sábado, 2 de agosto de 2014

Melhores de Todos os Tempos: Brasil - Década de 70

SECOS-E-MOLHADOS-2


por Bruno Marise


Com Bernardo Brum, Davi Pascale, Eudes Baima, José Aronna, Mairon Machado, Micael Machado e Ronaldo Rodrigues


Dando sequência ao que fizemos há alguns meses, está no ar mais uma lista dos melhores discos da música brasileira de todos os tempos, segundo a Consultoria do Rock, que engloba a década de 70. Lembrando que o período compreende de 1971 a 1980. Para acessar os melhores discos nacionais da década de 60, clique aqui.


Os anos 70 compreendem talvez o período mais rico e criativo da música brasileira. O rock que tinha atingido o sucesso com a Jovem Guarda e também se mostrou inovador com o início da psicodelia, dessa vez tomaria conta do cenário nacional, com bandas de progressivo e hard, principalmente. Mas aqui na nossa terra o gênero era constantemente mesclado aos ritmos regionais, tornando o rock brasileiro algo único e extremamente cativante. Foi também esse período que registrou a explosão da soul music e funk no país, capitaneados pelo movimento Black Rio, além do surgimento da cena psicodélica nordestina, os trovadores nacionais, os grandes expoentes do samba e até de música experimental. Em nossa lista, porém, prevaleceu o rock, com o disco de estréia do Secos & Molhados encabeçando o ranking.


Agora é com você, leitor. Concorda com as escolhas? Discorda? Deixe seu comentário e suas próprias listas! Lembrando que o critério usado é o Sistema de Pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1.

 SecoseMolhados1973 (1)

Secos & Molhados – Secos & Molhados [1973] (94 pontos)


Bernardo: Um grupo que funde rockabilly, música psicodélica, baião, jazz e rock progressivo, cantando poesias musicadas de Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo e se apresentando com pesada maquiagem facial antes do Kiss a tornar mundialmente célebre. É dessa improvável combinação que nasceu o Secos e Molhados e seu primeiro disco, que se tornou um clássico instantâneo da nossa música, crivando um disco com tantas obras-primas que mais parece uma coletânea – como “O Vira”, a típica dança portuguesa tocada em um andamento de rock com aura folclórica na letra, o comovente hino pacifista “Rosa de Hiroshima”, um folk digno dos melhores momentos de Neil Young em “O Patrão Nosso de Cada Dia”, o baixo envolvente da abertura “Sangue Latino” e a loucura tropicalisma introjetada em “Primavera nos Dentes”. E claro, tendo Ney Matogrosso como homem de frente, uma das maiores vozes da música, impressionante do primeiro segundo da primeira música até o encerramento. Um dos nossos maiores clássicos não só dos anos setenta mas de toda a nossa música.


Bruno: Inacreditável pensar que esses caras fizeram isso no Brasil, em 1973, auge da ditadura militar. O trio composto por João Ricardo, Gerson Conrad e Ney Matogrosso caiu como uma bomba na cena musical da época. Trazendo uma mistura de folk, psicodelia, glam rock, mpb, blues, progressivo e ritmos regionais, o disco de estreia é brilhante. As composições, em sua maioria versões musicadas de poemas de Fernando Pessoa, Oswald de Andrande, Vinícius de Moraes e João Apolinário (pai de João Ricardo), recebem um tratamento incrível através da banda de apoio do trio. Um timaço formado por Zé Rodrix (Sintetizador, Piano, Acordeão), Marcelo Frias (Bateria), Sérgio Rosadas (Flautas), John Flavin (Guitarras e Violão de 12 cordas), Emilio Carrera (Piano) e o maravilhoso baixista argentino Willi Verdaguer. A interpretação provocante de Ney Matogrosso dá um ar ainda mais subversivo para toda a história. A letra de “Assim Assado” é uma das críticas mais geniais feita ao governo militar. As faixas, trazem uma variedade gigantesca de ritmos e influências resultam numa obra-prima absurda, que representa a riqueza e diversidade da música brasileira.


Davi: Esses caras estavam à frente de seu tempo. Conseguiram criar um conceito único misturando elementos da poesia e folclore. Misturando música com dança. Tinham de tudo para terem se tornado “O” grande nome da musica brasileiro, mas infelizmente o ego atrapalhou o caminho dos rapazes. Com a formação clássica, foram lançados apenas 2 álbuns. A estréia de 1973 sempre foi meu preferido. Para mim, um dos melhores álbuns já feitos no Brasil. Arranjos e letras inteligentíssimas. Sem contar no ótimo trabalho vocal de Ney Matogrosso (é uma pena que muito roqueiro tenha preconceito com o rapaz). Destaque para as belíssimas “Rosa de Hiroshima” e “Sangue Lantino”. Disco essencial em uma coleção de respeito.


Eudes: Não era o meu favorito para encabeçar a lista, mas é um disco que preenche todas os requisitos para ser clássico: canções inovadoras, mas de inspiração inatacável, execução e produção quase sem arranhão (talvez a única exceção seja o moog de gosto duvidoso em Fala), influência monstruosa sobre tudo que se produziu na fronteira mpb-rock nos anos que se seguiram. Como se não bastasse, o disco produziu um carrada de hits que tomaram as emissoras de rádio da época, dos quais algumas se gravaram definitivamente no que se chama de memória coletiva e estão aí até hoje, cantarolados por gente que nem os pais tinham ainda nascido quando o LP foi lançado. Como disse, não estava no topo da minha lista, mas não temos motivo para reclamar. A banda, contudo, foi um raio no céu verde-oliva de 1973, gravou mais um disco espetacular e desapareceu, mesmo que João Ricardo, em surtos de Tony Iommi, tenha arrastado o nome da banda em discos irregulares, ainda que, não raro, contendo algumas gemas dignas da formação original.


José: Outro disco que já foi comentado exaustivamente. Um dos melhores, se não o melhor, trabalho lançado por artistas brasileiros. Com uma imagem transgressora, letras poéticas cheias de metáforas e críticas sociais em plena Ditadura Militar. Sem falar no som, uma inteligente mistura de rock, prog, mpb, folk, o que mais podemos falar? Único defeito: ser curto demais.


Mairon: Quando esse álbum ficou entre os dez mais do ano de 1973, confesso que me surpreendi. Portanto, vê-lo aqui na primeira posição não poderia ser surpresa, mas acabou sendo. Gosto muito da estreia do grupo de João Ricardo, que ficou marcado pelas performances teatrais e mascaradas, além dos vocais de Ney Matogrosso, mas novamente, me surpreendeu. Acho o disco muito bom, mas ao mesmo tempo, muito superestimado. Existem canções inesquecíveis, e nessas cito o blues de “Primavera nos Dentes”, a balada “Fala” e os sucessos “Rosa de Hiroshima” e “Patrão Nosso de Cada Dia”, só que, o excesso de canções curtas, deixa aquele clima de preliminares que nunca vão direto ao assunto. É um ótimo disco, sem dúvidas, mas não o melhor de uma década tão produtiva e criativa como foi a de 70 no Brasil.


Micael: Demorei anos para me acostumar com este disco, mas hoje o adoro! Está no meu TOP 5 de melhores discos nacionais de todos os tempos (só um pouquinho à frente do segundo registro da turma), e penso ser um raro caso onde um disco de qualidade conseguiu se tornar um disco popular (muito por causa de “O Vira”, mas, vá lá!). Não consigo apontar destaques nesta obra prima, apenas recomendo a todos que o ouçam com a mente aberta, e com atenção para os arranjos primorosos, as execuções perfeitas e as letras com conteúdo e inteligência! Você acha que o grupo é só Ney Matogrosso e uns outros com as caras pintadas? Coitado…


Ronaldo: Uma das melhores traduções brasileiras para a música pop e o mais interessante de se ouvir neste trabalho é que essa tradução desconsiderou as harmonias sofisticadas da bossa nova, o que era quase que uma regra no período. O S&M encontrou uma via própria e totalmente original para uma música brasileira-universal. E este caminho foi placidamente trilhado, especialmente nos momentos acústicos, que são o ápice do trabalho. A parte elétrica tem sua porção bobinha e descartável e poderia ter privilegiado mais o instrumental (tanto em termos de produção sonora quanto em duração), em faixas como “Primavera nos Dentes” e “Fala”. mas a profundidade de temas como “Patrão nosso de cada dia”, “Rosa de Hiroshima”, “Amor” e “El Rey” não podem ser vilipendiadas. As letras são também ótimas e tecidas habilmente pela interpretação do vocalista Ney Matogrosso. A androginia e a performance corporal do grupo ajudou a consolidar sua originalidade e marcar o período.

Arnaldo Baptista - Lóki - Front

Arnaldo Baptista – Lóki?! [1974] (87 pontos)


Bernardo: Já se falou muito sobre esse disco aqui no blog, mas nunca é demais ressaltar – sincero, transparente e doído como pouco, traz o ex-mutante Arnaldo possuído em músicas como “Cê Tá Pensando Que eu Sou Lóki”, “Será que eu vou Virar Bolor?” e “Vou Me Afundar Na Lingerie”. Um artista no seu limite emocional emanando música ao seu gosto – elementos de rock progressivo, bossa nova e jazz fusion são evocados com uma fúria que marca indelevelmente quem ouve.


Bruno: Um dos retratos mais assustadores de um homem com a alma e o coração estraçalhados. Com a cabeça já afetada pelo abuso das drogas, o gênio e virtuoso Arnaldo Baptista exorciza todos seus demônios após o término de seu casamento com Rita Lee e a saída d’Os Mutantes, em um disco maravilhoso. Sem guitarras, Arnaldo entrega uma interpretação arrepiante e sincera, além de uma performance impecável no piano, órgão, sintetizador e clavinet. Lóki?! é o meu disco brasileiro preferido, e uma representação impressionante de um artista no limiar entre a loucura e a genialidade. Mais opiniões minhas sobre Lóki?! no War Room que fizemos a respeito do disco.


Davi: Trabalho fantástico do eterno ‘mutante’ Arnaldo Baptista. Para ser sincero, esse é o único disco solo dele que admiro. Vivendo uma fase difícil de sua vida, o musico transformou toda sua agonia em belas canções. Fugindo totalmente do convencional quando se fala de rock, não há guitarras em seu álbum. E o mais louco de tudo, não sentimos falta. Seu piano fala mais alto do que nunca. O rapaz mistura seu piano clássico com elementos do jazz, funk, blues e até samba, com maestria. As letras retratam o conturbado período que estava vivendo com seu vicio com drogas, sua separação da Rita e a briga com seu irmão Sérgio Dias. Clássico!


Eudes: Enquanto Serginho arrastava o bom nome dos Mutantes na lama do progressivo derivativo e, principalmente, sem um pingo de humor, em discos para deslumbrados amantes do minimoog, provando que drogas fazem mal, sim, Arnaldo afundava numa longa ressaca dos anos loucos, trancado em seu quarto virtual, repassado suas dores universais e particulares, lambendo as feridas de suas perdas e processando tudo em canções melancólicas, no limite entre o rock e a pianística vaudeville. O resultado é de um estranhamento radical, difícil de digerir à primeira ouvida, mas impossível de se largar depois que se mergulha no universo agridoce onde Arnaldo vivia naquele tempo. O disco é um antimanifesto, um grito calado e íntimo, onde, apesar da densa camada de tristeza, refletida nas tonalidades graves das canções, se pode enxergar a esperteza melódica e lírica que marcaram sua contribuição aos Mutantes. Mas, o mais importante dessa obra com cara de rascunho é o retrato que ela traça de um Arnaldo que “não fora feito para aqueles tempos”, de um artista que tira a beleza de sua obra exatamente de sua inadequação ao mundo em que tinha de viver. Um clássico mundial do rock sem guitarra!


José: Mais um da lista de melhores discos brasileiros? Sem sombra de dúvida. Sensacional. Não sei se é tão bom por causa da melancolia de suas letras, a tristeza aparente com trechos de piada ou toda a loucura envolvida. Um álbum muito bem trabalhado, com ótimas melodias e harmonias. Praticamente piano, baixo e bateria criando um som totalmente envolvente e o que tem de melhor: um disco que mexe com os nossos sentimentos.


Mairon: Se Lóki?! tivesse ficado em primeiro lugar, confesso que a justiça seria feita. Um álbum perfeito, mostrando como o amor pode deixar uma pessoa totalmente fora de si. Comentei sobre minha adoração à Lóki?! diversas vezes aqui no site, sendo a última quando ele conquistou a quarta posição na série Melhores de Todos os Tempos para o ano de 1974, mas não posso deixar a oportunidade de exaltar um de meus discos preferidos novamente. Todos sabem, mas é sempre importante lembrar da história envolvida por de trás de Lóki?!. Arnaldo vivia seu pior momento (até então), separando-se de Rita Lee e dos Mutantes de maneira nada amigável, e acompanhado de Dinho Leme (bateria) e Liminha (baixo), fez um disco exemplar, colocando o coração para fora e mostrando que mesmo na fossa, era capaz de fazer algo genial. O maior nome da música popular brasileira fez um dos melhores discos da história do mundo, com dez canções impecáveis, variando do samba-choro de “Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?” e “Vou Me Afundar na Lingerie”, passando pelos rocks “Será Que Eu Vou Virar Bolor?” e “Não Estou Nem Aí”. até o virtuosismo no violão de “É Fácil”, ou até o espetáculo solo ao piano de “Honky Tonky (Patrulha do Espaço)”. Porém, é a triste “Navegar de Novo” e a dupla declaração de amor para Rita, “Desculpe” e “Te Amo Podes Crer” que me encantam, tanto pela performance musical do trio quanto pela interpretação e entrega de Arnaldo. Obrigatório e único em toda a década de 70 (e as que vieram antes e depois).


Micael: Outro disco que demorei anos para assimilar, mas hoje faz parte da minha discografia básica! Um disco de rock (praticamente) sem guitarras, com Arnaldo no seu auge criativo, derramando fel contra a paixão de sua vida, Rita Lee, que o havia abandonado, e, ironia mor, ainda participa do disco fazendo backing vocals em algumas canções. Mais um álbum onde é impossível apontar destaques, tem de ser ouvido na íntegra! Ah, se toda dor de corno produzisse coisas tão belas quanto este Lóki?! (ou Layla, do Derek and the Dominoes, outra obra prima criada a partir de uma paixão impossível)!


Ronaldo: Replico aqui meu comentário sobre esse disco, que após mais algumas audições e chances, não alterou minha visão em nada. “Disco incensado do ex-Mutantes, que tem grandes méritos como músico e compositor, mas que hoje goza lindamente de uma compaixão musical por sua história e dramas pessoais após a saída da banda que o consagrou. Para isso, há algumas provas. A prova número um é que eu não conheço ninguém que goste deste disco e não goste dos Mutantes. Ou seja, as pessoas sabem o que aconteceu com Arnaldo e conseguem entender por que ele fez um disco tão depressivo e chato. Eu gostaria de ver alguém que não sabe da história (como eu não sabia, quando o ouvi pela primeira vez) gostar deste disco logo de cara. São 30 e tantos minutos de lamúria, que não cabem na minha grande paciência. A bandeira nacional pesou na hora de escolher esse disco.”

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Novos Baianos – Acabou Chorare [1972] (77 pontos)


Bernardo: Década de setenta talvez tenha sido a grande década de nossa música. Jamais houve, quantitativamente falando, tantos artistas inspirando lançando tantas obras-primas em um curto espaço de dez anos. Segundo álbum do grupo após o tropicalista e rockeiro É Ferro na Boneca! (1970), o encontro dos baianos com a identidade própria se deu em Acabou Chorare, onde o grupo teve como mentor João Gilberto, em seu segundo presente para nós, reles mortais, após o álbum Chega de Saudade (1959). Novo feliz casamento dos nossos ritmos nacionais com ritmos internacionais, ouvimos violões e guitarra e triângulo e bateria, compondo uma música forte, vibrante e inventiva, em um grupo com uma forte aura hipponga cujo papo bicho-grilo à moda brasileira já se vê desde a abertura “Brasil Pandeiro”, com eles dando a versão final da música recusada por Carmem Miranda décadas antes, o instrumental “Um Bilhete Para Didi”, composição do baterista Jorginho Gomes, que começa como um baião levado a cavaquinho e triângulo para ganhar as guitarras hendrixanas de Pepeu, Baby Consuelo irresistível em “Tinindo Trincando” e “A Menina Dança” e Moraes Moreira entregando grandes composições com sensacionais letras de Luiz Galvão, caso de “Preta Pretinha” e “Mistério do Planeta”. Dizer que esse disco é obra-prima já virou clichê.


Bruno: Pouquíssimos discos representam tão bem a música brasileira como Acabou Chorare. Talvez por isso ele seja considera do o melhor disco nacional de todos os tempos. Algo que percebi nessa lista, é que boa parte dos álbuns que entraram, trazem uma mescla do rock, pop e soul com ritmos brasileiros. E os Novos Baianos souberam realizar isso de forma brilhante, com as composições fortes de Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor, a voz incrível de Baby Consuelo, e um instrumental fora do comum, capitaneado pelo subestimado Pepeu Gomes e a banda de apoio A Cor do Som, que usaram craviola, guitarra elétrica, cavaquinho e percussão para unir o rock n roll com samba, chorinho, afoxé, e baião. Um disco de musicalidade ímpar, acima de tudo.


Davi: Acabou Chorare é um divisor de águas, não apenas para os Novos Baianos, mas para o rock brasileiro de forma geral. Se ainda existia alguma discussão sobre brasileiro fazer rock, sobre ser gênero de gringo etc, os caras colocaram esse assunto totalmente de lado criando uma fusão entre o samba e o rock n roll. Consegue imaginar o cavaquinho de Waldir Azevedo misturado com a guitarra de Jimi Hendrix? Pois é mais ou menos isso que temos aqui. Absolutamente genial!


Eudes: Adoro este disco. Nunca se pensou que a malemolência do samba baiano fosse tão afim com o rock’n’roll. Aqui tem tudo, das delicadezas acústicas da faixa título até a eletricidade dos temas instrumentais da Cor do Som, então, vertente elétrica da banda, antes de seguir carreira própria. Justa escolha.


José: Uma mistura de rock e ritmos brasileiros define Acabou Chorare, o melhor álbum do grupo. A segunda faixa “Preta Pretinha” é provavelmente a faixa mais importante, que conta a história de amor real do Luiz Galvão. O sofisticado “Balanço de Campo Grande” é uma música em homenagem ao carnaval brasileiro. A instrospectiva “Acabou Chorare” acaba sendo uma pausa entre as canções mais sacudidas e afirma, o objetivo desse álbum: promover a alegria durante um momento político turbulento. A faixa instrumental “Um Bilhete pra Didi” é uma obra-prima técnica e um dos destaques do álbum, o que certamente vai ganhar ao longo do tempo o seu lugar como uma das melhores peças instrumentais já gravadas.


Mairon: Muitos acham e consideram esse o álbum mais revolucionário da música nacional, e com razão. Afinal, o trio Baby Consuelo, Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor misturou genialmente o samba com o rock, parindo um disco seminal, acompanhados do trio A Cor do Som, formado pelos excelentes músicos Pepeu Gomes (guitarra, violões, bandolim), Dadi (baixo) e Jorginho Gomes (irmão de Pepeu, e virtuose no cavaquinho e na bateria), o quarteto inventou um estilo que não tem como definir, mas principalmente, eternizou dois clássicos na MPB, e que curiosamente abrem o LP: “Preta Pretinha” e “Brasil Pandeiro”, essa última uma aula de como diferentes vozes podem encaixar-se soberanamente para fazer o sangue ferver, além dos duelos fantásticos dos irmãos Gomes. Baby atiça as partes erógenas do cidadão com sua voz meiga nas agitadas “Tinindo Trincando” e “A Menina Dança”, e a fórmula de “Brasil Pandeiro” repete-se com sucesso em “Besta É Tu” e “Swing de Campo Grande”. Paulinho Boca de Cantor, por outro lado, faz de “Mistério do Planeta” a principal concorrente a melhor do disco, ao lado da linda instrumental “Um Bilhete Pra Didi”, um espetáculo a parte do trio Dadi, Jorginho e Pepeu. Apenas a faixa-título acaba sendo em um nível menor perto da grandiosidade do álbum, que também não precisava repetir “Preta Pretinha” no seu lado B, o que não diminui em nada sua importância e presença desse CLÁSSICO aqui, ainda mais que a revista Rolling Stone elegeu ele como o melhor álbum de música brasileira. Mais sobre esse belíssimo disco você encontra na Discografia Comentada do grupo.


Micael: Um álbum com algumas faixas consideradas clássicas (como “Brasil Pandeiro”, “Preta Pretinha”, “A Menina Dança”, “Besta É Tu”), frequentemente apontado como um dos melhores registros musicais já feitos no país (algo com que eu não concordo, mas consigo compreender). Fica a dúvida se é um disco de “rock”, o qual, afinal, é o estilo preferencial deste site. Mas, afinal, como já foi questionado tantas vezes, o que é, por definição, “rock”? Acabou Chorare é um belo disco de música brasileira, com influências de diversos estilos, dentre eles o rock and roll (estão lá as guitarras de “Tinindo Trincando” para não me deixar mentir), mas não apenas de rock and roll. O que não impede ninguém de apreciar sua beleza!


Ronaldo: Se fosse um time de futebol, como os baianos queriam, esse disco seria para os Novos Baianos tal como aquele campeonato em que o time ganha jogando bonito, goleando adversário até em jogo de mata-mata. Poucos discos cristalizam um espírito de época e de um local tão bem quanto Acabou Chorare. Pelas cordas dos violões e as peles das percussões desfilam o lirismo malandro da poesia de Galvão e todos os filhos de Gilberto dão uma aula de musicalidade à brasileira.

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Milton Nascimento e Lô Borges – Clube da Esquina [1972] (60 pontos)


Bernardo: Esse extenso disco tem vinte e uma músicas e acredite em mim, nenhuma delas é ruim. A covardia que Milton e Lô fizeram quando criaram o seu próprio coletivo de música e fundiram rock e mpb, trazendo para sua música influências do “pop perfeito” dos Beatles e o cuidado vocal de grupos como o The Platters, marcando-se como os compositores mais ativos de um disco que também traz a interpretação de Beto Guedes em pelo menos um clássico da nossa música: o hino “Nada Será Como Antes”, cartão de visita de um grupo poeticamente engajado em suas letras. Milton Nascimento mostra como competia fácil no posto de grande voz brasileira dos anos setenta emparelhado com Ney Matogrosso, mandando ver na abertura “Tudo Que Você Podia Ser”, “Nuvem Cigana” e “Saídas e Baneiras”. Lô não deixa por menos – suas músicas “Paisagem da Janela” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” marcaram época e são influentes até hoje. Além dos tropicalistas e bossa novistas, o Clube da Esquina surgia como mais uma força de respeito dentro do já vasta e rica música popular brasileira em um disco irretocável.


Bruno: O chamado “Clube da Esquina”, coletivo musical formado por músicos mineiros, pode ser considerado a versão nacional de grupos de folk rock, como o Buffalo Springfield. Com composições de Milton Nascimento em sua melhor fase e um Lô Borges de apenas 19 anos, o disco é um dos registros mais brilhantes da música brasileira. Além da dupla, outros músicos como Flávio Venturini, Toninho Horta e Beto Guedes também se revelariam. O som é uma belíssima união de rock com música regional mineira, o que dá um clima bucólico, quase triste, que remete bastante às paisagens montanhosas de Minas. A guitarra fuzz cortando os violões em “Trem de Doido” é de arrepiar. Um disco de 21 músicas não se torna cansativo em momento algum.


Davi: Mais um disco emblemático desse período. Trabalho coletivo envolvendo grandes nomes da musica brasileira. Entre eles; Milton Nascimento, Lô Borges, Flavio Venturini, Tavinho Moura, Wagner Tiso. Criaram uma sonoridade única trazendo as mais diversas influências como Beatles, bossa nova, jazz, choro, rock progressivo. Tudo junto, misturado e fazendo sentido. Durante aproximadamente uma hora, os garotos nos levam em uma deliciosa viagem musical. O tempo passa rapidinho…


Eudes: Embora a concorrência lhe morda os calcanhares, o melhor disco de rock dos anos 70 no Brasil e, sem dúvida, um dos melhores do mundo no ano de 1972. Milton já vinha anunciando que ia fazê-lo. Milton (1970), por exemplo, já incorporava definitivamente o back ground elétrico do Som Imaginário, bem como as composições do adolescente Lô Borges. Courage, do mesmo ano, primeira incursão de Milton no mercado norte-americano já pendia fortemente para o jazz fusion. Enfim, o cantor mineiro já desenhava um caminho onde nunca teve concorrentes, esta fusão de canto africano, melodias montanhesas, Beatles e jazz, tudo embalado em notável inspiração para grandes melodias e que forçaria a Billboard, na falta de um gênero para enquadrar o negão, a criar o estilo “Milton Nascimento”. Curiosamente, Clube da Esquina fracassou nas vendas quando do lançamento, se tornando um dos exemplares do encalhes célebres da história da música, mas apenas para se tornar ao longo dos anos um dos discos mais vendidos e conhecidos da discografia do cantor. Se renascimento começou no fim dos anos 70, com seguidas reedições que transformou o álbum duplo de especiaria para poucos em um clássico de massas. Suas faixas foram regravadas ad nauseum (sou daqueles que hoje em dia pulo a linda Paisagem da Janela), mas seguem carregando o estranhamento de uma música que parece não se encaixar em nada, ao tempo em que nos trazem sonoridades perdidas na memória e por isso nos fazem nos sentir em casa. Desde as baladas cristalinas, mais wilsonianas do que mccartneyanas, de Lô Borges, um dos grandes gênios da melodia, até as densas e dramáticas cantigas que vinham dos ecos das montanhas mineiras, passando pela incursões latinas, o disco é uma viagem conduzida pelas letras inusitadas e meio lisérgicas providas por Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos. Para completar, Clube da Esquina, a banda, é um verdadeiro who’s who dos melhores e mais vanguardistas músicos brasileiros da época. Sem querer fazer confusão, que eu não sou disso, Clube da Esquina mereceria está lá em cima nessa lista.


José: Bem, confesso a vocês que nunca curti o som do Milton Nascimento. Todo mundo elogia, todos dizem que vários de seus discos são brilhantes, mas infelizmente nunca me cativaram. Mas fui dar o braço a torcer e ouvir esse disco. Ok, não é ruim, absolutamente, e a alquimia sonora gerada por um grupos de mineiros, capitaneados por Milton e Lô Borges e o grupo Som Imaginário (de Wagner Tiso) tem de tudo: bossa nova, Beatles, toadas, choro, jazz, rock progressivo, tudo reunido numa música de apelo universal e grande força poética. É bom, mas não sei se colocaria numa lista de melhores.


Mairon: Mais um disco que considero bastante superestimado, talvez pelo mesmo problema do campeão dessa edição. Adoro o disco que mostrou ao mundo não só Milton Nascimento e Lô Borges, mas também Toninho Horta, Beto Guedes, Flávio Venturini, Ronaldo Bastos entre outros. Lô e Milton dividem as canções, e particularmente, prefiro as canções de Lô, mais alegres, com sua voz peculiar em “Paisagem da Janela”, “Trem de Doido” e as melhores do disco, “Um Trem Azul” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”. Milton também faz boas interpretações para “Dos Cruces”, “Cais”, “Pelo Amor de Deus” e “Nada Será Como Antes”, mas essas três últimas canções ganharam muito mais vida quando Elis Regina regravou-as logo em seguida, ficando aí sim incríveis. Acho que o disco, se fosse simples, teria muito mais valor musical, já que as vinte e uma canções que o constituem acabam tornando-se cansativas, ainda mais pela quantidade de faixa bastante curtas, recaindo portanto no problema que citei para Secos & Molhados. Entendo sua entrada na lista de Melhores, sem dúvida, mas confesso que quando fui montar a mesma, o álbum não ficou entre os meus 30 preferidos, apesar de gostar dele.


Micael: Os mineiros gravaram um disco muito bonito, bem tocado e arranjado, que influenciou muita gente e é respeitado e idolatrado por outro tanto. Só que não agrada aos meus ouvidos. Acho um disco chato, paradão, e mesmo os (muitos) belos momentos instrumentais ou vocais de seus sulcos não superam centenas de outros que já ouvi pela vida. Entendo quem goste, mas dispenso!


Ronaldo:O clube e a esquina mais famosos do Brasil e com todo o mérito, pelos séculos dos séculos amém. Poderia gastar todo o meu rol de adjetivos, conjunções, predicativos e outras ferramentas linguísticas para destacar o efeito de uma sequência de músicas maravilhosas como as que ocupam o lado A do primeiro disco (o original em LP é duplo). Mas eu ouso apenas recomendar que aqueles que não tem ouvido, ouçam.

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Rita Lee & Tutti Frutti – Fruto Proibido [1975] (34 pontos)


Bernardo: O disco definitivo da carreira solo de Rita Lee pós-Mutantes, onde finalmente firmou-se como artista independente e de lambuja veio com vários clássicos – o rock and roll pesado e divertido típico dos nos setenta está bastante presente no primeiro lado do disco, em “Dançar Pra Não Dançar”, “Agora Só Falta Você” e “Esse Tal de Roque Enrow”, co-escrita com parceria com Paulo Coelho que trata de um conflito cultural de gerações que mostrava de forma bem exemplar o tal zeitgeist setentista. Mas nada supera mesmo “Ovelha Negra”, o hino de Rita Lee, com um memorável solo do guitarrista Luís Sérgio Carlini e uma letra impossível de não se identificar – uma balada de desajuste que é a cara dos complicados e confusos anos setenta, uma época de emancipação e luta por independência. Disco de Rock com erre maiúsculo.


Bruno: Talvez o melhor disco da carreira solo de Rita Lee, com forte influência de glam rock e a guitarra ardente de Luís Sérgio Carlini. Catapultou a cantora de vez para o sucesso e reconhecimento nacional, que depois renderia trabalhos bem abaixo desse aqui. Particularmente, gosto mais dela nos Mutantes, mas Fruto Proibido é um álbum bastante divertido.


Davi: Clássico do rock brasileiro. Simples assim. Ao lado do grupo Tutti-Frutti – que contava com os geniais Luis Carlini e Lee Marcucci – a garota demonstrava que ainda havia vida pós Mutantes. Na minha opinião, ficou mais interessante do que o Mutantes sem ela. Fazendo um rock que era ao mesmo tempo despretensioso e inteligente, não demorou muito e chamou a atenção dos cabeludos. Colocaria ao menos 5 canções como destaques desse LP: “Dançar Pra Não Dançar”, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque n Row”, “Luz Del Fuego” e o classicão “Ovelha Negra”. Se você é mais um daqueles que tem chilique quando lê uma reportagem sobre a artista em um site de rock e começa a dizer que ela é MPB e não rock, apenas 3 palavras: ouça esse disco.


Eudes: É o Loki? de Rita Lee. Mas pelo outro lado. Um discaço de rock direto e pesado, tocado com maestria e com faixas altamente fluentes e inspiradas. De seu jeito, assim como Arnaldo, Rita fazia seu contra-ponto às elucubrações de Sérgio. Não há praticamente faixas a destacar, sendo todas excelentes, tendo demonstrado potencial para ocupar as ondas de rádio num país de gosto, naquela época, 1975 profundamente avesso ao rock. Luís Carlos Carlini, guitarrista da banda, conta uma história que ilustra isso: década depois, hospedado num hotel de Belém do Pará, acorda com a arrumadeira cantarolando o solo (eu disse, o solo) de Ovelha Negra. Como diria Jardel, “clássico é clássico e vice-versa”.


José: Fruto Proibido é uma das maiores obras-primas da história do rock nacional. Com pitadas de blues, peso e glam, Rita e os rapazes do Tutti-Frutti, com o auxílio de gente como o genial Manito (Incríveis, Som Nosso de Cada Dia, Mutantes) e do piano de Guilherme Bueno, fazem a delícia do ouvinte da primeira à última faixa. O disco oferece uma enxurrada de clássicos, começando com “Dançar Pra Não Dançar”, passando pela sensacional “Agora Só Falta Você”, que pelo teor da letra ficou com um quê de hino feminista, além das parcerias com Paulo Coelho, já brigado com Raul Seixas, em “Esse Tal de Roque Enrow”, a visão desesperada de uma mãe sobre o gênero musical, “O Toque” e o blues “Cartão postal”. O disco tem outras ótimas canções como “Luz Del Fuego”, homenagem à bailarina que chocou o país com suas ideias libertárias e o naturismo e a maravilhosa “Ovelha negra”, talvez a letra mais bacana que ela escreveu em toda a carreira. E o solo final de Luís Sérgio Carlini é daqueles que ninguém esquece. As demais canções “Pirataria” (com sua flauta à la Jethro Tull) e a folky e agitada “Fruto Proibido” mantém o alto nível do disco. Até 1978, quando a parceria com o grupo se desfez, Rita realmente fazia rock and roll de qualidade e Fruto Proibido é uma espécie de “como fazer rock em português”, se bem que Raul Seixas fosse mestre nessa arte e os grupos progressivos como O Terço e o Som Nosso de Cada Dia também tivessem ótimos discos do gênero. Mas a primeira mulher que entrou de cabeça no gênero foi ela: Rita Lee.


Mairon: Quando Rita saiu dos Mutantes após Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz (1972), já se previa que ela ia se tornar a maior artista do rock nacional. O lançamento de Atrás do Porto Tem Uma Cidade (1974) apresentou aos brasileiros o grupo Tutti Frutti e a parceria com Lucinha Turnbull, e uma sonoridade que mesclava o progressivo com o hard rock. Já o seu sucessor, o disco aqui listado, acabou virando um marco do rock ‘n’ roll nacional, graças ao sucesso de “Ovelha Negra” e “Agora Só Falta Você”. O grande destaque na verdade é a dupla Luiz Carlini (guitarra) e Lee Marcucci (baixo), ou seja, metade da Tutti Frutti, que estão tocando uma barbaridade nesse disco. As faixas que ficaram menos conhecidas são as que mais demonstram o talento da dupla, que são a linda “O Toque” e o blues “Cartão Postal”, ambas parceria de Rita com Paulo Coelho. Complementam o álbum a faixa-título, cujo vocal de Rita para mim é o melhor em todo o LP, as mezzo clássicas “Dançar Pra Não Dançar”, “Luz del Fuego” e “Esse Tal de Roque Enrow” (outra parceria com Coelho), além de “Pirataria”, com um interessante solo de flauta feito por Manito a la Jethro Tull na sua fase inicial, ou seja, todas canções puramente rock do melhor estilo, para dançar e curtir tranquilamente sem se preocupar. Gosto bastante do som de bateria em Fruto Proibido, que é o som marcante das baterias brasileiras nos anos 70, e que repete-se em outros álbuns dessa lista. Eu particularmente não gosto muito dos vocais de Rita no período da Tutti Frutti, parece que falta a potência dos tempos do Mutantes, e dentre os álbuns lançados entre 1974 e 1978, para mim o melhor deles é Entradas & Bandeiras, mas Fruto Proibido tem seus méritos, e a sua entrada nessa lista não é de toda injusta.


Micael: Talvez o melhor disco solo da Tia Rita (visto que os dois primeiros estavam mais para “discos disfarçados dos Mutantes” do que para trabalhos realmente solos), que,além do mérito de ter revelado a excelente banda Tutti Frutti, ainda nos legou pérolas como “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow”,”Luz del Fuego” e a “carne de vaca” “Ovelha Negra”, que para alguns é sinônimo da carreira solo de Rita Lee, infelizmente (visto sua carreira ser muito maior e importante que esta canção). O restante das faixas também é muito bom, num autêntico rock setentista com pegada de hard rock (como em “Dançar pra Não Dançar”, “Pirataria” ou na faixa título) que se insere perfeitamente no contexto do que estava sendo feito na época, e até um blues sofrido (“Cartão Postal”) onde Rita dá um show de interpretação. Não ficou na minha lista (longe disso), mas também não desmerece a relação final.


Ronaldo: Foi aqui que nossa rainha recebeu a coroa. Sua corte era fantástica, e Luiz Carlini, o guitarrista, responsável por uma das (poucas e) mais marcantes passagens de guitarra do nosso rock, que sempre é lembrado pela figura do vocalista. Rocks potentes e cheios de energia, boas composições, bom instrumental. Enfim, tudo de bom.

Transa

Caetano Veloso – Transa [1972] (33 pontos)


Bernardo: Exilado por cerca de três anos em Londres, Caetano teve a ideia de batizar o álbum de Transa quando militares o interrogaram pedindo que fizesse uma música que elogiasse a Transamazônica. Caetano recusou, mas fez o disco – uma verdadeira “estrada sonora” brasileira, com Caetano no auge da sua sofisticação radical, chamando para tocar e arranjar o disco o grupo o genial Jards Macalé na guitarra e direção musical, Moacir Albuquerque no baixo e Tutti Moreno e Áureo de Sousa na percussão. Gravado praticamente ao vivo, com Caetano explorando o máximo de possibilidades da tropicália, do samba e da bossa nova, como nos nove minutos e meio de “Triste Bahia”, passeando por váriso ritmos e crescendo em tom e intensidade até um final apoteótico que parece engolir tudo em sua grandeza. “Nine Out Of Ten” tem compassos de reggae na MPB mesmo antes de Gilberto Gil se aventurar, com Caetano convidando Macalé (“Bora, Macao!”) em estado possuído para um solo de guitarra daqueles de botar o mundo de cabeça pra baixo. “Mora Na Filosofia”, única regravação do álbum, transforma o samba de Monsueto Menezes em seis minutos de choro lento e introspectivo. Perdido entre dois países, Caetano canta em inglês, canta em português, se apropria de outros ritmos, torna o mundo parte do Brasil e suas imensas contradições. A magnum opus de Caê é um dos discos fundamentais da nossa música.


Bruno: Caetano Veloso é um dos medalhões da MPB que não representam nada pra mim. Acho o cara insuportável, e sua música não faz minha cabeça. Prefiro não comentar.


Davi: Gravado durante seu exílio em Londres, o álbum sobreviveu ao tempo, mesmo sem a presença de um grande hit. Não é meu álbum favorito de Caetano, mas sem duvidas, é um belo disco. Caetano mistura a sonoridade brasileira com elementos pop que vão desde o reggae (perceptível em “Nine Out of Ten”) até o rock. Mistura como ninguém o inglês com o português fazendo com que o disco ganhe uma sonoridade ainda mais singular.


Eudes: Quando ouço Transa sinto uma mistura de amor e ódio. O amor por um disco perfeito e ódio por não saber como um cara legal como o Caetano de 1972 virou este mala sem rodinha que nos atazana hoje em dia. Apenas uma obra pode concorrer com Transa nessa restrita categoria do amálgama (ou seja, para além da fusão) elétrico-acústico, modernidade-tradição, universal-regional, rock-mpb, é o fantástico disco londrino de Gilberto Gil, de 1971, infelizmente não lembrado nessa lista, no meu caso, pelo limite dos 10 títulos. Provavelmente Transa não teve grande divulgação na Europa na época (e nem no Brasil, diga-se) o que é a única explicação para o disco não ter abalado a indústria do disco quando lançado. Afinal ele tem tudo para ser um terremoto. Arranjos ousados em longas peças divididas em sessões, maneirismos brasileiros inusitadamente combinados com os usos e costumes do rock, grandes composições, execução fenomenal e, last not least, a inacreditável voz de Gal Costa. Para a gente lembrar que o melhor rock brasileiro foi feito muitas vezes por gente que desceu aos infernos com a etiqueta MPB pregada na testa.


José: Clássico da MPB. Há 40 anos atrás, Caetano, exilado em Londres compôs esse disco quase totalmente em inglês. Juntando as culturas brasileira (baiana) e estrangeira de forma bastante heterogênea. E esta mistura, potencializada neste álbum, cria algo inacreditável. “Triste Bahia”, é um diálogo do cantor com a literatura onde ele interpreta versos de Gregório de Mattos, poeta barroco do século XVII conhecido como “Boca do Inferno”. “Nine Out of Ten”, “You Don’t Know Me” e “It’s a Long Way” são os os outros destaques de um disco fundamental pra quem quer conhecer a música brasileira.


Mairon: Depois de ser exilado na Inglaterra durante a ditadura militar em 1969, Caetano parece que sofreu um surto de inspirações, e ampliou seu leque de construção musical fazendo dois discos muito bons. O primeiro deles, Caetano Veloso (1971) é para mim o melhor disco da carreira dele. A sequência com Transa não fica atrás. Gravado praticamente ao vivo em um estúdio inglês, somente com músicos brasileiros, o álbum traz misturas diversas: Samba e o rock em “You don’t Know Me”; reggae e chorinho, com pinceladas de jazz em “Nine Out of Ten”. Transa tem uma balada belíssima em “It’s a Long Way”, trazendo elementos brasileiros que tornam-se encantadores junto a mistura de palavras inglesas e portuguesas de Caetano, o blues sensacional de “Nostalgia (That’s What Rock ‘n’ Roll is All About)”, com a participação de Gal Costa, e até a psicodelia que aparece com força em Araçá Azul (1973) acaba dominando “Neolithic Man” e “Triste Bahia”, misturando elementos do candomblé e capoeira com o rock e o samba. A última foi eleita por Caetano a melhor música do LP, o que não é mero exagero de pai-coruja, já que o crescendo musical dessa canção é de deixar sem fôlego, mas para mim, “Mora Na Filosofia” é a melhor do disco, também com um crescendo fantástico, saindo de uma dolorida balada para uma empolgante levada, com aquele som peculiar da bateria brasileira dos anos 70, e uma interpretação magnífica de Caetano. Não é um disco fácil de se ouvir, mas quando você sente o choque do álbum, não tem como não ficar eletrizado. Boa presença nessa lista, e eu não entendo como Caetano depois virou um dos símbolos-mor dos coxinhas (já que virou moda essa palavra) em nosso país, junto com Pedro Bial, Gilberto Gil e tantos outros.


Micael: Nunca gostei de Caetano, mas depois de receber a lista final fui (re)ouvir este disco com a melhor das intenções, afinal ele faz parte daquele que é considerado o melhor período do cantor baiano. O resultado, apesar da guitarrinha esperta de “Nine Out of Ten” e da boa releitura de “Mora na Filosofia”, foi o mesmo de sempre: não suporto a voz de Caetano, suas músicas mais me irritam que me atraem (ouvir os quase dez minutos de “Triste Bahia” foi uma verdadeira tortura!), e a certeza de que suas composições definitivamente não foram feitas para mim. Passo longe!


Ronaldo: Quando ouço Transa, me pergunto se não estaria ouvindo um poema musicado ou música poética, ainda que as letras sejam das mais banais, porque Transa é um disco proclamado, ainda que seja pelo silêncio e pela respiração de seu intérprete. As sutilezas vão além e atingem até o tilintar das cordas do violão, que é nítido como poucas vezes havia se produzido (entenda este verbo em seu significado técnico) aqui no Brasil. É soft tropicália, pop-bossa até o osso. Caetano não precisou ser nenhum Baden Powell pra dominar com maestria as seis cordas. Para as outras que lhe acompanhou, um time de convidados não tão anônimos como a capa do LP gostaria que fosse, uma seleção de bambas. Um verdadeiro clássico.

Som Nosso De Cada Dia - (1974) Snegs

Som Nosso de Cada Dia – Snegs [1974] (30 pontos)


Bernardo: Bom disco e bom grupo, mas não o suficiente de pelo menos três obras-primas do Jorge Ben: Negro é Lindo (1971), A Tábua de Esmeralda (1974) e África Brasil (1976).


Bruno: Um dos expoentes do prog brasileiro. Não faz muito minha cabeça, mas é um ótimo disco.


Davi: É bem capaz que os leitores mais jovens não conheçam o som dessa banda. Se esse é o seu caso, vá atrás. Nos anos 70, vários grupos brasileiros foram influenciados pelo rock progressivo. Poderia citar como exemplo, o excelente grupo O Terço. Ou ainda, o Vimana. E é exatamente essa a onda do Som Nosso de Cada Dia nesse debut. A influência prog fala alto aqui. O grande destaque do disco é o musico Manito (mais lembrado por seu trabalho ao lado dos Incriveis), que ficou responsável pela gravação de, ao menos, 5 instrumentos no álbum. Uma canção que sempre gostei muito é “Bicho do Mato”. Excelente álbum!


Eudes: É ruim? Claro que não. Ouço com prazer e sempre. Mas, numa lista de apenas 10 de uma década inteira, acho que este disco está meio perdido no meio dos monólitos listados. É só uma opinião.


José: Em meados da década de 70, no Brasil, o prog rock engatinhava. Ao chutarem Rita Lee, Os Mutantes direcionaram seu bem-humorado estilo para beberem na fonte de quem serviu-lhes de inspiração, como Yes, Emerson, Lake And Palmer, entre outros. O Terço também entrou de cabeça no gênero e surgiram outros grupos, como o Vímana e A Barca do Sol. Mas talvez um dos mais emblemáticos da safra seja o Som Nosso de Cada Dia. Esse disco em questão é referência na história do rock brasileiro e do gênero progressivo, embora pouco conhecido. Entre seus integrantes, o mitológico e virtuose Manito, oriundo d’Os Incríveis. Ele, o baterista Pedro Baldanza (Pedrão) e o baixista Pedro Batera (Pedrinho) fizeram misérias em Snegs, lançado em 1974. Manito tocou simplesmente quase todos os instrumentos, exceto bateria e baixo. Os sintetizadores, teclados e pianos que pontuam quase todas faixas são dele, além dos violinos, saxes e flautas, mas Pedrinho também faz um ótimo trabalho compondo a cozinha rítmica e nos vocais do álbum. Snegs contém verdadeiras pérolas do progressivo nacional, como “Sinal da Paranóia”, “O Som Nosso de Cada Dia”, “Snegs de Biuffrais”, “Massavilha” (um show de Manito nos teclados, aliás), “A Outra Face”, “Direccion de Aquarius”, sem contar o rockão “Bicho do Mato”. Enfim, essas músicas complexas, guiadas pela tecladeira infernal de Manito, são repletas de pequenos detalhes, letras filosóficas e belos vocais. Dois anos depois lançaram Sábado/Domingo (1977), sem Manito, com uma levada mais funk. Mas a carreira do Som Nosso acabaria ao fim daquele mesmo ano.


Mairon: O Emerson, Lake & Palmer brasileiro foi responsável pela consolidação do rock progressivo em nosso país, ao lado de O Terço, Terreno Baldio e Mutantes. Manito, Pedrinho Batera e Pedrão abusaram de construções intrincadas em Snegs, outro grande álbum que merecidamente aparece nessa lista, apesar de não ter incluído o mesmo na minha por questão da ampla variedade de álbuns excelentes lançados na década de 70 no Brasil. Pedrão é um excelente baixista, e sua voz revela-se em “Snegs de Biufrais” e “Direccion de Aquarius”, enquanto a bateria de Pedrinho Batera é um dos principais destaques, principalmente nas variações de “O Som Nosso De Cada Dia” , assim como os teclados de Manito em “Bicho do Mato”, “A Outra Face” e principalmente na longa introdução de “Massavilha”, dando um show a parte. A Maravilhosa “Sinal da Paranóia”, com os solos de violino, teclados, o show do moog e as viajantes vocalizações de Pedrão, abrem o álbum e fazem a apresentação perfeita de uma das melhores bandas que o Brasil pariu. Depois o grupo enveredou pelo funk Motowniano, também em grande estilo, mas nada que conseguisse superar o que foi registrado em Snegs, um registro soberbo de um trio único no nosso país.


Micael: A primeira vez que escutei Snegs, não entendi nada! Aí, fui aprendendo a escutar música (e não só a ouvir), sobre o progressivo em geral (e não apenas os medalhões), e sobre a beleza de um teclado bem tocado! Quando estava mais “sábio”, voltei ao Som Nosso, que, desde então, passou a ser o meu som também! Que disco maravilhoso! Só não é o melhor disco progressivo nacional de todos os tempos porque uns certos Mutantes resolveram gravar dois álbuns e um EP nesta linha (o insuperável Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974), mais uma vez criminosamente esquecido por meus colegas consultores, o Ao Vivo e o compacto de “Cavaleiros Negros”). Snegs não fica a dever nada para qualquer disco progressivo inglês, italiano, alemão, japonês ou seja lá de onde for! Se você gosta do estilo, há de concordar comigo! Ouça, e bem alto!


Ronaldo: Já dissequei esse álbum na Discografia Comentada do Som Nosso de Cada Dia.

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Os Mutantes – Jardim Elétrico [1971] (29 pontos)


Bernardo: Tarefa árdua foi escolher o melhor disco do Mutantes – entre 68 e 72, tudo o que fizeram mudou a história indelevelmente, com sofisticação e técnica mescladas a iconoclastia e bom humor, fazendo da audição uma experiência anárquica e inédita que ainda tem força e frescor de novidade até hoje. A abertura “Top Top”, com sua letra ambígua e provocante, é o cartão de visitas perfeito para um disco que ainda reserva espaço para outras divertidíssimas pérolas – em sequência, quatro clássicos: a hilariante “El Justiciero”, sacanagem com romances mexicanos baratos com belíssimas harmonias vocais”, “It’s Very Nice Pra Xuxu”, com referências as próprias músicas e mesclando inglês e português criando uma balada diferenciada e original através das paródias às baladas românticas, “Portugal de Navio”, com espetacular e grudento baixo de Liminha e “Virgínia”, talvez com o melhor refrão do disco e um dos melhores da carreira dos Mutantes. Entre o debut Os Mutantes e Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, tudo dos Mutantes é recomendável, portanto a dica não vale só para Jardim Elétrico, mas para todos os cinco discos.


Bruno: Admiro e tenho todo o respeito pela criatividade e experimentação dos dois primeiros discos d’Os Mutantes, que uniam os arranjos MPBzísticos com guitarra elétrica e lisergia, mas a partir de A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado que eles resolveram apostar apenas na qualidade dos seus membros como músicos, focando em composições excelentes, com guitarras cada vez mais distorcidas. Meu disco preferido da banda. Destaque para a maravilhosa “Virgínia”.


Davi: Eu sou uma daquelas pessoas que sempre preferiu a fase Rita Lee. Por mais que considere Sérgio Dias e Arnaldo Baptista geniais, acho que eles perderam muito da criatividade, da irreverência, após a saída de Rita. Nesse álbum, os Mutantes haviam se transformado em um quinteto com a adição de Liminha e Dinho Leme. A cantora Rita Lee já começava a se sentir desprezada, mas a essência ainda estava ali. O deboche e a experimentação continuavam firme e forte, as faixas continuavam intrigantes. Bom disco. Destaque para “Top Top” e “It´s Very Nice Pra Xuxu”.


Eudes: Muito bom disco da banda, mas, a meu ver, já longe da inventividade e da inspiração infanto-juvenil, no melhor sentido do termo, dos seus três primeiros e clássicos discos. Mas muitíssimo superior à sem graça fase progressiva que veio depois sob a batuta de Serginho. Aqui, os ecos da experimentação do início se unem a uma atitude instrumental pesada, mas não deslumbrada: madura. Ouço intermitentemente!


José: Jardim Elétrico é bem diferente do álbum anterior da banda, A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, a começar pelo visual, capa cheia de cores, psicodelia, etc. No quesito som, a banda continuava voltada às tendências do exterior, mas de forma mais direta. “Top Top”, por exemplo, é um dos melhores momentos da banda: Rita histérica, Arnaldo enlouquecido e Sérgio destilando influências funkeadas. Sem falar na cozinha de Liminha e Dinho. Em “Benvinda”, Arnaldo mostra seu lado melancólico, sem deixar a excentricidade característica de lado. “Tecnicolor”, a seguinte, é uma excelente balada folk, com pitadas de prog. “El Justiciero”, é um flamenco que beira o humorístico em sua mistura de inglês com espanhol. “It’s Very Nice Pra Xuxu” é um digno rock’n’roll setentista com destaque, principalmente pela performance insana de Baptista. “Portugal de Navio” é uma brincadeira onde camuflam um palavrão, mostrando que a irreverência dos primórdios da banda ainda estava a tona. O lirismo retorna em “Virginia”, onde Rita contribui com flautas. O contraste atua novamente com a canção homônima, uma paulada psicodélica que privilegia a comunhão do teclado com a guitarra. É o mesmo que ocorre em “Saravá”, não sem antes a balada `Beatles “Lady, Lady”. E por fim, “Baby”, de Caetano Veloso, só que desta vez cantada em inglês e transformada numa bossa nova. Enfim, mais uma demonstração espetacular de inventividade e talento.


Mairon: Os Mutantes foram para a Europa em 1970, e lá registraram um belíssimo álbum, o qual só foi lançado 30 anos depois. Desse álbum, batizado Technicolor, aproveitaram algumas canções, e com a união de novas criações, nasceu Jardim Elétrico, o quinto álbum do grupo. Contando agora oficialmente com Liminha (baixo) e Dinho Leme (bateria) na formação oficial (que ainda continha os supracitados Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee), Jardim Elétrico foi uma bela continuação do ponto de sela que os Mutantes haviam começado em A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, ainda em 1970. Afinal, a irreverência que destacou o grupo nos seus dois primeiros álbuns está presente em “Top Top”, “Benvinda”, “It’s Very Nice Pra Xuxu”, “Lady Lady” ou “Portugal de Navio”. Por outro lado, o grupo mostra maturidade na pancada da faixa-título e também de “Saravá”, com Arnaldo arrasando nos teclados, ou resgatando os rocks anos 50 na bela “Virgínia”. A psicodélica “Technicolor” é a melhor faixa desse magnífico álbum da melhor banda brasileira entre 1968 e 1976, e que nesse disco, falhou apenas na versão MPB e em inglês de “Baby”, a qual é totalmente desnecessária. Se fosse para entrar somente um disco dos Mutantes, eu escolheria o injustiçado Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz (1972), mas o fato é que todos os discos do Mutantes deveriam estar presentes em uma lista de Melhores do rock nacional. Se você quiser saber mais sobre minha opinião em relação a Jardim Elétrico, leia a discografia comentada sobre o grupo.


Micael: Eu sou um dos poucos que preferem a fase “sem Rita” dos Mutantes! Da fase com ela, este e ... Baurets (1972) são os que mais gosto, mas Jardim Elétrico fica à frente por ser mais eclético, desde a “Tim Maiesca” “Virgínia”, passando pela bossa nova de “Baby”, a psicodelia de “It’s Very Nice pra Xuxu”, a “mexicana” “El Justiciero”, a californiana “Tecnicolor”, o rock direto e sacana de “Top Top”, até chegar ao peso da faixa título e de “Saravá”. Todas altamente recomendáveis, mostrando que os “Mutas” estavam mesmo muito à frente de seu tempo! E viva o LSD!


Ronaldo: Eu posso ser um mal-humorado musical, mas acho que rock e humor tem muito pouco em comum e quase nunca funcionam juntos. Especialmente se eles se tornam “conceito” de uma determinada banda ou disco. Para a crítica em geral, contudo, isso é pra lá de cool. Careta mesmo eram os virtuoses, se preocupando com longas suítes conceituais em esmerilhada musicalidade. A música dos Mutantes situada entre o desmonte do tropicalismo (onde eles não podiam mais aprender com a genialidade de Duprats, Gils e Caetanos) e a fase progressiva (veículo para o vôo guitarrístico de Sérgio Dias) poderia ter excelentes momentos, mas o que mais teve foram momentos apenas engraçadinhos. Exceção: Tecnicolor, uma pérola de música.

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Raul Seixas – Krig-ha, Bandolo! [1973] (27 pontos)*


Bernardo: Raul era, como disse em Gitâ, “o tudo e o nada”. Por justamente passear em todas as turmas, não pertencia a nenhuma delas – talvez apenas a dos marginais subestimados da Grã Ordem Kavernista, Edy Star, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Como o maior destaque deles, o grande nome do nosso rock estourou de vez após o menos pretensioso ‘Raulzito e os Panteras” e o anárquico e irreverente disco dos Kavernistas com Krig-ha, Bandolo!, que pegava o grito estridente do Tarzan para sintetizar o espírito de rock primal (como comprova a abertura, uma bizarra versão que gravou de “Good Rockin’ Tonight” na infância) em um disco que passeia por vários gêneros “de raiz” – rock and roll cinquentista, country interiorano, baião nordestino e até mesmo folk e gospel – com propriedade invejável – caso do ritual africano que desemboca em rock em “Mosca Na Sopa”, os rocks invocados “Al Capone” e “Rockixe”, o hino “Metamorfose Ambulante” e a balada a la Belchior (versos longuíssimos de perder o ar) “Ouro de Tolo”, rasgada e doída crítica à classe média da época do regime militar, sempre incapaz de se satisfazer com o sonho que criou para si mesma. Músico inventivo, engajado, estética e politicamente provocador e “fora da casinha”. Um artista que transcendeu o óbvio, desenvolveu uma das sonoridades mais originais já vistas e tornou-se o sinônimo do gênero aqui no nosso país, não apenas por questões de gênero, mas também em “espírito”. Se rock and roll era ser “fora da norma”, ninguém o era mais que Raulzito.


Bruno: A estreia do Raulzito é talvez o seu disco mais diversificado. Apesar de eu gostar mais do clássico Gitâ (1974), é impossível não gostar da variedade de estilos mostrada em Krig-ha, Bandolo! Raul pegou o seu tão querido rock n roll e misturou com baião, candomblé e música caipira. Os hits ficaram garantidos com “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa” e a ironia maravilhosa de “Ouro de Tolo”, a melhor letra do baiano. A minha preferida, é a lindíssima “How Could I Know”. A parceria com Paulo Coelho já começa forte, e está presente em cinco faixas. Após sua morte, Raul foi alçado ao status de ídolo incontestável e porta voz de uma geração. Muitos ainda torcem o nariz . Você pode até não gostar das letras supostamente “messiânicas” do cara, mas ignorar seu talento musical é pura má vontade. Krig-ha, Bandolo! é a prova disso.


Davi: Excelente álbum de raulzito que marca não apenas o inicio de sua (fantástica) carreira-solo quanto o inicio de sua parceria com o escritor Paulo Coelho. Várias faixas daqui acabaram se tornando clássicos como “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Al Capone”, “Ouro de Tolo”… Disco praticamente perfeito. Para mim, um de seus melhores álbuns. Audição obrigatória!


Eudes: Coleção inacreditável de hits de Raul, parecendo até, ouvido hoje, uma coletânea, o que comprova uma qualidade que considero admirável no cantor e compositor, a comunicação com todas as camadas sociais, sem fazer concessão ao modismo e aos apelos puramente comerciais. Mas confesso que Raul não me encanta particularmente, de modo que registro a justiça, graças ao valor histórico incontestável do disco, da escolha sem entrar, por desnecessário, em minha avaliação íntima sobre as faixas.


José: No início dos anos 70, Raul já estava envolvido com questões metafísicas, religiosas, existenciais entre outras coisas, raramente compreendidas pelo público comum. E Krig-Ha, Bandolo! pôs a nu todas essas questões, embaladas por ritmos e sonoridades herdadas de sua infância, onde já estava em evidência a mistura de Luiz Gonzaga com Elvis Presley, Arthur “Big Boy” Crudup com Jackson do Pandeiro; Místicos e mitos históricos: Jesus Cristo, Buda, Aleister Crowley; Egito; Al Capone; Candomblé-África; Apocalipse; discos voadores. Para a feitura do álbum, Raul junta-se a um escritor igualmente inquieto, Paulo Coelho, com quem comporia músicas que elevaram Rauzito a uma posição tal, que jamais será sobrepujada por outro nome. O disco abre com uma gravação caseira de Raul quando criança, um rock, no qual o menino já demonstra certa irreverência. Logo a seguir vem “Mosca Na Sopa”, um recado direto a certos tipos de conservadorismo. Mas o verdadeiro destaque é “Ouro de Tolo”, com suas dúvidas diante da vida, além de alguns desapontamentos, um tapa na cara da classe média!


Mairon: Raul Seixas é o principal nome do rock nacional, e disso ninguém duvida. Afina, a sua imagem com os óculos escuros e o cavanhaque deixa muito moleque ardendo de felicidade para reproduzi-la, ao mesmo tempo que a pregação em cima da famosa “Sociedade Alternativa” e do “Tente Outra Vez” representam bastante a vida do adolescente brasileiro em qualquer época. Krig-Há, Bandolo! veio antes disso, em uma época que Raul havia acabado de lançar-se pela Philips, depois de duas fracassadas tentativas (uma pela EMI com Os Panteras e outra na CBS junto da Sociedade da Grã-Ordem Kavernista), e é o início de uma carreira fantástica desse grande nome da música brasileira, que finalmente deu suas caras por aqui. E que baita disco. Olha só o track list: “Mosca Na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Al Capone” e a perfeita “Ouro de Tolo” até sua vó já ouviu (e curtiu), mas não é só isso. “Rockxixe” é uma sonzeira, com um naipe de metais poderoso, enquanto “Cachorro Urubu” é uma representante fiel da união da música sertaneja com as letras inspiradas de Raulzito e “Dentadura Postiça” uma ótima canção gospel para bater palmas em casa. . Ainda temos as inspirações Dylanianas de “As Minas do Rei Salomão”, e as baladas “A Hora do Trem Passar” e “How Could I Know”, esta para mim a segunda melhor canção do LP, atrás apenas da exclusiva “Ouro de Tolo”. O melhor disco de Raul para mim é Novo Aeon (1975), e talvez Gitâ (1974) fosse o mais indicado para representa-lo aqui, mas Krig-Ha, Bandolo! não é uma má escolha.


Micael: Não sou fã da obra de Raulzito, mas só louco dispensaria um disco que tem “Metamorfose Ambulante, “Al Capone”, “Ouro de Tolo”, “Mosca na Sopa” ou as menos incensadas (mas muito boas) “As Minas do Rei Salomão”, “How Could I Know” (linda!) e “Rockixe”. Não sei se é o melhor álbum de Raul, mas para mim está de bom tamanho!


Ronaldo: Ele é praticamente uma entidade espiritual para proto-hippies que vagam Brasil afora com suas mochilas, cigarros e violões. Mas analisando friamente, a música de Raul Seixas tem pouco a acrescentar, até mesmo dentro do rock brasileiro. Algumas músicas se alinham, pasmem (analisem friamente, sem paixões) com Roberto Carlos e figurões da música de AM. De resto, um country-rock com sotaque baiano bastante ordinário, mas com bons momentos também. As letras, contudo, comunicam muito e afrontam o establishment e tem muito mais força que o conteúdo musical. Seu disco posterior (Gitâ [1974]) é melhor nesse sentido.

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Elis Regina – Falso Brilhante [1976] (27 pontos)


Bernardo: Não sei se vou ser polêmico ao afirmar isso, mas não morro de amores pela carreira da Pimentinha, e nem mesmo nesse que é um de seus grandes discos, não posso dizer que o acho uma obra-prima, apesar de bem representativo, especialmente pela versão de Belchior de “Como Nossos Pais”, que tornou-se um hino entre a juventude politicamente engajada e deu uma projeção a Belchior que o mesmo dificilmente poderia ter não fosse pelo fato de Elis ter escolhido gravar essa canção – injusto, já que o homem é um gênio (me deu um trabalho árduo não colocar Alucinação no meu top 10!). “Gracias a la vida” também é uma bela versão, apesar de não se comparar a de Mercedes Sosa (supera a de Joan Baez, entretanto). “Tatuagem” também conta com uma bela interpretação da letra de Chico e Ruy Guerra, fora “Fascinação”, cuja voz e música poucas vezes combinaram tão bem em uma música de amor de ares rebuscados mas com uma doçura facilmente compreensível por qualquer um. Ah, e “Los Hermanos” deu a inspiração pra Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante décadas mais tarde criarem a banda homônima, o que eu não sei se é bom ou não.


Bruno: Confesso que desse disco só conhecia a incrível versão de “Como Nossos Pais”, de Belchior, e sempre gostei. Ao ouvir o álbum tive uma grata surpresa. As interpretações já viscerais de Elis Regina, ganham uma roupagem mais urgente, quase rockeira, com uma cozinha firme e pesada e a guitarra dando as caras de vez em quando. Elis, como uma das melhores intérpretes da música brasileira merece fazer parte dessa lista, e esse talvez seja seu registro definitivo.


Davi: Esse e Saudades do Brasil são meus álbuns favoritos da pimentinha. Dona de uma das melhores vozes da música brasileira, a artista bebia cada vez mais do seu próprio veneno. Se ela já tinha tido uma certa aproximação com o rock – como a regravação de “Golden Slumbers” dos Beatles no álbum Ela – aqui ia ainda mais além. Se em outro momento de sua carreira, ela foi às ruas protestar contra a americanização na música brasileira na infame passeata contra a guitarra elétrica, aqui ela parecia extremamente confortável em adicionar novos elementos em sua música. A já citada influência do rock é perceptível em diversas faixas como “Um Por Todos”, “Como Nossos Pais”, isso para não falar na genial “Velha Roupa Colorida”. Elis dá uma aula de interpretação colocando toda sua emoção nas canções. Essencial!


Eudes: Entre 1969, ano do disco londrino, e 1978, ano do excepcional disco ao vivo do show Falso Brilhante, Elis Regina enfileirou clássico atrás de clássico. Este excelente Falso Brilhante não é o meu predileto (prefiro Em Pleno Verão, o manifesto em que Elis parece dizer à turminha do pop brasileiro, “saiam da frente que chegou a profissional”), mas tem méritos para integrar este seleto Top 10. Não fosse pela inclusão de maravilhosas canções do manancial latino-americano (“Volver a los 17″ e “Los Hermanos”), não fosse pela indução ao suicídio chamada “Tatuagem” (sim, Chico Buarque), não fosse pela inacreditavelmente interessante “Fascinação”, o disco traz dois clássicos que nem o rumoroso desaparecimento do autor consegue diminuir o valor: “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”, de Belchior, que já eram, sem que os militares soubessem, os hinos letais da dominação global dos cearenses. Mas foi a gaúcha Elis quem acabou dando forma definitiva às duas balas de prata do bardo cearense. Discão, sem mais!


José: Falso Brilhante é um dos discos mais emblemáticos da carreira de Elis Regina e foi um álbum que marcou uma época e que até hoje é muito comentado e lembrado por fãs e entusiasta da boa mpb. Suas 10 faixas, contem os mais variados estilos. Uma novidade e tanta à MPB e até mesmo a musicalidade de Elis, é que o disco vinha com uma forte influência do rock, com presença marcante da percurssão e das guitarras e além disso, o disco serviu para Elis mostrar aos críticos que era mais que uma cantora, era uma intérprete de verdade. “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida” de Belchior, são os exemplos disso. Também se destacam a folky “Quero”, a praticamente flamenca “Gracias a la Vida” e a dramaticidade de “O Cavaleiro e os Moinhos”, isso sem falar em “Fascinação”, provavelmente sua interpretação mais conhecida.


Mairon: Demorei anos, mas muitos anos, dos quais me arrependo profundamente, para mergulhar na vasta e deliciosa discografia de Elis Regina. O preconceito por conta de sempre ouvir falar da gaúcha do IAPI como uma representante do samba e da MPB nunca me chamou a atenção. Mas um dia, eu encontrei Falso Brilhante em um sebo de Copacabana, por meros um real, e o vinil brilhava, como dizendo “Me leva para sua casa”. Comprei aquilo, sem nem dar bola para o coitado, junto de diversas outras aquisições. Na hora de colocar para ouvir, foi o último escolhido em uma fila de uns 30 LPs, e quando a agulha colocou sua ponta no início de “Como Nossos Pais”, gelei. O que era a voz daquela mulher a capela, que com a entrada de uma banda inquestionavelmente talentosa, o som maravilhoso da bateria brasileira dos anos 70 e a guitarra enlouquecendo ao fundo (não importava os músicos, que depois me prestei a ler na capa interna e descobrir que eram o guitarrista Nathan Marques e o baterista Nenê)? Praticamente 99% das cantoras nacionais possuem um timbre característico, que é ou a voz rouca tipo Ana Carolina ou aquela voz “cheguei” como de Ivete Sangalo, mas a voz da Elis era diferente. Seria o excesso de cigarros e drogas? Que nada! Elis colocava a alma para fora através de sua boca, não importando o que tinha que ser superado. Já conhecia “Como Nossos Pais” do famoso vídeo de Elis chorando no final, que passava regularmente na TV Globo, só que logo depois desse petardo de cair a casa, vinha outra obra-prima de Belchior que Elis transformou em algo ainda maior, “Velha Roupa Colorida”, um rock para deixar a casa de ponta-cabeça, cujo principal destaque é o piano de César Camargo Mariano. Só essas duas já colocam Falso Brilhante como o melhor disco da carreira de Elis, mas daí, Elis resolve mudar tudo, sair da pancadaria sonora que esporreou na cara do ouvinte das duas primeiras canções e mudou totalmente para o pampa argentino, emulando Mercedes Sosa no sucesso “Los Hermanos”, de Atahualpa Yupanqui, mergulhando no bumbo-leguero governante de uma milonga fabulosa, arrepiante, que atiçou todo o meu sangue gaúcho e fez-me apaixonar por Elis. Quando o jazz-samba psicodélico de “Um Por Todos” passeou pela sala, eu já estava tocando minhas air sticks e os teclados viajavam fortemente na minha cabeça. Mas peraí, Elis não era samba? Nada a ver. César Camargo Mariano mudou a carreira de Elis, trazendo a genialidade de compositores como o citado Belchior, João Bosco e Chico Buarque para a maior intérprete do Brasil, quiçá do mundo. O Lado A encerra-se com o espetáculo emocional de “Fascinação”, e ali já estou de joelhos orando pela minha vida e pagando meus pecados por não ter me entregue antes à Elis. No lado B, uma ampliação de tudo o que ouvi no lado A, e para encurtar a conversa, digo apenas que esse é o melhor disco brasileiro em todos os tempos. Que mais e mais pessoas saiam do preconceito e possam absorver uma intérprete fenomenal, acompanhadas de músicos fenomenais, que duvido encontrar em outro disco lançado por nossas terras brazilis.


Micael: Sempre gostei muito da voz de Elis, talvez a maior cantora que a minha geração e as posteriores já viram! Mas nunca tive paciência para seus discos, muito por causa de minhas primas, que queriam me forçar a ouvir a “pimentinha” na mesma época em que eu descobria Dead Kennedys, Ramones, Sex Pistols, Agent Orange e afins… Só que eu não sou louco de dizer que um disco que tem “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida”, “Fascinação” e as belas versões de “Gracias a la Vida” e “Los Hermanos” (além das bucólicas e quase incógnitas “Quero” e “Jardins de Infância”, que quase ninguém cita quando se refere a esta obra) seja desprovido de atributos! Não é o tipo de música que eu gosto, mas sua presença dentre os dez mais da década de 1970 não causa mácula nenhuma a esta lista!


Ronaldo: A maior, mais brilhante e verdadeira aproximação da cantora com a música pop. Só pelas duas primeiras músicas, já entraria nos anais da música daquela década e continuamente sendo tocadas por esses anos todos a fio. Não que seja o melhor trabalho da cantora, mas lhe permitiu atingir um novo público. Claro, também não se pode deixar de falar de seu toque e interpretação totalmente peculiares, de arrepiar os cabelos.



*Krig-ha, Bandolo! empatou com o disco Falso Brilhante, mas venceu no critério-desempate de ter mais citações entre os consultores.


Listas individuais
africa-brasil-W320Bernardo
1. Novos Baianos – Acabou Chorare2. Jorge Ben – África Brasil
3. Caetano Veloso – Transa
4. Tim Maia – Racional Vol. 15. Raul Seixas – Krig-ha, Bandolo!
6. Chico Buarque – Construção
7. Milton Nascimento & Lô Borges – Clube da Esquina
8. Os Mutantes – Jardim Elétrico
9. Jards Macalé – Aprender a Nadar
10. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
Tim_Maia_1971.jpegBruno
1. Arnaldo Baptista – Lóki?!
2. Secos & Molhados – Secos & Molhados
3. Os Mutantes - Jardim Elétrico
4. Tim Maia – Tim Maia (1971)5. Paulinho da Viola – Dança da Solidão
6. Novos Baianos – Acabou Chorare
7. Jards Macalé – Jards Macalé
8. Milton Nascimento & Lô Borges - Clube da Esquina
9. Sérgio Sampaio – Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua
10. Raul Seixas – Gítâ
GitaDavi
1. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
2. Novos Baianos – Acabou Chorare
3. Rita Lee & Tutti Frutti– Fruto Proibido
4. Raul Seixas – Gitâ
5. Roberto Carlos – Roberto Carlos (1977)
6. Guilherme Arantes – Coração Paulista
7. Pepeu Gomes – Na Terra A Mais De Mil
8. Ney Matogrosso – Agua do Céu/Pássaro
9. Elis Regina – Falso Brilhante
10. Gilberto Gil – Refazenda
1381159624_folderEudes
1. Milton Nascimento e Lô Borges – Clube da Esquina
2. Arnaldo Baptista – Lóki?!
3. Erasmo Carlos - Carlos, Erasmo
4. Rita Lee & Tutti Frutti – Fruto Proibido
5. Egberto Gismonti – Corações Futuristas
6. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
7. Som Imaginário – A Matança do Porco
8. Jorge Ben – Tábua de Esmeralda
9. A Barca do Sol – Durante o Verão
10. Roberto Carlos – Roberto Carlos  (1971)
Gilberto Gil - Expresso 2222 - Front (2-2)José Leonardo
1.Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
2. Arnaldo Baptista – Lóki?!
3. Raul Seixas – Krig-Ha, Bandolo!
4. Novos Baianos – Acabou Chorare
5. Tim Maia – Tim Maia (1971)
6. Caetano Veloso – Transa
7. Rita Lee – Fruto Proibido
8. Mutantes – Jardim Elétrico
9. Gilberto Gil – Expresso 2222
10. Jards Macalé – Jards Macalé
som-imaginario-matanca-do-porco1Mairon
1. Elis Regina – Falso Brilhante
2. Arnaldo Baptista – Lóki?!
3. Som Imaginário – A Matança do Porco
4. Os Mutantes - E Seus Cometas no País dos Bauretz
5. Recordando o Vale das Maçãs – As Crianças da Nova Floresta
6. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1978)
7. O Terço – Terço
8. O Peso – Em Busca do Tempo Perdido
9. Novos Baianos – Acabou Chorare
10. Raul Seixas – Novo Aeon
200px-TudoFoiFeitoPeloSolMicael
1. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
2. Mutantes – Tudo Foi Feito Pelo Sol
3. Secos & Molhados – Secos & Molhados (1974)
4. Som Nosso de Cada Dia – Snegs
5. Os Mutantes – Ao Vivo
6. Arnaldo Baptista – Lóki?!
7. Mutantes – Jardim Elétrico
8. Tim Maia – Racional I
9. Raul Seixas – Krig-há, Bandolo!
10. Recordando o Vale das Maçãs – As Crianças da Nova Floresta
R-1845309-1293886217Ronaldo
1. Milton Nascimento & Lô Borges – Clube da Esquina
2. Som Nosso de Cada Dia – Snegs
3. O Terço – Criaturas da Noite
4. Novos Baianos - Acabou Chorare
5. Caetano Veloso – Transa
6. Sá, Rodrix & Guarabyra – Terra
7. Gal Costa – Fa-tal: Gal a Todo Vapor
8. Nelson Ângelo & Joyce – Nelson Ângelo & Joyce
9. A Barca do Sol – A Barca do Sol
10. Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido   

7 comentários:

  1. Li tudo,adorei. O Álbum da Elis de 71 também é bem pauleira,Ouçam 'Cinema Olympia'.E o último 'Trem Azul',não é rock,mas é bem pop.

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  2. Muito engraçado e estranho alguns colaboradores do blog jogarem água fria,tipo,não gosto,não curto,mas,talvez...

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    1. Isso é normal no site Consultoria do Rock, meu caro, onde colaboro também. Abraços e obrigado por suas contribuições e comentários.

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  3. Que postagem fantástica. Vou dar minha humilde contribuição: Paulinho da Viola - Nervos de Aço (1973). Recomendo bastante.

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  4. senti falta do 20 palavras ao redor do sol, da catia de frança.

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    1. Infelizmente sempre fará falta algum disco né? Abraços

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