sábado, 7 de março de 2020

Miasthenia / Ifall - Sinfonia Ritual [2019]



O novo álbum do Miasthenia, Sinfonia Ritual, é uma obra icônica e diferenciada. Apresentando releituras de músicas de seus álbuns anteriores, Supremacia Ancestral (2008), Legados do Inframundo (2014) e Antípodas (2017), com ritmos sinfônicos, Sinfonia Ritual cria uma atmosfera única e jamais feita por uma banda de metal em nosso país, realizando um sonho que vem praticamente desde  o início da banda.

Com 25 anos de carreira, o grupo de Extreme Pagan Metal (nunca tinha ouvido falar desse gênero), canta em português letras com temática voltada para a história e mitologia pré-colombiana, as guerras de conquista da América no século XVI e a resistência ameríndia. Assim, com esse tom bastante imponente, uniu-se em maio de 2019 ao produtor Ifall para converter as canções em arranjos orquestrais, e promover o que chamam de "uma jornada épica por ritos ancestrais" através desse projeto idealizado pela Epic Music. A formação conta com Susane Hécate (vocalista e tecladista), Thormianak (guitarrista e baixista) e Nygrom (baterista, session member).


Totalmente instrumental, cada canção tem um determinado conceito relativo a esse período histórico. Sinfonia Ritual tem "Taqui Ongo" abrindo os trabalhos com um ritmo percussivo, seguido por teclados e orquestrações, em uma faixa que poderia se encaixar muito bem em trilhas de filmes como 1492 ou A Missão. Com certeza, a orquestração é a principal atração aqui, em um belo trabalho de teclados feito por Susane. No conceito, é a liberação das huacas (espíritos andinos) contra o cristianismo. "13 Ahau Katun", o tempo marcado pela chegada dos colonizadores cristãos, segue a mesma linha instrumental, com a percussão sinfônica mais presente junto aos teclados, e então, começa a surgir aquela sensação incômoda de que estamos ouvindo a mesma coisa sempre.

"Kayanerehn Kowa" faz a celebração do fim das guerras em rituais que asseguram o equilíbrio e a harmonia entre os povos, em uma faixa onde a flauta se destaca sobre as orquestrações, teclados e ritmos tribais. Quando chegamos na faixa que homenageia as poderosas guerreiras do Rio Amazonas "Coyupuniaras", a mistura sinfônica com teclados já se tornou muito cansativa. Essa particularmente achei a melhor canção do álbum, com uma melodia muito bonita, inserção de vocalizações, a interessante participação de sinos, e um belo trabalho de teclados, e a sua duração - a mais curta das canções do disco, com apenas 4 minutos - ajuda bastante a ela pontuar para a primeira colocação. Por fim "Deuses da Aurora Ancestral" não consegue fazer o álbum crescer, apesar de novamente termos um interessante arranjo orquestral, e após pouco mais de 30 minutos, fica a sensação de que algo não foi bem conduzido no trabalho.


Susane revelou os motivos que fizeram com que essas cinco músicas fossem escolhidas e como Sinfonia Ritual foi concebido: “Esse álbum traz cinco músicas que acreditamos que sintetizam o conceito que inspiram a temática do Miasthenia. Todas essas cinco foram escolhidas também, por terem linhas de teclados mais complexas e que juntas, retratam melhor a carga intelectual e conceitual do Miasthenia e essas faixas, já tinham uma gravação de teclados orquestrados. É importante dizer que esse álbum, Sinfonia Ritual, não é um álbum de Metal, é uma reedição e produzido com músicas da banda por um formato orquestrado. Isso era um sonho nosso desde a gravação dessas músicas, devido à complexidade das linhas melódicas e queríamos ver como isso iria soar de forma orquestrada e ritualística”.

Respondo eu então. O disco funciona na sua forma orquestrada, para quem curte esse tipo de som, certamente irá agradar. Mas, para um cara que nem eu, que não é um adepto a audições sinfônicas com tanta frequência, e que dentre essas audições acaba optando por obras mais conhecidas e tradicionais, fica o fato de que o disco está longe de ser ruim, mas carece de ritmo, ou de um riff, algo que chame a atenção e nos faz querer ouvi-lo de novo. É um álbum bastante épico, bastante inovador, mas bastante cansativo para quem não é iniciado na arte sinfônica. Creio que talvez eu precise amadurecer mais para poder apreciar a obra em sua integridade.

Foi lançado em versão física limitada de 500 cópias, e também no formato digital. Interessados em adquirir uma cópia, basta entrar em contato com as redes sociais da banda (Facebook ou site oficial)  ou pela loja virtual da Mutilation Records. E caso queria conferir digitalmente, Sinfonia Ritual se encontra disponível para audição completa em todas as plataformas digitais.


Tracklist

1. Taqui Ongo

2. 13 Ahau Katun

3. Kayanerehn Kowa

4. Coniupuyaras

5. Deuses da Aurora Ancestral

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