quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ney Matogrosso: Teatro do Bourbon Country, Porto Alegre, 13/04/2010



Um show poético e de bom-gosto foi apresentado ontem no Teatro do Bourbon Country pelo cantor e intérprete Ney Matogrosso
. Há muito que eu queria ver o artista no palco sem fantasias ou rebolados, apenas interpretando as canções conforme eu passei a admirar o trabalho do mesmo desde o lançamento do excepcional cd Interpreta Cartola, e a turnê do novo disco de Ney, Beijo Bandido, que está em Porto Alegre para três shows (13, 14 e 15 de abril) me proporcionou uma sensação de alegria e encanto.

Exatamente no horário marcado, às 21 horas, Ney subiu ao palco do Teatro do Bourbon Country acompanhado de Leandro Braga (arranjos e piano), Lui Coimbra (cello e violão), Ricardo Amado (violino, percussão e bandolim) e do excelente percussionista Felipe Roseno. Trajando um terno e calça bege claro, camisa branca e uma gravata vermelha, Ney já entrou levantando a plateia de quase 1000 pessoas, em sua maioria formada por pessoas com mais de 50 misturados com jovens de diversas idades, cantando os ver
sos do belo "Tango Para Tereza", de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, e que é exatamente a faixa que abre o cd Beijo Bandido, lançado no final do ano passado.

A seguir, Ney passeou pelas clásssicas "Da Cor do Pecado" e "Fascinação", onde muitos fãs cantaram junto, levantando a poeira na bela "Invento", de Vitor Ramil, onde Ney mostrou toda sua competência como intérprete, bem como a banda de apoio mandou ver no belo arranjo da composição.

O lindo bolero
"De Cigarro em Cigarro", de Luiz Bonfá, foi a deixa para Ney tirar o ternó de forma insinuante, levando ao delírio as mulheres que gritavam "tira! tira!" em uníssono.
Com muita técnica e sabedoria nos empregos de agudos e respirações, Ney aos poucos foi se soltando, entre danças de salão e outros rebolados mais estranhos, com destaque para as belas interpretações de "À Distância" (uma das letras mais bonitas da música brasileira) e a difícil "A Cor do Desejo", com o teclado de Braga imitando o som de uma cítara. Também tem que se destacar a aparência andrógina de Ney. No palco, o cantor se transforma em outra pessoa, com passos robóticos e viradas de corpo quase que computadorizadas, impressionando bastante aqueles que nunca tinham o visto em ação.
Em "Nada Por Mim", de Herbert Vianna e Paula Toller, Ney visivelmente se emocionou, e a plateia aplaudiu de pé o cantor, que deu uma cara bem triste para essa alegre canção da Kid Abelha.

Ney seguiu o
repertório construído basicamente no novo CD (todo o CD foi interpretado), e tendo como pano de fundo imagens projetadas de Ney ora dançando, ora em poses insinuantes e por vezes com um bonito e complexo jogo de luz que encantava a quem assistia, retirando-se para o camarim em menos de uma hora de apresentação, com uma pequena decaída em alguns agudos de "As Ilhas".
Mesmo assim, o público clamava por mais, e então Ney o fez. Com a camisa entre-aberta e um gigantesco colar, Ney interpretou mais duas curtas canções, "Incinero" e "Mulher sem Razão", abandonando o palco mais uma vez. A plateia ensandecida aplaudia em pé, quando Ney retornou, e encerrou o show com as magistrais "Poema dos Olhos da Amada" e "Tema de Amor de Gabriela".

Ao final do espetáculo, Ney recebeu alguns fãs, entre eles quem vos-escreve, e com muita atenção atendeu um por um, tira
ndo fotos e dando autógrafos. Carismático, Ney fora do palco é uma pessoa tímida e carinhosa, parecendo encolher-se em sua estatura diminuta, o que torna ainda mais impressionante a apresentação do cantor quando em cena. Realmente, no palco ele vira um gigante com sua poderosa voz e seus trejeitos andróginos.

O bolha aqui levou vários vinis e alguns CDs para serem autografados, e Ney acabou se surpreendo com a quantidade de material, pedindo então para assinar apenas alguns e demonstrando um visível cansaço.
Obviamente deixei a vontade de Ney ser satisfeita, e ainda tive a oportunidade de bater um bom papo sobre o CD de Cartola que falei anteriormente, e com o qual Ney se surpreendeu ao ver o encarte do mesmo em minhas mãos, falando para mim que havia escutado o CD um dia antes do show, e que também gostava muito daquele álbum.

O mais interessante é que as pess
oas que foram cumprimentar Ney em nenhum momento falaram ou levaram CDs/LPs dos Secos & Molhados, mostrando conhecimento à respeito do que Ney pensa sobre o grupo e também que eram legítimos fãs da carreira solo de Ney.
Momento bolha

Autógrafos

E para os preconceituosos de plantão, f
ica aqui a palavra de alguém que ficou anos dizendo que nunca iria comprar um disco do Ney Matogrosso por causa das danças ou de seu comportamento extravagante, e hoje se arrepende das diversas barbadas que perdeu. Abram a mente e ouçam o novo CD, ou peguem talvez o Interpreta Cartola ou A Flor da Pele (com Raphael Rabello) e então irão descobrir que talento e dom não tem gênero, sexo ou idade. Aos 68 anos, Ney está em plena forma, com a mesma voz que o consagrou primeiro cantando "O Vira" (com os Secos & Molhados) e depois interpretando pérolas como "Balada do Louco", "Vereda Tropical", "Dora" e "Veja Bem Meu Bem". E para os que estão nas redondezas de Porto alegre, aproveitem hoje ou amanhã e confiram o belo espetáculo promovido no show Beijo Bandido. O de ontem já mostrou que vale a pena!

Set list

"Tango pra Tereza"
"Da Cor do Pecado"
"Fascinação"
"Invento"
"De Cigarro em Cigarro"
"A Bela e a Fera"
"À Distância"
"A Cor do Desejo"
"Nada por mim"
"Segredo"
"Doce de Coco"
"Medo de Amar"
"Bicho de Sete Cabeças"
"As Ilhas"

Bis

"Incinero"
"Mulher sem Razão"

Bis extra

"Poema dos Olhos da Amada"
"Tema de Amor de Gabriela"

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