sábado, 8 de maio de 2010

UFO Parte II


A turnê pela Alemanha continuou com estrondoso sucesso, e por lá mesmo, o UFO acabou aterrisando para começar as composições de mais um álbum. Antes, recebem o único registro do grupo com Bernie, a demo "Give Her The Gun", que havia ficado nas prensas antes da partida para a Alemanha.

Gravam uma nova demo e retornam à Inglaterra em busca de um contrato com uma nova gravadora, já que a Beacon cancelou o contrato devido as baixas vendas dos dois primeiros LPs da banda.



UFO no programa Art

Antes, fazem mais uma série de apresentações pela Alemanha, inclusive tocando em alguns programas de TV, onde o destaque maior fica pela participação no programa ART, interpretando ao vivaço "Prince of Kajuku", "C'mon Everybody" e uma versão inédita de "Rock Bottom", com um refrão bem diferente, onde um enlouquecido senhor alemão de meia idade começa a tirar a roupa em frente a banda e completamente alucinado, se joga no chão debatendo-se como uma minhoca nas cinzas.

Dessas apresentações, já era possível notar que a entrada de Schenker mudara totalmente o caminho de UFO. Ao invés de largar o psicodelismo e virar uma banda glam, Schenker proporcionou a criação de um novo estilo dentro do hard rock setentista, destacando refrões grudentos, guitarras gêmeas e riffs mortais, esbanjando muita técnina e feeling. Além disso, tendo apenas 18 anos e falando quase nada em inglês, tornando-se passível a manifestações, Schenker permitiu que os lados chefões de Way e Mogg aflorascem, inclusive com Way se soltando muito mais no palco, virando marca registrada do baixista os longos cabelos, a correria insana por todos os cantos do palco, calças listradas e a tradicional apontada do baixo em direção ao público como que o instrumento fosse uma arma, sempre cantando a letra das canções. Tal performance é visilmente assimilada ao seu fã Steve Harris, e nos vídeos do UFO da época, em comparação ao baixista do Iron, fica clara a influência de Way no estilo de tocar de Harris.


Com a demo nas mãos, chegam até a gravadora Chrysalis, que chapa com os sons de cara, assinando um contrato e colocando o baixista de um dos principais nomes do selo, Leo Lyons, do Ten Years After, como management do grupo.



Phenomenon - o início de uma trilogia essencial

O UFO entra em estúdio, e sai de lá com uma obra-prima. Lançado no início de 1974, Phenomenon apresentava ao mundo o novo UFO, regado a guitarras gêmeas, ótimas sessões acústicas, riffs eternos e vários clássicos do hard. Das 10 faixas do LP, no mínimo 6 tornaram-se hinos nos anos 70, começando com o hardão de "Oh, My!", onde os backing vocals de Way e o belo solo de Schenker dão mostras do que viria pela frente.

A linda "Crystal Light" vêm a seguir, com uma introdução ao violão abrindo espaço para a balada desenvolver-se, com Mogg soltando a voz e mostrando que a ótima produção da Chrysalis revelava também os importantes dotes vocais que haviam ficados escondidos nas gravações da Beacon. Schenker sola de forma seminal, com notas simples e com muito sentimento, mostrando que é possível fazer um solo fantástico sem masturbação do instrumento.

O mega-clássico "Doctor Doctor" coloca a casa abaixo. Talvez a canção mais conhecida da banda, que chegou inclusive a ser gravada pelo Iron Maiden no single Lord Of The Files (1996), tem uma arrepiante introdução, com o dedilhado da guitarra acompanhado pelo baixo e batidas nos pratos e sendo a base para Schenker fazer um tímido solo. O riff principal surge, e os gritos com o nome da canção são entoados por Way e Mogg. O baixo galopante de Way comanda esse grande hino, e as guitarras gêmeas solam de forma primordial.

Após a paulada de "Doctor Doctor", outra pérola clássica do repertório do UFO, o emocionante blues "Space Child", começando com o riff principal e transformando-se no arrastado blues com o surgimento da letra. Mogg novamente canta muito, e a excelente harmonia criada por violão, baixo, guitarra e bateria tornam a canção ainda mais bela. O solo de Schenker é recheado de sentimento, sem nenhuma virtuose ou algo do estilo, e a faixa encerra-se com a reprodução da letra e do riff principal.

Mas para quem acha que Schenker não era virtuoso, o lado A encerra então com outro mega-clássico, a paulada "Rock Bottom". O riff imortal de Schenker surge destruindo os alto-falantes, trazendo o baixo galopante de Way e a pancada de Parker, acompanhando os vocais de Mogg. O pique se mantém em mais um famosíssimo refrão onde o nome da canção é entoado, continuando com a segunda parte da letra.

Pernas e pescoço balançando e o refrão surge novamente, levando a bela sessão instrumental onde Schenker desfila toda sua virtuose em um magistral vôo solo. A melodia do solo cresce junto com a cadência de Way e Parker, e o final é matador, com os três tocando muito (principalmente Schenker). Indescritível!! Apenas ouça e absorva cada segundo desse petardo, que encerra-se com o riff principal puxando novamente a letra e o refrão. Fantástico!!




O alemão Michael Schenker e sua Flying V

Estrategicamente para recuperar o fôlego enquanto muda o lado do vinil, temos O lado B abrindo com "Too Young To Know", um interessante rock'n'roll muito parecido com a fase inicial do Rush, com boa participação de Parker.

"Time On My Hands" é outro grande clássico, alternando momentos acústicos com um pesadíssimo refrão, tendo no solo uma melodia simples cercada por diversas vocalizações.

As raízes bluesísticas de Mogg são resgatadas em "Built For Comfort", um fantástico blues onde guitarra e baixo fazem o tema principal. Mogg canta como um bêbado no último estado de embriaguez, enquanto Schenker esbanja grandes riffs entre o safado blues criado por Parker e Way.

"Lipstick Traces" é uma linda balada instrumental criada por Schenker para homenagear sua eterna companheira Flying V, tendo o violão dedilhado como acompanhamento, além de uma triste cadência do baixo e da bateria. Schenker mistura escalas clássicas com bluesísticas, criando temas com guitarras gêmeas e oitavadas de forma sensacional, em uma maravilhosa canção. Conta a lenda que essa canção foi gravada com Schenker tocando a guitarra com os pés!!!
Phenomenon encerra com outro clássico, "Queen Of The Deep", com a guitarra dedilhada e baixo introduzindo esse sinistro hard. Os vocais de Mogg são acompanhados pelos estranhos acordes e escalas de Schenker e Way, além da lenta cadência de Parker, chegando no pesado refrão onde Way e Schenker detonam o mesmo tema enquanto Parker solta o braço. Mogg emociona com poderosos gritos, envoltos de intervenções das guitarras gêmeas de Schenker, entrando então no fenomenal solo do guitarista, com alavancadas, bends e vibratos para nenhum admirador de virtuose botar defeito, criando uma forma única de tocar guitarra e terminando o álbum em grande nível, com o estilo Schenker registrado para os anais da guitarra.

O relançamento em CD de 2007 trouxe vários bônus, com a demo lançada para a Chrysalis trazendo "Sixteen" e "Oh My", as duas canções da bolachinha com Bernie Marsden, "Give Her the Gun" e "Sweet Little Thing", mais uma versão para "Sixteen" e "Doctor Doctor" ao vivo em 06 de junho de 1974. Vale destacar a bela capa do álbum, a qual foi elaborada pela empresa Hipgnosis, e que ficou redentora de realizar as capas do grupo por muito tempo.




UFO com Paul Chapman e Michael Schenker

O heavy melódico do novo UFO finalmente agradou o público inglês, e assim, conseguem agendar uma excursão pela Grã-bretanha como headliners. Rapidamente a banda estourou com os singles de "Doctor Doctor" e "Rock Bottom". Resultado, bebedeiras e quartos de hotel quebrados começaram a frequentar a rotina da banda.


Por outro lado, Schenker começava a criar uma imagem cada vez mais consolidada como grande guitarrista, improvisando muito durante os shows, o que levou ao UFO, em abril de 1974, a contratar mais um guitarrista, Paul Chapman, o qual havia substituído Gary Moore no Skid Row em 1971 e também tocou no grupo Kimla Taz de 72 à 74. Chapman auxiliava nos temas e passagens onde Schenker viajava nos palcos, deixando a sonoridade do UFO ainda mais harmoniosa.

O guitarrista ficou até o fim da turnê de Phenomenon e em janeiro de 1975 foi parar no Lone Star. Antes disso, a banda partiu para sua primeira turnê pelos EUA, onde foram banda de abertura do Steppenwolf, além de terem feito uma sensacional apresentação no famoso programa Rock Concert de Don Kirshner, a qual pode ser conferida em vários sites especializados em vídeos.

Apesar de Phenomenon não ter uma grande vendagem, a crítica elogiava o grupo, com a Rolling Stone por exemplo afirmando que em breve o UFO seria um dos maiores nomes do rock mundial. Isso motivou a gurizada a trabalhar ainda mais, e durante o inverno de 1974, após a bem sucedida excursão nos EUA, registram o próximo álbum da banda.



Force It - O UFO conquistava a América
Novamente com produção de Leo Lyons e tendo o tecladista do Ten Years After Chick Churchill como convidado, em julho de 1975 é lançado Force It. Outro álbum repleto de clássicos, mostrando que o UFO havia encontrado a fórmula perfeita para angariar ainda mais fãs, inspirando-se no Led Zeppelin e inovando em melodias e aplicações das guitarras gêmeas.

O disco abre com o longo sustain de Schenker introduzindo a paulada "Let It Roll", trazendo então mais um riff clássico do guitarrista, acompanhado pelo baixo galopante de Way. Mogg entra solando, cantando muito agudo e Schenker faz um curto solo após a primeira estrofe, chegando a uma complicada sequência onde o tema da guitarra e do baixo é acompanhado por um cowbel.

Entramos então no lindo tema instrumental onde o riff das guitarras gêmeas é de chorar. Violão, baixo, bateria e teclados fazem um belíssimo acompanhamento para Schenker demonstrar seu solo com todas as características que somente o guitarrista consegue colocar em um solo, com muita melodia e feeling. As guitarras gêmeas comandam o encerramento do solo de forma magnífica, e o peso retorna com a parte final da letra de mais um mega clássico da carreira da banda.

"Shoot Shoot" mantém os clássicos e a pegada lá em cima. Um rockzão recheado de backing vocals e viradas, com Way e Schenker executando os mesmos temas, e Parker utilizando-se do Cowbel para acompanhar o virtuosístico solo de Schenker.

O peso diminui em "High Flyer", onde o violão clássico faz uma bonita introdução, com o baixo acompanhando o tema do bordão do violão, dando origem a uma bonita balada acústica, que viria a influenciar muitas bandas nos anos 80, o que fica mais evidente no melódico solo de guitarra de Schenker e no maravilhoso arranjo vocal da canção.

"Love Lost Love" é uma matadora canção, com outro riff bem agudo de Schenker e com uma levada zeppeliana de levantar das cadeiras

O lado A encerra com a clássica "Out In The Street", onde a introdução ao piano é acompanhada por baixo e pratos. Os vocais dão corpo a canção, com Schenker soltando alguns riffs ao final de cada estrofe. O piano desaparece, e chegamos no pesado refrão, para voltar aos temas iniciais. Após a repetição do refrão, um tema cadenciado surge, com destaque para as notas ao piano, que levam para um bonito solo de Schenker acompanhado primeiramente pelo tema inicial e depois pela pesada cozinha Way/Parker, encerrando com o tema inicial.




Pose clássica, Pete Way apontando seu baixo para o público
 
A pesada "Mother Mary" abre o lado B em grande estilo. Um hard fantástico, tendo como destaque os trabalhados riffs de Way e Schenker. O refrão lembra um pouco Beatles, e o solo de Schenker é repleto de escalas e bends executados pelas guitarras gêmeas.

"Too Much Of Nothing" mantém o alto padrão de clássicos do UFO. Baixo e guitarra fazem o tema principal acompanhados pelas batidas de Parker. Mogg surge cantando sobre o pesado riff de Way e Schenker, chegando ao fabuloso refrão. Os temas iniciais são retomados, e o refrão surge novamente para grudar na cabeça.
A bela sequência de rolos de Parker enquanto Mogg grita "I used to try, used to cry" levam a viajante sessão instrumental, onde um incrível sustain é mantido por vários minutos, enquanto as viradas de bateria e os solos de Way e Schenker vão tomando conta das caixas de som, até encerra essa grande faixa com o a repetição do refrão.

"Dance Your Life Away" é outra nos moldes do Led Zeppelin, com um riff bem particular onde baixo e guitarra executam o mesmo tema, e é uma boa ponte para a faixa de encerramento do álbum, a espetacular "This Kid's (Between The Walls)".

O riff de baixo e guitarra surge com as viradas de Parker, trazendo a zeppeliana linha vocal de Mogg. A canção desenrola-se, e no refrão, o piano faz pequenas intervenções no pesado tema de Way e Schenker, que acompanha os rasgados solos de guitarra em seu estilo tradicional, alternando notas rápidas e bends.

A bateria retorna ao tema inicial e os pratos levam a linda vinheta "Between The Walls", com sintetizadores e mellotron acompanhando o dedilhado triste de um violão e as bonitas escalas do baixo, chegando ao emocionante solo das guitarras gêmeas, arrepiando até o mais ogrístico headbanger.



Versão americana de Force It, sem o casal

Force It alcançou posição 71 na billboard, e teve dois singles lançados: "Shoot Shoot/Love Lost Love", que chegou na posição 48 dos charts britânicos, e "High Flyer/ Let It Roll", que ficou entre as 100 mais na Inglaterra. Além disso, o álbum também causou muita polêmica por causa da capa. Originalmente, Force It apresentava um casal de namorados nus em um quentíssimo amasso dentro de uma banheira. Essa capa foi boicotada em muitos países, sendo que nos EUA, a imagem do casal (interpretados por Genesis P Orridge e Cosey Fanni Tutti, fundadores da extravagante banda Throbbing Gristle) foi substituída por uma imagem transparente dos mesmos, e no Brasil, um fato curioso aconteceu com o álbum, como veremos a seguir.

O re-lançamento em CD de 2007 trouxe vários bônus, com "A Million Miles" (não lançada oficialmente), "Mother Mary", "Out In The Street", "Shoot Shoot", "Let It Roll" e "This Kid's", estas últimas em insanas apresentações ao vivo.

A crítica finalmente dava o braço a torcer, e o UFO começava a ser idolatrado em sua terra natal, além de fazer conquistar a América e claro, manter a moral elevada no Japão. Partem para uma extensa turnê de divulgação de Force It, percorrendo EUA, Europa e Japão, enquanto vão angariando material para o próximo disco.

Em agosto de 1975, o UFO anuncia um novo integrante, o tecladista argentino naturalizado italiano Danny Peyronel. o qual havia participado da formação clássica do Heavy Metal Kids, gravando os álbuns Heavy Metal Kids (1974) e Anvil Chorus (1975). Essa formação é tida por muitos fãs como a mais consistente do UFO. Danny trouxe uma sonoridade latina para a música da banda, criando sons ainda mais melódicos e poderosos (se é que isso é possível), e que podem ser conferidos no famoso disco do macaco, No Heavy Petting.



No Heavy Petting - O encerramento da trilogia
 
Lançado em maio de 1976, e ainda produzido por Joe Lyons, é o disco que culmina com a chamada trilogia essencial (Phenomenon, Force It e No Heavy Petting), deixando mais clássicos na já vasta seleção de grandes músicas da carreira do grupo. Além disso, é a partir dele que o formato quinteto passa ser adotado para os discos posteriores.

O riffzão de Schenker abre o álbum com "Natural Thing, seguido por Parker e Way e trazendo os vocais de Mogg, cada vez mais aprimorados. Um saboroso rock'n'roll que se tornou mais um clássico, contando com um tímido solo de piano de Peyronel.

A sessentista "I'm a Loser" apresenta violões introduzindo o solo inicial de Schenker. Baixo e violão acompanham os vocais, e a entrada do piano e a deixa para o grudento e zeppeliano refrão. Destaque para os belos arranjos de piano e o excepcional solo de Schenker.

A partir de então, a pauleira pega na fantástica "Can You Roll Her". Talvez a faixa que deu mais trabalhou para Parker, é uma verdadeira muralha sonora composta por Peyronel, Mogg e Parker, com o piano introduzindo o pesadíssimo riff de Schenker. Parker destrói os dois bumbos e o peso fica ainda mais interessante no refrão, onde Peyronel aplica melodias de tango entre os pesados riffs da guitarra, criando algo magistral e totalmente diferente. O trabalho de Parker é espetacular, assim como o solo de Schenker, o qual é o favorito da maioria dos fãs do guitarrista.

Após a paulada anterior, Parker descansa na balada "Belladona", onde violão e piano acompanham os tristes vocais de Mogg. Way segue a melodia do violão e então, teclados e violão executam a melodia do refrão, com Peyronel fazendo interessantes intervenções nos teclados. A guitarra aparece apenas para fazer um leve solo e tocar as notas do tema principal no fim da canção,

O peso é retomando na faixa de encerramento do lado A. Outra gigantesca pedrada, "Reasons Love" trás um riff de Schenker duelando com a bateria e o baixo galopante de Way. Os vocais de Mogg entoando a letra da canção são fora do normal, muito agudos e rasgados. Uma canção seminal e clássica!

Outra faixa composta por Peyronel, agora sozinho, abre o lado B, o rock "Highway Lady", onde a sequência de acordes trás piano, baixo, guitarra e bateria para acompanhar os vocais de Mogg em uma pegada bem anos 50.

Já em "On With The Action", o UFO voltava as experimentações. A guitarra faz o tema principal juntamente com o baixo, em uma levada bem bluesística. Os vocais surgem com o cadenciado acompanhamento, tendo no refrão cheio de efeitos vocais o maior destaque. Schenker da aula de melodia em seu primeiro solo, mostrando muita virtuose no segundo.

O cover de "A Fool In Love" de Francis Miller e Andy Fraser vêm a seguir, em um rock simples com refrão grudento que destoa um pouco das demais faixas do álbum, que encerra-se com a balada "Martian Landscape", talvez a canção mais conhecida composta por Peyronel, narrando a história do marciano com saudades de sua terra natal em uma canção com ótimo trabalho vocal.

No Heavy Petting teve singles lançados apenas no Japão ("Can You Roll Her/Belladonna") e "Highway Lady/A Fool In Love"), ambos em 1976, e teve a tímida posição 169 na billboard. Porém, os fãs adoram o disco, e várias canções ainda fazem parte do repertório ao vivo. Foi re-lançado em CD em 2008, trazendo como bônus as inéditas "All Or Nothing", "French Kisses", "Have You Seen Me Lately Joan", "Do It If You Can" e "All The Strings".



UFO com o argentino Danny Peyronel

Um fato curioso acabou ocorrendo com o lançamento de No Heavy Petting em terras brasilis. O UFO ainda era pouco conhecido por aqu, com apenas Phenomenon tendo sido lançado através da Phonogram e ainda em uma pequena tiragem. A polêmica capa de Force It acabou barrando o lançamento do LP no Brasil, que chegou a ser prensado e acabou engavetado nas prateleiras da gravadora.

Com o lançamento de No Heavy Petting, a Phonogram tentou dar uma de esperta, e lançou o Force It na capa do disco do macaco. Como o número de faixas era o mesmo em ambos os lados do vinil, os brasileiros jamais saberiam que as músicas que estavam ouvindo na verdade pertenciam a outro disco, até que versões importadas de ambos os álbuns começaram a pintar, e finalmente na versão em CD, foi constatada a grande falcatrua da Phonogram. Hoje, a bolaca trocada brasileira vale alguns níqueis no exterior.

Mas voltando a No Heavy Petting, mais uma vez o UFO partia para uma longa turnê pelos EUA. Farra, bebedeiras e mulheres se tornavam cada vez mais constantes, assim como o abuso de drogas por Way e Schenker, agora falando perfeitamente inglês e com uma posição bem mais importante entre o quinteto.

Dentre as diversas farras pela América, algumas se tornaram famosas, como uma onde Schenker estava em pleno ato sexual com uma parceira que tomava cerveja e ouvia o show daquela noite no seu walkman, e de onde Schenker falou a famosa frase a um membro da equipe "Usamos muito eco essa noite John". Nessa mesma turnê, completamente chapados, o grupo foi fazer um show no estádio de St. Louis e acabou se perdendo dentro dos corredores de acesso ao palco, atrasando o show em quase meia hora e inspirando uma das hilárias cenas do filme do Spinal Tap.

Além disso, consumiam o dinheiro ganho pelas vendas de LPs e shows, já que sempre estendiam-se com as farras e perdiam o ônibus para o local seguinte, tendo que fretar um avião para conseguir vencer as datas.



O trabalhado Lights Out
 
Se fora dos palcos o UFO se tornava famoso pelos abusos e estripulias sexuais, dentro dos estúdios Peyronel era demitido em julho de 1976, sendo substituído pelo guitarrista e tecladista Paul Raymond, que havia tocado no Savoy Brown. Além disso, desmancham o casamento com Leo Lyons, e com a produção agora a cargo de Ron Nevison, lançam em maio de 1977 o álbum mais homogêneo da carreira, Lights Out, que conquistou de vez o mercado americano, alcançando a posição 23 na Billboard.

Em Lights Out, o UFO experimentou arranjos bem mais elaborados, inclusive contando com um quarteto de cordas e também metais, além de um investimento forte da gravadora, que lançou nas mãos de Mogg e cia. dinheiro suficiente para cobrir a gravação de todos os álbuns anteriores da banda. É nele também que surge o logotipo da banda, que virou marca registrada até os dias de hoje.

O LP abre com o rock simples de "Too Hot To Handle", com um bom refrão e um ótimo solo de Schenker, que se tornou um imenso sucesso nas FMs americanas, seguido pela oitentista "Just Another Suicide", com piano, baixo e bateria acompanhando de início um pequeno solo de Schenker. Intervenções de sintetizador e piano são as responsáveis por comandar uma canção bem acessível, com destaque para os arranjos orquestrais de Alan McMillan.

A linda balada "Try Me" dá sequência, com um bonito tema ao piano, trazendo vocais e cordas. O emocionante refrão é um dos pontos altos da bolacha, com Mogg soltando seu vozeirão rouco. O solo de Schenker acompanhado pelas cordas é de chorar. Em poucas notas, o guitarrista transfere para o ouvinte todo o sentimento e a dor da triste letra da canção.

Mas nem só de músicas simples vive Lights Out, e a faixa-título coloca tudo abaixo, encerrando o lado A com propriedade e muito peso. O baixo galopante e a bateria entram quebrando tudo, com acordes de guitarra e teclados, surgindo a letra da canção. Destaque total para o excelente e pesado refrão, uma sequência de acordes e o baixo galopante de Way que foram inspiração para muitas canções da NWOBHM.

"Gettin' Ready" abre o lado B retomando as influências zeppelianas, contando com um interessante arranjo vocal e a participação do violão, além dos viajantes efeitos do sintetizador.

A cover "Alone Again Or", da banda Love, surge com o violão introduzindo de forma flamenca, acompanhado pelas cordas, teclados e baixo, que fazem a estrutura para os vocais de Mogg. Bateria e metais surgem acompanhando a letra, em mais uma canção bem diferente do que o UFO já havia feito. As pesadas intervenções da guitarra preparam para o solo de Schenker, construído em duas escalas diferentes pelas guitarras gêmeas (oriental e menor), e faz dessa uma das melhores faixas do álbum.

O riff pesado de "Electric Phase" é seguido por um slide guitar e se tornando um pesado blues, com um refrão bem marcante e com a importante participação de Parker e Raymond, além do solo de Schenker novamente na escala oriental.

O álbum encerra com outra linda canção, "Love To Love", com uma ótima introdução onde a guitarra sola ao fundo com acordes bem agudos. Um bongo é tocado, e então piano elétrico e pratos vão surgindo aos poucos, com uma marcação simples que é seguida pelo violão. O tema de Raymond ao piano vai crescendo, e guitarra e bateria acompanham essa parte juntos na intrincada sessão instrumental.

Finalmente, os riffs de guitarra e baixo nos fazem viajar para os futuros álbuns do Iron Maiden com Paul Di'Anno, e cordas trazem os vocais de Mogg. A cadenciada sessão de Way e Parker é um grande destaque. Contando com muitas cordas, a canção retorna ao viajante início após um pequeno solo de Schenker, e após o término da letra, Schenker executa um segundo solo, esse matador, com muitas notas, bends, vibratos e principalmente peso, com a canção e o album encerrando exatamente no meio do solo do guitarrista.



Compacto de "Too Hot To Handle"

Um bom álbum que vale pelos experimentos, e que teve na versão em CD vários bônus gravados ao vivo: "Lights Out", "Gettin' Ready", "Love To Love" e "Try Me". Da bolacha, saíram 4 compactos: "Too Hot To Handle / Electric Phase", em vinil vermelho; "Gettin' Ready / Too Hot To Handle"; "Alone Again Or / Electric Phase" e "Try Me / Gettin' Ready".

O disco acabou vendendo muito nos EUA, e então, uma imensa turnê pelo país foi programada para divulgar o álbum, abrindo para o Rush nesta ocasião. Porém, dias antes do UFO partir para seu primeiro show, Schenker começou a primeira de uma série de fatos que acabariam mudando sua história no grupo, desaparecendo sem deixar nenhuma pista e nem por que.



UFO com Paul Raymond
 
Com as mãos atadas, Way e Mogg chamam o velho Paul Chapman, que toca nos primeiros e conturbados shows, com as plateias gritando (e as vezes brigando) pelo nome de Schenker. Meses depois da turnê americana começar, Schenker aparecia outra vez, porém na europa. Totalmente fora de si, o guitarrista alemão pedia seu equipamento de volta e afirmava que iria seguir carreira solo para poder ganhar algum dinheiro, já que segundo o alemão, Way, Mogg e Parker consumiam toda a grana gerada pelas vendas e shows.

A coisa já estava degringolando antes mesmo das gravações de Lights Out, já que o UFO havia participado de shows abrindo para Rick Wakeman e Rod Stewart, e Schenker não havia ficado nada satisfeito com aquilo. Como as vendas de Lights Out foram enormes, e ele não recebeu sua parte, decidiu pular fora do barco.

Way acabou convencendo Schenker a voltar, e assim, terminam a excursão pela América com o clima entre Schenker e Mogg cada vez mais acirrado. Com o alemão se entorpecendo cada vez mais de drogas pesadas e álcool (devido ao fato de ter medo de tocar em público), o garoto franzino e simpático começava a sumir, dando origem a um violento e ranzinza Schenker, mas que continuava tocando muito seu instrumento.

Em fevereiro de 1978, vão morar na Califórnia, e começam a trabalhar no novo álbum, mesmo com o clima brabo que passavam internamente. Pensava-se que o sol de Los Angeles iria acalmar os ânimos de Schenker e Mogg, mas não, ali o UFO começava a criar uma imagem de banda arrogante e amedontrada pela própria fama, com um egocentrismo típico de bandas como Yes e King Crimson.



O encerramento da era Schenker - Obsession
 
Desta forma, e contando novamente com a produção de Ron Nevison, o UFO trancou-se em uma agência postal desativada em pleno centro de Beverly Hills, com um estúdio móvel da Record Plant Studios, onde Schenker ficava isolado dos demais integrantes do grupo. Dali, nasce o álbum que encerraria o ciclo de Schenker no UFO, Obsession.

Lançado em junho de 1978, Obsession manteve o nível de Lights Out, com músicas bem trabalhadas, arranjos orquestrais e diminuição no peso das mesmas, o que afastou os fãs mais antigos, mas angariou mais jovens americanos e ingleses para o hall de fãs da banda.

O disco abre com o rockzão de "Only You Can Rock Me", com uma importante participação de Raymond, seguida por "Pack It Up (and Go)", onde Parker faz a cadência deste pesado som, com vocais cantados em eco e com Schenker tocando muito.

A curta instrumental "Arbory Hill" apresenta violão e flauta solando em um lindo tema, o qual virou item de cabeceira para os aprendizes de ambos os instrumentos, levando para "Ain't No Baby", mais uma faixa pesada na linha de "Pack It Up".

O lado A encerra com a melosa "Looking Out For No 1", com cordas e piano acompanhando os vocais, em uma balada repleta de orquestrações.

"Hot 'N' Ready" abre o lado B com um grande riff de Schenker, nos brindando com um grande som, onde os vocais de Mogg e o acompanhamento de Way e Parker são dançantes e pesados.

Em "Cherry" a guitarra faz o riff junto com o baixo, trazendo os vocais de Mogg e a adição aos poucos de bateria, teclados e violão. Uma faixa bem viajante (em comparação as demais do álbum), com outro grande solo de Schenker.

"You Don't Fool Me" é um blues zeppeliano, onde Parker enfia o pé no bumbo, levando a vinheta de "Lookin' Out For No 1 (reprise)", somente com passagens instrumentais que resgatam temas da faixa que encerra o lado A.

"One More For The Rodeo" vem a seguir, em um som bem oitentista, encerrando o disco com "Born To Lose", onde a guitarra introduz com um bonito tema, surgindo os vocais em uma balada com interessantes arranjos orquestrais empregados no solo de Schenker.

Obsession chegou a posição 41 da Billboard, e de novo o UFO partiria para estradas. O único single foi "Only You Can Rock Me / Cherry", além de um EP com as faixas "Only You Can Rock Me", "Cherry" e "Rock Bottom". É aqui que o pessoal de marketing da banda inova, vendendo durante a turnê um quebra-cabeças com a capa do álbum. No re-lançamento, tivemos como bônus "Hot 'N' Ready", "Pack It Up (And Go)" e "Ain't No Baby", todas gravadas ao vivo. Durante a turnê, ficava claro que o clima de amizade no UFO não existia mais. Schenker agora tomava pílulas fortes (as mesmas que levaram Keith Moon para o outro lado) junto com álcool, tornando-o cada vez mais alienado.



Quebra-cabeças de promoção de Obsession
 
Isso gera vários bate-bocas e discussões entre Mogg e o alemão, inclusive com pancadaria acontecendo por algumas vezes. Mogg, lutador de boxe desde a adolescência, partia pra ignorância constantemente, agredindo Schenker de forma covarde e insana.

Schenker buscou refugio no Aerosmith, mas a audiência com Steven Tyler e cia. foi um fracasso. Mesmo assim, decidiu sair de vez do UFO, incomodado com a pressão de Mogg e inconformado com a forma como era tratado pelo mesmo, buscando abrigo com o irmão Rudolph e retornando ao Scorpions, onde grava o bom Lovedrive (1979). O último show com Schenker foi realizado em Kentucky, e de lá, durante muito tempo, as farpas ainda rolaram entre Mogg e o guitarrista.



Um dos melhores "ao vivo" de todos os tempos, Strangers In The Night
 
O UFO seguiu carreira sem Schenker, e enquanto buscavam um novo guitarrista, lançam o maravilhoso álbum duplo ao vivo Strangers In The Night, que entra fácil na lista dos dez melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. Trazendo gravações feitas durante a turnê americana de 1978, é um petardo, com versões definitivas para vários clássicos, como os quase 12 minutos de "Rock Bottom" (em um solo espetacular de Schenker), "Doctor Doctor", "Let It Roll" entre outros, e tendo ainda um agradecimento especial para Paul Chapman. Nas vendas, uma bolsa de frisbee com o nome do LP poderia ser adquirido por algumas moedas. Hoje, a bolsinha é vendida em sites especializados à várias libras.


Bolsa de frisbee da promoção de Strangers In The Night
 

Além disso, ainda em 79, dois EPs ao vivo foram lançados, um com as faixas "Doctor Doctor" e "On With The Action", gravadas na mesma turnê de 1978, e uma versão em estúdio de "Try Me", e outro com "Shoot Shoot", "Only You Can Rock Me" e "I'm A Loser".

A nave espacial do UFO não parava, e assim chegava nos anos 80 ...

4 comentários:

  1. Esses discos com o Schenker são devastadores. Depois disso o UFO não foi o mesmo. Atualmente lança discos dignos. Mas aquelas bolachas lançadas a partir do Phenomenon são imbatíveis.

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    1. Obrigado pelo comentário Heraldo. Eu curto bastante a fase anterior do Schenker. Pós-Schenker, há discos ruins e outros interessantes, mas nada que realmente se compare a qualidade dessa fase aqui. Saudações

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  2. Único comentário : Banda fantástica e inovadora.

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