Show  histórico em Porto Alegre. Creio que pela primeira vez na história da  música, uma banda nacional faz uma turnê de divulgação de um álbum que  só foi lançado no exterior. Essa banda é nada mais nada menos que a  inovadora Mutantes, que lançou ano passado o bom álbum Haih ... Or Amortecedor.    Neste último domingo, o grupo, atualmente formado  por Sérgio Dias  (guitarras, vocais), Dinho Leme (bateria), Bia Mendes (vocais), Vinícius  Junqueira (baixo), Henrique Peters (vocais, teclados, Hammond), Fábio  Recco (vocais, piano) e Vítor Trida (multi-instrumentista) realizou uma  sensacional apresentação para pouco mais de 500 felizardos, os quais  sairam extasiados com a fantástica interpretação de novos e velhos  clássicos da carreira da banda. 
Exatamente  no horário marcado, as 20 horas (o que vem sendo uma forte  característica das apresentações no Teatro do Bourbon Country), o grupo  Procura-se Quem Fez Isso subiu ao palco. A extravagante indumentária do  quinteto, que esconde o rosto com máscaras negras e usa faróis em  cartolas colocadas sobre a cabeça durante todo o show, chama a atenção  como a boa sonoridade, misturando excentricidade com bossa nova, samba,  tropicalismo e danças de salão.    Destaque para duas grandes canções: "Bonecos" e "Ele Quer", que  animaram a plateia reduzidíssima de menos de 100 pessoas. O encerramento  com as laternas piscando deu um visual bem interessante junto com a  sonoridade do grupo, que lembrou muito outro grande expoente obscuro do  rock metropolitano de Porto Alegre, o Âmago Elíptico.
Após  a boa apresentação do procura-se, o Teatro começou a se encher  lentamente, e as 21 horas, Sérgio Dias (vestindo um longo traje indiano e  quepe policial) subiu ao palco com os demais integrantes ao som da  abertura de "Dom Quixote". Perfeitamente interpretada, deixou muitos de  queixo-caído já de cara, e após Sérgio pedir desculpas por estar com  gripe e dedicar o show a todas as mães presentes, começa "Caminhante  Noturno", outro clássico interpretado com todas as características  originais, inclusive com Sérgio fazendo barulhos com a mangueira.
A  viajante "Tecnicolor" mostrou aos gaúchos o poder vocal de Bia, que  canta muito bem e se sai melhor do que Zélia Duncan por exemplo. Sérgio  brinca com a plateia, falando que é a mais especial que ele conheceu e  pedindo um voto na próxima eleição.    Reclamando que estavam muito parados (na verdade, eram chocados com a  potência sonora do grupo), e também do som no palco, Serginho soltou "A  Minha Menina", e aí sim, a gurizada delirou.
Mesmo assim, a necessidade de se ter o público na mão fez o grupo puxar "Baby", tocada como no álbum Jardim Elétrico,  e com improvisações de Bia como "vamos tomar um sorvete na banca 40"  (importante banca do mercado porto-alegrense) e "ouvir a canção da  Elis", além de desfilar com uma bandeira do Grêmio que fora arremessada  para o palco.    Conquistado o  público porto-alegrense, e ainda tirando o tempo dos colorados,  chamando os mesmos de coloridos, Bia e os Mutantes ficaram à vontade  para apresentar canções do novo álbum, que segundo Serginho será lançado  em breve por aqui.
Assim,  o grupo passeou e surpreendeu com a ótima "Querida Querida", seguida  por "Teclar", a complicada "2000 e Agarraum" e o bluesão "Bagdad Blues".     Depois da boa sequência de Haih,  Serginho se soltou, contando histórias de quando os Mutantes abriram  para a Aphrodite's Child na França, falando que Vangelis influenciou  muito Arnaldo Baptista, e trazendo o primeiro grande momento do show, a  fenomenal interpretação para "Jardim Elétrico", onde Dinho fez um longo e  incrível solo, mostrando que mesmo com o passar dos anos e tendo se  afastado durante muito tempo da bateria, é um dos melhores do Brasil.
Mais duas faixas de Haih  ("Anagrama" e "Neurociência do Amor") e o grupo entrava ns clássicos  derradeiros, começando com "Top Top" (onde o chão do Teatro tremeu),  "Balada do Louco" (levando muita gente às lágrimas) e no ponto alto da  noite, "Ando Meio Desligado".
Particularmente,  essa canção foi demais. Primeiramente, Bia veio até o local onde eu  estava com mais três amigos que foram feitos ali na hora (só o rock para  se propiciar momentos como esses) e cantou a parte de inglês direto em  nossos olhos. Depois, foi a vez  de Serginho começar a solar de forma  fenomenal, e se dirigir até nós. Ali, Serginho primeiro se ajoelhou e  depois, sentado a menos de 50 cm da minha mão, Serginho fez um solo  excepcional de quase 10 minutos, comandado pelos gritos de todos e  principalmente por nós 4. Ficava claro que ele estava curtindo muito o  momento, pois olhava para nós, ria e destruia a sua guitarra maldita com  bends, distorções, feeling, além de agitar muito com a gente. Isso não  tem preço literalmente.
Serginho se levantou e encerrou a canção, puxando o riff da pesada "A Hora E A Vez do Cabelo Nascer", colocando o Teatro abaixo.    Encerrava-se a apresentação, e a plateia ensandecida gritava por mais.  Para quem tinha visto o maior guitarrista brasileiro tocar a poucos  centímetros do seu nariz, tive mais uma surpresa, assim como os  presentes.
Os Mutantes voltaram e Sérgio perguntou: "O que vocês  querem que a gente toque?". Choveram músicas, e eu e mais aguns gritamos  "O A E O Z".    Não é que  Trida começa com o maravilhoso duelo instrumental de "Você Sabe",  desafiando Serginho que prontamente segue as notas iniciais. De  arrepiar!!! Relembrando letra e música na hora, praticamente no  improviso, ambos, acompanhados pela percussão de Dinho, resgataram esse  que um dos melhores momentos dos Mutantes pós-Rita Lee. Fantástico e  perfeito!! 
Após  isso, mais três pedidos foram atendidos: "Vida de Cachorro" (com a  plateia uivando muito), "El Justiceiro" (onde Bia tocou castanholas) e  "Bat Macumba" em mais um longo e distorcido solo, encerrando o show com  "Panis Et Circensis" e muita adrenalina, com longos e viajantes solos de  Serginho, que mesmo gripado tocou muito.
Após  o show, brigas por set list e palhetas, me dirigi até o camarim do  grupo acompanhado pelos meus novos amigos (o pessoal da segurança do  Teatro até já me conhece de eu ficar na volta) e mais umas 10 pessoas.  Altamente atenciosos, todos eles nos trataram com muita atenção e  carinho, distribuindo autógrafos, tirando fotos e comentando sobre  várias passagens do show e da carreira da banda, entre garrafas de  vinho, salgados e otras cositas más ...
Ainda cobrei Bia pelo  "colorido" e ela falou que haviam passado essa informação para ela, que  os torcedores do inter gostavam de ser chamados assim, ou seja, fizeram  uma brincadeira com a cantora, que agora já sabe a verdade.    Comparado com o show de 2007, onde Arnaldo Baptista estava presente, o  show do Dia das Mães foi bem menos tocante e emocionante, mas mesmo  assim, foi surpreendente principalmente por mostrar que os Mutantes  ainda são a melhor banda do Brasil, e que após 40 anos de carreira, e  ainda fora da grande mídia, tem muito a ensinar para bandas como NX  zero, For Fun entre outros. 
E  quero agradecer de forma especial para Felipe, Bruna e Ariane, que  curtiram o show comigo e agitaram bastante pra conseguirmos entrar no  camarim. Valeu mesmo. Um forte abraço a vocês! 
Set list:
Dom Quixote
Caminhante Noturno
Technicolor
A Minha Menina
Baby
Querida Querida
Teclar
2000 e Agarraum
Bagdad Blues
Jardim Elétrico
Anagrama
Neurociência do Amor
Top Top
Balada do Louco
Ando Meio Desligado
A Hora E A Vez do Cabelo Nascer
Bis
Você Sabe
Vida de Cachorro
El Justiciero
Bat Macumba
Panis Et Circensis
 
 
 

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