Primeiro membro a sair do Yes, ainda em 1970, o guitarrista Peter Banks tentou buscar vida própria, mas nunca conseguiu escapar da sombra de ser "o cara demitido para a entrada de Steve Howe". Com uma técnica admirável, e uma forte influência do jazz, Peter nasceu no dia 15 de julho de 1947, e com quatro anos, passou a ter aula de violão. Facilmente, o pequeno Peter adaptou-se ao instrumento, e logo no início da adolescência, já tocava banjo e guitarra com muita naturalidade.
Não demorou para passar a frequentar diversas bandas na região do norte de Londres, onde posteriormente viria conhecer o baixista Chris Squire, integrando o The Syn, que posteriormente evoluiu para Mabel Greer's Toy Shop e finalmente, Yes.
Yes: Peter Banks, Tony Kaye, Chris Squire, Bill Bruford e Jon Anderson (1968) |
A personalidade forte, bem como a presença de palco marcante, eram características de Banks, e seus longos improvisos nos shows fugiam da ideia que o Yes começava a construir, que estava mais voltada ao progressivo. Com o Yes, Banks registrou dois discos: Yes (1969) e Time and a Word (1970), deixando para trás solos clássicos como "I See You", "Survival" (Yes) e "Everydays" e "Astral Traveller" (Time and a Word), caracterizados pelo uso da variação do volume e de muita influência de escalas de jazz.
Esse excesso de improvisações, assim como divergências no uso de uma orquestra para a gravação de Time and a Word, o que Banks era contra, fez com que o guitarrista saísse do Yes (que inclusive, teve o nome sugerido pelo guitarrista), mas sua capacidade de criar música não poderia ficar estagnada em apenas dois discos. Depois de uma breve passagem pelo Blodwyn Pig, e de ter participado como músico convidado no clássico álbum Nice to Meet Miss Christine (1970) de Chris Harwood, Banks formou o ótimo grupo Flash.
Peter Banks |
Tendo além de Banks, o tecladista Tony Kaye (que também havia saído do Yes), e também de Collin Carter (voz), Ray Bennett (baixo) e Mike Hough (bateria), o Flash gravou três belos discos: Flash (1972), In the Can (1972) e Out of Our Hands (1973), apresentando belas canções, com uma sonoridade marcante, onde a guitarra de Banks sem dúvida era o principal destaque. Porém, o grupo acabou no final de 1973, principalmente pelo difícil relacionamento de Banks com os demais membros do grupo.
Essa dificuldade de relacionar-se afetava a mente genial do guitarrista, que, pressentindo o fim do Flash, decidiu lançar um álbum solo. Para isso, cercou-se de convidados como Phil Collins (bateria, Genesis), Steve Hackett (guitarra, Genesis), John Wetton (baixo, King Crimson, Uriah Heep, Wishbone Ash, ...) e principalmente Jan Akkerman (guitarra, Focus), para gravar um disco instrumental rico em harmonias, composições e principalmente, maravilhas prog.
Contra-capa de Two Sides of Peter Banks |
Two Sides of Peter Banks chegou às lojas pouco depois do lançamento de Out of Our Hands, e chamou a atenção pela distinta proporcionalidade dos lados do vinil. O lado A apresenta quatro canções trabalhadas para serem uma única canção, em uma espécie de suíte, onde o final de cada canção é o início da primeira, enquanto o lado B é dedicado a três improvisos. Com a participação de Jan Akkerman na escrita da maioria das canções, esse LP é um tratado sobre jazz-rock e improvisos, construídos detalhadamente.
Entre tantas participações mais que especiais, é justamente a única canção que Banks gravou sozinho a que mais chama a atenção. Dividida em duas partes, "The White Horse Vale" abre com o belo dedilhado de violão, em um estilo barroco, próximo ao flamenco, na primeira parte da canção, chamada "On the Hill", com Banks tocando o violão em acordes lentos, trazendo a guitarra, fazendo variações do volume. O wah-wah passa a ser usado pelo guitarrista, ao mesmo tempo que sola no violão. A medida que o ritmo de um violão base aumenta, as notas do solo tornam-se cada vez mais velozes, assim como as batidas no violão, de onde surge um moog, também tocado por Banks, para acompanhar a bela levada de violão.
O guitarrista passa a solar na guitarra, e assim, violão e guitarra passam a duelar, um após o solo do outro, e o moog ganha destaque, entrando na segunda parte da canção, "Lord of the Dragon", onde Banks faz algumas notas com variações de volume e harmônicas. Depois, uma sequência de acordes jazzísticos na guitarra, como que testando o instrumento, ora com a variação de volume, ora com harmônicos, traz uma incrível sequência de escalas somente com a variação de volume, de onde Banks passa a solar, ao mesmo tempo que também faz a psicodélica base para seu solo.
A guitarra vai dando ritmo ao solo, despejando wah-wah, e agora, a guitarra é o centro das atenções, com um belo solo, chegando a uma linda sessão de harmônicos. A guitarra repleta de efeitos de Banks é exatamente o início da violenta "Knights", outra que merece o título de Maravilha do Mundo Prog, principalmente por suas intrincadas peças, que unem-se para formar uma excelente mini-suíte, mas que em uma primeira audição, é incomparável ao que Banks faz sozinho em "The White Horse Vale".
A capa interna de Two Sides of Peter Banks |
Depois de Two Sides of Peter Banks, o guitarrista ingressou no Zox & The Radar Boys, ao lado de Phil Collins, Mike Piggott (violino), Ronnie Caryl (guitarra) e John Howitt (baixo), fazendo um som muito próximo ao jazz rock. Depois, ao lado da esposa Sydney Foxx, e de muitos membros convidados formou o Empire, com quem gravou três álbuns: Mark I (1974), somente com músicos ingleses; Mark II (1977) e Mark III (1978), estes somente com músicos americanos.
O músico ainda participou como convidado em diversos álbuns, vindo a lançar outro trabalho solo somente em 1993, através de Instinct, o qual também possui apenas canções instrumentais. Em 1995, Banks regravou "Astral Traveller" para o álbum Tales From Yesterday, o qual é um tributo ao Yes. Foi ligado ao Yes, que o nome de Banks ganhou destaque em 1997, quando ele foi o responsável pelo lançamento do CD duplo Something's Coming: The BBC Recordings 1969 - 1970, onde estão contidas apresentações do Yes no início de carreira, ao vivo na BBC, algo que os fãs mais novos não tiveram o prazer de conhecer até aquele ano.
Banks lançou ainda, em 1998, o ótimo Psychosync, outro álbum ao vivo, porém do Flash, trazendo uma apresentação do grupo no King Biscuit Flower Hour em 1973. Seguiram-se ainda diversas colaborações e mais dois álbuns solo: Reduction (1999) e Can I Play You Something? (2000).
Peter Banks, em 2008 |
Atualmente, Banks vive na Inglaterra, muito ligado ao Yes, participando de festivais dos fãs em homenagem ao grupo, e também tocando como convidado no Yes Tribute Band Fragile, da Inglaterra. Em 2000 e 2002, participou dos álbuns Jabberwocky (2000) e Hound of the Baskervilles (2002), ambos do projeto Wakeman / Nolan, o qual conta com o filho de Rick Wakeman, Oliver Wakeman, e com o tecladista Clive Nolan, além de participar do grupo Harmony in Diversity, com quem gravou o EP Trying, em 2006.
Muitos consideram o trabalho de Banks no Yes como sua marca registrada. Quem se aprofunda, acaba reconhecendo no Flash o ápice da carreira do guitarrista. Certamente, esses álbuns possuem material para pintar por aqui facilmente. Mas foi com "The White Horse Vale", de Two Sides of Peter Banks, que sozinho com sua guitarra e seu violão, Banks fez uma canção perfeita, envolvente, e portanto, a melhor Maravilha do Mundo Prog de que ele participa.
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