Dois anos se passaram e Mogg teve a ideia de trazer o UFO das cinzas. Para isso, chamou o velho companheiro Paul Raymond para os teclados, e agregou novos e virtuosos instrumentistas para as demais posições, com Paul Gray no baixo, "Atomik" Tommy McClendon (Tommy M) nas guitarras e Jim Simpson na bateria. Os ensaios começam e logo um novo contrato com a Chrysalis é feito, permitindo o lançamento do primeiro álbum do grupo em 2 anos.
Assim, em novembro de 1985 chegava as lojas Misdemeanor, que poderia ser tratado mais como um disco solo de Mogg do que da carreira do UFO. O disco abre com "This Time", onde uma esganiçante guitarra acompanhada por baixo e teclados faz a introdução, com a faixa desenvolvendo-se em um acompanhamento fraco, repleto de sintetizadores e vocalizações, escapando-se apenas o solo do virtuoso Tommy M.
"One Heart" traz um bom riff acompanhado pelo solo de Tommy M, com uma irritante participação de Raymond acompanhando os vocais, em uma típica canção para propaganda de cigarros, seguida por "Night Run", onde os teclados são a principal atração.
A bonita introdução de "The Only Ones" apresenta uma melosa balada, com um solo de Tommy M que não se encaixa na proposta da faixa, e "Meanstreets" encerra o lado A com um pesado riff, onde teclado e guitarra fazem escalas orientais em um interessante refrão.
O lado B abre com "Name Of Love", outra com muitos teclados. O empolgante riff inicial não é condizente com o resto da canção, que se alterna entre momentos mais oitentistas e outros pesados.
"Blue" é uma canção ao estilo AOR, com destaque para Tommy M e Raymond, assim como "Dream The Dream", uma balada sem sal que não condiz com os grandes anos do UFO.
"Heaven's Gate" possui uma forte introdução com guitarras e teclados, em mais um pomposo refrão para propaganda de cigarros, com Tommy M desfilando seus dedos por todas as casas da guitarra, tentando bater o recorde de notas tocadas por segundo, mas sem nenhuma emoção, e o álbum encerra com "Wreckless", uma balada ao piano elétrico que se transforma em um interessante som, com boa pegada de baixo e bateria.
No Japão, Misdemeanor saiu com três bônus: "Night Run", "This Time" e "Heaven's Gate", todas em versão remix. Existe uma rara versão promocional deste álbum onde a capa apresenta apenas a garota com a arma e sem a parte branca, com a capa traseira feita com uma fina folha de ouro. O álbum foi um fracasso em vendas, conseguindo apenas a posição 106 nos EUA, onde foi lançado em março de 1986, e 74 na Inglaterra. Mesmo assim, o UFO saiu em turnê pelos dois países e também Japão, o que ficou registrado no DVD Misdemeanor Tour. No Japão ainda saiu um CD promocional chamado Misdemeanour Tour Live 1985, muito cobiçado pelos fãs. Vale ressaltar que em alguns shows, a tecladista era nada mais nada menos que Barbara Schenker, irmã mais nova dos irmãos Schenker.
Após a turnê, Raymond sai do grupo, e como quarteto, gravam em 1987 algumas faixas que acabam saindo no EP Ain't Misbehavin', o qual é lançado somente em fevereiro de 1988. Mantendo a linha AOR de Misdemeanor, O EP abre com "Between A Rock And Hard Place", onde os vocais de Mogg lembram muito os vocais de Plant nos anos 80. O refrão com vocalizações femininas e o solo de Tommy M são os pontos fortes desta faixa.
A fraca "Another Saturday Night" vem a seguir, um rock oitentista sem inspiração, levando ao encerramento do lado A com a quase pop "At War With The World".
"Hunger In The Night" abre o lado B em um hard bem oitentista, com um refrão extremamente grudento, seguida por "Easy Money", onde Tommy M usa vários efeitos em um bom riff, naquela que talvez é a melhor faixa dessa época do grupo.
"Rock Boyz, Rock" encerra o EP em uma canção na linha do Van Halen, inclusive com Tommy M brincando com os harmônicos que nem Eddie Van Halen. A bolacha ainda traz uma faixa extra, "Lonely Cities (Of The Heart)" que não acrescenta nada a carreira do UFO. A capa original com a mulher nua foi vetada nos EUA, onde o EP saiu com uma capa bem diferente.
Sem obter nenhum sucesso, Mogg novamente acaba com o UFO, mas não por muito tempo. Em 1992, tendo o guitarrista Lawrence Archer e Clive Edwards (bateria), bem como a volta de Pete Way, o UFO re-ressurgia com o bom álbum High Stakes & Dangerous Men, contando também com a colaboração de Don Airey nos teclados, e trazendo boas faixas como "Revolution" e "Borderline", e que foi lançado de forma totalmente independente. Obviamente, o grupo foi para o Japão divulgar o álbum, saindo de lado com Lights Out In Tokyo - Live, o terceiro álbum ao vivo da banda voltado para o mercado japonês, além do lançamento do VHS e LD History of UFO, trazendo várias apresentações de clássicos do grupo bem como entrevistas com expoentes como Steve Harris, Rick Savage e Joe Elliot. Do Japão, surgem também várias propostas da reunião da formação clássica do grupo.
Mogg e Way estavam empolgados com a ideia de resgatar os velhos tempos de Force It e Phenomenon, mas o problema parava exatamente em Michael Schenker. Após Parker aceitar o retorno ao UFO, ele foi um dos encarregados de convencer Schenker a reassumir seu posto. Depois de muitas conversas e pedidos de desculpas, o line-up clássico voltava à ativa, com Mogg, Way, Parker, Schenker e Raymond. Fazem a primeira apresentação já em 1994, no Texas, e tem um retorno explosivo e emocionante da plateia presente no local.
A ideia não poderia ter sido melhor, e logo começam as gravações de um álbum. Com a inspiração lá em cima, em poucos meses gravam Walk On Walter, um grande álbum que conta com o retorno de Ron Nevison na produção, o qual havia produzido os três últimos LPs do UFO com Schenker. Nevison é o responsável pela regravação de dois clássicos, "Doctor Doctor" e "Lights Out". Como homenagem, Walk On Water é lançado primeiramente somente no Japão, inclusive com uma faixa trazendo uma mensagem especial aos nipônicos e uma palheta de Schenker. Obviamente, o álbum foi sucesso de vendas por lá.
O disco traz excelentes canções, como "Self-Made Man" (em um lindo solo de Schenker), "Venus" e "Darker Days", resgatando os bons tempos e principalmente a moral da banda. Em 1997, Walk On Water foi lançado em outros países, com uma capa diferente e com três bônus que faziam anteriormente parte dos repertórios solos de Schenker, Way/Moog e Raymond. Para divulgar o álbum, começam com uma turnê de sucesso pela Europa, tendo o Quiet Riot como banda de abertura, e que causou a baixa de Parker, o qual foi substituído por Simon Wright.
Após a perna europeia, partem para a América, com lotações esgotadas por várias cidades. Porém, Schenker resgatava seu comportamento temperamental, dando novamente acessos de estrelismo e arrogância. Antes de uma apresentação em Hollywood, Schenker e um ambulante que vendia camisetas falsificadas da banda cairam no pau, com o alemão levando a pior.
Era o início para as fugas de Schenker voltarem com força, gerando cancelamento de shows e novas brigas internas. Quando o alemão dava as caras, o pau pegava entre ele e Mogg, e Way, com um visual decadente, afundava-se de novo nas drogas. Tendo obrigações contratuais, o UFO parte para o Japão, onde o pau quebra de vez (de novo!), com Schenker jogando a guitarra ao chão em pleno palco, despedindo-se dos incrédulos fãs japoneses e partindo de volta para sua carreira solo.
Como o contrato assinado para as gravações de Walk On Water dizia que o nome UFO só poderia ser usado por Mogg e Way quando Schenker estivesse presente, o vocalista e o baixista decidem montar então uma nova banda, batizando-a de Mogg/Way, e tendo como músicos George Bellas (guitarra) e Aynsley Dunbar (bateria), com quem lançam o interessante Edge Of The World (1997). Em 1999, tendo Jeff Kollman nas guitarras, Simon Right na bateria e a volta de Raymond, lançam Chocolate Box, sendo que entre 1998 e 1999, dois shows com Schenker ocorre no Astoria Charing Cross Road de Londres, o que novamente abriu as portas para a paz surgir entre os músicos.
Em 2000, com Way, Mogg, Schenker e Dunbar, o UFO lançava o maravilhoso CD duplo Covenant, trazendo um álbum de inéditas e outro gravado ao vivo nos EUA ainda na turnê de Walk On Water. O disco estoura, e o UFO parte para mais uma turnê repleta de problemas. Schenker estava cada vez mais fora de forma do ponto de vista físico, engordando mais que um porco, mas tocando muito com a guitarra nas mãos. Então, antes de um show em Manchester, o vocalista dos Quireboys Jonathan Gray invoca com o estado do alemão, que parte para cima do vocalista e acaba levando uma surra. No show que ocorrera no dia seguinte, Schenker, com os dois olhos roxos, recusa-se a fazer seus solos, além de insultar Mogg na frente de todos, chegando a oferecer sua guitarra para o vocalista tocar. A plateia vaiou fortemente, e todos os demais shows tiveram que ser cancelados.
Mas nem tudo era miséria, e em 23 de junho de 2001 ocorreu um dos pontos altos do UFO após o retorno de Schenker: a apresentação ao lado de Uli Roth no festival de Castle Donington, o qual foi registrada no espetacular DVD Uli Roth Live At Castle Donington. Nesta apresentação, os dois ex-guitarristas do Scorpions e eternos amigos detonam clássicos como "Doctor Doctor" e "Rock Bottom", e via-se ali que quando queriam, Schenker, Way e Mogg eram verdadeiros amigos e excelentes músicos.
Entre brigas e alegrias, Sharks é lançado em 2002, tendo a mesma formação do álbum anterior. Com muitas guitarras, o álbum agradou em cheio ao público, mas não vendeu muito, culminando com mais uma saída de Schenker, levando com ele Dunbar. No Japão, três bônus ao vivo: "Let It Roll", "Only You Can Rock Me" e "Too Hot To Handle".
Para o lugar de Schenker é chamado Vinnie Moore, o qual havia passado pelo Vicious Rumors, enquanto que Jason Bonham (o filho do Homem) assumia as baquetas. Raymond volta para os teclados, e com o novo time, lançam You Are Here em 2004, partindo para uma longa turnê que é registrada no CD e DVD Showtime, lançado em 2005.
Parker retorna ao seu posto atrás dos bumbos em 2007, após ter passado por uma cirurgia em uma das pernas, tocando com o UFO no Piorno Rock Festival (Espanha) e com a nova formação, registam The Monkey Puzzle, em 2006. Na turnê de promoção, os problemas de saúde com Way começam a surgir, fazendo com que o baixista tenha que abandonar o palco por vários momentos, com um roadie o substituindo.
Os problemas de saúde com Way aumentam, e ele acaba sendo substituído por Rob de Luca. Posteriormente, Peter Pichl assume o baixo, e assim gravam o álbum The Visitor, lançado em 2009 com uma luxuosa capa e também uma linda versão em vinil. O grupo está em turnê atualmente, divulgando The Visitor, e é exatamente esta turnê que chega ao Brasil pela primeira vez na próxima quarta, dia 26, e que irei acompanhar e narrar os momentos em um review mais que exclusivo para vocês leitores do Collectors Room, que desde já agradeço por acompanhar o site e que espero tenham curtido esse retrospecto pela carreira de uma das mais importantes bandas pesadas de todos os tempos.
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