sábado, 20 de agosto de 2011

Novos Baianos - Parte I





Formado em 1969, o grupo Novos Baianos percorreu os anos 70 como a principal banda do rock nacional, segurando o posto que antes pertenceu ao Mutantes. Misturando samba, bossa nova, rock 'n' roll, frevo, baião, blues, entre outros ritmos, o grupo lançou discos memoráveis, deixando para a posteridade uma verdadeira obra-prima, o espetacular álbum Acabou Chorare.


Tudo começou quando os baianos Luiz Galvão (letras, voz), Paulinho Boca de Cantor (voz, percussão), Morais Moreira (violão e voz) e a fluminense Baby Consuelo, se apresentaram juntos no espetáculo "O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio", no Teatro Vila Velha, na capital bahiana. Galvão vinha de uma formação em agronomia, mas preferiu seguir carreira através da música e da poesia. Já Paulinho era crooner na Orquestra Avanço, tendo agitado as noites dos bahianos por muito tempo, o mesmo ocorrendo com Morais, o qual teve sua introdução na música tocando sanfona de doze baixos em festas na cidade de Ituaçu ainda garoto, passando a tocar violão durante o período em que cursou ciências na cidade de Caculé, no interior bahiano.


Galvão, Baby, Paulinho e Morais


Semanas antes da apresentação no Teatro Vila Velha, Moraes foi apresentado à Tom Zé, que por sua vez apresentou Galvão. A dupla Moraes / Galvão saiu uma noite para beber em um bar de Salvador, e lá conheceram Baby. A cantora começou a cantar e tocar violão desde criança, chegando inclusive a vencer um festival de música em Niterói, quando completou 14 anos. Aos 17, foi parar em Salvador, onde passou a se apresentar regularmente nos bares locais. 


Galvão e Morais se encantaram com a performance de Baby, e correram atrás da garota para ampliar o projeto de formar uma banda. Eis que surge Paulinho na história. Vindo da Orquestra Avanço, Paulinho era o mais experiente dos quatro, e aceitou participar do novo grupo,, que ainda não tinha nome.



O quarteto e sua vida anárquica

O problema é que tirando Morais e Baby, que tocavam violão, os outros dois membros eram apenas vocalistas. Então, a necessidade de contratar uma banda de acompanhamento era urgente. Foi nesse momento que apareceu o grupo Os Leifs', formados por Dadi (baixo), Baixinho (percussão, bateria), Pepeu Gomes (guitarras) e Jorginho Gomes (bateria). Os Leifs' estavam ainda em processo embrionário quando foram contratados pelos Novos Bahianos como banda de apoio, mas nasceu para brilhar principalmente através dos irmãos Pepeu e Jorginho Gomes, donos de um talento raro e que modificaria a sonoridade do Novos Bahianos como veremos.


Antes, o grupo se inscreve no V Festival de Música Popular Brasileira, onde apresentam a canção "De Vera". Na hora da apresentação, o coordenador do festival Marcos Antônio Riso falou: "Chama aí esses novos bahianos", em razão da existência dos baianos mais velhos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nascia então os Novos Bahianos (ainda com H). 


O grupo acabou não levando o V Festival, mas pelo menos teve seu nome de batismo. Tendo como empresário Marcos Lázaro, passam a fazer shows e apresentações regulares por São Paulo e Rio de Janeiro, até que conseguem assinar um contrato com a gravadora RGE. O som do grupo nessa época era muito ligado a Jovem Guarda, com os Leifs' sendo responsáveis pelo lado psicodélico da música (algo como foi o Beat Boys para Caetano Veloso, ou Os Bruxos para Ronnie Von).

A psicodélica estreia do grupo
Pela RGE, lançam o compacto "De Vera / Colégio de Aplicação", já em 1970, seguido do LP É Ferro na Boneca. Acompanhados do grupo Os Leif's em cinco canções, os Novos Bahianos apresentam-se ao mundo com a faixa-título, um rock 'n 'roll estilo jovem guarda cantado por Galvão e Morais, com destaque para as interveções da guitarra distorcida de Pepeu, lembrando Sérgio Dias no início dos Mutantes, além do famoso refrão que entoa o nome da canção.

"Eu de Adjetivos" é cantada por Baby e Morais, começando como uma balada sensual e psicodélica, levada por violão e percussão, trazendo a importante participaçao do saxofone, flauta e metais, arranjados por Chiquinho de Moraes, transformando-se então em uma canção no estilo da jovem guarda com a entrada do vocal de Galvão, que leva a letra junto de Morais, tendo ao fundo sempre o acompanhamento dos metais.

"Outro Mambo, Outro Mundo" abre com sanfona, violão e percussão, apresentando uma canção tipicamente nordestina, cantada por Galvão e Morais, que não chama muito a atenção, apesar do interessante poema de Galvão.

A canção mais famosa do LP vem a seguir, "Colégio de Aplicação", com o violão apresentando a voz de Morais, seguida pela bateria. Galvão passa a cantar, dividindo as frases com Morais, e a canção ganha corpo com a adição dos metais, arranjados por Hector Lenha Fietta, além da presença marcante de baixo e guitarra, fechando a canção com um bom pique.

Compacto do grupo
Fietta também fez o arranjo para "A Casca de Banana Que Eu Pisei", onde o tema dos metais puxa o ritmo de um mambo cantado por Morais. A orquestração é a principal atração. Galvão repete a letra no mesmo andamento de Morais, porém cantando em espanhol, encerrando a canção em uma alucinada sessão de metais com ambos cantando juntos.

"Dona Nita e Dona Helena" abre com o dedilhado do violão, seguido pela voz de Morais e os metais de Chiquinho de Morais acompanhando, em outro rock jovem guarda, que tem um refrão marcante, onde o nome da canção é entoado. 

O Lado A encerra-se com "Se Eu Quiser, Eu Compro Flores", também arranjada por Chiquinho de Moraes, onde o órgão faz um bonito tema introdutório, trazendo a voz de Paulinho Boca de Cantor, em uma canção muito suave, contando com uma bonita participação da guitarra.

"E o Samba Me Traiu" abre os trabalhos do Lado B, contando com outro bom arranjo de Chiquinho de Moraes. Essa é uma canção bem brasileira, onde os metais fazem o tema para um verdadeiro samba-rock tomar conta da sua casa, o qual é cantado por Paulinho Boca de Cantor. Outro grande destaque é a percussão a la Santana, presente em toda a canção.

"Baby Consuelo" leva os Novos Baianos para a psicodelia, começando com a voz de Morais e as intervenções vocais de Baby, tendo ao fundo metais arranjados por Chiquinho de Moraes. A canção pega ritmo levemente, tornando-se parecida com o que já ouvimos no Lado A, em uma letra maluca e que já mostra as viagens literais de Morais e Galvão.

O Novos Bahianos explora o tango em "Tangolete", onde o maestro Fietta deu um espetáculo sonoro que tornou a canção muito similar aos clássicos de Carlos Gardel. Cantada por Galvão, ela começa com uma dedicatória do próprio para Gastão e Fietta, desenrolando-se em uma belíssima sessão instrumental do piano, acordeão e violino.

"Curto de Véu e Grinalda" é outra bonita canção, começando com o solo de saxofone sobre o ritmo da bateria e dos metais arranjados por Chiquinho de Moraes, tornando-se um agitado samba-rock cantado por Baby, o qual é embalado por percussão, violão e vocalizações, lembrando muito a versão de "A Minha Menina" feita pelos Mutantes em seu álbum de estreia de 1969.

"Juventude Sexta e Sábado" também tem Chiquinho de Moraes nos arranjos, abrindo psicodélicamente, com vocalizações, cordas e percussão, trazendo a voz de Morais acompanhada por teclado e pela complicada escala de baixo feita por Dadi, mantendo a cadência de sua antecessora e apresentando mais uma estranha letra, com Baby fazendo diversas vocalizações.

O álbum encerra com "De Vera", um ótimo rock, onde a guitarra alucinada de Pepeu é a principal atração, nessa canção que conta com os vocais de Paulinho e Morais.


Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Morais Moreira, Galvão e Baby Consuelo


É Ferro Na Boneca acabou não vendendo muito, mas o grupo persistiu em busca do sucesso. Para isso, mudam-se para o Rio de Janeiro, onde vivem juntos em um apartamento de quatro cômodos, Nesse período, Baby e Pepeu se casaram, fazendo com que Pepeu fosse adicionando como membro efetivo do agora rebatizado Novos Baianos (sem o H).


Com ânimo renovado, através de um contrato com a gravadora Som Livre, gravam o segundo compacto em 1971, "Volta que o Mundo Dá", e então, são apresentados à João Gilberto. Um dos deuses da Bossa Nova, João Gilberto influenciou diretamente na mudança sonora do grupo, incentivando os garotos a aproximarem-se do samba, das raízes musicas nordestinas e também não perder o espírito rock 'n' roll, que deveria concentrar-se na guitarra de Pepeu. Jorginho era um grande tocador de cavaquinho, e ao lado de Pepeu, estudando bandolim nesse momento, começou a criar as melodias que se encaixaram na proposta de João Gilberto, causando uma revolução na Música Popular Brasileira logo no segundo álbum do grupo.


O melhor disco do Brasil


Considerado pela revista Rolling Stone brasileira como o melhor disco do Brasil, e pela revista ShowBizz como o segundo melhor disco do rock nacional, atrás apenas de Cabeça Dinossauro (Titãs), Acabou Chorare é uma aula de interpretação, inspiração, transpiração e musicalidade. O LP abre com um dos maiores clássicos da MPB, "Brasil Pandeiro", composta por Assis Valente. Os acordes do violão em ritmo de samba trazem a voz de Baby, seguida de Morais e Paulinho. A sequência é repetida, chegando na terceira estrofe, onde o cavaquinho entra em ação, com Morais, Baby e Paulinho cantando nesta sequência, explodindo no famosíssimo refrão cantado por todos. Pepeu e Jorginho travam um pequeno duelo, e a letra é repetida, com um espetáculo a parte dos irmãos ao fundo, além da importante participação de Dadi no baixo. O refrão estronda novamente, mostrando o novo Novos Baianos para o mundo.

Dois acordes de violão são suficientes para mais de seis minutos de música? Se essa canção for composta pelo Novos Baianos, sim. Exatamente dois acordes levam "Preta Pretinha", cantada por Morais, em mais um grande sucesso do grupo. Após o refrão, um breve solo de cavaquinho leva a repetição da letra, acompanhada sempre pelos dois acordes, agora feitos também pelo cavaquinho. O refrão é repetido, com um belo arranjo do cavaquinho, que passa a solar sobre o andamento percussivo. Morais mais uma vez repete a letra, acompanhado por violão, baixo, cavaquinho e percussão, modificando a canção com a entrada da bateria, onde Morais passa a alternar frases com os demais Novos Baianos, gravando para sempre na história da MPB a frase "abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer", levando ao final da canção sempre no ritmo manhoso dos dois acordes iniciais, com um show de Jorginho no cavaquinho, encerrando com o duelo Morais-vocalizações em uma das principais canções da música nacional.

"Tinindo Trincando" já muda o clima, com o solo da guitarra abrindo a canção, sendo acompanhado pelo forte ritmo percussivo, trazendo a voz de Baby em um pesado rock, que possui pitadas de baião, cantado por Baby em uma voz sensualíssima, destacando novamente a participação de Jorginho no cavaquinho.

"Swing de Campo Grande" retorna ao samba, com o violão de Morais e o bumbo abrindo espaço para  a voz de Paulinho, em um ritmo similar ao de "Brasil Pandeiro". O cavaquinho sola ao lado do violão, explodindo em mais um grande samba durante o refrão, com todos fazendo vocalizações, além da manhosa guitarra de Pepeu marcando presença, bem como as encantadoras notas do cavaquinho de Jorginho.

O lado A encerra com a faixa-título, uma linda canção que conta apenas com Morais na voz e violão, misturando palavras que formam a letra da canção, tendo sobriedade e pureza através do solo de violão e cavaquinho no seu final.
Novos Baianos no Rio

O Lado B é um pouco mais "pesado", abrindo com outro grande clássico, a fantástica "O Mistério do Planeta". O início com o lindo dedilhado do violão de Morais, apresenta a voz de Paulinho. Vocalizações aparecem, trazendo o ritmo percussivo do recém batizado A Cor do Som (antigo Os Leifs') em um ritmo embalado. Paulinho faz novas vocalizações, repetindo a primeira estrofe acompanhado pelo ritmo embalado e pelas escalas jazzísticas da guitarra de Pepeu. Após a repetição da segunda estrofe, temos mais vocalizações, chegando ao maravilhoso solo de Pepeu, que encerra essa primorosa canção com muita distorção em um ritmo pesado e envolvente.

"A Menina Dança" é mais uma que começa com o ritmo do violão de Morais, trazendo uma Baby com voz adolescente, com destaque para o refrão, onde percussão, guitarra e cavaquinho são as principais atrações, além das vocalizações de Baby.

Acordes de cavaqunho e violão puxam o ritmo de um esplendoroso samba chamado "Besta É Tu", trazendo as vozes que cantam o nome da canção, com a letra principal cantada por Morais.

A instrumental "Um Bilhete Prá Didi" é uma aula de música para iniciantes. Jorginho é absoluto no cavaquinho e na bateria, assim como Pepeu na guitarra. Essa canção abre com o solo de cavaquinho, seguido por baixo, triângulo e bumbo, em um ritmo nordestino. Pepeu faz pequenas interferências com a guitarra, enquanto Jorginho exalta virtuosismo no seu solo. Pepeu assume o comando do solo, repetindo o mesmo solo de Jorginho na guitarra, e Jorginho dita o ritmo da pesada sessão instrumental estraçalhando a bateria. As complicadas viradas de Jorginho contrastam com as velozes escalas de Pepeu, as quais são acessoradas por um Dadi em ótima performance, encerrando a canção com muita técnica e virtuose.

Por fim, "Preta Pretinha" encerra o LP, repetindo grande parte da canção do Lado A, fazendo uma conclusão digna para um álbum espetacular e essencial.  Além da música, Acabou Chorare também brilha no lado da arte, já que a versão original do vinil trazia um livreto recheado de fotos do grupo, bem como explicações de Galvão para cada composição. É a partir desse álbum que Galvão passa a se concentrar mais nas letras, cantando canções raramente.


A comunidade Novos Baianos, com membros do grupo, amigos e familiares


Acabou Chorare se tornou o maior sucesso em vendas do grupo. O nome Novos Baianos tornava-se conhecido nacionalmente, com o grupo se apresentando em diversas cidades do país. O sucesso era tanto que o grupo alugou um sítio em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, batizado de Sítio do Vovô, já que o espaço onde viviam no apartamento em Botafogo tornou-se pequeno para todo mundo. Lá, passam a viver de forma comunitária, levando todos os familiares e diversos amigos para morar juntos.


Mas o Novos Baianos eram principiantes no processo de estruturação de sua carreira. Sem empresário, eram dirigidos por eles mesmos, e o dinheiro que ganhavam com as vendas de Acabou Chorare ficava guardado em um saco pendurado na porta da cozinha da casa do sítio.  Muitos foram os que se aproveitaram da inocência do grupo, e deram uma beliscada na grana que estava no saco.


No Sítio do Vovô, montam um time de futebol chamado Novos Baianos F. C., onde os músicos do A Cor do Som e mais Pepeu, Morais, Paulinho e Galvão, integravam a equipe, que chegou a jogar amistosos em alguns estados. O ânimo com o futebol era maior do que com a música, mas mesmo assim, os ensaios continuavam, mesmo sob as precárias condições de vida no sítio, onde viviam praticamente a base do anarquismo, festas e sem o mínimo de pretensão.


A boa sequência de Acabou Chorare
Com um novo contrato, agora com a gravadora Continental, resolvem colocar em disco o que estavam passando no Sítio do Vovô. Assim, como um irmão gêmeo de Acabou Chorare, lançam o também essencial Novos Baianos F. C., em 1973. O álbum abre com "Sorrir e Cantar Como Bahia", com o violão de Morais trazendo cavaquinho, baixo e violão, fazendo o complicado tema inicial, para Baby cantar um suave samba que mantém a brasilidade de Acabou Chorare, destacando o bonito solo de Jorginho e Pepeu no cavaquinho e no bandolim, respectivamente, encerrando em um dançante samba cantado por todos.

Os acordes de violão de Morais trazem o cantor fazendo vocalizações em cima dos mesmos acordes em "Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora", passando a cantar logo em seguida. O solo é feito por bandolim e cavaquinho, que acompanham a melodia vocal da repetição da letra por Morais.

"Cosmos e Damião" possui mais uma bela introdução com o violão de Morais, seguida por cavaquinho e bandolim fazendo o solo inicial juntos, trazendo a voz de Paulinho, sendo uma perfeita sequência para "Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora", onde destaca-se o excelente trabalho do bandolim e do cavaquinho, encerrando com Pepeu fazendo um breve solo na guitarra, acompanhado pela percussão em um ritmo dançante do baixo de Dadi e da bateria de Jorginho.

O embalo do violão de Morais traz as vocalizações do cantor para mais outro grande clássico do grupo, "O Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi, com um refrão eterno sendo gravado na mente dos brasileiros, através das frases: "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é". A entrada da parte instrumental dá ritmo à canção, virando um rock energético com a mistura de guitarra e cavaquinho elétrico, uma revolução completa no rock e no samba, alternando entre um samba marcado no refrão e o peso do rock no solo de Pepeu. Morais repete a letra, encerrando a canção com o refrão sendo entoado mais uma vez.

O lindo início com violão e cavaquinho fazendo a base para o solo de bandolim, dá lugar a uma preguiçosa canção cantada por Morais, "Vagabundo Não É Fácil", acompanhado primeiramente apenas pelo seu violão. Paulinho assume os vocais, no gostoso samba feito pela parte instrumental do grupo, com Pepeu solando no bandolim. Morais repete a letra acompanhado apenas por seu violão, para Paulinho encerrar a canção com a segunda parte da letra, ao ritmo do samba que encerra o Lado A.


A vida no Sítio do Vovô, retratada em disco e filme

O Lado B abre com "Com Qualquer Dois Mil Réis", onde o solo de bandolim e cavaquinho introduzem outro belíssimo samba, cantado por Paulinho com intervenções vocais de Baby, Pepeu e Morais. A mesma sequência é repetida, sem alterar a forma da envolvente canção.

"Os 'Pingo' da Chuva" é mais agitada, com o solo de bandolim sobre o andamento rock 'n' roll da base instrumental, trazendo a voz de Baby para um grande rock trabalhado pela base instrumental, destacando as intervenções da guitarra, e também a boa mistura cavaquinho elétrico, baixo e guitarra. As sessões marcadas entre esses instrumentos aparecem, enquanto Baby entoa o nome da canção. Baby repete a letra, com mais intervenções de Pepeu, encerrando a canção com o nome da canção sendo entoado.



"Quando Você Chegar" apresenta inicialmente apenas Morais ao violão e voz, com uma letra belíssima, trazendo então bongô, cavaquinho, violão e percussão para um levíssimo samba similar ao Lado A, com outro grande solo de bandolim e cavaquinho.

A instrumental "Alimente" é uma batalha entre cavaquinho e bandolim, começando primeiramente com cada um dos instrumentos sendo apresentados por Jorginho e Pepeu. O ritmo nordestino do afoxê, triângulo, baixo e bongô leva ao início da batalha, começando com Jorginho, solando no canal esquerdo, com notas rápidas e extremamente complicadas. Após a repetição da apresentação dos instrumentos, é a vez do bandolim ser o centro das atenções, fazendo o mesmo solo do cavaquinho, praticamente nota-por-nota. A conversa inicial é repetida, com ambos dividindo o solo democrativamente, encerrando com solos alucinantes de Pepeu e Jorginho.

Outra instrumental encerra o LP, "Dagmar", com o cavaquinho fazendo o tema inicial, seguido pela craviola e depois pela complicada introdução, com os solos de Pepeu e Jorginho. A guitarra aparece solando em cima do ritmo do baixo, e a canção para. O cavaquinho então surge com o tema inicial, trazendo os demais instrumentos para repetir a sequência de mais um solo fenomenal.



Morais, Baixinho e Paulinho, em 1973

Novos Baianos F. C. não vendeu tanto quanto Acabou Chorare, mas manteve o nome do grupo ainda com grande status, tanto que um filme com o mesmo nome desse álbum foi realizado, apresentando os dias no Sítio do Vovô e apresentações inspiradíssimas do grupo. 


Porém, os  dias no Sítio do Vovô já não eram mais os mesmos. Os filhos dos casais que lá moravam começaram a nascer, e o local acabou tornando-se pequeno para as famílias. A solução encontrada foi mudar-se para São Paulo, a convite da própria gravadora Continental, que alugou uma fazenda para as famílias morarem. A relação familiar já não era tão amistosa, mas mesmo assim, o grupo seguia inspirado.


Jorginho e Pepeu aprendiam e desenvolviam técnicas cada vez mais aguçadas no cavaquinho e no bandolim, fazendo experimentações elétricas com os instrumentos que tornavam os mesmos quase que instrumentos de rock. Diversas composições surgiram nesse período, e elas foram registradas no segundo álbum pela continental.


Novos Baianos, ou Linguagem do Alunte


Batizado apenas de Novos Baianos, o quarto LP do grupo chegou às lojas em 1974. Também conhecido como Linguagem do Alunte, ele é dominado por canções compostas por Morais e Galvão (sete das nove canções possuem a participação da dupla), o Lado A desse LP é como ver um lindo pôr do sol, calmo e sereno, com canções estritamente simples e com o mínimo de esforço. Apenas violões, cavaquinhos e vocalizações.

“Fala Tamborim (Em Pleno 74)” abre os trabalhos, com violão e percussão trazendo o cavaquinho em um curto tema, puxando o samba cantado por Morais, em duas estrofes idênticas. Depois de outro um curto tema no tamborim, as vocalizações repetem a letra acompanhadas apenas pelo ritmo percussivo que encerra a canção.

O violão de Morais na mesma linha das clássicas canções de Acabou Chorare traz a voz de Paulinho em “Ladeira da Praça”, transformando-se em um gostoso samba com a entrada das vocalizações que entoam o nome da canção, o qual é levado pelo afoxé e bumbo, além dos violões, com destaque para o solo de cavaquinho de Pepeu. Paulinho dá sequência à letra, que encerra a canção com vocalizações cantando “Samba da Bahia” entre intervenções de Paulinho, sobre o ritmo do pandeiro e do violão.

“Eu Sou o Caso Deles” mantém a linha de sua faixa antecessora, começando com os violões de Morais trazendo sua voz, em outra canção muito suave. A entrada da guitarra fazendo a melodia vocal transforma a canção em um bom rock, com destaque para a linha de baixo de Dadi e as marcações da bateria. Morais repete a letra tendo o acompanhamento do rock quebrado do A Cor do Som, encerrando a canção com um curto solo de Pepeu na guitarra.

“Miragem” possui uma arrepiante introdução com cavaquinho, bandolim e baixo, que dá espaço para o solo de cavaquinho, onde o andamento hipnótico do baixo contrasta com as belas notas de Pepeu no cavaquinho, além da sacada jogada entre bandolim e cavaquinho, muito interessante. Pepeu solta acordes e escalas velozes, repetindo o solo no violão, com a mesma rapidez empregada no cavaquinho, mostrando por que ele é um dos principais guitarristas do Brasil, voltando então para o cavaquinho, encerrando a canção com bandolim e cavaquinho solando juntos, em um duelo saudável entre os instrumentos.

O Lado A encerra-se com a cover para “Isabel (Bebel)” de João Gilberto, outra lenta canção, levada apenas por cavaquinho e violão, onde o cavaquinho faz a melodia do que seria a letra da canção, enquanto os violões fazem o andamento, trazendo as vocalizações de Morais repetindo a melodia do cavaquinho, seguidas pela guitarra, que repete a melodia acompanhada por uma espécie de valsa feita por baixo, bateria e violões.

Apresentação do Novos Baianos no início de carreira

O Lado B abre com “Linguagem do Alunte”, a primeira canção do álbum a contar com a participação de Pepeu na composição. Guitarra, baixo e bateria já mostram o peso que marcaria a carreira do Novos Baianos dali em diante, misturando rock com frevo, saindo de vez da linha samba-bossa dos álbuns anteriores. A voz de Baby cantando a confusa letra surge, e o peso da guitarra, baixo e bateria fazendo intervenções marcadas, em um andamento complicado e bem trabalhado, leva ao excepcional solo de guitarra, com  muita distorção, voltando a repetição da letra e dizendo ao mundo que o Novos Baianos começavam a mudar sua direção musical. O encerramento, com as vocalizações de Baby entre o solo de Pepeu e a quebradeira, é um dos momentos marcantes do LP.

“Ao Poeta” é uma maluca canção psicodélica, com uma linda introdução onde violões e percussão acompanham o belíssimo solo de flauta feito por Baby, mas que transforma-se com a entrada de vocalizações, falando palavras estranhas e puxando um determinado ritmo, enquanto Galvão entoa um estranho poema sobre a letra R, falando palavras com R na mesma linha de Galvão Bueno, entre barulhos percussivos e vocalizações muito estranhas. Os poemas mesclando palavras sem nexo de Galvão é o auge da piração, que encerra a canção sem sentido nenhum. Bizarro!

“Reis da Bola” traz o tema da guitarra, com distorção de frevo, dando espaço exatamente para um frevo cantado por Morais, que como o nome diz, endeusa o futebol nas terras brasileiras, Apesar de animada, serve mesmo apenas para aquelas festas pré-jogo de Copa do Mundo.

O LP encerra-se com “Bolado”, de Pepeu e Jorginho. Mais uma canção instrumental, com uma complicada introdução no cavaquinho e bandolim, o centro das atenções está na interpretação vocal de Baby entre as notas de cavaquinho, bandolim e violão, destacando o belo solo de cavaquinho. Os Novos Baianos ainda presos ao samba, mas tentado, de alguma forma, sair desse tipo de composição e criar passos novos.


Galvão, Baby, Paulinho e Morais


Novos Baianos não vendeu como esperado, gerando um desentendimento entre a gravadora Continental e o grupo. Morais, cansado da vida comunitária, e principalmente, pela influência de sua esposa, abandonou o grupo, levando sua família para o nordeste,  onde colocou um E no lugar do I e passou a viver de uma carreira solo de relativo sucesso, agora como Moraes Moreira. Sem seu principal compositor, o grupo seguiu na estrada, inovando ainda mais e sendo carregado por Pepeu e Jorginho, como veremos na segunda parte desse especial ao grupo.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Triumph - City [1977]




O ano de 1976 foi o mais importante para a história do rock progressivo no Canadá. Afinal, foi a partir dali que o Rush, com o lançamento de 2112, fincou os pés no chão e mostrou ao mundo que mesmo com a queda vertiginosa do progressivo na Inglaterra, era possível sobreviver do estilo na América do Norte, seguindo uma carreira de sucesso com os álbuns A Farewell to Kings (1977), Hemispheres (1978), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981).

Mas o Rush já vinha fazendo shows e participando do cenário musical desde o início da década de 70. Geddy Lee (baixo, vocais), Alex Lifeson (guitarras) e Jonh Rutsey (bateria) serviram de influência para muitos jovens canadenses que saboreavam o hard zeppeliano da fase inicial consagrado em canções como "Finding My Way" e "Working Man". A entrada de Neil Peart para o lugar de Rutsey consolidou o Rush como o principal nome do rock canadense depois do The Band, e mudou a vida de diversos garotos que passaram a aprender bateria.

Rik Emmet, Gil Moore e Mike Levine

Foi nessa atmosfera dominada pelo Rush que nasceu outro grande trio canadense, o Triumph. Formado em 1975 no bairro de Mississauga, Ontario, sua história começou quando o office-boy Richard Gordon "Rick" Emmett (guitarra e vocais), conheceu "Gil" Moore (bateria e vocais) e Michael "Mike" Levine (baixo). 

A amizade musical entre os três levou-os a formar o Triumph em poucas semanas, tendo como ideia, seguir a linha de um outro grande monstro do Canadá, o Moxy, o qual fazia um hard mais ameno em comparação às pesadas composições do Rush, tendo nos vocais um ex-colega de Gil, Buzz Shearman.

Gil estava interessadíssimo em seguir o que Shearman estava fazendo no Moxy. Afinal, foi quando ambos trabalhavam no grupo Sherman & Pabody que nasceu o embrião do que veio a ser o Moxy. Mas, do outro lado, Rick e Levine vinham com outras experiências musicais. Rick era um guitarrista de mão cheia. Tendo uma habilidade incrível com a mão direita, fez aula de violão clássico e era um fascinado seguidor do rock inglês. Já Levine era multi-instrumentista, tocando teclados, baixo, guitarras, violão e bateria (se necessário), também viciado no rock inglês.

Rik Emmet e Mike Levine

A fusão desses três elementos só podia gerar uma coisa: boa música. E assim foi, como pode ser conferido no álbum de estreia, Triumph (1976). Um petardo, com canções hardeiras extremamente grudentas, e que trazia algo inesperado para o que estava planejado: um tempero progressivo na longa canção "Blinding Light Show / Moonchild". Em um disco que parece ter saído de uma sessão de gravações do Led Zeppelin, essa canção serviu como inspiração para que o grupo passasse a investir em algo mais viajante, que explorasse ainda mais o talento do agora batizado Rik Emmet (já que um erro na grafia da capa de Triumph acabou fazendo com que o C fosse apagado, tornando o guitarrista conhecido então como Rik).

Depois de um ano fazendo shows e compondo, o grupo lançou Rock & Roll Machine no final de 1977, e nele registraram uma peça seminal e fantástica, que apesar de pertencer a um grupo não ligado ao rock progressivo, possui toda a sonoridade, imponência e precisão do gênero, sendo assim legitimamente merecedora do título de maravilha prog. O nome dessa pequena suíte: "City".

Gil Moore

Dividida em três partes, "City" é uma avassaladora canção, com dois terços como instrumental, mostrando o talento de Rik Emmet na guitarra e no violão. Ela abre com "War March", inspirada no "Bolero" de Ravel, em uma melodia apreensiva, começando com os sintetizadores e com barulhos de ondas no mar. Gil executa o tema de "Bolero" na caixa, com acompanhamento de Levine, para Rik começar um solo repleto de distorção. O volume das batidas vai crescendo, assim como a faixa de inspiração, e a guitarra faz as batidas na mesma cadência da bateria.

O solo ganha mais vigor com a entrada do órgão, enquanto o volume do tema aumenta, encerrando a primeira parte em diversas viradas de Gil, chegando em "El Duende Aconizante", onde o tema central da peça clássica "Asturias" (de Isaac Albeniz) é relembrado. Rik comanda o violão em uma belíssima sessão flamenca, esbanjando dedilhados rápidos e virtuosismo com um acompanhamento sensacional, em uma levada rápida e contagiante. O solo de Rik é muito veloz, e é complicado entender como ele executa as notas com tanta rapidez em um violão de cordas de aço.


Rik Emmet

Por fim, os teclados e o dedilhado do violão abrem "Minstrel's Lament". Os vocais agudos de Rik cantam a letra, acompanhados pelo violão. Aos poucos, sintetizadores imitando flautas e violinos são adicionados, bem como violão e mellotron dão continuidade à letra, ganhando um suave ritmo com a entrada do baixo e da bateria, acompanhados pelo violão e pela marcação da guitarra.

Rik canta muito, e o tema de "War March" abre espaço para um dos mais lindos solos que Rik compôs. Com notas muito lentas, ele preenche a canção como um recheio de uma trufa, emocionando e arrancando arrepios para cada pequena escala extraída de suas cordas. A canção ganha velocidade, entrando em uma sequência de terças menores, onde Rik encerra a letra, acompanhado por mais um solo de guitarra, terminando essa maravilha com acordes de órgão e uma forte batida nos pratos.

Versão norte-americana, batizada de Rock 'N' Roll Machine


"City" saiu apenas na versão canadense de Rock & Roll Machine, já que nos Estados Unidos o álbum foi lançado como sendo uma mescla dele mesmo com seu antecessor. Nessa segunda edição, que saiu inclusive com uma capa totalmente diferente, "Blinding Light Show / Moonchild" ocupou o lugar de "City". O erro permaneceu também na versão europeia, e somente com a chegada do CD, esses países tiveram a oportunidade de conhecer a maravilha dessa semana.

Depois de Rock & Roll Machine, o Triumph lançou Just a Game, que já trazia a sonoridade que marcaria a banda, com refrões grudentos, riffs clássicos e belíssimas participações individuais de cada um dos membros, fazendo do nome Triumph o principal rival (em vendas e em seguidores) do Rush. O flerte com o progressivo só viria aparecer novamente, de forma muito encolhida, no álbum Thunder Seven (1984), mas sem alcançar a glória do que foi registrado em "City".

Versão inglesa de Rock & Roll Machine


O grupo acabou depois de muitas brigas, principalmente entre Rik e Gil, deixando um legado de dez discos, milhares de fãs e hinos essenciais para o rock.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Introdução histórica à Gravitação: de Platão até Eistein



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Crônicas da Ciência)


A evolução da teoria da gravitação esteve diretamente relacionada a evolução da Astronomia. Através dos séculos, o homem observou o universo, tentando compreender o movimento dos astros, o que era uma tarefa complicada por dois aspectos importantes: os astros apresentam-se como pontos luminosos, cujas posições estão sobre a abóboda celeste; as observações são de um referencial não inercial em movimento: nosso planeta.

Solução mais primitiva: A ideia mais simples sobre o movimento aparente das estrelas é imaginar que a esfera celeste é uma esfera material, à qual estão presos os corpos celestes e que se encontra em rotação uniforme em torno da Terra. Entretanto, este modelo não explica o movimento irregular dos planetas. O planeta mercúrio, por exemplo, quando observado da Terra, é visto descrevendo, três vezes por ano, uma espécie de laço.

Platão
O problema de Platão (4277 -3477 a. C.): O filósofo e pensador Platão propôs aos seus discípulos o seguinte problema: “Quais são os movimentos uniformes ordenados, cuja existência é preciso supor para explicar os movimentos aparentes dos planetas?”. A ideia de Platão era de que todo o Universo deveria ser explicável através de formas e figuras perfeitas, como círculos e esferas, e de movimentos uniformes.

A solução de Eudoxo – Eudoxo, discípulo de Platão, imaginou um sistema constituído por diversas “esferas celestes concêntricas”, que pudessem girar com velocidade angular constante em torno dos eixos diferentes. Entretanto, esse modelo não conseguia explicar o fato de que o brilho aparente dos planetas varia, sugerindo que eles se aproximam e se afastam da Terra.

Ptolomeu
A solução de Ptolomeu – Cláudio Ptolomeu de Alexandria, no século II d. C., propôs um outro modelo que permitia explicar, inclusive, a variação do brilho aparente dos planetas. A ideia básica desse modelo geocêntrico é que a órbita do planeta em torno da Terra é a resultante de dois movimentos circulares uniformes acoplados. O planeta tem um movimento circular uniforme sobre uma circunferência (epiciclo), cujo centro, por sua vez, se move com movimento circular uniforme sobre outra circunferência (deferente). A Terra não ocupa o centro da deferente e o centro do epiciclo tem velocidade angular constante em relação ao equante.

A obra de Ptolomeu, que representa o apogeu da astronomia antiga, predominou durante quinze séculos.

O Universo de Ptolomeu, com a equante, a deferente e o ecêntrico

Copérnico
A solução de Copérnico – Nikolaus Koppernik (1473 – 1543) viveu na época do Renascimento e da Reforma, um período de questionamento das autoridades e dos conhecimentos até então aceitos. Em seu tratado “Sobre as Revoluções das Esferas Celestes”, ele procurou demonstrar a vantagem de utilizar um sistema heliocêntrico para descrever os movimentos dos planetas. Não havia necessidade de utilizar artifícios como a equante de Ptolomeu, e foi possível obter os raios médios das órbitas dos planetas em função do raio médio da órbita terrestre com aproximação muito boa.

A contribuição de Tycho Brahe – A obra de Copérnico baseia-se em dados astronômicos obtidos na antiguidade. As primeiras observações novas de grande escala foram feitas no final do século XVI, pelo dinamarquês Tycho Brahe. As observações eram feitas a olho nu (não existia telescópio), mas com instrumentos tão bem calibrados que forneceram dados incríveis para tal observação.

Kepler
As leis de Kepler – Johannes Kepler (1571 – 1630) foi discípulo de Tycho Brahe e seu sucessor no observatório dinamarquês. Seu respeito sobre os dados obtidos por Brahe acabou desconsiderando qualquer ideia platônica da perfeição de formas geométricas, obtendo então, de forma totalemten experimental, as leis que hoje conhecemos como Leis de Kepler:

“As órbitas descritas pelos planetas ao redor do sol são elípticas e com o sol em um dos focos”;
“O raio vetor que liga um planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais”;
“O quadrado do período de revolução de um planeta é proporcional ao cubo do semi-eixo maior de sua órbita”.

Galileo
A contribuição de Galileu Galilei – Em 1600, Galileu construiu uma versão aperfeiçoada do telescópio que ampliava a área dos objetos, reduzindo a distância aparente do planeta por um fator da ordem de 30. Usando seu telescópio, Galileu descobriu que a Lua não era uma esfera perfeita, mas tinha vales profundos e cadeia de montanhas elevadas. Além disso, descobriu quatro satélites de Júpiter e verificou que assim como a Lua, o planeta Vênus possui quatro fases distintas, ou seja, não possuía luz própria. Galileu também apoiou o sistema heliocêntrico de Copérnico. Suas descobertas e sua ideia revolucionista fizeram com que ele fosse perseguido pela Inquisição, sendo condenado a renegar publicamente de suas crenças, vivendo posteriormente em prisão domiciliar.

Newton
Isaac Newton e Lei da Gravitação Universal – Isaac Newton (1642 – 1727) nasceu na Inglaterra e deixou um imenso legado científico para a humanidade. Na matemática, descobriu o binômio de Newton e criou o cálculo diferencial e integral. Na Física, estudou a decomposição da luz branca e chegou conclusão que as forças que mantém os planetas em órbita variam inversamente com os quadrados de suas distâncias aos centros em torno dos quais as descrevem a órbita. Mostrou que a força da gravidade na superfície da Terra e a força que mantinha a Lua em sua órbita tinha a mesma origem. Newton formulou os princípios fundamentais da Dinâmica (as três Leis de Newton), discutiu o movimento de um corpo em um meio resistente, o movimento dos plnetas em torno do Sol, como calcular as massas dos planetas em termos da massa da Terra e ainda, calculou o achatamento da Terra devido à sua rotação, efeito conhecido como precessão dos equinócios, e também explicou as marés. Newton passou a ter vida pública, tornando-se Chefe da Casa da Moeda britânica e presidente da Royal Society. A rainha Ana condecorou-o cavaleiro em 1705. Falecido em 1722, Newton está sepultado na abadia de Westminster.

Eistein
Eistein e o Princípio da Equivalência – 15, Albert Eistein formulou a Teoria Geral da Relatividade. Nela, a gravitação não é tratada como uma força, mas sim, como uma curvatura do espaço-tempo. O estudo da Relatividade Geral exige um amplo conhecimento matemático, e não será tratado nessa cadeira. Porém, é possível analisar o seu postulado fundamental.

O Princípio da Equivalência nos diz que a gravidade é equivalente a uma aceleração. Isto traz como consequência que o que conhecemos como massa gravitacional, a qual determina a intensidade com que um objeto participa da interação gravitacional, equivale-se a massa inercial, que aparece na segunda Lei de Newton.

Para entendermos isso, suponha que uma pessoa está flutuando dentro de um elevador em queda livre no campo gravitacional terrestre. Essa mesma pessoa pode também estar flutuando em um elevador em repouso no espaço interestelar. Em ambos os casos, a pessoa tem a sensação de que temos a mesma situação.
Portanto, no vácuo, todos os corpos caem com a mesma aceleração.


O Princípio da Equivalência (ilustração)
Por fim, podemos verificar que as massas são equivalentes da seguinte forma. Se pendurarmos um corpo em uma balança de mola, estamos medindo a massa gravitacional mg, a qual pode ser obtida pela relação

F = G M mg / R2.

Ao mesmo tempo, medindo a aceleração adquirida por um corpo, obtemos a massa inercial mi, que é aquela da segunda Lei de Newton

F = mi . a.

As experiências mostram que, com uma precisão de 0,9999999999999999999 %, essas massas são exatamente as mesmas.
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