terça-feira, 8 de novembro de 2011

Led Zeppelin - Parte I


Em 1968, o final inesperado de uma das maiores bandas dos anos sessenta era visto com péssimos olhos pelos fãs e imprensa de todo o mundo. Afinal, o grupo Yardbirds havia batido de frente com o Rolling Stones e com o Beatles, e ficou marcado por revelar dois grandes gênios da guitarra: Eric Clapton (que naquela altura já estava saindo do Cream e começando a moldar sua carreira solo) e Jeff Beck, que no mesmo ano estava lançando seu primeiro álbum solo, o essencial Truth, ao lado da Jeff Beck Group.

Coube ao último cidadão a empunhar as seis cordas do Yardbirds a difícil tarefa de manter o nome do grupo, e encerrar os contratos de shows que o mesmo havia feito, já que os outros integrantes do Yardbirds (a saber Keith Relf, vocais, Cris Dreja, baixo, e Jim McCarthy, bateria) estavam insatisfeitos com o rumo que o grupo havia tomado, saindo do blues e voltando-se para a psicodelia. O nome desse guitarrista: James Patrick Page, mais conhecido como Jimmy Page.

O Yardbirds em 1967: Chris Dreja, Keith Relf, Jim McCarthy e Jimmy Page
Do fim do Yardbirds, nascia a maior banda de rock da década de 70, e uma das maiores da história, o Led Zeppelin. Hoje, 08 de novembro de 2011, exatos quarenta anos do lançamento de um dos mais importantes discos da história, o quarto álbum do Led Zeppelin, chamado apenas Led Zeppelin, mas com o apelido de Four Symbols, ou Led Zeppelin IV, o Baú do Mairon começa uma série que irá, em quatro capítulos, passear pela história desse grupo britânico, mostrando como foram os anos de ouro e o que aconteceu com os integrantes do mesmo, após seu término em 1980.

Como eu havia dito, coube a Page encerrar as pendências contratuais que o Yardbirds ainda tinha. Dentre esses contratos, uma série de shows pela Escandinávia era necessário. Dreja ainda pensou em seguir ao lado de Page, mas em seguida foi seguir carreira como fotógrafo. Para os vocais, Page contatou Terry Reid. Porém, o músico estava ocupado com sua carreira solo, e como amigo de Page, indicou um jovem loiro que estava cantando em um grupo chamado Band of Joy.

Led Zeppelin, ao vivo na Escandinávia em 1968
Robert Plant era esse jovem, e impressionava por sua performance no palco, sendo um dos casos raros de um branco cantando como um negro. Plant foi o responsável por levar para o grupod e Page o baterista John Bonham, o qual o acompanhava no Band of Joy. Por fim, para o baixo, o escolhido foi John Paul Jones, um excelente músico de estúdio, que havia participado de discos do Rolling Stones, Donovan, Dusty Springfield e outros baluartes do rock britânico. 

Peter Grant
Bastou o primeiro ensaio para que a química entre o quarteto fluísse, nascendo assim o New Yardbirds. Nesse primeiro ensaio, o grupo tocou “Train Kept A Rollin” (que os Yardbirds já estavam tocando há algum tempo), “I Can’t Quit You Baby” (de Willie Dixon), “As Lond As I Have You” (de Garnett Ninns) e “Confused” (outra dos tempos do Yardbirds). Isso foi o suficiente para que os quatro ficassem satisfeitos com a performance, servindo como força para cumprir as datas dos shows do Yardbirds na Escandinávia, bem como outras pequenas pendências.

Nesse meio tempo, passam a ser empresariados por Peter Grant, uma figura que se tornaria muito importante na história do Led Zeppelin com o passar dos anos. Na volta para Londres, o quarteto sente que tem tudo para dar certo, e resolvem mudar o nome do grupo. O baterista do The Who, Keith Moon, é o responsável por dar o nome ao novo grupo: Led Zeppelin, já que eles voavam alto e pesado em cima do palco.

Os show do Led eram cada vez mais arrebatadores, chamando mais e mais gente para suas apresentações. Porém, o grupo não conseguia contrato com nenhuma gravadora. Porém, com um discurso de Dusty Springfield, dizendo que os garotos eram muito bons, são recebidos pela Atlantic Records, que cede espaço em seus estúdios para a gravação de um LP.

A estupradora estreia do Zeppelin de Chumbo
Gravado em apenas 30 horas, com uma produção que custou 1800 libras, Led Zeppelin se tornou o maior rendimento da gravadora até então. Lançado em 12 de janeiro de 1969, o álbum abre com uma paulada: “Good Times, Bad Times”. 



Single de "Communication Breakdown"
Um riff marcado da baixo, guitarra e bateria, seguido por uma marcação no cowbell, apresenta a voz de Plant sobre um segundo riff, criado por Page e Jones. O andamento preguiçoso estoura no fabuloso e sensacional refrão, onde os pratos da bateria praticamente são quebrados pela potência sonora de Bonham. O andamento preguiçoso retorna, destacando as interessantes linhas de baixo de Jones, voltando ao refrão e levando ao primeiro solo de Page gravado para um álbum do Led, fazendo uma barulheira dos infernos com suas escalas rápidas e bends, voltando ao refrão e encerrando a canção com o manhoso andamento inicial da canção, entre intervenções da guitarra de Page.

Depois, o quarteto apresenta o seu poder para criar baladas marcantes. “Babe, I’m Gonna Leave You”, composta originalmente por Anne Bredon, é uma linda canção, que começa apenas com o violão de Page acompanhando os tristes vocais de Plant, dizendo que está abandonando sua fêmea. Os violões tornam-se agressivos, ao mesmo tempo que a bateria entra estufando o bumbo, para então voltar ao dedilhado inicial, com Plant apresentando os diversos "babv, baby, baby" que influenciaram nomes como David Coverdale e David Lee Roth. A tristeza exposta por Plant, tendo o fundo apenas o violão de Page, é atiçada ainda mais pelos gritos agonizantes do vocalista, voltando aos agressivos acordes de violão. 

Page faz uma pequena sequência de acordes, tendo ao fundo o crescendo de um hammond, chegando no emocionante refrão que entoa o nome da canção, com Bonham mais uma vez destruindo a bateria sob os acordes furiosos dos violões de Page e Jones, e com Plant berrando ao microfone. A canção acalma-se para o solo de Page, breve e belo, com Plant seguindo sua emocionante interpretação, de quem realmente está abandonando a mulher amada. O dedilhado do violão é apenas a síntese melancólica do que Plant passa através de sua voz, e mais uma vez, o momento agressivo aparece, como consolidando a dificuldade de se abandonar um grande amor, caracterizando o enorme golpe que isso é.

Um pequeno trecho mais calmo, e mais pancada, com Plant uivando muito. Page sola mais uma vez no violão, enquanto Plant resmunga algumas palavras. Jones e Page fazem as vocalizações tristes, e assim, mais uma sessão de pancadas no violão e na bateria levam ao encerramento dessa fantástica canção sob os gritos agonizantes de "baby, baby", concluindo apenas com acordes de violão e os resmungos chorosos de Plant.

Uma paulada inicial, uma balada agressiva, e então, chegamos a uma aula de sexo. Essa é a sequência de Led Zeppelin, e a aula de sexo ficou reservada para o blues de Willie Dixon, “You Shook Me”. O slide guitar de Page surge estraçalhando as caixas, enquanto Plant sola com a gaita-de-boca, e a cozinha Jones/Bonham executa um blues cadenciado, que leva a safada letra da canção, cantada por Plant ao mesmo tempo que Page acompanha a melodia vocal com o slide guitar. Existe muita semelhança entre essa versão e  que o Jeff Beck Group gravou no álbum Truth (1968), e essa discussão é papo para outro hora. 

Concentrando somente na versão zeppeliana, é inegável a potência dessa canção, capaz de excitar até uma freira com as insinuantes vocalizações de Plant, e claro, a levada da guitarra de Page. Plant canta a letra, como um pavão macho expondo suas asas para acasalar com a fêmea, que acompanha a tentativa de orgia através da guitarra de Page. Os gritos de Plant, junto com os agudos da guitarra, arrepiam.

Jones aparece, mostrando seu talento no órgão, entoando um belo solo, e o andamento manhoso de Page e Bonham acompanham o blues de forma única. Então, Plant passa a solar com a gaita-de-boca, em um estilo comum a maioria dos músicos brancos que tocam blues, mas mesmo assim, a peteca não cai. Finalmente, Page passa a solar, com escalas rápidas e entre viradas de bateria de Bonham, as famosas viradas inversas que marcaram sua carreira, e a canção encerra-se com Plant reproduzindo o início da letra, e finalmente, travando um pequeno duelo com a guitarra de Page

O lado A encerra com uma canção criada (e apresentada nos shows) ainda na época do Yardbirds. “Dazed and Confused” tornou-se a canção principal da carreira de Page. Nela, o guitarrista inova, solando a guitarra com um arco de violino. Ela abre com o sinistro tema do baixo de Jones, enquanto Page faz diversos harmônicos e usa a alavanca, trazendo a esganiçada voz de Plant. A guitarra oitavada muito estridente de Page acompanha o tema do baixo, de onde Bonham surge na bateria, em uma espécie de blues-psicodélico.

Plant continua rasgando a voz, enquanto o tema principal das notas de baixo e guitarra o acompanham, chegando na pesada ponte, onde o riff pega junto das pancadas de Bonham, retornam à sessão da guitarra oitavada e a continuação da letra com o hipnotizante tema da canção. Mais uma vez, a pesada ponte aparece, começando a longa viagem instrumental de Page.

Com o arco de violino nas mãos, ele começa a solar, duelando com vocalizações de Plant e sob o acompanhamento quase inaudível de baixo e bateria. Page brinca com a guitarra e com o wah-wah, criando um efeito inédito no mundo do rock, marcando para sempre seu nome entre os principais guitarristas da história.

A viajante sessão cai em um maravilhoso e agitado tema de baixo e guitarra, com Bonham quebrando tudo, para mais uma vez, guitarra e voz duelaram em gritos muito agudos, com Page solando através de escalas quebradas, confusas, e mesmo assim, muito boas. A pancadaria pega, chegando em mais um tema marcante, com diversos rolos de Bonham, voltando então ao início da canção, com o hipnotizante tema acompanhando o final da letra, encerrando com mais alguns agudos de Plant, em um belo crescendo da guitarra, baixo e bateria.
Contra-capa de Led Zeppelin
O órgão de Jones abre o lado B com a bonita “Your Time is Gonna Come”, outra importante amostra da capacidade de compor baladas do Led Zeppelin.  Depois da longa introdução, Jones puxa o tema da canção no órgão, seguido por bateria, violão e os vocais de Plant, em um clima bem sessentista, refletido no refrão, onde o nome da canção é cantado por todos. Uma pequena ponte acústica da sequência à letra, e Page faz intervenções com um manhoso slide guitar, voltando então ao refrão, onde o slide continua fazendo intervenções, levando ao final da canção, que é exatamente o início de “Black Mountain Side”, uma pequena peça instrumental onde Page resgata mais uma canção da época do Yardbirds, desta vez "White Summer". Aqui, Page faz um bonito solo no violão, acompanhado pela tabla de Viram Jasani.

Depois, a prima-irmã de "Good Times, Bad Times", batizada de  "Communication Breakdown”, surge para resgatar os momentos pesados do início do lado A. O riff criado por Page, com as batidas marcadas de Bonham, trazem a voz esganiçada de Plant. Nunca, em nenhum outro álbum do Led, Plant gritou tanto como nessa canção, um dos precursores do heavy metal, idolatrado por grupos como Iron Maiden e Metallica. O solo de Page, com suas escalas velozes, é mais um grande momento na carreira desse gênio da guitarra. Outro destaque vai para as vocalizações do grupo, que aparecem com relevância cantando o nome da canção.

Outra prima-irmã vem na sequência, agora, a de "You Shook Me", batizada de  “I Can’t Quit You Baby”. Também composta por Willie Dixon, essa canção não é tão sensual quanto sua parceira do Lado A, mas possui outra belíssima performance de Plant. Desde o início, com os gemidos do vocalista, e a entrada triunfal do grupo, esse blues cai como uma boa garrafa de uísque em um dia frio, aquecendo seu corpo aos poucos, através das pontes pesadas de Page, com Bonham fazendo suas viradas, e claro, a manhosa interpretação vocal de Plant, duelando com a guitarra de Page, dessa vez sem o slide, mas com escalas rápidas. No solo de Page, o crescendo típico de todo blues, com Bonham mudando o acompanhamento do chimbal para o prato de marcação, e com Jones sendo o pilar de escora para as endiabradas notas de Page, que passeia por escalas conhecidas apenas por ele. 

Page fica sozinho, soltando alguns bends, com a marcação de Bonham, voltando então para seu solo, e com Bonham criando batidas dificílimas no bumbo, retornando a sequência da letra, encerrando com gritos sob a pesada ponte da canção. 

Jimmy Page, com o wah-wah e o arco de violino
Chegamos a melhor canção do LP, a épica “How Many More Times”. Com seus 8 minutos e 30 segundos, essa é uma obra-prima da fase incial do Led. Tudo começa com o baixo fazendo o riff da canção sob o acompanhamento de Bonham, enquanto Page brinca com o wah-wah. Entre um longo grito de Plant, guitarra e bateria travam um pequeno duelo, para então, baixo e guitarra fazerem o riff principal da canção, com Bonham detonando os pratos no acompanhamento da letra cantada por Plant, em um ritmo frenético e balançante.

Depois de entoar as duas estrofes da letra, a canção muda, entrando na maravilhosa sessão instrumental, onde durante marcações de baixo, pratos e guitarra, Page sola ao fundo, ao mesmo tempo que Bonham executa diversos rolos. Guitarras sobrepostas começam a aparecer, e Bonham puxa uma marcha na caixa, em um crescendo fenomenal, enquanto as guitarras sobrepostas fazem um belo tema.

A partir de então, o Led faz uma viagem em estúdio, com uma sinistra sessão, onde entre batidas de Bonham acompanhando o solo de Jones, Page pega o arco de violino e volta a solar com o mesmo, enquanto Plant entoa a letra, cuspindo-a para o ouvinte, com uma fúria inédita no LP até então. A mistura de batidas, wah-wah, arco de violino, e as palavras de Plant, vai crescendo, tornando-se algo homogêneo, denso e grudento, de onde você não sairá jamais sem render-se a potência do quarteto, deixando Plant sozinho, gritando como nunca.

Assim, começa um dançante acompanhamento feito pela bateria, com baixo e guitarra criando um novo tema central, e Plant cantando "they call me the hunter, that's my name They call me the hunter, that's how I got my fame", chegando ao final dessa passagem com muita vioência nas batidas de Bonham, concluindo com um longo agudo que retorna à origem da canção, com o tema inicial de baixo e guitarra, Plant cantando o nome da canção e Bonham quebrando tudo. Disparado, a melhor canção do LP, e uma das melhores da carreira do grupo, encerrando esse estuprador disco, que lançou a aeronave Led Zeppelin ao seu primeiro vôo.

John Paul Jones, Jimmy Page, John Bonham e Robert Plant (1968)


Led Zeppelin teve apenas um único single, com "Good Times, Bad Times" / "Communication Breakdown", isso mais por exigência da gravadora Atlantic do que por desejo do grupo. Erroneamente, a contra-capa da versão nacional do LP indica "How Many More Times" como tendo 3:30 minutos de duração. Algumas versões em cassete alternaram os Lados do vinil, com o lado A começando com "Your Time is Gonna Come" e terminando com "How Many More Times", enquanto o Lado B começa com "Good Times Bad Times" e encerra com "Dazed and Confused".

O LP alcançou a décima primeira posição no Canadá, a décima nos Estados Unidos e a sexta no Reino Unido. Até os dias de hoje, o LP alcançou ouro na Argentina, Suíça e Holanda (mais de 20 mil cópias vendidas), platina na França e Espanha (mais de 100 mil cópias vendidas), platina dupla na Áustria e Reino Unido (600 mil cópias vendidas), diamante no Canadá (um milhão de cópias vendidas) e platina óctupla nos Estados Unidos (oito milhões de cópias vendidas). Bons números para o álbum de estreia de uma banda ainda desconhecida. Não a toa, ele foi eleito pela revista Rolling Stone como o vigésimo sexto melhor álbum da história do rock, apesar de ter recebido muitas críticas negativas, principalmente na Inglaterra.

Uma série de shows pela Inglaterra serviu para divulgar ainda mais o nome Led Zeppelin, mas a plateia sempre recebia o quarteto com frieza. Porém, a esperteza de Grant fez com que um contrato de 200 mil dólares fosse assinado entre a Atlantic e o Led para promovê-los nos Estados Unidos. A estreia americana ocorreu em 26 de dezembro de 1968, em Denver, ao lado do Vanilla Fudge, seguido de vários pequenos shows que encantaram aos americanos, sendo que em Boston, o grupo bateu um recorde, fazendo 12 (!) BIS. O encerramento da turnê americana encerrou-se no Fillmore East de Nova Iorque, abrindo para o Iron Butterfly. Grant insistiu para que o Led tocasse depois, mas os promotores não aceitaram, já que o Iron Butterfly estava no auge da carreira, tendo acabado de lançar o álbum In-A-Gadda-da-Vida, que havia vendido quatro milhões de cópias. O Led subiu ao palco antes do Iron Butterfly, e durante o show da borboleta-de-ferro, o que mais se ouvia no Fillmore era a plateia pedindo a volta do Led.
Led, recebendo premiação pelas vendas do álbum de estreia

Mais uma série de shows pela Inglaterra, e o grupo não conseguia emplacar em casa. Pouco a pouco, o boca-a-boca começava a fazer efeito. Mesmo com apenas um single, os fãs curtiam o álbum de estreia em sua totalidade, e isso chamava a atenção para os shows, que mesmo sendo em locais pequenos, frequentemente estavam com a casa cheia, e duravam aproximadamente duas horas, com muitos improvisos, principalmente em "How Many More Times" e "Dazed and Confused".

Voltam para mais uma turnê pelos Estados Unidos, novamente ao lado do Vanilla Fudge, enquanto que Led Zeppelin, que havia entrado na nonagésima nona posição na parada da Billboard, alcança a décima posição em poucas semanas, aumentando a pressão da Atlantic pela gravação de um segundo álbum.

Mais clássicos no segundo disco do grupo
Gravado entre janeiro e agosto de 1969, Led Zeppelin II foi lançado, em 22 outubro daquele ano, dois meses depois da última apresentação da turnê de promoção de Led Zeppelin no Texas International Festival, em Dalas, no dia 31 de agosto, e com direito a uma grande festa de promoção realizada em Paris. Ao mesmo tempo do lançamento do segundo álbum, o Led fez mais uma série de shows pelo s Estados Unidos, dessa vez dezessete datas em três semanas, culminando com a quarta passagem do Zeppelin de Chumbo pelos states em apenas um ano.

Led Zeppelin II enfrentou uma difícil batalha quando chegou às lojas. Ao  mesmo tempo, de seu lançamento, o Rolling Stones lançou Let  It Bleed, o Beatles lançou Abbey  Road e o Cream lançou  The Best Of Cream. Porém, as vendas  do LP, que começaram na terceira semana de outubro, foram extremamente rápidas,  e no dia 10 de novembro, Led Zeppelin II já ganhava disco de ouro nos EUA. E não é a toa. Esse álbum aumenta a profundidade musical do grupo em relação à sua estreia, e deixa para a história mais clássicos do rock.

Se em Led Zeppelin o grupo ainda estava amadurecendo, em Led Zeppelin II surgem os primeiros indícios de experimentações que marcariam a carreira do Zeppelin a partir de então, principalmente na abertura, a clássica “Whole Lotta Love”. O imortal riff da guitarra (mais um para a coleção de Page) que até sua vó conhece, introduz esse clássico, seguido por baixo e pela voz de Plant, aguda como no álbum de estreia, depois de uma tossida (provavelmente um  engasgo com a fumaça de um baseado). Bonham surge exatamente no refrão, que entoa o nome da canção. Plant continua a letra da mesma, construída sob a base de outra canção de Willie Dixon (algo que só foi confirmado pelos músicos anos depois), chegando na viajante sessão instrumental, com muitos barulhos percussivos e com Page estraçalhando o teremim. 


Single de "Whole Lotta Love"
Plant solta agudos e suspiros no meio de toda a engembração sonora da bateria e da guitarra. Os momentos assustadores, com Plant berrando "Love", são concluídos com as batidas de Bonham, chegando no clássico solo de Page, e então, Plant continua a letra, repetindo o refrão juntamente dos vocais de Page. A canção parece encerrar-se, mas com muito efeito em sua voz, Plant fica sozinho, entoando que "mulher, lá no fundo vocês precisam disso", encerrando a canção com frases sugestivas para uma transa, bem como as vocalizações insinuantes características de sua personalidade e deixando para a eternidade uma das principais canções do rock.

Na sequência, o Led volta para o blues, com “What is and What Should Never Be”, a qual começa manhosa, com Plant cantando sob o leve acompanhamento de guitarra e bateria, com Jones fazendo algumas escalas. Bonham entra com a caixa, e então, Plant passa a gritar a letra da canção, com vozes sobrepostas, de forma mais agressiva, encerrando a primeira estrofe com vocalizações. A segunda estrofe possui a mesma sequência, e então, Page começa seu melodioso solo com a slide guitar, sobre a base lenta do início da canção. É necessário chamar a atenção para as escalas de Jones, solando ao mesmo tempo que fazer uma bela base para Page. O solo de Page cresce com a entrada da bateria, encerrando a terceira estrofe como sempre. Assim, a última estrofe vem com a sequência da letra, tendo o ponto de crescendo e encerrando com as vocalizações. Page puxa um novo ritmo, e então, Plant passa a gritar a letra, com Bonham e Jones acompanhando a levada final que encerra a canção, com um ritmo bem diferente do que ouvimos até então.

Outro grande blues vem na sequência, “The Lemon Song”. Construída sobre uma canção de Howlin' Wolf (conforme revelado pelos músicos anos depois), ela começa com o riff de Page, regado de distorção, seguido pela base de Jones e Bonham que traz os vocais de Plant. O blues ácido e distorcido possui duas estrofes vocais, chegando ao belo solo de Page, em um ritmo frenético de baixo e bateria, e onde Page abusa de dedilhados rápidos, arpejos e bends.

Um longo agudo retorna à letra e ao ritmo normal da canção, privilegiando o ouvinte para a bela base do baixo de Jones, que acompanha as vocalizações de Plant, tendo ao fundo interferências do teremim de Page, e o suave andamento de Bonham. Aqui, parte do trecho da letra de "Squeeze my Lemon", de "Howlin' Wolf, é citada. Page faz um breve solo sobre o leve ritmo de baixo e bateria, duelando com as vocalizações de Plant, e finalmente, repetindo o solo do ritmo frenético, concluindo com apenas uma frase cantada por Plant, sozinho.

O lado A encerra com mais uma linda balada composta por Page e Plant, “Thank You”, uma balada composta por Plant para sua esposa. Violão e órgão fazem a linda introdução dessa canção, acompanhados por baixo e bateria, deixando Plant cantando suavemente, com o órgão de Jones ao fundo. Bateria e guitarra entram em ação, em um bonito crescendo, que faz a ponte para o refrão, cantado por Page e Plant, lembrando muito bandas clássicas dos anos 60, como Creedence Clearwater Revival, Jefferson Airplane ou The Kinks. Violão e guitarra dão espaço para Page solar com o violão, com Bonham fazendo suas viradas e em um belo ritmo, que não fazem dessa balada uma canção melosa e difícil de ouvir. Plant segue a letra, retornando a ponte, e então, ao início da canção, acompanhado apenas pelo órgão e intervenções da guitarra, concluindo "Thank You" com o belíssimo tema do órgão, e um curioso término falso, onde o volume diminui, aumentando repentinamente.
Capa interna de Led Zeppelin II
Um show de virtuosismo abre o lado B, através da fantástica “Heartbreaker”. O riffzão da guitarra, repetido pelo baixo e com o acompanhamento da bateria, puxam o blues pesado e distorcido. Plant canta agressivamente, com Jones viajando no baixo e com as marcações de prato e guitarra. O riff inicial é repetido, e Plant canta novamente acompanhado pelas viagens de Jones. Então, o ritmo volta para o do riff inicial, e a letra da canção nos leva para um estrondoso momento, lembrando o auge de "How Many More Times", onde aqui, Page fica sozinho, solando na guitarra e criando mais um momento marcante em sua carreira, com uma escala complicada, veloz e repleta de feeling. Depois do pequeno solo, um novo riff de baixo e guitarra surge, e a canção ganha velocidade, para Page continuar a solar, voltando as viagens do baixo e ao final da letra, com muitos agudos e o nome da canção entoado sobre o riff inicial.

A curta “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)” vem a seguir, em um rock agitado, contando com vocalizações de Page e o órgão de Jones, em uma canção que serve mais como um preenchimento de Led Zeppelin II em comparação as demais, até por causa de sua curta duração.

Os momentos acústicos de "Babe, I'm Gonna Leave You" e "Black Mountain Side" aparecem na linda “Ramble On”, outra grande composição da dupla Page/Plant, que passou despercebida inicialmente, mas hoje revela-se ao mundo. Violão, percussão e o tema no baixo de Jones trazem a voz de Plant, bem suave e diferente do que estamos acostumados a ouvir. Aos poucos, a voz começa a chegar no nível que conhecemos. Uma pequena vinheta da guitarra e a bateria aparece no refrão, que entoa o nome da canção entre frases cantadas por Plant. O ritmo do violão, percussão e o tema de baixo retornam para a sequência da letra, com intervenções da guitarra oitavada de Page, e mais uma vez, temos o refrão da canção. Depois de outra breve passagem da guitarra oitavada, Plant continua a letra, com o acompanhamento agora feito por violão, baixo, percussão e um insinuante dedilhado de guitarra, para concluir a canção com o ritmo do refrão.

John Bonham
Um dos maiores momentos de Led Zeppelin II está na instrumental “Moby Dick”, a qual eternizou o nome de Bonham entre os grandes bateristas do rock. Depois do grande riff introdutório, feito por guitarra e baixo, Bonham começa seu solo, utilizando-se de uma marcação precisa do chimbal, ele sola batendo no instrumento não com as baquetas, mas com as mãos. Depois, detona a bateria ainda somente com as mãos, esmurrando os tons, a caixa e o bumbo em suas tradicionais viradas ao contrário, e concluindo a primeira parte do solo com uma barulheira feita pelas batidas em todas as caixas e tons do instrumento. Depois, com as baquetas em punho, Bonham alterna variações entre caixa, tons e pratos, retornando ao riff inicial e concluindo com muitas viradas na bateria mais um grande clássico do rock. Ao vivo, "Moby Dick" podia durar meia hora de duração, dependendo única e exclusivamente da inspiração de Bonham. Hoje, até soa piegas ouvi-la, mas na época de seu lançamento, foi um marco, que a fez essencial nos shows do grupo a partir de então.

Baixo e gaita-de-boca introduzem o bluesão “Bring it on Home”, de Willie Dixon e adaptado por Page e Plant. Plant canta com o vocal cheio de efeitos, acompanhado apenas pelo baixo e fazendo intervenções com a gaita-de-boca. Page surge com um pesado riff, acompanhado por Jones e Bonham, e então Plant solta a voz, em um blues agitado e muito pesado. Novamente, é fundamental chamar atenção para as linhas de Jones, que mesmo sendo um integrante praticamente sem atenção, toca muito e faz-se aparecer naturalmente, sem nenhum esforço. O riffzão é repetido, dando sequência para a letra, Depois da violência, o baixo e a voz distorcida de Plant retornam para concluir a canção com um singelo dedilhado da guitarra acompanhando as notas da gaita-de-boca.

Led Zeppelin II teve, assim como seu antecessor, um único single, contando com "Whole Lotta Love" / "Living Loving Maid (She's Just a Woman)", que foi quarto colocado nos Estados Unidos, e vigésimo primeiro no Reino Unido. Alguns lançamentos em cassete tem o Lado A terminando com "Heartbreaker", e o lado B começando com "Thank You", assim como "Moby Dick" aparece como a segunda canção do Lado A de alguns cassetes, enquanto "What is and What Should Never Be" virou a segunda do Lado B. A versão original do LP creditava o tempo de duração de "Thank You" como 3:50, esquecendo o falso término que a canção possui.

E ele vendeu muito, mas muito mesmo. Ele chegou na oitava posição no Japão, terceira na França, segundo na Noruega e primeiro no Canadá, Austrália, Espanha, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Assim, desmbancou todos os concorrentes, dentre eles, Beatles e Stones (algo que nenhuma banda havia conseguido até então). 

Em termos de vendas, ele conquistou ouro na Argentina (30 mil cópias vendidas) e Áustria (25 mil cópias vendidas), ouro duplo na França (200 mil cópias vendidas), Platina na Alemanha (500 mil cópias vendidas), Platina quádrupla na Austrália (280 mil cópias vendidas), Platina quádrupla no Reino Unido (1 milhão e 200 mil cópias vendidas), Platina nônunpla no Canadá (900 mil cópias vendidas) e a absurda marca de 12 Platinas nos Estados Unidos, correspondendo a nada mais nada menos que 12 milhões de cópias vendidas. 

Led e os discos de platina pela venda de seus dois primeiros álbuns
Um dos fatos mais inusitados relacionados à Led Zeppelin II ocorreu em relação ao início de sua turnê de promoção. Depois de quatro turnês pelos Estados Unidos, Page, Plant, Bonham e Jones estavam exaustos, e pretendiam tirar férias de final de ano antes de voltar para os palcos. Porém, uma proposta de um milhão de dólares foi enviada para o grupo, com a finalidade dos mesmos apresentarem-se em um show na virada do ano de 1969 para 1970 na Alemanha Ocidental, show este que seria transmitido via satélite para os Estados Unidos. Porém, o empresário Peter Grant recusou a enorme proposta, dizendo que havia mais coisas na vida do que dinheiro, e que os membros do Led estavam cansados, sem condições de apresentar um show com qualidade condizente com o nome da banda! Algo que hoje é muito raro de vermos nos grupos.

Depois de dois LPs de extremo sucesso, que ajudaram a desbancar o Beatles da lista de favoritos dos britânicos, o quarteto finalmente estava com a Inglaterra aos seus pés. Em 09 de janeiro de 1970, o Led voltou aos palcos, para uma apresentação no Royal Albert Hall de Londres, exatamente no dia do aniversário de Page, que completava apenas 26 anos, e já era considerado um dos grandes guitarristas daquele momento. Depois de duas horas e meia de espetáculo, os presentes constataram aquilo que muitos já sabiam: o Led estava tornando-se o maior grupo de rock da década de 70. Seguiu-se uma bem sucedida turnê pela Europa, onde o grupo passou por Dinamarca, Finlândia, Suécia, Holanda, Alemanha, Áustria e Suíça. Nessa turnê, outro fato bastante inusitado ocorreu com o grupo quando em sua passagem pela Dinamarca.
Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham (1969)
Eva Von Zeppelin, uma descendente direta de Conde Ferdinan Von Zeppelin, criador da aeronave que deu nome ao grupo, ameaçou processar o quarteto se eles se apresentassem com aquele pseudônimo. Apesar de tentativas de esclarecimento, não houve acordo, e pela primeira e única vez, o Led Zeppelin fez um show batizado de The Nobs (algo como “pinto” ou mais popularmente, “pau”). Depois da perna europeia, foi a vez da América do Norte receber novamente o grupo, e então, o grupo voltou para a Inglaterra para merecidas férias, exatamente quando o terceiro álbum começou a ser concebido.

Próximo ao final da turnê, todos estavam exaustos, e o integrante que tinha maiores problemas era Plant. Por indicações médicas, o Led teve que cancelar a última apresentação da perna americana, a qual seria realizada em Las Vegas, entrando em férias sem previsão de retorno. 
O repouso de Bron-Yr-Aur
Plant e Page (bem como suas respectivas esposas) foram parar no sul do País de Gales, em um conjunto de pequenas casas de madeira chamado Bron-Yr-Aur (seio dourado, em galês). Localizado às margens do rio Dovey, esse local não possuía eletricidade, sendo silencioso e relaxante. Assim, apenas com violões em mãos, a dupla Page/Plant começou a compor as pérolas que estariam presentes no próximo disco do grupo. De lá, saíram "Out on the Tiles", "Celebration Day", "Bron-Y-Aur Stomp" e "That's the Way". 

Depois de algumas semanas, o quarteto voltou a se reunir no final de maio, mas sem a mínima vontade de ir para os estúdios, a solução foi começar as gravações na longíqua Headley Grange, uma casa no interior de Londres, afastada do barulho, da poluição e que assemelhava-se ao o clima de paz de Bron-Yr-Aur, onde assim, nasceram as canções que complementaram o novo álbum.



Led Zeppelin III. Acústico é a mãe!
Em 05 de outubro de 1970, chegou as lojas inglesas Led Zeppelin III. Os americanos puderam conhecer o LP apenas no dia 20 do mesmo mês. Dito por muitos como um disco acústico, esse álbum é a melhor síntese do que foi o som dos britânicos enquanto mandavam na Terra. Não é qualquer vinil que abre com uma paulada como "Immigrant Song", onde  temos os gritos de Plant sob o cavalgar do baixo de Jones e o riff de Page. Uma das canções mais pesadas da carreira do Led, que é seguida pelo espetacular arranjo de violões para "Friends", com os acordes de Page e Jones em um dançante e ao mesmo tempo estranho ritmo, acompanhado pela tabla de Bonham. Os vocais de Plant são seguidos por cordas, e assim, temos a primeira ligação do oriente com o Zeppelin, que se tornaria mais claro na clássica "Kashmir", de Physical Graffitti (1975).

Single de "Immigrant Song"
Efeitos de moog apresentam "Celebration Day", com Page fazendo o riff inicial, de onde surge o rock simples, com Plant cantando seus agudos e com Page fazendo os bends no seu solo, que influenciaram muitos guitarristas com o passar dos anos, e que foram indecentemente copiados pelo grupo brasileiro O Peso na canção "Lúcifer", do álbum Em Busca do Tempo Perdido (1975).

Então, chegamos à primeira composição feita para o álbum, o sensacional blues "Since I've Been Loving You", a qual particularmente está na minha lista de favoritas de todos os tempos. É uma canção para cortar os pulsos dos mais depressivos. O início leva até um surdo as lágrimas, tamanha a dose emocional do solo de Page, acompanhado apenas pelo hammond e pelo forte e lento ritmo de Bonham. Plant passa a cantar a letra que é uma modificação da pérola "Never", do grupo Moby Grape (lançada no álbum Grape Jam, de 1968).

Plant chega então ao refrão, e a canção vai ganhando volume lentamente. A letra continua, com um belo arranjo do hammond e com um lindo dedilhado de Page, retornando ao refrão, onde Plant esbanja agudos rasgados, e então Page destrói qualquer sentimento de alegria que possa existir, em um solo triste, com a escala blues perfeitamente encaixada para criar o clima de solidão e tristeza do personagem central, que perdeu seu grande amor.

Um gigantesco agudo de Plant nos leva a sessão final, com o vocalista loiro cantando muito, provando que sim, ele foi um dos grandes vocalistas do rock. O lindo dedilhado e as viradas de Bonham fazem a cadência certa para os vocais e gritos alucinantes de Plant, chegando ao êxtase da canção, quando o riff de Page já está para sempre na sua memória, e Plant chorando no microfone durante as sensacionais viradas de Bonham, que mesmo sem ser um virtuoso da bateria, toca o instrumento de maneira única, encerrando sublimemente essa espetacular canção.

O lado A encerra-se com outra paulada, "Out on the Tiles", um rock direto, onde o riff de baixo e guitarra, tendo o acompanhamento tipicamente Bonham, traz os vocais de Plant e um dos grandes refrões do grupo. Voltamos ao riff inicial e a sequência da letra. O refrão é repetido, e assim, a canção encerra-se com o pesado final, onde Bonham faz mais um grande acompanhamento para os gemidos e riffs de Plant e Page.


A capa interna de Led Zeppelin III

Os acordes do violão trazem os vocais de Plant para a adaptação à "Gallows Pole", uma canção típica galesa, que ganhou experimentações com o Led, a começar pelo uso do mandolim, feito por Jones, acompanhando os vocais e dando ritmo a canção. O baixo surge fazendo a estranha marcação do tempo, acompanhando os acordes do violão, e Plant canta como manda o figurino. O refrão é repetido, e assim, Page surge com o banjo, acompanhado por Bonham, para dar mais ritmo a essa ótima canção. Mais uma vez, o refrão é repetido, e Plant encerra a letra com Page e Jones fazendo vocalizações ao fundo, tendo ainda um curto solo de Page sendo encoberto pelos gemidos de Plant.

A bela "Tangerine", composta ainda nos tempos do Yardbirds, vem na sequência, com os acordes de violão fazendo a bela introdução, e cujo início foi cortado na versão brazuca do vinil. Plant canta tristemente, e a entrada do baixo e da bateria comandam uma bonita balada no refrão, com os vocais dobrados de Plant e com Page usando a steel guitar. Plant dá sequência à letra, levando para o solo de Page, repleto de efeitos. O refrão é retomado, e a steel guitar se apresenta fazendo o solo final.

John Paul Jones
"That's the Way" arruma a casa, levada apenas pelos 3 acordes do violão e com Jones dedilhando o mandolim, ambos acompanhando os vocais de Plant e a steel guitar de Page intervendo em cada estrofe cantada. O refrão soa pesado, apesar de ser constituído apenas pelos vocais, a steel guitar, o mandolim e o violão. Linda é pouco para definir essa canção. A interpretação vocal de Plant é sensacional, e os 3 acordes do violão vão e vêm como ondas no mar, enquanto a steel guitar leva você para uma longa viagem pelos campos celtas, tendo na companhia a cachoeira de sentimentos que transborda dos pulmões de Plant, encerrando a canção com um belíssimo arranjo instrumental feito apenas pelo violão, acompanhado na sequência por pandeiro, baixo, mandolim e um tímido solo da steel guitar, além de vocalizações de Plant.

Page dá show no violão que introduz "Bron-Y-Aur Stomp", com dedilhados e acordes rápidos, puxando o ritmo que é marcado pelo bumbo e chimbal, trazendo os vocais de Plant em um folk espetacular. Palmas participam acompanhando o dançante ritmo, e os vocais dobrados de Plant aparecem, enquanto Page faz misérias com o violão, tocando-o como se estivesse com sua Les Paul, tirando riffs sujos e ao mesmo tempo grudento, que nos fazem sentir em volta de uma fogueira, com amigos dançando e cantando ao seu lado.

O LP se encerra com a delirante psicodelia de "Hats Off to (Roy) Harper". Experimentação pura, desde seu início, com os efeitos na voz de Plant e com Page utilizando o slide para tirar sons estranhíssimos do violão. A levada de Page ao lado das vocalizações de Plant serve para ilustrar por que esta é uma das mais famosas duplas do rock, quase que como um coração e um pulmão trabalhando juntos, em perfeita harmonia, e onde Page cria sons jamais ouvidos nos álbuns anteriores do Led, encerrando Led Zeppelin III de maneira surpreendente.

Do álbum foi extraído o single "Immigrant Song"/"Hey Hey What Can I Do", sendo que essa última canção ficou de fora da versão final do vinil. O single ficou na décima sexta posição nos Estados Unidos. Porém, o álbum não alcançou o mesmo número de vendas de seus antecessores, ficando em sexto lugar na Espanha, quinto lugar no Japão, quarto lugar na França, terceiro lugar na Noruega e Alemanha, e primeiro na Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.

Em números, conquistou Ouro na Alemanha (250 mil cópias vendidas), Holanda (50 mil cópias vendidas) e Suíça (25 mil cópias vendidas), Platina na Argentina (40 mil cópias vendidas) e França (300 mil cópias vendidas), Platina tripla na Austrália (210 mil cópis vendidas) e platina sêxtupla nos Estados Unidos (6 milhões de cópias vendidas).
Festival de Bath (1970)

Após a gravação de Led Zeppelin III, que curiosamente foi o álbum menos vendido da história do Led, mesmo alcançando a primeira posição logo após seu lançamento, o grupo voltou aos palcos, apresentando inclusive um set somente com as canções acústicas, uma grande novidade. Além disso, o visual dos integrantes havia mudado, já que agora ostentavam longos cabelos e também barbas, em um estilo bem "natureza".

Entre os principais shows, tem grande destaque: Islândia; festival de Bath, Inglaterra, no dia 28 de junho de 1970, onde cinco (!) bis foram feitos em uma apresentação com mais de 3 horas; a mini-turnê pela Alemanha, onde o grupo se apresentou em Frankfurt, Colônia, Berlin e Essen; e a sexta turnê pelos Estados Unidos, com 36 shows em 7 semanas, onde todos tiveram os ingressos esgotados.

Versão original (acima) e versão normal (abaixo) de III,
com destaque para o disco giratório (centro)
A capa original inovava, apresentando um disco de papelão giratório com diversas imagens. Ao inseri-lo  no interior da capa, você girava o disco de papelão e podia ver as diferentes imagens através dos espaços contidos na capa, sendo que as que se encaixavam nos espaços eram sempre referentes ao mesmo membro do Led.

Page e Plant voltaram para Bron-Yr-Aur, onde começaram a compor o novo álbum. Desta vez, a inspiração não foi tão forte quanto do lançamento de Led Zeppelin III, e então, parte do álbum acabou sendo composto e gravado em Londres.  Inicialmente batizado de Led Zeppelin IV, o álbum acabou gerando problemas entre Led e a gravadora Atlantic Records, tudo por que Page não queria o nome Led Zeppelin na capa do álbum.

A ideia era simplesmente ter uma capa, sem nenhum nome que identificasse tanto o LP quanto o grupo. Nem na lateral da capa o nome Led Zeppelin deveria aparecer. A Atlantic chiou, mas Page e Cia. Não voltaram atrás. Como o Led não lançacava singles, e ainda vinham com essa ideia maluca, a Atlantic torcia o nariz para o novo trabalho. Jimmy não desistiu da idéia, e a Atlantic cedeu, acatando as exigências e lançando o álbum do jeito que Page queria.

O disco dos quatro símbolos
Assim, o quarto álbum, batizado pelo grupo somente por Led Zeppelin, chegou às lojas em 08 de novembro de 1971 (exatos 40 anos). Também conhecido como Four Symbols (devido aos símbolos que indicam o nome de cada integrante do grupo), ou Led Zeppelin IV, é nele que está contido o maior sucesso da carreira do Led: a imortal “Stairway to Heaven”. Mas nem somente dessa canção o álbum vive. Na verdade, Led Zeppelin é uma sequência encantadora às experimentações acústicas de Led Zeppelin III, sem fugir do peso que o grupo empregou nos dois primeiros discos.


Single de "Black Dog"
O álbum abre através de Plant, sozinho, entoando o início de “Black Dog”, e então, surge mais um poderoso riff da guitarra e baixo, acompanhados pelo peso da bateria de Bonham. A sequência entre penas Plant e instrumentos alterna-se três vezes, levando a uma pequena sessão instrumental, complementada por vocalizações de Plant. A sequência Plant-instrumentos, repete-se duas vezes, e então, Plant passa a fazer vocalizações, chegando no refrão da canção, em um ritmo embalante, copiado também pelo grupo O Peso na mesma "Lúcifer" citada anteriormente. Plant retorna a letra, seguido pelos instrumentos, em mais três sequências, voltando para a sessão instrumental com os gritos de Plant. Duas vozes, dois instrumentos, e a melodia do refrão é repetida, agora para o solo de Page encerrar outro grande clássico do grupo.


Single de "Rock nd Roll"
A tentativa de reproduzir a introdução de "Keep on Knockin'" (de Little Richard) deu origem a introdução de "Rock and Roll”, essa fantástica faixa, onde o Led põe para fora sua capacidade de tocar rock simples e direto. O riff de Page é tão simples quanto genial, e a voz de Plant, esganiçada como no primeiro álbum, demonstra que mesmo sendo a maior banda do mundo na época, o quarteto podia se dar o direito de tocar uma canção simples como essa, onde além do feeling da canção, o destaque vai para as passagens de piano feita por Ian Stewart, e também para o belo solo de Page.




O "símbolo" de
Sandy Denny
Então, Four Symbols transforma-se, resgatando as experimentações acústicas na linda balada “The Battle of Evermore”. Contando com a participação mais que especial da vocalista Sandy Denny (Fairport Convention), essa é outra canção que merece estar entre as mais belas compostas por Page e Plant. O mandolim de Jones e o violão de Page abrem a canção, trazendo a voz de Plant, acompanhado apenas por esses dois instrumentos. Como que conversando com Plant, Sandy surge com sua linda voz, e assim, a dupla vai alternando suas posições, um sobre o outro, em um envolvente ritual vocal, com ambos cantando juntos o refrão, que cita os portões de Avalon, em uma canção sensacional, com uma letra fantástica inspirada no livro O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. Ao vivo, Bonham fazia as partes vocais de Denny, que foi a única cantora a participar de um álbum do Led, vindo a falecer em 1978.


Robert Plant
E o lado A encerra com a mais conhecida canção do Led, a sensacional “Stairway to Heaven”. A linda introdução, copiada indecentemente de "Taurus" (do grupo Spirit) apresenta os acordes de violão acompanhando o belo tema da flauta, tocada por Jones em seu sintetizador. Plant surge cantando mais outra linda letra, dessa vez, falando sobre aquilo que temos na vida e não damos valor, acompanhado apenas pelo tema do violão e da flauta, repetido após duas estrofes.


O violão aumenta o ritmo suavemente, surgindo o baixo, e Plant faz breves vocalizações, além de cantar a frase "it makes me wonder", e o violão vira uma guitarra de 12 cordas, para Plant cantar mais uma estrofe da letra, repetindo a sessão com as vocalizações e o "it makes me wonder". Mais uma estrofe da letra, acompanhado apenas pela guitarra, baixo e órgão, e novamente, a sessão instrumental das vocalizações aparece, porém, sem o "it makes me wonder".


Bonham então participa da canção, criando um ritmo suave, para Page dedilhar a guitarra enquanto Jones toca o órgão, e Plant cantar mais uma estrofe da letra. A canção vai ganhando ritmo através de Bonham, e Plant canta mais uma vez "it makes me wonder", para então, concluir mais uma estrofe sobre o acompanhamento da guitarra, órgão, baixo e bateria.
A letra de "Stairway to Heaven"
Page e Bonham entoam sons emocionantes de seus instrumentos, e no auge emocional da canção, Page descarrega sentimento no mais belo solo de sua vida. Aqui, é arrepio para tudo que é lado, e é impossível não segurar os dedos, os braços, e principalmente as lágrimas, com a esplendorosa criação que Page fez. Em uma velocidade absurda, Plant surge cantando agudamente, com o acompanhamento de terças ao fundo dando mais dramaticidade para a canção, que encerra o Lado A com uma profundidade sentimental incomparável, marcando a vida do ouvinte, que com certeza, jamais esquecerá os oito minutos que se passaram, apenas com Plant dizendo que "She's buying a Stairway to Heaven".



Personagem marcante da
capa interna de Led Zeppelin IV
Depois de ouvir "Stairway to Heaven", fica difícil tentar ouvir o resto do LP, mas o Lado B não é de forma alguma decepcionante. Guitarra, baixo e piano elétrico abrem a agitada “Misty Mountain Hop”, um belo rock, que coloca a cabeça do ouvinte no lugar, com destaque para mais uma boa participação de Jones no piano elétrico.


Mas os momentos acústicos retornam através de “Four Sticks”, outra pérola concebida sob os campos de Bron-Yr-Aur, dessa vez levada pelo peso da percussão de Bonham, os acordes de guitarra e baixo e a voz de Plant, dessa vez com uma afinação um pouco diferente, e principalmente, destacando o excepcional arranjo de cordas dessa canção. O riff de guitarra e baixo, acompanhados pela percussão, trazem a voz de Plant, sempre com temas marcados para cada duas frases do cantor. Essa sessão repete-se por duas vezes, chegando no refrão, onde as cordas aparecem pela primeira vez, com uma mudança nos acordes do violão e nas batidas de Bonham, dessa vez, atacando mais os pratos.


O riff inicial é retomado, e Plant canta mais uma estrofe da letra, e assim, o refrão é repetido, com Plant soltando muitas vocalizações, encerrando com um belíssimo tema entre cordas e moog, para a canção concluir com mais uma estrofe sobre o tema pesado, e Plant caprichando nas vocalizações.


Mais outra linda balada vem na sequência, “Going to California”, com Jones assumindo o mandolim assim como em "That's the Way". Os acordes de violão trazem o mandolim, acompanhando a melodia vocal de Plant, tão belo quanto um pôr-do-sol. O mandolim ganha destaque, e a voz de Plant sobe, dando mais ganho para a canção. Agudamente, Plant canta um complicada e emocionante estrofe, sempre com o dedilhado do violão e do mandolim como cães de guarda para sua voz. A canção volta às melodias iniciais, e Plant canta as últimas estrofes da mesma, encerrando apenas com o mandolim e o violão acompanhando uma leve vocalização de Plant.


Led Zeppelin encerra-se com a pesada “When the Levee Breaks”, cuja introdução, apenas com a bateria de Bonham seguida pelo baixo e guitarra, além da gaita-de-boca de Plant, indica o que será o som do Led Zeppelin a  partir de então. A longa introdução serve para Plant solar com a gaita-de-boca durante um minuto, sob o pesado e lento ritmo da bateria de Bonham. Então, a voz de Plant surge sobre o pesado ritmo, dessa vez bem diferente das agudices dos primeiros álbuns, mostrando mais domínio sobre a mesma, como já havia feito em "Stairway to Heaven".


A canção muda, com a guitarra fazendo acordes mais leves e executando um pequeno tema, para então Plant cantar com muitos agudos, voltando então para o andamento pesado, onde Plant executa mais um solo de gaita-de-boca. Plant volta a cantar sobre o ritmo pesado de Bonham, Jones e Page, e então, a parte amena surge novamente, com Plant soltando muitas vocalizações, encerrando com o peso inicial, vocalizações, efeitos e palavras soltas, indicando o futuro experimental que estava reservado para os britânicos.

John Bonham, Robert Plant, Sandy Denny e Jimmy Page (1971)
Do LP, eleito pela Rolling Stone o sétimo melhor disco da história do rock, saíram dois singles: "Black Dog"/"Misty Mountain Hop", que chegou no décimo quinto lugar nos Estados Unidos, e "Rock and Roll"/"Four Sticks", que atingiu a modesta quadragésima sétima posição. O álbum alcançou a nona posição na Alemanha, oitava na Espanha, terceira na Noruega, segunda no Japão, Austrália e França, e primeira no Canadá, Reino Unido e Espanha.


Em vendas, Led Zeppelin conquistou ouro no Brasil (100 mil cópias vendidas), Triplo ouro na Alemanha (750 mil cópias), Platina na Argentina (60 mil cópias vendidas), Suíça (50 mil cópias) e Holanda (100 mil cópias vendidas), Platina dupla na França (600 mil cópias vendidas), platina sêxtupla no Reino Unido (1 milhão e 800 mil cópias vendidas), onde permaneceu nas paradas por 62 semanas seguidas, Platina óctupla na Austrália (560 mil cópias vendidas), Diamante duplo no Canadá (2 milhões de cópias vendidas) e a incrível marca de 23 Platinas nos Estados Unidos (23 milhões de cópias vendidas), sendo o LP mais vendido do grupo por lá.
Os quatro símbolos. Da esquerda para a direita:
Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant
A jogada de marketing de Page chamava ainda mais a atenção dos fãs, que consumiam o LP como água. Por causa do impressionante poder da letra de “Stairway to Heaven”, Page abandonou o processo de escrever letras, deixando essa tarefa única e exclusivamente para Plant. O grupo partiu para mais uma temporada de shows, começando pelo Reino Unido no dia 11 de novembro, seguindo pelo mês de dezembro e tirando férias de fim de ano. Em fevereiro de 1972, fazem a parte australiana de divulgação de Four Symbols, seguindo para os Estados Unidos em maio e junho, passando pelo Japão em outubro e encerrando com mais shows pelao Reino Unido, entre outubro e janeiro de 1973.


O grupo voltou para os estúdios ainda em 1972, no intervalo entre a perna australiana e americana, onde começou a gravação do quinto álbum, como veremos na próxima parte dessa sequência histórica sobre o maior grupo de rock da década de 70.

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