terça-feira, 22 de novembro de 2011

Led Zeppelin - Parte II



No inicio de 1972, Peter Grant tomou uma decisão que não agradou muito aos promotores de shows. A partir daquele momento, o Led Zeppelin levaria 90% da bilheteria de cada show que fizesse. Mesmo contra a vontade, os produtores acabaram aceitado a proposta, pois os 10% que o Led fornecia em termos de shows era uma boa grana.

Page e Plant na jam session em Bombay
Ao mesmo tempo que Grant preocupava-se em conseguir mais dinheiro para o grupo, e consequentemente para ele, o novo álbum começou a ser gravado na casa de fim de semana de Mick Jagger, em Stargroves, no condado de Hampshire, na Inglaterra. Muito do material para o novo LP surgiu de improvisações durante as festas que ocorreriam em Stargroves. Posteriormente, o grupo mudou-se para o Olympic Studios em Londres, onde o processo de composição tornou-se mais profissional. 


No final de maio, a banda deixou o estúdio, partindo para a turnê americana de divulgação de Led Zeppelin. Como o grupo faria 34 shows em 32 dias, o Led alugou o famoso avião Falcon de nove lugares, que tinha o nome da banda escrito na fuselagem. Depois, apresentam-se no Japão, Austrália e Reino Unido. Em outubro de 1972, Page e Plant deram uma fugidinha para a Índia, onde inclusive chegaram a fazer uma pequena jam session. Nessa turnê, o grupo aparece com um visual bem diferente do que os longos cabelos mostrados meses antes.

De volta para casa, cada membro da banda foi para um canto, seguindo seu caminho para o descanso. Jones recolheu-se na casa que havia acabado de reformar, ao norte de Londres, e que era uma construção típica dos anos 20. Plant foi para seu rancho perto de Kidderminster, com sua mulher Maureen e com seu filho Karac, de apenas seis meses. Bonham estava próximo a Plant, em sua fazenda nova, chamada Old Hyde Farm, na qual ele criava gado e construiu um salão de jogos com uma bela mesa de sinuca. em um espaço de 100 acres. 

Page começou a mergulhar no ocultismo, principalmente na obra de Aleister Crowley.  Frequentemente, o guitarrista adquiriu manuscritos, pinturas e chapéus do poeta, mágico e místico inglês, chegando inclusive a isolar-se no castelo que pertenceu a Crowley. Mesmo pessoas muito íntimas de Page nunca entenderam qual era realmente seu interesse no ocultismo. 
Um fato curioso ocorreu durante a pausa. Bonham, Plant e o tour manager Richard Cole foram assistir Chuck Berry em um clube chamado Barbarella’s, localizado em Birmingham. Bonham, inconformado com o baterista da banda, subiu ao palco, agarrou o baterista pela camisa, tirou-o da bateria e apenas disse: “Chuck, quer que eu toque?”. Chuck começou a tocar “Roll Over Beethoven”, e o acompanhamento de Bonham foi tão impressionante que a plateia delirou. Bonzo ainda tocou mais duas músicas com Berry, que adorou a participação do seu baterista, mesmo que por um curto período.

Apesar de todo o sucesso do quarto álbum do grupo, a imprensa especializada, principalmente a britânica Rolling Stone, continuava a detonar o grupo. Eis que novamente surge a pessoa e esperteza da raposa Peter Grant, que resolveu contratar a empresa mais cara de relações públicas que conhecia, a Solters, Roskin & Sabinson, representada por Danny Goldberg. Enquanto Grant e Danny conversavam sobre as estratégias de marketing, a banda ensaiava para a turnê americana de divulgação do novo álbum no Shepperton Studio, de propriedade do The Who. 
 
Led em Atlanta (acima); manchete destacando a apresentação na cidade (meio)
e Ingresso do show de Atlanta (abaixo)
Quando a turnê estava para começar, Danny já havia colocado na Rolling Stone que esta seria a turnê de rock mais rentável da história dos EUA. E ele estava com toda a razão. As duas primeiras datas da turnê já mostraram o que estava por vir. No dia 04 de maio de 1973, 49 mil pessoas foram ao Turner Field, estádio do Atlanta Braves para a noite de abertura da Houses of the Holy Tour. O que o Led mostrou em cima do palco era anormal e inédito.  Além de canções que iriam aparecer no próximo álbum, alguns aparatos chamavam muito a atenção dos incrédulos fãs, como bombas de fumaça durante "No Quarter", show de lasers durante “Dazed and Confused”, e um gigantesco letreiro iluminado com o nome da banda,. Tudo isso fez com que Atlanta dobra-se os joelhos, ao ponto do prefeito de Atlanta chamar a apresentação de “O maior evento a atingir Atlanta desde o lançamento do filme ... E O Vento Levou”. Apenas com esse show, o grupo arrecadou 250 mil doletas.


Houses of the Holy, o primeiro disco batizado do Led
Nessa turnê, o Led quebrou o recorde de maior público em um show de um único artista, o qual pertencia ao Beatles fazia oito anos. Esse fato ocorreu no Tampa Stadium, na Flórida, quando o Led apresentou-se diante de 56 mil pessoas. A primeira parte da turnê encerrou-se na costa leste, dois meses depois de Houses of the Holy ser lançado (no caso, 28 de março de 1973), desbancando Aloha from Hawaii (Elvis Presley) da primeira posição.

O quinto álbum do grupo, apesar de ser o primeiro a receber um nome de batismo que não fosse ligado a Led Zeppelin, novamente não apresenta o nome da banda na capa do disco, assim como o nome do disco também não está presente.  Ele traz as gravações feitas durante a primavera de 1972, e também nos estúdios particulares de Jones e Page. É a partir daqui que o Led muda sua sonoridade. Os temas celtas e acústicos dos dois álbuns anteriores são trocados pela "modernidade". Incrementando diversos estilos, o Led faz um disco bem diversificado, que abre com uma paulada chamada “The Song Remains the Same”. O riff quase country, e as marcações de baixo e bateria, trazem a longa introdução da canção, inicialmente com o riff marcante, destacando as lindas linhas de baixo. Page despeja peso em seus acordes, solando com notas muito rápidas sobre a levada criada pela sua guitarra, baixo e bateria.


Plant então passa a cantar, com a voz extremamente fina, em um andamento leve, com Page usando dedilhados e a steel guitar, enquanto Bonham marca o tempo e Jones viaja em suas linhas no baixo. Um tema marcado faz a ponte para a segunda estrofe, voltando ao riff inicial, de onde surge Page com mais um solo. A sobreposição de instrumentos é uma pequena amostra do trabalho que o grupo passou a se dedicar a partir de então, fazendo complicados arranjos para as canções. Plant volta a cantar, agudamente, e o pique se mantém até a melódica ponte que leva para a estrofe final. Page faz um pequeno tema, cercado de dedilhados de gutiarra e da marcação precisa de Jones e Bonham, voltando para seu solo final, sempre sobre o riff inicial, e então Plant surge com vocalizações, encerrando a letra da canção com muitos agudos, para entrar em uma das minhas favoritas na carreira da banda.

“The Rain Song” encaixou-se muito bem como sequência de "The Song Remains the Same". Se a primeira faixa do álbum é uma paulada furiosa de cinco minutos, nada melhor do que uma linda balada para acalmar os ânimos. O violão de 12 cordas de Page abre a canção, trazendo os lindos riffs de guitarra criados em uma escala totalmente diferente. Plant passa a cantar, acompanhado apenas pelos acordes de violão e guitarra, em um clima emocionante e muito leve. A ponte entre as duas primeiras estrofes é feita com os mesmos acordes iniciais, porém, apresentando o mellotron de Jones, juntamente do piano, em um arrepiante arranjo de cordas, que combinado com a guitarra, o violão e a marcação do baixo, levam as lágrimas.


Os acordes iniciais são reproduzidos por violão e guitarra, agora acompanhados pelo arranjo de cordas e o baixo. Bonham surge com os brushes, tocando suavemente, e Plant segue a letra, enquanto a canção vai crescendo suavemente, assim como ocorre em "Stairway to Heaven". É impressionante a interpretação vocal de Plant, quase jazzística. Finalmente, Bonham solta o braço, acompanhando a linda melodia das cordas e a base de Page e Jones, que debulha o piano com acordes pesados. Plant solta a voz, gritando muito, e além disso, com muitas vocalizações. O clima diminui, voltando ao ritmo normal, sempre com o mellotron marcando presença entre os acordes de violão e guitarra, e Plant chora ao microfone como nunca, para a canção encerrar em um dedilhado maravilhoso feito pela guitarra e o violão de Page. De chorar!

Single de
"Over the Hills and Far Away"
O violão também abre “Over the Hills and Far Away”, essa uma canção-surpresa, pois seu início não representa o que ela é. A lenta introdução, com sobreposição de violões em uma complicada sequência de arpejos e acordes, trazendo a voz suave de Plant, contrasta com o peso da segunda parte da letra, onde Plant solta seus agudos, enquanto Jones e Page fazem o tema marcado, acompanhados pela bateria de Bonham. Novamente, é possível perceber a sobreposição dos instrumentos. Baixo, guitarras, violão e bateria estão presentes, e o mais gostoso de se ouvir é a nitidez de cada instrumento, separados em cada caixa de som. O solo de Page é outra prova disso. Carregada de efeitos, a guitarra solo de Page está de frente para o ouvinte, enquanto no canal direito, o violão faz a base, e no canal esquerdo, outra guitarra faz um ritmo junto com o baixo. O ritmo pesado traz novamente Plant, concluindo a parte pesada com muitas vocalizações, para então, a canção encerrar-se com a guitarra reproduzindo o dedilhado inicial de forma tímida, quase inaudível, concluindo com um belo acorde de steel guitar

Por fim, o Led investe no funk, através de "The Crunge”, a faixa que encerra o lado A. Bonham puxa o ritmo, enquanto Jones solta os dedos no baixo. Page cria um acorde balançante, e Plant passa a cantar de forma bem diferente do usual. O funk toma conta, destacando as linhas de baixo de Jones, que também participa tocando uma espécie de sintetizador que imita metais, e a ausência de um solo qualquer. Comparado ao que está no lado A, "The Crunge" não é das melhores faixas, mas mesmo assim, é uma boa faixa, e vale pela criatividade do grupo.


Capa interna de Houses of the Holy
O Lado B abre com "Dancing Days”, uma canção bem mais simples em comparação as criações do Lado A. O riff pesado de Page, assim como a marcação de Jones e Bonham, seguem a voz de Plant, meio displicente, ao mesmo tempo que Page explora a steel guitar. Concluída a primeira parte da letra, o riff inicial é apresentado novamente, e então, Plant volta a cantar, com Jones brincando em efeitos de sintetizador, voltando para o riff inicial, seguido pelo breve solo de Page, que encerra a canção.

Single de "Dye'r Mak'er"
Outra novidade musical é o reggae de “D’yer Mak’er”, uma das canções mais conhecidas do Led em nosso país. O riff da guitarra, com o acompanhamento suave de outra guitarra, baixo e bateria, segue a voz de Plant, cantando manhosamente, delineando as curvas de uma estrada jamaicana. Destaque para a tímida participação de um piano marcando tempo da canção junto com a guitarra. Plant dá show de vocalizações, e os "I Love You" do refrão agitaram muita festa adolescente mundo afora. Page faz um breve solo, e Plant encerra a letra com muitas vocalizações, trazendo o saltitante piano, que estava escondido durante toda a canção, para aparecer de verdade com um pequeno tema. Curiosamente, essa é uma das poucas canções do Led que nunca foi interpretada ao vivo.

Mas, na canção seguinte, o piano se destaca. “No Quarter” é a primeira investida real do Led Zeppelin no progressivo. A sombria introdução com os acordes de piano elétrico, mostram o quão talentoso era Jones. Bonham surge, assim como Page faz intervenções, e a introdução cresce, chegando no riff principal, feito pelo órgão, carregado de efeitos, e a guitarra. O piano elétrico volta aos acordes iniciais, trazendo a voz de Plant, carregada de efeitos, assim como o piano. As experimentações são soberbas, a frase "the winds of Thor are blowing cold" relembra os momentos celtas dos dois álbuns anteriores. Bonham surge, assim como Page, chegando no refrão que entoa o nome da canção sobre o riff principal.


Jones então passa a solar no piano, sobrepondo notas e acordes, trazendo Bonham e levando ao solo de Page, onde ele ora ele usa a guitarra limpa, ora cheia de distorção, além de empregar o theremim em efeitos mirabolantes. A sobreposição das guitarras cria um efeito viajante, que mesclado com o theremim e o piano, encerram a viajante sessão instrumentall. Jones retorna aos acordes iniciais, e Plant segue a letra, acompanhado apenas pelo piano. Page faz intervenções com o theremim, e então, chegamos novamente ao refrão, que encerra essa magistral canção com muito peso, e com o ouvinte tendo feito uma longa viagem sem ter saído de seu quarto.

O LP encerra-se com “The Ocean”, que foi copiada por Marcelo D2 na canção "Adoled". O riff inicial surge após vocalizações de Bonham. Baixo e guitarra fazem o tema marcado, trazendo a aguda voz de Plant, com Bonham despejando peso, enquanto baixo e guitarra fazem um tema próximo do funk, apesar de mais lento. O riff inicial é repetido, e Plant segue a letra sobre o funkeado andamento de gutiarra, baixo e bateria, cercado por vocalizações, trazendo o breve solo de Page. Uma sequência de vocalizações a capella, e Plant retoma a letra, com muitos agudos, voltando então para o riff inicial, para concluir a canção e o LP com um agitado ritmo, onde Page sola sobre camadas de guitarra e vocalizações.

Quatro singles foram lançados: "The Song Remains The Same" / "The Ocean - Dancing Days", "The Ocean" / "Dancing Days", os quais não chegaram a fazer sucesso, "D'yer Mak'er" / "The Crunge", que chegou na vigésima posição; e "Over the Hills and Far Away"  / "Dancing Days", que atingiu a tímida quinquagésima primeira posição. Um raro EP com " The Ocean" - "Dancing Days" - "The Song Remains the Same" - "The Crunge" também foi lançado em 1973 para promover o álbum, sem conquistar muitos méritos. As crianças na capa do LP são Stefan e Samantha Gates, e não os filhos de Plant como muitos pensam.

Recebendo a premiação pelas vendas de Houses of the Holy na Suécia
Houses of the Holy conquistou o nono lugar na Espanha, oitavo lugar na Alemanha, quarto lugar na Noruega, terceiro no Japão, França e Áustria, e primeiro no Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Canadá.  Em termos de vendas, o álbum foi ouro na Argentina (30 mil cópias vendidas) e Alemanha (250 mil cópias vendidas), ouro duplo na França (200 mil cópias vendidas), Platina no Reino Unido (300 mil cópias vendidas) e 11 vezes platina nos Estados Unidos (11 milhões de cópias vendidas), mostrando que o Led mandava no país.

Outro fato marcante da época de Houses of the Holy foi quando o grupo chegou na Suécia para promover o LP. Os quatro integrantes do Led foram convidados a receber quatro discos de ouro, referentes aos quatro primeiros LPs da banda, sendo recebidos em um evento no Chat Noir, uma casa de sexo explícito de Estocolmo. Durante a performance sexual de um casal, Plant, Page, Jones e Bonham, um tanto encabulados, receberam a premiação pelas vendas do LP.


Planta do Boeing 720 B (acima), o órgão do jato centro) e
muito conforto dentro do mesmo (abaixo)
A segunda parte da turnê de promoção de Houses of the Holy contou com um Boeing 720 B, de 40 lugares, alugado por 30 mil dólares. Dentro do avião, muito conforto para os integrantes do Led, espalhados em cadeiras, mesas, bar, sala de TV, órgão, cama de casal e lareira artificial. Essa parte da turnê contou com apresentações pela Europa (Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria e França), algumas com problemas entre os seguranças e o público, sendo que os shows de Lille e Marselha foram cancelados, devido ao grande tumulto gernado antes das apresentações do Led. 

Os Estados Unidos foram responsáveis por sediar a parte final da Houses of the Holy Tour. Entre os dias 27 e 29 de junho, o Led encerrou a turnê com três noites lotadas no Madison Square Garden, em Nova Iorque, as quais foram registradas para lançamento do primeiro vídeo oficial do grupo, lançado anos depois. No final do último show, 203 mil dólares do dinheiro da banda foram roubados do cofre do New York’s Drake Hotel. As suspeitas recaíram todas sobre o tour manager Richard Cole, que inclusive, chegou a passar por um detector de mentiras. O dinheiro nunca mais apareceu, e o grupo acabou processando o hotel, ganhando um significante ressarcimento. 

No geral, a Houses of the Holy Tour deu um lucro surpreendente para o Led. Mesmo com o roubo do dinheiro no New York's Drake Hotel, no total, o quarteto deixou os Estados Unidos com mais de 4 milhões de dólares. O grupo partiu para um novo descanso, onde começaram a ser gravadas as imagens individuais de cada integrante para o tal filme a ser lançado. 

Festa de lançamento do selo Swan Song (acima);
O famoso desenho do selo (abaixo)
Logo nos primeiros dias de janeiro de 1974, Grant convocou a imprensa para anunciar o término do contrato do grupo com a Atlantic Records, ao mesmo tempo da criação do selo Swan Song, cujos proprietários eram os próprios integrantes do Zeppelin. Os primeiros contratados do novo selo foram Bad Company, Maggie Bell e Pretty Things. Muitas festas para promover o selo, e após um pequeno período, o quarteto trancou-se para o mais longo período de composição que um grupo já havia feito até então, dessa vez na casa de campo de Headley Grange.

Lá, o quarteto passou por um longo processo de criação, e principalmente, elaboração do novo álbum. Com arranjos complexos, letras diferentes, inovadoras, e uma sonoridade marcante, foram 18 meses em estúdio, gravando sem parar, ao mesmo tempo que acertavam as difíceis passagens elaboradas por Plant, Bonham, Jones e, principalmente, Page. Durante todo o ano de 1974 o grupo esteve envolvido com o novo álbum. Foram sessões ininterruptas de gravação, sobrepondo instrumentos e criando uma atmosfera toda especial para cada canção preparada para o novo álbum. Muitas dessas canções haviam sobrado dos álbuns anteriores, e finalmente, com o amadurecimento de cada integrante, estavam recebendo os toques finais para fazê-las perfeitas.

Em 11 de janeiro de 1975, a banda voltou aos palcos, depois de um ano e meio longe, tocando em Roterdã (Holanda) e no dia seguinte, em Bruxelas (Bélgica). Nesses shows, algumas canções que estariam no novo álbum foram apresentadas, como “Kashmir”, “Trapled Underfoot” e “In My Time of Dying”, causando um choque na plateia, principalmente pelo fato dessas canções serem bastante longas em comparações com as demais.  O grupo voltou para a Inglaterra, e em uma viagem de trem, Page prendeu sua mão na porta de um vagão na Victoria Station. Dias antes do grupo embarcar para a turnê americana, Page estava com os dedos quebrados, e a mesma não podia ser adiada. Resultado: uma mudança no set list foi necessária, para adaptar-se as limitações de Page. No dia 18 de janeiro, começou a perna americana da turnê, que estendeu-se até o dia 27 de março, com 38 shows pelo país.
O melhor álbum da história do rock
Enquanto o grupo estava nos Estados Unidos, Physical Graffiti chegou as lojas, exatamente em 24 de fevereiro de 1975 . Antes mesmo do lançamento, o álbum já havia vendido mais de um milhão de cópias no sistema Pre-order. E o que está contido nos sulcos do primeiro álbum duplo do grupo não decepcionou em nenhum momento. 


Capa interna frontal do disco 1
O melhor disco do Led Zeppelin é uma espécie de "olha como somos os melhores", ao mesmo tempo que exalta talento e muita transpiração. Os 18 meses em estúdio foram transformados em uma essência única, que transborda através de canções fantásticas e únicas, com riffs marcantes e com um quarteto endiabrado.

“Custard Pie” é responsável por abrir os trabalhos. Homenageando Robert Johnson, através de passagens de canções do avô do rock, a faixa de abertura é uma ode ao sexo oral no órgão sexual feminino. Afinal, a tal Torta de Creme de ovos é nada mais nada menos que a vagina (!). O riff da guitarra, seguido pela entrada de um manhoso clavinet, vai sobrepondo instrumentos, trazendo a voz de Plant, o baixo e a bateria, em um manhoso boogie, com destaque para os gritos de Plant. A canção vai desenvolvendo-se, chegando ao solo de Page, o qual apesar de imitar uma guitarra com wah-wah, foi feito com um Sintetizador ARP. Depois, Page sola realmente com a guitarra, para Plant chegar nas frases principais da canção, "Your custard pie, yeah, sweet and nice .... When you cut it mama, save me a slice", encerrando o boogiezão com um belo solo de harmônica, entre muitas vocalizações.

Depois, é a vez de “The Rover” entrar em ação. Quem ouve a canção hoje, jamais imagina que ela originalmente era uma peça acústica que deveria ter entrado no terceiro LP do grupo. Ela sofreu mutações durante a gravação de Houses of the Holy, e veio ao mundo na segunda faixa de Physical Graffiti. A letra narra a história de um andarilho pelo mundo, que conhece as sete maravilhas do mesmo. Musicalmente, o forte estrondo da bateria de Bonham traz as notas cheias de efeitos da guitarra de Page. Depois, Page solta o riff, acompanhado pelo baixo cavalgante de Jones e a levada Bonham, em uma bela introdução, com destaque para o segundo e melódico tema. 

Plant passa a cantar manhosamente, acompanhado pela levada inicial do grupo, e alternando também com o melódico tema, onde uma segunda guitarra faz um bonito dedilhado de acompanhamento. Na ponte central, vocalizações e acordes com efeitos mantém Plant cantando, mais cadenciado, e então, temos o solo de Page, feito sobre a melodia do segundo tema, onde baixo e guitarra repetem a melodia enquanto Page sola com a guitarra limpa. Plant volta a cantar, levando ao final da canção com a repetição do riff inicial, Plant soltando vocalizações e Page solando na guitarra carregada de efeitos.

John Bonham
O lado A encerra com o primeiro grande épico do LP, a paulada “In My Time of Dying”. Com mais de onze minutos de duração, essa é uma canção perfeita para um sexo selvagem e animalesco. Não há mulher que resista aos gritos eróticos de Plant, e principalmente, ao ritmo enlouquecedor e sedutor da canção. O Led conseguiu transformar uma canção tradicional do gospel, gravado por artistas como Blind Willie Johnson, Josh White e Bob Dylan, em um violento atentado ao pudor, na sua mais longa faixa de estúdio.


Nela, Page mostra seu talento com o slide, sendo essa sem dúvida a principal canção do guitarrista com esse instrumento. É justamente o slide que abre a canção com o riff principal,  onde Page está com sua Danelectro tocando sozinho, preparando o clima para a noitada. Bonham surge como uma locomotiva, e Jones é o responsável por seguir os passos do slide, com Bonham dando o ritmo para a canção. 


A letra começa, com Plant acompanhado apenas pelo hipnótico riff do slide, cantando agudamente. Bonham surge novamente, assim como na sua entrada triunfal, e temos um momento revivendo "You Shook Me", com o slide acompanhando a melodia vocal, concluindo a primeira estrofe da letra com o ritmo da bateria. Plant passa a cantar a segunda parte da letra, acompanhado pelo slide e pelo baixo fretless de Jones, repetindo as mesmas notas do slide. Bonham entra em ação, e assim, a segunda parte da letra é concluída com o ritmo da bateria, baixo e slide repetindo as mesmas notas.


Page solta o braço em um riff pegado, e em um ritmo avassalador, baixo, guitarra e bateria comandam o vocal de Plant, que canta despojadamente. A participação de Bonham é incrível, coordenando os passos da gutiarra e do baixo com perfeição, e é notável o uso do chimbal durante o maravilhoso solo de slide feito por Page, um dos melhores de sua carreira, enquanto Jones cavalga no baixo. Aqui, é impossível não visualizar uma linda mulher enlouquecida com o ritmo cavalgante da canção, rebolando e agitando através do bumbo e da caixa de Bonham, ao mesmo tempo que sacode os cabelos com as notas de Page e Jones.


A hora do orgasmo está para começar, e depois de algumas vocalizações, entramos em mais uma sessão instrumental, onde Page dá show no slide, duelando consigo mesmo, enquanto Jones não para de agitar seu baixo. Bateria, baixo e guitarra fazem um tema marcado, voltando para a sequência da letra com muito peso, onde Bonham executa diversos rolos, enquanto baixo e guitarra permanecem grudados, repetindo as mesmas notas, em um acasalamento perfeito.


A partir de então, Plant mergulha de vez na orgia musical feita pelos instrumentos, e pedindo por Jesus, ele grita exasperadamente, sozinho, desafinando, trazendo então o riff inicial, feito pelo baixo e pela guitarra enquanto Bonham quebra tudo, e assim, chegamos aos minutos finais, no grande orgasmo da canção, com o slide e o baixo envolvendo um ao outro entre os gemidos insanos de Plant. O ritmo frenético da guitarra e do baixo, junto com o pesado bumbo, e a gritaria de Plant, é o êxtase de "In My Time of Dying". Plant clama "Shake, shake, shake", e geme como uma mulher atingindo o orgasmo, para a canção encerrar apenas com Plant dizendo "Oh, don't you make it my dying, dying, dying". Por um erro de gravação (intencional ou não), conversas aparecem no fim da mesma, primeiramente com um engasgo de Bonham e depois a pergunta de que seria aquela a versão definitiva da mesma, como se ela estivesse sendo gravada ao vivo no estúdio. De qualquer forma, o "estrago" já havia sido feito, com o Led concluindo o Lado A soberbamente e deixando o ouvinte com as pernas bambas.
Encarte com as canções do primeiro disco
Para acalmar os ânimos, o Lado B abre com “Houses of the Holy”, uma suave canção que conta um pouco das apresentações do Led desde sua formação. Composta para o álbum que recebeu seu nome, ela ficou de fora do mesmo, mas foi utilizada pelo grupo da mesma forma como deveria ter vindo ao mundo no álbum antecessor à Physical Graffiti. O riff da guitarra, com o baixo seguindo as notas do mesmo e a bateria acompanhando, traz os vocais de Plant, em uma canção que lembra bastante "Dancing Days". No geral, é bem perceptível a sua composição, assemelhando-se bastante as canções leves de Houses of the Holy, mas ficou bem como faixa de abertura do Lado B, após a paulada de "In My Time of Dying". Sem grandes destaques, ela roda redondinho, destacando o cowbell de Bonham, assim como vocalizações de Page na parte central da canção. Além disso, é mais uma das poucas canções do Led que nunca foram interpretadas ao vivo pelo grupo.

Single de "Trampled Underfoot"
O funk, que havia sido tentado em "The Crunge", aparece mais fortemente em “Trampled Underfoot”, porém aqui com um espetáculo a parte do órgão de Jones, que puxa a canção com o riff principal, inspirado na versão de Stevie Wonder para "Superstition", seguido pela guitarra, a marcação do baixo e os vocais de Plant, com seu novo timbre marcando presença. As estrofes são cantadas por Plant, intercaladas por pontes pesadas, onde Page despeja wah-wah. Depois de três estrofes, uma curta vinheta, e Plant volta a cantar, duelando com o wah-wah em mais três estrofes.

Então, o órgão entra em ação, fazendo um animado solo, enquanto a sobreposição de guitarra com wah-wah, guitarra distorcida, baixo e bateria, embala o recinto. Page então passa a fazer intervenções com o wah-wah, que vai abrindo espaço entre a sonzeira funk do órgão e do acompanhamento, voltando então para o início da canção, com Plant soltando um grande agudo, encerrando a letra junto com o wah-wah, após cantar mais três estrofes, fechando com muitas vocalizações que repetem a melodia do riff principal. entre solos sobrepostos de guitarra. Essa canção foi composta na época de Houses of the Holy, e assim como "Custard Pie", remota ao sexo através de uma releitura de outra canção de Robert Johnson, dessa vez "Terraplane Blues". Em "Trampled Underfoot", a ideia é narrar sobre as tentações e fantasias sexuais. Grande som!


O segundo épico do LP vem através de “Kashmir”, que encerra o Lado B trazendo toda a influência do oriente que Plant e Page adquiriram por lá através de seus quase nove minutos de duração. Composta por Plant durante um período de férias no Marrocos, próximo ao deserto do Saara, narra justamente as aventuras de Plant por aquela região do planeta. Bateria, baixo, guitarra e o arranjo de cordas, tocado por uma pequena orquestra, apresentam o riff marcial e hipnotizante dessa canção, talvez o mais próximo do rock progressivo que o Led conseguiu chegar. Plant passa a cantar sobre o andamento, que consiste apenas de uma sequência idêntica de mudanças entre cinco acordes. O andamento é pesado, conturbante, e ao mesmo tempo, muito lindo.


Depois de duas estrofes, a pequena ponte, onde órgão, guitarra e baixo fazem o mesmo tema, leva para a segunda parte da letra, sempre com o andamento marcial, mas agora intercalado por intervenções das cordas e da guitarra, fazendo um breve tema. Plant canta mais uma estrofe, e depois de algumas vocalizações, a pequena ponte é repetida. As cordas aparecem com mais evidência fazendo o ritmo marcial, para repetir a pequena ponte, e então, com uma virada de Bonham, a canção mudar.


Plant passa a gemer, enquanto o riff agora é ainda mais pesado, com apenas cinco notas (antes, cinco acordes), tocados por cordas, guitarra, baixo e a precisa batida de Bonham, enquanto Plant geme e solta agudos no microfone. Então, a pequena ponte leva para a terceira parte da canção, onde uma linda melodia das cordas é sobreposta, assim como as vozes de Plant aparecem duplicadas. Esse é um momento emocionante, onde os arrepios correm solto pelo corpo, e principalmente, onde o trabalho de Page como compositor é revelador de sua incrível capacidade não só como músico.


A canção volta para o seu ritmo marcial, e Plant retorna a letra, cantando mais uma estrofe, com as intervenções das cordas e da guitarra. Mais uma vez, a pequena (e marcante) ponte aparece, destacando os metais, as cordas e o teclado de Jones, para mais uma estrofe surgir. Após o retorno da pequena ponte, chegamos no derradeiro momento da canção, onde com um espetáculo a parte das cordas, Plant chora ao microfone, enquanto as cordas sobrepostas criam um lindo tema, Bonham esbanja força socando os pratos (carregados de efeitos sonoros) e os gritos doloridos de Plant fazem até um cão arrepiar a espinha. Não à toa, "Kashmir" é considerada por nove entre dez fãs do Led a melhor música da carreira do grupo, e também é tida por Plant, Page e Jones como a melhor criação do quarteto.
Capa interna traseira do disco 1
O disco dois é bem mais leve do que o disco 1. O Lado C começa com as experimentações progressivas do terceiro épico do LP, chamado "In the Light". Diferentemente das suas companheiras épicas no disco 1, "In the Light" é uma investida mais simples e não tão elaborada, principalmente por ter sido criada em sua maior parte por Jones no seu sintetizador. É nela que está a última participação do arco de violino, desta vez empregado para tocar um violão, em uma canção do Led, exatamente na introdução da mesma, onde o arco de violino acompanha o viajante solo do clavinet, mantendo o estilo oriental que encerrou o Lado B. Plant fala algumas palavras, carregadas de efeitos, principalmente a sobreposição de vozes, enquanto o longo acorde do violão permanece, e Jones faz algumas escalas no clavinet.

Então, Bonham surge, junto com a guitarra e o baixo, fazendo uma escala descendente que acompanha a melodia do clavinet. Então, em um sabbathiano riff da guitarra e do baixo, a canção desenvolve-se, sempre com o zumbido do arco de violino ao fundo, e com Plant cantando simples, sem efeitos, e com a voz bem diferente. O pesado riff se mantém, e repentinamente, a canção ganha uma nova face. A entrada do órgão, com um lindo tema, torna a canção suave, para então Page criar um bonito tema na guitarra, fazendo uma bela melodia.


Porém, os efeitos do clavinet retornam, assim como os efeitos vocais, desta vez não muito longo como na introdução, trazendo o riff sabbathiano novamente, levando ao final da canção, o qual é feito com a linda passagem do órgão acompanhando o tema da guitarra enquanto Plant, com a voz mais próxima do restante das canções do LP, entoa o nome da canção, ao mesmo tempo que Page sobrepõe notas melodiosas de guitarra, concluindo a canção como uma bela balada!

Page brilha com o violão sozinho em “Bron-Y-Aur”, onde faz um bonito dedilhado, bem diferente do que havia feito em "Black Mountain Side", dessa vez com mais melodia e sem virtuosismo. Ela foi composta em 1970, nos tempos que Page passou em Bron-Yr-Aur, e acabou sendo uma bela passagem entre o final de "In the Light" e o início da canção seguinte, a qual também é uma calma canção, batizada de "Down by the Seaside".
Capa interna frontal do segundo disco
Esta também foi composta nos tempos de Led Zeppelin III, e chegou a ser cogitada de entrar em Led Zeppelin, mas acabou vindo ao mundo somente no sexto álbum do grupo. Também nunca foi executada ao vivo. Ela começa lentamente, com a bateria e o órgão acompanhando o tema da guitarra de Page, e Plant cantando levemente. O andar lembra um country rock anos cinquenta, principalmente pelos efeitos da guitarra de Page e as vocalizações. Então, a canção transforma-se, ganhando peso através de uma pesada sessão instrumental, onde Page faz seu solo, sobrepondo diversas guitarras entre as vocalizações de Plant, que canta canta algumas frases para voltar ao ritmo suave da canção, que encerra-se com as vocalizações do grupo.

O Lado C é concluído com uma das mais trabalhosas canções da carreira do Led, “Ten Years Gone”. Para gravá-la, Page utilizou a sobreposição de nada mais nada menos que 14 guitarras. A letra conta a história de um antigo relacionamento de Plant, visto por ele dez anos depois. É uma linda balada, que ao vivo, Jones usava um violão de três braços para tocá-la. A linda introdução com os acordes de violão e baixo, lembra "The Rain Song". Page e Jones criam o riff da canção, com guitarra e baixo (e alguns efeitos), e aqui já podemos ouvir meia dúzia de guitarras sendo tocadas ao mesmo tempo.


O violão volta a ficar namorando o baixo, e Plant passa a cantar chorosamente, trazendo Bonham, que soca a bateria para acompanhar o riff da guitarra e do baixo, enquanto Plant canta. Violão e baixo voltam a ficar sozinhos, e a letra continua, chegando no solo de Page, com muitos efeitos, sendo acompanhando pelo leve andamento das guitarras sobrepostas, baixo e bateria, chegando no refrão, onde um pesado riff acompanha a melodia chorosa dos vocais de Plant.


As quatorze guitarras sobrepostas aparecem na ponte pós-refrão, voltando ao riff central, onde Plant cantar a parte mais um pedaço da letra, com três guitarras solando sobrepostas, enquanto três guitarras fazem o riff central junto com o baixo e a bateria. O violão e o baixo voltam a namorar, e Plant canta a última estrofe da canção, que encerra-se com a conclusão da letra entre os solos sobrepostos das guitarras, o riff principal e o nome da canção sendo entoado por vozes sobrepostas.
Encarte com as canções do segundo disco
O chimbal abre “Night Flight”, e consequentemente o Lado D, trazendo o longo acorde de órgão que acompanha a voz de Plant, enquanto Page dedilha na guitarra, transformando-se em uma dançante e sessentista canção, que lembra bastante "Your Time is Gonna Come", apesar de mais agitada. A sequência é repetida, com Plant cantando gritado, mas sem tantos agudos, destacando as linhas do baixo cavalgante de Jones, que também toca com perfeição o órgão. O tema central de "Night Flight" é um boogie sem-vergonha, com Plant soltando grunhidos e agudos, voltando ao embalo original da canção e a repetição da introdução, concluindo com Plant fazendo vocalizações sobre o ritmo do boogie da guitarra, baixo, bateria e órgão. Essa canção ficou de fora de Led Zeppelin,  e é mais uma que não foi tocada nenhuma vez ao vivo.

“The Wanton Song” surge com o poderoso riff de baixo e guitarra, acompanhado pela paulada da bateria de Bonham.  O ritmo, mezzo funk mezzo hard, vai envolvendo o ouvinte com a entrada dos vocais roucos e rasgados de Plant. A ponte instrumental traz um gostoso funk embalado pela guitarra e pelo baixo, com Bonham fazendo um preciso acompanhamento, e Plant volta a cantar.  A ponte instrumental é repetida, levando ao solo carregado de efeitos de Page, sobre a levada do ritmo da ponte instrumental, voltando para o riff inicial, e a conclusão da letra e da canção com uma sequência de viradas de Bonham, além de um longo agudo de Plant, de forma bem crua e simples, precurssora do material que estaria no álbum subsequente do Led.

A percussão puxa o ritmo de “Boogie With Stu”, trazendo os violões e o piano em um boogie fantástico, saído de alguma taberna dos anos 30. Plant canta como no início da carreira, com a voz bem aguda, e o boogie desenvolve-se em maravilhosos quatro minutos, onde o maior destaque vão para os solos de mandolin, feito por Jones, e a participação de Ian Stewart no piano, fazendo também um interessante solo, além da sequência percussiva do final da canção. Um detalhe curioso dessa canção é que nos créditos, além dos nomes dos quatro membros do Led e de Stewart, aparece o nome de Mrs. Valens. Na verdade, essa foi uma forma de homenagear a mãe de Ritchie Valens, famoso cantor de rock da década de 50 morto em um trágico acidente de avião em 03 de fevereiro de 1959. Segundo Mrs. Valens, ela nunca havia recebido um centavo pelas canções de seu filho. Com "Boogie With Stu", mamãe Valens pôde faturar uns bons trocados.

John Paul Jones,
interpretando "Ten Years Gone"
Vozes abrem “Black Country Woman”, um resgate dos momentos de Led Zeppelin III e Led Zeppelin. Uma canção totalmente acústica, comandada pelos violões de Jones e Page, que trazem os vocais chorados de Plant, através de bluesísticos acordes. Na segunda estrofe, Bonham surge marcando o tempo no bumbo, e na terceira estrofe, solta o braço na caixa e nos pratos, sempre tendo o embalo do bluesão feito pelos violões, e então, entre agudos, Plant passa a solar com a harmônica, dando sequência à letra, encerrando a canção com o solo de harmônica e muitas vocalizações.

Esse espetacular disco encerra com o peso de “Sick Again”, a última a apresentar ligação ao sexo, tratando sobre as groupies adolescentes que seguiam a banda para cima e para baixo atrás de orgias e diversão. O riff sujo de Page e marcações de baixo e bateria, trazem a voz rasgada de Plant, e Page despejando peso nas guitarras sobrepostas. É difícil contar quantas guitarras estão presentes nessa canção. A segunda estrofe, onde os vocais aparecem mais suavemente, conta com uma fazendo o riff base, outra com o slide, outra apenas três notas e mais uma fazendo um dedilhado (!). A base é repetida, e então, uma poderosa ponte instrumental, com Bonham quebrando tudo, leva ao breve solo de Page, feito sobre muitas guitarras sobrepostas que repetem o tema da ponte por diversas vezes. Plant volta a cantar, acompanhado pelo riff inicial, mantendo o ritmo do início da canção. É totalmente percebível a diferença na voz de Plant, sem tantos agudos, e dando um ar novo para as canções do Led. "Sick Again" permanece no mesmo estilo, concluindo Physical Graffiti, o melhor álbum do Led Zeppelin e da história, com a repetição do riff e muitas vocalizações.


Capa traseira do disco 2
Um único single foi lançado, com "Trampled Underfoot" / Black Country Woman", que conquistou a trigésima oitava posição nos Estados Unidos (lembrando que o Led nunca lançou um single sequer na Inglaterra). Algumas versões em cassete possuem "Bron-Yr-Aur" logo após "Kashmir", o que ocorreu para todos os lançamentos em fitas 8-track. Para entender um pouco mais do trabalho que foi a gravação desse LP, é fortemente recomendado o bootleg Brutal Artistry - The Alternate Physical Graffiti, o qual em um CD triplo, apresenta o processo de criação de canções como "The Wanton Song", "Trampled Underfoot" e "Kashmir". Nele, podemos aAcompanhar o processo de sobreposição de guitarras em "Ten Years Gone", o que é algo incrivelmente estafante, e ao mesmo tempo, revelador de quanto Page era um grande músico.
 
Em termos de vendas, Physical Graffiti ficou na décima sétima posição na Alemanha, décima terceira no Japão, quarta na Noruega, terceira na Nova Zelândia, segunda na Espanha, França e Austrália, e primeira posição no Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. O LP conquistou ouro na Argentina (30 mil cópias vendidas), França (100 mil cópias vendidas) e Alemanha (250 mil cópias vendidas), sendo platina dupla no Reino Unido (600 mil cópias vendidas) e a extravagante marca de 16 platinas nos Estados Unidos (oito milhões de cópias vendidas).

O conjunto total da capa de Physical Graffiti: capa externa com janelas abertas (esquerda);
encarte com as canções do disco (direita) e
as duas capas internas frontais (centro-abaixo)
A capa de Physical Graffiti é uma das mais originais e criativas da história da música. Ela apresenta a foto de uma construção de Nova Iorque, localizada na St. Mark's Place 96 - 98. Porém, na versão original do vinil, as janelas frontais e traseiras da construção (ou seja, da capa do vinil) eram recortadas. Para preenchê-las, havia um encarte-duplo, apresentando o nome do álbum. Esse encarte-duplo tinha em uma das faces as canções do disco 1, enquanto na segunda face, as canções do disco 2.


Caso o fã não quisesse preencher as janelas com o nome do LP, ele tinha a sua disposição as capas internas de cada um dos discos. No mesmo formato que a capa externa, apresentando a construção de Nova Iorque, a diferença crucial entre as capas interna e externa era que na interna as janelas estavam preenchidas com diversas fotos, tanto na parte frontal como na parte traseira.
O strip-tease na terceira janela da capa traseira
Assim, você poderia escolher o que queria ver. Imagens dos membros do grupo, de Peter Grant, Charlie Mason, anjos, animais, etc. Porém, a janela mais interessante é a terceira janela aberta da esquerda para a direita, localizada no quarto andar, na parte traseira da construção. A capa interna do disco 2 apresenta nessa janela uma moça loira. A medida que você vai retirando a capa interna de dentro da capa externa, a loira vai despindo-se, em um strip tease sútil, engraçado e genial, estabelecendo a moça totalmente despida após cinco passagens pela janela, mas sem mostrar suas partes íntimas. Mais que genial! Por essas e outras que a capa de Physical Graffiti, criada por Mike Doud, recebeu o Grammy de melhor capa de 1976.

No fim de março, todos os seis discos do grupo estavam entre os 200 mais vendidos nos Estados Unidos ao mesmo tempo, fazendo da banda a primeira da história a conseguir tal façanha. 

A turnê de Physical Graffiti mostrou que o Led era a principal banda ao vivo do planeta. Pelos 39 shows realizados, o grupo vendeu 700 mil ingressos, todos algumas horas depois de terem sido colocados à venda. Com muita grana e sucesso, as drogas invadiram o mundo do quarteto, principalmente Page e Bonham, que passaram a consumir álcool, cocaína e heroína como água. 
Momentos de Earls Court: Going to California (acima);
Stairway to Heaven (centro) e a contra-capa
de um bootleg do show (abaixo)
De volta à Inglaterra, Grant agendou três noites em Earls Court, Londres. Os 51 mil ingressos foram vendidos em aproximadamente cinco horas. Mais duas noites foram agendadas, e também tiveram os ingressos esgotados em pouquíssimo tempo. O set list, abrangeu canções de todos os álbuns do grupo. Os shows em Earls Court é tido pelos especialistas como o auge da carreira do grupo. 


Nele, foi apresentado um gigantesco telão preparado pela Ediphor, o qual ficava acima do palco, e custou aproximadamente 10 mil libras. Uma grande novidade para a época, tendo sido a primeira vez que a Inglaterra presenciou algo do estilo. Além disso, mais de 40 Toneladas de material foi empregado na construção do palco. O gasto de energia elétrica para alimentar as caixas de som e o telão durante as cinco noites de apresentação é considerado equivalente a alimentar uma cidade de 10 mil habitantes durante uma semana.


O show começava com "Rock n' Roll", e a partir de então, era um desfile pela carreira do Led. "Sick Again", "Over the Hills and Far Away" e "In My Time of Dying" sacudiam a galera na sequência, assim como "The Song Remains the Same" mantinha o pique no alto, acalmando com "The Rain Song".

Depois, o grupo começava uma longa viagem, com "Kashmir" e "No Quarter", onde Jones executava seu solo no piano elétrico, envolto por nuvens de gelo seco e show de lasers. Bonham deixa o palco, começando um belíssimo set acústico, somente com Jones, Page e Plant, sentados, para interpretarem "Tangerine", "Going to California" e "That's the Way". Bonham então volta para o palco, e tocando percussão, canta com Plant "Bron-Yr-Aur Stomp". 


"Trampled Underfoot" agita a galera novamente, e Bonham executa seu solo de quase meia hora de duração em "Moby Dick". Depois, Page assume o comando dos solos em "Dazed and Confused", e a galera vem abaixo com o encerramento, através de "Stairway to Heaven". No Bis, "Whole Lotta Love" e "Black Dog" concluiam uma noite espetacular, e que nos último show, contou ainda com "Heartbreaker" e "Communication Breakdown". Foram dias inesquecíveis para os ingleses, e principalmente, para a história do rock. Diversas são as filmagens e gravações de aúdio piratas desse show. Em 2003, o DVD Led Zeppelin trouxe parte dessa apresentação, que arranca lágrimas de qualquer fã do grupo.


Todos os shows superaram as três horas de apresentação, sendo que o último concerto, em 25 de maio, totalizou três horas, 43 minutos e 50 segundos! Uma marca insuperável de quanto o Led tinha o poder. Por causa da dura política de impostos da Inglaterra, cada membro do quarteto comprou casas em outros países. Assim, o Led abandona a Inglaterra, e os shows de Earls Court se tornaram os últimos no grupo no país durante muito tempo. 

Visão geral do palco de Earls Court, com o telão acima do mesmo
Entre julho e agosto de 1975, Page e Plant, com suas respectivas famílias) foram para as ilhas gregas tirar férias. Porém, Page resolveu voltar e participar do processo de edição do filme da turnê de Houses of the Holy, que estava prestes a ser lançado. Plant ficou por lá, e um dia, envolveu-se em um grave acidente de carro, onde fraturou o ombro e o tornozelo. A sequência da turnê de Physical Graffiti teve que ser cancelada, com Plant acabando internado em um hospital na Inglaterra por alguns dias, mas ficando impossibilitado de andar por seis meses. 

É nesse clima sombrio que tem início o processo de composição e gravação do novo álbum do grupo, o qual será tratado na terceira parte da história do Led Zeppelin, aqui no Baú do Mairon.

4 comentários:

  1. Fantástico! simplesmente maravilhosa a tua descrição das músicas e de tudo! amo led e descobri seu blog hj, estou amando as histórias.

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  2. Obrigado Kyoko, sinta-se a vontade para eventuais discussões e pedidos sobre matérias. Não deixe também de acessar o site

    www.consultoriadorock.com

    Lá temos diversas matérias com diferentes colaboradores

    Abraço

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  3. Texto maravilhoso!!! E fotos também!!!

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