Por Diogo Bizotto
Com Alexandre Teixeira Pontes, André Kaminski, Bernardo Brum, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, João Renato Alves, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Daniel Sicchierolli, um dos fundadores da Consultoria do Rock
Muitas vezes já fomos criticados, tanto por leitores quanto por próprios integrantes da Consultoria do Rock, por um excesso daqueles artistas rotulados como "medalhões" ocupando espaço de destaque nesta série em edições referentes a anos em que já haviam perdido a maior parte de sua relevância. Desta vez, pelo menos em grande parte, isso não ocorre. As três primeiras posições são ocupadas por bandas que estavam construindo suas histórias ao mesmo tempo em que lançavam os discos citados, e ainda tinham muito para provar e fãs a conquistar a fim de cravar o nome entre os grandes de seu tempo, fato que, gostem ou não desses grupos, aconteceu. Sem mais delongas, confiram abaixo o resultado e comentem à vontade. Lembrando sempre que o critério para a soma de pontos segue o sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1. Boa leitura!
System of a Down - Toxicity (108 pontos)
Alexandre: Mais do que uma preferência pessoal, escolhi este álbum entre os dez melhores pela sua especial importância no momento de seu lançamento, incrível repercussão e, por consequência, vendagem de números absurdos. Não há como negar que a influência oriental misturada ao som pesado trouxe um novo horizonte e um ineditismo que mesmo tanto tempo depois continua a marca registrada do grupo. Isso vem dos dois donos da banda. Serj Tankian tem uma voz que remete diretamente aos sons do oriente médio e para mim situa-se no limiar entre o agradável e o desagradável. Sem ela, no entanto, é óbvio, não haveria o System of a Down. O outro destaque é o guitarrista Daron Malakian, que é coautor de todas as faixas de Toxicity e o outro cérebro do estilo. Minhas músicas de destaque são "Chop Suey!" e "Aerials", dois singles nos quais melodia é mais equilibrada com a pancadaria, que é bem feita em todo o trabalho. Outra que gosto é "ATWA", pelo mesmo motivo. Não morro de amores pelo grupo, na minha lista este não está perto do primeiro lugar, mas o disco merece estar nesta lista.
André: A banda é muito original, sem dúvida alguma. O peso das guitarras de Daron Malakian e esse vocal falado/cantado/gritado de Serj Tankian junto a composições que variam de velocidade a todo instante é de se admirar. O fato de aparentemente não se levarem a sério também conta pontos. O disco todo te mantém empolgante do início ao fim, mas “Chop Suey!”, “Deer Dance” e “Psycho” são as canções mais fodas que você pode encontrar por aqui.
Bernardo: Uma pancadaria sonora que pegou todo mundo de jeito em 2001. Primeiro lugar merecidíssimo que seguiu o caminho natural do debut autointitulado e o resultado é uma obra-prima que dá para ouvir da primeira à última faixa sem descansar. Há o hit "Chop Suey!" e sua alternância de melodia e peso, a power ballad de letra reflexiva "Aerials", o avassalador início "Prison Song" que só descansa nos últimos segundos, e o refrão viciante de "ATWA". Mas para mim o destaque fica para a faixa-título, que quase lamenta nos versos para explodir no refrão. Disco que ainda não perdeu a força.
Daniel: Ouvi uma vez rapidamente, foram os piores dois minutos da minha vida.
Davi: Excelente álbum do System of a Down! Toxicity demonstra uma banda já bem mais madura do que no seu (bom) álbum de estreia. O estilo vocal de Serj Tankian divide opiniões, mas é um diferencial dentro do grupo. Outro que faz a diferença é o guitarrista Daron Malakian. Altamente criativo! Tanto nas guitarras, quanto nos backings. O repertório é forte e traz várias faixas marcantes, como “Prison Song”, “Aerials”, “Toxicity”, “Chop Suey!”, “Needles” e “Forest”. Discaço!
Diogo: Três discos lançados em 2001 são digníssimos de ocupar este espaço, pois estão entre os melhores lançados nos últimos 25 anos: Iowa, Mutter e este Toxicity. Inclusive, ordená-los em minha lista pessoal foi um trabalho dificílimo. O System of a Down já havia estreado em alto nível, mas creio que a expectativa de quase todos foi superada com Toxicity. Apesar da banda continuar concisa, os músicos cresceram muito como compositores, colocando em prática uma coleção de canções cativantes e cheias de personalidade. Em meio ao aparente caos de músicas repletas de mudanças de andamentos e uma aura de esquizofrenia, há boas ideias aos borbotões, seja nas linhas de guitarra muito criativas de Daron Malakian, nas melodias vocais que equilibram o exótico e o viciante colocadas em prática por Serj Tankian ou mesmo nos andamentos jazzísticos de John Dolmayan. Ao mesmo tempo em que escrevo estou passando pelo tracklist e tentando encontrar alguma música que represente um ponto fraco, daquelas que dá vontade de passar, mas não estou conseguindo encontrar. Não vou deixar de citar, porém, que a faixa-título e "Aerials" são duas pequenas obras-primas, que fizeram com que eu gostasse da banda mesmo em uma época em que a associação ao nu metal ainda era motivo para que eu me afastasse. Aliás, pobre de quem acha que o grupo, em algum momento, se resumiu a esse rótulo. É heavy metal, é rock, é música popular, e é da boa. Muito boa.
Eudes: Tá certo que os arranjos são meio repetitivos, com a insistência naquele negócio de guitarras dedilhadas que desaguam em passagem pesada. Mas os caras fazem isto com uma graça incomum. E, além do mais, "Prison Song", que abre o disco, nem tem essa fórmula e é um clássico do metal desembestado, mesmo que você pense que já ouviu isso em algum disco do Faith No More. "Needles" é bem monstruosa, enquanto "Jet Pilot" e "X", embora meio padrão, comecem a introduzir sonoridades asiáticas na receita. Mas esta primeira parte do disco visa obviamente a te levar para o big hit "Chop Suey!", com seu eficaz cruzamento de melodia e peso, guitarras acústicas e elétricas. "ATWA" mistura tudo: as tais guitarras dedilhadas, as tais influência étnicas e dá é muito certo! Mas claro que, em termos de consolidação de um traço distinguível da banda, nada supera a excelente faixa-título, uma das melhores coisas gravadas nos anos 2000, principalmente por provar que música pesada combina com originalidade e inventividade. Agora, vocês querem saber o que bota este disco um degrau acima da concorrência? A belíssima "Aerials"! Um primeiro lugar digno.
Fernando: O SOAD já tinha dado as caras aqui nesta nossa série. Toxicity é bastante superior ao seu álbum de estreia. Este tem várias das músicas que fizeram a banda famosa, como a já batida “Chop Suey!” e “Aerials”, que foi regravada com maestria pelo Amon Amarth. No todo eu não sou fã do grupo, mas acho que hoje estou com bom humor e a audição do disco foi mais bem aceita do que das outras vezes. Como fiz anteriormente, gostaria de destacar o guitarrista Daron Malakian pela criatividade.
João Renato: Após a boa estreia, o System of a Down foi ainda melhor na sequência de sua carreira. Toxicity consegue equilibrar o lado “exótico” dos armênios com melodias de assimilação fácil – para os padrões apresentados, é claro. Ao contrário do que pode acontecer em outros exemplares do gênero, o estranhamento à primeira audição não afasta o ouvinte. Ao contrário, o faz ouvir mais e mais, até alcançar uma compreensão maior. E, mesmo assim, conseguiu seu espaço na MTV e em rádios menos ortodoxas, transformando a banda em um fenômeno. E queiram ou não os headbangers (grupo no qual não me incluo com orgulho), o quarteto ajudou a manter o metal relevante e presente na mídia.
Leonardo: Lembro do furor que este lançamento causou em 2001. A banda explodiu, virou um dos principais expoentes do hard rock/heavy metal mainstream do início do século, arrebatou milhares de fãs, lotou estádios, arenas, festivais... E eu nunca entedi o porquê. A mistura de ritmos étnicos com riffs pesados é original, mas soa cansativa após a segunda ouvida. E "Chop Suey!" é uma das piores coisas que eu ouvi na vida... Só se salva "Aerials", que de fato é uma grande música.
Mairon: Este é o melhor disco do SOAD, e os caras merecem este primeiro lugar. Afinal, eles criaram uma obra pesada, esquizofrênica, maluquete e capaz de conquistar o coração de garotas que nunca ouviram rock pesado, o que por si é uma façanha. "Prison Song" foi uma ótima escolha para abrir o disco, que segue com pancadarias, mudanças de andamento, mais pancadaria, mais mudanças de andamento e muito, mas muito pescoço sendo quebrado ao longo de seus quase 50 minutos. Como as canções são curtas, o disco passa sem dar respiro para o ouvinte, que certamente nem pensa em respirar tamanha violência sai das caixas de som. Não tem como não se submeter ao peso incontestável de "Forest", "Needles" e "X", a alucinação do crescendo de "Aerials" (aquele violino na introdução é de chorar), a maluquice esquizofrênica de "Science", enfim, todas as músicas, que, apesar de curtas, são marcantes. A melhor é "Chop Suey!", uma paulada fantástica que ganhou ainda mais créditos pelo hilário videoclipe montado – não oficialmente – com a turma do Chaves cantando essa lindeza de música. Excelente álbum, que coloquei em minha lista pensando que talvez deveria ter citado em alguns níveis acima. Mas que bom que entrou nos dez mais, e parabéns pela primeira posição.
Ulisses: Foi já no segundo disco que os caras conseguiram fama mundial. "Chop Suey!", a esta altura do campeonato, já está manjada, mas não deixa de impressionar, e continua sendo o carro-chefe do registro, com seus versos velozes e difíceis de cantar e final melodramático. A sonoridade está um pouco menos pesada e obscura que a da estrwia, encapando o estilo esquizofrênico da banda em uma produção mais palatável, mas ainda mais cativante. Assim, o registro consegue ser excelente do começo ao fim, com petardos como "Needles", "Deer Dance", "Forest", "ATWA", "Science" e a faixa-título, além da minha canção preferida do quarteto, a fantástica "Aerials".
Slipknot - Iowa (75 pontos)
Alexandre: Eu já havia escrito na edição dedicada a 1999 que os consultores aqui têm certa predileção por vocais que não cantam (pelo menos em minha opinião). Bem, este não é o caso de Corey Taylor. Ele canta, só não canta no Slipknot. Cantar, bem, isso ele deixa para o Stone Sour. Assim, ouvir guitarras em afinações super baixas e monocórdicas e vocais guturais durante 99,9% do tempo de duração deste álbum foi de doer os ouvidos e testar a paciência. Eu destaco a bateria e não posso dizer que os músicos não sabem tocar. Mas é um desperdício, pois para entrar para o Slipknot é preciso esquecer todas as aulas de harmonia e melodia que, eventualmente, como músico você aprendeu. Não consegui destacar nenhuma canção durante quase 50 minutos até chegar à faixa-título. Essa tem 15 minutos de divagação e pelo menos foi audível na sua quase totalidade. Desta forma, o CD me pareceu ainda mais extremo do que o seu antecessor e esse deve ser o mérito principal para os consultores que o escolheram. Eu passei longe dele.
André: É, definitivamente meus preconceitos com o Slipknot chegaram ao fim. Ao menos com esses dois primeiros discos que emplacaram por aqui. Não creio que chegue um momento de minha vida em que eu me torne fã da banda devido às partes com DJ e àqueles vocais enjoados que Corey Taylor faz nos refrãos em discos mais recentes (e em alguns raros momentos por aqui). Todavia, eu gosto de música pesada, agressividade, riffs intensos e bateria insana. E tem tudo isso saindo das minhas caixas de som. Esse Joey Jordison tocava muito e se for considerar pelo que ouço em Iowa, não creio que seja tão fácil assim achar outro igual a ele. Mas como já disse que não sou fã, não faço ideia se o atual baterista é tão bom quanto. Independente de tudo, ouvi o álbum todo com máxima atenção. E curti.
Bernardo: A banda mais extrema do que se chamou de nu metal um dia, mesclando tendências do rock pesado e de eletrônica e rap, gerando pancadas como "People = Shit" e "The Heretic Anthem". Mas minha preferida é "Left Behind", principal single, no limite entre a acessibilidade pop e a agressão. A misantropia é um tema predominante no álbum, e a sonoridade acompanha o clima negativo e depressivo que dominava aquele início de década. O rock chegava à idade contemporânea se reinventando e se readaptando, e o Slipknot foi um dos que mais acompanhou isso tudo.
Daniel: Nunca ouvi, graças ao DIO.
Davi: Meu álbum favorito do Slipknot. Ainda mais pesado que em seu disco de estreia, Iowa traz um grupo inspiradíssimo. Joey Jordison estava endiabrado. Corey Taylor soube dosar bem o estilo agressivo com outro mais melódico. As músicas são empolgantes e marcantes. “People = Shit”, “The Heretic Anthem”, “Disasterpiece” e “Everything Ends” levantam até defunto. Até mesmo nos (poucos) momentos mais comerciais, como em “Left Behind”, soam interessantes. Belo disco!
Diogo: Se coloquei Iowa acima de Mutter e Toxicity em minha lista particular, é porque eu realmente gosto deste disco. Na verdade, considero-os muito parelhos, mas minha queda pelo Slipknot como banda, como entidade musical que desafia convenções mercadológicas e joga seu extremismo musical no rosto das massas, pesou. Além disso, as duas prováveis melhores canções do grupo, aquelas que me fizeram perder de vez qualquer preconceito com os caras, estão em Iowa: "Everything Ends" e "The Heretic Anthem". Agressividade beirando o death metal, entrega (a performance de Corey Taylor é assustadora), coesão e um surpreendente senso melódico me fisgaram e nunca mais me largaram. Mesmo o hit do álbum, "Left Behind", tem uma carga de extremismo totalmente incomum para uma obra que atingiu vendas superiores a 1 milhão de cópias. Não há muito espaço para respirar no decorrer do tracklist: quase todos os espaços são preenchidos, seja com as linhas técnicas do ótimo baterista Joey Jordison, com guitarras pouco convencionais, scratches e toda sorte de efeitos que complementam a massa sonora implacável que faz de Iowa um disco tão especial, cujo clima jamais foi reproduzido e que provavelmente não seria mesmo que os integrantes assim quisessem. Não faltam relatos de que a época em que este álbum foi concebido significou um período sombrio na carreira do Slipknot. Trata-se de minha obra favorita do grupo, apesar de Vol. 3: The Subliminal Verses (2004) e Slipknot (1999) chegarem perto.
Eudes: O Slipknot tem um mérito inegável: conseguiu sucesso mainstream ali onde tem um milhão de bandas sem rosto fazendo exatamente a mesma e chata coisa. Parabéns.
Fernando: Ouvindo o disco fiquei pensando na real necessidade daqueles percussionistas que a banda tem, fora se portarem como uma espécie de animadores de torcida durante os shows. Ainda mais tendo em sua formação um baterista tão fantástico quanto o baixinho Joey Jordison. Para meu gosto, as músicas se parecem muito entre si e até me perco quando uma começou ou outra terminou.
João Renato: O primeiro disco já mostrava que o Slipknot era uma banda totalmente diferente de tudo que se havia visto até então. Com mais experiência, o grupo pôde oferecer com mais clareza a barulheira (no bom sentido) a que se propunha. O clima caótico está presente em todos os momentos, fazendo com que o ouvinte sinta uma tensão no ar a cada momento. O fato de, mesmo com toda essa atmosfera, o álbum ainda ter sido um grande sucesso comercial, só aumenta os méritos de Corey Taylor e seus asseclas. O estado natal ficou orgulhoso.
Leonardo: Ainda mais pesado e insano que seu antecessor, o segundo disco do Slipknot dá sequência ao apocalipse em forma de música executado pelo grupo. As canções são ainda mais extremas e doentias, e em alguns momentos fica até difícil identificar o que está acontecendo durante a audição. Mas funciona, e algumas músicas acabam se destacando, como a ótima "The Heretic Anthem". Não é o tipo de música que eu escuto a qualquer hora, mas justifica o hype que a banda exerce hoje em dia.
Mairon: Quando o primeiro álbum do grupo figurou na lista dos dez melhores de 1999, eu não chiei muito. O mesmo vai acontecer desta feita. Iowa é melhor que Slipknot, sem dúvidas, principalmente porque os norte-americanos conseguiram casar com mais precisão o peso com os eletrônicos. A paulada "People = Shit" é para deixar qualquer um enlouquecido pela casa, e também temos muito o que pular em "My Plague", "Gently", "Everything Ends" e "Skin Ticket". O disco todo é uma pedrada sem dó, e talvez seja o melhor que o grupo lançou, se não fosse a enrolação sem fundamento da faixa-título (15 minutos para dar sono). Individualmente, a performance de #1 (Joey Jordison) é um absurdo de bom.
Ulisses: Trazendo uma agressividade maior e mais focada, Iowa tem uma sonoridade mais voltada ao death metal, deixando-o ainda mais pesado que o anterior, embora eu ainda prefira bem mais a estreia. As faixas que imediatamente atraíram minha adoração na época em que conheci o disco foram "People = Shit", "The Heretic Anthem" e "Left Behind" (ainda tenho o videoclipe desta última perfeitamente gravado na mente!). Com uma audição mais cuidadosa, o restante do tracklist revela-se como sendo também digno de nota, fundamentando mais um álbum impecável.
Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho (58 pontos)
Alexandre: Tenho sentimentos contraditórios a respeito da banda. Para começar, não é um conjunto que me motivou até hoje a fazer um garimpo em sua discografia. Reconheço, no entanto, letras bem acima da média, bons arranjos que trazem instrumentos de sopro (destaco a faixa "Cadê Teu Suín-?" nesse ponto) ou orquestrações colocados em cima de uma base de guitarra pouco óbvia também. Incorporam-se a seu favor elementos puramente brasileiros, como samba e Jovem Guarda, dentro de uma mistura que é uma verdadeira salada de gêneros, usando flautas, banjos, gaitas, acordeons, sem dúvida uma busca por certo requinte musical. Quem sabe essa escolha me faz pensar em conhecê-los melhor? É o tal indie ou rock alternativo. Uma característica de bandas deste estilo é entrar nas lojas de instrumentos e escolherem as guitarras mais feias que existirem. Basta ver festivais como o Lollapalooza pra comprovar. Eles me lembram da banda sueca Cardigans, queconheci um pouco melhor no fim dos anos 1990. Gosto, no entanto, mais da voz de Nina Persson do que de Marcelo Camelo. A de Camelo tem um vibrato chato, mas que não me incomoda a ponto de depreciar o trabalho, algo que vi em vários álbuns desta lista. Gostaria mais de ouvir a voz de Rodrigo Amarante, para fazer uma contraposição maior com Camelo. Saúdo-os também por terem conseguido formar um base de fãs em uma época em que a música ouvida em nosso país era de péssima qualidade. Não destaco alguma música em particular, mas considero uma boa escolha dentro de um ano fraco.
André: E não é que conseguiram emplacar o Los Hermanos? O Mairovsky deve estar se estrebuchando de felicidade. E cá estou eu... à noite... passando das dez horas... escutando este disco em baixo volume para ninguém mais ouvir... a faixa “Retrato pra Iaiá” tocando e fico imaginando Marcelo Camelo usando uma boina, uma bermuda xadrez, um sapato sem meia e uma camisa gola V cantando com a cabecinha de lado e fazendo biquinhos para uma plateia de universitários que acabaram de matar as duas últimas aulas de sexta-feira.
Bernardo: O auge criativo dos cariocas, com um conceito guia fechado e que rende belos resultados, como a faixa-título, a sofrida "Sentimental", a criativa "Cadê Teu Suin-?" e a beleza pungente de "Veja Bem, Meu Bem". Disco bem acima da média, no qual Camelo e Amarante se mostram compositores maduros. Uma pena que ficariam tão encantados consigo mesmos que Ventura (2003) e Quatro (2005) foram álbuns cada vez mais insossos.
Daniel: Isso é zoeira, só pode. Essa porcaria de banda não serve nem para uma coletânea de submundo pop nacional. Isso não é um site de rock??? Deviam se envergonhar!!
Davi: Este é um disco que me surpreendeu na época. Não havia ficado nem um pouco empolgado com seu disco de estreia. Mas neste vieram com algo diferente. Os músicos saíram daquela onda de hardcore cucaracha de araque e trouxeram uma influencia gritante da MPB e do samba para dentro do seu pop/rock. Algo que é muito mais a cara dos músicos. Como tudo que é honesto, funcionou que é uma beleza. “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, “A Flor”, “Sentimental”, “Deixa Estar” e “Fingi na Hora Rir” são tiros certeiros. Canções extremamente bem desenvolvidas. Tanto nas letras, quanto nos arranjos. “Casa Pré-Fabricada” é lindíssima, mas confesso que prefiro a versão intimista da Maria Rita. De todo modo, um dos últimos grandes discos do rock nacional.
Diogo: Complicadíssimo me ater apenas ao aspecto musical de um disco de uma banda como essa, que agrega tantas características que rejeito tanto intra quanto extramusicalmente. Tendo cursado Jornalismo, meio em que o Los Hermanos tem um status quase messiânico entre o corpo discente, travei contato com um verdadeiro culto com raros precedentes, que até faz com que eu encare com mais simpatia o ato de saudar a mandioca e comungá-la com o milho. Essa cruza de MPB oficialesca com aquilo que se convencionou chamar indie rock é algo que normalmente não consigo aturar por mais que um minuto, então escutar Bloco do Eu Sozinho de cabo a rabo foi uma experiência torturante. Inclusive, aproveitei um momento sozinho em casa para isso e coloquei um volume mais baixo que o habitual. Resumindo: se "Todo Carnaval Tem Seu Fim" é a menos pior, imaginem o que o resto do disco reserva...
Eudes: Não tendo nada a dizer de novo, reproduzo textículo que escrevi sob o impacto da audição do disco quando de seu lançamento: "Alguém já disse que o rock nacional deste início de milênio já tem seu "Sgt. Pepper's". Discordo. Ele já tem o seu "Álbum Branco", se é para ficarmos no surrado paradigma Beatle. De qualquer forma, se trata do mesmo disco: Bloco do Eu Sozinho, do Los Hermanos. Digo "Álbum Branco", porque não se trata, como "Pepper's", de um experimento, mas da incorporação orgânica, sob a boa e velha forma de canção, de experiências diversas. Ou seja, não tem nada daquelas chateações do tipo "boas idéias, música ruim", pois parafraseando Mallarmé, música se faz com sons, não com ideias. Em Bloco, todas as idéias estão transcritas em forma de som, tão bem resolvidas e integradas às canções, tão organicamente parte delas que a gente nem nota quantas inovações aparecem ali. Ou seja, é puro deleite. Fala-se muito em fusão do rock com a música brasileira. Aí o sujeito toca uma guitarra com distorção e põe ao fundo o Carlinhos Brown. Você sabe onde se funde rock e música nativa neste Bloco? Nas canções mesmo. Todas movidas a poderosas guitarras, conduzidas por lindos arranjos de sopro deste novo gênio da MPB, Rodrigo Amarante, e com melodias extraídas diretamente do incosciente coletivo musical brasileiro. A natureza melódica das canções são de uma brasilidade reconhecível em segundos de execução. Tudo isso sem abrir mão do inusitado, da surpresa, dos elementos escondidos só apreciáveis em seguidas audições. Uma coisa me ocorreu enquanto ouvia o disco: como a dissonância, tão brasileira, é sempre capaz de surpreender o ouvinte. A música dos Hermanos é uma ode à dissonância. Sofisticação a serviço do mais desbragado romantismo. É incrível como estas canções venham passando batidas no rádio pátrio. Tenho certeza que o povo adoraria. Só para citar alguns exemplos: a inusitada e linda "Retrato de Iaiá", o rockão romântico "A Flor", excelente onde "Anna Júlia" já era legal, assim como "Sentimental", que vai no mesmo caminho. Tem, claro, bobagens ainda com um ranço de vanguardismo, como "Cadê o Suin-?", um jogo de palavras com pretensões buarquianas, mas é da juventude. O disco fecha com o hardcore "Tão Sozinho", que Roberto teria composto se tivesse nascido uns 30 anos depois, e com a maravilhosamente lírica "Adeus Você"." P.s.: Muitos anos depois do texto: Mas não culpem a banda pela onda de cultivadores do estilo! Da desafinada Malu Magalhães a um sujeito sem graça que vi esta semana singelamente chamado Cícero. Eu também não aguento mais essas baladinhas pop, sem medula e cantadas por gente desafinada...
Fernando: Quando tocava “Anna Júlia” em loop infinito em todo lugar eu já achava a banda chata, mas prefiro “Anna Júlia” por 50 minutos do que aguentar toda a choradeira e a dor de cotovelo do Bloco do Eu Sozinho. Pra não dizer que achei tudo ruim, os metais em algumas faixas são bem colocados.
João Renato: Respirei fundo antes de colocar minha opinião. Não vou disparar impropérios ou fazer críticas infundadas, até porque não é meu estilo. Mas que essa banda é chata demais, não há dúvidas. Chega a dar agonia.
Leonardo: O primeiro disco já tinha sido ruim. O segundo, Bloco do Eu Sozinho, foi ainda pior. O grupo carioca tirou o pouco de rock que seu som tinha e apostou em uma roupagem mais melancólica, com influência de samba, chorinho e até de marchinhas de carnaval. E as letras ficaram ainda mais depressivas, com um ar de intelectualidade irritante. Dificil de ouvir até o fim...
Mairon: Prometo que tentarei ser breve. Este disco tem uma história fabulosa. O grupo de "Anna Júlia" revoltou-se contra imprensa, os fãs da canção, a gravadora e eles mesmos. A saída do baixista Patrick Laplan obrigou o grupo a se reformular, e, como um quarteto, começar uma nova fase. Os fãs do primeiro álbum esperavam ansiosamente mais pancadaria, e os fãs de "Anna Júlia" e "Primavera" aguardavam por mais um hit sonoro falando de amor. A imprensa aguardava mais uma canção que colocasse os cariocas nas paradas. Nada disso aparece em Bloco do Eu Sozinho, ou melhor, aparece isso e muito mais. O álbum começa com duas pedradas, "Todo Carnaval Tem Seu Fim" e "A Flor", essa última concebida nos tempos de Los Hermanos, mas que só foi ter sua letra concluída antes das gravações do Bloco – o que para quem acompanhava a banda na época foi uma surpresa, pois nós não sabíamos o final da história. Depois delas, começa uma sessão incrível de canções diferenciadas, mostrando que o Los Hermanos ganhava mais exuberância e talento com os vocais e as letras de Rodrigo Amarante. A sua alegria no pseudo-ska "Retrato pra Iaiá" deixou os fãs xiitas do hardcore antigo da banda de cabelos em pé, e a turminha de "Anna Júlia" ficou boiando. Mas havia mais de onde saíram essas obras de Amarante, seja no fascinante jazz cabaret de "Cher Antoine", cantado em francês, ou na faixa de maior sucesso do disco, a lindíssima "Sentimental", entrega total de Amarante para aquela que durante muito tempo foi considerada – justamente – a melhor canção do quarteto. Camelo não fica atrás, empregando um samba jazz na arrepiante "Assim Será", interpretando a complicada e genial letra do brazilian jazz "Cadê Teu Suin-?" como nem Chico Buarque conseguiria e arrasando corações nas belas "Adeus Você", contando com um arranjo de cordas, "Deixe Estar", outro jazz rock apimentado com naipe de metais, e que abre espaço para a valsa romântica "Mais Uma Canção". Outro que ganhou espaço foi Medina, que coloca seus teclados com propriedade em "Casa Pré-Fabricada", peça singular com destaque também para o talento de Barba. "Tão Sozinho", outra concebida nos tempos pré-primeiro álbum, foi eleita pelos fãs do hardcore de tal disco como a melhor, e é uma paulada impressionante. "Fingi na Hora Rir" ganhou um clipe perfeito para uma música no mínimo espetacular. Em Bloco do Eu Sozinho, o grupo deixou de lado as canções com letras descornadas – no geral – e mostrou que eram diferenciados também nesse quesito no cenário musical, com uma faixa que, para mim, tem a melhor letra da década de 2000, "Veja Bem Meu Bem" – será que ela morreu? Vale lembrar que a edição original virou raridade, e que a mesma foi totalmente elaborada em papel reciclado. Foi um disco chocante na época. Muita gente torceu o nariz, mas hoje, a presença dele nesta lista, tomara Deus entre o top 3, só faz jus a um dos melhores discos nacionais da história. A revolução sonora da banda, o burburinho da imprensa que azedou para o LP, os fãs de "Anna Júlia" chocados com a nova sonoridade, os fãs de "Pierrot" apavorados com o que saía das caixas de som, uma briga com todo mundo que culminou em um disco espetacular, este é o resumo da obra.
Ulisses: Nunca curti o "Loser Manos". Saindo daquela mistura de hardcore e ska da estreia para um combo de alternativo, indie rock e MPB eu curto menos ainda. Como obra musical, é chatíssimo. Como sonífero, é excelente.
Angra - Rebirth (51 pontos)
Alexandre: O primeiro álbum após a saída de Andre Matos (e também Luis Mariutti e Ricardo Confessori) tem um quê de desafio pra lá de superado, pois além de ser digno da carreira da banda, manteve as vendagens em alta (aliás, é o álbum mais vendido do grupo) e inaugurou com categoria a segunda fase do Angra. Os novos membros foram escolhidos de forma meticulosa e muito acertada. Uma ótima cozinha (Aquiles Priester e Felipe Andreolli) e um cantor que, naquele momento, conseguiu superar a maior dúvida, visto não só o vocal desafiador de Matos, mas também seu carisma. Edu Falaschi conseguiu manter o nível e estilo predominante da banda, embora tenha um vocal ligeiramente mais grave e rasgado. Essa pequena diferença, no meu entender, veio a trazer consequências na sequência da carreira do vocalista no Angra, mas aqui tudo são flores. O álbum tem ao menos dois clássicos inquestionáveis, que fazem menção ao novo momento da banda ("Nova Era" e "Rebirth"). Mas, além disso, há outras ótimas faixas que mostram uma veia ligeiramente mais progressiva a se juntar ao estilo mais melódico do conjunto. "Acid Rain" e "Judgment Day" têm algumas frases que lembram o Dream Theater, por exemplo, mas sem perder a característica principal do grupo brasileiro. Outras faixas remetem a estilos consagrados pelo próprio Angra: "Running Alone" e "Visions Prelude" lembram "Evil Warning" e "Lasting Child", de Angels Cry (1993), ou seja, colocadas em sequências semelhantes que fecham os álbuns aqui comparados. Vejo Rebirth como um disco forte e com qualidade mais do que suficiente para manter a banda com uma das favoritas do gênero em nosso país. Aqui a escolha dos consultores é pra lá de merecida.
André: Quebra pau nos bastidores, três integrantes importantes saindo e formando o Shaman (que também é excelente), Andreoli, Priester e Falaschito chegaram e logo lançaram meu segundo disco favorito do Angra (o primeiro com certeza também será eleito, daqui a três meses). Embora muita gente critique, para mim, essa sempre foi a minha formação favorita deles. Temos aqui a ótima “Acid Rain”, já começando de um belo coral, e depois um grandioso trabalho de guitarras de Kiko e Rafael; a lindíssima “Heroes of Sand”, um verdadeiro clássico a ser cantado a plenos pulmões, além de “Rebirth”, com um calmo violão junto à serenidade vocal de Falaschi, que, após o peso das guitarras, finaliza de maneira tranquila, mantendo a ideia original da canção. Um álbum fantástico do início ao fim. Incrível como conseguiram lançar algo ainda melhor poucos anos depois.
Bernardo: Para não ser rabugento, digo que a faixa-título é uma boa canção. De resto, tão chato quanto era com o vocalista anterior.
Daniel: É o único disco do angra sem Andre Matos do qual gosto. Essa fase, que foi um recomeço, parecia boa. Hoje em dia, vendo tudo o que aconteceu, a banda acabou para mim depois dessa tentativa.
Davi: Álbum de estreia de Edu Falaschi no Angra. Na época, já conhecia o rapaz por conta do seu trabalho no Symbols e tinha dúvidas se era a escolha correta para o cargo, uma vez que ele não tinha a mesma extensão vocal de Andre Matos. Mas, verdade seja dita, gostei do trabalho dele com os garotos. Rebirth e Temple of Shadows (2004) são os dois últimos discos que considero realmente fortes na discografia do grupo. Rebirth é extremamente honesto. Justamente por ser o primeiro de uma nova fase, os músicos optaram por não mudar muito o conceito da banda. Continuavam apostando no seu power metal com influências de música brasileira. O disco é extremamente forte e venceu bem a prova do tempo. Tirando “Judgement Day”, que sempre achei sem graça, o resto do disco é perfeito! Vergonhosamente, esqueci dele na hora de montar minha lista.
Diogo: Se esta indicação me surpreende? Não, nem um pouco. Se concordo com ela? Menos ainda. Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt romperam com Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori, mas não romperam nem uma vírgula com o som que havia consagrado o grupo. Normalmente isso não seria um problema, mas em Rebirth a dupla apostou tanto em uma compilação daquilo que havia construído a reputação do Angra que quase tudo acaba soando meio forçado. Inclusive, em se tratando de várias faixas, é possível estabelecer uma conexão com canções do passado do grupo. A dupla introdutória "In Excelsis/Nova Era" remete imediatamente a "Unfinished Allegro/Carry On", de Angels Cry. A música até é legal, mas não mais que isso. "Unholy Wars" é uma tentativa bem explícita de fazer algo na linha de "Carolina IV", de Holy Land (1996). "Running Alone" e sua introdução bombástica traz de imediato à memória "Evil Warning" (Angels Cry), enquanto "Visions Prelude" grita "Lasting Child" (Angels Cry). Outras faixas até trazem elementos interessantes, como os refrãos de "Millennium Sun", "Acid Rain" e da faixa-título, e "Judgment Day" chegou a ser eleita minha favorita na época em que conheci o álbum, mas mesmo aquilo que há de bom em Rebirth acabou empalidecendo com o passar dos anos. Jogar seguro rendeu frutos ao Angra; o disco foi bem sucedido e a banda fez jus ao seu título, saindo da transição ainda mais forte. Só que aqui é o lugar para emitir minha opinião a respeito do aspecto musical, não sobre o êxito comercial, então está dado o recado.
Eudes: De boa, não vou mais perder tempo falando o que já falei nas recorrentes vezes que o Angra apareceu nesta série... Cansei!
Fernando: Foi um choque a debandada do Angra. “Como assim o Andre Matos saiu da banda dele?” Era esse o sentimento que tínhamos quando isso aconteceu. Lembrando que nem todos sabiam como havia sido montado o grupo, com a participação de empresários. Entendíamos que Andre Matos, nome mais conhecido até então, é que havia arregimentado os outros músicos, por isso tratávamos o Angra como a banda nova dele. Porém, os músicos que entraram deram conta do recado e gravadram outro clássico do metal nacional. Não à toa existem muitos fãs do Angra que consideram a fase com Edu Falaschi melhor que aquela com Andre.
João Renato: A mudança de mais da metade da formação fez com que o Angra não arriscasse muito em sua nova apresentação ao mundo. Rebirth é redondinho, sem maiores experimentos ou surpresas. Mesmo assim, trata-se de um ótimo trabalho, mostrando que ainda havia o que ser explorado no grupo. Se é melhor ou pior que o que veio antes, é uma questão pessoal. Mas o fato é que ainda havia relevância e força no nome que literalmente renasceu, após ser dado como acabado por uma parte dos fãs.
Leonardo: Bom recomeço do Angra. Deixando os regionalismos de lado, a banda investiu em uma sonoridade mais próxima à do seu disco de estreia, obtendo resultados bastante positivos. Até o desempenho do então novo vocalista, Edu Falaschi, é bem acima da média, com um tom mais grave que seu antecessor, mas bastante agradável. Das pesadas "Nova Era" e "Acid Rain" às baladas "Millenium Sun" e "Heroes of Sand", o disco apresenta ótimos riffs e solos de guitarra, e refrãos fortes e marcantes. Um dos melhores trabalhos da carreira da banda.
Mairon: Não sou um grande fã do Angra, mas admiro os discos com André Matos. Depois da reformulação geral que ocorreu, com a entrada do chatérrimo Edu Falaschi para os vocais, Felipe Andreoli para o baixo e Aquiles Priester para a bateria (os últimos substituindo Luis Mariutti e Ricardo Confessori, respectivamente), pensava-se que o grupo não iria manter o que havia feito antes. Rebirth não chega a ser um renascimento do Angra, já que o grupo conseguiu sim, fazer o que havia feito antes, ganhando bastante com entrada de Priester, um animal no seu kit, principalmente na abertura "Nova Era", mas é só o início que deixa essa sensação. O problema é que, com o decorrer do disco, as canções passam sem deixar nem um momento de "oh, que legal!" nos ouvidos. Pior, eles conseguem destruir músicas facilmente. Afinal, o que é aquela tentativa de soar inovador em "Unholy Wars", misturando elementos "brasileiros" com o rock pesado. E aturar os vocais e percussão em "Acid Rain", as cordas mal encaixadas na inaguentável "Heroes of Sand", os corais na interminável "Running Alone" e a sonolência de "Visions Prelude" e da faixa-título? Descabida e fora de contexto esta bomba entre os dez mais.
Ulisses: Não havia título melhor para o disco do Angra após a debandada que ocorreu com a saída de Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori. Só o fato de o grupo ter tido a coragem de continuar é um milagre, o que foi possível com a entrada de Aquiles Priester, Felipe Andreoli e Edu Falaschi. O Angra revivido traz uma pegada um pouco mais voltada pro power metal puro mesmo, com mais "punch", mas sem deixar de lado as influências da musicalidade brasileira e do progressivo, algo facilmente notado nas ótimas "Unholy Wars" e "Judgement Day". As pedradas mais diretas estão no hit de abertura, "Nova Era", e em "Running Alone", ambas com ótimos refrãos. Material mais diverso e acessível se encontra na faixa-título, na magnífica "Heroes of Sand" e na finaleira "Visions Prelude", uma adaptação da "Op. 24" de Chopin, que encerra o disco de forma bem melancólica. Minha faixa preferida, entretanto, é a explosiva "Acid Rain", que traz um refrão fantástico, introdução com coro em latim e solos grandiosos precedidos por uma ponte exótica de teclado.
Kreator - Violent Revolution (41 pontos)
Alexandre: Depois de estar em São Paulo e ver e ouvir Bruce Dickinson e Joey Belladonna dias atrás é duro escrever isso, mas novamente ouço um CD encaixadinho, com competente instrumental cujo vocal põe tudo a perder. Sei que é uma questão de estilo, mas eu sinto saudade do tempo em que alguns dos consultores reclamavam que a lista tinha muito metal. Esta lista de 2001 pode ser considerada a da consultoria do thrash/death Metal. Pelo menos em boa parte. Existe este blog? Vocês copiaram para cá? A fim de fugir um pouco do óbvio, preciso ressaltar que gostei de alguns dos solos, como o de "Slave Machinery", e trechos instrumentais, como o final de "System Decay". Também considero que este Violent Revolution traz canções que, se cantadas, seriam bem interessantes. Exemplos não faltam: "Servant in Heaven - King in Hell" e "Second Awakening" são as que se destacam, juntamente com a faixa-título. Mas para mim falta vocalista. Uma pena.
André: Depois de um período turbulento para o thrash noventista, o início dos anos 2000 trouxe as velhas bandas oitentistas voltando a fazer grandes discos. Até considero Endorama (1999) um ótimo álbum, com uma pegada mais industrial, mas o Kreator é e sempre será uma banda thrash. Vá ser feliz batendo cabeça com “Slave Machinery” e “System Decay”. Por sinal, estou curioso para conferir se houve votos para M-16, do Sodom, e ver se tentaram mesmo emplacar os três principais nomes do thrash alemão no mesmo ano.
Bernardo: A mea culpa do Kreator, talvez um pouco mais digna do que as outras, com belas pancadas como "All of the Same Blood" e a faixa-título.
Daniel: Gosto da banda, mas não me recordo de ter ouvido este álbum. Vou atrás se é tão bom assim. O Kreator tem uma levada thrash nervosa que me agrada!
Davi: Violent Revolution foi o álbum que trouxe o Kreator de volta ao seu som tradicional. Os caras sempre foram uma banda interessante e não fazem feio aqui. Som pesado, cadenciado, baterista veloz, trabalho vocal bacana, bons riffs. É um bom disco, mas eles só voltaram a me empolgar de verdade no disco seguinte, o (ótimo) Enemy of God (2005)
Diogo: Não pertenço ao time que desaprova as experiências que o Kreator realizou nos anos 1990, mas devo admitir que o fator mais importante para determinar a qualidade de um disco, que é a quantidade de músicas realmente boas no tracklist, teve uma queda bem perceptível. Digo isso pois Violent Revolution não merece esta citação apenas por honrar (e muito) aquela história toda de "volta às raízes", merece pois é rico em faixas muito boas, bem compostas, bem arranjadas, bem tocadas e bem produzidas. A entrada de Sami Yli Sirniö fez bem ao grupo, trazendo qualidade técnica e uma boa dose do som de Gotemburgo para esses alemães de Essen, injetando mais melodia no thrash metal do Kreator, algo que caiu muito bem. O disco tem uma série de pontos altos, de tal maneira que a curva de qualidade nunca chega a cair abaixo da média, longe disso. A sequência inicial, formada por "Reconquering the Throne", "The Patriarch"/"Violent Revolution", "All of the Same Blood" e "Servant in Heaven - King in Hell" é especialmente viciante. Sempre considerei o thrash alemão muito menos prolífico que o norte-americano em exibir grandes instrumentistas, inclusive duplas de guitarristas, mas o time formado por Mille Petrozza e Sami azeitou de tal maneira que fico muito satisfeito de não ter sido mais desfeito. Estou ouvindo o álbum aqui e até lamentando por não tê-lo colocado mais acima em minha lista.
Eudes: Turma old school que pelo menos pode dizer que esteve na origem do negócio. Mas o disco é mais do mesmo na discografia da banda.
Fernando: A década de 1990 foi cruel com o Kreator ou o Kreator foi cruel com a década de 1990? Se eles não haviam tido nenhum deslize até Coma of Souls (1990), a partir de Renewal (1992) os alemães entraram numas de experimentações que deixaram os fãs antigos decepcionados. Não acho que foi uma década de toda perdida. Em todos os discos temos músicas legais e Endorama é muito bom, apesar dos detratores! Sendo assim, eles resolveram voltar às origens e Violent Revolution é o início de uma leva de excelentes discos de thrash metal que resgatou a credibilidade do grupo e conseguiu novos fãs.
João Renato: Após alguns experimentos – que, ao contrário de boa parte dos fãs, não me desagradaram por completo –, o Kreator voltou ao que sabia fazer melhor: thrash metal agressivo, com melodias intrincadas. Porém, engana-se quem pensa que Mille Petrozza e companhia resgataram sua sonoridade oitentista. A banda realmente buscou elementos dessa época, mas também soube abrir os ouvidos para as novidades, fazendo com que Violent Revolution soasse como um disco de “retorno às raízes” e, ao mesmo tempo, ficasse em uma posição confortável entre as novidades do estilo. Pancada atrás de pancada, em um dos melhores trabalhos de toda a discografia dos germânicos.
Leonardo: Depois de adicionar elementos industriais e góticos à sua sonoridade nos discos anteriores, o Kreator promoveu uma espécie de volta às raízes em Violent Revolution. A capa remete diretamente a Coma of Souls, um dos maiores clássicos da carreira da banda, e títulos como "Reconquering the Throne" deixam claro que o grupo almejava recuperar o seu lugar no topo do thrash metal alemão. O resultado não poderia ser melhor. Deixando as influências anteriores de lado e voltando a investir no thrash metal puro, ainda que um pouco mais melódico que nos anos 1980, a banda alemã lançou um dos melhores discos da sua carreira. Os riffs continuavam certeiros, assim como o vocal de Mille Petrozza, mas os solos do novo guitarrista Sami Yli-Sirniö, mais melodiosos, deram uma nova dimensão ao som da banda. Obrigatório para fãs de thrash metal, e um dos melhores lançamentos do estilo nesse século.
Mairon: Thrash metal de qualidade, feito por veteranos no estilo. O décimo álbum dos alemães é de uma magnificência para quem gosta de um metal pesado e bem tocado, e isso é comprovado na bela faixa de abertura, "Reconquering the Throne", na qual Jürgen Reil faz misérias na bateria, ou na rifferama de "Second Awakening", fácil uma das faixas mais entusiásticas de empunhar uma air guitar. Os maiores destaques vão para duas faixas longas: a belíssima "All of the Same Blood", seis minutos de uma intrincação thrash de primeira qualidade; a belezura "Replicas of Life", com um show de guitarras por Mille Petroza e Sami Yli-Sirniö. Conheço pouco de Kreator, e vejo o pessoal reclamando bastante de Endorama, o anterior a Violent Revolution, mas, sinceramente, isso pouco importa. Apesar do vocal ser um pouco cansativo, é um bom álbum, não sei se para melhor de 2001, mas valeu a audição.
Ulisses: Disco sólido, várias boas músicas, e só. Os álbuns do Kreator não cheiram e nem fedem, apenas passam que nem vento. Julgo exagerada a entrada deste Violent Revolution.
Rammstein - Mutter (41 pontos)
Alexandre: Vi o Rammstein abrindo para o Kiss em 1999, em Interlagos. Não gostei do que vi e acho que boa parte da plateia também, pois eles foram muito vaiados, pelo menos foi a reação que percebi onde estava. Ouvir este álbum seria uma segunda oportunidade de conhecer e quem sabe mudar o conceito que tinha sobre o grupo, mas acabou não acontecendo. Cantar em alemão (entre outras línguas) para mim também atrapalha, apesar de não ter preconceito com o idioma e nem achar a voz de Till Lindemann ruim. Acho o estilo meio monótono, principalmente quando ele vai pro “bate-estaca”, como na segunda faixa, "Links 2-3-4". O primeiro solo de guitarra, se não me engano, surge lá na nona música, "Rein Raus", e nem assim é grandes coisas. Quando a banda soa mais melódica eu gosto um pouco mais. É assim na faixa-título e também na abertura, com "Mein Herz Brennt" (e orquestração/riff à la "Kashmir", do Led Zeppelin). Mas, apesar de pouco mais de 45 minutos, o álbum me cansou. Não está entre os piores da lista, mas eu não o consideraria entre os dez de forma alguma.
André: Outra banda que sempre foi diferenciada. Suas letras recheadas de sarcasmo, uma aura de não se levar a sério e aquela pose de escrotidão sempre me fizeram admirá-los. Pena que demoram para lançar discos novos. Mas mesmo para os padrões já bem altos de devassidão no meio do rock, logo que surgiu, o Rammstein já conseguiu chocar uma grande quantidade de gente, principalmente com seus vídeos e sua atitude no palco. Conseguindo a façanha de alcançar fama mundial mesmo cantando a maior parte de suas canções em alemão, Mutter, apesar de não ter tantas faixas consideradas como “clássicas”, é como um todo o disco mais equilibrado em termos de qualidade. Misturando o industrial com uns climas épicos de teclado, como em “Sonne”, a bizarrice de “Ich Will” e muitas outras ridicularizando vários temas diferentes, temos mais uma amostra de que 2001 foi um grande ano para a música.
Bernardo: Rammstein em seu ápice, em um álbum que reparte peso, melodia e eletrônica em uma intensidade impressionante. Mutter é lírico e agressivo, familiar e radical: "Mein Herz Brennt" tem uma beleza singular, "Ich Will" conquista no primeiro segundo e "Feuer Frei!" traz meio mundo abaixo. Uma das bandas que provaram que, sendo música de qualidade, o idioma não é uma barreira.
Daniel: Não ouvi e não gostei. Tenho o mesmo interesse nessa banda do que em qualquer artista de rap.
Davi: Essa é uma banda que nunca me deu curiosidade em pegar um disco para ouvir, mesmo com o culto em torno dela. A razão é muito simples. Assisti uma apresentação deles em 1999, quando dividiram o palco com o Kiss no Brasil, e foi um dos shows mais chatos que já assisti. Escutei com a maior boa vontade do mundo, mas não me cativou. O instrumental deles é bacana. Pesadinho, uma pegada meio industrial (muita gente não gosta, mas curto algumas coisas nessa praia), mas acho o vocalista deles muito chato. Umas linhas vocais muito arrastadas, sonolentas, pau-molenga. E vamos ser honestos... “Links 2-3-4” deveria se chamar “Du Hast 2-3-4”. Igualzinho! Não curti.
Diogo: O Rammstein é a única banda a desafiar o Slipknot como a melhor formação surgida nos últimos 25 anos. Com uma discografia quase perfeita, seria um crime o fato desses alemães não aparecerem em nenhuma edição desta série. Rotulá-los apenas como "heavy metal industrial" é pouquíssimo para definir o som hipnótico produzido pelo sexteto e tão bem transposto para o formato ao vivo, impressionando multidões com um aparato teatral que casa perfeitamente com o tom debochado e irônico do grupo. Escolher meu disco favorito do Rammstein é muito complicado levando em consideração que cada um deles tem vários destaques, mas aponto Mutter pelo equilíbrio invejável faixa a faixa. Mesmo canções como "Rein Raus" e "Adios", que não me agradaram de cara, revelaram-se com o passar do tempo, nesse caso muito graças aos riffs de Richard Z. Kruspe e Paul Landers. E o que dizer da explosiva "Mein Herz Brennt", da marcial "Links 2-3-4", da melancólica faixa-título, da mastodôntica "Feuer Frei!" e da viciante "Ich Will"? Isso que nem mencionei "Sonne", forte candidata a ocupar a disputada vaga de melhor canção já criada pelo Rammstein. Mutter poderia ter aparecido no topo desta lista que o resultado seria justíssimo. Agora quero ver Reise Reise brigando com Vol. 3: The Subliminal Verses (Slipknot) pela posição mais alta na edição dedicada a 2004.
Eudes: Pós-punk metálico bem interessante. Bons herdeiros do Bauhaus. Um disco a ser conhecido, mas para entrar nos dez melhores do ano... Acho que não.
Fernando: Todo mundo que cita o Rammstein comenta sobre os shows de abertura para o Kiss na turnê de Psycho Circus (1998). Aquela apresentação também vai ficar marcada para sempre para mim. Não é todo dia que um vocalista literalmente pega fogo na frente do público. Mas, a exemplo do Slipknot, o Rammstein é sinônimo de um ótimo show, mas de músicas fracas quando ouvidas no disco.
João Renato: Eu já havia ficado bem confuso ao assistir o Rammstein abrindo para o Kiss, em Porto Alegre, no ano de 1999. A coisa só piorou com Mutter. Precisei de alguns anos distante para assimilar a proposta do grupo. Não é o tipo de som que ainda consigo escutar em qualquer situação. De certa forma, preciso “me preparar” para apertar o play. Porém, não dá para negar que Mutter, assim como todos os outros discos da banda, possui vida própria e transporta o ouvinte em um mundo que liberta seu inconsciente. E isso é de grande valor.
Leonardo: O som gótico e industrial do grupo alemão é divertido em vários momentos, e Mutter é sem dúvida alguma um de seus melhores trabalhos. Os riffs de guitarra são excelentes, assim como os climas criados com teclados e sintetizadores.
Mairon: O Rammstein sempre me foi uma banda que não consegui entender e gostar. Vi o grupo abrir o show do Kiss em 1999, e todo aquele espetáculo cênico me chocou negativamente. A música tinha seus momentos bons, mas outros – partes eletrônica – que não agradaram de jeito nenhum. Ouvir Mutter não me fez mudar a visão da banda, ou melhor, mudou para pior, sendo que "Sonne" quase me deu sono de tanta chatice. Achei o disco sonolento e sem nenhum tempero para me fazer gostar da banda. Por outro lado, gostei da inclusão de cordas em "Mein Herz Brennt", do ritmo de "Adios" e "Feuer Frei!" e dos riffs de "Zwitter". O principal mérito da banda é cantar em sua língua nativa, o que gera bons pontos para os alemães, mas acho injusta a entrada desse disco entre os melhores de 2001.
Ulisses: Não sou fã da banda, mas também não reclamo da presença deles aqui. Os alemães têm propensões teatrais, casando o heavy metal com elementos góticos, eletrônicos e clássicos, impressionando ao montar arranjos ora pesados, ora melódicos e melancólicos. O destaque vai para o vozeirão grave de Till Lindemann e para o tecladista Christian Lorenz, que se mostra versátil ao criar as atmosferas certas para cada composição. A fraca tríade "Zwitter", "Rein Raus" e "Adios" é o ponto baixo do disco, mas todas as outras faixas valem a audição, mesmo para quem não é chegado em metal industrial.
Destruction - The Antichrist (39 pontos)
Alexandre: Mais um álbum da série procura-se (e não se acha) um vocalista que canta, que, aliás, nesta lista de 2001, comparece em quase metade dos escolhidos. Desta vez, pouco familiarizado que sou com a carreira fonográfica do Destruction, percebi aqui alguma coisa que me lembrou o Slayer, embora o vocal seja mais agudo e tão ou mais gritado quanto. Como do chamado "Big Four" do thrash metal o Slayer é justamente aquela banda que eu não aprecio, novamente foi para o ralo a chance de gostar do Destruction. No mais, ouvi um instrumental correto com bastante agressividade, em que novamente destaco a bateria, normalmente um ponto focal do estilo. Mas basta Marcel começar a "cantar” para tudo ir para o brejo. A que menos desagradou foi "Nailed to the Cross", que tem um baixo bem proeminente.
André: Grande disco do Destruction. A discografia dos caras é bem numerosa, mas, no geral, conseguiram manter um alto nível em quase todos os seus lançamentos. Este é um dos melhores discos deles junto a D.E.V.O.L.U.T.I.O.N. (2008), que é o meu favorito dos alemães. É fácil bater cabeça com “Thrash 'Till Death” e “Dictators of Cruelty”. O som é furioso sem nem precisar de duas guitarras, como em alguns álbuns antigos.
Bernardo: Audível, mas cansativo.
Daniel: Tentei ouvir, mas o vocal me afasta da banda.
Davi: Já tinha lido muito sobre a banda, mas nunca havia ouvido um álbum por completo. Conhecia algumas músicas. Gostei muito! Sonoridade agressiva, bons arranjos, excelentes músicos. Incrível o peso que tiram com apenas três músicos em cena. Thrash metal de primeira. Gostei do vocal também. Agressivo, mas inteligível. Se bem que tem algumas horas que jurava que era uma mina, parecia a Fernanda Lira (kkkkkkkkkkkkk) Brincadeiras à parte, achei o trabalho empolgante. Faixas de destaque: “Thrash 'Till Death”, “Dictators of Cruelty”, “Godfather of Slander” e “Let Your Mind Rot”.
Diogo: A banda já havia engrenado um retorno digno com All Hell Breaks Loose (2000), mas sem tanto brilho, fator que só foi aparecer de verdade neste The Antichrist. Inclusive, não é exagero comparar sua qualidade com a dos dois primeiros discos, pois há várias faixas inspiradas, mostrando Mike Sifringer como a boa maquininha de riffs que sempre, queiram os fãs de Schmier ou não admitir, foi o motor do grupo. Excetuando a óbvia evolução instrumental, músicas como "Thrash 'Till Death", "Nailed to the Cross", "Dictators of Cruelty", "Bullets from Hell" e "Godfather of Slander" poderiam ser encaixadas em Eternal Devastation (1986) e inclusive fariam bonito. Não citei The Antichrist em minha lista, mas poderia tranquilamente tê-lo feito. Talvez o aspecto que mais tenha pesado para que isso não ocorresse é a produção excessivamente saturada, com especial ênfase para o som de bateria, que não me agradou, especialmente a caixa, muito seca e metálica. Parece frescura, mas isso acaba tornando a audição bem mais cansativa, com menor tendência ao repeat.
Eudes: Depois de quase uma hora ouvindo o disco, me pergunto por que diabos não comentei só pela capa e pelo título? "Days of Confusion" até promete novidade, mas depois é aquela porradaria tediosa de sempre. Talvez devessse ter enchido a cara antes de começar.
Fernando: Este foi o primeiro disco que ouvi quando me interessei em conhecer o Destruction. Obviamente já sabia da existência da banda, conhecia a influência que tiveram no estilo e visual do Sepultura, mas nunca havia ouvido de fato. Creio que eles sejam, junto de Kreator e Sodom, as únicas bandas de thrash alemãs com carreiras que possam ser comparadas às norte-americanas. Com um instrumental brutal e letras na linha religião/guerra, o Destruction gravou um disco digno de ser posto junto aos dois primeiros. Com Destruction e Kreator nesta lista, só faltou M-16, do Sodom, para completar a trinca do thrash alemão.
João Renato: Conservadores podem discordar. Mas, para mim, este é o melhor disco de toda a carreira do Destruction, batendo, inclusive, os clássicos incontestáveis dos anos 1980. Poucas reuniões foram tão relevantes quanto a de Schmier e Mike, com seus vários bateristas. O trio de ferro alemão oferece aqui várias de suas melhores músicas, como a fantástica “Nailed to the Cross”, um dos grandes hinos de toda a carreira do grupo. Imperdível, referência da discografia!
Leonardo: Após lançar alguns discos extremamente esquisitos, com a formação totalmente desfigurada, o Destruction voltou a ser um trio, com a dupla de fundadores Schmier (baixo e vocal) e Mike (guitarra), além de um novo baterista, Sven. O primeiro disco com essa formação, All Hell Breaks Loose, não faz frente aos clássicos que a banda lançou nos anos 1980. Contudo, o segundo lançamento com esse line-up não deixou pedra sobre pedra. The Antichrist é pesado, moderno e acabou se tornando uma referência para as demais bandas de thrash metal no inicio dos anos 2000. Os riffs de guitarra são avassalores, como a dupla de abertura, "Thrash til Death" e "Nailed to the Cross" já deixam claro. A bateria também dá um show, com levadas criativas e viradas impressionantes. Tudo isso em uma produção fenomenal de Peter Tägtgren, pesada, moderna e com sujeira na medida certa. Um dos melhores discos de thrash do novo milênio.
Mairon: E mais metal. Cara, será que os consultores só ouvem isso? Bom, sobre o disco, achei ele legalzinho, e gostei de ouvir "Nailed to the Cross", "Creations of the Underworld", "Dictators of Cruelty" e "Let Your Mind Rot", mas não tenho mais saco para admirar rifferama, sujeira e vocal gritado/vomitado. Aliás, que vocal bem chato hein? Conseguiu destruir com "Whiplash", tsc tsc tsc. Quanta coisa boa fora do metal tinha em 2001, o progressivo crescendo no Japão, e me tiraram o Destruction de sei lá qual put@ que pariu? Por favor, a banda é boa, mas não entraria nem em uma lista de melhores discos de metal em 2001, quanto mais nesta aqui. Complicado.
Ulisses: Ouvir este disco fez eu me arrepender de não ter ido no show que eles fizeram aqui em Maceió no final de 2014. Thrash empolgante, bem tocado e, mais importante, memorável.
Arch Enemy - Wages of Sin (37 pontos)
Alexandre: O instrumental é muito bem feito, em alguns momentos mais acelerados, em outros midtempo, como na segunda faixa e um dos singles, "Burning Angel". O trabalho é recheado de ótimos solos e boas intervenções de bateria. Mas basta Angela Gossow se propor a cantar (???) para estragar qualquer boa impressão que eu tenha tido da banda, até porque se trata de um estilo (melodic death metal) que eu acho meio estranho, pois o vocal (???) não parece se encaixar com o restante. É realmente de estarrecer que seja uma mulher cantando (???) durante todo o álbum, mas estarrecer não significa ser bom. Aliás, muito pelo contrário, em minha opinião. É impressionante como sinto certo alívio quando não há vocal (???), como na ótima parte instrumental do meio de "Dead Bury Their Dead". Outro bom solo é o de "Behind the Smile", que me dá a nítida impressão de que seria uma ótima música caso alguém realmente a cantasse. Este eu também passo.
André: Gosto muito do Arch Enemy e esta estreia de Angela Gossow é muito boa. Seu vocal é um caso interessante: ela dá uma variada entre o gutural e o rasgado, mas depois de um tempo de costume, percebe-se que uma vocalista feminina tem toda uma diferença que a distingue dos demais vocalistas de death metal. Ela soa mais venenosa, como se uma cobra pudesse falar. No mais, há os irmãos Amott fazendo grandes riffs e uma performance excelente do baterista Daniel Erlandsson, definitivamente um dos melhores do instrumento dentro do estilo.
Bernardo: "Heart of Darkness", "The First Deadly Sin", "Enemy Within"... O primeiro álbum com a vocalista Angela Gossow segue o conceito oferecido desde o título, extraído de Romanos 6:23, "o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna". Todo voltado para questões espirituais, é bastante coerente, pesado e sombrio. Não o considero um álbum que mereça ficar entre os dez mais, mas é bom.
Daniel: Não gosto de vocais urrados. Instrumental nota 5 e vocal nota 1.
Davi: Grupo extremamente cultuado, mas nunca fui fã. Ok, a banda é pesada, o trabalho de guitarra é fantástico, o baterista é um absurdo, mas nunca curti o trabalho vocal de Angela Gossow. Este aqui é exatamente o primeiro disco que ela gravou com o grupo. Lembro que causou um auê danado na época, mas realmente não fazem minha cabeça. Respeito, mas não é para mim.
Diogo: O Arch Enemy é o típico caso que confirma que os músicos mais capacitados não são necessariamente os melhores. Michael Ammot é uma baita guitarrista, como já atestava em sua passagem pelo Carcass, muitos anos antes. Não seria errado afirmar, inclusive, que sua capacidade técnica é superior à de seu ex-companheiro na banda inglesa, Bill Steer. Só que Michael precisa comer muito, mas muito arenque em conserva se um dia quiser chegar perto da capacidade de Bill como compositor de canções cativantes, equilibrando extremismo e melodia com categoria. Quando Michael e seu irmão Christopher – junto a colegas gabaritadíssimos, especialmente o baterista Daniel Erlandsson – se puxam muito, sai coisa boa, como é o caso da faixa de abertura, "Enemy Within", colocando toda essa técnica a serviço de uma composição muito bem resolvida, com riffs certeiros em profusão, guitarra solo melódica do jeito que o estilo pede e um trabalho estupendo de Erlandsson, além dos vocais bem encaixados de Angela Gossow. Na real, na primeira metade do tracklist, a banda chega bem perto de oferecer um trabalho realmente marcante, como atestam "Ravenous" e "Dead Bury Their Dead". No restante, porém, há mostras de que não houve criatividade suficiente para segurar a atenção do ouvinte o tempo todo; ao menos é o que senti. Há bons momentos, como o solo de guitarra de "Shadows and Dust", mas não tanto para justificar todo o burburinho que ocorreu quando este álbum saiu, muito mais em função da surpresa pelos vocais de Angela. Mas vá, as qualidades são suficientes para que o disco seja digno de destaque.
Eudes: Ai, ai, não sei onde vocês acham essas bandas que parecem saídas todas da mesma chocadeira? Essa internet é uma praga mesmo! Fiquei mais assustado ao descobrir que tem uma edição especial do disco com uma hora e 15 minutos! Em tempo: apesar de parecido com zilhões de outros, até que o guitarrista toca bem!
Fernando: Eu nunca sei o que pensar quando lembro que o vocal dessa melhor fase do Arch Enemy é de uma mulher. De primeiro eu penso no esforço que ela deve fazer, já que para um homem que normalmente tem a voz mais grave já é difícil cantar assim, imagine para uma mulher. Daí me vem a hipotética imagem da primeira vez que eles foram para o ensaio e o quanto deve ter sido estranho para todo mundo no início. No geral, para os não informados não muda nada, já que o que ouvimos não entrega nada. O som do grupo não me agrada tanto quanto o de In Flames, At the Gates, Dimmu Borgir e outras bandas mais conhecidas do melodic death metal.
João Renato: A estreia de Angela Gossow elevou o Arch Enemy a outro patamar. Não apenas por seus vocais marcantes, mas por todo o novo contexto que trouxe às composições, que estavam mais trabalhadas, experimentando alternâncias melódicas e agregando texturas diferentes dos álbuns anteriores. É um prazer ouvir os irmãos Amott oferecendo guitarras que soavam atuais e, ao mesmo tempo, remetiam aos grandes tempos dos duos oitentistas nas seis cordas. Não há um ponto fraco no tracklist. Para mim, o melhor disco de 2001.
Leonardo: Depois de três excelentes discos com o vocalista Johan Liiva, o Arch Enemy promoveu uma mudança radical em sua formação: a entrada de uma mulher, Angela Gossow, assumindo os vocais do grupo. E o mais impressionante é que a voz da menina era ainda mais gutural que a do seu antecessor. O primeiro disco com a nova formação, Wages of Sin, não decepcionou. Os ótimos riffs de guitarra continuavam lá, assim como os solos e as melodias características da banda. Particularmente, sempre preferi o vocalista original do conjunto, mas as composições do álbum são tão fortes que a diferença passa despercebida. Escute "Burning Angel", "Ravenous" e "Web of Lies". O melodeath não fica muito melhor que isso.
Mairon: Vamos de metal na lista, porque o pessoal aqui é tudo metalúrgico. Rapaz, sério que esse vocal gutural é feito por uma mulher? Imagina acordar de manhã, agarradinho de conchinha com uma pitchulinha e ela te falando: "Amor, vai preparar o café" com essa voz de satã? Gostei do instrumental, bem diferente do que esperava. Apesar de não ter um destaque, já que achei o disco muito reto, com exceção do bonito dedilhado central em "Savage Messiah" e da vinheta instrumental "Snow Bound", foi uma experiência interessante ouvir o Arch Enemy, achando que somente homem sabia fazer gutural. Só que aturar esse tipo de voz da menina do "Exorcista" por mais de dez minutos não me convém mais. Espero não ouvir isso de novo.
Ulisses: Devido ao meu desinteresse pelo estilo, eu nunca tinha parado para ouvir a banda com atenção, mesmo tendo uma bruta duma mulher nos vocais. Este Wages of Sin é bastante sólido; apesar de começar a cansar um pouco lá pro final, é inegável que sua primeira metade é praticamente impecável, trazendo porradas como "Heart of Darkness", "Ravenous" e "Dead Bury Their Dead". Em tempo, a performance do baterista Daniel Erlandsson também me agradou bastante.
Ark - Burn the Sun (35 pontos)
Alexandre: Joia rara desta lista! Sendo egoísta, é a principal motivação minha em estar aqui entre os participantes desta série da Consultoria. O aprendizado, a chance de ouvir algo novo e bom indicado por este grupo de profundos conhecedores não tem preço. Valeu ouvir cada álbum que desanquei em 2001 para conhecer este Ark. Se conhecesse antes este Burn the Sun, ele estaria entre os três melhores colcoados da minha lista. Talvez em primeiro. É o melhor álbum da lista final em minha opinião, disparado. Conhecia Jorn Lande da sua fase como “cover” de Davis Coverdale no projeto The Snakes, de Bernie Marsden e Micky Moody, e, apesar do indisfarçável oportunismo da ideia, gosto bastante do álbum Once Bitten, de 1998. Mas aqui ele me surpreendeu em conseguir com maestria colocar-se como um cantor que desenha linhas difíceis dentro de um projeto nada óbvio, como esse prog metal do Ark. A banda é excelente, as canções quase todas me agradaram, exceto talvez "Absolute Zero", cujo resultado final me soou um pouco estranho. Meus destaques vão para "Heal the Waters", "Missing You" e "Waking Hour". Até a mais pop (com acentos latinos) "Just a Little" acabou por me agradar, em face da extrema categoria dos músicos (em especial de Tore Ostby e Randy Coven), que esbanjam talento em suas posições. Uma pérola da lista final, parabéns aos consultores que o elegeram. Já estou comprando o CD.
André: Não tenho como negar que meio que senti a passagem do tempo quando fui ouvir o disco. Já tive uma estima muito maior pelo Ark do que desta vez que o ouvi. Estranho que isso tende a acontecer comigo com várias outras bandas de metal progressivo, das quais costumo gostar dos discos recentes muito mais do que dos antigos. “Resurrection” e “I Bleed” continuam legais e sigo gostando de Jorn Lande como um grande vocalista que sempre foi, mas a audição de hoje não foi tão boa quanto há quatro anos, por exemplo. Enfim, sei lá.
Bernardo: Enquanto começo a ouvir, uma resenha em inglês no RateYourMusic definiu este álbum como "prog de paizão". Não poderia concordar mais. A inspiração de flamenco em "Just a Little" é interessante, contudo.
Daniel: Banda pesada e técnica, porém exageram nessa técnica para meu gosto pessoal. Jorn Lande dá um show à parte!
Davi: Caralho! Fazia tempo que não ouvia isso. Lembro que peguei para escutar por conta da participação de Jorn Lande, que é um vocalista que sempre gostei. A presença de palco dele não é das melhores, mas gosto do trabalho vocal que ele realiza. Uma mistura de David Coverdale com Ronnie James Dio. Trabalho pesado. Hard rock com um pé no prog. Como era de se esperar, Jorn rouba a cena em diversos momentos. Tore Ostby (Conception) e John Macaluso (James LaBrie) também se destacam. Não acho o álbum absurdo, mas sem dúvidas é um bom disco. Vale uma checada!
Diogo: O Ark foi uma das melhores surpresas de sua época. Não chegou a causar rebuliço, mas chamou atenção de muita gente com seu som difícil de rotular, quase como um prog metal que sabe se divertir, sério mas sem se levar tão a sério, além de contar com elementos mais hard rock. Em alguns momentos a banda chega a lembrar um pouco o Winger, e digo isso sabendo que poucos levarão a sério esta minha afirmação. Muito se fala sobre a performance de Jorn Lande nos vocais, muito boa, é verdade, mas o trabalho dos instrumentistas é impressionante, especialmente do baixista Randy Coven e mais ainda do guitarrista Tore Ostby, principal responsável por fazer de músicas como "Heal the Waters", "Torn", "Burn the Sun", "Absolute Zero" e "Just a Little" obras tão surpreendentes quanto cativantes. Ao mesmo tempo em que usam a técnica apurada a favor de faixas bem trabalhadas e pouco convencionais, os músicos fazem com que tudo soe no lugar certo. Não são raros, inclusive, refrãos de destaque. É uma pena que o grupo não tenha dado mais frutos. Fico feliz de ver o Ark por aqui.
Eudes: Hard rock com pretensões progressivas até que bem interessante e bons instrumentistas. O baixista, em particular, toca muito. As canções não têm muita novidade, mas são mais que agradáveis, e com um grau incomum de inventividade. Talvez a banda erre em fazer um álbum de mais de uma hora, duração que reduz o impacto das faixas no conjunto. Bom grupo!
Fernando: Jorn Lande é um excelente vocalista. Muitos o comparam a David Coverdale. Acredito que não seja um insulto ou demérito ao eterno ex-Deep Purple. Porém o Ark nunca me cativou, já que o conheci quando já estava meio de saco cheio de metal progressivo. Apesar da banda não abusar muito das firulas características do subestilo, motivo que me afugentou dele.
João Renato: O álbum que mostrou Jorn Lande em uma situação diferente da de imitador de Coverdale, que marcava sua carreira até então. Só por isso, já valeria o crédito. Mas há Tore Ostby mostrando toda sua versatilidade. Apesar de não fazer o meu gênero, é inegável o valor do material aqui presente. Não consigo ouvir de cabo a rabo, mas de vez em quando, e em doses homeopáticas, rola tranquilo.
Leonardo: É até difícil classificar o som do Ark. Uma mistura de hard rock, rock progressivo, world music e heavy metal, talvez. Mas não é nada difícil falar do talento dos integrantes. Jorn Lande (vocal), Tore Ostby (guitarra), Randy Coven (baixo), Mats Olausson (teclado) e John Malacuso (bateria). Uma rápida conferida no currículo de cada um através do Google faz o queixo cair. Contudo, nada disso adiantaria se as músicas fossem ruins. Felizmente, elas são excelentes. E, além disso, apresentam frescor e originalidade poucas vezes vistas em uma banda classificada como metal progressivo. Aliás, pouquíssimas vezes o metal progressivo foi tão divertido. Escute agora e tente não ficar embasbacado com o trabalho de guitarras neste álbum.
Mairon: Os novos bons sons – metálicos – advindos da Noruega. Guitarrista com muita velocidade, tecladista idem, vocalista chatinho, que só sabe gritar desafinadamente, baixista tentando emular um Jaco Pastorius somente em pensamento e um som irritante de bateria. É repetitivo, é chato, é metal, é monocromático. Pior, os caras fizeram nove insuportáveis minutos de uma faixa chamada "Missing You". Burn the Sun ainda tem duas canções terríveis, a saber, "Waking Hour" e "Resurection", a chatice chorada de "I Bleed" e uma coisa que não tem como descrever (é cover do Ricky Martin?) chamada "Just a Little". Sério que isso entrou entre os dez mais?
Ulisses: Contando, em sua essência, com o trio de monstros Tore Ostby (antigo guitarrista do Conception, outra ótima banda), John Macaluso (bateria) e Jorn Lande (vocal), o Ark faz um metal progressivo que consegue experimentar e cativar ao mesmo tempo, sendo que em Burn the Sun os caras chamaram Mats Olausson (teclados) e Randy Coven (baixo) para completar o time – este tem sua presença bem notada no registro, ao passo em que aquele apenas aprimora a qualidade das composições, agindo de forma mais ou menos discreta. Lande é, como sempre, sensacional, entregando uma performance forte e com feeling, enquanto o restante da galera, ao mesmo tempo em que demonstra maestria em seus instrumentos, sempre joga para o time, evitando firulas e extensões desnecessárias. Apesar de, na minha opinião, a obra-prima do Ark ser "The Hunchback of Notre Dame" (da estreia autointitulada – alô colegas, por que não votaram nela para 1999???), Burn the Sun traz composições de maior consistência geral, e acaba sendo melhor. "Torn", "Resurrection", "Noose" (refrão fodástico!) e a faixa-título mostram o melhor do lado intrincado da banda, convivendo pacificamente com o retorno de elementos latinos em "Just a Little"; e nem preciso mencionar a explosiva abertura "Heal the Waters", melhor faixa do álbum, que conta com aquela genial moeda.
Kamelot - Karma (34 pontos)
Alexandre: Este álbum entrou e saiu no meu ranking de 2001 várias, várias vezes. Acabou ficando em um hipotético 11º lugar. É como se ele levasse um prêmio de consolação meu, portanto considero ótima sua inclusão na lista final. Trata-se de um disco muito coeso, no qual a melodia (em especial das linhas vocais) se encaixa perfeitamente com o estilo metal melódico ou sinfônico, seja lá qual for a definição mais apropriada para o grupo. Interessante é entender que se trata de um grupo norte-americano, ainda que o cantor seja nórdico. Não é normal ver uma banda desse subgênero oriunda dos States. Falando em cantor, Roy Khan é um destaque que não abusa dos agudos, o que é um clichê do gênero. Preciso mencionar também tanto teclados quanto guitarras, que entregam ótimas linhas e solos. Aqui vai o meu primeiro senão: uma banda com tanta participação do tecladista deveria tê-lo como membro fixo o que, aliás, é senso comum entre boa parte das formações de metal melódico, como o próprio Angra, que também habita esta lista. Voltando ao Kamelot, o baterista Casey Grillo mantém a qualidade dentro do estilo; já percebo o baixista Glenn Barry mais contido, básico. Minhas músicas favoritas, em um álbum praticamente sem pontos fracos, são "Across the Highlands" (a música que me chamou a atenção para o Kamelot), a faixa-título, um clássico absoluto, e a balada singela "Don’t You Cry". Mas há outros bons momentos, como a sequência final das três "Elizabeths", que merecem menção. Ótima escolha para 2001.
André: O Kamelot é outra banda com uma discografia excelente. E Karma é destaque junto a The Black Halo (2005) e Ghost Opera (2007). É o último disco menos “pomposo” da banda, mas nem por isso inferior. A excelente “Wings of Despair” é minha preferida aqui. Curioso que, após este disco, Roy Khan mudou bastante seu jeito de cantar. Aqui ainda conta com uma voz imatura, coisa que mudaria já nos discos seguintes embora sua interpretação das letras seja maravilhosa como sempre.
Bernardo: Ouvi e já esqueci de boa parte.
Daniel: Sempre achei que eu era o único que gostava da banda. Bom vê-la entre os melhores. Gosto da evolução que tiveram neste disco, que para mim tem a essência da banda, que vem nessa fórmula até hoje.
Davi: Fazia muito tempo que não ouvia este disco. Ainda contando com o (ótimo) Roy Khan nos vocais, o disco satisfaz. Trabalho vocal forte, sem ser esganiçado. Arranjos bem desenvolvidos. “Forever” e “Across the Highlands” trazem forte influência de Helloween. “Wings of Despair” e “The Light I Shine On You” trazem refrãos bem fortes. Os pontos baixos ficam por conta das baladas “Don't You Cry” e “Temple of Gold”, que são bem sem graça. O disco é bom, mas ainda gosto mais dos dois trabalhos seguintes: Epica (2003) e The Black Halo.
Diogo: O único disco do Kamelot que havia ouvido antes é The Black Halo, obra que me surpreendeu positivamente ao mostrar identidade própria e um vocalista muito acima da média. Acabei não ouvindo mais nada do grupo, não por desinteresse pelo Kamelot em si, mas por ter me afastado cada vez mais do estilo por ele praticado. Karma não é tão bom quanto o citado, mas é redondinho, muito bem tocado, fazendo com que mesmo os clichês do heavy metal melódico/sinfônico não soem tão clichês assim, vide boas músicas como "Forever", "Wings of Despair" (riffs oitentistas muito legais), "Across the Highlands" e a faixa-título. Os instrumentistas executam bem suas funções, especialmente o guitarrista Thomas Youngblood, mas não é segredo que grande parte (provavelmente a maior) daquilo que me faz aceitar o Kamelot muito melhor que outras bandas que recebem o mesmo rótulo é o talento vocal de Roy Khan. Pouco afeito a exageros, o norueguês passa longe de ser um imitador de Michael Kiske (ex-Helloween), interpreta bem e conduz as canções com suas linhas vocais marcantes. Fico até ressabiado em ouvir a banda após sua saída.
Eudes: É sério que vocês votaram nisso? São bandas como essa que me fazem maldizer para sempre o Europe. Melodias "Hollywood, o Sucesso", com vocais cafonas e teclados saídos daquelas churrascaria da esquina da sua rua. Dá não, viu!
Fernando: Se Karma está nesta edição, prevejo pelo menos mais dois do Kamelot nas seguintes. Este foi o primeiro disco que realmente colocou os norte-americanos no rol das boas bandas de metal progressivo/melódico. O que destacou o Kamelot entre todas elas foi a voz de Roy Khan, que, ao contrário de seus pares, não abusa dos tons altos para se sobressair. O som melancólico da faixa-título é um ótimo exemplo das coisas que me agradam no Kamelot.
João Renato: O álbum em que o Kamelot começou a se diferenciar da mesmice do power metal – que já começava a se afundar, à época. Roy Khan e Thomas Youngblood se mostravam uma dupla afiada, o que só melhorou na sequência. Canções como “Forever”, “Karma”, “The Spell” e a trilogia “Elizabeth” valem mais que uma conferida atenta.
Leonardo: No auge do estilo, o Kamelot consegia se distanciar das demais bandas de power metal melódico por apresentar riffs mais sérios, não tão alegres, mas repletos de classe e estilo. Em Karma a banda continuava investindo nessa sonoridade, misturando riffs de metal clássico com momentos mais progressivos. Acaba soando cansativo às vezes, mas é extremamente eficiente em alguns momentos, como na ótima "Wings of Despair". Aliás, o vocalista Roy Khan é o grande destaque do álbum, como pode se ouvir na canção supracitada.
Mairon: Ouvi essa banda despretensiosamente, tentando não fazer alguma alusão com a o grupo que me veio à cabeça quando vi a capa do álbum (Nightwish). O tema de abertura, "Regalis Apertura", surgiu sinfônico, parecendo me preparar para um álbum épico. Daí começou o metal espadinha, com bateria tocada na velocidade da luz, arranjos pomposos e nada, nada que consiga me atrair. Ouvi o disco inteiro por consideração, aturei a insípida "The Light I Shine on You", e quando algo como a bonita introdução de "Don't You Cry" começou a cutucar meus ouvidos, o grupo criou uma música chata bagarái. Nem as três partes de "Elizabeth" conseguiram me contagiar. O Kamelot tornou-se mais uma banda na minha lista de grupos que não consigo ouvir. Espero que não apareça mais nas próximas listas.
Ulisses: A partir de Karma, o Kamelot entrou no mapa do power metal como uma das bandas que vale a pena ouvir, com um estilo ligeiramente sinfônico e que, de alguma maneira, consegue não ser tão clichê ou repetitivo quando outros grupos do gênero. E sem denegrir o restante da banda, mas Roy Khan faz do Kamelot o que a banda realmente é. Apesar de possuir um vocal dotado de extenso alcance e de marcante textura, o cara não se entrega aos exageros típicos do power metal, e seu estilo emotivo e expressivo dá à banda uma notável distinção e capacidade interpretativa. Abrindo de maneira fortíssima com os velozes clássicos "Forever" e "Wings of Despair", o CD consegue prender a atenção do ouvinte em seus quase 50 minutos de música, apresentando também baladas de bom gosto em "Temples of Gold" e "Don't You Cry" e fechando com a ótima suíte "Elizabeth". Não achei que este disco fosse entrar neste ano, mas já deixo marcado meu desejo de ver o restante da discografia aqui na série, especialmente a obra-prima The Black Halo.
Listas individuais
Alexandre Teixeira Pontes
- Electric Light Orchestra – Zoom
- Creed – Weathered
- Transatlantic – Bridge Across Forever
- Angra – Rebirth
- The Black Crowes – Lions
- Savatage – Poets and Madmen
- Judas Priest – Demolition
- Megadeth – The World Needs a Hero
- System of a Down – Toxicity
- Muse – Origin of Simmetry
André Kaminski
- Tristania – World of Glass
- System of a Down – Toxicity
- Angra – Rebirth
- Kamelot – Karma
- Lacrimosa – Fassade
- Rammstein – Mutter
- Pato Fu – Ruído Rosa
- Tuatha de Danann – Tingaralatingadun
- Hammers of Misfortune – Bastard: A Tale Told in Three Acts
- The Cult – Beyond Good and Evil
Bernardo Brum
- Nick Cave and the Bad Seeds – No More Shall We Part
- System of a Down – Toxicity
- Rammstein – Mutter
- Daft Punk – Discovery
- Slipknot – Iowa
- Bob Dylan – Love and Theft
- Sabotage – Rap é Compromisso
- Björk – Vespertine
- Jay-Z – The Blueprint
- The White Stripes – White Blood Cells
Daniel Sicchierolli
- Nikolo Kotzev – Nostradamus
- Kamelot – Karma
- Gotthard – Homerun
- Saxon – Killing Ground
- Judas Priest – Demolition
- Mr. Big – Actual Size
- Primal Fear – Nuclear Fire
- Gamma Ray – No World Order!
- Sons of Angels – Slumber With the Lion
- Pink Cream 69 – Endangered
Davi Pascale
- Slipknot – Iowa
- Shakira – Laundry Service
- Los Hermanos – Bloco do Eu Sozinho
- System of a Down – Toxicity
- Megadeth – The World Needs a Hero
- Edguy – Mandrake
- Paul McCartney – Driving Rain
- Penélope – Buganvília
- Daniela Mercury – Sou de Qualquer Lugar
- The Strokes – Is This It
Diogo Bizotto
- Slipknot – Iowa
- Rammstein – Mutter
- System of a Down – Toxicity
- Mr. Big – Actual Size
- Gotthard – Homerun
- Ark – Burn the Sun
- Journey – Arrival
- Tool – Lateralus
- Kreator – Violent Revolution
- Opeth – Blackwater Park
Eudes Baima
- The White Stripes – White Blood Cells
- Los Hermanos – Bloco do Eu Sozinho
- Super Furry Animals – Rings Around the World
- System of a Down – Toxicity
- Buddy Guy – Sweet Tea
- Madredeus – Movimento
- Chico Buarque e Edu Lobo – Cambaio (Trilha Sonora Original)
- Gotan Project – La Revancha del Tango
- Lucinda Williams – Essence
- Bob Dylan – Love and Theft
Fernando Bueno
- Le Orme – Elementi
- Transatlantic – Bridge Across Forever
- Muse – Origin of Simmetry
- Tobias Sammet's Avantasia – The Metal Opera
- Marillion – Anoraknophobia
- King Diamond – House of God
- Destruction – The Antichrist
- Kreator – Violent Revolution
- Sodom – M-16
- Grave Digger – The Grave Digger
João Renato Alves
- Arch Enemy – Wages of Sin
- Tobias Sammet's Avantasia – The Metal Opera
- Destruction – The Antichrist
- Iced Earth – Horror Show
- Kreator – Violent Revolution
- Rage – Welcome to the Other Side
- Angra – Rebirth
- Edguy – Mandrake
- Mr. Big – Actual Size
- Soilwork – A Predator’s Portrait
Leonardo Castro
- Kreator – Violent Revolution
- Destruction – The Antichrist
- Ark – Burn the Sun
- Arch Enemy – Wages of Sin
- Dimmu Borgir – Puritanical Euphoric Misanthropia
- Grave Digger – The Grave Digger
- Lost Horizon – Awakening the World
- Brainstorm – Metus Mortis
- Annihilator – Carnival Diablos
- Savatage – Poets and Madmen
Mairon Machado
- Los Hermanos – Bloco do Eu Sozinho
- Yes – Magnification
- Ars Nova – Android Domina
- Glenn Hughes – Building the Machine
- Orgia Pravednikov – Оглашенные, изыдите!
- Acid Mothers Temple – Absolutely Freak Out “Zap Your Mind”
- System of a Down – Toxicity
- Jeff Beck – You Had It Coming
- Nenhum de Nós – Histórias Reais, Seres Imaginários
- Saxon – Killing Ground
Ulisses Macedo
- System of a Down – Toxicity
- Angra – Rebirth
- Slipknot – Iowa
- Ark – Burn the Sun
- Tuatha de Danann – Tingaralatingadun
- Therion – Secret of the Runes
- Tristania – World of Glass
- Kamelot – Karma
- Lost Horizon – Awakening the World
- Iced Earth – Horror Show