Com  o fim do Jeff Beck Group, Beck voltou-se então para seu antigo projeto  ao lado de Carmine Appice (bateria) e Tim Bogert (baixo, voz), que  haviam participado do Vanilla Fudge e posteriormente, arrebentado os  ouvintes com o Cactus, ao lado de Jim McCarty (guitarras) e Rusty Day  (voz).
A primeira vez que o nome de Beck foi vinculado à cozinha da Vanilla Fudge foi em 13 de setembro de 1969, quando o jornal Melody Maker noticiou na coluna Raver  que Appice e Bogert iriam fazer parte da nova formação do Jeff Beck  Group. Porém, o acidente de carro ocorrido com Beck em 12 de novembro de  1969 alterou os planos, como vimos na edição anterior do Baú do Mairon.
No  dia 24 de julho de 1972, a segunda encarnação do JBG chegava ao seu  final, e já no dia seguinte Beck e Max Middleton (tecladista da banda)  encontravam-se com Bogert e Appice, além do vocalista Kim Milford (que  fez sucesso com o Rocky Horror Show). A partir de então, o grupo  começou a ensaiar nos estúdios dos Rolling Stones, com o objetivo de  terminar a excursão que o Jeff Beck Group havia programado para os  Estados Unidos.
No dia primeiro de agosto de 1972 a banda fez seu  show de estreia no Stanley Theatre Pittsburgh, mas ainda sob o  pseudônimo de Jeff Beck Group. Bobby Tench, vocalista da segunda  encarnação do JBG, acabou substituindo Milford após seis apresentações, e  assim, o Jeff Beck Group estava finalmente encerrada com um show em  Washington, no Paramount North West Theatre, em 19 de agosto de 1972.
Após  a turnê americana, Tench e Middleton saíram da banda, dando espaço para  crescer um dos principais power trios dos anos 70, o Beck, Bogert &  Appice. O trio passou a ensaiar e, principalmente, se desvincular da  alma soul que Beck adquirira durante a sua recuperação do acidente,  voltando-se principalmente para o hard rock.
Em 16 de setembro de  1972 o trio faz sua primeira apresentação oficial no Rock at The Oval,  porém ainda com o nome de Jeff Beck Group. Dessa apresentação surgiu o  convite para uma excursão pela Ruropa, onde iriam passar pela  Inglaterra, Irlanda, Escócia, Holanda e Alemanha. Depois do Velho Mundo  veio a turnê americana, começando no dia 20 de outubro de 1972 no  Hollywood Sportatorium (na Flórida) e encerrando em 11 de novembro no  The Warehouse de Nova Orleans, sendo que toda essa turnê foi feita já  com o novo nome, Beck, Bogert & Appice.
Após o término da  tour, que foi aclamada com muito sucesso pelos fãs e pela crítica  principalmente por mostrar uma poderosa parede sonora, no dia 11 de  desembro de 1972 o BBA começou a trabalhar no seu primeiro álbum dentro  do Chess Studios, em Chicago. As sessões de composições e ensaios se  estenderam até 22 de dezembro, com as gravações iniciando já em 2 de  janeiro de 1973, tendo como produtor Don Nix.


O  trio então mudou-se para Los Angeles, realizando as gravações no The  Village, e em 26 de março de 1973 chegava às lojas americanas Beck, Bogert & Appice, com o lançamento na Europa tendo sido realizado em 6 de abril do mesmo ano.
Beck, Bogert & Appice  é uma paulada do início ao fim, começando com "Black Cat Moon", escrita  por Nix. O riff de guitarra com um slide delirante apresenta Bogert e  Appice aos fãs de Beck, com um andamento excelente no estilo dos boogies  texanos, tendo Bogert na linha de frente dos vocais, já mostrando a  nova vertente musical de Jeff Beck, o hard rock, além de um ótimo solo  do guitarrista
"Lady" surge a seguir com o riff inicial de um  rock pesado, onde Bogert estraçalha no baixo enquanto Appice e Beck  deliram em seus instrumentos, para então surgir uma canção na linha do  Cream, com Bogert e Beck dividindo os vocais (uma constante em quase  todo o LP), enquanto Beck se diverte com harmônicos e acordes  inovadores. A pauleira pega no solo de Beck, onde Bogert e Appice  arrepiam na cozinham enquanto os canais esquerdo e direito das caixas de  som apresentam dois distintos solos de Beck, voltando então para a  sequência da letra e encerrando a faixa com um interessante solo feito  por Appice, além da repetição do riff inicial e um curto solo de Beck.
"Oh  to Love You" traz os vocais de Tim Bogert acompanhados pelo piano de  Duane Hitchings e por batidas nos pratos. Aos poucos, baixo, bateria e  guitarra apresentam uma bonita balada, com um refrão repleto de  vocalizações. No solo, Jeff Beck já mostra alguns acordes jazzísticos  que iriam entrar na carreira do guitarista dois anos depois. Para o  encerramento, Duane assume o mellotron, acompanhando os vocais de Bogert  enquanto Beck executa seu solo final.
O lado A encerra com o  clássico dos clássicos de Jeff Beck, "Superstition", que foi composta  por Stevie Wonder. Essa canção abre com o guitarrista estourando as  cordas para largar o imortal riff, que com o peso do baixo de Bogert e  da bateria de Carmine Appice ganhou uma cara muito diferente da suingada  versão de Stevie Wonder. A performance vocal de Bogert é sensacional, e  Appice também está tocando excepcionalmente, com levadas e quebradas  muito difíceis. Beck solta a alavanca, enquanto o bicho pega na cozinha,  como um verdadeiro power trio deve ser, encerrando com outro  interessante solo de Appice.

O  lado B abre com "Sweet Sweet Surrender", outra composição de Nix, onde  acordes de violão com um aguitarra manhosa feita com o wah-wah  apresentam uma balada, contando com Danny Hutton nos backing vocals e  Jim Greenspoon no piano, ambos formadores do grupo Three Dog Night. O  refrão dessa canção é muito bem construído, e Beck relembra "Definitely  Maybe" solando com o wah-wah na primeira parte, e depois em seu estilo  tradicional, alternando arpejos e bends no solo final.
Outra  cover vem na sequência, com "Why Shoud I Care", de Raymond Kennedy. Um  ótimo rock, com Appice e Beck fazendo a base inicial sob os vocais de  Bogert, para então o baixo surgir. A letra continua, e vale a pena  prestar atenção ao uso dos bumbos feito por Appice. O solo de Beck é  feito com duas guitarras diferentes, que começam solando juntas mas  depois divergem, com uma solando enquanto a outra apenas faz acordes.  Essa faixa lembra muito - guardadas as proporções - a fase inicial do  Grand Funk Railroad, principalmente pelos vocais de Tim Bogert.
"Lose  Myself With You" traz o wah-wah com o riff inicial, e a suingueira toma  conta das caixas de som. O trabalho de Appice novamente é notável, além  da boa participação de Bogert. Ouça com atenção o solo de Beck,  recheado de wah-wah, e entenda por que ele é um gênio.
O disco  segue com "Livin' Alone", tendo a guitarra limpa de Jeff Beck e os  acordes de baixo, junto com a bateria, puxando um hard pesado, para Beck  soltar o riff enquanto harmônicos são ouvidos, trazendo os vocais de  Tim Bogert e Beck em uma faixa agitada e dançante. Destaque para a  sequência instrumental, que começa com Carmine Appice fazendo rufos  sozinho, passa por Bogert solando com distorção e culmina com um belo  solo de slide feito por Beck, acompanhado por palmas. Para encerrar, um  fantástico duelo vocal / wah-wah
Por fim, a balada "I'm So  Proud", de Curtis Mayfield, encerra o LP, tendo no início o slide  seguido pelos vocais de Bogert e Beck, em uma faixa que destoa das  demais desse belíssimo álbum.

Três  singles foram lançados desse LP: "Black Cat Moan" / "Livin" Alone" (16  de fevereiro de 1972), "I'm So Proud" / "Oh To Love You" (28 de maio de  1973) e "Lady" / "Oh To Love You" (16 dejulho de 1973). O álbum alcançou  a posição número 12 nos EUA e 28 na Inglaterra.
No primeiro dia  de fevereiro de 1973 o grupo partiu para uma turnê tocando em pequenos  lugares, como salas de concerto e também em universidades pela  Inglaterra, encerrando essa pequena temporada com uma apresentação no  dia 18 de fevereiro no Top Rank Suite de Cardiff. No dia 20 de  fevereiro, fazem uma aparição no programa de TV francês Pop Deux diante de mil pessoas, partindo para um descanso de um mês.
Voltam  a ativa no dia 28 de março de 1973, iniciando uma turnê mundial a  partir dos EUA, no Music Hall de Boston, onde Beck utilizou pela  primeira vez o talk box. Após 17 apresentações pelos EUA, o trio fez o  show de encerramento da turnê americana em Winterland, no dia 16 de  abril, mais uma vez aclamados por mídia e público.
Como o palco  era o lar do BBA, voltam para uma segunda turnê, começando no dia 26 de  maio no Centre Arena de Seattle e encerrando em 8 de junho no Honolulu  International do Hawaii, de onde partiram para uma série de shows pelo  Japão, iniciada em 14 de junho no Nippon Budokan, e após cinco dias,  encerrava a série nipônica no Koseinenkin Hall de Osaka.
Viajam  então para a Europa, e em 8 de julho apresentam-se no circuito anual de  festivais de rock europeu, viajando pela Alemanha Oriental, Holanda e  França durante uma semana, com o show de encerramento ocorrido em 14 de  julho na cidade-luz.
O término da turnê mundial seria novamente  nos EUA, agora cobrindo a parte oeste e sul do país, passando por  estados como Pennsylvania, Carolina do Norte, Flórida, Maryland e  Georgia. Porém, no dia 17 de julho Jeff Beck dicidiu deixar o trio,  alegando cansaço e falta de motivação para seguir adiante.


Da turnê japonesa foi lançado em 21 de outubro o LP Live in Japan,  o que motivou o trio a se runir novamente. Assim, em 21 de novembro de  1973 se mandam para uma série de shows que passou pela Inglaterra,  tocando em cidades como Brighton, Liverpool, Sheffield, Bristol e  Londres, além das escocesas Glasgow e Edinburgo, onde a turnê foi  encerrada em 29 de fevereiro de 1974, tocando no Caley Theater.

Durante  a turnê inglesa, registram o show de 26 de janeiro de 1974, realizado  no Rainbow Theatre, o qual foi apresentado no programa americano de  shows Rock Around the World. Este foi o último registro do BBA,  mostrando alguns sons que fariam parte do segundo álbum da banda.  Algumas canções aparecem na compilação Beckology, lançada em 1991.
As  sessões de gravação do segundo álbum começaram em janeiro de 1974,  porém, brigas internas levaram a separação do trio antes do lançamento  do mesmo, que até hoje aguarda um lançamento oficial. Várias cópias  piratas circulam pela internet, e é possível perceber que a sonoridade  da BBA ainda manteria o padrão do excelente álbum de estreia.
Jeff Beck então voltou sua carreira para o jazz rock, lançando os excepcionais Blow By Blow (1975) e Wired  (1976), enquanto Carmine Appice foi trabalhar com o grupo KGB, passando  por álbuns solos de Paul Stanley (Kiss), Ted Nugent, Jan Akkerman  (Focus), Marty Friedman, Pappo's Blues, entre outros, consolidando  também uma carreira solo de bastante prestígio. Já Tim Bogert ingressou  no Bobby & The Midnights ao lado do guitarrista do Grateful Dead,  Bob Weir, seguindo então uma carreira solo de nenhum sucesso,  voltando-se assim para o trabalho de ensinar música e também na busca de  novos talentos, deixando junto com Appice e Beck o nome gravado na  famosa lista dos grandes power-trios da história do rock.
 

 
 

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