Fazendo uma breve pausa nos textos sobre a carreira do Led Zeppelin, não poderia deixar de tratar sobre um dos assuntos mais marcantes da data de hoje 24 de novembro de 2011.
Há  momentos na vida da gente que marcam para sempre, e que jamais serão  esquecidos. Grande parte desses momentos são fatos relacionados à  família, como um aniversário, uma viagem de férias, o primeiro filho, a  primeira namorada, etc etc. Porém, existem momentos que acontecem e  simplesmente, ficam na memória da gente sem se quer ter ligação com a  vida pessoal do cidadão. Um bom exemplo disso é a data de 11 de setembro  de 2001. Todo mundo que viveu aquele dia se lembra o que estava fazendo  no horário em que as Torres Gêmeas foram atingidas por um suposto  ataque terrorista, e o que fizeram depois que as mesmas Torres Gêmeas  caíram.
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| O bebê Bulsara | 
No  dia 25 de novembro de 1991, eu estava jogando bola dentro de casa,  sozinho, enquanto minha mãe esperava meu pai para jantar vendo o Jornal  Nacional. Foi quando o apresentador William Bonner anunciou que, um dia antes, havia ocorrido a morte do maior vocalista do Rock a pisar na Terra: Freddie Mercury.
Farrokh  Bulsara veio ao mundo no dia 05 de setembro de 1946, na cidade de  Zanzibar, capital da Tanzânia. Muito cedo, mudou-se com os pais para a  Índia, onde começou a viver uma vida voltada para a arte. Entre os  indianos, o pequeno Farrokh começou a ter aulas de piano, até que aos  oito anos de idade, passou a estudar na St. Peter's School, na cidade de  Mubai. Nessa escola, Farrokh teve contato com obras de arte de artistas  como Da Vinci e Picasso, e como a escola pertencia à uma classe de  professores ingleses, veio o primeiro contato com o rock americano e da  Grã-Bretanha, levando-o a formar o grupo The Hectics, o qual tinha como  maior referência Little Richard. Foi nessa escola que Farrokh acabou  conhecido como Freddie.
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| Farrokh Bulsara | 
Aos  17 anos, o agora Freddie Mercury foi com a família para a Inglaterra,  fugindo da revolução de Zanzibar e indo morar em Middlesex, Inglaterra.  Lá, Freddie passou a estudar arte na Isleworth Polytechnic, vindo a  graduar-se em Arte e Deign Gráfico posteriormente na Ealing Art College,  quando completou 20 anos. Esse período foi crucial para formar a mente  brilhante de Freddie, que iria aparecer para o mundo anos depois.
Ao  mesmo tempo que cursava arte, Freddie passou por diversas bandas, ora  como vocalista, ora como pianista, até que em 1969, ingressou no grupo  Ibex. A partir do Ibex, Mercury passou a frequentar as casas de shows da  região de Middlesex. Então, passou a trocar de banda como de roupa, até  que em abril de 1970, assistiu a uma apresentação de um grupo chamado  Smile.
Faziam  parte do Smile Brian May (guitarra, vocais), Roger Taylor (bateria) e  Tim Staffel (baixo, vocais). Mercury passou a se aproximar mais e mais  do Smile, dando sugestões de roupas, canções a serem tocadas e  principalmente, letras. Foi então que May e Taylor decidiram convidar  Freddie a participar da banda. Com a saída de Staffel e a entrada de  John Deacon, surgia assim o grupo Queen.
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| Brian May, Freddie Mercury, John Deacon e Roger Taylor, uma das maiores formações do rock: Queen em 1973 | 
O  Queen (nome dado por Mercury) foi o sucessor britânico do Led Zeppelin.  Nascido exatamente no auge da carreira do Zeppelin de Chumbo, em 1971,  em 1975 conquistou o sucesso. Depois de três álbuns (Queen - 1973, Queen II - 1974 e Sheer Heart Attack - 1974), onde o hard rock pesado predominava, aproximando-se por vezes do progressivo, como podemos conferir em pedras como "Liar", "Great King Rat", "Ogre Battle", "March of the Black Queen", "Brighton Rock" e "Stone Cold Crazy", em 1975 o grupo lançou A Night at the Opera, e fez estardalhaços com um dos maiores clássicos da música, "Bohemian Rhapsody".
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| Freddie Mercury e Mary Austin (1973) | 
A  mistura de ópera com rock pesado, narrando a letra de um jovem que  decide revelar-se ao mundo como homossexual, conquistou o planeta, e  levou o nome Queen, conhecido apenas na Grã Bretanha até então, a  tornar-se referência em termos de música, inovação, e acima de tudo,  arte.
A  partir desse álbum, o nome Queen não parou de crescer, e junto dele, o  nome de Freedie Mercury. Com performances cada vez mais chamativas, no  álbum seguinte a A Night at the Opera, veio outro sucesso, dessa vez "Somebody to Love", registrado em A Day at the Races (1976). Com News of the World  (1977), os poucos que ainda resistiam a curvar-se para a Rainha não  aguentaram, e dobraram os joelhos diante de pérolas como "We Will Rock  You" e "We are the Champions",  essa um hino entoado em todos os gramados de futebol, quadras de  ginásios e qualquer final de evento esportivo que se tem conhecimento.
O sucesso não parou, e em Jazz (1978),  o auge das polêmicas envolvendo o nome de Mercury (e do Queen), com a  escandalosa pedalada dentro do Wembley Stadium, contando com a  participação de mais de 65 garotas totalmente nuas para a gravação de "Bicycle Race". O clipe foi proibido, mas o single da canção tornou-se um dos mais vendidos da história.
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| O polêmico poster de Jazz | 
Porém, pouco depois da turnê de promoção de Jazz, que culminou com o lançamento do fundamental ao vivo Live Killers (1979),  Mercury chocou o mundo. Apesar das suspeitas, até então ele vivia com  Mary Austin, a qual ele dizia ser a maior inspiração de sua vida. Porém,  no final da década de 70, Mercury e Austin já não estavam muitos há  cinco anos, e então, o cantor anunciado publicamente sua  homossexualidade.
A  partir de então, a música do Queen tornou-se diferente. O primeiro  álbum pós-saída do armário de Mercury fugia totalmente das pesadas  canções da década de 70. The Game (1980) veio anteceder o pop  oitentista, misturando rockabilly ("Crazy Little Thing Called Love"),  funk ("Another One Bites the Dust" e "Dragon Attack"), e uma das mais  belas canções da carreira do grupo, a linda "Save Me".
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| Manchete do jornal Estadão sobre o show do Queen em 1981 | 
Mais sucesso, e performances arrasadoras de Mercury, levaram o grupo para criar a trilha do filme Flash Gordon,  que foi lançado em 1981. Seguiu-se uma turnê mundial, onde os  brasileiros puderam conferir as incríveis performances de palco do  grupo, e principalmente, de Mercury. Em cima do palco, o tímido e quase  não-falante Farrokh Bulsara transformava-se em um monstro chamado  Freddie Mercury, capaz de arrancar lágrimas de uma estátua com  interpretações fabulosas. Freddie não era apenas um cantor, era também  um líder, um apresentador, um verdadeiro show-man. Um dos seus maiores  prazeres era ouvir o público cantar, e no Brasil, ele emocionou-se com a  arrepiante interpretação dos mais de 100 mil fãs que lotaram o Estádio  Morumbi no dia 21 de março de 1981.
Em 1982, veio o conturbado Hot Space.  Apesar da enorme crítica negativa sobre o disco, é nele que se encontra  um dos maiores momentos da música: a união das vozes de Freddie Mercury  e David Bowie na imortal "Under Pressure". Na sequência, Works  (1984) deixou como legado a interpretação de Mercury para duas canções  que não foram compostas por ele, mas que marcaram época e uma geração:  "Radio Ga Ga" (de Roger Taylor) e "I Want to Break Free" (John Deacon).
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| Freddie Mercury e Montserrat Caballet, no clipe de "How Can I Go On" | 
Depois  de outra turnê de extremo sucesso, que voltou ao Brasil para uma  apresentação arrebatadora no Rock in Rio I, Mercury dedicou-se ao seu  primeiro disco solo. Mr. Bad Guy  foi lançado em 1985, e deixou a marca registrada do garoto tímido de  Zanzibar, que havia descoberto sua sexualidade e queria transmiti-la  para o mundo da sua forma, e não pelas cobertas do Reinado que fazia  parte. Um belo disco, com destaca para canções como "Living on My Own", "I Was Born to Love You"  e "Made in Heaven", e com Mercury ficando o pé no pop oitentista. É  nesse período que ele descobre que está com uma grave doença, mas ainda  não sabe qual é a mesma.
Entra nos estúdios junto com o Queen para gravar A Kind of Magic (1986), tido por muitos como o melhor álbum da carreira da banda desde A Night at the Opera. Nele, o Queen retoma a veia pesada dos anos 70 em canções como "Gimme the Prize" e "Princess of the Universe", mas exala emoção na balada "Who Wants to Live Forever", mantendo-se no topo dos hits com "A Kind of Magic", "One Vision" e "Friends Will Be Friends".
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| Freddie e o namorado Jim Hutton | 
Para promover A Kind of Magic,  uma gigantesca turnê, com um super palco que influenciou bandas como  Rolling Stones, Metallica e Guns N Roses anos depois, e que foi a última  de Mercury. Esse super palco pode ser conferido no DVD Live at Wembley,  lançado em vinil em 1992. Logo após o término da turnê, na Páscoa de  1987, Freddie é diagnosticado com AIDS, e então, o mundo entra em ruínas  para ele, mas não por muito tempo. Atordoado com a notícia, contou-a  apenas para sua ex-esposa, Mary Austin, e o parceiro Jim Hutton, e  começou um longo tratamento para tentar se curar.
A  primeira atitude é promover uma grande festa, que durou uma semana.  Depois, decidiu afastar-se dos palcos, continuando a produzir em  estúdio. Assim, em 1988, Mercury gravou Barcelona, ao lado da  cantora lírica Montserrat Caballet, que acabou virando uma homenagem aos  jogos Olímpicos de Barcelona, que ocorreram em 1992. A dupla havia se  encontrado um ano antes, e o projeto foi levado adiante, deixando  registrado no mínimo duas obras-primas: "Barcelona" e "How Can I Go On".  A dupla apresentou-se no festival de Ibiza, e então, começou a série de  especulações em torno da saúde do cantor, pois o mesmo apresentou  mancas vermelhas em seu rosto. O último show de Freddie foi justamente  com Montserrat, em 198, no dia 08 de outubro em um festival organizado  em Barcelona, ao lado da Opera House Orchestra, apesar de apenas ter  interpretado um playback, pois Freddie já não conseguia mais cantar ao vivo.
| Freddie Mercury, Roger Taylor, John Deacon e Brian May. Queen em 1989 | 
Debilitado pela Aids, voltou com o Queen para lançar The Miracle  (1989). Um bom álbum, que se não está no nível de A Kind of Magic,  deixou mais clássicos para o grupo, como "Breakthru", "Was it all Worth  is", "The Miracle" e "I Want it All". Nos clipes de divulgação do LP, Freddie aparece bem mais magro, e sem a mobilidade dos clipes anteriores.
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| Manchete no sensacionalista The Sun | 
A  mídia sensacionalista começou a correr atrás de informações sobre a  saúde de Mercury, que trancou-se em um estúdio, produzindo como nunca.  Em novembro de 1990, o jornal The Sun publicou uma foto onde Mercury  aparece totalmente debilitado, com a notícia: "A trágica face de Freddie  Mercury". Mercury e o Queen negavam fortemente a ideia. 
Cansado da exposição de sua imagem, Freddie mudou-se para Montreux (onde The Miracle foi gravado), e assim, sozinho  e debilitado, gravou mais de 100 canções em um período de  aproximadamente três meses, muitas delas apenas com algumas frases  soltas.  O  choque final foi quando descobriu que seu namorado, Jim Hutton, também  estava com AIDS. Mercury permaneceu nos estúdios até quando não aguentou  mais.
Trabalhando  com o Queen, colaborou em mais três clipes: "I'm Going Slightly Mad",  "Headlong" e "These are the Days of Our Lives", lançadas no ótimo Innuendo  (1991), seu último disco oficial, onde Mercury aparece magérrimo, com  pouca mobilidade, sem o tradicional bigode que o caracterizou nos anos  80, mas com muita força de vontade e alegria por ainda estar  trabalhando. Innuendo apresenta ainda a linda "Innuendo"  (com a participação do guitarrista Steve Howe, ex-Yes, Asia, GTR), e a  grande despedida de Mercury, a qual é um legado que permanece até os  dias de hoje como uma emocionante fala de Adeus do vocalista: "The Show Must Go On", lançada em 14 de outubro de 1991 como single.
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| Uma das últimas fotos de Mercury | 
Os  últimos dias de Mercury foram de reclusão em sua casa. Os trabalhos  encerraram-se em 30 de maio de 1991, com agravação do clipe de "These  are the Days of Our Lives". Um de seus últimos desejos foi ver o  pôr-do-sol da varanda de sua sala, antes de perder a visão totalmente.  Suas duas últimas semanas foram de uma luta inútil contra a cegueira e  infecções na pele e na boca, e então, decidiu não lutar mais contra a  morte, abandonando a medicação. No dia 23 de novembro, o mundo recebeu a  notícia de que Mercury estava com AIDS, a qual foi uma vitória para os  sensacionalistas.
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| Novamente o The Sun, anunciando a morte de Freddie | 
As  sete horas da noite do dia 24 de novembro de 1991, após uma série de  alucinações, Freddie faleceu em sua casa enquanto dormia. O mundo perdia  a maior voz do rock, e um de seus maiores show-men.
Em  abril de 1992, mais precisamente no dia 20 de abril, os ex-colegas de  Mercury organizaram um show tributo, batizado de Concert for Life. Com  um estádio Wembley lotado, May, Deacon e Taylor tocaram ao lado de  celebridades como Elton John, David Bowie, Metallica, Guns N Roses,  Extreme, Seal, Def Leppard, Liza Minelli, entre outros. Todo o dinheiro  arrecado foi destinado a grupos de pesquisa contra a AIDS.
Em 1995, o CD Made in Heaven  trouxe muito do material que Freddie havia deixado gravado, assim como  nos últimos anos, diversos lançamentos mantém o nome do vocalista na  ativa.
Minha  ligação a Mercury, exaltada no início do texto pelo marcante fato de  sua morte há 20 anos, se deve justamente por que naquela época, eu já  estava meio que sabendo o que eu gostava e o que eu não gostava. Com 9  anos, estava saindo do Thrash Metal de Possessed e Slayer e descobrindo  bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd, e outras setentistas.  O Queen era daquelas bandas que ouvia-se naturalmente nas rádios, mas  não chamava a atenção.
| Parte da minha coleção do Queen em discos: anos 70 (primeira foto), anos 80 (segunda foto), discos solos (terceira foto) e compactos (última foto) | 
Até  que um dia, eu ouvi "The Show Must Go On", isso semanas antes da morte  de Mercury. Não sei por que, mas mesmo pequeno, aquela canção me bateu  na mente. Depois que ela se associou ao cantor de "Barcelona", uma  música que eu gostava um monte por causa da alta divulgação que teve na  TV, e que ele era o mesmo cara que cantava a "música bonita" da novela  Que Rei Sou Eu? (a saber, a citada "How Can I Go On"), eu passei a ver  aquele cara como uma pessoa muito talentosa, e foi quando eu tive a  primeira sensação de TALENTO sendo mostrada para mim, que eu soube que  aquele TALENTO não mais viveria para poder vê-lo ao vivo.
Mesmo  o retorno do Queen com o vocalista Paul Rodgers, não teve o impacto que  o grupo foi quando Mercury segurava o microfone, e com o pedestal no  meio das pernas, simulava tocar guitarra. A recente notícia de que Brian  May e Roger Taylor gostariam de reativar o Queen com Lady GaGa nos  vocais, é mais uma prova da imagem que Mercury ainda tem. Afinal,  sinceramente, desde a morte do vocalista, a dupla vem vivendo em cima do  nome Queen de forma irresponsável, ao invés de respeitar uma lenda como  Mercury, como vem fazendo o sempre discreto John Deacon.
Sobrou  os discos, as revistas, os vídeos, entrevistas e uma série de material  colecionável sobre o Queen, e principalmente, sobre Freddie Mercury, mas  mais que isso, sobrou a imagem do bigodudo sorridente, tímido nas  entrevistas (apesar de deboches como o famoso caso Glória Maria),  chiliquento e chorão nos camarins, mas que quando abria a voz para  cantar, e os braços para o público, era insuperável. Uma diva, uma  rainha, qualquer adjetivo polêmico, associado a sua homossexualidade,  pode estar sendo usada mundo afora para falar sobre a persona de Mercury  hoje, nos 20 anos de sua morte, mas eu vou encerrar essa matéria com  apenas duas palavras em letras garrafais, junto de uma belíssima imagem  de sua estátua, com o punho direito erguido, localizada em Montreux, na  Suíça:
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| UM DEUS!! | 
 


 
 

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