1 - Primeiramente, parabéns pelo CD. Muito bom gosto e também ótimas composições. Como  surgiu a idéia de gravarem juntos, sendo vocês ex-colegas de uma das  mais importantes bandas do rock nacional, o Recordando o Vale das Maçãs  (RVM)? 
Fernando Motta (FM) -  Eu e Domingos nos reencontramos no meio dos anos 80, e começamos a tocar juntos, compondo e nos divertindo. Com  o tempo as musicas foram amadurecendo, e resolvemos registrá-las.  Decidimos então, convidar nossos amigos do RVM, que participaram da  banda entre 1973 e 1982. 
Domingos Mariotti (DM)  – Eu e o Motta  tocamos juntos desde sempre. Como outros projetos com  outras formações acabaram não acontecendo e os amigos começaram a cobrar  por um CD, aí resolvemos fazer. 
2 – Vocês ficaram muito tempo sem se falar/ver? 
FM -  Não. A vida tem seus caminhos... 
DM  - A gente se fala desde o primário. Remamos muitos anos juntos, e  tocamos duas a três vezes por semana, ou mais, por dezenas de anos. 
3 – Reunião  possui 10 canções que mantém um clima leve e bem diferente do que  estamos acostumados a ouvir nos dias de hoje. A proposta é exatamente  ser diferente do atual ou apenas voltar à década de 70, onde o  progressivo dominou o rock? 
DM  – Acho que a proposta é fechar o olho e deixar as notas fluírem. O  resultado final parece ser um pouco diferente. A década de setenta é o  embrião do nosso som, mas o clima mais leve; acredito que tem a ver com a  maturidade do momento. 
FM -  A música vem de dentro! Acho que a Natureza é a grande fonte de inspiração! Não pretendo ser diferente de nada. Faço apenas o que sinto! Sem compromisso! Essa é simplesmente "a nossa música"... Música que fazemos hoje! 
4 – Explique um pouco mais sobre a introdução da canção “Calimbeiro”, para os que não conhecem o instrumento Calimba. 
DM  – Essa quem tem de responder é o Motta. Na verdade eu considero esta  musica praticamente só do Motta, apesar dele ter me creditado como  co-autor, ele fez praticamente tudo. E o nome da musica, eu sei que é em  homenagem ao neto, pois ele fez a musica no clima do nascimento do  Calimbeiro. 
FM - Eu tocava a Calimba pro meu neto, e ele abria o maior sorriso! Fiz uma música pra ele, e o Calimbeiro, aparece tocando no começo, e vai embora tocando no fim... 
| Fernando Motta, Domingos Mariotti e Luis Aranha | 
5 – O período de gravação de Reunião  foi de quanto tempo? A mixagem durou três anos por quê? (no encarte do  CD, consta mixagem 2007 / 2010) Por que o CD demorou tanto tempo para  ser lançado? 
DM  – Na primeira etapa eu e o Motta gravamos todas as musicas juntos. Cada  um num aquário. O vídeo da musica “Duas Meninas” mostra tudo isso, pois  o Lombardi que fez as cenas, “pegou” o take que valeu. Quando a  guitarra saia legal, a flauta tinha que valer. Assim o clima ficava  registrado, principalmente as “conversinhas” nas entrelinhas entre a  flauta e a guitarra. Acabamos registrando 17 musicas. Já tem sobrando  prá um próximo. A segunda etapa, mais demorada, foi a participação dos  músicos convidados. Veio um por um, e teve ensaio antes, e datas que não  batiam, com o estúdio liberado, e uma série de coisas. Inclusive uma  velejada longa que o Motta participou. Aí então partimos para a mixagem.  Aqui um capítulo a parte, pois resolvemos participar ativamente junto  com os técnicos. Mas o resultado foi muito gratificante, pois foi como  uma pós-graduação. Pudemos por em prática e ver acontecer um monte de  coisa que apenas havíamos ouvido falar e sempre passado ao largo. Além  disso tudo, nunca tive pressa de nada nessa vida. Essa sempre foi a  proposta. Quase uma maneira de viver. 
FM -  Como eu disse acima,a vida tem seus caminhos... Fiz  uma viagem longa neste período, (fui até Fernando de Noronha de  veleiro), e os trabalhos andaram bem devagar por algum tempo. Mas a ideia era essa mesmo, sem pressa. 
6 – Vocês  fizeram o disco praticamente sozinho, seja nos arranjos, nas  composições e na mixagem. Faltou apoio das gravadoras ou a busca sempre  foi por algo totalmente independente? 
FM - Foi um trabalho Totalmente independente! Sem compromisso com ninguém! 
DM  – Resolvemos fazer, fomos lá e fizemos. Não perguntamos para ninguém se  podia. Mais independente impossível. Queremos apoio agora, na  distribuição. 
7 – Mesmo  em comparação ao RVM, as canções lembram pouco. São apenas algumas  passagens na flauta ou no dedilhado da guitarra, o que corrobora um  trabalho feito apenas por vocês. 
DM  – Alguém disse já há algum tempo que eu e o Motta éramos o lado  acústico do Recordando o Vale das Maçãs. Acho que é meio por aí. 
FM  - De uma certa forma, eu e o Domingos representamos o lado acústico da  banda."Violão e flauta". As composições têm este particular. A flauta é a  voz que eu não tenho. O resto vem da alma. 
8 – Acho que um dos diferenciais de Reunião  é que mesmo sendo um disco de progressivo, não nega a influência do  blues e do jazz, principalmente em canções como “Barcos Brancos” e a  linda “Caminho de Ouro”. Esses estilos realmente influenciaram suas  carreiras e suas formas de compor? 
FM  - Claro. Não sou muito afeito a rótulos, mas, nossa musica tem  influencia de toda a nossa historia. Jazz, blues, rock progressivo,  Beatles, Rolling Stones, musica classica, etc... É um mix. 
DM – Cinco mil horas ouvindo Duane Allman, tinha que dar nisso mesmo. 
9 – Mesmo  sendo uma dupla, o disco conta com diversos convidados, como Eliseu  Lee, Sergio Lombardi e Fernando Pacheco. O convite para participações  veio espontaneamente ou através da necessidade de preencher lacunas nas  canções? 
DM  – Apesar dessa formação acústica me satisfazer bastante, algumas  musicas parece que pedem mais alguma coisa e a participação dos nossos  amigos superou nossas expectativas, diversificando os timbres, e as  melodias, e trazendo um clima de amizade, de tribo, de festa e de  pajelança. 
FM - A ideia sempre foi convidar o pessoal que tocou com agente no RVM. Reunião, o nome já diz. É sempre um grande prazer, fazer um som com estes caras! A vida toda foi assim... 
10 –  “Kalambelê” é o que mais expressa esse processo de composição de vocês.  Apenas flauta e guitarra, e temos uma canção que lembra clássicos de  Bach. Essa canção em específico demorou muito tempo para ser composta? 
FM - Essa música foi composta em 1 hora!!! Encontramos-nos  em um final de tarde no escritório do Domingos, e começamos a tocar  alguma coisa nova! A gente percebeu na hora e deixou rolar... Em 1 hora,  a música estava pronta! Do jeito que foi gravada! 
DM  – Se você reparar na flauta, eu repito a mesma linha melódica por seis  vezes. A melodia é bem simples, só que cada vez eu faço de uma maneira, e  sempre num crescendo. No CD, além desta, tem também a Praia Triste, em  que somente nos dois tocamos. Mas, todas as músicas, passam por uma versão cordas flauta no inicio. 
| Fernando Motta, Fernando Pacheco e Domingos Mariotti | 
11 – Fernando Pacheco, um dos fundadores do RVM, participa de 5 das 10 canções de Reunião. Como foi voltar a gravar com ele? 
DM  – O Pacheco é um mestre, sabe tudo. Cada vez que a gente se encontra eu  me espanto mais. Para ele tudo é muito fácil. A sua técnica está em  constante evolução, com uma pegada bem característica. Seria muito bom  se tivéssemos mais oportunidades de encontros. 
FM - Pacheco, meu primo e parceiro de musica desde pequeno! Temos uma historia juntos! Foi um grande prazer ter a participação dele neste projeto! 
12 – Confesso  que a foto com você, Motta e Pacheco, para um grande fã do RVM como eu,  é muito emocionante. A possibilidade de o trio se reunir como RVM  novamente, para a gravação de um novo material, existe? Afinal, o RVM  está fazendo shows atualmente, com o Pacheco capitaneando o barco. 
FM  - Sinceramente não sei! Pacheco mora em Minas, e nós em  Santos. Participar de trabalhos como convidados, nós pra lá ele pra cá,  não é difícil. Além do mais, o RVM está na ativa lá em Minas. Mas, quem sabe... 
DM  – O Pacheco mora longe, mas sempre que ele vem pra Santos a gente se  encontra. Infelizmente, umas três a quatro vezes por ano e olhe lá.  Sempre que dá a gente participa dos projetos uns dos outros. Acredito e  espero que ainda façamos várias coisas juntos nessa vida. 
13 – Qual a proposta para os próximos meses? Um novo álbum da dupla está como objetivo ou agora é aproveitar o momento e descansar? 
DM  – Acho que o atual momento é curtir e divulgar este projeto. Tentar dar  oportunidade para ele acontecer. Aprendemos muito desde o inicio, e  acredito que fazer um novo álbum pode vir a acontecer. É só ligar o  “Sempre em Frente”. 
FM -  Curtir um pouco o Reunião.Tocar um pouco! Musicas p/ novo álbum estão prontas, é só fazer acontecer! Sem pressa... 
14 –  Em relação aos blogs e a Internet, qual a importância que vocês vêm dos  mesmos em termos da música no geral, seja para divulgação de bandas  desconhecidas, seja para apresentar a história de algum artista ou  apenas para conversar sobre música? 
DM  – Eu me considero meio dinossauro nesta questão, mas já fuço nesse  negócio a bastante tempo e percebi que a coisa não para de evoluir e que  a estrada é por aqui mesmo. Mas parece que o caminho certo ninguém sabe  ainda. A democratização da informação e  da divulgação é muito benéfica  para todos. Os blogs e as comunidades pontuais são um caminho bem  interessante e muito importante em relação a musica. Eu sou um rato de  blog de musica. Antes eu era rato de loja de disco. Tinha banda que eu  tinha só um LP há trinta anos e não achava mais nada nem nos sebos.  Agora eu conheço a obra inteira. Mas o glamour de tirar o plástico de um  CD novo só perde mesmo pros LPs dos anos 70. 
15 – Como os fãs podem adquirir Reunião? O CD está a disposição para download? 
DM  - A distribuição está apenas começando. Na internet eu já vi alguns  sites vendendo. Estamos vagarosamente fazendo um site e a ideia é ir  disponibilizando aos poucos por lá, mas já vi uns downloads perdidos por  aí.
16 - Obrigado e sucesso para vocês
DM - Valeu por tudo Mairon,
FM - Conte com a gente sempre.
 
 
 

Foi uma honra, para mim, poder me "reunir" com amigos tão especiais e inspirados. Com sábias perguntas e com respostas sinceras esta postagem do Baú do Mairon expos a alma deste trabalho ímpar de dois músicos de qualidades excepcionais.
ResponderExcluirAlém da qualidade musical, este CD traz entre cada acorde o clima de amizade e alto astral que permeou todos os momentos de sua confecção.
Viva a música ! Viva a amizade !
Sérgio Lombardi