segunda-feira, 24 de junho de 2013

David Bowie: The Next Day [2013]



Dez anos de espera. Esse foi o tempo que os fãs de um dos maiores gênios da história esperaram para poder ouvir e sentir com relação as emoções, letras e música de David Bowie. Nesse longo período, muitos fatos ocorreram na vida do músico, cantor e compositor inglês.

Em 16 de setembro de 2003, Bowie lançou Reality, vigésimo terceiro álbum de estúdio, continuando uma nova fase na sua carreira camaleônica, que o colocou novamente entre os mais vendidos nos Estados Unidos com canções inspiradas na nova era do rock, sem abuso de eletrônicos e tendo a sua voz como principal instrumento. Essa nova fase de Bowie havia começado quatro anos antes, através de Hours ... (posição quarenta e sete na Billboard) e seguiu com o ótimo Heathen (décimo quarto nos Estados Unidos), e claro, Bowie continuava soberano (apesar de não figurar no topo) nas paradas britânicas, chamando atenção com três grandes discos e resgatando sua credibilidade, a qual foi queimada nos anos 90 com projetos fracassados (o incompreendido grupo Tin machine e os fracos álbuns eletrônicos Black Tie, White Noise -1993, Outside - 1995, e Earthling - 1997).
David Bowie

Bowie saiu em turnê pelo mundo durante o ano de 2004, sendo assistido por mais de setecentas mil pessoas, até que durante o Hurricane Festival, em 25 de junho daquele ano, o camaleão começou a sentir fortes dores no peito, causada por uma artéria entupida que levou-o para uma angioplastia, realizada na cidade de Hamburgo logo em seguida.

A indecisão pairou sobre os fãs. Primeiro: Bowie poderia seguir em turnê? Essa resposta foi obtida rapidamente, com todos os shows restantes sendo cancelados. Segundo: Bowie iria lançar discos? Bowie respondeu em 08 de fevereiro de 2006 que talvez sim, mas seu ritmo de trabalho iria diminuir. E foi o que ocorreu. Raras foram as aparições do camaleão a partir de então, e muitos chegaram a cogitar que ele teria se aposentado para a música.

Até que no dia 08 de janeiro desse ano, quando completou sessenta e seis anos, Bowie anunciou que estaria lançando um novo álbum, e liberou o single de "Where Are We Now?". Os fãs entraram em polvorosa. O camaleão estava vivo, e mais vivo do que nunca. Veio o vídeo de "The Stars (Are Out Tonight)" em 26 de fevereiro, e a expectativa cresceu, pois as duas canções faziam por merecer toda a crítica positiva que imprensa e fãs destacavam.

08 de março e The Next Day tomou conta das lojas mundiais, e a espera de dez anos valeu muito a pena. Com quatorze canções, Bowie, em parceria do eterno amigo Tony Visconti, nos leva por um espetáculo sonoro de quase uma hora de duração, que nos remete para o final dos anos 70, por vezes peregrina nos anos 80 e raramente faz menções aos anos 90. Certamente, os álbuns Diamond Dogs, Lodger e Scary Monsters (and Super Creeps) são aqueles que mais podemos encontrar semelhanças, mas em uma incrementação moderna, diferente dos mesmos, a começar pela fantástica faixa-título, um riff grudento e uma levada envolvente, que se intensifica com a quebrada "Dirty Boys", cuja mistura de saxofone, guitarras e efeitos na voz de Bowie sugerem uma influência (tímida) no King Crimson de Lizard.

É impossível não sentir os efeitos das vocalizações e o andamento de "The Stars (Are Out Tonight)", com um belíssimo arranjo de cordas, e Bowie soltando a voz, transmitindo emoção como só ele consegue fazer, e se você acha que "Love is Lost" é uma balada mela-cuecas, irá se surpreender com as passagens de teclados, tocados pelo próprio Bowie. Já "Where We Are Now?" entra nas listas de melhores baladas já gravadas por Bowie, em um nível abaixo da linda "Wild is the Wind", mas com o mesmo poder de levar as lágrimas, assim como "Valentine's Day", outra balada perfeita para se aninhar no cangote da amada em um dia frio.
The Next Day em vinil

A partir de "If You Can See Me", o disco muda, tornando-se muito melhor do que já estava, sendo esta esquizofrênica e estranhíssima, com efeitos na voz de Bowie e um ritmo avassalador, enquanto "I'd Rather to be High" possui um refrão hipnotizador, que fica por dias em nossas mentes. "Boss Of Me" soa preguiçosa e em uma linha caracteística do que o Smashing Pumpkins fez nos anos 90. Já "Dancing Out in Space" é a mais oitentista, com um andamento quadrado da bateria, mas com efeitos na guitarra que lembram ""Heroes"", e novamente, com os vocais de Bowie sendo o destaque.

A reta final é uma mescla de anos 70, 80 e 90. "How Does the Grass Grow?" é impossível de definir. Os vocais sobrepostos são dos anos 90, enquanto os sintetizadores saíram de algum álbum dos anos 80, mas a guitarra do encerramento só pode ser dos tempos de Diamond Dogs. Guitarra distorcida é o que não falta no riff pesado de "(You Wil) Set the World on Fire", uma mistura de "Cat People" com "Red Sails", só que quase um hard setentista que se candidata a melhor canção do disco (ao lado de "Dancing Out in Space).

O ritmo hard é aliviado com a acústica "You Feel So Lonely You Could Die", tendo mais um belo arranjo de cordas, e The Next Day encerra-se com "Heat", uma espécie de sequência para a clássica "Warszawa", somente com o violão e uma marcação percussiva acompanhando longos acordes de sintetizador, e a voz grave de Bowie aquecendo e deliciando os corações dos fãs, como um bom Cabernet Sauvignon, só que aqui, com sessenta e seis anos aprimorando seu sabor.
Bowie, um Cabernet Sauvignon - 66 anos

Os japoneses foram beneficiados com uma faixa bônus, "God Bless the Girl", e The Next Day também recebeu um lançamento em vinil duplo (com o CD original de brinde) e uma versão DELUXE com três bônus: "So She", "Plan" e "I'll Take You There". Até o presente momento , o álbum já vendeu mais de um milhão de cópias em todo o mundo, sendo que na primeira semana, apenas no Reino Unido, vendeu 94.048 cópias. Com o passar das vendas, The Next Day foi primeiro em dezoito países (entre eles Reino Unido, Alemanha, Argentina, Bélgica e Irlanda), foi segundo nos Estados Unidos e quinto no Japão, provando que os fãs estavam realmente ávidos pela música de Bowie.

Em um ano que a maioria da imprensa especializada tem destacado (e com razão) 13 do Black Sabbath como melhor lançamento, eu já tenho meu favorito. The Next Day além de ser muito mais honesto, possui a voz impecável de Bowie, algo que o comedor de morcegos Ozzy Osbourne infelizmente abandonou em meados dos anos 80.

Agora é esperar para ver se os palcos irão ter a oportunidade de conferir as canções desse majestoso álbum, apesar de Bowie insistir em negar-se para fazer uma turnê novamente. 

Track list

1. The Next Day

2. Dirty Boys

3. The Stars (Are Out Tonight)

4. Love is Lost

5. Where We Are Now?

6. Valentine's Day

7. If You Can See Me

8. I'd Rather Be High

9. Boss of Me

10. Dancing Out in Space

11. How Does the Grass Grow?

12. (You Wil) Set the World on Fire

13. You Feel So Lonely You Could Die

14. Heat

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Maravilhas do Mundo Prog: Emerson, Lake & Palmer - Karn Evil 9 [1973]







E chegamos a 1973, o Anno Mirabilis do trio Emerson, Lake & Palmer. Depois de três grandes lançamentos (Tarkus, Pictures at an Exhibition e Trilogy), cada qual contendo pelo menos uma Maravilha Prog ("Tarkus", "Pictures at an Exhibition" e "The Endless Enigma" respectivamente), Keith Emerson (teclados, sintetizadores, moog, órgão), Greg Lake (baixo, vocais, guitarra) e Carl Palmer (bateria, percussão) concentraram forças para criar um dos principais álbuns do rock progressivo: Brain Salad Surgery.



Com a grana conquistada em seus álbuns anteriores, os britânicos estavam no topo da carreira e da fama, o que permitia várias extravagâncias, dentre elas, a criação do selo Manticore, em parceira (primeiramente) com a Island Records. Porém, o contrato entre ambas acabou sendo dissolvido, deixando a Manticore sob a responsabilidade da gigante Atlantic Records. De qualquer forma, era mais uma maneira de uma verba extra surgir nos cofres de Emerson, Lake e Palmer.

Passada a extensa turnê de divulgação de Trilogy, durante o verão inglês começou a ser gravado aquele que é considerado a obra-prima do progressivo criado pelo trio, tendo uma parceria muito importante a partir de agora, advinda do letrista Peter Sinfield. Colaborador também com o King Crimson, é Sinfield o responsável por criar as letras desse incrível LP, que contendo apenas cinco músicas, apenas uma delas não é digna de ser reconhecida como uma Maravilha Prog, o country "Benny, The Bouncer". Porém, todas as demais possuem o respeito dos admiradores progs. "Tocatta" por exemplo, já foi apresentada aqui nessa seção.

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O palco da turnê de Brain Salad Surgery


O álbum abre com "Jerusalem", composição do compositor e historiador de música Hubert Parry, adaptada pelo trio de uma forma soberba, incluindo uma parte do poema And did Those Feet in Ancient Time do pintor e poeta William Blake, privilegiando o órgão e os vocais de Lake, e segue com a já citada "Tocatta", um espetáculo progressivo com uma performance impecável de Emerson e Palmer. Na sequência, Lake exibe seu vozeirão com a acústica "Still ... You Turn Me On", seguida por "Benny, The Bouncer", com o piano fazendo as honras da casa como se estivéssemos em uma taberna no Texas.


Então, para concluir o Lado A, eis que surge a grandiosa Maravilha Prog "Karn Evil 9". Dividida em três movimentos (chamados impressões), esta é a maior canção que o ELP registrou, com quase trinta minutos de duração, os quais ocupam nove minutos no Lado A, e todo o lado B, e narram a história de um planeta futurista, Ganton 9, contando o surgimento deste mundo, com os bons e os maus sentimentos, e avança para um futuro distante, no qual todas as formas de mal e decadências foram banidas, estando apenas as decadências em uma prisão, apresentadas aos seres humanos através de uma exposição que lembra um Carnaval (daí a origem do título "Karn Evil", uma pequena alteração com "Carnival", que significa carnaval em inglês).


No futuro, os computadores desse planeta passam a conspirar contra os humanos, e resolvem aprisioná-los. Surge assim uma terrível guerra entre homem e computador, cujo final possui diferentes interpretações. Para alguns, os humanos são os vencedores, enquanto para outros, os computadores derrotam os humanos. Segundo Sinfield, a interpretação original diz que os humanos ganham a guerra com o auxílio dos computadores, os quais, aliados aos humanos, também tornam-se vencedores. A música foi toda criada por Emerson, enquanto os méritos da (viajante) letra vão para Lake (primeira impressão) e a parceria Lake/Sinfield (terceira impressão).
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Mais uma visão do belo palco da turnê


O início da história (e da suíte) começa com o órgão fazendo seu dedilhado inicial, em um dos riffs mais conhecidos do rock progressivo, trazendo a escala de baixo e a bateria. Lake grita agressivamente a letra sobre Ganton 9, em uma fria e enevoada manhã na qual os seres desse planeta viviam sob o poder da ganância e da pressa, construindo aberrações apenas para satisfazer o ego, após um pequeno tema que repete-se para cada estrofe gritada por Lake, e rapidamente, chegamos no encerramento da primeira parte da letra, com Lake gritando "I'll be there, I'll be there, I will be there" (o narrador portanto faz parte da história)


Uma ponte instrumental com o órgão fazendo o solo leva para a segunda parte da letra, na qual os seres tentam fugir desse mundo de escravidão do poder, rezando para que aquilo tenha fim, agora com o tema central repetindo-se e o moog aparecendo ao fundo da voz de Lake. A segunda parte também é encerrada com o "I'll be there", e a canção muda sua dinâmica.


O moog passa a solar sobre um andamento cavalgante, com Palmer dando shows nas viradas, e retornamos ao tema central entre as escalas de Lake e as viradas de Palmer. Uma rufada impressionante acompanha a terceira parte da letra, perguntando quem poderia salvar os escravos do poder, enquanto baixo, moog e órgão fazem uma marcação idêntica, encerrando essa terceira parte com mais uma série de "I'll be there", na qual o narrador finalmente se manifesta como sendo o responsável pela salvação dos refugiados.


Batidas no gongo e longos acordes de órgão começam mais um pequeno trecho instrumental, no qual o moog valvulado faz um tema repetitivo, enquanto ao fundo, baixo, bateria e órgão repetem a mesma sequência de notas e batidas ao mesmo tempo.


Esse pequeno trecho encerra-se com o órgão e o baixo fazendo pequenas escalas, sempre com breves interferências do moog, que volta a solar com pequenos fraseados, enquanto órgão, baixo e bateria fazem intervenções.
Greg+Lake+lake
Greg Lake


Órgão, baixo e bateria comandam o ritmo para Lake surgir com a quarta parte da letra, já no futuro, mostrando algumas das aberrações que viram atrações do carnaval a ser apresentado para os que não passaram pela experiência da escravidão (barreiras, bispos loucos, guerreiros supersônicos, bombas em carros, a miséria do homem, dançarina em uma caixa, e a mágica de tirar Jesus de uma cartola) sobre um ritmo agitado, no qual o moog solta seus uivos, e temos também uma diversidade de viradas, rufadas e escalas advindas por todos os lados das caixas de som.


A guitarra timidamente aparece fazendo as mesmas notas que o baixo, e assim, Lake exibe-se com um solo no instrumento, repetindo notas sem nenhuma velocidade, enquanto ao fundo, órgão e percussão fazem uma base repetitiva. O tema criado pela guitarra na sequência é muito bonito, ainda mais complementado pelas mudanças de acordes do órgão e do andamento criado por Palmer, que faz viradas e batidas nos pratos com uma velocidade impressionante. O solo de guitarra encerra-se com uma série de notas feitas ao mesmo tempo por guitarra, órgão e baixo, enquanto a bateria é debulhada pelas mãos de Palmer, deixando apenas o moog valvulado com notas saltitantes (que originalmente encerram o lado A de Brain Salad Surgery, e também aquilo que convencionou-se chamar de primeira parte da Primeira Impressão).


Essas notas sintetizadas e o acompanhamento percussivo nos trazem o Mestre de Cerimônias do Carnaval com a famosa frase: "Welcome Back My Friends, to the Show That Never Ends" (dando início a segunda parte da Primeira Impressão), e aqui podemos ver que Lake diminuiu um pouco o tom de sua voz, a qual estava incrivelmente alta na primeira parte (o que foi exigido por Emerosn, para simbolizar a agonia e a fúria dos que viviam em Ganton 9). O órgão surge com os acordes que apareciam na quarta parte da letra, e assim, guitarra, baixo e bateria passam a fazer o ritmo para o Mestre de Cerimônias chamar as pessoas para o espetáculo.
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Carl Palmer


Guitarra e órgão executam uma nova escala, juntamente com baixo e o moog valvulado, da qual o órgão recebe espaço para solar, alucinadamente, com um ritmo jamais ouvido nas canções do trio. É impossível não se contagiar com a levada criada pelo grupo, principalmente Palmer, até que repentinamente, a guitarra surge com o tema que encerrou a primeira parte da primeira impressão, viajando do lado esquerdo da caixa de som para o lado direito em um efeito muito viajante, e após a sequência de escalas, Palmer mostra seu virtuosismo com batidas nas caixas e tons que vão além do que um ser humano consegue fazer.


Lake continua a letra, anunciando as atrações (um cortador de grama, execução da rainha egícia com uma guilhotina, sete virgens e uma mula) enquanto Emerson acrescenta o piano ao ritmo agitado da canção, e a segunda parte da primeira impressão chega ao seu final após o Mestre de Cerimônias pedir: "Come on see the show", e com uma série de batidas feitas igualmente por baixo, órgão e bateria, soltar o "See the show" final com uma imponência que faz até os gigantes se curvarem.
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Keith Emerson viajando com seus instrumentos

A segunda impressão é totalmente diferente da primeira, a começar que ela é totalmente instrumental. Explorando as habilidades jazzísticas do trio, ela tem Emerson solando ao piano, Lake fazendo escalas muito velozes e Palmer, como sempre, deixando-nos aquela pergunta se ele realmente é feito apenas por dois braços e duas pernas.




Depois do início jazzístico, a canção muda, ganhando um ritmo caribenho, inclusive nos efeitos do moog valvulado de Emerson. O piano passa a acompanhar a insana vibração tribal emanada pelo grupo, e podemos ouvir uma voz de criança convidando o pais para irem ao show (voz esta gravada por Emerson).


Dedilhados de piano encerram esse trecho jazzístico/tribal, que inclui citações para "St. Thomas" (original de Sonny Rollins) e então, chegamos na segunda parte da segunda impressão, a qual começa primeiramente apenas com o piano sendo levemente dedilhado. Baixo e piano fazem um tímido duelo, cercados por diversos barulhos, e assim, uma espécie de tango é apresentada por Emerson ao piano, seguido por uma breve valsa, e estourando em uma agitada sessão com o piano solando virtuosisticamente. Aqui, reparem também para a velocidade das escalas de Lake, e como Emerson está em um nível acima em comparação com outros nomes do progressivo quando se fala em tocar rock adaptando as linhas da música clássica. Seus dedos batem as teclas do piano com uma precisão incrível, e a velocidade com que isso é feita demora para ser calculada.




O solo é quebrado por uma batida na caixa, e então, o moog valvulado surge como que em uma espécie de marcha de guerra, fazendo um tema acompanhada pelo rufo da bateria. É o início da terceira impressão. Lake passa a cantar, agora com o homem de Gangton 9 estando solitário, vivendo sob a tensão e o medo, e principalmente, vendo que o que ele construiu está sendo demolido através de uma máquina que ele mesmo construiu, e agora não tem mais o domínio (o computador), com o órgão e o moog imitando a melodia da sua voz, e ao fundo, o acompanhamento não é tão agitado quanto o da primeira impressão.


Lake canta duas estrofes, e no encerramento da segunda, pede para o homem não se render ao poder da máquina, e assim, podemos ouvir os computadores se manifestando (as vozes computadorizadas foram gravadas por Emerson), dizendo: "Perigo! Estranho! Carregue seu programa! Eu sou você". Imagino o quão incrível e assustador deve ter sido para os ouvintes quando o álbum foi lançado, ouvir o computador falando da forma como ele fala. A guerra então começa, com o homem desejando ver os computadores destruídos.
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Lake e o famoso tapete persa (Emerson e Palmer ao fundo)


O moog valvulado fica sozinho, executando o tema marcial, seguido por uma série mais agitada da bateria, órgão e baixo, simbolizando a guerra entre computadores e os homens. Esse tema é repetido, chegando em uma série de notas marciais sincronizadas por baixo, moog e bateria, das quais o órgão faz um triste tema, explodindo no magistral solo de órgão, lembrando os tempos de Emerson a frente do grupo The Nice. É genial como Emerson simboliza os computadores através do moog valvulado e o homem através do órgão. Palmer soca o prato de andamento, enquanto Lake vira o baixo do avesso com suas escalas. Palmer acompanha as mudanças de acordes do órgão ora atacando os pratos, ora atacando os tons, e sempre rufando na bateria.


Mais notas sincronizadas nos levam ao maluco trecho central da terceira impressão, no qual, sobre a rufada impressionante de Palmer, e o acompanhamento de Lake, o órgão solta uivos agonizantes, e por diversas vezes, baixo, órgão e bateria estão temporariamente sincronizados. Longos uivos do órgão acompanham as viajantes notas do moog, em uma batalha sangrenta e feroz entre o homem e o computador, e de-lhe viradas e rufadas por parte de Palmer, enquanto Lake fica fielmente repetindo a mesma escala.
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Keith Emerson


A tensão é geral, e a batalha encerra-se instrumentalmente com um show de rufadas por parte de Palmer, com baixo e órgão fazendo marcações, trazendo a sensacional estrofe de encerramento da letra.


Sobre o andamento inicial da terceira impressão, temos a discussão do homem com o computador, como que no final de uma batalha épica na qual os dois grandes líderes enfrentam-se diante da morte. O homem da indícios de sua vitória: "Alegre-se, a vitória é nossa, nossos jovens homens não morreram em vão ... eu sou tudo o que existe", e o computador responde: "Negativo, primitivo, limitado, eu deixo você viver!". O homem responde: "Eu te dei a vida" e o computador insiste "O que você poderia fazer?". O homem complementa "Fazer o que era direito", e assim, o computador encerra a discussão com uma frase que diz muito: "Eu sou perfeito. Você é?", concluindo a suíte com uma série infinita de notas, as quais vão aumentando de velocidade até atingir um nível impossível de ser aguentado, muito agudo, simbolizando a perfeição do computador, capaz de atingir metas que o homem sozinho jamais conseguiria atingir, e aqui temos exatamente o momento que encerra essa magistral e genial suíte.
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Carl Palmer, badalando o sino com a boca


Para poder interpretar "Karn Evil 9" ao vivo, o trio apresentou roupas e instrumentos muito extravagantes. Quanto as roupas, Lake aparecia de terno branco, Palmer com os cabelos cortados e mostrando seu corpo sob um kimono japonês e Emerson trajando uma roupa futurista, lembrando as roupas de astronautas.


Nos instrumentos, Palmer foi o mais "simples" dos três, utilizando um kit que o circundava por completo, com mais de trinta peças, a maioria delas ornamentadas, contendo entre outros um bumbo de 26 polegadas, tons de 8 a 15 polegadas e dois gigantescos gongos suíços com dragões impressos em suas partes traseiras, um sino de tamanho regular dependurado no centro do kit (com o qual Palmer puxava seu badalo com os dentes para poder tocá-lo), além de pratos flamejantes. Tudo isso montado em um kit que girava 360° durante o solo na primeira impressão de "Karn Evil 9".

Lake com a Zemaitis double neck
Lake desde a turnê de Trilogy já utilizava o famoso tapete persa avaliado em milhões de dólares, que era carregado exclusivamente por um único roadie, responsável por retirar o carpete de dentro do seu estojo confeccionado apenas para o mesmo, e estendê-lo sobre os fios, evitando que Lake levasse algum choque (algo que o baixista possuía grande pânico).


Mas para essa turnê, encomendou ao luthier Tony Zemaitis um instrumento extravagante de dois braços, com o baixo na parte superior e a guitarra na parte inferior. Porém, o instrumento ficou muito pesado para Lake, que utilizou o mesmo em pouquíssimos shows no início da gigantesca turnê de promoção de Brain Salad Surgery, adotando posteriormente apenas uma guitarra também criada por Zemaitis, em um modelo parecido com a Les Paul, e tendo a frente metaliza. Um pequeno vídeo com Lake empunhando o double neck pode ser conferido aqui. Seu valor hoje gira em torno de quinze mil libras (algo como cincoenta mil reais).

Já Emerson foi ainda mais longe, e encomendou um piano voador, no qual, durante a apresentação de "Pictures at an Exhibition", ele saía detrás de seu órgão (após esmurraçar o mesmo) e corria até o piano, localizado na parte esquerda da plateia. O mesmo levantava voo e, repentinamente, começava a girar 360° na vertical, com Emerson o tocando por diversas vezes de cabeça para baixo. Esses instrumentos um tanto quanto bizarros representavam a demência apresentada durante o "Carnaval". 

A turnê foi a maior feita pelo grupo em toda a sua história, começando com shows pela América do Norte, com vinte e oito datas entre os meses de novembro e dezembro de 1973, e mais vinte e oito datas entre janeiro e abril de 1974. A perna europeia começou com quatro noites de abril lotadas no Wembley Empire Pool de Londres, e seguiu durante abril, maio e junho por mais vinte e duas datas entre Inglaterra, Alemanha, Espanha, Áustria, Suíça, Holanda e França. O encerramento ocorreu entre julho e outubro, com um retorno a América do Norte, completando mais dezenove shows.
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O piano subindo (acima);
e girando sobre si mesmo (abaixo)


O palco da turnê era gigantesco, um dos maiores já desenvolvidos por um grupo até então. No centro, atrás da bateria de Palmer, um imensão telão circular estava suspenso sobre o kit do baterista, e nele, eram projetadas imagens dos integrantes da banda e também diferentes versões para a capa de Brain Salad Surgery. Especificamente durante a terceira impressão de "Karn Evil 9", um dos sintetizadores modulados de Emerson surgia no palco, em uma espécie de Hal (famoso computador do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço) criado por Emerson, que abria suas asas e emitia vozes computadorizadas em formato pré-gravado, uma grande novidade para a década de 70.


Somente no show que foi o ápice da turnê o palco não pôde ser utilizado em sua totalidade, o que ocorreu na apresentação no festival California Jam 74, sendo o ELP responsável por encerrar o mesmo, e também a origem de todos os conflitos que ocasionaram com o famoso incidente no qual o guitarrista Ritchie Blackmore (Deep Purple) destruiu com uma câmera da Rede de Televisão ABC, que transmitia o festival para todo os Estados Unidos. O grupo tocou para mais de 400 mil pessoas, e esse fato só comprova que na época, o rock progressivo era muito mais valorizado que o hard rock inclusive nos Estados Unidos, e que Emerson, Lake e Palmer estavam vivendo um momento único em suas carreiras.
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O computador com "asas"


"Karn Evil 9" batizou o primeiro álbum ao vivo do grupo, o qual registrou essa turnê ficou registrada no triplo. A frase que abre a segunda parte do primeiro movimento foi responsável por isso, e assim, em 19 de agosto de 1974, era lançado Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends ... Ladies and Gentlemen, Emerson, Lake and Palmer, um dos principais álbuns ao vivo do rock progressivo, ao lado de Yessongs - Yes, Seconds Out - Genesis e Playing the Fool - Gentle Giant, além do (não-oficial) Pompeii - Pink Floyd. Neste LP, "Karn Evil 9" tem destaque mais que especial, sendo apresentada na íntegra e ocupando todo o último disco (Lados E e F), trazendo um dos melhores solos da carreira de Palmer.


Apesar de ser considerado um dos melhores discos do grupo pelos fãs e pela imprensa, Brain Salad Surgery não obteve o mesmo êxito que seus antecessores nas vendas. No Reino Unido ficou na segunda colocação, enquanto que nos Estados Unidos, chegou na décima sexta posição. Para saber mais sobre o álbum e sua turnê, recomendo esse site, totalmente dedicado ao disco (e do qual é a maioria das fotos aqui postadas).
ELP Are Top
Emerson, Lake e Palmer recebendo premiação por Brain Salad Surgery 


Mais um longo período de férias, e o ELP só voltou em 1977, com o lançamento de Works e Works II. O primeiro, lançado no formato duplo, possuía três lados com solos individuais de cada integrante, e deixou para o quarto lado aquelas que talvez sejam as últimas canções do grupo a serem reconhecidas como Maravilhas Prog: "Pirates" e "Fanfare for the Common Man", porém sem o mesmo impacto que as antecessoras.


A gigantesca turnê que se seguiu, na qual o grupo era acompanhado por uma orquestra, quase levou o grupo à falência, e foi registrada no ao vivo In Concert (1979). Ainda veio o difamado Love Beach em 1978, e o trio encerrou suas atividades durante os anos 80, voltando somete na década de 90 com dois álbuns não merecedores de fazer parte de uma discografia tão bela quanto foi a do trio durante a década de 70 (Black Moon, em 1992; In the Hot Seat , em 1994), mais uma série de álbuns ao vivo. Hoje, o grupo vez por outra aparece com uma série de shows, mostrando Lake totalmente fora de forma e Emerson sobrevivendo de um passado como um verdadeiro dinossauro. Palmer tornasse a exceção, mas é pouco provável que mesmo com seu talento, esses três gigantes conseguirão um dia reatar o sucesso progressivo que os consagrou mundialmente, e principalmente, gerar Maravilhas Prog como "Karn Evil 9".


No próximo mês, começaremos a conhecer as Maravilhas Prog de mais um gigante britânico. Dessa feita, aquele liderado por um ser extraterrestre, que invadiu as casas mundias e abduziu os seres humanos com o nome de Robert Fripp, o qual comandou seus colegas espaciais batizados de King Crimson, em nos trouxe mais quatro Maravilhosas canções progressivas.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

War Room: Jefferson Airplane - Long John Silver [1972]



Por Mairon Machado (Mairon)

Convidados: Adriano Groucho KCarão (Adriano), Bruno Marise (Bruno) e Luiz Carlos Freitas (Luiz).




Esse mês, nossos convidados fazem uma análise de Long John Siver. O último álbum de estúdio do grupo Jefferson Airplane em sua primeira geração é praticamente desconhecido em terras brasileiras. Com uma formação diferente, repleto de conflitos internos, o Jefferson Airplane despede-se da geração flower-power, dando origem ao grupo Jefferson Starship. Seria essa despedida digna? É o que veremos a partir de agora.



1. Long John Silver

Adriano: Qual a formação?

Bruno: Grace Slick (vocais, piano), Jack Casady (baixo), Paul Kantner (vocais, guitarras), Jorma Kaukonen (guitarras, vocais), Papa John Creach (violino), John "Goatee" Barbata (bateria), Joey Covington (bateria em "Twilight Double Leader" e "The Son of Jesus") e Sammy Piazza (bateria em "Trial by Fire").

Mairon: O álbum começa muito bem, com Jorma Kaukonen trazendo sua guitarra e Slick rasgando a voz.

Luiz Carlos: O vocal da Grace Slick sempre me lembrou aquela mina do Coven, Jnx Dawson.

Bruno: Não conheço praticamente nada de Jefferson Airplane, então não vou poder fazer muitas comparações com os outros trabalhos.

Mairon: A canção segue bastante a linha do que o Jefferson fez após o sucesso de Surrealistic Pillow, com Jorma Kaukonen detonando na guitarra.

Bruno: Estou curtindo a primeira faixa, principalmente o trabalho de guitarra.

Luiz: Eu também não conheço muito.

Mairon: Beleza Bruno e Luiz, acho que vai ser uma boa mostra do que é o Jefferson Airplane, já que muitos acham que é só "White Rabbit" e "Somebody to Love".

Luiz: A primeira faixa lembra muito Cream, mas acho que viajei, hahahaha.

Adriano: Só conheço os clássicos Surrealistic Pillow e Volunteers, dos quais nem gosto tanto assim. Esse está até parecendo que é melhor que os dois. A mulher tá cantando com uma urgência!

Bruno: Eu só conheço o Surrealistic Pillow, e confesso que não gosto muito não.

Luiz: Só conheço o Surrealistic Pillow e músicas avulsas.

Adriano: Eu gosto dos dois que conheço, mas não como boa parte das pessoas gostam.

Bruno: Gostei bastante da primeira faixa. Um blues rock comum, mas com um trabalho de guitarra acima de média.

Mairon: Particularmente, acho esse o segundo melhor disco do Jefferson (atrás apenas de Volunteers). O Kaukonen está tocando muito.

Adriano: Essa música é boa! Espero que o disco mantenha o nivel!

Luiz: Após o solo, o vocal da Grace dá uma rasgada que lembrou o Ozzy (a puxada na voz quase morrendo) e a própria pegada do Black Sabbath, como em "Evil Woman"

Bruno: Que é do Crow.

2. Aerie (Gang of Eagles)


Mairon: O violino de Papa John aparece para nós em uma balada pesada, trazendo o primeiro dos controversos temas religiosos que chocaram os americanos na época.

Bruno: Confesso que não gosto muito de vocal feminino, mas o timbre da Grace Slick tá me agradando.

Mairon: Esse álbum apresenta dois temas polêmicos: as disputas entre religião (tratadas em "Aerie") e o filho de Jesus com Maria Madalena (em "The Son of Jesus").

Luiz: Essa segunda faixa está linda demais. Um melodicismo sombrio, triste, um contraste forte dos violinos pras guitarras.

Mairon: Grace Slick cantando muito, Kaukonen tocando muito. Tudo soando perfeito!

Bruno: Mais um trabalho arrepiante de guitarra. Bela música.

Adriano: Ótima essa segunda!

Bruno: Mairon sempre apresenta boas coisas no War Room, apesar de gostar de musica de churrascaria.

Mairon: Obrigado Bruno.

Luiz: Solo de guitarra lindo nessa faixa. E a Grace dá umas saltadas de timbre lindas.

Mairon: Aconselho fortemente a lerem as letras desse álbum posteriormente.

Adriano: Que pena que esperaram chegar em '72 pra fazer isso. Em 72 o nível já era outro, bixo ... Só dá pra curtir tirando do contexto.

Bruno: Discordo.

Luiz: Também.

Mairon:
Discordo totalmente, e se você pegar os três álbuns anteriores, vai ver que eles já vinham fazendo isso.

Adriano: A Grace me deixa excitado, bixo, sério. Digo, cantando, só com a voz.

Luiz: Como que esse disco pode ser desqualificado pelo período?

Adriano:
Nas considerações finais, eu falo sobre isso.


3. Twilight Double Leader

Mairon: Pesada para caralho, saiam de baixo. Os vocais de Paul Kantner e Grace Slick colocam a casa abaixo, com o violino comendo solto em uma levada muito, mas muito agitada. Sonzeira do cacete, que baita música!! A melhor representação do que era o Jefferson Airplane.

Adriano: Legal, mas as duas primeiras me deixaram uma impressão melhor.

Mairon: Jorma Kaukonen, um dos melhores guitarristas de todos os tempos

Bruno: Guitarra com wah wah comendo solta, como toca esse Kaukonen!

Luiz: A terceira faixa começou The Mamas and the Papas, amenizando o clima sombrio da anterior, para então "explodir" Funkadelic. E um solo de guitarra mais Funkadelic que o próprio. Uma música além do que esperava aqui.

Mairon: Esse final com o violino e a guitarra duelando com os vocais é arrepiante.

Adriano: Estou curtindo esses vocais de fundo, apesar de que está difícil definir o que é o fundo e o que é a superfície nessa música. Ela está crescendo em meus ouvidos.

Bruno: Não gostei tanto do começo, mas a coisa foi melhorando e descambou numa sonzeira absurda. To impressionado com o disco até agora.

Mairon: Permitam um espaço para contar a historia da capa desse álbum. Bark (o disco anterior) trazia o disco envolto em um saco de papel de pão. Já Long John Silver possui uma capa que é montável, transformando-se em uma caixa de charutos. O mais legal é que depois de montar a caixa de charutos, você fica com os charutos na parte interna (o encarte do vinil) e daí, ao retirar o encarte, você descobre que os charutos são feitos de uma erva especial, uma tal de marihuana.


4. Milk train

Mairon: O peso continua, com um riff fantástico do violino, alternando-se com a pegada da guitarra, baixo e bateria, e Grace Slick (como em todo álbum) cantando muito.

Bruno: Grace Slick já começa cantando demais.

Luiz: "Milk Train", a quarta faixa, dispara num groove envolvende onde não dá pra discernir o violino da guitarra. Os sons se confundem e, por vezes, alternam-se. Impossível diferenciar em algumas passagens.

Mairon: Um ritmo avassalador toma conta das caixas de som, e a pancadaria come solta (o leite em questão é a cocaína).

Bruno: Melhor performance vocal até aqui.

Adriano: Nada de impressionante, mas é bem legal. Me imagino usando três drogas diferentes com a galera e pulando essa música. Valeu, Mairon!

Luiz: HAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAAHHAHAAHHAHAHAHAHA.

Adriano: A paradinha pro riff é MUITO LINDA! CARALHO! JÁ É CLÁSSICO!!!

Mairon: E esse final? Muito massa a interpretação vocal de Slick e o violino duelando com ela.

Bruno:
Faixa mais rasgada do disco. Não vou falar de novo do guitarrista porque já tá ficando chato. Interessante como a guitarra e o violino elétrico se confundem.

Adriano: Porra, não devia terminar ainda!!! Volta, "Milk Train"!!!

5. The Son of Jesus

Bruno: Olha esse timbre!

Adriano: Meu, que lindo começo!

Mairon: Polêmica!!! O grupo adorava fazer polêmica, mas aqui ela extrapolou os limites. Tratando do filho de Jesus, Kantner e Slick contam toda a história que depois veio a ser famosa no livro O Código da Vinci, de Dan Brown, com uma riqueza de detalhes e com uma forte crítica aos puritanos

Adriano: Vamos pular essa faixa, senão o Marcos Feliciano fecha o site!

Bruno: Violino e guitarra duelando mais uma vez.

Luiz: Introdução melodiosa na guitarra, em tom semelhante aos cânticos dominicais. Até pelo coro vocal, tal qual sugere a partir do seu título, como um ambiente religioso. Porém, a guitarra surge cortante e demoníaca. Um choque de dualidade como sugerido de sua letra.

Adriano: Rockeiros drogados iconoclastas!!!

Mairon: O refrão é lindo como toda a canção, que musicalmente, segue a linha do disco intercalando o violino e a guitarra como destaques em duelos sensacionais, ora acompanhando os vocais, ora em solos arrebatadores.

Adriano: Um clima meio sessentista nessa faixa. Quase "We Can Be Together".

Bruno: Ainda to impressionado com o timbre da guitarra

Mairon: É bem na linha mesmo Adriano, tens razão. Se eu disser que lágrimas me veem aos olhos vocês acham que eu estarei brincando?

Adriano: Tão bonitinha essa música. Chora não que eu choro também, amigo.

Luiz: Já eu fui numa vibe setentista, mesmo. Não recordo ao certo, mas eles já foram trilha de algum filme do Scorsese. E essa faixa me recordou o clima de contestação da contra cultura no cinema da época, como o "Jesus Cristo Superstar".

Mairon:
Choramos juntos.

Bruno: Luiz, acho que foi do Goodfellas.

Luiz: Deve ter sido

Adriano: Bonitinha, mas você sente que ela tem inspiração demoníaca. É como as músicas da Xuxa!

Mairon: Que letra incrível!!!

Luiz: Essa "The Son of Jesus" seria uma perfeita introdução para "A Última Tentação de Cristo", do Scorsese.

Adriano: Vamos pular essa faixa, que estou ficando com medo, sério!!

Bruno: Imagino o que deve ter causado essa letra em 1972.


6. Easter?


Mairon: A última polêmica do álbum. O ponto de interrogação no nome já diz tudo.

Luiz: Não me execrem, mas eu senti um clima bem AOR nessa.

Adriano: Mano, e eu que tinha medo de King Diamond!!! Sim, eu já tive medo de ouvir o Fatal Portrait à noite...

Bruno: Agora descobri por que você não gosta de metal, Adriano, te mete medo! A introdução ao piano com um clima bastante soturno.

Mairon: Dessa feita podemos curtir os dons de Slick ao piano, em uma canção mais arrastada, que lembra o ritmo de "Aerie".

Luiz: Uma balada, triste e sofrida. É como uma continuação da segunda faixa.

Adriano: Nada de AOR, isso é o King Diamond da vida real!!! Mas a segunda faixa ainda era de Deus...

Mairon: Perfeita descrição Luiz.

Bruno: Ela é ao mesmo tempo triste e trágica. Que solo é esse? Coisa mais linda

Adriano: A última faixa desse disco também é um ritual satânico? E o solo é lindo, de fato!

Luiz: Apesar da curta duração e de sua estrutura bem usual, é uma ópera. A elegia da vocalista sozinha com um piano de trilha e instrumentos alternados para mostrar as mudanças de estado de espírito. Ora desabafo, ora medo, ora desejo de vingança. A guitarra sola tragicamente até o final.

Adriano: Aliás, é nessa faixa que estou mais gostando da guitarra.

Mairon: A mistura de violino + guitarra só é batida nos discos do It's A Beautiful Day (e olhe lá)

Bruno: Acho que é a música que eu gostei mais até agora. Solo de guitarra maravilhoso, performance visceral da Grace Slick e uma letra mais herege que qualquer banda de black metal. Uma crítica pesadíssima.

7. Trial by Fire


Mairon: Kaukonen agora toca o que sabe no violão, e tambem é o responsável pelos vocais desse country simples, com pequenas pinceladas de soul music

Luiz: "Trial by Fire" é southern rock alternativo. Seria o Lynyrd Skynyrd com o Lou Reed no vocal. Uma pegada caipira, mas com peso e ritmo elétricos.

Mairon: Coisa que o Jefferson fazia com maestria Luiz.

Adriano: Vocês conhecem Manassas, né? BANDAÇA do Stephen Stills com o Chris Hillman e participações do Bill Wyman. Isso é Manassas com um pouco mais de peso.

Bruno: Country Rock bem típico da época, com boas intervenções da guitarra de Kaukonen.

Adriano: Não acho que seja country tock. Prefiro definir como southern. Ponto pro Luiz. Maresia mais uma vez falou besteira.

8. Alexander the Medium

Mairon: Aqui temos o vocal de Kantner e a canção retorna ao ritmo de "The Son of Jesus", com belíssimas passagens no violino, que depois o Dylan "chuparia" no Desire.

Adriano: Mais uma "We Can Be Together", mas com esse vocal parece mais "Octopus's Garden".

Bruno: Realmente bem sessentista essa faixa, gostei do violino.

Luiz: Um dueto vocal lindíssimo que recorda "The Son of Jesus". Essa semelhança que dá o ar de continuidade entre algumas canções me fazer sentir como que um álbum conceitual, pois acumula, além da temática e letras, o ritmo de algumas canções. A música, aliás, seria o propósito que conduziria a trama.

Bruno: Mais uma vez violino e guitarra se confundindo. Solo lindo!

Mairon: A guitarra do Kaukonen já não está estridente, e continua solando maravilhosamente.

Adriano: Acho que esse disco irá me acompanhar em futuros porres...

Mairon: Para mim, top 5 de 72 certo. Olha esse solo de violino na segunda parte da canção, que coisa linda.

Adriano: Está comovendo mais que Neil Young isso aqui.

Luiz: O final dessa música me lembra vagamente "Mr. Crowley", do Ozzy.

Mairon: Concordo com o Luiz, esse final tem um tom soturno, parecido não só com "Mr. Crowley", mas com outras canções mais MÉTAU.


Luiz: E não falei nem tanto pelo crima soturno, mas pelo soar do ritmo, mesmo. Eram bem parecidos.

Adriano: Eita, esse final é lindo! Estão vendo? Por isso não escuto METÁU! Pegam as melhores partes das músicas REALMENTE BOAS e ficam repetindo feito crianças!

9. Eat Starch Mom

Bruno: Que riff é esse? Rapaz!
 
Adriano: Riff na linha de "Lemon Song" [o Led, por sua vez, chupinhou essa de quem? haha]

Bruno: Esse riff é muito Led Zeppelin.

Adriano: Foi o que eu disse, Maresia! Está me plagiando!

Mairon: Riff hardiano e fudido pacas, que com os vocais rappers de Slick, mandam todo mundo para a bulsaquepartiu. A canção mais pesada da carreira do Airplane, com o baixão de Casady ganhando espaço entre o riff repetitivo da guitarra, e o violino viajando ao fundo. E o wah-wah come solto!

Bruno: Destaque para a linha de baixo sensacional!

Luiz:
Verdade, lembrou mesmo o Page. Um groove embalante, embalsamando o vigor daquele período. Pode parecer estranho, mas o ritmo me soa mais dançante, como algo 'disco', ou o Funk, mesmo, tal como os solos do Wild Cherry ("Play that Funky Music").

Bruno:
A faixa mais hardeira do disco, sem dúvida.

Mairon: E do Airplane também. Uma despedida em alto nível!

Adriano: Essa faixa é muito hardeira. Talvez fosse melhor terem incluído realmente um ritual satânico. Mas hard com wah-wah.. Uriah Heep na mente! E sim, Luiz, lembra até os funk metals dos anos 80 um pouquinho. É que o hard e o funk sempre andaram lado a lado.. Despedida em alto nível se terminasse com uma faixa prog e não com uma faixa METÁU!

Luiz: Música fantástica, principalmente para encerrar o disco. Perfeita a jogada sonora. Ao fim, ouve-se algo semelhante a galopes de cavalo (mas bem baixo). Não sei como foi feito, mas ficou bom.


Considerações finais

Mairon: Um dos melhores discos da carreira do Airplane e do ano de 1972. Hardeiro por um lado, comovente por outro, o fato é que aqui o Airplane trabalhou muito bem, e mesmo com todas as brigas, pariu uma obra prima,. Daí que surgiram Hot Tuna e Jefferson Starship para contar o resto da história.

Bruno: Curti muito o disco. Sem dúvida foi um incentivo pra eu conhecer melhor a carreira do Jefferson Airplane, banda que eu ouvi pouca coisa, e o que ouvi não me agradou. Disco que une com maestria blues, hard, folk e psicodelia. O que mais me chamou atenção foi o trabalho de guitarras de Jorma Kaukonen, com um timbre absurdo e a voz da Grace Slick. Geralmente vocais femininos me incomodam, mas essa foi uma grande exceção.

Adriano: Cara, depois de tantas boas surpresas - principalmente as faixas que me deram um certo desconforto sobrenatural -, não consigo mais falar mal do disco. Discordo que eles fizessem algo na linha desse disco já no Volunteers, mas talvez eu precise ouvi-lo mais vezes.

Bruno: Mairon, Hot Tuna vale a pena?

Mairon: Adriano, eles faziam sim. Ouça "Wooden Ships" e "Hey Fredrick". Aconselho também a ouvir o Bark (anterior a este). E os primeiros discos do Hot Tuna são essenciais, Bruno.

Adriano: O fato é que em 72 já existia boa música demais no mundo, mas de fato o disco é muito competente!

Mairon: Uma pena que em nada lembra o clássico Surrealistic Pillow, e até por isso, para mim soa muito melhor do que o disco de 1967 (que também é ótimo), e por isso não fez sucesso. Até por que a igreja e os americanos torceram o nariz para as letras, ajudando o disco a vender bem menos do que devia.

Luiz: Uma criminosa surpresa esse grato disco. Entre tantas pérolas surgidas nesse período, é uma obra que deveria ser mais referenciada. Uma mistura de sons e ritmos vocais e de instrumentação quase cirúrgica. Sai do beat sessentista para um bluezzy pesadão, indo ao Southern Rock mais elétrico, culminando numa explosão Hard e Funk. Além, claro, de seu elaborado conceitual. Discaço!

Adriano: Resumindo melhor meu ponto de vista: em 69, tivemos In the Court of the Crimson King; em 70, tivemos ELP, Third (Soft Machine) e Lizard (KC); em 71, Nursery Cryme, etc. Ou seja, sou um dinossauro preso em uma caverna prog! :B

Bruno: Queria saber se vale a pena ir atrás dos projetos do Kaukonen, gostei pra caralho do cara.

Mairon: Na carreira solo, tem o Quah e o Jorma, mas são mais bluesisticos

Bruno: Beleza, valeu!

Adriano: Valeu, Mairão!

Luiz: Valeu.


Mairon: Valeu gurizada, abração e até a próxima, espero que tenham curtido essa viagem pela psicodelia.

sábado, 15 de junho de 2013

Melhores de Todos os Tempos: 1966

Beach-Boys-Pet-Sounds
The Beach Boys em 1966: Carl Wilson, Brian Wilson, Dennis Wilson, Mike Love e Al Jardine
Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bruno Marise, Davi Pascale, Fernando Bueno, Luiz Carlos Freitas, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues
O ano de 1966 marcou uma importante virada nas carreiras daquelas que, possivelmente, eram as duas mais populares bandas provenientes de cada lado do Atlântico: The Beatles e The Beach Boys. Ambos já haviam dado fortes sinais, em álbuns anteriores, do caminho a ser seguido, unindo sensibilidade pop a uma dose de ousadia praticamente sem precedentes até então, mas com Revolver e Pet Sounds os grupos confirmaram de vez seus papéis como líderes de uma nova e excitante revolução musical. Dito isso, não é de se admirar que justamente esses dois trabalhos tenham liderado nossa lista abrangendo os lançamentos de 1966. Confira também as edições anteriores desta seção (1963, 1964 e 1965), lembrando sempre que nossos critérios seguem a pontuação do Campeonato Mundial de Formula 1, e não deixe de registrar suas preferências nos comentários.

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The Beach Boys – Pet Sounds (116 pontos)
Adriano: Merecidíssimo primeiro lugar! Talvez o único motivo pra que essa maravilha não tenha entrado na primeira colocação na minha lista é que eu, particularmente, encontro-me em um momento muito mais Donovan que Beach Boys. Pet Sounds é um marco, é sagrado, é a postulação do ideal de música progressiva no rock, embora obviamente não seja já rock progressivo. Não vou falar dos arranjos porque exigiria uma matéria inteira, mas recomendo: atente a cada pequeno detalhe. Embora o disco só tenha bons momentos, destaco aquelas faixas mais absurdamente lindas: “Here Today”, “I Know There’s an Answer” e, principalmente, “God Only Knows”, “I’m Waiting for the Day” e “You Still Believe in Me”, três das melhores faixas da banda e da música em geral!
Bruno: Com Pet Sounds, os Beach Boys deixaram de ser só mais uma banda de surf/beat para se tornarem um dos nomes mais respeitados da história da música. As melodias inspiradas, o clima triste e as harmonias vocais elaboradas tornam esse o disco pop perfeito.
Davi: Este álbum foi criado poucos meses após Brian Wilson decidir parar de excursionar com a banda, ficando apenas como compositor. O produtor dos Beatles, George Martin, chegou a declarar publicamente que, sem esse álbum, não teria existido Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967). Apesar de toda a influência e da qualidade do disco, acho a fama em torno do mesmo um tanto exagerada. No entanto, não há como negar que é um álbum essencial em uma discoteca de respeito.
Diogo: Embora não seja um fã de Beach Boys nem um costumaz ouvinte desse álbum, somente um caso de surdez total não me permitiria visualizar as gigantescas qualidades que o trabalho possui, em todos os aspectos. Ele é brilhante em termos de composição, arranjos e produção, de uma maneira que influenciaria o jeito de ser da música pop dali em diante, direta e indiretamente. Em particular, admiro o clima de melancolia e pureza transmitido ao longo do track list, exalando um lirismo difícil de se encontrar, ainda mais em se tratando de artistas assumidamente populares. “You Still Believe in Me”, “Let’s Go Away For a While”, “God Only Knows”, “I Know There’s an Answer” e “I Just Wasn’t made For These Times” (que título!) representam exatamente isso que descrevi. Bem, talvez eu devesse ter colocado esse disco umas duas posições acima em minha lista pessoal…
Fernando: Justíssimo o primeiro lugar. Este é um dos candidatos a melhor disco de todos os tempos, mesmo com essa capa. Pena que os Beach Boys não conseguiram criar outro disco que chegasse perto da qualidade de Pet Sounds. “Wouldn’t It Be Nice” é uma daquelas canções que deveriam ser mais longas. Sempre a ouço duas vezes.
Luiz: O trabalho que imortalizou o grupo. Não que seja o melhor (ainda prefiro o anterior), mas foi, sem dúvidas, seu portfólio para novos caminhos, configurando-os como uma das referências da música pop, saindo da delimitação do subgênero surf. Um grande disco.
Mairon: Um dos melhores discos de todos os tempos. Brian Wilson criando melodias e harmonias impressionantes, jamais ouvidas até então e jamais igualadas posteriormente. Um trabalho árduo, longo e de extrema dedicação, feito com todo o amor que o álbum prega. Por isso, todos que o ouvem são unânimes em admirar aquilo que é transmitido pelo grupo norte-americano. Inclusive os críticos musicais, há mais de 40 anos, garantem a sobrevivência deste disco sempre tecendo elogios amplamente qualificados para a obra-prima da década de 60, e principal influência para diversos grupos.
Ronaldo: Difícil arrumar adjetivos para um disco como este, dos mais importantes da história da música no século XX. Ele vai muito além do rock. Não é rock, especificamente. É uma obra da música jovem, um trabalho de composição primoroso e surpreendente até pelo passado da banda. Tem algumas características do antigo som do grupo, mas está muitos passos adiante do que fizeram anteriormente. Um som introspectivo e profundamente belo. Bob Dylan profetizou que os tempos estavam mudando e eles realmente mudaram, e muito. Me causa arrepios.

Beatles-Revolver
The Beatles – Revolver (98 pontos)
Adriano: Se a banda já havia lançado pelo menos dois bons discos, o primeiro (1963) e Help! (1965), dessa vez eles chegaram com um clássico! Três músicas deste disco são suficientes pra colocá-lo entre os dez melhores de 1966: “Love You To”, de Harrison, “She Said She Said”, de Lennon, e “Here, There and Everywhere”, de McCartney. Harrison ainda brilha com a maravilhosa “Taxman” e Lennon com “Tomorrow Never Knows”. As demais faixas variam do bom ao ótimo, excetuando-se “Eleanor Rigby”, “I’m Only Sleeping” e “Yellow Submarine”, que não me agradam.
Bruno: Se em Rubber Soul (1965) os Beatles já começavam a flertar com experimentalismos e expandir os horizontes musicais, em Revolver essa viagem seria completa. Além do já habitual destaque de Lennon e McCartney, quem também brilha é George Harrison, tanto na guitarra (“She Said She Said”, “And Your Bird Can Sing”, “Doctor Robert”) quanto nas composições (“Taxman”, “Love You To” e “I Want to Tell You”).
Davi: Outro grande álbum do quarteto de Liverpool. Em Revolver, os rapazes começaram a ir cada vez mais fundo em termos de composição, a ousar mais. A partir deste disco, George Harrison também começou a ganhar mais destaque como compositor. Entre suas composições estão o hit “Taxman” (que chegou a ser regravada por Stevie Ray Vaughan) e a belíssima “I Want to Tell You”. Ringo também se destaca, com levadas criativas. Um grande exemplo é “Tomorrow Never Knows” (aliás, a bateria dessa musica seria fortemente chupada na canção “Supernova” do grupo Skank). A complexidade das novas composições, somada com a falta de estrutura, seriam fatores essenciais para que os rapazes resolvessem parar de excursionar ainda em 1966.
Diogo: Em Rubber Soul a virada se desenhou, mas em Revolver ela se manifestou de vez. Encontro entre maturidade, talento, e experiência, o álbum mostra uma banda ainda unida, trabalhando magnificamente em estúdio e utilizando-o como um grande aliado, ampliando seus horizontes ao ponto do grupo sequer tocar instrumento algum em uma das canções, o clássico “Eleanor Rigby”, que é conduzido por um octeto de cordas.  Destaque também para o florescer de George Harrison como importante força no quarteto: suas três composições são ótimas. O belíssimo resultado final é maculado pela péssima “Yellow Submarine”, que inexplicavelmente tornou-se uma espécie de hino para alguns abobalhados, suplantando diversas outras com tanto apelo pop quanto esta, mas com qualidade infinitamente superior, como “Here, There and Everywhere”, “She Said She Said”, “And Your Bird Can Sing”, “For No One”, “Doctor Robert”… Felizmente, “Tomorrow Never Knows” compensa essa falha.
Fernando: Os dois discos anteriores já tinham bastante do que costumamos chamar de “fase adulta” dos Beatles, mas este é, definitivamente, o álbum que selou essa mudança. “Eleanor Rigby” e “Tomorrow Never Knows” são daquelas músicas que a gente se surpreende de tão boas que são.
Luiz: Até gosto dos caras, mas nunca consegui desenvolver a mesma veneração por eles que o restante do mundo tem. É um grande disco, entendo e aceito sua importância, mas não me cativa.
Mairon: O grupo de Liverpool tentando soar psicodélico. Paul McCartney e cia. tentaram copiar o que Brian Wilson e seus colegas haviam feito três meses antes, e não se saíram tão bem assim para ficar em segundo colocado. Aqui está a pior canção do grupo, “Yellow Submarine”, fato que já mostra quantos centavos vale esse LP.
Ronaldo: Aqui os Beatles esculacharam e fizeram um trabalho que consegue ser ao mesmo tempo a síntese perfeita de seu presente, de seu passado e de seu futuro. Seria genial por ser ousado e pop ao mesmo tempo. Muitos outros fizeram isso também naquela época, mas ninguém fez isso como eles.

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Bob Dylan – Blonde on Blonde (72 pontos)
Adriano: Discaço! Dentre os álbuns que conheço de Dylan, é o segundo melhor, perdendo apenas pra Another Side of Bob Dylan (1964). Blonde on Blonde, contudo, é mais rico em termos de variedade musical, oferecendo momentos divertidos, como a faixa de abertura, “Rainy Day Women #12 & 35”, blueseiros, como “Leopard-Skin Pill-Box Rat”, encantadoramente pop, como “I Want You”, ou altamente emotivos, como “One of Us Must Know (Sooner or Later)”. Destaco dois clássicos eternos: “Most Likely You Go Your Way (And I’ll Go Mine)” e “Just Like a Woman”. Perfeitas!
Bruno: Bob Dylan deixou de lado o rock mais cru de Highway 61 Revisited (1965) e investiu em uma sonoridade mais diversificada, com elementos de country e blues. Um bom disco, mas que não está entre meus preferidos do compositor.
Davi: Disco considerado como o final da trilogia iniciada em Bringing It All Back Home (1965). É tido como um dos primeiros álbuns duplos da historia do rock e frequentemente incluído nas listas de melhores discos. Para mim, trata-se do mesmo caso dos Beach Boys: considero-o um bom registro, mas não é tudo isso que falam. É um trabalho de Dylan que considero cansativo e um pouco abaixo do anterior, o fantástico Highway 61 Revisited. A faixa “I Want You”, anos mais tarde, receberia uma versão em português do grupo mineiro Skank com o nome de “Tanto”.
Diogo: Blonde on Blonde pode não ter a mesma urgência de Highway 61 Revisited nem ter destaques tão óbvios, mas é, acima de tudo, a afirmação da capacidade de Dylan em produzir material de altíssima qualidade em grande quantidade e curto espaço de tempo. São 14 faixas, e todas, repito: todas são, no mínimo, muito boas. A amplitude dessa experiência sonora poderia resultar em dispersão, momentos de menor inspiração… Mas não, Dylan prende o ouvinte da mesma maneira, pegando-o pela mão e conduzindo-o por uma viagem ao que de melhor a música norte-americana havia gerado até então, começando em um grande deboche (“Rainy Day Women #12 & 35″) e finalizando em um de seus incríveis épicos (“Sad Eyed Lady of the Lowlands”). No caminho, o trovador e seus comparsas passeiam por rock, blues, country e folk com maestria absurda, tornando a tarefa de apontar destaques um verdadeiro suplício para o fã temente à injustiça. Poderia citar metade do álbum aqui, mas prefiro apenas dizer: ouça!
Fernando: Mesmo sendo inferior aos álbuns que já entraram nas primeiras listas desta série, ainda é um discão. Acho que ele merece estar nesta lista – afinal, eu mesmo o coloquei na minha –, mas me surpreendi com a alta posição em que ele ficou.
Luiz: Minha relação com Bob Dylan é controversa. Apesar de Highway 61 Revisited eBlood on the Tracks (1975)serem dois dos discos da minha vida, não sou de seus maiores admiradores, tendendo até a gostar mais dos que o acompanharam (como Joan Baez, por exemplo) e dos influenciados pelo seu som ao longo das décadas (que não são poucos). Blonde on Blonde foge à sonoridade do álbum anterior, com uma pegada mais Blues, porém mantendo a força das letras e dos arranjos. Entre os melhores discos do cara, sem dúvidas.
Mairon: Um disco genial, mostrando que 1966 foi um ano de grande inspiração para diversos artistas. Dylan está acompanhado de uma ótima banda e comanda o aparato elétrico com uma energia fantástica. Daqueles álbuns que todo ser que pensa que gosta de rock deve ouvir antes de dizê-lo. Os lados pares desse disco duplo são perfeitos, e, em tempo, “Sad Eyed Lady of the Lowlands” é forte candidata a melhor canção de Dylan. Essencial!
Ronaldo: Bob Dylan passando o bastão para a nova geração. Mais um registro sensacional que, junto com os anteriores ou até por si só, já valeria mais do que muitas discografias por aí. Acho que é o trabalho dele com maior capricho instrumental até então.

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The Rolling Stones – Aftermath (70 pontos)
Adriano: Nunca tive esse disco em tão alta conta por um simples motivo: ele não é tão melhor que seus antecessores e é bem inferior aos seus sucessores de 1967. Isto é, dentro da carreira dos Stones, ele não tem grande destaque. Mas essa experiência de destacar os melhores álbuns de cada ano me fez ouvir Aftermath não acompanhado dos demais discos dos Stones, e sim dos lançamentos de 1966, fato que me permitiu ver sua riqueza, a abertura de novos rumos dentro do rock que esse trabalho, como outros contemporâneos seus apresentados nessa lista, proporcionaram. Embora “Lady Jane” e “Under My Thumb” sejam boas músicas, o disco é repleto de faixas melhores, como a suavemente agressiva “Stupid Girl”, a blueseira “Don’t Cha Bother Me” (bem melhor que qualquer coisa que o Cream havia feito nesse ano), a incisiva “Flight 505” (com a introdução de piano mais genial da história do rock até então) e a comovente “Out of Time”, que recebeu uma interpretação soberba de Chris Farlowe, mas cuja riqueza já se encontrava toda nessa versão original. Todas as demais faixas são muito boas, mas o disco peca por encerrar com três faixas pouco empolgantes, que funcionariam melhor distribuídas pelo meio do álbum.
Bruno: A primeira grande obra-prima dos Stones. Se em Out of Our Heads (1965)a banda já deixara de lado o beat tradicional e começava a mostrar sua ferocidade e maior influência de blues, em Aftermath o grupo aumentaria suas experimentações em seu primeiro disco 100% autoral. É o registro definitivo de Brian Jones, que, além de guitarra, toca marimbas, saltério e gaita. Se a edição original inglesa perde sem a clássica “Paint It Black”, ganha a maravilhosa “Out of Time”, com um dos grandes êxitos melódicos da história da banda.
Davi: É neste trabalho que a dupla Jagger/Richards firma-se como compositores, além de ser o primeiro álbum dos Stones 100% autoral. Brian Jones destaca-se como multi-instrumentista gravando cítara, gaita, guitarra, teclados, marimba, entre outros. Os clássicos “Mother’s Little Helper”, “Out of Time” e “Under My Thumb” são daqui. Para os colecionadores, vale lembrar que a versão norte-americana é diferente da inglesa. Clássico!
Diogo: Quase entrou em minha lista pessoal. Para ser mais exato, ocupou a 11ª posição, sendo limado no final. Esse fato, porém, não diminui seu valor, na verdade enaltece as qualidades dos álbuns que ficaram em melhor colocação, pois Aftermath é, sem dúvida, um belo disco, continuando a desbravar o caminho iniciado em Out of Our Heads e mostrando muito sangue no olho e capacidade de crescer por suas próprias pernas, excluindo covers e sedimentando a parceria Jagger/Richards. “Lady Jane”, “Under My Thumb” e, especialmente, “Out of Time” não se tornaram clássicos à toa.
Fernando: O único álbum que não faz parte da sequência matadora que vai deBeggars Banquet (1968) até Exile on Main St. (1972) que pode ser comparado a esses discos.
Luiz: Aqui, vemos os Stones firmarem sua identidade. E não me refiro a algum padrão musical que viria a ser seguido, pois isso não é algo que combina com eles, que passearam bem por experimentações ao longo das décadas, mudando seu som sem perder seu estilo característico. A identidade aqui firmada foi justamente a de seguir firme para experimentar, ousar, algo que, definitivamente, é a cara do grupo.
Mairon: Outro disco com muita inspiração, e também transpiração. O som dos Stones praticamente definido e clássicos brotando como o orvalho durante o amanhecer. Os onze minutos de “Goin’ Home” já valem para que Aftermath esteja entre os melhores desse ano. E olha que “Paint It Black” ficou de fora da versão inglesa!
Ronaldo: Tem algumas boas (ou até muito boas) músicas, mas não o coloco entre as coisas mais relevantes que os Rolling Stones fizeram nos anos 60.

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Donovan – Sunshine Superman (65 pontos)
Adriano: A alegria que sinto em ver esse disco representado no top 10 final é difícil de se expressar, embora ele merecesse certamente ficar, no mínimo, no pódio. O melhor trabalho de Donovan, cheio de composições inspiradíssimas e arranjos belíssimos, uma produção de dar inveja às grandes bandas da época. A faixa-título já inicia o disco mostrando um som profundamente encantador, e vem seguida das calmas e também lindas “Legend of a Girl Child Linda” e “Three King Fishers”, essa última com forte sonoridade indiana. Se apenas mantivesse o nível, esse álbum já seria top 10, mas não. O disco conta com simplesmente três das melhores músicas de 1966 e talvez da história do rock: “Ferris Wheel”, “The Fat Angel” e a soberba “Celeste”. Ouvir “Ferris Wheel” e “Celeste” sem derramar uma enxurrada de lágrimas é evidência irrefutável de sociopatia! E o trabalho ainda conta com a linda e carregada “Guinevere” e a clássica “Season of the Witch”. Chamar esse disco de fenomenal ainda é depreciá-lo!
Bruno: É a partir daqui que Donovan acaba com o estigma de Bob Dylan britânico em um disco que mantém a base folk e adiciona doses de psicodelia. Um trabalho viajante e belíssimo.
Davi: Um fato curioso marca esse disco. Embora o musico fosse britânico, o disco foi lançado primeiro nos Estados Unidos por conta de uma disputa contratual. É o primeiro disco do rapaz a trazer uma sonoridade mais psicodélica. Entre os destaques estão Season of The Witch (anos mais tarde regravado pelo Hole de Courtney Love em seu MTV Unplugged. Embora o acústico do conjunto não tenha sido lançado oficialmente, é possível ouvirmos essa versão na coletânea “My Body, The Hand Grenade”), Legend of a Girl Child Linda (escrita em homenagem à sua futura esposa), além da faixa titulo.
Diogo: Enquanto algumas bandas norte-americanas tidas como de sonoridade psicodélica começavam a produzir canções carregadas de experimentações pouco amigáveis aos meus ouvidos, o escocês Donovan Leitch lançava um álbum digno desse rótulo, mas, mesmo assim, mostrando-se completamente diferente, cativando desde a primeira audição pela beleza de todos os elementos envolvidos na concepção deSunshine Superman: composição, arranjos, performance, produção… e feeling, muito feeling. Desde músicas mais simples e voltadas ao rock mais blueseiro, como “Season of the Witch” e “The Trip”, até às mais viajantes, caso de “Ferris Wheel” e “The Fat Angel”, o disco é impressionante. Mais incrível ainda é se dar conta de que algumas das canções são ainda melhores, caso das singelas “Legend of a Girl Child Linda”, “Guinevere” e “Celeste”. Ouça e sinta-se transportado a outro lugar, em outra era.
Fernando: Só ouvi Donovan depois que já tinha minha lista pronta. Acho que ele não entraria nos meus dez discos mesmo se o tivesse conhecido antes. Bom álbum, mas ainda acho Mellow Yellow (1967) melhor.
Luiz: A mistura de folk com toques de psicodelia faz desse disco uma das viagens mais intensas que já tive por intermédio da música.
Mairon: Ah, como eram bons os tempos em que os músicos cantavam com o coração. Este é outro grande exemplo de dedicação ao trabalho. Donovan sempre fez discos regulares, sobressaindo uma que outra canção, mas, em Sunshine Superman, ele realizou um trabalho homogêneo, que foi seguido por diversos ídolos do rock anos depois. Destaques para a sensacional “Guinevere”, “Season of the Witch” e um tal de Jimmy Page dando as honras na guitarra da faixa-título. Outro disco essencial.
Ronaldo: Donovan é um dos mais ilustres representantes de uma geração de cantadores e compositores folk que surgiu a partir de Bob Dylan, Joan Baez, Peter Paul & Mary e cia. limitada. Ele não só foi um ótimo cantor e compositor como também teve um bom aparato nos arranjos, que tornaram sua música original e até bastante inovadora, já que Sunshine Superman é um dos principais trabalhos pré-psicodélicos da história do rock.

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Cream – Fresh Cream (55 pontos)
Adriano: Um disco bem razoável, mas com algumas canções que gosto. É o caso das duas primeiras, da boa versão de “Spoonful” e, principalmente, de “Sweet Wine”. Mas ficou longe de entrar no meu top 10.
Bruno: Disco seminal e importantíssimo na história do rock. A fusão do blues elétrico com a psicodelia criaria um amálgama sonoro que viria a ser o embrião do rock pesado, juntamente com a guitarra de Jimi Hendrix, um ano mais tarde. O Cream também pode ser considerado o primeiro supergrupo da história, com o deus Eric Clapton nas seis cordas, o furioso baterista Ginger Baker e o brilhante músico Jack Bruce, um compositor, baixista e vocalista de primeira. Apesar de o disco não conter o melhor do repertório da banda, vale e muito como um registro histórico e de enorme influência.
Davi: Álbum de estreia do supergrupo formado por Ginger Baker, Jack Bruce e Eric Clapton. Na Inglaterra, este disco foi lançado simultaneamente ao compacto de “I Feel Free”. Por isso, na edição inglesa, a canção foi substituída por “Spoonful”. É desse disco também as canções “N.S.U.” e “I’m So Glad”, atualmente consideradas clássicas. Belo disco!
Diogo: Seminal é pouco, meus amigos. Desconheço artistas que, até então, dessem tão bela e única roupagem ao blues e intercalassem essas experiências com tão incríveis canções próprias. Amo os Yardbirds, mas o Cream fez ainda melhor. Grande parte disso deve-se à união de três personalidades musicais extremamente únicas e talentosas: Jack Bruce, Eric Clapton e Ginger Baker, que sedimentaram o hoje mais que arraigado (e até exagerado) conceito de power trio, vitaminando suas performances com virtuosismo e apontando o caminho que seria seguido a partir do final da década por artistas em busca de explorar limites sonoros. “N.S.U.” é fantástica, “Sleepy Time Time” é meu hino, “Dreaming” é puro deleite, “Sweet Wine” é cavala e Ginger Baker dá show em “Toad”. Os covers? Todos ótimos, destacando a carregada atmosfera de “Spoonful”, o caráter pop de “I’m So Glad” e a malandragem de “Rollin’ and Tumblin’”. Acredite, eles fariam ainda melhor.
Fernando: Mesmo contando só com craques em seus instrumentos, o que mais gosto neste disco são as melodias vocais. “Dreaming” é sensacional.
Luiz: Não é meu preferido, tampouco dos mais referenciados trabalhos desse supergrupo (que, por vezes, parece ter menos atenção do que deveria, talvez ofuscados pelo prestígio adquirido por Clapton em carreira solo), mas é um excelente disco carregado na “psicodelia elétrica”, que seria firmada no ano seguinte com Disraeli Gears, obra prima suprema do trio.
Mairon: O Cream estreou com um disco bom, mas eu não consigo ouvir o grupo em estúdio sem ter um certo incômodo. Apesar da quantidade de clássicos aqui registrados, deixaria ele certamente de fora em uma lista de 500 discos a serem levados para uma ilha deserta.
Ronaldo: Eis a nata! O Cream ainda ofereceria mais à humanidade. Ainda sim, contudo, temos aqui um bom disco, blues rock de alta octanagem e uma dose daquilo que viria a ser uma febre na virada dos anos 60 pros 70 – o virtuosismo, longos solos e longas partes instrumentais. O Cream foi peça fundamental na inserção desses elementos.

SoundsSilence
Simon & Garfunkel – Sounds of Silence (43 pontos)
Adriano: Como eu quis ouvir uma boa quantidade de bandas, terminei pegando apenas um disco do Simon & Garfunkel pra ouvir, e infelizmente foi o Parsley, Sage, Rosemary and Thyme, do mesmo ano. Só escutei Sounds of Silence depois que saiu o top 10 definitivo. Pelo pouco que ouvi, creio que não entraria na minha lista, mas o achei melhor. É um disco mais “embalado”, com sonoridade mais pop, algumas melodias bem agradáveis, mas não pude perceber algo de clássico nele.
Bruno: Belíssimo disco que mostra toda a qualidade de Paul Simon nas composições em um folk melódico, calcado no violão e nas harmonias vocais.
Davi: A dupla chamou a atenção desde o inicio por conta de sua harmonia vocal. Alguns críticos começaram a compará-los com os Everly Brothers, nem tanto por seu estilo de composição, mas pelo cuidado nos arranjos vocais. Neste segundo disco, os rapazes trouxeram uma grande mudança. O seu debut, Wednesday Morning, 3 A.M., era um álbum tipicamente folk. Aqui, entretanto, resolveram seguir os passos de Dylan e eletrificaram seu som, passando a utilizar guitarras nas gravações. Por conta disso, passaram a ser chamados de folk rock. A canção “The Sound of Silence” é tida como um clássico do gênero. O início da fase de ouro de Paul Simon e Art Garfunkel. Bem legal!
Diogo: Sounds of Silence é portador de um lirismo interessante e destaca a sensibilidade da dupla, artistas na concepção mais completa da palavra. O álbum, contudo, ainda não me conquistou de maneira definitiva, justificando assim a ausência em minha lista pessoal. Digo “ainda” pois, a cada audição, o disco soa melhor e mais atraente. O trabalho é bastante linear e ouvi-lo é uma tarefa que parece tomar menos tempo do que o track list realmente tem. Além da faixa-título, ressalto a qualidade de “A Most Peculiar Man”, “Leaves That Are Green” e o empolgante final, com “We’ve Got a Groovey Thing Goin’” e “I Am a Rock”.
Fernando: Já gostei mais de Simon & Garfunkel. Hoje já não me atrai muito. É o disco que mais me surpreendeu por ter entrado nesta lista. A faixa-título é um clássico da música.
Luiz: Não bastassem as letras primorosas (e Paul Simon é, desde sempre, um dos maiores compositores da história), a obra carrega em uma melodicidade que é, ao mesmo tempo, sensível e profunda, impiedosa (como a faixa que leva quase o título do álbum). Um dos discos mais perfeitos que já ouvi.
Mairon: O segundo álbum dos norte-americanos, assim como muito material desse período, possui toques de amor, psicodelia e, claro, muita criatividade. O que diferencia Sounds of Silence dos demais são as interpretações vocais e, principalmente, as letras da dupla. O único porém aqui fica para a eletrização da linda faixa-título. A versão acústica do disco de estreia é insuperável, mas o complemento do álbum contorna esse problema sem nenhum risco para a audição.
 
 
Ronaldo: Excelentes compositores e grandes cantores, uma verdadeira pepita de qualidade musical.

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John Mayall – Blues Breakers With Eric Clapton (34 pontos)
Adriano: Não é um disco ruim, mas também não é algo que me chame a atenção. Do mesmo ano, prefiro East-West, da Paul Butterfield Blues Band, e até o Autumn ’66, do Spencer Davis Group. E já que se trata de Eric Clapton, recém-saído dos Yardbirds, aproveito pra lamentar a não entrada do ótimo Yardbirds (Roger the Engineer) nesse top 10, uma ausência talvez imperdoável.
Bruno: Bom disco de blues rock, mas muito genérico. Outros álbuns mais importantes e inovadores mereciam estar na lista no lugar deste.
Davi: Neste disco, John Mayall mistura faixas autorais com canções que os norte-americanos gostam de chamar de standards. Robert Johnson, Ray Charles, Otis Rush e Freddie King estão entre os homenageados. Uma curiosidade legal é a versão de “Ramblin’ On My Mind”: essa foi a primeira vez em que ouvimos a voz de Eric Clapton. Este disco foi lançado meses antes do trabalho de estreia do Cream. É também o primeiro trabalho feito por Clapton voltado 100% ao blues. Em uma palavra: histórico.
Diogo: Não é segredo para ninguém que o blues não é exatamente um gênero musical pelo qual nutro alguma devoção. Tendo isso em mente, a inclusão de Blues Breakers With Eric Clapton em minha lista particular tem um significado especial: trata-se de um baita álbum, apresentando uma banda competente e, especialmente, um Clapton afiando ainda mais seus dotes na guitarra e consolidando-se como um dos músicos mais importantes egressos da época. “What’d I Say” (que inclui uma citação a “Day Tripper”, dos Beatles), original de Ray Charles, talvez seja o melhor exemplo da música pulsante que brota do disco. Destaco ainda “All Your Love”, “Parchman Farm”, “Steppin’ Out” e “It Ain’t Right”.
Fernando: Dois discos contando com Eric Clapton nesta lista. Mais um indício de que ele era “o cara” naquela época. Se você ouvir este álbum e ver seus últimos DVDs, vai entender de onde vem aqueles blues que ele tanto gosta de tocar.
Luiz: Não ouvi.
Mairon: Este disco sempre recebeu muitos elogios de todos os que o ouviram e me recomendaram, mas sempre que o ouço, não encontro nada de mais. Yardbirds, Animals e tantos outros já faziam algo melhor nessa linha ao mesmo tempo que o grupo de John Mayall.
Ronaldo: O esplendor de Eric Clapton como o mestre dos clichês do blues (um rótulo que ele detesta, mas que se encaixa perfeitamente bem para ele). Banda afiadíssima e um dos melhores discos de blues britânico da década. Junto com os Yardbirds, John Mayall e seus Blues Breakers fizeram escola nesse estilo.
 

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The Kinks – Face to Face (30 pontos)
Adriano: Assim como eu disse a respeito de Aftermath, este disco não representa um avanço na musicalidade dos Kinks. É tão bom quanto seu antecessor, The Kink Kontroversy (1965), mas menos merecedor de entrar no top 10 do que este, pois em 1966 a concorrência já era bem mais acirrada que no ano anterior. Há muitas faixas lindas, mas destaco: “Party Line”, uma das melhores músicas dos Kinks (e com os versos geniais “Is she big, is she small? Is she a she at all?”), “Rosie Won’t You Please Come Home”, a comovente “Too Much on My Mind” e a clássica “Sunny Afternoon”. “Fancy” é uma maravilhosa peça de inspiração indiana, e vale lembrar que foram os Kinks que iniciaram a onda do chamado raga rock, com a sua linda “See My Friends”, presente no ótimo lado A de Kinkdom (1965).
Bruno: O primeiro grande álbum dos Kinks e um dos grandes feitos de sua carreira. Um apanhado de canções pop com roupagem roqueira, devida principalmente à guitarra de Dave Davies.
Davi: Não ouvi este álbum.
Diogo: O Kinks é um caso interessante. Boas composições, execução satisfatória (com uma saudável displicência) e muito deboche…. Elementos que tinham tudo para me conquistar. No entanto, a banda ainda não “pegou” por aqui. É muito provável queFace to Face seja o melhor disco do grupo até então e que, em um futuro próximo, receba muito mais atenção minha, mas, por ora, não pertenço ao time dos admiradores. Não sou estúpido, porém, de não enxergar algumas belas canções, como “Party Line”, “Rosie Won’t You Please Come Home”, “Session Man” e “Sunny Afternoon”.
Fernando: Penso que este disco será o último do Kinks a entrar nessas listas, e seu melhor registo, Arthur (1969), vai acabar não entrando porque a lista de 1969 será uma briga de foice no escuro. O primeiro álbum conceitual do rock? É possível, não lembro de outro.
Luiz: Um dos maiores trabalhos do grupo. Das letras bem sacadas às melodias bem elaboradas, conduzidas magistralmente pelos vocais dos irmãos Davies, suas canções possuem uma atmosfera envolvente com as composições, como em “Fancy” e a clássica “Sunny Afternoon”. Um disco essencial.
Mairon: Um trabalho somente com canções de Ray Davies só poderia resultar em um bom álbum. Vários outros discos de 1966 entrariam no lugar dele, e, sinceramente, não consigo destacar nada de mais no álbum. Bom, apenas isso.
Ronaldo: Confesso que os Kinks são uma banda que não me desperta muita atenção. A menção deles nesta lista me faz intuir que talvez eu esteja errado.

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The Byrds – Fifth Dimension (27 pontos)
Adriano: Os Byrds fariam miséria a partir do disco seguinte, mas aqui a banda já apresenta uma ótima evolução no seu som. Talvez a saída de Gene Clark tenha impulsionado a banda a percorrer caminhos mais ousados (embora Clark ainda apresente a clássica “Eight Miles High”), com McGuinn e Crosby investindo em suas fortes potencialidades. Não gosto de “Mr. Spaceman” (talvez por relacioná-la com o plágio descarado de Raul Seixas em “S.O.S.”) e acho “Captain Soul” talvez desnecessária. Fora isso, temos uma coleção de belas músicas com destaque pra “5D (Fifth Dimension)”, “I Come and Stand at Every Door” e, claro, “Eight Miles High”, na qual McGuinn reproduz as escalas de John Coltrane na guitarra.
Bruno: Cometi o pecado de não reouvir este álbum para a elaboração da lista. Uma pena, pois na hora de escutá-lo para tecer meu comentário tive uma grata surpresa e o achei fantástico. Um trabalho bastante calcado na guitarra de 12 cordas, que mescla o folk rock da banda com psicodelia. Talvez seja meu disco favorito dos Byrds.
Davi: Esse disco marca a saída de Gene Clark, tido como um dos principais compositores do conjunto. Neste trabalho, ele participa apenas de “Captain Soul” e daquela que talvez seja a canção mais conhecida deste álbum, “Eight Miles High”. Os músicos arriscaram ir para novos caminhos, trazendo influencias do country rock, do raga rock e também da psicodelia. Também passaram a compor mais, gravar menos covers. O disco dividiu opiniões na época, mas trata-se de um trabalho bem legal. Vale a pena a aquisição.
Diogo: A saída do compositor de mais destaque em uma banda que investia boa parte de seu repertório em covers poderia determinar o fim de suas atividades, certo? Errado, ao menos em se tratando dos Byrds. Apesar de Gene Clark ainda ter contribuído justamente com a música mais marcante do disco, a fantástica “Eight Miles High”, o resto do grupo não apenas conseguiu manter a qualidade dos registros anteriores, como conseguiu superá-la. Jim/Roger McGuinn, David Crosby, Chris Hillman e Michael Clarke mostraram por que viriam a ser uma das formações mais influentes em todos os tempos e  forneceram motivos de sobra para atestar suas capacidades como músicos e compositores, vide a faixa-título, “I See You”, “What’s Happening?!?!” e a lindíssima adaptação para “Wild Mountain Thyme”. Alguém por aí sabe se a obra dos Byrds já foi declarada patrimônio cultural de seu país? Se não, deveria!
Fernando: O Byrds cai de vez na psicodelia, como podemos observar em seu logo. A potência vocal dos Byrds é perfeita, talvez só o Crosby, Stills, Nash & Young seja comparável a eles. “Mr. Spaceman” realmente foi plagiada em “S.O.S.”, de Raul Seixas?
Luiz: Confesso que conheço muito pouco do grupo para formar uma opinião mais aprofundada, sendo este o único disco a que me dediquei a ouvir com mais atenção. Apesar de ser um grande apreciador do rock psicodélico e de ter conhecimento de que o The Byrds é justamente uma das bandas precursoras do estilo, não conseguiu me agradar tanto. Quem sabe com mais atenção a outros álbuns, com o tempo, minha opinião mude. Mas, por enquanto, não figura na minha lista de melhores.
Mairon: Sem Gene Clark, McGuinn e Crosby se desdobraram para manter o Byrds na ativa. O disco é muito curto, e possui como méritos o fato de não incluir nada de Dylan (o que havia aparecido nos álbuns anteriores) e “Eight Miles High”, e nada mais.
Ronaldo: O maior mérito deste disco chama-se “Eight Miles High”, na minha opinião, a melhor e mais visionária música do rock daquele ano. Ela é melódica, intensa, psicodélica, jazzy e experimental, tudo ao mesmo tempo. A profecia de Dylan também começa a se tornar realidade aqui. E o restante do disco tem o padrão The Byrds de qualidade.
 
Listas individuais:
quickoneAdriano KCarão
1. Donovan – Sunshine Superman
2. The Beach Boys – Pet Sounds
3. Bob Dylan – Blonde on Blonde
4. The Beatles – Revolver
5. The Rolling Stones – Aftermath
6. The Kinks – Face to Face
7. The Who – A Quick One
8. The Animals – Animalisms
9. The Byrds – Fifth Dimension
10. The Yardbids – Yardbirds (Roger the Engineer)

thesonicsfrontalvs21Bruno Marise
1. The Rolling Stones – Aftermath
2. The Kinks – Face to Face
3. The Sonics – Boom
4. The Beatles – Revolver
5. The Beach Boys – Pet Sounds
6. Donovan – Sunshine Superman
7. The Who – A Quick One
8. The Seeds – The Seeds
9. Simon & Garfunkel - Sounds of Silence
10. The Mothers of Invention – Freak Out!

03Davi Pascale
1. The Beatles – Revolver
2. Cream – Fresh Cream
3. The Rolling Stones – Aftermath
4. Roberto Carlos – Roberto Carlos
5. The Beach Boys – Pet Sounds
6. John Mayall – Blues Breakers With Eric Clapton
7. Donovan – Sunshine Superman
8. Ronnie Von – Ronnie Von
9. Simon & Garfunkel - Sounds of Silence
10. The Animals – Animalisms

Good_the_Bad_the_Ugly_soundtrackDiogo Bizotto
1. Bob Dylan – Blonde on Blonde
2. Cream – Fresh Cream
3. Ennio Morricone – The Good, the Bad and the Ugly (Trilha Sonora Original)
4. The Byrds – Fifth Dimension
5. Donovan – Sunshine Superman
6. The Mothers of Invention – Freak Out!
7. The Beatles – Revolver
8. The Beach Boys – Pet Sounds
9. The Yardbids – Yardbirds (Roger the Engineer)
10. John Mayall – Blues Breakers With Eric Clapton

love-loveFernando Bueno
1. The Beach Boys – Pet Sounds
2. The Beatles – Revolver
3. Cream – Fresh Cream
4. Bob Dylan – Blonde on Blonde
5. John Mayall – Blues Breakers With Eric Clapton
6. Love – Love
7. The Mothers of Invention – Freak Out!
8. The Rolling Stones – Aftermath
9. The Kinks – Face to Face
10. The Byrds – Fifth Dimension

MI0000617017Luiz Carlos Freitas
1. Simon & Garfunkel - Sounds of Silence
2. Tim Buckley – Tim Buckley
3. The Rolling Stones – Aftermath
4. The Who – A Quick One
5. The Mothers of Invention – Freak Out!
6. The Animals – Animalisms
7. The Beach Boys – Pet Sounds
8. Donovan – Sunshine Superman
9. The Kinks – Face to Face
10. The Seeds – A Web of Sounds

51H9wp05oTLMairon Machado
1. The Beach Boys – Pet Sounds
2. The Yardbirds – Yardbirds (Roger the Engineer)
3. The Paul Butterfield Blues Band – East-West
4. Simon & Garfunkel - Sounds of Silence
5. Bob Dylan – Blonde on Blonde
6. Chris Farlowe – 14 Things to Think About
7. Donovan – Sunshine Superman
8. Sabicas – Rock Encounter
9. The Mamas & the Papas – If You Can Believe Your Eyes and Ears
10. The Rolling Stones – Aftermath

13th_Floor_Elevators-The_Psychedelic_Sounds_Of_The_13th_Floor_Elevators-FrontalRonaldo Rodrigues
1. The Beatles – Revolver
2. The Beach Boys – Pet Sounds
3. John Mayall – Blues Breakers With Eric Clapton
4. The Byrds – Fifth Dimension
5. Bob Dylan – Blonde on Blonde
6. The 13th Floor Elevators – The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators
7. Donovan – Sunshine Superman
8. Cream – Fresh Cream
9. Simon & Garfunkel - Sounds of Silence
10. The Mothers of Invention – Freak Out!
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