Ainda  lembro daquela manhã da sexta-feira, dia 07 de julho de 2006. Em um  frio de ranguear cusco, me acordei e fui direto para o PC acompanhar os downloads  que o antigo winmx havia feito para mim. Na época, eu ainda morava com o  meu irmão Micael, e tínhamos a mania de acessar essa espécie de e-mule  para fazer downloads de diversos discos e vídeos que jamais teríamos acesso se não fosse a bendita internet criado pelo CERN lá nos anos 90.
Pois  eis que abro a página de um tradicional jornal local e me deparo com a  notícia: "Líder do Pink Floyd morre em Cambridge". Como assim? David  Gilmour? Ou Roger Waters? Claro, o sono e o frio do amanhecer não me  fizeram racionar, e somente quando abri a notícia é que estava lá: o  líder era Syd Barrett.
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| Mason, Waters, Wright e Barrett | 
Confesso  que na hora não entendi, e até hoje não entendo a notícia. Deixe-me  explicar. Guitarrista, vocalista, principal letrista, fundador e autor  do nome de uma das maiores bandas do rock progressivo mundial, Syd  Barrett veio ao mundo em 06 de janeiro de 1946, e com apenas 19 anos,  fundou o Pink Floyd, ao lado do citado Roger Waters (baixo, voz).  Contando com a companhia de Nick Mason (bateria) e Rick Wright  (teclados, voz), o grupo lançou em 1967, logo na sua estreia, um álbum  que mudou a história do rock para sempre.
The Piper at the Gates of Dawn  mostrou aos americanos (e ao mundo) que os ingleses também estavam  absorvendo a cultura LSD, e além disso, estavam empregando as viagens  alucinógenas para criar canções delirantes e incrivelmente sem sentido  para um 'careta', mas que abriam um novo mundo para um cara que já  tivesse 'andado por outros mundos'.
Canções como "Pow R. Toc H.", "The Gnome" "Bike" e as essenciais "Astronomy Domine" e "Interstellar Overdrive"  são aulas de experimentalismo, chapação e psicodelia, carregando em  teclados viajantes, notas perdidas e vocalizações mais que estranhas,  fundamentais para influenciar diversas bandas com o passar dos anos, que  aperfeiçoaram essa psicodelia e transformaram-na no rock progressivo  que conhecemos hoje em dia.
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| Fundamental estreia do Pink Floyd | 
Obviamente,  a mente de Syd Barrett, criadora de toda essa parafernália sonora, não  podia ser uma mente sã, e creio que 99% das canções compostas por ele  saíram em um momento de extrema viagem no LSD. O consumo pesado da droga  afetou diretamente o cérebro do músico, que em uma escala muito veloz,  acabou deteriorando sua vida. Em uma questão de semanas após o  lançamento de The Piper at the Gates of Dawn, Barrett já não era mais o mesmo.
Mal  conseguindo ficar em pé nos shows, quieto durante as entrevistas e  perdido em uma viagem única, Barrett acabou sendo demitido do Pink Floyd,  substituído por David Gilmour, e assim, o Pink Floyd ganhava uma  sonoridade mais amena para seu lado psicodélico, que o levou ao topo das  maiores bandas de rock progressivo (a frente de Yes, King Crimson,  Genesis, Emerson Lake & Palmer, ...). A última participação de  Barrett com o Pink Floyd foi no álbum A Sacerful of Secrets, na canção "Set the Controls for the Heart of the Sun".
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| O enlouquecido Madcap Laughs | 
Com a ajuda dos amigos, o guitarrista ainda conseguiu registrar dois LPs: o incrível Madcap Laughs (ouça "Terrapin" e depois dos arrepios, duvido que você não fique uma semana pensando: "como ele gravou isso?"), lançado em 1970, e Barrett, esse não tão bom, lançado também em 1970. Depois, literalmente sumiu do mapa. 
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| Syd Barrett visitando o Pink Floyd em 1975 | 
Sumiu mesmo, ninguém sabia do seu paradeiro. Até que durante as gravações do álbum Wish You Were Here (lançado  pelo Pink Floyd em 1975), que curiosamente homenageia o guitarrista,  ele apareceu nos estúdios onde o Pink Floyd registrava o LP, totalmente  diferente do que os seus ex-companheiros de banda o conhecia. Gordo,  careca e ainda com seu estilo quieto, passou despercebido por David  Gilmour e Nick Mason, sendo reconhecido apenas por Waters, que ao ver as  grossas sobrancelhas do amigo, lhe deu um emocionado abraço.
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| Sessão de fotos de Madcap Laughs | 
"Shine On You Crazy Diamond", canção que ocupa boa parte de Wish You Were Here, é uma das mais emocionantes canções já gravadas por um grupo em homenagem à um ex-membro, que expressa todo o sentimento que os membros do Pink Floyd sentiam pela ausência do amigo Syd Barrett, mesmo ele estando vivo. 
E  aí que está o problema de eu não entender a tal morte de Syd Barrett, e  da interrogação no título desse post.  Ele realmente faleceu em 07 de  julho de 2006? Bom, eu honestamente não creio. O legado deixado por ele,  mesmo tendo gravado apenas três discos, e recebido diversas coletâneas  com material inédito, como Opel (1988) e Crazy Diamond (1993),  permanece correndo pelas ruas e becos de todo planeta através de jovens  que nem se quer conhecem a história de Barrett, mas que por exemplo, ao  ouvirem bandas como Radiohead, Oasis, White Stripes entre outros, de uma  forma ou de outra recebem a dose psicodélica do suor com LSD que Barrett  expeliu durante as gravações de The Piper at the Gates of Dawn.
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| Syd Barrett e seu sorriso sombrio | 
Ainda,  particularmente, não são poucas as vezes em que, nas minhas 'viagens  alcoólicas' no meu quarto escuro, ouvindo algum disco mais delirante,  Barrett sentou-se do meu lado e começou a conversar comigo. Por que  disso, fácil. Barrett simplesmente vive na minha mente dia e noite, e  sempre que aparece algo mais viajante para fazer, com um sorriso  sombrio, sobrancelhas grossas e o olhar longe no infinito, vem  compartilhar suas cores caleidoscópicas com a minha viagem.
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| Sessão de fotos de Madcap Laughs | 
Hoje, 07 de julho de 2011, está o mesmo frio que há cinco anos atrás (3 graus pela manhã). Certamente, durante a noite, o PULSE ou o Atom Heart Mother irão rolar na vitrola, e obviamente The Piper at the Gates of Dawn irá  encerrar a noite, acompanhado de um Johnny Walker 12 anos e alguns  pedaços de salame com queijo. Barrett deve aparecer, e essa noite, eu vou  dizer para ele: "You are still shining on, Crazy Diamond!". 
 

 
 

Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGosto de sua escrita, Mairon.
ResponderExcluirObrigado Samuel. Saudações
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