sábado, 1 de maio de 2010

UFO Parte I


Helloween, Def Leppard, Kiss, Judas Priest e Iron Maiden. Esses são apenas alguns dos principais nomes do rock mundial que nasceram graças ao surgimento de uma das maiores bandas britânicas de todos os tempos, e que infelizmente é jogado em um segundo (ou até terceiro) plano pela mídia especializada. Estou falando do UFO.

Como forma de homenagear a primeira passagem do grupo por terras brasileiras, em quatro shows (26 de maio em São Paulo, 27 de maio em Goiânia, 28 de maio em Belo Horizonte e 29 de maio em Recife), irei narrar a história da banda desde suas origens, passando pelo auge com o loiro Michael Schenker nas quatro cordas, bem como os tenebrosos anos 80 e a resurreição na década de 90, culminando com um review especial narrando os três dias na terra da garoa e claro, o show que irá ocorrer no Carioca Club, onde estou fervorosamente contando os dias para essa data especial. Começamos então voltando no tempo.



Boyfriends no primeiro show em Waltham Abbey

Em 1968, um jovem Phil Mogg (vocais), fã de sons como Howlin' Wolf, Muddy Waters, John Lee Hooker e Robert Johnson, começa a buscar membros pela Inglaterra afim de formar uma banda onde o blues seria tocado de uma forma inovadora, com muita distorção e peso (obviamente, os primórdios do metal de bandas como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin).

Ao mesmo tempo, três jovens garotos faziam ensaios em uma garagem na cidade de Southgate, norte da Inglaterra. O jovem grupo, batizado de Boyfriends, era formado por Pete Way (baixo, vocais), Mick Bolton (guitarra) e Tic Torrazo (bateria), fazendo sua estreia nos palcos no final de 1968, em um lugar chamado Abbey Town Hall, na cidade de Waltham Abbey, onde tiveram a ajuda de Johnny Holiday, o membro fundador do badalado grupo Johnny Kidd and The Pirates. Após alguns shows, Tic foi demitido da banda, devido ao fato de quase nunca tomar banho, exalando um terrível odor que tornava impossível a convivência com o baterista em cima do palco.

Colin Turner assume as baquetas, e batizados agora de Hocus Pocus, conseguem marcar shows em vários bares da grã-bretanha. Em um deles, são assistidos por Mogg, que vê no som da agora batizada The Good The Bad The Ugly a oportunidade desejada para fazer seu blues cheio de ácido e distorção. Mogg se apresentou ao trio semanas após esse show, quando o nome do grupo já era Acid, dando algumas ideias e dizendo que estava disposto a ajudar no que fosse possível. Como Way não gostava nem um pouco de cantar, e sendo ele o líder da Acid, aceita a proposta de Mogg, que de cara, muda o nome da banda mais uma vez, homenageando então um dos mais importantes clubes londrinos da história, colocando então o pomposo nome de UFO.

Os ensaios do UFO começam, assim como os problemas, já que o equipamento do quarteto era precário pacas. Dessa forma, contratam um técnico em eletrônica para auxiliar na manutenção do equipamento. Esse técnico era Andy Parker, que as vezes, enquanto arrumava caixas de som e pedais, dava uma canja tocando bateria. O técnico era tão bom baterista que pouco antes da estreia oficial do UFO, em outubro de 1969, Way e Mogg dispensaram Turner, e fizeram com que Parker assumisse as baquetas. Dessa forma, ganhariam um pouco mais de grana, e teriam um técnico a hora que precisassem. Estava formada a primeira grande formação do UFO.

O som do UFO era muito pesado e bizarro para a época. Com um visual muito sujo, regado de distorções, sem uma identidade própria, misturando folk, blues e psicodelia em um equipamento paupérrimo, o grupo chamava a atenção de usuários de LSD e bêbados, mas era totalmente massacrado pelos críticos que assistiam as poucas apresentações da banda nos mais diversos lugares. Em um deles, conquistam um fã, Noel Moore, que os leva a assinar um contrato com o pequeno selo Beacon Records. O selo estava tentando conquistar seu espaço na Inglaterra, e disponibiliza então um contrato com a banda de 400 libras, onde a gravação de um LP seria possível. As 400 libras foram investidas no agendamento de seis noites em um estúdio de última categoria na cidade de Rickmansworth, tendo na produção Guy Fletcher e Doug Flett.



O bom álbum de estreia

Gravado em apenas 4 canais, trazendo uma sonoridade muito crua e cheia de psicodelia, UFO 1 foi lançado em outubro de 1970, e é uma pérola a ser descoberta pelos fãs. O disco abre com a instrumental "Unidentified Flying Object", onde guitarra e baixo, acompanhados pelos pratos, puxam o tema principal. Parker acompanha na bateria, e Way segue a base para Bolton mostrar ao mundo os seus marcantes efeitos de distorção, os quais seriam responsáveis (ao lado de Steve Hillage - Gong) pela criação de um novo gênero musical, o chamado Space Rock.

A guitarra de Bolton segue solando enquanto efeitos de naves espaciais surgem nas caixas de som, levando então para a segunda faixa da bolacha, o maravilhoso "Boogie For George", onde Bolton solta um acorde para Way e Parker entrarem com o som cadenciado e um pequeno solo de Bolton, entrando em um pesadíssimo blues na linha de outras grandes bandas do hard setentista como Bang e Black Sabbath. Mogg surge com a letra, e o pesado boogie se mantém, com destaque para as violentas batidas de Parker, um monstro atrás do seu kit, encerrando com um longo solo de Bolton.

A cover de "C'mon Everybody", de Eddie Cochran, vem a seguir, e acabou se tornando o primeiro sucesso do grupo. Também muito pesada, a canção começa com o tradicional riff principal, tendo nos vocais de Mogg e no solo de Bolton os maiores destaques.

"Shake It About" traz Way e Parker fazendo o acompanhamento inicial, com Bolton surgindo aos poucos. Mogg canta sobre o acompanhamento da cozinha Way/Parker (uma das melhores já formadas no rock), tendo intervenções de Bolton, chegando então ao solo do guitarrista, onde Way desfila notas rápidas, tocando baixo como poucos, enquanto Parker destrói a bateria em violentas pancadas (fãs de John Bonham, ouçam o que Parker faz no seu kit). A canção mostra variações da guitarra nos canais esquerdo e direito, criando um clima bem espacial, caracterizando ainda mais o som do UFO.

O lado A encerra com a clássica balada "(Come Away) Melinda", de Fred Hellerman e Frank Minkoff, a qual já havia sigo registrada pelo Uriah Heep também no seu álbum de estreia, Very 'Eavy, Very 'Umble (1969), com vozes de meninas introduzindo essa linda canção, com destaque para os emocionantes vocais de Mogg e o maravilhoso andamento de Way e Parker, além do bonito solo de Bolton, o qual é feito em uma tradicional sequência de terças menores e repleto de efeitos sonoros, encerrando com o piano envolto a tiros, em uma espécie de filme de bang-bang. 



Rara imagem do UFO em ação na Alemanha (1971)

O lado B abre com o hardão de "Timothy", outra paulada com ótima pegada da dupla Way/Parker, ditando o ritmo para o solo inicial de Bolton. Mogg solta a voz e a pegada se mantém, com Way e Andy comandando o pesado ritmo para o segundo e final solo de Bolton.

A curta "Follow You Home" apresenta um riff parecido com o de "You Really Got Me" (Kinks), tendo uma bela batalha de solos de Way e Bolton como a principal sessão. "Treacle People" também é outra curtinha, uma viajante balada onde novamente os efeitos espaciais da guitarra de Bolton surgem, e com um belo trabalho vocal de Mogg, levando a faixa central da bolacha, o maravilhoso cover de "Who Do You Love", de Ellas McDaniel.

Inspirados no que o Quicksilver Messenger Service havia feito no fantástico álbum ao vivo Happy Trails (1969), o UFO cria uma longa versão para esse clássico do blues, repleta de solos e viagens psicodélicas, começando com Mogg murmurando o tema da guitarra e terminando em um pesadíssimo Boogie de mais de 7 minutos. Uma paulada quebra pescoço para botar qualquer um na lona, onde Bolton despeja notas ácidas e distorções variadas, viajando legal!

Após o extradionário boogie de "Who Do You Love", o álbum encerra com "Evil", mais um hardão fenomenal, com vários solos de Bolton.

A Beacon Records era uma boa estrategista de marketing, e acabou lançando nove dos dez sons de UFO1 em cobiçados singles, sendo eles: "Shake It About" / "Evil" (1970); "(Come Away) Melinda" / "Unidentified Flying Object" (1970); "Boogie For George" / "Treacle People" (1970); "C'mon Everybody" / "Timothy" (1970) e "Boogie For George" / "Follow You Home" (1971). Apenas "Who Do You Love" não foi lançado devido a negativa do grupo de diminuir a longa versão, alegando que aquilo era o mais curto que poderiam fazer (ao vivo, essa canção passava facilmente dos 10 minutos).

Além disso, a Beacon conseguiu negociar os direitos de gravação com países como Alemanha, Itália e Japão, e ninguém sabe por que, no Japão UFO1 estourou nas paradas. "Boogie For George", C'mon Everybody" e principalmente "(Come Away) Melinda tornaram-se hits entre os nipônicos, e as vendas de UFO1 superaram todas as expectativas da Beacon Records.



O essencial Flying
 

Porém, na Inglaterra, a nave espacial do UFO não conseguia decolar. Como o grupo havia estourado tanto na Alemanha como no Japão, a Beacon dá mais um crédito, e entre muitas incertezas, gravam o segundo e essencial álbum UFO2 - Flying, o qual é lançado na metade de 1971. Uma paulada do início ao fim, que como a capa alertava, trazia uma hora do mais puro space rock do UFO.

Trazendo um som bem mais psicodélico que o álbum de estreia, o que coloca Flying como o favorito de muitos fãs (eu incluso), a bolacha abre com "Silver Bird", onde a guitarra faz o riff em um dedilhado bem legal, acompanhada por Park e Way, apresentando os vocais de Mogg. A canção vai ganhando corpo, com Bolton fazendo pequenos acordes e intervenções, explodindo em um pesado hard onde Way e Bolton duelam pela atenção do ouvinte. A letra é retomada, com o mesmo crescendo anterior, até chegar a segunda batalha de baixo e guitarra. Parker solta a mão para manter o pique do duelo, onde os solos de Way e Bolton são repletos de bends e agudos fenomenais, além da participação de Mogg fazendo viajantes vocalizações.

O ótimo início do álbum leva a viajante "Star Sorm", uma gema de quase 20 minutos, que começa com barulhos estranhos apresentando uma marcação lenta do baixo e dos pratos. Bolton faz intervenções, e o clima de tensão fica grudado no ouvinte. Os efeitos da guitarra de Bolton são variados (wah-wah, oitavas, volume) dando um colorido especial a viajante sessão de introdução, enquanto a cadência de Way vai aumentando o volume.

Bolton então cria um dos grandes riffs do UFO, no mehor estilo do hard setentista, e Mogg começa a cantar na mesma melodia do riff. Para cada estrofe, um solo de Bolton, e a música permanece assim por alguns minutos, entrando na viajante sessão instrumental. Nela, o pesado acompanhamento de Way e Parker são a cama para Bolton deleitar-se em notas primeiramente com a guitara limpa, com a qual puxa um segundo riff.

A cadência da cozinha vira um maravilhoso e psicodélico blues, onde Bolton extrapola no uso do botão de volume e do wah-wah, lembrando os solos de Jimmy Page com o arco de violino em "How Many More Times" (primeiro LP do Led Zeppelin). A assustadora sequência de notas de Bolton é de arrepiar, tornando a canção uma assombrosa música onde a guitarra agoniza nas mãos de Bolton, com muitos efeitos de eco e reverb. Um delirante mini-moog começa a passear entre as notas de Way e Bolton (infelizmente, na versão em LP que eu tenho não diz quem tocou este instrumento), parecendo uma nave espacial circulando pelo estúdio.

Way então fica responsável por trazer a sanidade mental ao lugar, com Bolton acompanhando o baixista e solando notas mais "terrestres". A canção vai crescendo, com Bolton colocando muito peso na guitarra. Way e Parker se desdobram para acompanhar a loucura de Bolton, e finalmente, uma pesadíssima sequência de acordes chega ao final da faixa de forma épica. Uma espécie de marcha fúnebre é a base para Bolton soltar rasgadas notas de sua Les Paul, e Way está tocando de forma alucinada. Bolton debulha as cordas da guitarra com se fossem ervilhas presas nas suas cascas, retomando então o primeiro riff e as estrofes finais deste viajante espetáculo sonoro! Loucura geral!!

O lado A encerra com a clássica sequência de "Prince Kajuku / The Coming of Prince Kajuku". O riff abafado de Bolton apresenta o riff principal. "Prince Kajuku" é uma paulada no cérebro, onde mais uma vez o baixo é o destaque, ficando fácil compreender por que o líder do Iron Maiden - Steve Harris - é o fã número 1 de Way. Mogg canta como poucos, em uma linha vocal precursora de toda a geração NWOBHM. O solo de Bolton é sensacional, com muito feeling e ótima aplicação das escalas de blues, com uma boa levada de Parker e Way.

É impossível ficar parado, e o encerramento de "Prince ..." leva a instrumenal "The Coming Of Prince Kajuku", onde a guitarra dedilhada faz o riff principal, com baixo e bateria sendo adicionados aos poucos. O solo de guitarra vai crescendo, acompanhado apenas pela marcação de Way e adicionando cada vez mais efeitos. A bateria vai surgindo junto à sequência de acordes de Bolton, levando aos dedilhados inicias acompanhados pelo viajante baixo de Way e incríveis viradas de Parker. 



O criador dos riffs espacias do UFO, Mick Bolton

O lado B é totalmente dedicado a suíte "Flying", a mais lisérgica gravação do UFO. Com mais de 27 minutos, "Flying" é o símbolo dessa primeira fase da banda. Guitarras distorcidas, bends ácidos e acompanhamentos psicodélicos são algumas das características da faixa mais viajante que o grupo gravou. A canção começa com barulhos de guitarra imitando uma nave levantando vôo, até a bateria surgir e comandar um lindo blues, com Way fazendo a base para Bolton imortalizar um lindo riff numa dinâmica de fazer chorar.

Mogg surge com a primeira parte dos vocais, acompanhado pelo lento blues e em uma interpretação excepcional, a qual vai crescendo junto com a letra. Bolton executa seu primeiro solo, mostrando muita técnica e feeling, e assim o blues continua até encerrar a primeira parte da canção. Na sequência, a primeira viagem instrumental, onde Bolton arranca notas que parecem chorar junto do guitarrista, variando o ritmo até Way e Parker marcarem o tempo juntos.

Bolton utiliza-se de wah-wah e bends para delirar no seu solo, viajando do canal esquero ao direito (e vice-versa) e deixando o ouvinte embriagado com a sonoridade do UFO. Parker comanda o ritmo no cowbell e nos pratos, e Way acompanha a levada, com Bolton soltando bends, arpejos e muito wah-wah.

As distorções desaparecem, e Bolton cria o riff da terceira parte de "Flying", ganhando bastante pique, onde o destaque maior é a cozinha Way/Parker. As viradas de Parker trazem a sequência da letra, com um ritmo pegado e rápido, um ótimo hard onde os riffs do baixo e da guitarra dão sustentação para as batidas de Parker. Bolton sola mais uma vez, com muito sustain em uma fantástica escala bluesística, e Mogg dá sequência a letra. As viradas de Parker levam a quarta parte de Flying, onde Bolton sola esbanjando criatividade e segurança sobre um andamento triste, com baixo e bateria em uma escala descendente. As alternações dos efeitos dão mais charme ao solo, que não possui nenhuma virtuose, mas atinge em cheio em termos de emoção e melodia.

Bolton fica sozinho, com as alternações nas caixas de som criando mais uma vez dimensões extras no quarto do ouvinte. Os chapantes riffs de Bolton retornam então ao blues inicial, onde Mogg encerra a letra e Bolton despeja notas e bends regados à efeitos e distorção. A faixa encerra-se com estranhas vozes (seriam alienígenas) falando frases ainda mais estranhas (na verdade, essa parte é uma gravação de uma frase do livro Gunga Din de Rudyard Kipling sendo lida de trás para a frente). Após o lançamento de Flying, a imprensa britânica caiu de pau em cima do grupo, alegando que não passavam de uns garotos medíocres fazendo lixo. Em compensação, de novo o UFO estourava na Alemanha e no Japão.



Primeira passagem do UFO no Japão
 

As longas composições do LP agradaram os fãs alemães e nipônicos de uma forma incrível, e assim, partem para uma excursão pela Alemanha, França e Itália, culminando com um convite para excursionar na terra do sol nascente abrindo para o Three Dog Night. Chegando lá, mais uma surpresa. O Three Dog Night tinha cancelado as apresentações, e para não deixar o produtor local na mão, o UFO acabou sendo elevado ao status de headliner, logo na sua primeira excursão fora da Europa.


Versão gatefold de UFO Landed Japan
 

O grupo fez vários shows pelo país, todos com ingressos esgotados, além de regalias dedicadas as grandes bandas, como limusines, comida, bebida, avião particular (japonês, claro), mulheres e hotéis de luxo. O sucesso da excursão nipônica do UFO foi tanto que tiveram que agendar um show extra no Hybia Park em Tóquio, onde o grupo se apresentou para mais de 20.000 enlouquecidos fãs. Como consequência, a Beacon acabou registrando este último show, e lançou somente no mercado japonês o álbum UFO Landed Japan também conhecido como UFO Live ou UFO Live In Japan, trazendo seis estonteantes faixas ("C'mon Everybody", "Who Do You Love", "Loving Cup", "Prince Kajuku"/"The Coming of Prince Kajuku","Boogie for George" e "Follow You Home") e histeria total dos fãs japoneses. Posteriormente, o álbum acabou sendo lançado também na Europa.


Versões alternativas de UFO Live, com destaque para o Picture alemão
 

Os três LPs acabaram recebendo alguns re-lançamentos, inclusive tendo nomes trocados ("Boogie For George" virou "Boogie") e alternância na ordem das faixas ("The Coming Of Prince Kajuku" acabou tornando-se a primeira do lado B nesses re-lançamentos). UFO Live recebeu uma nova capa, e vale destacar a bela versão alemã em Picture Disc. Outra bela pedida é a coletânea The Early Years (2004), trazendo material dos três primeiros discos.

Após a incrível sequência de shows no Japão, angariam uma grana e resolvem comprar uma van para carregar os instrumentos nos shows, que agora voltavam a ser em bares fedendo a urina e com pouco público. Em sua Terra Natal, o UFO não decolava de jeito nenhum e sendo malhado cada vez mais pela crítica britânica, Mogg decide investir na nova onda da cena inglesa, o glam rock, tentando adotar uma imagem mais condizente com o que os críticos queriam.

Isso assustou o tímido Mick Bolton, que ficou com medo da situação de ter que usar maquiagem e roupas diferentes em cima do palco. Mogg, a essas alturas o chefe da banda, não deu trela para Bolton e prontamente colocou-o para fora, sem dizer nem "Adeus!" e sendo apoiado por Parker e Way, os quais já haviam usando roupas estranhas como peles-de-onça e calças listradas. Depois do UFO, Bolton infelizmente nunca mais conseguiu fazer sucesso em outra banda.

Chegava o final de 1971, e a busca por um novo guitarrista virava a ambição do UFO. Matreiro e experiente, Mogg coloca um anúncio no jornal Melody maker dizendo a seguinte frase: "Banda de rock com gigantesca fama internacional procura guitarrista com boa aparência". Atraídos pelo anúncio, vários guitarristas apareceram no local marcado, mas ao saberem que a banda era o UFO (e que nunca tinham ouvido falar da tal banda), nem ligavam seus instrumentos.

Um dos poucos que se prestou a dar uma satisfação foi Larry Wallis, um experiente guitarrista que já havia tocado em bandas como o Lancaster e o famoso Blodwyn Pig. Way foi o primeiro a se encantar com o visual poser de Wallis, e assim foi com os demais integrantes, que assumiram Wallis como novo guitarrista em janeiro de 1972.

Partem por mais uma série de shows pela Europa, até que em um deles, na Itália, o pau quebra geral entre Mogg e Wallis, com o guitarrista enchendo a cara e alegando que não seria mandado por um garoto que nem Mogg. Resultado, Wallis era despedido por justa causa e novamente o UFO estava sem guitarrista. Da fase Wallis, ficou um raro bootleg gravado no Marquee de Londres, trazendo as músicas "Boogie", "Back In The USA", "Mean Woman Blues", "Don't Bring Me Down" e "Johnny B. Goode". Wallis foi parar no The Pink Fairies e posteriormente fez parte da primeira formação do Motörhead, registrando o álbum On Parole, gravado em 1975 e lançado somente em 1979.



UFO com Bernie Mardsen (1972)

Novembro de 1972, e lá estão Way, Mogg e Parker ouvindo centenas de guitarristas nos seus aposentos em Southgate. Dentre eles, são chamados atenção por um jovem chamado Bernie Marsden, o qual havia tocado no Skinny Cat. Partem então por mais uma excursão fugindo da Inglaterra, resolvendo excursionar na segunda terra onde eram venerados, a Alemanha. Porém, alguns problemas mudariam a história do UFO para o resto do tempo.

Com problemas particulares, Bernie teve que ficar em Londres para resolvê-los antes de partir para a Alemanha. Assim, Way, Mogg e Parker sairam de balsa, e esperariam Bernie, que iria de avião, já na Alemanha. Só que o guitarrista acabou esquecendo o passaporte na hora do embarque, e assim, teve que ficar na Inglaterra. Com as datas já marcadas, mais um incidente ocorre poucas horas antes da apresentação. A bombástica notícia era que todo o material do grupo, trazedo o PA e alguns instrumentos, havia sido roubado.

A solução encontrada foi alugar o PA e os instrumentos da banda de abertura, uma iniciante chamada Scorpions, além de pedir emprestado também o guitarrista, o jovem e talentoso Michael Schenker, enquanto que Bernie acabaria surgindo posteriomente na mais famosa encarnação do Whitesnake. Sem falar uma palavra em inglês, Michael acabou aceitando graças a insistência de seu irmão, Rudolph, e então, em apenas 20 minutos, Way passava todo o repertório do show para o guri.

Foi o suficiente para o mundo do UFO ser transformado. Naquela noite, o mundo ganhava um dos mais talentosos criadores de riffs da história do rock, e o UFO finalmente arrancava as cordas que o prendia e conseguia voar não somente na Inglaterra, mas conquistando todo o planeta, como veremos na próxima edição do Baú do Mairon.

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