segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amy Winehouse: 1983 - 2011


Sei que a notícia já ficou velha, mas é que eu ainda não havia parado para assimilar tal fato, e hoje pela manhã que consegui encaixar as coisas.

Tirando o lado pessoal de Amy Winehouse, cercado de polêmicas, encrencas e muita baixaria, musicalmente e pessoalmente a cantora inglesa mostrou para os jovens dos anos 2000 aquilo que muitos deles enxergavam apenas em ídolos do passado: talento, inovação e muita transpiração.

Conheci o som de Amy Winehouse através de uma ex-namorada, que insistia em me dizer que eu estava perdendo tempo em não ouvir o som dela. De tanta encheção de saco, um dia ouvi "Back to Black" (que por acaso o vídeo apresenta um enterro) e pirei. Essa canção é uma aula sentimental para os anos 2000, e o arranjo jazzístico/orquestral da mesma é fantástico. Na sequência, ouvi  as cinco canções que havia sido me indicado: "Tears Dry on Their Own", "Love is a Losing Game", "Me & Mr. Jones", "In My Bed" e "Some Unholy War". No meio delas,  exatamente em "Me & Mr. Jones", o vírus contagiou. 

Amy e Blake Fielder-Civil

Baixei os dois discos da cantora, Frank (2003) e Back to Black (2006), ouvindo praticamente sem parar, encantado com a sonoridade antiga empregada nos anos 2000. Frank é um disco que deve ser curtido em doses homeopáticas. Com uma potência destrutiva de uma banda altamente entrosada, é nele que o mundo conhece a voz rouca e rasgada de Amy, com toques de rock 'n' roll envolvidos pelo blues e pela soul music. Já Back to Black é um disco que deve ser proibido para uma pessoa que quer cometer suicídio. Um dos melhores álbuns da década passada, nele Amy coloca para fora todo o seu amor pelo então marido Blake Fielder-Civil, cuja relação foi uma bomba atômica implodindo rapidamente dentro de seu corpo através de muito álcool e o quíntuplo de entorpecentes. Através de canções planejadas para tocar a alma do ouvinte, Amy misturou ritmos como jazz, gospel, soul, funk e por que não, rock 'n' roll, como quem mistura uma sopa com veneno, e não satisfeita, afiando as facas para cortar os pulsos.

Back to Black, o melhor disco de Amy

A mistura acima me lembra muito o que Janis Joplin fez quando saiu da Big Brother and the Holding Company, fundando a Kosmic Blues Band em 1969 e colocando para fora todo o sentimento que não era possível de ser colocado dentro do Big Brother and the Holding Company.

Single de "Rehab"
Aliás, creio que não seria injusto dizer que Amy Winehouse foi a Janis Joplin dos anos 2000. Sua carreira meteórica, com apenas dois discos oficiais, a diferença principal foi que Amy vendeu muito ao redor do mundo, além de ter gerado muita polêmica. Viciada em drogas, o maior sucesso foi "Rehab", não por acaso de Back to Black. Essa canção é uma autobiografia que simpatizou com diversos fãs, e gerou problemas diversos tanto com sua família quanto com a imprensa sensacionalista, sempre preocupada em encontrar um fato novo para colocar a imagem de Amy mais para baixo do que o cocô da mosca no cocô do cavalo do bandido.



Amy
Muitos alegam que Amy não tinha voz, não tinha personalidade no palco, e era uma péssima intérprete. Não creio que seja bem assim. Envolta sempre por uma banda extremamente competente, Amy fazia do simples sua marca registrada. Não tinha a explosão vocal de uma Tina Turner, a devassaladora presença de palco de Janis Joplin, a beleza de Debbie Harry, a sensualidade de Madonna ou a sutileza musical de Elis Regina, mas como que contando para amigos, em uma mesa de bar recheada de garrafas de uísque, Amy exalava sentimento em letras construídas em sua maioria por ela mesma, narrando as histórias pessoais de sua vida com uma paixão que é rara de se encontrar na música de hoje em dia, ao ritmo principalmente de um jazz rock dançante e envolvente.

Corpo de Amy sendo carregado
A morte da cantora, aos 27 anos, já era esperada pelos fãs. Afinal, Amy entrou para o hall dos grandes nomes da música da mesma forma que Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, todos falecidos aos 27 anos. Claro, não tenho como comparar Amy com os artistas citados, que para mim (e creio que para todos vocês, leitores do blog) são muito melhores e mais emocionantes de se ouvir do que a cantora inglesa, mas no fundo, muitas das canções de Amy dizem mais par mim do que alguma letra de Jim Morrison, por exempo.

Perdoem o desabafo, mas Amy Winehouse é uma merecedora inclusive de uma sessão A Little Respect, já que, repito, em termos de música, poucos conseguiram fazer algo com uma qualidade tão elevada nos últimos anos. Acabei não conseguindo assistir a cantora ano passado, quando ela esteve no Brasil e se apresentou perto de Porto Alegre, ali em Floripa, pois estava em viagem naquela data, mas quem foi, por melhor ou pior que tenha sido a apresentação, viu com certeza o principal nome da música desde Kurt Cobain. 

De uma forma especial,  Amy Winehouse tocou milhões de almas ao redor do mundo, passando a ser lembrada por aqueles que apreciam sua música para sempre principalmente por suas composições emocionantes, dosadas de um talento único e que aparece raramente.

Rust in Peace!!!
Que os astros lhe recebam com muito uísque, ceva gelada e claro, um palco montado para você deixar sua voz rouca soar entre os comentários de "como ela está melhor agora!".

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