sábado, 31 de dezembro de 2011

Led Zeppelin - Parte IV



Encerrando nossa trajetória pela história do grupo britânico Led Zeppelin, hoje vamos contar o que aconteceu com os músicos pós o término do grupo em 1980, após a morte do baterista John Bonham. A partir de então, restou para os fãs a esperança de que um dia Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones pudessem voltar à ativa. Enquanto isso não ocorria, os músicos dedicaram-se para carreiras solos de diferentes proporções. 

O primeiro a mergulhar nesse ramo foi Jimmy Page, que em fevereiro de 1982, gravou a trilha sonora para o filme Death Wish II, lançado pelo selo Swan Song, e que não chegou a fazer muito sucesso. Em junho do mesmo ano, e também pelo Swan Song, Plant lançou seu primeiro álbum solo, Pictures at Eleven, o qual ficou em segundo lugar nas vendas do Reino Unido (recebendo prata) e em quinto nos Estados Unidos (onde recebeu platina, assim como no Canadá. Nesse álbum, estão acompanhando Plant os músicos Robbie Blunt (guitarras), Jezz Woodroffe (teclados), Phil Collins (bateria), Cozy Powell (bateria), Paul Martinez (baixo) e Raphael Ravenscroft (saxofone).

Coda, a coletânea de sobras do Led Zeppelin

No dia 19 de novembro de 1982, o trio remanescente, liderados por Page, lançou um novo material do Led Zeppelin. Coda contém material inédito de sessões de estúdio da banda desde a época de Led Zeppelin II até In Through the Outdoor, aproveitando canções que não estiveram presentes nos mesmos. O disco abre com a bateria que traz a guitarra fazendo o riff de "We're Gonna Groove", cover de Ben E. King, e que aqui, virou uma paulada onde Plant solta a voz, com uma levada pesadíssima de baixo, e com Bonham detonando na bateria. Os efeitos na guitarra aparecem enquanto Plant canta as duas primeiras estrofes, rasgando a voz entoando o nome da canção. O ritmo aumenta no solo de Page, sobrepondo guitarras, enquanto o baixo delira ao fundo, junto da bateria. O riff inicial é resgatado, e assim, Plant conclui a letra de uma canção curta, mas muito poderosa, que abria os shows do grupo em 1969, e acabou ficando de fora de Led Zeppelin II.

"Poor Tom" diminui o ritmo, em uma canção mais acústica, onde a percussão abre, trazendo a voz de Plant cercado pelos violões, relembrando os momentos de Led Zeppelin III,  tendo sido a mesma composta em Bron-Yr-Aur, com direito a um singelo solo de harmônica. Na sequência, uma versão alternativa para "I Can't Quit You Baby", mais elétrica e rápida do que a versão que entrou no álbum de estreia do grupo, além de pequenas alterações nas linhas vocais de Plant, resultado da gravação ao vivo de onde a canção foi retirada, assim como "We're Gonna Groove" (ambas retiradas da apresentação no Royal Albert Hall em janeiro de 1970).

O lado A encerra-se com "Walter's Walk", a qual foi gravada em 1972, e acabou ficando de fora de Houses of the Holy. A guitarra surge com o riff inicial, trazendo o acompanhamento de baixo e bateria. Assim, baixo e guitarra elaboram o mesmo riff, com Plant cantando a letra cheio de gemidos. É justamente a participação de Plant que mais chama a atenção. A mixagem da bateria, além do timbre de voz do vocalista, são similares aos usados em In Through the Outdoor, e alguns acreditam q a canção ganhou os vocais antes do lançamento de Coda. A canção desenvolve-se sempre sobre o mesmo andamento, com Plant sobrepondo vozes, tendo um curto solo de Page, encerrando com mais vozes sobrepostas cantando o refrão da canção, enquanto Page e Jones puxam o riff inicial.

Capa interna de Coda
O lado B apresenta canções que em sua maioria ficaram de fora de In Through the Outdoor, a começar por "Ozone Baby", um rock parecido com canções presentes em Houses of the Holy, onde baixo e guitarra executam o riff principal, ao lado da bateria, trazendo a voz de Plant cantando uma dançante canção, com destaque para a participação relevante de Jones. A canção modifica-se no tema central, com baixo e guitarra criando um novo riff, voltando então para o riff principal, mas em um tom abaixo,  para Plant seguir a letra. O solo de Page, na linha do de "Hot Dog", e com muitos engasgos, é feito sobre esse andamento mais pesado, e então, Plant retorna ao refrão, concluindo a canção com alguns efeitos em sua voz.

"Darlene" é outra que ficou de fora de In Through the Outdoor, e começa com o riff batendo na cara do ouvinte, para então, piano e baixo fazerem o tema que acompanha a levada da bateria e os acordes marcados de piano, enquanto Plant canta o nome da canção aliado a muitos gemidos. Um rockabilly sensacional, que felizmente foi resgatado em Coda para apreço dos fãs. O solo de Page mostra que o guitarrista não estava mesmo na melhor de sua forma em 1979, mas em compensação, o breve solo de piano feito por Jones já vale a canção, que ganha ritmo após a repetição do riff inicial, onde mais agitado, o acompanhamento leva Plant à conclusão da letra através de um boogie espetacular, onde Page faz seu segundo solo na canção, bem melhor que o primeiro.

O encarte de Coda

A instrumental "Bonzo's Montreux", gravada durante a composição de Presence, é um solo de bateria com a adição de efeitos eletrônicos por Page. Bonham puxa o ritmo na caixa, bumbo e prato, fazendo diferentes variações de batidas, em um solo dinâmico e quase que falando ao ouvinte. Efeitos vão sendo adicionados na bateria, e então, depois de uma rápida virada, os eletrônicos de Page fazem o tema que acompanha as batidas de Bonham, como se cantando uma letra, e após mais uma virada percussiva, Bonham volta a ficar sozinho, agora com um solo percussivo feito sobre a levada da bateria, para então, os eletrônicos aparecerem novamente, levando ao final da canção com uma melodia eletrônica gravada em sua cabeça.

O álbum encerra-se com uma preciosidade chamada "Wearing and Tearing", e que absurdamente ficou de fora de In Through the Outdoor. É difícil de explicar por que essa canção ficou de fora do álbum. Uma resposta ao punk, "Wearing and Tearing" abre com o riff de baixo e guitarra feito por ambos os instrumentos, e com Bonham criando uma batida complicadíssima no bumbo. O riff é muito bom e contagiante, e é impossível não tocar uma air guitar nesse instante. Plant surge com seu timbre de voz característico dessa época, enquanto os instrumentos marcam o tempo. Plant grita muito nessa canção, de forma agressiva como nunca havia cantado antes, e as marcações continuam, voltando ao riff inicial, enquanto Plant faz algumas vocalizações.

A sequência é repetida por duas vezes, voltando então para o riff inicial, com um show a parte de Bonham, e mais vocalizações de Plant, que novamente acompanhado pelas marcações, encerra a letra dessa magistral canção, que conclui-se com o pesado riff de baixo e guitarra, e as vocalizações alucinadas de Plant, levando à reprodução do riff inicial.


Contra-capa de Coda
Quando de seu lançamento em CD, Coda recebeu quatro bônus, as quais são "Baby Come on Home", "Travelling Riverside Blues", "White Summer / Black Mountain Side" e "Hey Hey What Can I do". O disco ficou em nono lugar na Austrália, sétimo lugar na Nova Zelândia, sexto lugar nos Estados Unidos (onde recebeu platina, por ter atingido a marca de um milhão de cópias), quarto lugar no Reino Unido (onde recebeu prata, pela marca de 60 mil cópias) e terceiro no Canadá.

Em 1983, Plant lançou seu segundo disco solo, The Principle of Moments, agora pelo selo Es Paranza, tendo como músicos acompanhantes Robbie Blunt (guitarras), Paul Martinez (baixo), Jezz Woodroffe (teclados), Phil Collins (bateria), Barriemore Barlow, John David (vocais), Ray Martinez (vocais) e Bob Mayo (guitarras). O álbum recebeu ouro no Reino Unido, onde ficou na sétima posição em vendas, e Platina nos Estados Unidos, onde ficou em oitavo lugar. Vale a pena destacar que na Nova Zelândia, The Principle of Moments atingiu a primeira posição em vendas. Tudo isso graças ao sucesso da clássica “Big Log”, um dos maiores sucessos de Plant desde “Stairway to Heaven. No ano seguinte, Plant fundou o projeto The Honeydrippers, tendo como participação especial diversos artistas, entre eles Page, Brian Setzer, Jeff Beck, e outros menos cotados. Esse time gravou The Honeydrippers: Volume One, do grupo The Honeydrippers, que fez um relativo sucesso, graças ao single de Sea of Love. 1983 também foi o ano do último lançamento do selo Swan Song, o qual foi o álbum Wildlife, do grupo de mesmo nome. O selo acabou devido à problemas de saúde do presidente Peter Grant, que já não podia mais manter seu status de empresário, e logicamente, ao final do Led Zeppelin.

Já em 1985, tivemos o melhor ano para os membros do grupo. John Paul Jones gravou a trilha para o filme Scream for Help, contando com a participação de Page, que resolveu sair da toca, e ainda em 1985, gravou ao lado de Roy Harper o belo Whatever Happened to Jugula, bem como montou o super-grupo The Firm, com Paul Rodgers nos vocais, Tony Franklin  no baixo e Chris Slade na bateria, lançando o primeiro álbum do grupo em fevereiro de 1985, batizado de The Firm, o qual conquistou ouro nos Estados Unidos. Plant lançou seu terceiro disco solo, Shaken ‘n’ Stirred, que teve um desempenho modesto, sendo apenas ouro nos Estados Unidos. Os músicos acompanhantes são Robbie Blunt (guitarras), Toni Halliday (vocais), Richie Hayward (bateria), Paul Martinez (baixo) e Jezz Woodroffe (teclados).

Sequência de fotos referentes ao Live Aid:
John Paul Jones e Robert Plan (acima);
Jimmy Page e Robert Plant (centro) e
os membros da apresentação (abaixo)

Porém, em agosto daquele ano, Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones voltaram a subir em um palco. Passados quase cinco anos da morte de Bonham, o grupo fez uma emocionante apresentação no Live Aid, tendo como bateristas Phil Collins e Tony Thompson. e no aniversário de 40 anos da gravadora Atlantic, em 1988, com Jason Bonham, filho de John, nas baquetas. No festival, o grupo apresentou um set curto, com as seguintes canções: “Rock and Roll”, “Whole Lotta Love” e “Stairway to Heaven”. 

The Firm: Tony Franklin, Paul Rodgers, Jimmy Page e Chris Slade (acima);
O álbum The Firm (centro) e o álbum Mean Business (abaixo)

Quando todo mundo já anunciava a volta do Led Zeppelin, Plant descartou a possibilidade, e alegando estar cansado, decidiu retirar-se temporariamente do mundo da música. Page tentou seguir com o The Firm, lançando Mean Business em 1986, o qual se tornou um fracasso comercial. Já John Paul Jones decidiu seguir carreira como produtor, sendo responsável pela trilha do filme Back to the Beach, lançado em 1987.

Em fevereiro de 1988, Plant lançou Now and Zen, seu trabalho mais bem sucedido até então, conquistando ouro no Reino Unido e platina tripla nos Estados Unidos, revelando mais um grande clássico de sua carreira solo, “Tall Cool One. Ao lado de Plant, músicos de maior calibre Phil Johnstone (teclados)Doug Boyle (guitarras), Phil Scragg (baixo), Chris Blackwell (bateria), David Barratt (teclados), Marie Pierre (vocais), Toni Halliday (vocais) e Kirsty MacColl (vocais), além da participação mais que especial de Jimmy Page em duas canções: "Heaven Knows" e a já citada "Tall Coll One".

Bootleg do show nos 40 anos da Atlantic Records
Como retribuição, no mesmo ano, mas em junho, através da Geffen Records, Page lançou Outrider, um ótimo LP, que conta com participações especiais de artistas como Chris Farlowe (vocais), John Miles (vocais)Jason Bonham (bateria) e Barriemore Barlow (bateria). Mas, a participação mais especial é a de Plant, na sensacional "The Only One". Essas reuniões de Page e Plant ocorreram muito por causa da apresentação do aniversário de 40 anos da Atlantic Records. Dessa vez, acompanhados do baterista Jason Bonham (filho de John Bonham), o grupo apresentou-se diante de uma plateia alucinada, interpretando "Kashmir", "Heartbreaker", "Whole Lotta Love", "Misty Mountain Hop" e "Stairway to Heaven".

A coletânea Remasters, mais indicada para
iniciação à obra do Led Zeppelin

No ano seguinte, a própria Atlantic lançou a caixa Remasters, com 4 CDs trazendo o melhor da banda. A caixa recebeu diamante nos Estados Unidos, e é um dos artefatos mais indicados para quem quer se iniciar no mundo do grupo. Além de clássicos como “Kashmir”, “All My Love” e “Since I’ve Been Loving You”, canções até então inéditas estão também presentes, as quais são "Hey Hey What Can I do" e "White Summer / Black Mountain Side". A coletânea vendeu muito, recebendo ouro na Áustria, Noruega e Suíça, platina na Alemanha, platina dupla no Reino Unido e Estados Unidos e platina décupla na Austrália. Outra coletânea, Boxed Set, foi lançada, com 12 CDs abrangendo toda a carreira do grupo.

Ainda em 1990, Plant lançou aquele que eu considero seu melhor disco, Manic Nirvana. Acompanhado por uma banda impecável, formada por Chris Blackwell (guitarras), Doug Boyle (guitarras), Phil Johnstone (guitarras e teclados) e Charlie Jones (baixo), sendo essa a melhor banda que acompanhou Plant, o qual arrebenta em um disco impecável, que foi prata no Reino Unido e ouro nos Estados Unidos. 

O álbum Coverdale / Page (acima) e a dupla David Coverdale e Jimmy Page (abaixo)

1993 foi mais um ano especial para os fãs do Led Zeppelin. Primeiro, saiu a coletânea Boxed Set 2, o qual parece mais ser uma coletânea de da primeira versão de Boxed Set. Os nove LPs de estúdio do grupo foram relançados em CD na caixa The Complete Recordings, sendo que Coda recebeu as canções citadas acima. Mas o que mais alegrou ao mundo foi a surpresa com o lançamento de Coverdale / Page, álbum de Jimmy Page ao lado do ex-vocalista do Deep Purple e Whitesnake David Coverdale. Um grande álbum, que misturou muito bem as características de ambos os músicos, além de contar com uma banda de apoio muito boa, formada por Denny Carmassi (bateria), Lester Mendel (teclados), Jorge Casas (baixo), Ricky Phillips (baixo) e John Harris (harmônica). No mesmo ano, Jones fez a trilha para o filme The Secret Adventures of Tom Thumb, e Plant lançou outro grande disco, Fate of Nations, contando com diversos músicos. Esse disco trouxe o vocalista e sua banda para apresentar-se pela primeira vez no Brasil, com um show inesquecível na Praça da Apoteose durante a quinta edição do Hollywood Rock Festival, o qual ocorreu em 1994. 

Também em 1994, Plant e Page voltaram a se reunir, dessa vez para participar do projeto MTV Unplugged, o qual foi registrado em vídeo, CD e LP em um disco sensacional, batizado de No Quarter, que recebeu platina nos Estados Unidos, ficando em quinto lugar em vendas, e ouro no Reino Unido, onde atingiu a quarta posição. Entre clássicos do Led Zeppelin (“Thank You”, “Since I’ve Been Loving You”, “That’s the Way”, Kashmir”, entre outras), a dupla apresenta quarto canções inéditas: “Yallah”, “City Don’t Cry”, “Wonderful One” e “Wah Wah”. Na apresentação, prevalece a influência oriental, sendo que alguns músicos marroquinos estão presentes em diversas faixas, assim como a banda de apoio de Plant. Lamentável apenas a não inclusão de Jones no projeto, sendo que o baixista lançou também em 1994 o álbum The Sporting Life, ao lado de Diamanda Galás, bem como compôs a trilha do filme Rish, no mesmo ano. 

Apresentação no MTV Unplugged (acima) e
Page e Plant em turnê, no ano de 1996 (abaixo)

A dupla Page e Plant partiu para uma turnê mundial juntos, vindo inclusive ao Brasil durante a sétima e última edição do Hollywood Rock Festival, em 1996. Dois anos depois, lançam Walking into Clarksdale, o qual amplia as influências orientais de No Quarter, através de canções todas inéditas, que levaram o álbum à quinta posição nos Estados Unidos (onde foi ouro) e terceiro no Reino Unido (onde foi prata). Um ano antes, saiu o cd duplo BBC Sessions, o qual contém apresentações do Led Zeppelin em especiais da rádio britânica no período de 1968 a 1971. Um belo achado para os colecionadores e principalmente, para os fãs do grupo. 

BBC Sessions.
Belíssimo registro do
início da carreira do grupo
Em 1999, mais uma coletânea, batizada de Early Days: Best of Led Zeppelin Volume One, o qual apresenta canções dos quatro primeiros álbuns do grupo. Jones lançou seu terceiro álbum solo, Zooma, e em 2000, Page participou da gravação do álbum Live at the Greek, ao lado do grupo Black Crowes, onde diversas canções do Led Zeppelin são interpretadas, sendo algumas poucas vezes ouvidas ao vivo. Ainda em 2000, a sequência de Early Days saiu, batizada de Latter Days: Best of Led Zeppelin Volume Two, abrangendo a carreira do grupo pós Houses of the Holy. Em 2001, o quarto álbum solo de Jones chegou às lojas, batizado de The Thunderthief. Esse foi o último disco solo do baixista até o presente momento.

How the West was Won.
Belo registro ao vivo em 1972

Plant voltou à ativa em 2002, com o bom álbum Dreamland, tendo como músicos acompanhantes John Baggott (teclados), Porl Thompson (guitarras), Justin Adams (guitarras, gimbri, garbuka), Charlie Jones (baixo) e Clive Deamer (bateria). Em 2002, mais um caça-níqueis, agora Early Days and Latter Days, sendo esse um box set contendo as duas coletâneas citadas acima. Plant se tornou o único músico do Led a partir de então a lançar discos regularmente. No ano seguinte, em novembro, foi lançada a coletânea Sixty Six to Timbuktu, somente com canções da carreira solo de Plant.



DVD Led Zeppelin: essencial
Ainda em 2003, o excelente DVD Led Zeppelin saciou a sede dos fãs do grupo, trazendo cinco horas de shows desde o início da carreira, em 1968, até a apresentação no festival Knebworth em 1979, com destaque para os shows no Royal Albert Hall em 1970 e no Earls Grant em 1975. Nesse mesmo ano, o excelente ao vivo How the West Was Won lançou os fãs zeppelianos para as apresentações do grupo em 1972, as quais foram realizadas respectivamente na Califórnia em Long Beach e Los Angeles. Um ótimo CD, que mostrao Led crescendo em cima do palco, com interpretações impecáveis para clássicos do grupo. O CD saiu-se muito bem nas vendas, conquistando ouro no Brasil (50 mil cópias vendidas) e Reino Unido (100 mil cópias vendidas), e platina no Canadá (100 mil cópias vendidas) e Estados Unidos (818 mil cópias vendidas).

Plant continuou sua carreira solo, lançando em 2005 Mighty Rearranger, trazendo comobanda acompanhante Justin Adams (guitarra, bendir, tehardant e lap steel guitar), John Baggott (teclados), Clive Deamer (bateria), Billy Fuller (baixo) e Sik Tyson (guitarra, lap steel guitar e baixo). No ano seguinte, saiu a caixa Nine Lives, trazendo os nove álbuns de estúdio lançados por Plant até então. Em 2006, Page participou do álbum Last Man Standing, de Jerry Lee Lewis, através de "Rock and Roll". 2007, ao lado da cantora Alison Krauss, Plant lançou Raising Sand, considerado por muitos um dos melhores discos lançados por Plant em sua carreira, e que recebeu platina nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.

A reunião de 2007

Ainda em 2007, mais uma coletânea do Led Zeppelin foi lançada, batizada de Mothership, e que não traz nenhuma novidade em comparação à Remasters. No ano seguinte, Definitive Collection foi o último lançamento oficial ligado ao nome Led Zeppelin, trazendo doze CDs, cada um referente à um álbum do grupo, com remasterização e mixagens melhoradas. Mas o melhor momento daquele ano foi em 10 de dezembro, quando Page, Jones, Plant e Jason Bonham subiram no palco do London's 02 Arena para a primeira apresentação do grupo Led Zeppelin em quase 20 anos, emocionando à todos os presentes. Esse show ocorreu como forma de arrecadar fundos para a Ahmet Ertegun Education Fund.

No ano seguinte, Page e Jones participaram do show do grupo Foo Fighters no Wembley Stadium, o qual foi registrado no CD e DVD Live at Wembley Stadium, lançado no mesmo ano. Nele, Page e Jones interpretam "Ramble On". Isso gerou uma parceria entre Jones e Grohl, chamada Them Crooked Vultures, ao lado de Josh Homme (vocais, guitarras) Alain Johannes (guitarras, baixo e teclados), que acabou lançando o álbum Them Crooked Vultures. em 2009. No ano seguinte, Plant resgatou sua banda original, o Band of Joy, lançando o ótimo Band of Joy, que foi seu último disco solo até o presente momento. Em 2011, Jones participou do quinto álbum do músico Seasick Steve, batizado de You Can't Teach an Old Dog New Tricks.

Alguns discos solos ligados ao Led Zeppelin

Diversos boatos circulam na internet referentes à volta do Led Zeppelin para excursionar pelo mundo, assim como ocorreu com o Black sabbath. Mas, pelo que parece, dificilmente isso irá acontecer. Como consolo, um vasto material está à disposição dos fãs, e pode ser encontrado facilmente. Sejam os álbuns oficiais, as infinitas coletâneas ou a enorme quantidade de bootlegs espalhados pela internet, todo esse conjunto de canções e relíquias alimentam as mentes dos fãs do grupo, e claro, fica sempre a expectativa de quando um novo material irá ser lançado, resgatando as pérolas da maior banda de o rock que o mundo já viu.

Um Feliz 2012 à todos! 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Led Zeppelin - Parte III


O acidente de Plant em agosto de 1975 gerou graves transtornos para o Led Zeppelin. O cancelamento das turnês europeias, asiáticas e americana foi apenas o primeiro problema. Apesar de Plant ter sido liberado dias depois do hospital, ele ficou impossibilitado de andar durante seis meses, sendo que não havia garantias de total recuperação do vocalista. 

Porém, em setembro, apenas um mês depois, o vocalista estava animado para começar as atividades, passando a compor ao lado de Page. Para isso, a dupla mudou-se para Malibu. Esse período nos Estados Unidos acabou sendo retratado nas letras do sétimo disco do grupo. Assim, partem para o Musicland Studios, na Alemanha, onde em apenas 18 dias, concluíram o processo de gravação e mixagem. 

Presence, crueza que foi eleita por Page o melhor disco do Led
No dia de março de 1976, Presence foi lançado. Esse foi o álbum mais interessante de toda a história do Led, pois nele, a crueza está transbordando em cada segundo do vinil. Não há teclados, violões, orquestrações ou muitos overdubs. É como se o álbum tivesse sido gravado ao vivo no estúdio, apenas com voz, guitarra, baixo e bateria. Apesar de Plant ter gravado todos os vocais em cima de uma cadeira de rodas, ele faz uma performance impecável. 

O álbum abre com uma canção que é forte concorrente a melhor de todas, chamada “Achilles Last Stand”. Com mais de dez minutos de duração, esse grande épico narra sobre a necessidade da banda viver trocando de cidades, principalmente devido aos altos impostos do governo inglês. O dedilhado das guitarras sobrepostas abre a canção, trazendo Bonham, Jones e o riff  principal. Jones mostra ao mundo o poder de um baixo cavalgante, e Plant passa a cantar, com Page fazendo intervenções aleatórias em cima dos mesmos acordes. O riff principal é repetido, com Bonham fazendo pequenos rolos, e a letra continua, sempre com o martelante baixo de Jones e as intervenções de Page.

Repentinamente, um riff marcado de baixo e guitarra mudam a canção, trazendo uma linda melodia das guitarras sobrepostas, que leva ao riff principal novamente, para Plant continuar a letra da canção. Um pequeno tema de guitarra, e mais uma estrofe da letra, levam ao tema marcado de baixo e guitarra, entre vocalizações de Plant, chegando no arrepiante solo de Page, elaborado sobre a linda melodia das guitarras sobrepostas, o a companhamento do baixo e também um tema marcado entre baixo, guitarra e bateria. A melodia exalada pelas cordas da Les Paul de Page é um dos ápices de sua carreira, duelando com o solo de "Since I've Been Loving You" e "Stairway to Heaven".

Chegamos na metade da canção, que retorna ao riff inicial, com o baixo cavalgante de Jones e as viradas de Bonham destacando-se ainda mais entre a letra de Plant. Page cria um novo riff, desta vez, utilizando-se de três gutiarras diferentes, e Plant canta a letra sobre esse novo riff, enquanto Jones e Bonham mantém a sequência "cavalgante", até Plant soltar vocalizações sobre a linda melodia da guitarra, com Bonham e Jones fazendo a marcação entre o dedilhado da gutiarra e as vocalizações de Plant.

Bateria, guitarra e baixo fazem o tema marcado, trazendo mais um tema de guitarras sobrepostas, com Page usando o slide, voltando então ao riff principal, carregado de peso, onde guitarra e vocalizações duelam, como nos tempos iniciais do Led. Essa parte da canção é intercalada por mais uma participação do lindo tema da guitarra, com Plant fazendo muitas vocalizações, chegando ao solo final de Page, onde, sobre o tema marcado de guitarra, baixo e bateria, ele sobrepõe guitarras que agonizam entre uma caixa de som e outra, para concluir essa pérola zeppeliana com o riff principal e muitas vocalizações de Plant que somente por essa canção de mais de dez minutos, já valeriam o LP, encerrando então com o dedilhado inicial.

Porém, outras belas canções estão em Presence, como é o caso da sequência de "Achilles Last Stand", com o bluesão cru de "For Your Life", cuja introdução traz o tema marcado de baixo e guitarra, acompanhados suavemente pela bateria. Baixo e guitarra carregam a canção, fazendo sempre o mesmo tema, enquanto Plant solta a voz, em um blues singelo e dançante, destacando o uso do slide por Page.

A letra segue após um pequeno trecho instrumental, com Page e Jones executando com perfeição sempre as mesmas notas, levando então ao segundo tema da canção, onde inicialmente, baixo e guitarra fazem as mesmas notas marcadas, diferentes do riff inicial, e depois, ainda tocando as mesmas notas, criam uma escala regressiva, com Plant fazendo algumas vocalizações. A canção então ganha um certo swing, e Plant continua a letra. Page agora usa a alavanca para fazer alguns efeitos, retornando então ao tema regressivo, chegando ao solo de Page, carregado de bends e arpejos e feito sobre a levada swingada da terceira parte da canção. Plant canta as últimas estrofes da letra, concluindo com o nome da canção sendo entoado por duas vezes.

O lado A encerra-se com a curta "Royal Orleans", que conta os dias do grupo no Royal Hotel, em New Orleans, durante a turnê de Houses of the Holy. Esta é outra canção com destaque para o tema marcado feito por baixo e guitarra, porém bem mais swingada do que sua antecessora. Destaque principal par ao ritmo das guitarras sobrepostas de Page e claro, para a participação precisa de Jones e Bonham, acompanhando com muita ginga as vocalizações de Plant. O solo de Page, carregado de efeitos, dá indícios do que estava por aparecer no som do Led nos anos futuros. Uma sessão percussiva surge no meio da canção, retomando ao início swingado para concluir uma boa faixa, mas que comparada à pedrada de "Achilles Last Stand", ou a leveza de "For Your Life", serve realmente como complemento de um lado A magistral;

Capa interna de Presence
O lado B abre com o bluezão-psicodélico de "Nobody's Fault but Mine", onde logo na introdução, Page utiliza de efeitos na guitarra para criar o riff inicial, feito ao lado das vocalizações de Plant. Jones e Bonham surgem após cinco repetições desse tema inicial, apresentando o dançante blues, cantado por Plant com muito tesão e fúria. Após a primeira estrofe, um breve momento a capela de Plant, cantando o nome da canção. A sequência é repetida, voltando então ao riff inicial da guitarra, dessa vez com intervenções marcadas de baixo e guitarra, que levam para o belo solo de harmônica feito por Plant, algo que não ouvíamos há algum tempo nos álbuns do Led.

A letra é retomada, sempre com os momentos para Plant brilhar sozinho, e mais duas estrofes são cantadas, levando ao solo de Page, onde ele usa bastante seus arpejos tradicionais. Voltamos então para o riff inicial, contando com as intervenções de baixo e bateria, para encerrar com os gritos de Plant entoando o nome de mais um grande som registrado em Presence.


"Candy Store Rock" vêm na sequência, com o riff quebrado de Page, usando bastante da slide, em um boogie extremamente dançante, carregado pelo baixo poderoso de Jones, dividindo o riff ao lado da guitarra, e por uma incansável bateria. Plant canta como se a canção fosse um rockabilly anos 50, e é inevitável não citar a fundamental participação do baixo nessa canção. Page executa seu breve solo, usando bastante do slide, enquanto Plant abusa de vocalizações e gemidos no tema central da canção. O ritmo inicial é retomado, com Plant cantando mais duas estrofes, voltando para as vocalizações sobre um ritmo mais dançante, encerrando a canção com as viradas de Bonham, acompanhando a repetição do riff inicial sob as vocalizações de Plant.


A terceira faixa do Lado B é "Hots on for Nowhere", um boogie simples, onde novamente baixo e guitarra dividem o riff principal, dessa vez com um ritmo marcado pela presença de Bonham, que transmite para as peças da bateria a melodia que Page e Jones constróem, em seus instrumentos. A interpretação vocal de Plant remete à momentos de Houses of the Holy, e aqui, percebemos que Page está se privando de solar, executando apenas pequenos trechos onde aparece mais, abusando da alavanca, mas por outro lado, dá um espetáculo a parte com a sobreposição de guitarras, e principalmente, destacando o riff final da canção, em um complicado dedilhado.



Contra-capa de Presence


O LP encerra-se com um dos mais lindos blues já gravados na hstória do rock. Um épico de nove minutos chamado de "Tea for One", narrando os dias de sofrimento de Plant. É impossível para qualquer ser humano não se ajoelhar depois de ouvir essa canção. O início, com um riff pesado de baixo e guitarra, e um tema estranho das guitarras sobrepostas, deságua em um blues extremamente lento, com magistrais linhas de guitarra criadas por Page. Logo na entrada, um solo que nos remete aos melhores momentos de "Since I've Been Loving You", trazendo então a voz triste de Plant, naquela que é considerada a sua melhor performance em estúdio.

A dose emocional exalada pelas cordas vocais de Plant representa com fidelidade os difíceis momentos que o vocalista estava passando naquele período de gravação de Presence, e o blues vai se desenvolvendo sobre o leve e emocionante andamento de Bonham, marcando o tempo no bumbo, pratos e caixa, com Jones sendo uma figura a parte para as intervenções das guitarras de Page, e com Plant chorando ao microfone frases como "How come twenty-four hours" e "A minute seems like a lifetime".

A explosão de emoção começa no detonador momento onde baixo, bateria e baixo dividem o espaço em um furioso ataque aos seus instrumentos, levando ao solo de Page, feito sobre a cadência leve do blues. Page descarrega todo o seu sentimento em arpejos, notas longas, e claro, melodias belíssimas, mostrando por que Page é um dos principais guitarristas da história.

Plant volta a cantar a letra, chorando ainda mais ao microfone, e a canção parece ganhar um certo peso, levando ao final da canção, onde as guitarras sobrepostas com as vocalizações de Plant, tendo o acompanhamento de Jones e Bonham, apresentando mais um breve solo de Page. fecham com chave de diamante o último grande álbum da carreira do Led Zeppelin, e que para este que vos escreve, é superado apenas por seu antecessor, o magistral Physical Graffiti.

Encarte frontal (acima) e traseiro (abaixo) de Presence
Um único single foi lançado, contando com "Candy Store Rock" e "Royal Orleans", e que não fez muito sucesso. Presence tornou-se o álbum que menos vendeu na carreira do Led. Mesmo assim, ele chegou na oitava posição na Suécia e Nova Zelândia, sétima na Espanha, quinta na França, quarta na Noruega e Austrália, segunda no Japão e primeira no Reino Unido e Estados Unidos, sendo que no Reino Unido, conquistou platina (300 mil cópias vendidas) e nos Estados Unidos, platina tripla (três milhões de cópias vendidas).


“Achilles Last Stand” tocou tanto nas rádios que os ouvintes passaram a ligar, reclamando principalmente da longa duração da mesma. De forma geral, o LP captou tão bem os problemas do grupo na época de sua gravação, que ainda hoje ele é considerado por Page o melhor disco do grupo.


Depois de Presence, os problemas com drogas de Page começaram a aumentar cada vez mais. Em uma tentativa de fugir delas, Page se concentrou no lançamento (finalmente) do tal filme sobre a turnê de Houses of the Holy


The Song Remains the Same, o álbum que demorou três anos
para ser lançado

Depois de algum tempo envolvendo mixagem, ajuste de imagens e edição, no dia 28 de setembro de 1976, chegou às lojas a trilha sonora do aguardado filme promocional de Houses of the Holy, o qual foi lançado nos cinemas no dia 20 de outubro de 1976, sob o pseudônimo de The Song Remains the Same (no Brasil, Rock é Rock Mesmo).

O filme possui um enredo de gosto duvidoso, envolvendo o assassinato de uma gangue mafiosa logo no início do filme, e depois, a união dos quatro membros do Led Zeppelin para voltar aos palcos (já que pelo filme, os quatro estavam separados). Com a união, o grupo volta aos palcos, e assim, apresenta-se em Nova Iorque, sendo recepcionados por limusines e muitos fãs. Durante o desenrolar do filme, diversas cenas de bastidores são mostradas, além de cenas fantasiosas sobre os "personagens" John Bonham (um corredor de carros de drag racing), Jimmy Page (uma espécie de mago que se torna no heremita da capa interna de Led Zeppelin), John Paul Jones (um cavaleiro andante) e Robert Plant (outro cavaleiro, agora responsável por resgatar uma linda donzela).


Na parte musical, o filme é excelente, mostrando o grupo entrosado e fazendo aquilo que mais gostava, que era tocar ao vivo. Vários são os momentos de destaque, mas dois são os que chamam mais a atenção: "Since I've Been Loving You", com um show de efeitos de duplicação de imagens, e "Moby Dick", onde o longo solo de Bonham foi filmado com muitos detalhes.

 
Imagens do encarte que acompanha a versão original do LP
No vinil que é trilha sonora do filme, muitas canções acabaram ficando de fora, sendo que algumas inclusive foram podadas, ficando mais curtas que a versão original do filme (como é o caso de "Dazed and Confused"), e outras tiveram a ordem alterada (como é o caso de "No Quarter". Mesmo assim, é um fabuloso e essencial registro para qualquer admirador da banda. Além disso, a versão original do LP duplo contava com um luxuoso encarte, trazendo imagens do filme.

Concentrando-se nas canções do filme original, são apresentadas na sequência: "Bron-Yr-Aur" (versão de estúdio, enquanto o filme mostra a chegada dos quatros integrantes do grupo à Nova Iorque). "Rock and Roll",  "Black Dog", "Since I've Been Loving You", "No Quarter" (John Paul Jones sequence), "The Song Remains the Same", "The Rain Song" (Robert Plant sequence), "Dazed and Confused" (Jimmy Page sequence), "Stairway to Heaven", "Moby Dick" (John Bonham sequence), "Heartbreaker" e "Whole Lotta Love". No vinil, foram excluídas "Bron-Yr-Aur", "Black Dog", "Since I've Been Loving You" e "Heartbreaker", mas incluindo "Celebration Day".
Contra-capa de The Song Remains the Same
O álbum foi oitavo no Canadá, sexto na Nova Zelândia e Japão, segundo nos Estados Unidos e primeiro no Reino Unido. Em premiações, recebeu ouro na Argentina (20 mil cópias vendidas), França (100 mil cópias vendidas) e Alemanha (250 mil cópias vendidas), platina no Reino Unido (300 mil cópias vendidas) e platina quádrupla nos Estados Unidos (4 milhões de cópias vendidas).



Já o filme foi lançado em Nova Iorque e em Londres com o cinema tendo um sistema quadrifônico, e com a presença de Page, Plant, Jones e Bonham. No primeiro ano, arrecadou mais de 10 milhões de dólares em todo o planeta, mesmo tendo recebido críticas pesadas da imprensa especializada, principalmente pela produção amadora e pelas cenas fantasiosas de cada integrante, sendo que no Reino Unido, não conseguiu emplacar.



Em 1999, The Song Remains the Same ganhou o formato de DVD, e em 2007, através da produção de Page, recebeu uma edição especial em DVD, apresentando todas as canções que estiveram presentes no set list original do Madison Square Garden, ou seja, acrescentando "Over the Hills and Far Away", "Celebration Day", "Misty Mountain Hop" e "The Ocean", além de uma entrevista com Plant e Grant para a BBC.

Para completar, uma caixa em edição para colecionador, trazendo uma camisa com a capa do álbum, cartazes com os shows de Nova Iorque e muitas fotos, também chegou ao mercado naquele ano.
Parte interna do LP
Em dezembro de 1976, começam os ensaios para a turnê americana, prevista para iniciar em abril de 1977, com 51 shows marcados para serem realizados em 30 cidades diferentes, e com um público esperado de 1.3 milhões pessoas. Ao mesmo tempo da expectativa sobre a turnê, que era a décima primeira do grupo nos Estados Unidos, e que iria levar o grupo a ultrapassar a marca de 500 shows em sua carreira, as drogas apareciam com cada vez mais frequência entre o quarteto. 

Apesar de não transparecer nos palcos, onde os shows eram como de costume, sempre com muita energia e com mais de três horas de duração, era visível que Page não estava na melhor forma, como comprovam diversos bootlegs da época. Outro que não estava nada bem era Bonham, que seguidamente começou a aprontar, sendo o ápice a destruição da suíte do Ambassador East Hotel, o que custou a bagatela de 5100 dólares. 

A turnê americana durou de abril até julho, esgotando a bilheteria em diversas cidades. Em Chicago, foram quatro noites sold out, enquanto Nova Iorque e Los Angeles celebraram seis noites seguidas de Led Zeppelin. Apesar dos problemas pessoais de Page, ao lado de seus companheiros o guitarrista transformava-se, e as apresentações eram sucesso tanto entre os fãs quanto entre os críticos. 

Rara imagem do início de carreira do Led

Uma breve pausa em julho, onde cada um foi para um canto na Inglaterra, e em agosto já estavam de volta aos Estados Unidos, para mais uma série de shows. Porém, próximo ao final da turnê, quando o grupo estava em New Orleans, Plant recebeu a triste notícia que seu filho Karac havia falecido, devido à uma infecção respiratória. Era a terceira tragédia que alcançava os membros do Led Zeppelin (a primeira, o dedo quebrado de Page, e a segunda, o acidente de Plant), e a segunda ligada diretamente à Plant. 

A solução foi encerrar prematuramente a turnê de Presence, com Plant entrando novamente em reclusão. Page aproveitou e mudou-se para a Guatemala, onde começou um tratamento intensivo para curar-se do vício em heroína. Já Bonham ficou ao lado de Plant, e Jones voltou-se para sua família, como habitualmente estava acostumado a fazer. 

Depois de mais de um ano em exílio forçado, no início de dezembro de 1978 voltam a se reunir. Plant, ainda abatido, trouxe algumas ideias. Page, apesar de estar parcialmente curado, não estava em sua melhor forma com a guitarra. Desta forma, coube a John Paul Jones virar o compositor principal do Led Zeppelin para o próximo álbum. Não que Plant e Page não tenham participado, mas o que Jones fez com as canções que surgiram nesse período é notável. 
Poster do Knebworth Festival de 1979

Ao mesmo tempo que compunham o novo álbum, recebem o convite para fechar o festival de Knebworth. Depois de quase quatro anos, o Led Zeppelin a voltava a tocar em sua terra natal, em um evento mais que especial. Oficialmente (apesar de controversos), os promotores divulgaram que mais de 500 mil pessoas estiveram nas duas noites de apresentação do grupo, ao lado de outros nomes como New Barbarians (grupo de Ron Wood, Keith Richards e Stanley Clarke), Todd Rudgren & Utopia, entre outros. 

Depois de três horas e meia de apresentações, realizadas nos dias 04 e 11 de agosto, ficava claro e óbvio que o quarteto estava voltando com tudo, e que Page, mesmo fora de forma, ainda era capaz de cativar sua plateia. O festival de Knebworth foi o último grande momento ao vivo do quarteto britânico. Apesar de não ser tão impactante quanto os shows em Earls Court, esses shows estão entre os essenciais a serem assistidos por um fã do grupo, principalmente pelas apresentações ao vivo de canções como “Achilles Last Stand”, “Kashmir”, “In the Evening”, “Nobody’s Fault But Mine”, “Ten Years Gone” (com a guitarra de três braços e tudo mais), entre outros. 

Led ao vivo em Knebworth
Apesar de não conseguir tocar como antes, Page ainda era o chefão, e dizia o que queria de cada membro, principalmente Bonham (como pode ser conferido no bootleg Outtakes, de 2001). Inovações, batidas viradas, inclusão de ritmos diferentes, entre outros aspectos relevantes, foram aparecendo através de diversas canções que Jones magistralmente aperfeiçoava, adicionando teclados, sintetizadores e eletrônicos, com o Led Zeppelin preparando-se para os anos 80. 

O derradeiro disco de estúdio do Led Zeppelin

Dessas canções, nasceu In Through the Out Door, o qual foi lançado uma semana depois dos shows em Knebworth, no dia 15 de agosto de 1979. Os efeitos na guitarra , mellotron e bateria abrem "In the Evening", um épico zeppeliano que dava indícios do novo caminho que o grupo estava por seguir, e já puxando o carro dos anos 80. Plant canta o nome da canção, trazendo o riff do teclado e da guitarra (com muita alavanca) e o acompanhamento marcado de baixo e bateria. A voz de Plant está com muitos efeitos, e com um timbre diferente do que ouvimos em Presence, e algo que podemos perceber é que não temos a grande quantidade de guitarras sobrepostas que haviam nos dois álbuns antecessores, o que pode ser concluído por causa dos problemas com heroína de Page.


A primeira estrofe é levada pelo riff principal, chegando na segunda estrofe, mais dançante. Ambas são repetidas por duas vezes, sem repetir a letra, até o riff principal acompanhar o solo de Page, aqui sim, com muitos overdubs. A canção muda, tornando-se uma linda balada, onde Page muda o efeito da guitarra de seu solo, ao mesmo tempo que camadas de órgão e um leve dedilhado fazem a cama para a participação do baixo e da bateria quase inaudível, voltando então para o riff inicial, apresentando mais três estrofes e concluindo a letra da canção com muitas vocalizações feitas por Plant, duelando com as notas da guitarra de Page.


Page não participa na criação da segunda canção do álbum, "South Bound Saurez", a qual começa com o piano de Jones, trazendo a bateria, baixo e guitarra, seguido pelos vocais de Plant, em um rock simples, com espírito rockabilly, e bem dançante, fugindo bastante das experimentações feitas em "In The Evening". As estrofes são repetidas, com Plant cantando em um timbre não usual, levando ao solo de Page, rasgado e sem muitas inovações. A letra é retomada, seguindo o ritmo original da canção, com destaque para o martelante acompanhamento do piano, encerrando com as vocalizações de Plant sendo acompanhadas pelo leve ritmo da canção.


Single japonês de "Fool in the Rain"
A terceira faixa é "Fool in the Rain", uma canção levada pelo riff  latino feito por piano, baixo e guitarra, tendo a cadência simples de Bonham, e que foi inspirado pela Copa do Mundo da Argentina, de 1978. A letra conta  a história de um homem que marca um encontro com uma mulher numa esquina, porém ela não aparece. No fim, ele descobre que estava na esquina errada, o que o torna o tolo na chuva. Plant volta a cantar com seu timbre mais conhecido, enquanto o riff grudento vai empregnando-se em seu cérebro, destacando as passagens de piano feitas por Jones. A canção vai ganhando corpo, com Page adicionando mandolim. No trecho central, uma espécie de "samba" feito por piano, percussão e apitos, acompanham os gemidos e vocalizações de Plant, voltando então para o riff inicial, o qual acompanha o breve solo carregado de efeitos feito por Page. Plant volta a cantar,  concluindo a canção com os mandolins ganhando destaque e muitas vocalizações.


O lado A encerra-se com "Hot Dog", um country-rockabilly que começa com o rápido riff de Page, trazendo o ritmo da canção, acompanhando o dançante solo de piano feito por Jones. A levada de Bonham, com o baixo e a guitarra fazendo a melodia da base, tornam o solo de piano mais atraente. Plant canta a la Elvis Presley, dividindo os vocais com sua voz mais aguda no refrão. Page faz seu solo, sem muita inspiração e com certos engasgos, mostrando realmente não estar na melhor forma, e então voltamos para o refrão, concluindo a letra com mais uma estrofe e a repetição do riff inicial.
Sleeve frontal (acima) e traseiro (centro) de In Through the Out Door.
Abaixo, as versões coloridas dos mesmos.

O Lado B abre com mais um épico, e que também está entre as minhas canções preferidas do Led. Trata-se de "Carouselambra", onde em mais de 10 minutos, John Paul Jones mostra o talento de compositor que ficava escondido atrás de Plant e Page. Dividida em três partes, ela abre com o riff marcado do sintetizador trazendo guitarra, baixo e bateria, para Jones criar as martelantes notas do riff principal, as quais vão alternando de tom junto para cada estrofe cantada por Plant, usando o timbre mais usual.


O peso dessa primeira parte é surpreendente, ainda mais pela presença marcante do sintetizador, e o responsável por esse peso é o baixo de Jones, cavalgando forte e acompanhando o ritmo de Page e Bonham. Aliás, Page é um mero espectador nessa primeira parte da canção, limitando-se apenas à alguns acordes. Uma ponte rápida, onde Jones delira nos sintetizadores, dá sequência à letra, e não tem como novamente não perceber o baixo cavalgando e entremediando as linhas do sintetizador com uma elegância soberana.

A ponte de sintetizadores é repetida, sendo que então, uma melodia criada no mellotron aparece pela primeira vez. Temos novamente a ponte de sintetizadores, e o mellotron dando as caras, indicando que a canção irá para sua segunda parte.

Um breve rolo feito por Bonham e entramos na segunda parte de "Carouselambra", através do riff da guitarra que lembra muito o riff de "Tudo Foi Feito Pelo Sol" (Mutantes). Entramos no momento calmo da canção, onde finalmente Page aparece com mais destaque, e com Plant colocando efeitos em sua voz. Uma balada levada pelo riff simples da guitarra, e o andamento suave de baixo e bateria, acompanham a letra e as vocalizações de Plant, voltando para o riff "mutantesiano". O riff simples da guitarra retorna à letra, e somos mais uma vez levados para a ponte do riff similar ao Mutantes. A segunda parte encerra-se com Plant chorando ao microfone, acompanhado pelo riff simples de Page, e por sintetizadores que vão crescendo.

Esse crescendo explode na terceira parte de "Carouselambra", onde entre muitos eletrônicos, a voz duplicada de Plant conclui a letra dessa magistral faixa, quase progressiva, e que antecedeu em alguns anos as diversas canções eletrônicas dos anos 80, seja balada, seja rock, seja qualquer estilo, abrindo a porta do Led Zeppelin finalmente para um novo mundo. Os efeitos estão presentes no baixo, na guitarra, na bateria, e "Carouselambra" encerra-se com muitas vocalizações e melodias marcadas de bateria, baixo, piano e muitos sintetizadores.

Depois, é a vez da linda "All My Love" aparecer. Uma das canções mais conhecidas da carreira do Led, lado-a-lado com "Stairway to Heaven", ela foi composta por Plant em homenagem ao seu filho. O sintetizador apresenta o riff inicial, acompanhado por baixo e bateria. Page surge marcando o tempo na guitarra, manhosamente, e Plant canta com muita paixão transbordando de suas cordas vocais, eternizando na mente de milhões de pessoas um refrão simples, mas belíssimo, que diz apenas o nome da canção. A sequência da letra continua, voltando ao refrão, para um tema marcado entre sintetizador, baixo, bateria e guitarra, nos apresentar O MOMENTO da canção, que é o belo solo de moog feito por Jones, sendo este capaz de arrancar lágrimas facilmente. O lindo arranjo do mellotron, acompanhando as notas do violão, voltam ao tema marcado, para Plant concluir a letra, despejando emoção através de muitas vocalizações que incitam o nome desse grande clássico.

O álbum encerra-se com "I'm Gonna Crawl", outra canção mais suave, que começa com a bonita introdução dos sintetizadores de Jones, sozinho, apresentando uma balada com temperos sessentistas, onde Plant canta novamente com muitos efeitos em sua voz, narrando a história de amor entre uma garota fantástica e um cara extremamente apaixonado por ela. O grande destaque vai para o refrão, onde Plant entrega-se a canção com a frase "every little bit of my love", levando para o solo de Page, sendo esse o melhor momento do guitarrista em In Through the Out Door.  A canção volta ao seu ritmo inicial, com Plant gritando muito, e entoando o nome da canção cada vez mais forte, apresentando um longo grito  e vocalizações, que levam ao final da canção com um simples acorde de sintetizador.


Um único single foi lançado, contendo "Fool in the Rain" e "Hot Dog", sendo que o mesmo atingiu a vigésima primeira posição na Billboard. O álbum ficou em sétimo lugar na França, quinto na Espanha, terceiro na Austrália, segundo no Japão, e primeiro no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. Em termos de prêmios, recebeu ouro na Argentina (30 mil cópias vendidas), platina no Reino Unido (300 mil cópias vendidas), platina dupla na Austrália (140 mil cópias vendidas) e platina hexa nos Estados Unidos (6 milhões de cópias vendidas).

Um aspecto que chamou muito a atenção de In Through the Out Door foi em relação à sua capa. Destinana para a sempre participante Hipgnosis, a capa do álbum é mais uma capa que está entre as principais da história da música. Porém, sua história é tão interessante quanto a versão final. A ideia era revolucionária. A príncípio, várias imagens iriam ser unidas, formando uma imagem inédita. Mas a Hipgnosis não ficava satisfeita com o resultado final, o que atrasava cada vez mais o lançamento do LP.

Insatisfeito com a demora, Page e Grant deram uma boa regada nos produtores, e disseram algo mais ou menos assim: "Vocês estão loucos? Podem colocar um disco do Led Zeppelin dentro de um saco de supermercado, dizendo LED ZEPPELIN, que vai vender igual". Indignados com a pressão da dupla, os responsáveis da Hipgnosis concluiram a capa, e acabaram colocando-a em um saco de supermercado e apenas com um carimbo dizendo LED ZEPPELIN, só para ver o que que ia acontecer. Resultado, o disco vendeu horrores, tal qual Grant e Page haviam previsto.

As seis distintas capas de In Through the Out Door


Dentro do tal saco de supermercado (para os que não sabem, antigamente os sacos de supermercados eram feitos com papel pardo, o mesmo dos envelopes que utilizam-se hoje para enviar documentos importantes), o fã iria deparar-se com uma surpresa: uma sequência de fotos diferentes tiradas dentro de um bar.

Cada capa apresentava duas distintas imagens, sendo que no total, três capas foram lançadas (seis imagens diferentes). As imagens são as visões das pessoas dentro do bar, sendo que cada pessoa vê as outras pessoas, e isso indica qual visão estamos vendo. Assim, temos: a visão de uma mulher escorada na parede, observando um homem vestido de terno branco e chapéu, sentado de frente ao garçom do bar, mais um pianista, uma mulher rindo e outra escorada em uma jukebox;  a visão de um homem com maleta, observando as mesmas pessoas da mulher escorada na parede (com exceção da mulher escorada em uma jukebox); a visão do garçom, vendo o homem de terno branco e a mulher na jukebox; a visão da mulher rindo, observando o garçom, o homem de terno branco, a mulher escorada na parede e o homem com a mala; a visão do pianista, vendo as mesmas pessoas que a mulher rindo está vendo, mais as pernas da mulher rindo; e finalmente, a visão da mulher escorada na jukebox, vendo apenas a mulher escorada na parede, o home de terno e o garçom.

Além disso, o encarte de In Through the Out Door foi feito em um material especial, feito em preto e branco, eque se molhado com água, tornava-se colorido. O pacote recebeu o Grammy Award de melhor capa de álbum no ano seguinte.
Robert Plant, John Bonham, John Paul Jones e Jimmy  Page:
A maior banda de rock da história

O grupo entrou em mais uma sessão de descanso, reunindo-se esporadicamente durante o ano de 1980. Em setembro daquele ano, é agendada mais uma turnê pelos Estados Unidos, e novas canções começaram a ser compostas em diversos ensaios na casa de Page. Mas, em um desses ensaios, no dia 25 de setembro, a tragédia final ocorreu. Bonham exagerou na quantidade de bebida (alguns sugerem mais de 40 doses hi-fi, uma bebida alcoólica que mistura vodca com suco de laranja), e acabou morrendo sufocado pelo próprio vômito, vítima de uma overdose causada pela bebida. 

A visão aterradora da morte de Bonham foi demais para Plant, que novamente, exilou-se do mundo. Afinal, Bonham não era apenas um colega de banda, mas também um grande amigo. A decisão tomada por Plant levou rapidamente ao pronunciamento do Led Zeppelin. No comunicado emitido pelo selo Swan Song, as palavras: 

“A perda de nosso querido amigo e o profundo respeito que temos pela sua família, junto com um senso de harmonia indivisível sentida por nós e nosso empresário, nos levou a decidir que não podemos continuar como estamos”. 

Era o fim trágico da maior banda de rock da história. 

Na próxima e última parte, iremos ver como John Paul Jones, Robert Plant e Jimmy Page continuaram suas vidas pós a morte de Bonham, destacando as principais reuniões do trio com o passar dos anos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...