Como sair da depressão após largar uma grande banda? Simples,montar outra grande banda! E foi isso que os três ex-integrantes do Cream fizeram após o término do grupo em 1968. Nesta e nas próximas três edições do Baú do Mairon, vamos acompanhar como se desenvolveram a carreira de cada um dos membros pós-Cream, concentrando-se nas bandas em que formaram e nos álbuns lançados pelas mesmas.
Começamos então com os que não brigaram entre si, Eric Clapton e Ginger Baker. Guitarrista e vocalista multi-conceituado, Clapton teve seu início de carreira nos Yardbirds, tendo uma passagem pelos Bluesbreakers de John Mayall e vindo a alcançar o estrelato dentro do Cream. Já o baterista Baker vinha de uma estrondosa passagem pela Graham Bond Organisation (onde Bruce também fazia parte), e tinha como vantagem o fato de ser o único a aceitar as megalomanias de Clapton dentro do Cream, apesar de não aceitar as de Bruce.
Com o término do Cream, Clapton partiu para a formação um grupo onde tentaria esconder as brigas e o ego. Além disso, Steve Winwood (teclados, voz, guitarras) estava com problemas desde o término prematuro do Traffic, sendo que já havia saído da Spencer Davis Group (onde era o vocalista líder) justamente em busca de um som um pouco mais diferente.
Desta forma, Clapton convidou Winwood para algumas jams, e então, viram que a coisa estava ficando boa, mas precisavam de um baterista. Clapton recorreu ao amigo e ex-companheiro de Cream, no caso, Baker. Em maio de 1969, chamam o baixista do Family Rick Grech para acompanhá-los e então, fecham a formação clássica de um grupo que ainda não tinha nome!
Clapton e Winwood já haviam tocado juntos no grande projeto Powerhouse, que entre 1965 e 1966 contou com Paul Jones (vocais, Manfredd Mann), Jack Bruce (baixo, Cream) e Pete York (bateria, Spencer Davies Group), além de Clapton e Winwood, mas que infelizmente deixou como registro apenas três faixas no raro LP What's Shakin (a saber "Crossroads", "Steppin' Out" e "I Want To Know"). Este contato anterior tornou o processo de composição do novo grupo ainda mais rápido, e em poucas semanas, estavam com material suficiente para um álbum.
Logo, o quarteto foi intitulado pela imprensa como super-grupo, e assim, passaram a ensaiar e cômpor material para apresentações. Obviamente, o sucesso em torno dos nomes dos membros levou a Polydor a fechar um contrato para a gravação do LP, já que tanto Clapton quanto Baker ainda estavam sob o nome da gravadora.
Enquanto isso, a excitação dos fãs tanto de Cream como do Traffic em torno do novo grupo era grande, tanto que alguns apelidaram carinhosamente o grupo de Super Cream. Toda a expectativa criada foi matada com o agendamento de um show para o Hyde Park de Londres, o qual ocorreu em 7 de junho de 1969, onde apenas os nomes dos integrantes da banda era divulgado. A adrenalina gerada no palco, bem como a suavidade nas notas, mostrou a Winwood que o projeto tinha tudo para dar certo. Claro, o retorno do público foi extremamente positivo, o que permitia a ele sonhar ainda mais alto.
Mas Clapton era relutante, e tinha em mente que tudo não passava de aplausos em torno do nome dos membros do grupo, e não por causa do grupo em si. Além disso, Winwood era contratado da Island Records, criando mais um empecilho para a gravação do álbum.
Mas Clapton era relutante, e tinha em mente que tudo não passava de aplausos em torno do nome dos membros do grupo, e não por causa do grupo em si. Além disso, Winwood era contratado da Island Records, criando mais um empecilho para a gravação do álbum.
O jeito foi o lançamento de um single por ambas as gravadoras. Intitulado Change of Adress from 23 June 1969, a rara bolachinha de 45 rotações foi lançada como divulgação somente na Inglaterra, trazendo a gravação em apenas um lado de uma jam instrumental feita pelo grupo ainda sem Rick. No rótulo, o logotipo e telefone da Island e um novo endereço para a gravadora, sem mencionar o nome da banda. A tiragem da bolachinha foi de apenas 500 cópias, e se você encontrar uma, belisque-se para ver se não está sonhando.
Voltando ao andamento do super grupo, ainda sem nome de batismo, conseguem convencer a Island a "emprestar" Winwood para a Polydor, e então, passam a gravar aquele que seria o único registro do grupo, ao mesmo tempo em que finalmente surge um nome, graças a arte encomendada para a capa do LP, como veremos a seguir.
Agendam uma excursão pela Escandinávia com o nome de Blind Faith (nome dado a arte da capa do futuro LP), e após passar pela terra das lindas loiras, fazem shows por Estados Unidos, onde estreiam tocando para 20.000 pessoas no Madison Square Garden no dia 12 de julho, e encerram a turnê em 24 de agosto, tocando no Hawai, sendo altamente aclamados. Nesta turnê, tiveram como bandas de abertura alguns iniciantes como Taste, Free e Delaney Bonnie & Friends.
Voltando ao andamento do super grupo, ainda sem nome de batismo, conseguem convencer a Island a "emprestar" Winwood para a Polydor, e então, passam a gravar aquele que seria o único registro do grupo, ao mesmo tempo em que finalmente surge um nome, graças a arte encomendada para a capa do LP, como veremos a seguir.
Agendam uma excursão pela Escandinávia com o nome de Blind Faith (nome dado a arte da capa do futuro LP), e após passar pela terra das lindas loiras, fazem shows por Estados Unidos, onde estreiam tocando para 20.000 pessoas no Madison Square Garden no dia 12 de julho, e encerram a turnê em 24 de agosto, tocando no Hawai, sendo altamente aclamados. Nesta turnê, tiveram como bandas de abertura alguns iniciantes como Taste, Free e Delaney Bonnie & Friends.
Um fato negativo acabou acontecendo no show do Madison Square Garden. Durante uma determinada canção, Baker perdeu sua baqueta, que ficou parada na beira do palco, próxima a um fã, que rapidamente tentou subir ao palco para pegá-la. Os seguranças do local acabaram agredindo o fã diante dos músicos. Indignado, Baker saltou da bateria e pulou nas costas de um dos seguranças que agrediam o fã. A pancadaria entre banda e seguranças tomou conta do local, interrompendo o show de forma abrupta enquanto o público levantava os dois dedos no tradicional sinal de paz e amor.
Enquanto a turnê rolava pelos EUA, em agosto é lançado pela Polydor o primeiro e único álbum da banda, intitulado Blind Faith, com a arte para a capa tendo sido criada por Bob Seidemann (famoso por fotos de Janis Joplin e Grateful Dead). Seidemann batizou a arte desta forma por que "era a forma de representar o amadurecimento de uma fruta através da transformação, e isso só poderia ser feito com uma menina transformando-se em uma mulher, estimulando a esperança e o desejo de um novo começo, inocentemente chamado de Fé Cega".
Enquanto a turnê rolava pelos EUA, em agosto é lançado pela Polydor o primeiro e único álbum da banda, intitulado Blind Faith, com a arte para a capa tendo sido criada por Bob Seidemann (famoso por fotos de Janis Joplin e Grateful Dead). Seidemann batizou a arte desta forma por que "era a forma de representar o amadurecimento de uma fruta através da transformação, e isso só poderia ser feito com uma menina transformando-se em uma mulher, estimulando a esperança e o desejo de um novo começo, inocentemente chamado de Fé Cega".
Falaremos mais da famosa capa daqui a pouco, mas agora, vamos nos prender no que está contido nos sulcos de Blind Faith. Gravado quase que ao vivo, o LP abre com "Had To Cry Today", com Winwood e Clapton fazendo o riff nas guitarras. Winwood solta seu vozeirão, em um maravilhoso som regado com as típicas notas de Clapton e comandado por uma leve cadência de Rick e Baker, além dos dedilhados de Winwood.
O solo de Clapton é feito sobre o riff que é repetido por Winwood e Rick, enquanto Baker solta o braço, voltando aos vocais e com Winwood soltando-se um pouco mais na guitarra. Winwood rasga a voz entoando o nome da canção, enquanto Winwood e Clapton acumulam notas, solando individualmente sobre o mesmo tema, partindo para a viajante sessão de encerramento, onde Winwood sola no canal esquerdo e Clapton no direito. Dois solos sensacionais ouvidos ao mesmo tempo, sem embolar, com Rick e Baker acompanhando a loucura dos dois de forma alucinada. De tirar o fôlego! A canção encerra-se com a repetição do tema principal, e só ela já vale a pena o vinil, mas ainda tem mais.
A clássica "Can't Find My Way Home" surge com os violões de Winwood e Clapton acompanhados pela percussão de Baker. A voz doce de Winwood trás a bela letra, enquanto os violões fazem os acordes para um belo arranjo.
"Well All Right" surge com um tema e melodia que lembram canções do Traffic, principalmente pela levada ao piano de Winwood. Clapton e Winwood dividem os vocais, em uma canção animada e bem diferente das anteriores, e tendo um belo solo de piano de Winwood.
O lado A encerra com outro clássico, "Presence Of My Lord", uma linda balada comandada pelo piano e pela guitarra de Clapton. A leve cadência de Rick e Baker emociona, e os vocais de Winwood estão em ótima apresentação. A canção muda com a entrada do solo de Clapton, onde com muitos efeitos solta os dedos em um acompanhamento vibrante de Rick, Winwood e Baker, voltando a balada após o solo, com Winwood cantando e Clapton solando ao fundo.
O lado B abre com "Sea Of Joy", onde o órgão de Winwood apresenta o primeiro riff, e depois puxa o violão, em uma música que lembra clássicos flower-power. Outra bela canção, com um belíssimo arranjo vocal de Winwood, mostrando por que é um dos melhores vocalistas de todos os tempos. A faixa ainda conta com um bonito solo de violino de Rick, e é apenas o aquecimento das turbinas para a viajante "Do What You Like".
A canção já começa com Winwood cantando na cara do ouvinte, com um acompanhamento singelo da bateria, onde teclado, guitarra e baixo fazem apenas dois acordes, e tendo uma parte um pouco mais pesada quando o nome da canção é cantado. Após algumas estrofes, entramos na longa sessão instrumental, com Winwood solando no órgão de forma magnífica, sempre tendo como base o acompanhamento dos demais membros da banda. O som psicodélico do órgão de Winwood lembra canções do prog californiano, e assim como o solo de Winwood, a canção vai ganhando corpo.
Clapton então começa seu solo, com escalas bem diferentes das que ele costuma usar. A canção vai ganhando pique com o belo solo de Clapton, e Winwood faz os acordes do acompanhamento no órgão com muita técnica e precisão, acompanhado por Rick e Baker. Algumas vocalizações aparecem, até Rick começar seu solo, acompanhado apenas pelo cymbal de Baker e as vocalizações ao fundo.
Baker então fica sozinho no cymbal e no bumbo, começando a solar de foma simples. Aos poucos, vai adicionando batidas e viradas, sempre com o cymbal ditando o ritmo das mesmas. Alternando batidas na caixa e nos tons, Baker entra em uma uma sequência de rolos e viradas dos bons tempos de Cream, até demolir o kit de forma única, usando os dois bumbos impecavelmente.
As vocalizações reaparecem, e então, Baker trás o ritmo da canção novamente, com Winwood encerrando a letra, com uma viajante sequência de barulhos estando presente no final entre vozes agonizantes, cacarejos de galinhas e guitarras desafinadas.
A arte Blind Faith causou polêmica, já que trazia uma menina adolescente com os seios nus segurando uma aeronave que para alguns lembrava um pênis ereto. Como sempre, a versão americana do álbum saiu com uma capa diferente, tendo apenas uma foto dos quatro integrantes. A saber, a menina da foto chama-se Mariora Goschen, e na verdade, quem era para ter posado era a irmã de Mariora, mas como ela ja tinha 14 anos, a transformação proposta pelo artista não seria mais válida. Mariora na foto está com 11 anos, e a menina exigiu um cavalo para fazer a foto. Com a autorização dos pais, Mariora não ganhou o cavalo, mas sim 40 libras e o status de ser uma das garotas mais famosas do ano de 1969.
Blind Faith alcançou o número 1 na parada da Billboard americana dos discos pop, e a posição 40 da mesma Billboard nos álbuns de música negra. Na Inglaterra atingiu o posto número 1 em setembro de 1969, tornando-se um êxito comercial, atingindo a marca de um milhão de cópias vendidas em menos de um mês de lançamento.
Porém, após o lançamento de Blind Faith, o stress começou a bater em Clapton (de novo). Chiliquento, Clapton estava indignado de ter que colocar músicas do Traffic e do Cream para completar os shows do grupo, já que o material composto e mesmo as longas improvisações tinham um total de pouco mais de uma hora.
O grupo voltou para a Inglaterra com os rumores de que tinham terminado suas tarefas. Em outubro, Clapton anunciava o fim de uma das melhores e meteóricas bandas de todos os tempos, alegando problemas internos (de novo!) e tendo feito apenas 28 shows na sua curta carreira.
Em julho de 2007, Clapton e Winwood reuniram-se para tocar durante a segunda edição do Crossroads Guitar Festival, realizado no Toyota Park Center de Bridgeview (Illinois), onde tocaram várias canções da Blind Faith. Este encontro levou a dupla a realizar uma série de três noites no Madison Square Garden, nas datas de 25, 26 e 28 de fevereiro de 2008, tendo Willie Weeks no baixo, Ian Thomas na bateria e Chris Stainton nos teclados. A performance, com várias canções da Blind Faith, foi registrada no emocionante LP/DVD/CD Live from Madison Square Garden.
No verão de 2009, Clapton e Winwood fizeram 14 datas na cidade de New Jersey, tendo Abe Jr no lugar de Ian Thomas, além de duas backoing vocals (Michelle John e Sharon White), e recentemente, encerraram uma excursão pela europa, a qual começou em 18 de maio e terminou no dia 13 de junho, tendo Steve Gadd na bateria.
Após a Blind Faith, Clapton partiu para trabalhar com a Plastic Ono Band (1970) e os amigos Delaney & Bonnie and Friends. Posteriormente, formou outra mega-banda, como veremos na terceira sequência de matérias sobre os membros do Cream pós Cream. Já Baker, Rick e Winwood seguiriam juntos, como veremos na próxima edição do Baú do Mairon.
Após a Blind Faith, Clapton partiu para trabalhar com a Plastic Ono Band (1970) e os amigos Delaney & Bonnie and Friends. Posteriormente, formou outra mega-banda, como veremos na terceira sequência de matérias sobre os membros do Cream pós Cream. Já Baker, Rick e Winwood seguiriam juntos, como veremos na próxima edição do Baú do Mairon.
Em 1986, a Polydor lançou Blind Faith em CD, trazendo mais duas canções: "Exchange and Mart" e "Spending All My Days", as quais originalmente foram gravadas para fazer parte de um álbum solo de Rick, o qual nunca foi lançado. Ao que parece, nenhum dos outros membros da Blind Faith participou dessas gravações. Duas faixas gravadas no concerto do Hyde Park surgiram na caixa de 4 Cds de Steve Winwood, chamada The Finer Things, a qual foi lançada em 1995. Em 2001, uma versão deluxe de Blind Faith foi lançada em CD duplo, trazendo muito material inédito, como ensaios e jams espetaculares, sendo o segundo CD somente com ensaios do grupo ainda como trio.
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