domingo, 27 de março de 2016

Melhores de Todos os Tempos: Brasil - Década de 90

Igor Cavalera, Andreas Kisser, Max Cavalera e Paulo Jr.


Por Mairon Machado
Com participação de Alisson Caetano, André Kamisnki, Bruno Marise, Davi Pascale, Leonardo Castro e Micael Machado

Como de costume, encerrado mais uma década de Melhores Discos de Todos os Tempos, escolhemos os melhores discos brasileiros lançados naquela década. Para os que não acompanharam essa série antes da Uol Host limar tudo do ar, já rolaram por aqui Tropicália ou Panis Et Circensis (década de 60), Secos & Molhados (década de 70) e Cabeça Dinossauro (década de 80).

Coube ao grupo de Thrash Metal Sepultura encabeçar a lista da década de 90. Para alguns consultores, não é justo a escolha de um grupo de renome internacional para as listas, mas apesar disso, Chaos A. D., o clássico disco dos mineiros lançado em 1993 arrancou em disparada com dois consultores colocando-o no topo de suas listas, e depois foi só questão de garantir a posição.

Fechando o pódio, dois discos bastante controversos, no caso o pesadíssimo álbum Titanomaquia, do Titãs, e o humor descabido do Mamonas Assassinas. O complemento da lista traz dois veteranos do BRock (Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii), os inovadores Raimundos e Chico Science & Nação Zumbi, a excelência progressiva do Bacamarte e duas surpresas: Los Hermanos e Arnaldo Antunes. Confira a ordem final, os comentários dos participantes e, claro, aproveite para deixar a sua lista, críticas e elogios nos comentários.

Lembrando que a pontuação foi feita seguindo o sistema de pontos da Fórmula 1.



Sepultura - Chaos A. D. [1994] (65 pontos)

Alisson: Acho que Roots representa mais a música brasileira como um todo, mas vá lá, é outro clássico dos mineiros e um dos discos mais influentes da história do metal mundial. Qual o problema em ele tomar o pódio para si?

André: E a pergunta que não quer calar: por que não Arise (1991) ou Roots (1996)? O disco é muito irregular, mistura boas faixas com outras mais fracas e os dois discos que citei aqui são muito superiores. Não chego a desgostar completamente do álbum, mas entre uma paulada thrash e o disco que dizem que fundou o nu metal (mas que diferente da maioria das bandas que se dizem influenciadas, era excelente), optar pelo meio termo me soa estranho.

Bruno: Reproduzo meu comentário na edição de 1993 da série Melhores de Todos os Tempos: "Consagrados com o petardo Arise, o Sepultura resolveu experimentar em seu álbum seguinte e cometeu mais um clássico. Chaos A.D. nos presenteia com a agressividade e garra de sempre, com alguns detalhes que dão um tempero especial à bolacha, seja no uso de percussões (“Refuse/Resist”), no hardcore “Biotech Is Godzilla”, com direito a letra de Jello Biafra, na instrumental e totalmente acústica “Kaiowas” ou no belo cover do New Model Army, “The Hunt”. O thrash metal tradicional dá espaço a momentos mais cadenciados e elementos do groove metal, que estava em alta na época. As composições são o melhor que o Sepultura pode oferecer, com a abordagem lírica curta e grossa de Max, botando o dedo na ferida ao abordar opressão policial, conflitos religiosos, censura, assassinatos em massa e guerra biológica. É um orgulho imenso ver o que o Sepultura produziu quando estava no auge, e ao mesmo tempo muito triste saber que a banda acabou quando estava a caminho de se tornar um gigante do heavy metal".

Davi: Chaos A.D. mostra o auge do Sepultura. O grupo atravessava uma fase mágica. Aqui, deixavam a velocidade um pouco de lado. Começavam a apostar mais no groove, a fazer arranjos mais elaborados. Buscaram um lado mais experimental. Foi aqui também que fizeram suas primeiras experiências com elementos regionais (que se intensificaria no Roots). O grupo parecia inatingível e poderoso. “Refuse/Resist”, “Territory”, “Slave New World” e “Kaiowas” são clássicos absolutos. Petardos como “Amen”, “Propaganda” e “Manifest” levantam até defunto.

Leonardo: O auge criativo da banda. Chaos A. D. era pesado, moderno e inovador. Deixando um pouco de lado o thrash metal técnico e a velocidade de seus 2 discos anteriores, o Sepultura passou a apostar mais nos riffs de guitarra mais grooveados, com uma maior influência de hardcore e até alguns elementos industriais e outros de música brasileira. O resultado foi sensacional, e o track list do disco fala por si só, com clássicos como "Territory", "Refuse/Resist" e "Propaganda". Talvez o melhor disco de metal dos anos 90.

Mairon: Um primeiro lugar esperado, que causou muito estardalhaço quando de seu lançamento. Os mineiros fizeram um de seus melhores trabalhos com Andreas Kisser, despejando peso e pancadaria com a inclusão de percussão na introdução da clássica "Refuse/Resist". Tem vários momentos interessantes, com o peso de "Amen" sendo um dos melhores, assim como as covers para "Biotech Is Godzilla" (original do Dead Kennedys) e "The Hunt", que ficou similar, mas não melhor, do que a bela versão original do New Model Army. O que Igor Cavalera está tocando neste disco novamente é um absurdo, principalmente na pancada "Propaganda" ou na destruidora "Clenched Fist". No geral, o grupo sai um pouco do thrash e dá um salto no groove metal, algo que se tornaria uma banalidade para a banda a partir de Roots, com destaque para a instrumental "Kaiowas". Para mim, o último grande disco dos mineiros, que depois perderam-se em um mar de invenções que nunca mais me conquistou. Justo primeiro lugar, mesmo não tendo votado nele por questão pessoal.

Micael: Para mim, este é não só o melhor disco do Sepultura, mas o melhor disco de heavy metal de uma banda brasileira em todos os tempos, ao lado do Theatre of Fate do Viper. A única ressalva que eu faço é para a música “Propaganda”, da qual não gosto muito. De resto, é tudo perfeito, desde a cover do New Model Army (“The Hunt”) à acústica Kaiowas, da clássica trinca de abertura (“Refuse/Resit”, “Territory” e “Slave New World”) à crítica de Manifest e “Biotech Is Godzilla”, além de uma das faixas que mais gosto na discografia do grupo, a arrastada e pesadíssima “We Who Are Not As Others”. Primeiro lugar merecidíssimo, dado a um verdadeiro clássico do heavy metal mundial!


Titãs - Titanomaquia [1993] (40 pontos)

Alisson: Não, este não é um disco injustiçado. Ele é apenas um disco que mescla boas faixas com outras sem sentido em sua existência. A crítica pura e simples em a banda embarcar na onda grunge é infundada – jamais se esqueçam da presença do disco grunge do Kiss nas listas de melhores –, o que importa mesmo é se funcionou, e neste sentido, o saldo é mais negativo que positivo. A produção do Jack Endino deu uma levantada e tanto no som do grupo. Guitarras explosivas, bateria na cara e som encorpado. O grande ponto é a capacidade composicional do grupo. Com a saída de Arnaldo Antunes (o melhor letrista e compositor que já passou pela banda), as letras bem sacadas deram lugar para críticas puerís, simplórias e mal acabadas ou, por vezes, são letras que não tem sentido algum. Dos poucos momentos de qualidade, destaco a única contribuição de Nando Reis, “Hereditário”, a urgência de “Agonizando” e a estranheza de “Tempo para Gastar”. De resto, são faixas forçadas (“Será que é isso que eu Necessito”), estranhezas mal acabadas (“Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguido de Orgia”) e outras que são simplesmente ruins (“Taxidermia” e “Disneylândia”).

André: Melhor disco dos Titãs, de longe. Mais pesado, mais ácido, mais inspirado, a banda chega aqui em seu auge criativo e que, aparentemente, este disco serviu de inspiração a voltarem com o recente Nheengatu (2014). Jack Endino deu o que os caras queriam e o disco agora é bastante cultuado pelos fãs, embora na época tenha fracassado em vendas devido a banda estar menos radiofônica e mais hard rock. A faixa “Agonizando” é a que praticamente define o álbum.

Bruno: A tentativa de surfar a onda grunge e fazer a banda soar mais pesada. Até que é bacaninha.

Davi: Ainda é um dos meus discos favoritos do Titãs. Sujo, agressivo, com as guitarras falando alto. Nessa época, Titãs era meio que uma unanimidade entre os rockers. Era difícil encontrar algum jovem roqueiro que torcesse o nariz para a banda. Na verdade, isso começou um pouco com esse disco. Contando com a produção do lendário Jack Endino, Titanomaquia trazia um peso até então inédito entre os grupos mainstream brasileiros. Muitos acusaram o grupo de quererem se apropriar da cena grunge para se manterem na mídia. Tendo se apropriado ou não, o álbum é repleto de momentos únicos como “Será Que É Isso Que Eu Necessito”, “Taxidermia”, “Estados Alterados da Mente”, “Agonizando” e “Nem Sempre Se Pode Ser Deus”. Em seu primeiro trabalho pós-Arnaldo, os Titãs ainda soavam relevantes e perigosos. Discaço!

Leonardo: Depois de flertar com todos os estilos possíveis e imagináveis nos anos 80, os Titãs decidiram apostar em um formato mais direto, pesado e agressivo. O resultado já havia sido bem satisfatório no criticado Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, mas foi em Titanomaquia que todas as peças se encaixaram. Produzido por Jack Endino, o álbum misturava riffs nervosos, vocais mais agressivos e refrões fortes, como nas excelentes "Será Que É Isso O Que Eu Necessito" e "A Verdadeira Mary Poppins". Pena que a banda optaria por investir em músicas acústicas com letras de auto-ajuda em um futuro não tão distante, tornando-se uma das bandas mais chatas do Brasil...

Mairon: Esse clássico já deveria entrar aqui só por conta do antológico texto de Micael Machado, que praticamente colocou a Consultoria entre os principais sites do país, e durante muito tempo foi o mais acessado e comentado por aqui, mas além disco, é um álbum que marcou o fim da melhor fase da banda. Sem sentir a ausência de Arnaldo Antunes, o agora hepteto solta o braço e o verbo em um disco hemorrágico e visceral, criando petardos como "Será Que É Disso Que Eu Necessito?", "Nem Sempre Se Pode Ser Deus", "A Verdadeira Mary Poppins" ou "Taxidermia". A letra de "Disneylândia" é de uma excelência exclusiva, enquanto a de "Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia" é apavorante para quem gravou "Família". O ritmo de "Estados Alterado da Mente", "Agonizando" - Charles Gavin detonando - "Felizes São Os Peixes" surpreende para quem ouviu o grupo cantar "Sonífera Ilha" em seu início de carreira, ou conheceu o grupo com a melosa "Epitáfio". Ainda temos "De Olhos Fechados", "Fazer O Quê?" e "Tempo Pra Gastar" complementando um álbum sensacional, fácil Top 3 dos paulistas, e que lamentavelmente, nunca mais teve algo se quer perto, mesmo o aclamado Nheengatu. É o que o Anônimo diz, o Titãs podia fazer música boa, mas daí resolveu gravar "Epitáfio" ...

Micael: É praticamente consenso entre os fãs dos Titãs que seus melhores discos sejam Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Destes no País dos Banguelas (embora alguns, de forma incompreensível para mim, prefiram Ô Blesq Blom a eles). Pois, para mim, Titanomaquia está no mesmo nível de qualidade daqueles dois, sendo indiscutivelmente o mais pesado registro dos paulistas. Se eles embarcaram na “onda grunge” para não sair da moda, se trouxeram um produtor estrangeiro “badalado” só para chamar mídia, e se gravaram um disco “pesado” só porque o mercado “pedia” algo assim, nada disso me importa. O que é fato é que, sejam quais forem os motivos, este é um álbum fantástico, atingindo um nível que nunca mais os Titãs conseguiriam superar, se aproximando apenas no recente Nheengatu, onde, não por coincidência, a “veia pesada” do grupo voltou a aparecer. Um registro excelente, totalmente digno de constar deste lista!


Bacamarte - Sete Cidades [1999] (37 pontos)

Alisson: Não sou fã de rock progressivo. Confesso desde já. Ouvi com boa vontade, já que gosto do Depois do Fim. Mas o impacto não foi o mesmo. Disco de prog padrão. Pra quem é fã die-hard do estilo, é prato cheio. Pra quem não se impressiona com esse tipo de som, não será aqui que irá mudar sua vida.

André: Muito mais um projeto solo de Mario Neto do que um disco da banda Bacamarte, acho até injusto compará-lo ao divino Depois do Fim (1983). O que temos em mãos é um lindo álbum de maioria instrumental em que a guitarra, teclado e flauta se sobressaem em criar harmonias instigantes, melodiosas e também com a tradicional energia já presente no velho Bacamarte que conhecemos. Mario Neto não se destaca cantando, mas dá para se acostumar com o tempo. Aprecie “Espírito da Terra”, “Ritual da Fertilidade” (que trabalho percussivo brilhante!) e a longa “Canto da Esfinge & Portais”, além da minha favorita “Mirante das Estrelas” sem moderação.

Bruno: Não é minha praia.

Davi: Na real, esse não é um disco do Bacamarte. É um álbum solo do Mario Neto. Gravou o disco praticamente sozinho. Somente nas gravações do teclado que teve o auxílio do músico Robério Molinari. O resultado final, contudo, é simpático. Continuava bebendo na fonte do rock progressivo. Disco bem viajadão. O trabalho de guitarra é excelente. Trabalho de bateria muito bom também. Minhas faixas preferidas são “Filhos do Sol” e “Mirante das Estrelas”.

Leonardo: Belíssimo disco de rock progressivo, com melodias marcantes, ótimo trabalho de guitarra e um clima melancólico irresistível.A maior surpresa da lista!

Mairon: Sete Cidades foi um disco que chocou aos fãs do Bacamarte em 1999. Quando ninguém esperava, Mário Neto voltou praticamente sozinho (acompanhado apenas de Robério Molinari nos teclados) e gravou esse incrível registro, mas que como eu disse, em 1999 surpreendeu, dessa feita negativamente, já que muitos esperavam algo na linha de Depois do Fim, um dos melhores álbuns de rock progressivo do mundo. Porém, como um bom vinho, Sete Cidades envelheceu muito bem pro meu paladar, e foi depois que vi o álbum ser interpretado na íntegra pelo grupo, mas com a voz de Jane Duboc, que a ficha caiu. Ela transformou canções interessantes, como a intrincada "Filhos do Sol", a singela e emocionante "Carta" e principalmente, a linda "Espíritos da Terra", Sete Cidades é um disco fantástico, que teve o azar de não ter a voz de Jane Duboc nas canções com letras, e que comprova como o brasileiro dá poco valor para músicos de altíssima capacidade, como Mário Neto. O homem é um monstro nas seis cordas, a começar com a delicadeza do violão clássico da instrumental "Portais" já mostra o que temos de mais valioso neste que é um dos músicos mais competentes, talentosos e virtuosos do Brasil, ao mesmo tempo que é talvez o mais injustiçado, já que o cara toca demais, e para quem conhece sua história particular, deve valorizar ainda mais todo o trabalho que ele fez, até por que o homem já passou por coisas que até o coisa-ruim duvida. Ainda com as canções instrumentais, "Mirante das Estrelas" é um frenesi entusiástico que  impressiona pela velocidade dos dedilhados de Mário, "Canto da Esfinge" é uma obra complicadíssima, facilmente candidata a Maravilha Prog tanto pela velocidade de Mário no violão, belo brilhante momento clássico na parte central ou pelas passagens de pura perplexidade musical que o músico entrega ao ouvinte, em uma canção mutante que transforma-se diversas vezes em seus mais de doze minutos de duração, impressionantes, enquanto "Ritual da Fertilidade" mostra um show percussivo que faz o Sepultura de Roots corar de vergonha, pois esse é uma mistura de tribal com samba que fica bem mais brasileira do que o grupo tentou fazer. Muito bom ver que os dois únicos discos do grupo estão em ambas as listas de melhores de suas respectivas décadas, atestando que no rock progressivo brasileiro, esse foi o maior dos grupos.

Micael: Este disco é quase um álbum solo de Mario Neto, músico talentosíssimo, mas que neste segundo registro do Bacamarte não chegou nem perto da qualidade do primeiro registro do grupo. É um belo disco de rock progressivo, mas sua inclusão entre os dez melhores da década de 90 me parece um pouco exagerada!


Raimundos - Raimundos [1994] (36 pontos)

Alisson: Sei lá, é divertido, apenas. O jeito nordestino de cantar do Rodolfo confere ares mais escrachados ao disco. É legal, mas pra melhores... sei lá.

André: Sempre tive problemas com o Raimundos devido a razões pessoais: minha irmã com 11 anos tocava o Só no Forévis (1999) - logo que o disco foi lançado - diariamente e em alto som, o que me causou traumas psicológicos irreversíveis atualmente que meio que sinto alergia a banda, mesmo em seus trabalhos anteriores costumeiramente classificados como melhores. No momento em que comecei a tocar este auto-intitulado, terríveis memórias dos vocais de Rodolfo vieram a minha mente, o que tive que parar imediatamente e pular para o próximo disco a ser comentado.

Bruno: Rock ogro, sujo, barulhento e rasgado. Tudo que a molecada da época precisava. Misturando a pegada do hardcore com as letras sacanas de forró, o Raimundos foi mais uma das bandas que trouxe um sopro de ar fresco para o rock brasileiro, saturado das bandas pasteurizadas e insípidas da onda BRock.

Davi: Álbum de estreia do Raimundos deu o que falar na época. As letras – que giravam em torno de drogas e putaria – se tornaram válvula de escape para os jovens e pesadelo para os pais. A banda era crua, despretensiosa, honesta. Sua sonoridade era simples, porém cheia de atitude. As letras eram escritas sem o menor pudor. Se vestiam como seus fãs, falavam a linguagem de seus fãs. “Puteiro em João Pessoa”, “Palhas do Coqueiro”, “Nega Jurema”, “Be a Ba”, invadiram as programações das rádios. Outras como “Marujo” e “Cajueiro” se tornaram clássicos da banda, mesmo sem nunca terem entrado em uma parada de sucessos. Álbum despretensioso e mágico.

Leonardo: E de Brasilia surgia o maior fenômeno do rock brasileiro dos anos 90. Misturando riffs hardcore com letras que pareciam ter saído de um repente politicamente incorreto, o primeiro disco dos Raimundos é um deleite para os fãs de rock pesado. No futuro a banda teria um retorno comercial maior do que o que obteve com seu disco de estréia, mas poucas vezes repetiria a potência de músicas como "Puteiro Em João Pessoa", "Nega Jurema" ou "Palhas do Coqueiro".

Mairon: Disparado o melhor disco dos brasilienses, e um tapa na cara da geração anos 80, mostrando que o rock nos anos 90 era muito mais pesado, sujo, e com letras ainda mais toscas. "Puteiro em João Pessoa" é um clássico indiscutível, assim como "Selim", a qual sinceramente, acho uma música fraca perto das qualidades enaltecidas nas demais. A pancadaria come solta em "Rapante", "MM's", e o grupo despeja peso em "Bê a Bá" Eu adoro a ingenuidade safada de "Marujo", "Cajueiro" / "Rio das Pedras" e "Palhas de Coqueiro" ou a agressividade de "Bicharada" e "Nêga Jurema", as quais me fazem pensar se, nos dias atuais do politicamente correto, não haveria muitas manifestações contra os Raimundos nas redes sociais. O grupo é uma versão brasileira do Ramones, sem dúvidas, mas mais pesado e escrachado, principalmente nas letras de "Cintura Fina", "Carro Forte", "Deixei de Fumar" / "Cana Caiana" "Minha Cunhada" ou seja, não tem como não gostar. Impressionante que esse vinil tornou-se raridade, mas na época, custava menos que alpiste. Não entrou na minha lista por que muita coisa boa foi lançada nessa década, mas sua presença aqui era quase que obrigatória! Comentei um pouco mais sobre ele na série "Os Sete Pecados do Rock Nacional". Essencial!!!

Micael: Talvez o disco mais importante do rock nacional nos anos 90, apontando o caminho que muitas bandas seguiriam depois, ao mesclar o rock pesado a elementos regionais. E não vou nem entrar no mérito das letras chulas, pois elas poderiam ser sobre qualquer outro assunto que não mudariam a qualidade deste disco, visto serem quase impossíveis de serem entendidas sem o encarte na mão. Perfeito de cabo a rabo, além de ter mais graça em uma única “música-piada” (“Selim”, que nem é para ser uma piada, mas se torna engraçada pela forma com que Rodolfo a canta e por sua letra “pudica” perto das demais) do que toda a carreira dos Mamonas Assassinas, que, por algum motivo obscuro, acabaram entrando nesta lista também. Raimundos é um disco perfeito de cabo a rabo, e tenho dito!


Mamonas Assassinas - Mamonas Assassinas [1995] (34 pontos)

Alisson: Duas palavras: Memória Afetiva.

André: Não vou me estender muito nesse comentário porque já debulhei o disco nos Melhores de 1995: disco engraçado, criativo, bem tocado, sacana e inteligente. Fica registrado aqui a grande admiração que tenho pelos cinco caras de Guarulhos.

Bruno: Rock bem tocado e divertidíssimo. A cara dos anos 90.

Davi: Álbum muito bem feito. Não havia lugar melhor, nem época melhor para surgir um grupo como esse. Os garotos criaram uma banda de sátira. Eles se utilizavam do rock n roll para satirizar outros gêneros musicais. As letras acompanhavam o ar de deboche, com letras extremamente irreverentes, sem se preocupar com a ideia de politicamente correto. O disco fazia piada com todos os temas que hoje são considerados polêmicos: nordestino, homossexualidade, vinha com uma infinidade de palavrões. Ironizavam sertanejos, pagodeiros e metaleiros. Incrível constatar que uma banda que na época soava extremamente inocente, hoje seria apedrejada.

Leonardo: O sucesso que a banda atingiu em seu curto período de existência foi inegável, e por mais que diversas músicas tenham animado de festas infantis a cerimônias de formatura, musicalmente o disco é bastante irregular. Fica o reconhecimento por terem tido a sacada de unir o humor a refrões grudentos, mas estão longe do que de melhor foi produzido na década.

Mairon: Se na edição de 1995 me causou surpresa a entrada desse grandioso álbum, aqui era obrigatória sua inclusão no Top 5. Afinal, quem viveu a infância e a adolescência nos anos 90 acompanhou, mesmo que indiretamente, o crescimento meteórico e o fim trágico de uma banda que não era formada por um bando de palhaços como muitos atestam por aí, mas de cinco garotos talentosíssimos, com Bento Hinoto sendo o principal nas destaques, esbanjando influências de Eddie Van Halen, acompanhado por Dinho, um vocalista performático como poucos que já apareceram no Brasil, aliás, acho que nunca houve ninguém próximo ao que Dinho fazia nos palcos. Meus comentários sobre o álbum iriam tomar laudas e laudas dessas páginas, então, deixo o link dos que fiz para a edição de Melhores de 1995, e vou me divertir com "Robocop Gay", "Boys don't Cry", "Uma Arlinda Mulher", "Débil Metal", "Lá Vem O Alemão", "Jumento Celestino" e claro, as clássicas "Pelados em Santos" e "Vira-Vira". Mas deixo uma pergunta: como uma banda tão fraca como o Utopia tornou-se tão interessante como os Mamonas? Davi Pascale, me explique ..

Micael: Lembro quando o Mamonas surgiu na televisão, com "Vira-Vira" e suas fantasias. Achei engraçado e interessante, mas depois o grupo teve uma hiperexposição em toda a mídia que existe, o que me causou um “bode” com o grupo que nunca permitiu que eu gostasse de sua música. Não consigo achar nem atraente, nem engraçado, e não consigo me juntar aos muitos fãs que lamentam sua ausência nos dias de hoje, pois, para mim, não fazem falta alguma. Mesmo assim, reconheço a qualidade de "Débil Metal", a única composição da qual nunca consegui “não gostar” em um disco que, por motivos totalmente extramusicais, não consigo apreciar de forma nenhuma! A entrada deste registro na lista, deixando de fora discos como os de estreia do Planet Hemp e do Charlie Brown Jr. (que possuem muito mais qualidade e importância do que a estreia dos paulistas) só pode ser devido a algum motivo obscuro que ainda será esclarecido em um futuro distante!


Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos [1996] (27 pontos)

Alisson: Meu voto foi para o Afrociberdelia, mas Da Lama ao Caos merece este posto tanto quanto o seguinte. O manguebeat não foi apenas uma forma cultural. Foi também o grito de um povo que carecia por atenção do resto do Brasil. Criativo por natureza, Science fez uma verdadeira salada cultural. Jogou, no mesmo caldeirão, baião, afrobeat, música tradicional nordestina e maracatú. O resultado é um disco deliciosamente viciante, impressionante e um dos discos mais criativos que a música brasileira já pariu.

André: Reouvindo depois de uns meses, ainda acho um disco legal apesar de estar bem longe de minhas preferências musicais. Os caras tiveram criatividade de conseguir misturar tantas influências regionais diferentes com o rock e assim fizeram uma identidade própria. Uma pena que seus “influenciados” jamais conseguiram chegar aos pés em termos de qualidade, ficando naquela linha que só agrada a universitários modernosos. Se gosta desse tipo de som, mantenha-se com os melhores do manguebeat.

Bruno: Uma injeção de ânimo na música brasileira, diretamente de Recife. Misturando guitarras pesadas, percussão, hip-hop, música eletrônica, grooves funkeados e as letras afiadas de Chico, a Nação Zumbi colocou Pernambuco de vez no mapa com essa estreia inspirada.

Davi: Belíssimo álbum de estreia da rapaziada do manguebeat. Infelizmente, Chico Science nos deixou uma obra muito pequena. Teve tempo de gravar apenas dois CD´s. Da Lama Ao Caos, álbum que é símbolo do manguebeat (ele e Samba Esquema Noise são os primeiros discos que vem à mente quando alguém comenta sobre o movimento) traz alguns dos maiores hits do grupo como “A Cidade”, “Rios, Pontes e Overdrives”, “Da Lama Ao Caos” , “Samba Makossa” e “A Praieira”. O grupo criou uma sonoridade própria incorporando elementos do rock, da musica afro, do eletrônico. Musica universal misturada com música regional. Clássico!

Leonardo: Ainda que o estilo da banda não esteja entre os meus favoritos, não tem como negar o frescor e inovação que a banda apresentava em seu disco de estreia. A mistura de ritmos regionais com funk e rock era energética, pesada e marcante, e influenciou toda uma geração.

Mairon: Quando esse álbum entrou na lista de melhores de 1994, disse que não gostava do álbum, mas entendia se ele entrasse na lista de Melhores da década de 90. Não votei no disco, continuo não gostando dele, mas seria muita hipocrisia e mediocridade minha não reconhecer a importância desse clássico para a música nacional. "A Praiera" é de dar dó, mas vamos lá, a partir daqui muita coisa mudou no cenário do rock, então, ok, seja bem-vindo novamente a lista de Melhores, dessa vez em um local justo.

Micael: O álbum mais importante do “movimento manguebeat”, uma revolução na música brasileira que foi “sabotada” pela trágica morte de Chico em 1997. Se não fosse este fato, acredito que as bandas de Recife teriam hoje uma importância muito maior do que possuem. Este registro, que tem forte ênfase nos elementos percussivos, além de revelar o excelente guitarrista Lúcio Maia (que depois gravaria o álbum de estreia do Soulfly), contém músicas do porte de "A Cidade", "A Praieira", "Samba Makossa", "Da Lama ao Caos" e "Rios, Pontes & Overdrives", faixas que fazem com que ele não possa ser ignorado de forma nenhuma. Presença mais do que merecida na lista.



Legião Urbana - V [1991] (27 pontos)

Alisson: Mistura de The Smiths e Joy Division. Por que isso seria tão impressionante? Algumas letras do Renato são realmente muito boas, mas outras sequer fazem muito sentido. Não estou dizendo que é ruim, estou questionando o seguinte: Por que o endeusamento?

André: A crise econômica do governo Collor, somados com o fato de Renato Russo descobrir ter contraído AIDS e seus problemas com drogas e o alcoolismo se acentuarem trouxeram músicas com uma temática mais pesada e de certa melancólica por parte da banda. Eram muitas cacetadas de uma vez só na mente de Russo, o que acabou se traduzindo em música. É um bom disco, também com uma pegada mais progressiva, com “Teatro dos Vampiros” e “Vento no Litoral” se tornando grandes clássicos do rock brasileiro.

Bruno: Minha relação com Legião Urbana se limita a algumas poucas músicas. Não gosto de nenhum álbum inteiro.

Davi: O quinto álbum da Legião surpreendeu todos na época. Depois de vir com um álbum declaradamente pop (As Quatro Estações) que continha um de seus principais hits (“Pais e Filhos”), quando todos esperavam um disco mais do mesmo, afim de repetir o estrondoso sucesso, fizeram exatamente o oposto em V. Se utilizando do progressivo como referência, criaram um álbum melancólico, repleto de músicas longas. As letras de Renato Russo continuavam sendo um capítulo à parte, mesmo assim o CD passou batido na época. O disco não teve single (“Teatro dos Vampiros” fez sucesso no Acústico MTV), não teve clipe. As músicas não eram exatamente comerciais. Realmente uma pena. O disco mantinha o nível de excelência dos trabalhos anteriores e contava com canções excepcionais como “Metal Contra As Nuvens”, “Vento no Litoral” e “L´Age D´Or”. Vale a pena reescuta-lo.

Leonardo: Sempre considerei a Legião Urbana a banda mais superestimada do Brasil. As letras de Renato Russo soam tão forçadas quanto a sua performance vocal, e o instrumental do grupo sempre foi extremamente limitado. Ainda assim, em todos os seus discos havia algo que se destacasse positivamente. Mas este V soa ainda mais cansativo do que os discos anteriores da banda. A maior parte das musicas é longa, com letras depressivas, e acabam tornando a audição do disco extremamente cansativa. Passo.

Mairon: Podem xingar a vontade, mas V é um dos melhores discos do rock nacional, e fim de papo. Tive a oportunidade de viajar em sua história também na série "Os Sete Pecados do Rock Nacional", e relendo a mesma, constato que muito do que viajei naquela época tem possibilidades de serem reais. Mas vou ficar apenas com a música. O grupo de Renato Russo tentou fazer um disco inspirado no progressivo, algo difícil para quem não tinha talento musical suficiente como Marcelo Bonfá e Renato Russo, e saiu com seu quinto álbum, com a capa lembrando Lark's Tongues in Aspic (King Crimson) e dois lados muito distintos. Enquanto o lado B traz uma variação de canções, que vão das alegres "Sereníssima" e "O Mundo Anda Tão Complicado", essa a mais fraca do disco, abrindo com a singela "Teatro dos Vampiros", cuja versão de Música p/ Acampamentos eu acho ainda melhor, chegando ao Thrash de "L'age D'or", uma paulada rasgada com uma surpreendente performance de Villa-Lobos, passando pela emocionante e dolorida "Vento no Litoral", não indicada para um possível suicida que acabou de perder um grande amor, e concluindo com a instrumental "Come Share My Life", o lado A é o suprassumo da criatividade que o grupo conseguiu ter. Afinal, a vinheta medieval "Love Song", ou a bela instrumental "A Ordem dos Templários", na qual Renato mostra seus dotes nos teclados, servem como belos aperitivos para as viagens de "A Montanha Mágica" e "Metal Contra as Nuvens". Enquanto os sete minutos da primeira falam do difícil relacionamento de Renato com às drogas, a segunda é um tour de force de mais de dez minutos repletos de variações, contando sobre os problemas fiscais que o Brasil da era Collor passava, com um instrumental incrivelmente fácil, mas ao mesmo tempo riquíssimo de harmonias e melodias, tornando-se fácil a melhor canção de toda a carreira do Legião. Não sou fã da banda, não aceito essa idolatria exacerbada à Renato Russo, mas senti muito a falta desse disco na lista de Melhores de 1991. Aqui ele entrou com méritos, e julgo que talvez até merecesse uma posição maior. Discaço!

Micael: “Uma espécie de Low, de David Bowie, mas com o lado difícil à frente”. Foi mais ou menos assim que a revista Bizz definiu este álbum ainda antes de ele ser lançado. Realmente, o lado A de V é bastante diferente de tudo que a Legião havia gravado antes, mais triste, depressivo, arrastado e “progressivo” do que seus fãs esperariam. O que não o impede de ser um dos melhores registros dos brasilienses, e talvez, no “conjunto da obra”, o melhor lado de um LP deles. O Lado B já é composto por canções mais “comuns”, onde os destaques ficaram para "O Teatro dos Vampiros", a "bobinha" "O Mundo Anda Tão Complicado" e a lindíssima "Vento no Litoral" (uma composição perfeita no que se propõe, triste ao extremo, mais tão bela quanto), mas minhas favoritas sempre foram "Sereníssima" e "L'âge D'or". Como último comentário, gostaria de registrar que acho "Come Share My Life" chata demais, mas ela funciona bem como “música de encerramento” de um dos álbuns mais diferentes da minha banda nacional favorita!


Engenheiros do Hawaii - Várias Variáveis [1991] (26 pontos) *

Alisson: Sempre me soaram extremamente medíocres. Porém, ao contrário do Los Hermanos, que também são elevados ao posto de deuses por seus fãs insuportáveis, Humberto Gessinger e cia. pelo menos sabem tocar seus instrumentos (e, vá lá, Humberto canta bem). A produção não apresenta novidade alguma (é aquele padrão de discos noventistas). As músicas ficam no mesmo pé: não apresentam nada de grandioso ou coisa do tipo.

André: É curioso que além de pesado, é também o disco mais “progressivo” do Engenheiros. Não sei ao certo se essa é a melhor definição para ele, mas é o que percebo. E talvez por isso, seja o meu preferido da banda. Há influências claras de Rush e de algumas progressivas britânicas em sua sonoridade. Não há tantos “clássicos” costumeiramente tocados quando a banda se apresentava ao vivo, mas para mim são as composições mais bem azeitadas e bonitas do Engenheiros. “Quarto de Hotel” com aquela pegada bem rock ‘n’ roll e o baixo lindamente bem colocado e “Curtametragem” deixando os erros lá - o que torna o trabalho até mais espontâneo - e são as faixas mais legais da obra.

Bruno: Uma das piores coisas que surgiram na música brasileira em todos os tempos.

Davi: Sem duvidas, meu álbum favorito do Engenheiros do Hawaii. Comprei esse CD na época e já perdi as contas de quantas vezes ouvi esse disco. Depois do (ótimo) O Papa é Pop, onde abusaram de bateria eletrônica, o trio voltou com uma pegada mais rock n roll. A complexidade dos arranjos, das letras, continuam. Assim como as mensagens subliminares. Tanto em citações quantos em imagens nas capas do disco. Humberto Gessinger sempre foi um cara bem inteligente, nuca entregou tudo de mão beijada. O repertório é espetacular. Difícil escolher uma. Sempre gostei muito de faixas como “Herdeiro da Pampa Pobre”, “Piano Bar”, “Muros e Grades”, “Ando Só” e “Sampa no Walkman”. Belíssimo disco.

Leonardo: Muitas vezes subestimados, os Engenheiros de Hawaii foram responsáveis por alguns dos discos mais legais do pop/rock nacional dos anos 80 e 90. E Várias Variáveis não decepciona, com melodias agradáveis e as letras sempre bem sacadas de Humberto Gessinger.

Mairon: Senti falta dos Engenheiros na lista de Melhores da década de 80, mas eles aparecem aqui com o penúltimo disco da formação Gessinger Licks & Maltz. Fazia tempos que não ouvia Várias Variáveis, do qual tenho "Piano Bar", "Muros e Grades" e "Herdeiro da Pampa Pobre" como principais clássicos - "Piano Bar" aliás é linda, e me apavorei como a letra de "Sonho Popular" é tão perfeita para os dias de hoje. O peso de "Não É Sempre" e "Sala VIP" deve ter assustado aos fãs que estavam acostumados om os eletrônicos que estavam em voga no disco antecessor, O Papa É Pop, e isso fez eu pensar que tenho realmente poucas lembranças desse álbum, com exceção da capa cheia de alusões gaúchas que fez bastante sucesso no Rio Grande do Sul. Gostei das simples "Curtrametragem" e "Descendo a Serra", tendo Gessinger ao piano e Licks ao violão, e que devem ter servido para muito gurizinho metido à besta conquistar uma gatinha em um lual em Atlântida. "Quarto de Hotel", "Museu de Cera" e "Sampa No Walkman" remetem-nos aos discos que a banda gravou na década de 80, sem soarem pesadas e privilegiando as letras trabalhadas de Humberto Gesinger. Nessa época, Gessinger emulava Geddy Lee, tocando teclados com os pés e usando um baixo de dois braços, mas o som não é nada progressivo, com "Ando Só", a vinhetinha "Nunca É Sempre" e as viagens da faixa-título sendo o mais próximo disso. Ainda acho O Papa É Pop melhor, mas é um belo disco para registrar a entrada dos Engenheiros entre os melhores da década de 90.

Micael: Lembro de uma resenha da revista Bizz dizendo que, com este disco, finalmente Humberto Gessinger havia transformado os Engenheiros na banda progressiva que ele sempre sonhou em ter. Particularmente, considero o álbum posterior, Gessinger, Licks & Maltz, bem mais digno desta “honra”, mas Várias Variáveis é mais “redondo” que GL&M, com faixas fortes como "Piano Bar", "Muros E Grades" e "Herdeiro Da Pampa Pobre" (gostaria muito de saber como foi a reação das pessoas de fora do Rio Grande do Sul quando ouviram a versão original do Gaúcho da Fronteira e a compararam à dos Engenheiros, se é que algum dia o fizeram). Minha favorita aqui sempre foi “Ando Só”, que felizmente Gessinger voltou a tocar em suas apresentações como artista solo. Um bom disco, mas que, para mim, marca o início de um declínio de qualidade na carreira dos Engenheiros, que não voltariam mais a gravar discos com a qualidade de seus antecessores.


Los Hermanos - Los Hermanos [1999] (26 pontos)

Alisson: O maior número de desafinações por minuto de música. Não sei como quatro zé ruelas e um cara que sequer sabe cantar direito conseguiram mexer com a cabeça de tanta gente aqui no Brasil

André: Não tenho como negar uma certa admiração minha ao Mairon, nosso consultor mais conhecido e que já está fazendo uma fanbase própria devido aos seus textos ricos e detalhados e um conhecimento enorme principalmente quanto ao rock progressivo. Por tudo isso, ele acaba se tornando um dos pouquíssimos críticos (não conheço outro, talvez seja o único) nessa internet brasileira que é apaixonado pelo Los Hermanos, e que os defende com unhas e dentes já que sabemos o quanto a banda é atacada desde que surgiu. Minha opinião pessoal não difere do que escrevi na estreia do Consultoria Recomenda, de bandas com naipe de metais: tem um instrumental competente, mas suas letras e os vocais de Marcelo Camelo me mantém a léguas de distância.

Bruno: O começo de toda a chatice.

Davi: Esse disco do Los Hermanos sempre considerei mediano. Não mais do que isso. Ok, letras bem escritas, álbum bem gravado. Reconheço. Mas as composições são muito fracas. Parabenizo o grupo pela ousadia de fazer algo diferente do que rolava na época. Ali nos anos 90, tinha virado moda a galera ficar misturando ritmos (principalmente depois da explosão do Raimundos, do Mamonas e do Chico Science) e eles conseguiram uma combinação que não era usual. Misturar hardcore com metais e uma influencia pop. Mas como disse acho a maioria das composições fracas. Milagrosamente, fizeram um dos grandes discos do rock brasileiro no álbum seguinte, mas isso é papo para uma próxima vez.

Leonardo: O estilo da banda, uma mistura de rock depressivo, pseudo-intelectualismo e marchinhas de carnaval, é uma das coisas mais insuportáveis surgidas na cena rock brasileira em todos os tempos. O disco de estreia do grupo é horroroso, piegas e auto-indulgente. E pensar que a coisa ficaria ainda pior nos discos seguintes...

Mairon: Cara, o que falar do melhor disco de estreia dos últimos 36 anos no rock nacional? Tive a sorte de conhecer o Los Hermanos antes da fama de "Anna Julia", através de uma fitinha k7 que me chegou em meados de 1998, com uma apresentação da banda na PUC do Rio de Janeiro. Me surpreendi com o naipe de metais e a pancadaria comendo solta em um hard rock fantástico. Depois, eles apareceram no Programa Livre do Serginho Groismann (o mesmo do Altas Horas), quando ainda no SBT, cantando "Anna Julia", e PQP, como a banda mudou. Daí veio  o primeiro lançamento da banda, esse petardo, e novamente, PQP, que discaço. Ouvia a fita k7 com o disco e mais a cópia do show da PUC direto, e até hoje, é um dos poucos discos que conheço de cor e salteado cada frase, cada melodia, cada harmonia. Esse disco é MARAVILHOSO. O que o grupo criou com os metais e a pancadaria em "Pierrot", "Descoberta", "Azedume", "Lágrimas Sofridas", "Vai Embora" e "Tenha Dó" é simplesmente demais, principalmente por que o baixão de Patrick Laplan ajuda muito para dar peso as cações (pena que ele saiu da banda? Será que não foi melhor?). Impressionante quando rola "Descoberta", "Pierrot" e "Azedume" nos shows, a roda punk rolando entre mauricinhos, patricinhas, GLSs em geral, e todo mundo virando um único Bloco, sem distinção de classe, etnia ou gênero sexual, o Bloco do Eu Sozinho, cantando essas e outras canções a plenos pulmões. Só quem vivenciou um show do Los Hermanos sabe o que é ver um público levando o show. Talvez só a Legião Urbana fizesse algo maior. Não vá achando que irá encontrar tudo no mesmo nível de "Anna Julia" e "Primavera", elas são as mais fracas. Um álbum único na curta discografia dos cariocas, e o que mais me assusta é que, como fã da banda que sou, mesmo considerando Los Hermanos impecável, acho ele o mais fraco dos quatro oficiais, ou seja, como que eles construíram discos tão sensacionais depois dessa MARAVILHA?? E joguem as pedras.

Micael: A estreia dos cariocas é bem diferente do restante de sua discografia, focando essencialmente no hardcore com “letras de corno”, como alguém já definiu jocosamente um dia. O uso diferenciado dos metais dá um charme a mais às músicas, e a “pauleira” “pegando” enquanto as letras tristes vão sendo declamadas formam um contraste interessante, e ajudam a compor aquele que, para mim, é o melhor disco do grupo. Uma pena que ele ficaria marcado apenas por “Anna Júlia” e “Primavera”, duas composições quase alienígenas na discografia da banda. Se você só conhece estas duas, corra atrás do resto, pois irá se surpreender.



Arnaldo Antunes - Nome [1993] (25 pontos) **

Alisson: Os Titãs perderam – e muito – com a saída de Arnaldo. Ele era, disparado, o melhor compositor dentre todos ali. Sua visão inquieta da música proporcionou algumas das melhores composições da história dos Titãs. Tanto é verdade que basta observar os discos que se seguiram após sua saída. Por outro lado, em sua carreira solo, deu vazão a todas as ideias malucas – e boas! – que não conseguiu usar junto da banda paulista. Já em sua primeira investida solo, resolveu chutar o balde com força em um disco de musique concrète. Se escutar este disco esperando algo convencional ou minimamente parecido com os Titãs, vai detestar com todas as suas forças. É preciso mente aberta para escutá-lo. Boa parte das músicas não passam dos 2 minutos de duração. Colagens, vocalizações e experimentos com sons estranhos são pano de fundo para suas letras tortuosas sobre obscenidades, críticas sociais ou simplesmente letras dadaísticas. Dentre todos os discos mais comentados da música brasileira, Nome é um dos que se colocam dentre os destaques não apenas do cenário nacional, mas também da música experimental como um todo. Disparado o melhor, o mais arriscado e o mais visionário disco brasileiro dos anos 90.

André: Sempre gostei das músicas de Arnaldo no Titãs, mas nunca tive qualquer consideração pela sua carreira solo devido as suas escolhas sonoras para compor a maioria dos seus álbuns. Para ele foi uma boa sacada sair da banda porque teria liberdade total para experimentar, mas fico mesmo com suas músicas mais rockeiras de sua banda anterior por questão de gosto. Nome se caracteriza por umas experimentações bizarras, noise como o próprio Arnaldo cafungando no microfone em “Fênis” e uma certa veia alternativa que me incomodam muito. Peço também perdão pelo fato de ser leigo e não entender toda a filosofia por trás da faixa “Armazém”, por exemplo. Pouca coisa se salva como “Direitinho” e “Cultura”. Álbum chatíssimo.

Bruno: Umas das figuras mais insuportáveis da música brasileira.

Davi: Sempre considerei Arnaldo uma das forças criativas por trás dos Titãs. A banda perdeu muito depois da sua saída. Sempre considerei Arnaldo um dos melhores letristas do rock brasileiro também. Portanto, foi com enorme euforia que adquiri esse CD, assim que ele foi lançado. Na época, o CD vinha acompanhado de um livro e de um VHS. Infelizmente, minha expectativa foi por água abaixo depois que coloquei o disco para tocar. Nome é um trabalho difícil, uma audição cansativa, arrastada. Sempre considerei seu disco mais fraco. E não ajudou muito reouvindo agora ele para essa edição. Mas beleza, como já era de se esperar, esse trabalho demonstrou ser um pequeno desvio dentro de uma bonita estrada. Concordo com a escolha do artista, mas não com a escolha do disco.

Leonardo: Letras escatológicas, sonoridade experimental e minimalista. Funcionou diversas vezes com os Titãs, mas aqui tudo soa um pouco desconexo e sem sentindo.

Mairon: Uma viagem sem pé nem cabeça, mas muito interessante de se ouvir. Lembro que "Pouco" fez um sucesso enorme em 1993, e ao ouvir todo Nome, constatei que ela é um ponto fora da curva. São canções curtas, com palavras encaixadas de forma a criar a letra, das quais destacam-se "Armazém", "Fênis","Carnaval", "Dentro", "Soluço" e "Soneto". Optei por esse álbum no lugar de Holy Land por que achei o mesmo bem mais criativo, apesar de que o segundo disco do Angra é tão bom quanto, mas a inteligência maluca de Arnaldo sobressaiu dessa vez.

Micael: Lembro que este lançamento causou impacto por vir acompanhado de uma fita VHS e um livro que “complementavam” o disco, algo bastante incomum na época. A “música concretista com poesias cabeça” feita por Arnaldo em sua carreira solo definitivamente não é a minha praia, e nunca me dediquei a tentar gostar de seus discos, sendo que este não é nenhuma exceção. Mas lembro de que, na época, gostei bastante de “Alta Noite”, embora o restante não me cause emoções maiores que o sono. Mais um disco que entra na lista para afastar outros mais meritórios de estarem aqui. Exijo a instalação de uma CPI nesta eleição fraudulenta, e para ontem!



* Várias Variáveis e Los Hermanos empataram no mesmo número de pontos (27 pontos) e também em indicações (um sexto lugar e um segundo lugar). Por votação interna com os participantes da série, Várias Variáveis ganhou por 5 votos à 2.

** Nome e Holy Land empataram com o mesmo número de pontos (25 pontos) e indicações *cada um recebeu uma indicação na primeira posição). Por votação interna dos participantes da série, Nome ganhou por 4 votos à 3.

Alisson
1. Arnaldo Antunes - Nome
2. Racionais MC's - Sobrevivendo no Inferno
3. Pato Fu - Gol de Quem?
4. Sepultura - Roots
5. Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia
6. Ed Motta - Manual Prático Para Festas, Bailes e Afins, Vol. 1
7. Rebaelliun - Burn the Promised Land
8. Tom Zé - Com Defeito de Fabricação
9. Sarcófago - The Laws of Scourge
10. Angel's Breath - Angel's Breath



André
1. Titãs - Titanomaquia
2. Mamonas Assassinas - Mamonas Assassinas
3. Pato Fu - Televisão de Cachorro
4. Bacamarte - Sete Cidades
5. Index - Index
6. Engenheiros do Hawaii - Várias Variáveis
7. Ira! - Música Calma Para Pessoas Nervosas
8. Márcio Rocha - Juno
9. Acústicos & Valvulados - Acústicos & Valvulados [1999]
10. Quaterna Réquiem - Quasímodo



Bruno
1. Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos
2. Ratos de Porão - Anarkophobia
3. Sepultura - Chaos A. D.
4. Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia
5. Little Quail & The Mad Birds - Lírou Quêiol en de Méd Bârds
6. Mundo Livre S/A - Samba Esquema Noise
7. Raimundos - Raimundos
8. Planet Hemp - Usuário
9. Dead Fish - Sonho Médio
10. Mukeka di Rato – Gaiola



Davi
1. Angra – Holy Land
2. Engenheiros do Hawaii – Várias Variáveis
3. Kid Abelha – Meu Mundo Gira Em Torno de Você
4. Raimundos – Lavô Tá Novo
5. Dr. Sin – Dr. Sin
6. Mamonas Assassinas – Mamonas Assassinas
7. Charlie Brown Jr – Preço Curto, Prazo Longo
8. Rosa Tattooada – Rosa Tattooada
9. Cavalo Vapor – Greatest Little Hits
10. Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama Ao Caos

Leonardo

1. Sepultura – Chaos A. D.
2. Viper – Evolution
3. Angra – Angels Cry
4. Raimundos – Raimundos
5. Dark Avenger – Dark Avenger
6. Sarcofago – The Laws Of Scourge
7. The Mist – The Hangman Tree
8. RDP – Anarkophobia
9. Sepultura – Arise
10. Dorsal Atlantica – Alea Jacta Est


Mairon

1. Bacamarte – Sete Cidades
2. Los Hermanos – Los Hermanos
3. Legião Urbana – V
4. Marcio Rocha – Juno
5. Os Mutantes – O A E O Z
6. Mamonas Assassinas - Mamonas Asssasinas
7. Recordando o Vale das Maçãs – As Crianças da Nova Floresta 2
8. Quaterna Réquiem – Quasímodo
9. Natiruts – Natiruts 
10. Viper – Evolution


Micael

1 - Sepultura - Chaos A. D.
2 - Raimundos - Raimundos 
3 - Titãs - Titanomaquia 
4 - Legião Urbana - V
5 - Planet Hemp - Usuário 
6 - Los Hermanos - Los Hermanos 
7 - Angra - Angels Cry 
8 - Charlie Brown Jr - Transpiração Contínua Prolongada
9 - Racionais MC’s - Sobrevivendo no Inferno 
10 - Chico Science e Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos

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