Em 2006 tive a minha primeira experiência aérea. Já viajava com música desde pequeno, mas nunca tinha colocado meus pés em um avião. Graças a minha área de trabalho (Física difrativa de partículas altamente energéticas), fui convidado a participar de um evento no Rio de Janeiro, e assim, conheci uma das cidades mais bonitas do mundo, na primeira de muitas viagens que acabei realizando por causa da minha pesquisa, e que eu espero possa continuar por muitos anos.
Foto no encarte de Juno |
Exatamente nessa viagem, através de uma grande amiga com a qual infelizmente acabei perdendo o contato (ELÔ, CADÊ VOCÊ???), conheci diversas lojas de discos no centro do Rio de Janeiro. Em uma delas, acabei fazendo amizade com o dono do local, Márcio Rocha, responsável ao lado de Bruno pela Tropicália Discos, uma loja especializada em vinis de todos os gêneros. Com as diversas idas para o Rio, passei a frequentar a Tropicália como minha segunda casa, principalmente pelos papos de música entre eu e o Márcio.
Foi justamente durante um papo sobre Ravi Shankar que Márcio me surpreendeu com a notícia de que havia gravado um CD. Dei altas gargalhadas, pois achei que ele estava brincando, e foi então que ele me deu o CD, e falou para ouvir quando voltasse para Porto Alegre. Quando vi o CD nas minhas mãos, logo percebi que ele falava sério, e fiquei uma semana no Rio de Janeiro até poder voltar para Porto Alegre e ouvir o que estava contido ali dentro.
Formado em música no Instituto Villa-Lobos, Márcio teve sua carreira apresentada ao público ao entrar, em 1995, no magnífico projeto Luz da Ásia, que possuía uma influência dos sons orientais bem diferente do que já havia sido visto no Brasil, e infelizmente ficou perdido no subúrbio da decadência musical que viveu o nosso país no final dos anos noventa, envolto em barbaridades como É O Tchan, Araketu e tantas outras porcarias da época. No Luz da Ásia, Márcio se encantou com o talento dos demais músicos da banda e com instrumentos como craviola, cítara e swaramandal. Com o grupo, registrou o álbum Amistad (1999), e então Márcio dedicou seu talento e carinho no lento e dedicado trabalho de gravação de seu álbum solo.
Áutografo no encarte pertencente ao bolha que vos escreve |
Por fim, em 2000 Márcio lançou, através da Odisséia Records e com a ajuda de Alex Frias, o CD Juno, que foi exatamente o CD que ele me passou, e onde empregou todos os elementos que o Luz da Ásia tinha e mais as pitadas de clássico que havia aprendido no Instituto Villa-Lobos, fazendo uma espetacular mistura entre harmonia e sonoridade em um disco praticamente instrumental. Com uma curta vinheta "Samadhi", o CD abre espaço para conquistar os ouvidos dos amantes de rock progressivo com uma maravilha que será difícil ser encontrada em qualquer outro projeto do rock progressivo nacional.
"Desolation of Fools" conta com a participação de músicos de bandas como Cláudio Cepeda (baixo, Anima Dominum), Alexandre Fonseca (tablas, Cheiro de Vida e Pepeu Gomes) além de Alexandre Costa (bateria), Daniel Andrade (violino), Michel Mujalli (cítara) e Alessandra Balocchi (castanholas), e é uma mescla perfeita de sons orientais com música erudita e principalmente, do bom e velho rock progressivo dos anos 70. Linda e complicadíssima, essa canção começa com os violões de Márcio acompanhado por bateria e baixo, fazendo a base para o solo de violino de Daniel Andrade.
"Desolation of Fools" conta com a participação de músicos de bandas como Cláudio Cepeda (baixo, Anima Dominum), Alexandre Fonseca (tablas, Cheiro de Vida e Pepeu Gomes) além de Alexandre Costa (bateria), Daniel Andrade (violino), Michel Mujalli (cítara) e Alessandra Balocchi (castanholas), e é uma mescla perfeita de sons orientais com música erudita e principalmente, do bom e velho rock progressivo dos anos 70. Linda e complicadíssima, essa canção começa com os violões de Márcio acompanhado por bateria e baixo, fazendo a base para o solo de violino de Daniel Andrade.
Márcio Rocha |
A melodia da canção é belíssima, principalmente pela levada cadenciada de toda a primeira parte da canção. Violino e guitarra solam juntos em um tema sensacional, seguidos pelo andamento do baixo e da bateria, e o timbre da guitarra de Márcio lembra muito Robert Fripp. Então, de repente, sintetizadores tornam a canção ainda mais King Crimson, onde Márcio utiliza um violão para solar em uma escala flamenca, com um andamento de bateria/baixo/violino muito quebrado. Doideira pura! As escalas de Márcio são praticamente impossíveis de serem memorizadas, tamanho grau de dificuldade das mesmas, e a sequência de repetições nos faz parecer que a viagem não irá parar.
Mas, após a doideira, o clima da canção muda totalmente com a entrada dos instrumentos orientais. Tabla e cítara fazem suas partes acompanhados pelo dedilhado do violão de Márcio, e então, castanholas mudam a canção mais uma vez, agora para uma sessão flamenca do violão acompanhando uma linda participação da cítara. Por fim, a quebradeira volta novamente, em uma sessão onde a craviola introduz uma sequência de riffs ainda mais complicados do que os executados anteriormente, retomando então o belo tema inicial ao violino e com a guitarra solando junto, encerrando a faixa com o barulho de portas se fechando, mas abrindo um gigantesco leque para o resto de Juno, que ainda trás canções Maravilhosas como "Concertino", "Juno" e "Odisséia", mas nenhuma delas com tamanha intrincação e passagens fantásticas como "Desolation of Fools".
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