegui encaixar na minha primeira viagem à Europa um show do Ozzy em Paris. Esse é outro que tem muita história. Fui com um amigo de doutorado que morava por lá na época, e no caminho do metrô, detonamos uma garrafa pet de uísque. Quando o show começou, os franceses estavam tudo assistindo quietos, e só nós agitando. Chegou ao ponto de alguns nos olharem com aquela cara de "bando de loucos", mas foi divertido pacas. Teve também as idas e vindas para o show dos Stones nesse ano de 2016. Ih, histórias não faltam, passaria o dia contando, mas não vou encher o saco da gurizada. Mas posso dizer que tenho a sorte de ter conhecido e conversado com muitos artistas que sou fã. E entre um show e um disco, putz, fico com o show, já que é a oportunidade de conferir o artista ao vivo e a cores executando a sua obra, e isso é impagável.
Qual o artista que você já assistiu ao vivo mais vezes? Quantas foram?
MM: Vão me matar, mas o artista que já assisti mais vezes na verdade é uma banda, Los Hermanos. Assisti a sete shows deles, desde 2003, e olha, se puder, assistirei mais, basta eles terem interesse em retornar por um dinheiro que eu estarei lá. Mas para confortar os xiitas, dentre os grandes já assisti a Ozzy Osbourne quatro vezes. O velhinho é foda no palco. Passamos vergonha, por que ele não para. Tenho certeza que dão uma dose grande de adrenalina nele, por que o bicho simplesmente enlouquece, e é difícil acompanhar o ritmo do cara.
Qual o item mais raro de sua coleção?
MM: Velho, não tenho nenhuma grande raridade. Tem colecionador aí que tem umas coisas bem cobiçadas. Eu tento buscar essas raridades, mas falta $ e tempo para pesquisar. De qualquer forma, em termos de LPs, me orgulho de alguns itens originais, como os quatro primeiros da Elis Regina (hoje, o Poema de Amor, o Ellis Regina e O Bem do Amor valem quase tanto quanto o Viva a Brotolândia), As Crianças da Nova Floresta (Recordando o Vale das Maçãs), Depois do Fim (Bacamarte), Racional Vol. 1 (Tim Maia), os originais de Auto da Catingueira e Dos Confins do Sertão (Elomar), bastante cobiçados lá fora, os boxes originais da turnê de John Coltrane pelo Japão em 1966 (que me custaram um bom preço), o Metal Box do PIL, alguns bootlegs do Pink Floyd e do Led Zeppelin, uma coletânea russa do Black Sabbath, o original do 666 (Aphrodite's Child), os Arnaldo Baptista com a Patrulha, alguns álbuns de bandas da Europa / Estados Unidos no auge do hard setentista, discos de bandas flower power que não são tão comuns, como Quicksilver Messenger Service e It's A Beautiful Day, por exemplo, ou a versão original de Wow (Moby Grape), com uma faixa de 78 rpm inserida entre as faixas de 33 1/3 rpm, as versões originais de Virgin Killer e Taken By Force (Scorpions), discos de bandas da Argentina e de Portugal, alguns europeus - nada que se compare ao Marco, por exemplo - e o Magnum Opus (Magnum Opus), que só saiu 32 cópias.
Tenho um picture shaped do David Bowie que nunca mais vi para vender, assim como uma coletânea japonesa do camaleão, que consegui completinha, com obi e tudo. A minha discografia do Zappa também tenho apreço, principalmente nos discos da década de 80, que são mais raros (como os London Symphony Orchestra ou o Francesco Zappa, por exemplo, ou os boxes do Thing-Fish e Shut Up 'n Play Yer Guitar por exemplo). Tenho alguns pictures do Styx, UFO, Pink Floyd, que também não sei se verei novamente, principalmente a versão original do Paradise Theater, com uma impressão transparente no vinil que só pode ser vista contra a luz, assim como o picture original do primeiro Curved Air, o Air Conditioning, que muitos dizem ser o primeiro picture da história. Mas nada demais, como disse acima. Com os relançamentos em 180 gr, ficou muito fácil conseguir um disco raro, por isso, privilegio essas edições originais. Em CDs, certamente uma caixa do Queen, em formato de porta-joias, toda revestida em veludo, com várias apresentações da banda desde seu início até 1986, é o mais valioso. Box de 22 CDs do SBB, chamado Anthology, também não é tão comum. Ah, tenho todos os Mutantes da década de 60 e 70 originais em LP. Para muitos, isso é ouro (risos). Álbuns autografados também tenho alguns, como Wishbone Ash, Focus, Scorpions, Glenn Hughes, Viper, O Terço, O Terno, Ney Matogrosso e Mutantes.
Cite cinco itens que, se você tivesse que vender sua coleção, não venderia de jeito nenhum.
MM: Pela questão do valor emocional e da dificuldade de se encontrar novamente, seriam:
SBB - Anthology (Box Set)
Bacamarte - Depois do Fim (autografado pelo Mário Neto e pela Jane Duboc)
Public Image Ltd. - Metal Box
John Coltrane - Coltrane in Japan
UFO - Live (Picture Disc)
Onde você adquire itens para sua coleção atualmente? Já comprou discos em lojas fora do país? Quais as dicas você passaria pros leitores?
MM: Hoje em dia, a internet é uma fornecedora de discos. Se você tem dinheiro e tempo para pesquisar, há inúmeras lojas que oferecem material de qualidade. Claro, ebay, discogs e mercado livre são os mais atraentes (a Pop Market e a Amazon foram fornecedoras por um bom tempo, mas a questão do frete que eles cobram acabou eliminando eles da lista, pelo menos por enquanto). Aqui no Brasil, tem páginas de venda de discos, e tenho alguns lojistas que fazem bons preços, dos quais posso citar o Roberto Carvalho (Woodstock, de Poços de Caldas), o pessoal da Gato Preto (Paraná) e claro, o Siri da Gaita, do nosso querido Marco, que tá sempre me assaltando e causando problemas com a mulher. Já tomei uns tufos nessas páginas, mas nada que me causasse um pânico. Quanto a lojas foras do país, sempre que visito um novo país eu faço uma busca pelas lojas de discos. Posso afirmar sem dúvidas, os melhores locais para comprar são na Europa. Aqui na América do Sul, conheci lojas no Chile e na Argentina. Os hermanos são muito parecidos com brasileiros, meio desorganizados e sem dar valor suficiente ao produto (que honestamente, é de baixa qualidade). No Chile, há muitas lojas, principalmente em Santiago, e o mais interessante é que 90% delas vende apenas material novo, ou seja, LPs de 180 g. Há muitos LPs que só saem lá, meio piratão mesmo, mas com uma qualidade muito boa, e os preços são bons. Por outro lado, estive na Holanda e na Bélgica e quase infartei por não ter espaço na mala. Os discos que você procura certamente você irá achar lá (só precisa ter grana para comprar). Grécia e Espanha também são excelentes lugares para pesquisar raridades, e com preços bastante acessíveis em relação aos da Holanda e da Bélgica, mas são menos lojas, então, tem que dar uma boa caminhada pelas ruas e ter a sorte de encontrar uma. Foi assim que achei a Zakarias na Grécia, localizada em uma pequena galeria perto do Palácio do Presidente, e a Metralleta, em Madrid, uma loja gigante que fica num subsolo de edifício-garagem (!). Na Itália e em Paris há muitas lojas, mas os preços são bem mais caros. Enfim, se você for viajar para o exterior e tá afim de comprar discos, as dicas que posso dar são: 1° Não converta; se você converter, não irá comprar nada. Pense que está comprando em reais, e depois, garanta a alegria. 2° Dinheiro na mão não é vendaval; Se você pagar em dinheiro vivo, o desconto é muito bom, e os europeus valorizam isso; 3° Garanta um espaço na mala, ou melhor, uma mala inteira; ir para lá e comprar só um LP não é recomendado. Esbalde-se, e junte uma boa grana para isso, mas com certeza, você não irá se arrepender.
Quais os dez melhores discos da década de 60?
MM: Complicadíssimo, mas sem uma ordem específica:
Big Brother & The Holding Company - Cheap Thrills
David Bowie - David Bowie
Duke Ellington & John Coltrane - Duke Ellington & John Coltrane
Janis Joplin - I Got dem 'Ol Kosmic Blues, Again Mama!
Jeferson Airplane - Volunteers
Moby Grape - Grape Jam
Pink Floyd - Atom Heart Mother
The Beach Boys - Pet Sounds
The Yardbirds - Little Games
The Yardbirds - Roger the Engineer
MM: Eu inventei essa, e agora vou sofrer para fechar essa lista. Com a dor de deixar muita coisa boa fora. Mas enfim, essa em ordem:
Led Zeppelin - Physical Graffitti
Yes - Tales from Topographic Oceans
Genesis - The Lamb Lies Down on Broadway
UFO - UFO 2: Flying
David Bowie - Low
Jefferson Airplane - Long John Silver
Armageddon - Armageddon
Captain Beyond - Captain Beyond
Led Zeppelin - Presence
Black Sabbath - Never Say Die!
Quais os dez melhores discos da década de 80?
MM: A década maldita, mas com muita coisa boa. Em ordem:
Queen - Hot Space
Bacamarte - Depois do Fim
Slayer - Reign in Blood
Elomar - Fantasia Leiga Para Um Rio Seco
Kiss - Music from "The Elder"
Possessed - Seven Churches
Madonna - Like a Prayer
Quaterna Réquiem - Velha Gravura
Whitesnake - 1987
Queen - The Miracle
Quais os dez melhores discos da década de 90?
MM: A década mais fácil de fechar
U2 - Zooropa
U2 - Pop
Bacamarte - Sete Cidades
Pandelis Benetatos, Yiorgos Fakanas & John Stavropoulos - Stand-Art
Queen - Innuendo
Os Mutantes - O A E O Z
Los Hermanos - Los Hermanos
Jeff Buckley - Grace
Black Sabbath - Dehumanizer
R. E. M. - Automatic for the People
Quais os dez melhores discos dos anos 2000 (de 2001 até agora)?
MM: Sem ordem específica
David Bowie - The Next Day
El Efecto - Pedras e Sonhos
Los Hermanos - 4
Los Hermanos - Ventura
Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho
Massahara - Massahara
Naxatras - Naxatras
Ney Matogrosso - Interpreta Cartola Ao Vivo
Van Züllatt - Van Züllatt
Cite dez discos que você levaria para uma ilha deserta.
MM: Se pudesse ser dez mil (risos). Vamos a eles, mais pelo prazer audiófilo e da saudade que dá do que por serem "os melhores de todos os tempos"
Aphrodite's Child - 666
Yes - Tales from Topographic Oceans
David Bowie - Low
Arnaldo Baptista - Lóki!?
The Rolling Stones - Beggars Banquet
Los Hermanos - 4
Supertramp - Paris
The Allman Brothers Band - Live at Fillmore East
Mutantes - E Seus Cometas no País dos Bauretz
Elis Regina - Falso Brilhante
Cite dez itens que deveria ter nessa ilha deserta para completar o prazer de estar com esses dez discos.
MM: Uma boa vitrola
Eletricidade
Geladeira com cerveja mode infinite
Churrasqueira com picanha mode infinite
Vara de pescar
Livros mode infinite
Cama Extra King
Internet para baixar os outros discos que não pude levar
Computador para guardar os discos
Um jeep para dar umas bandas ouvindo os discos que baixei
Há um fim para a sua coleção?
MM: Já pensei nisso, e até fiz promessa de que encerraria minha coleção quando tivesse todos os discos oficiais do Zappa e da Elis Regina. Acho que essa é uma missão impossível, então, não há (risos). Na verdade, com a oportunidade que a internet nos fornece de descobrir novas bandas a cada dia, e com o DNA avançado de acumulador impregnado dentro de mim, fica difícil não querer ter materiais de seus artistas preferidos e também de artistas que você está conhecendo. A facilidade de compra pela internet também é uma dentro para quem faz coleção, basta ter um tempo para pesquisar e o valor para adquirir. Talvez um dia eu encha o saco (ou não tenha mais espaço em casa para guardar discos), mas enquanto minha esposa aguenta, vamos indo (risos). Porém, já estabeleci uma meta que me ajuda a manter mais uns anos de atividade, que será quando completar a coleção do Bob Dylan, o que é bem difícil.
Alguma coisa mais que gostaria de passar para nossos leitores?
MM: Quero agradecer por acompanharem o site há cinco anos. Sem vocês, não teríamos por que escrever e dedicar nosso tempo há isso. Creio que jamais seremos um site como o Whiplash, até por que nunca ninguém aqui teve essa pretensão, mas ter o retorno, por menor que seja, nos comentários, ou com pessoas em shows que dizem "bah, tu és da Consultoria", já é um pagamento enorme. Desculpem pela grande quantidade de imagens e as pelas respostas longas, e muito obrigado.
Adorei.
ResponderExcluirEstranhei na colección Deep Purple.
Muito obrigada pelo bom gosto.
Saludos desde Tenerife.
Salve Elis! Salve Frank Zappa! Salve Coltrane!
Gracias Viktoria. Saludos desde São Borja!!!
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