quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Rita Lee & Tutti Frutti

Em sentido horário: Luis Carlini, Emilson, Lee Marcucci, Rita Lee e Lucinha Turnbull

Trago aqui o período mais rocker da carreira de Rita Lee pós-Mutantes, aquele junto com o Tutti Frutti. São quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, todos gravados entre uma guerra de egos gigante entre ela e o guitarrista Luis Carlini, mas que pariu clássicos atemporais do rock nacional.

Contextualizando a história, Rita sai (ou é despedida) dos Mutantes, e funda as Cilibrinas do Éden junto de Lúcia "Lucinha" Turnbull, considerada a maior fã de Mutantes do Brasil. Após apresentarem-se abrindo para os próprios Mutantes durante o Phono 73, no dia 10 de maio de 1973, que teve uma discreta reação da plateia, o projeto acaba sendo deixado de lado. Lúcia conhecia o pessoal do grupo Lisergia, composto por Lee Marcucci (baixo), Emilson (bateria) e Luis Sérgio Carlini (guitarras), e inspiradíssimos na versão Glam de David Bowie, transformam a união Cilibrinas + Lisergia no Rita Lee & Tutti Frutti, e assim começa a sequência de lançamentos.

A estreia da Tutti Frutti


A estreia de Rita ao lado da Tutti Frutti é Atrás do Porto ... Tem Uma Cidade, lançada em 1974, e uma das grandes joias da música nacional dos anos 70. A formação da Tutti Frutti aqui conta com Lucinha Turnbull (vocal de apoio, guitarra, violão de 12 cordas e palmas), Luis Carlini (guitarra, guitarra havaiana), Lee Marcucci (baixo), mais a adição dos músicos contratados pela Philips Mamão (percussão), Paulinho Braga (bateria) e Juarez (saxofone). O álbum abre com o manifesto rock 'n' roll de "De Pés No Chão", com Rita já mandando todo mundo longe, em uma das primeiras letras feministas da história do rock nacional, e com um show a parte da Tutti Frutti, destacando a guitarra de Luis Carlini. Mais rock 'n' roll raiz com pitadas progressivas surge em faixas como "Pé De Meia" e nos sucessos "Mamãe Natureza", canção ainda dos tempos das Cilibrinas, e "Tratos à Bola", com a letrinha da menina que cresceu e deu tratos à bola saindo por aí, em uma clara alusão à sua saída dos Mutantes. Falando nisso, se os Mutantes achavam que Rita não havia como tocar na fase progressiva, então impressione-se com o talento da menina tocando piano, moog e mellotron na sensacional "Yo no Creo Pero ...", uma das melhores canções de toda sua carreira, inclusive considerando os próprios Mutantes. O trecho do solo de Carlini é de chorar, com harmônicos de guitarra e violões fazendo a cama para a entrada do solo, complementada por mellotron e piano, no melhor estilo Yes. 

Outra faixa com boas inspirações progressivas, e com uma letra muito interessante é "Eclipse do Cometa". As intervenções dos teclados de Rita nessa canção lembram até Gentle Giant. A ruivona emociona nos vocais da sensacional "Menino Bonito", acompanhada primeiramente apenas pelo seu piano, e depois, pelo lindo arranjo orquestral de Ely Arco Verde, mostrando que além de ser uma exímia vocalista, também é uma pianista de mão cheia. Ely também comanda os arranjos do maior sucesso do LP, "Ando Jururu", faixa swingante que antecipava a onda disco em quase 4 anos, e que posteriormente foi regravada por nomes como Raimundos e Kiko Zambianchi. Falando em dançar, tente se segurar (e ao mesmo entender) a completa "Círculo Vicioso", uma quebradeira swingada que faria Sly Stone se encantar. O instrumental dessa música é muito complexo, e a participação de Luis Cláudio nas guitarras jazzísticas, misturadas com flautas e moog, é um baque no cérebro. Os vocais sensuais de Rita e Lucinha no centro lembram muito o que a Blitz faria ano depois. Paulada de um disco excelente, na minha opinião tão bom quanto seu predecessor, o aclamado Fruto Proibido, que saiu no ano seguinte.


O álbum "ao vivo" do festival Hollywood de 1975, com canções da Tutti Frutti

Discordando com a forma como a Philips interferiu na produção de Atrás do Porto ... Tem Uma Cidade, Rita sai da Philips e assina com a Som Livre, recebendo em abril de 1975 um contrato milionário (a época) para gravar um disco nos moldes mais profissionais possível. Pouco antes, em janeiro de 1975, se apresentam com sucesso no festival Hollywood Rock, deixando registradas as canções "Mamãe Natureza", "Minha Fama De Mau" e "E Você Ainda Duvida?" no álbum Hollywood Rock. Em seguida, ela e a Tutti Frutti ficaram semanas criando o novo álbum em uma casa a beira da represa de Ibiúna, o que permitiu parir um dos maiores discos da história do rock nacional, Fruto Proibido.

O mega clássico Fruto Proibido

Não é meu disco preferido de Rita Lee, mas é inegável a qualidade e o investimento que Fruto Proibido teve para alçar a ruiva para além dos patamares de ex-Mutante, alcançando assim o status de Rainha do Rock. A Tutti Frutti é reformulada, agora com Franklin Paolillo (bateria e percussão), Guilherme Bueno (piano e clavinete) e os vocais de apoio de Rubens e Gilberto Nardo. Aqui, a fusão rock 'n' roll com progressivo casa perfeitamente, ainda mais com a produção de Andy Mills. Faixas como "Dançar Para Não Dançar", "Fruto Proibido" e "Pirataria" trazem todo o vigor do rock, com letras muito críticas, embalo para dançar pela casa e refrãos grudentos. A última conta com a flauta de Manito, que também toca órgão na enigmática e progressiva "O Toque", com seu lindo momento central saindo das cavernas progressivas de Yes e King Crimson, e que foi co-escrita em parceria com Paulo Coelho. Paulo também colabora no excelente blues de "Cartão Postal", onde Carlini dá mais um presente para os ouvidos. 


Tutti Frutti na época do Fruto Proibido

Falando em Carlini, claro, fechando essa obra prima, "Ovelha Negra", a faixa que melhor define Rita, mais um desabafo por sua saída dos Mutantes, e que eternizou um dos solos de guitarra mais conhecidos do rock nacional. Outros grandes sucessos ficaram para "Agora Só Falta Você", com a guitarra de Carlini marcando época, e mais uma letra bastante feminista, posteriormente regravada por Maria Rita e Pitty, e "Esse Tal de Roque Enrow", faixa também co-escrita ao lado de Paulo Coelho, com uma ótima presença do saxofone de Manito. E por falar em feminismo, que tal a linda homenagem para "Luz del Fuego"? Essa bela homenagem à vedete Dora Vivacqua é um rockzão para macho nenhum botar defeito, com uma letra fantástica que exalta todas as qualidades das mulheres, e que foi posteriormente regravada por Cássia Eller. Quem fazia isso no Brasil nos anos 70? Só Rita! Fruto Proibido vendeu mais de 200 mil cópias logo em sua tiragem inicial, e é considerado até hoje um dos melhores discos nacionais de todos os tempos.

Os compactos de Rita na era Tutti Frutti: "Corista de Rock" (acima) e "Lá Vou Eu" (abaixo)

Em 1976, saiu o compacto duplo com as inéditas "Lá Vou Eu" - "Caçador De Aventuras" e "Status", complementado por "Ovelha Negra", e o single de "Arrombou a Festa", faixa que esculhamba com os grandes nomes da música popular brasileira com muito bom humor, e tendo "Corista de Rock" no lado B.


O ótimo e subestimando Entradas E Bandeiras

Seria difícil manter nível de Fruto Proibido em seu próximo lançamento, mas Rita e a nova versão da Tutti Frutti, com o duo Carlini, Marcucci e os irmãos Nardo adicionados agora de Paulo Maurício (teclados, sintetizador, vocais) e Sergio Della Monica (bateria, percussão, Tubular Bells), lançaram ao meu ver o seu mais subestimado trabalho. Entradas e Bandeiras, de 1976, é um irmão mais novo de seu antecessor, com ótimos rocks, vide "Corista de Rock", com mais um maravilhoso sol de Carlini, "Superstafa" (e dê-lhe solos ácidos de Carlini) e o riff pesado de "Posso Contar Comigo", com mais uma grande letra feminista de Rita. Adoro o hardão de "Lady Babel", faixa bastante intrincada e surpreendente para quem conhece Rita apenas por seus sucessos ao lado de Roberto de Carvalho, e a paulada "Departamento de Criação", com Rita gritando que vai "dar trabalho à crítica" e um peso descomunal que alegrará os metaleiros de plantão, além de um mogg fantástico. 

A Tutti Frutti em 1976

Fãs de Raul Seixas irão reconhecer no country-rock de "Bruxa Amarela" as origens do que se tornou "Check-Up" anos depois. Claro, a canção é mais uma parceria de Rita com o guru Paulo Coelho, que depois adaptou a letra para Raulzito gravar. Outra faixa que os fãs mais ávidos irão reconhecer uma certa "semelhança" com algo que já se ouviu é "Com a Boca No Mundo (Tico-Tico)", com seus acordes de C, G, A saídos de um Velvet Underground "Sweet Jane", mas com uma virada embalada muito sensual e impactante pelo peso do funkzão/disco que a Tutti-Frutti entrega, bem como o tesão da voz de Rita. Fecha o disco a experimental "Troca-Toca", com vocalizações e um embalo desconcertantes. E ainda, temos até uma nova "Ovelha Negra", através da linda "Coisas da Vida", uma das faixas mais motivacionais da carreira de Rita. Um álbum muito bom, que conseguiu encobrir os problemas internos que já rolavam entre Rita e Carlini.

O álbum que registrou a turnê de Rita ao lado de Gilberto Gil e sua Refavela

A turnê de Rita e Tuffi Frutti com Gil e sua Refavela entre outubro e novembro de 1977 culminou no excelente ao vivo Refestança, em 1977, que marca a estreia de Roberto "Zezé" de Carvalho como guitarra base e teclados, em uma Tutti Frutti contando ainda com Carlini, Mariucci, Sérgio Della Monica (bateria), Wilson Pinto "Willi" (vocais) e Naila "Scorpio" Mello (percussão). O contexto da turnê surgiu um ano antes, quando a imagem de Rita ficou manchada ao ser presa por porte de drogas, assim como o baiano Gil. Então, os dois criaram o projeto para poder reerguer suas carreiras, e assim nasce um álbum espetacular, que fez questão de colocar "É Proibido Fumar" de Roberto Carlos no set list, uma forma de contar o que aconteceu um ano antes, e que conta com os dois grupos no palco. Eles também atacam ao mesmo tempo a revisão de "Get Back" dos Beatles, aqui batizada "De Leve", o rockzão "Refestança", com a Refavela trazendo toda sua pimenta percussiva nas costas de Djalma Correia, um dos maiores nomes da percussão mundial, mas Naila não ficando nada atrás. 

A Tutti Frutti se apresenta junto de Rita e Gil em canções do segundo, dando bons ares roqueiros para "Back in Bahia", "Giló" e "Arrombou a Festa". Já a Refavela, composta além de Djalma por Moacir Albuquerque (Baixo), Pedrinho Santana (Guitarra), Milciades Teixeira (Teclados), Carlos Alberto Chalegre (Bateria) e Lúcia Turnbull (vocais) abrilhanta a linda introdução de "Odara" (Caetano certamente vibrou ao ouvir sua canção na voz de Gil), "Eu Só Quero Um Xodó", interpreta a "Ovelha Negra" da "comadre", com grande tempero progressivo, e a melhor canção do álbum, o resgate de "Domingo No Parque", fazendo Rita novamente os backing vocals deste clássico que revelou os Mutantes para o Brasil lá no Festival da Canção da TV Record de 1967, e que aqui ganhou um final apoteótico. Um ótimo disco inclusive em termos de qualidade na produção.

O derradeiro disco de Rita com o Tutti Frutti

Na sequência, gravado entre muitas brigas de Rita e Carlini, Babilônia (1978) é o derradeiro disco de estúdio de Rita Lee com a Tutti Frutti é mais um álbum recheado de ótimos rocks, e abre com o grande sucesso, "Miss Brasil 2000", para sacolejar a casa sem piedade, e com Roberto brilhando no piano. Outros grandes sucessos ficaram e "Eu E Meu Gato", que entrou para a trilha da novela O Pulo do Gato, e é um bom rock comandado pelos teclados de Roberto, além das participações mais que especiais de Guto Graça Mello (tumba), Lincoln Olivetti (sintetizadores) e os gatos de Rita (Ziggy Stardust e Martha My Dear) e do cachorro Anibal. Outra para sacolejar é "Agora É Moda", que me lembra muito o que o Som Nosso de Cada Dia faz no lado A do álbum Som Nosso, sendo uma faixa muito dançante, e com uma letra muito atual, principalmente para os brasileiros que acreditam no desgoverno, com frases como "pegar alguém pulando o muro", "inquisição da idade média", "Culpar o mercado estrangeiro", "economizar a gasolina", "tentar salvar a natureza" entre outros. Não à toa, acho essa a melhor faixa do disco. 


Willy, Marcucci, Carlini, Rita, Roberto, Naila Scorpio e Della Monica

Falando em Som Nosso, Manito da o ar da graça mais uma vez, agora no rockzão de "Jardins da Babilônia", mais um grande sucesso que lembra bastante "Esse Tal Roque Enrow". Importante lembrar, que a formação da Tutti Frutti é a mesma de Refestança. "Modinha" é uma parente próxima de "Vida de Cachorro" (Mutantes) e mais uma fantástica letra de Rita, acompanhada apenas pelos violões dela e Carlini, bem como uma tímida percussão feita por Naila e Sergio, e com Rita também na flauta doce. Há única faixa aquém, "O Futuro Me Absolve", apesar da boa letra, e com a participação de Chico Batera no gongo chinês. As brigas eram tantas que somente uma canção da dupla está em Babilônia, o ótimo rock de "Sem Cerimônia". Carlini também compôs sozinho o rockaço "Que Loucura", um parente próximo de "Agora Só Falta Você". Aqui está também a primeira parceria de Rita e Roberto, no caso a balada rocker "Disco Voador". Considero este o mais fraco dos álbuns aqui apresentados, mas mesmo assim, muito melhor do que muito do que Rita fez posteriormente, principalmente durante os anos 90 e 2000.

As brigas entre Rita e Carlini ganharam força (as baixarias e confusões deixo para o rapaz do "ok! ok!"), assim como o relacionamento entre Rita e Roberto se consolidou, e então, a cantora tocou sua carreira ao lado do marido, lançando outros clássicos atemporais para a música nacional, e deixando para a história esses cinco álbuns com a Tutti Frutti que foram os responsáveis por hoje ela ser considerada nada mais nada menos do que a Rainha do Rock Nacional.

sábado, 21 de agosto de 2021

Ouve Isso Aqui: Discos de Guitarristas


 

Por André Kaminski

Tema escolhido por Daniel Benedetti

Com Davi Pascale, Fernando Bueno e Mairon Machado

Eu não poderia começar este texto de outra forma. Após, no início de 2021, ter passado quase 30 dias em coma, estou em um longo processo de recuperação da Covid 19. E a música tem sido um instrumento poderoso para que eu consiga estabelecer uma reconexão com minha própria vida.

Tendo sido o sorteado para escolher o tema deste “Ouve Isso Aqui”, resolvi colocar alguns dos discos que têm sido “meus companheiros” nesta jornada. Espero que meus amigos consultores também tenham curtido as escolhas. Boa leitura! (Daniel)


Rory Gallagher – Deuce [1971]

Daniel: Disco sensacional de um dos guitarristas mais talentosos do rock setentista – e dos menos exaltados. Tendo o Rock como base, Gallagher flerta com o Folk e com o Blues, prioritariamente. Faixas cativantes e criativas como “Maybe I Will”, “Whole Lot of People” e “Crest of a Wave” são ótimos exemplos da forma agressiva e ‘elétrica’ com que Gallagher construiu as canções, tendo a guitarra como protagonista para realçar a beleza das mesmas.

André: Este é um dos grandes discos do irlandês fodão da guitarra. Muito blues, hard e como não podia deixar de faltar, uma pegada céltica típica da ilha principalmente nas partes mais acústicas. Particularmente gosto mais justamente destas músicas de levada mais folk como “I’m Not Awake Yet” e aquela delícia de canção western americana “Don’t Know Where I’m Going”. Rory nunca foi lá um grande vocalista, mas consegue se segurar razoavelmente nas vozes. Um ótimo disco que dá de todos apreciarem sem qualquer problema.

Davi: Grande guitarrista! Gosto bastante do trabalho dele. Dentro e fora do Taste. Deuce é seu segundo álbum solo e Rory queria que o disco capturasse a vibe de seus shows. Gallagher havia achado a sonoridade de seu primeiro álbum solo muito polida e queria corrigir isso. Sua jogada deu certo. A sonoridade do álbum é impactante. Musicalmente, os arranjos possuem influências variadas. “Out Of My Mind” traz influências de country na levada de violão. A gaita de “Don´t Know Where I´m Going” remete ao trabalho folk de Bob Dylan. “Shoud I´ve Learnt My Lesson” traz o músico caindo de cabeça no blues. Os momentos que mais gosto, contudo, são “In Your Town”, onde temos Rory Gallagher roubando a cena com sua slide guitar, e o rock sujo e honesto “Used To Be”, responsável por abrir o LP. Bom álbum!

Fernando: Essa foi uma das minha melhores descobertas recentes. Por algum motivo eu nunca tinha ouvido o Rory Gallagher e quando tomei conhecimento desse mesmo disco eu fiquei com aquele sentimento de recuperar o tempo perdido. Ouvi todos os discos de estúdio que ele gravou e também o Taste, sua banda anterior. Mas é claro que mesmo tendo ouvido tudo eu ainda não consegui captar todas as nuances de sua carreira solo. Deuce mesmo sendo o preferido de boa parte dos fãs não está no topo do pódio lá de casa. Acho o Tattoo (1973) melhor e mesmo seu disco de estreia roda mais lá em casa.

Mairon: Disco que dispensa apresentações. Outro mestre irlandês da guitarra fazendo misérias em um hard rock de primeira. Gosto muito das inspirações flamencas de “I’m Not Awake Yet”, até por que é raro ver e ouvir Rory ao violão, algo que ele faz também com um talento impecável em “Out Of My Mind” e na divertida “Don’t Know Where I’m Going”, quase dando uma de Bob Dylan com sotaque irlandês. Mas é o hardão de faixas emblemáticas do porte de “Used To Be”, “Maybe I Will” e “There’s A Light”, ou então solando ao slide em “In Your Time” e “Crest Of A Wave”, as mais Taste das canções de Deuce, e não por menos fortes candidatas a melhores do álbum, ou “Whole Lot Of People”, que fazem de Deuce um clássico atemporal, mostrando por que Rory é tão idolatrado ainda hoje. Ouça o blues “Should’ve Learnt My Lesson” e tente acreditar que é um irlandês quem está cantando/tocando. Baita disco de um artista que merece ser reconhecido muito mais do que alguns superestimados por aí.


Paul Kossoff – Back Street Crawler [1973]

Daniel: Eu adoro os álbuns do Free. Paul Kossoff, guitarrista da banda, morreu muito jovem e jamais saberemos em que nível poderia chegar. Sem as amarras que o baixista do seu antigo grupo, Andy Fraser, o que se ouve é o espírito livre de Kossoff e todo o sentimento que ele conseguia colocar em cada nota que tocava, especialmente nos solos. Basta sentir a ótima “Tuesday Morning”, uma espécie de Jam Session, na qual Kossoff exerce toda sua criatividade.

André: Esse faz uma falta danada ao rock. O brilhante guitarrista do Free felizmente deixou este belo disco, com grandes passagens de guitarra que faz qualquer um que ame blues rock molhar as calças de tesão. Todavia, minha preferida é justamente a faixa “Molten Gold” com Rodgers nos vocais e os caras do Free tocando, música que podemos até considerar como parte da banda. Kossoff é daqueles casos que a guitarra canta sozinha, demonstra sentimento em suas linhas e até parece que sinto o cara dando a alma ali naquelas gravações. Uma pena mesmo que o vício em drogas nos tirou muito cedo um grande músico.

Davi: Gosto muito do trabalho de guitarra que Paul Kossoff realizou ao lado do Free. E também lamento muito que tenha partido tão cedo. Gostaria de ter escutado mais álbuns solo dele, tenho certeza que teria realizado trabalhos brilhantes. Mesmo! “Tá, mas o que você pensa de Back Street Crawler”? Bem, esse é um trabalho que considero sua audição satisfatória, mas que possui poucos momentos que realmente me chamam a atenção. Para ser mais preciso, as faixas “I´m Ready” e “Molten Gold” são as duas que gosto realmente de escutar. Essa última, aliás, nada mais é do que um outtake do álbum Free At Last e está registrado ao lado de seu ex-grupo. Resumindo: disco, sem dúvidas, agradável, mas que esperava mais por ter sido realizado por um músico desse calibre.

Fernando: Óbvio que eu gosto do Free, mas nunca me passou pela cabeça ouvir um disco solo de seu guitarrista. No fim, porém, foi o disco que mais gostei de ter ouvido. Os outros da lista, exceto o do Gary Moore, eu já conhecia, então eu já sabia o que esperar, mas desse eu não tinha ideia o que viria. Aí no início da faixa de abertura eu fiquei ressabiado vendo que seriam 16 minutos e pensei que seria duro chegar até o fim. Mas não…eu estava enganado!!! Gostei do modo como ele variou tempos, estilos e abordagens ao longo da faixa. Também fiquei curioso quando vi que tinham músicas cantadas também, mas esperava que o próprio Kossof tivesse cantado, mas nesse caso me frustrei, apesar das faixas serem muito boas e cantadas por quem conhece do ofício. No geral é um belo disco!

Mairon: A guitarra do Free seguindo carreira solo. O álbum por si só é uma prova de luta de Kossoff, que parece ter gravado o mesmo batalhando contra seu vício em drogas. O lado A é dedicado para a jam “Tuesday Morning”, com uma performance sensacional de Alan White na bateria, e claro, Kossoff rasgando a guitarra em bends épicos, duelando com o órgão de John “Rabbit” Bundrick, além de muito feeling, e por que não, algumas engasgadas que não fazem parte do que acostumamos a ouvir dele no Free, mas que aqui caem bem dentro da questão que estamos curtindo um improviso viajandão. Apesar do improviso de “Back Street Crawler (Don’t Need You No More)”, o lado B é mais “pop”, tendo ainda a dançante “I’m Ready”, e a cria de Free “Molten Gold”, onde Paul Rodgers solta seu vozeirão, Andy Fraser aparece no baixo e Simon Kirke comanda a bateria. Ou seja, é o Free enrustido na carreira solo de Kossoff, fazendo uma baladaça. A melhor faixa do LP para mim também está no lado B, a delirante “Time Away”, onde Kossoff faz a guitarra gemer como Jeff Beck faria, esbanjando feeling. Bom disco de um dos grandes nomes do hard setentista, e que fazia um bom tempo que não ouvia.


Steve Hackett – Voyage of the Acolyte [1975]

Daniel: O extraordinário guitarrista do Genesis, com seu estilo elegante, em uma obra que é uma verdadeira ode ao rock progressivo. Com muita criatividade, Hackett impõe sua própria personalidade neste excelente disco, demonstrando sua categoria em faixas como “Star of Sirius” e a épica “Shadow of the Hierophant”. Um álbum excelente e uma ótima porta de entrada para quem conhecer todo o requinte do rock progressivo.

André: Dentre os discos de guitarristas, este foi o que eu mais gostei. Acho que é porque ando numa fase bem progueira nos últimos meses. Basicamente, este aqui é o Genesis sem o Tony Banks. E pelo que disseram, estas músicas foram descartadas pela banda e do qual Steve resolveu gravar em seu primeiro solo. Collins e Rutherford participaram também e Collins fez alguns vocais pouco antes de os assumir no Genesis logo depois. Disco bem sinfônico, muitas quebras e solos, com os de guitarra obviamente se sobressaindo. Gostei de todas as faixas. O disco passou voando e tudo foi muito agradável. Hackett nunca me decepciona.

Davi: Esse é o primeiro álbum solo do ex-guitarrista do Genesis. Trabalho que, inclusive, foi lançado quando esse ainda fazia parte da cultuada banda. Trata-se de um álbum majoritariamente instrumental, muito bem tocado, como era de se esperar, mas que por algum motivo, não me cativou. A pegada progressiva se faz presente, não achei os arranjos exagerados (algo que me agrada), mas sei lá, as canções não me emocionaram. Para não dizer que não gostei de nada, gostei de algumas passagens de “Shadow Of The Hierophant” e achei a faixa cantada “Star Of Sirius” muito bonita. Essa, inclusive, tem a participação especialíssima de Phil Collins nos vocais. Trabalho muito bem feito, sem dúvidas, mas sei lá, não me pegou. Talvez precise ouvir mais.

Fernando: Esse é um clássico! Obrigatório ouvir esse disco, principalmente para quem está entrando na estrada no início da viagem pela longa estrada do rock progressivo. Praticamente um disco de sobras do Genesis que ele resolveu gravar como álbum solo. E pelas sobras dá de ter a noção do quanto a banda estava produzindo em alta qualidade naquela época. Até acredito que o sucesso desse disco solo tenha sido a chave de virada para a sua saída da banda. Não fique com medo de ouvir um disco completamente instrumental. Para quem já ouve o Genesis com suas longas passagens instrumentais em várias de suas músicas não vai nem sentir isso.

Mairon: Essa belezinha está na minha coleção há algum tempo. Um Hackett inspiradíssimo, e muito bem acompanhado (inclusive dos colegas Mike Rutherford e Phil Collins, mas destacando o irmão John Hackett nos teclados, assim como John Acock no mellotron e piano), cria um álbum magistral de rock progressivo. “Ace of Wands”, faixa que abre Voyage of the Acolyte, é uma obra-prima digna de ser chamada de Maravilha Prog, com diversas variações. O álbum é um espetáculo diverso, trazendo por exemplo a sutileza do violão, mellotron e flauta nas lindas duas partes de “Hands of the Priestess”, as claras referências de Genesis em “Star of Sirius”, com a participação de Phil Collins nos vocais, e aqueles dedilhados encantadores do violão de Hackett, a intrincada  “A Tower Struck Down”, e a beleza de “Shadow of the Hierophant”, com os sopranos vocais de Sally Oldfield.  “The Hermit” é a oportunidade de ouvirmos Hackett aos vocais, em uma linda canção ao violão, e claro, ele também nos brinda com mais uma linda composição ao violão clássico na fantástica “The Lovers”. Outro álbum em que a guitarra não é o centro das atenções, mas que a criatividade do guitarrista é fantástica.


Gary Moore – After Hours [1992]

Daniel: Eu sou fã da obra do Gary Moore, especialmente de seus discos voltados para o Blues. After Hours é o meu favorito. São 11 faixas, sendo 7 composições próprias, em um trabalho em que é possível perceber todo o sentimento que o guitarrista colocava em seus solos (como em “Story of the Blues”). A parceria com o mestre BB King, em “Since I Met You Baby” é um dos pontos altos do disco, bem como “The Blues Is Alright”, a qual conta com o também monstruoso Albert Collins. Para não dizer que tudo são flores, eu não curto muito a balada “Separate Ways”.

André: Apesar de, no geral, eu curtir mais a fase aorzenta oitentista do Moore, cara, esse disco me conquistou com o bom humor do norte irlandês, um repertório excelente e uma performance excepcional. Aqui ele conseguiu uma bela contribuição do gênio B.B.King em “Since I Met You Baby” mas a canção que mais gostei foi a lindíssima balada final “Nothing’s the Same”, com uma voz açucarada de Moore levada principalmente no teclado e com solos belíssimos de poucas notas à la David Gilmour pelos quais amo demais. Segundo melhor da lista.

Davi: Sem dúvidas, esse é meu trabalho favorito da lista. Sempre fui muito fã do Gary Moore e adoro essa fase. After Hours, nada mais é do que uma continuação de seu antecessor, o clássico Still Got The Blues. A sonoridade segue a mesma lógica. A mescla de rock e blues continua presente, o diferencial acredito que seja o uso dos metais, que já aparecia no anterior em canções como “Oh Pretty Woman”, mas que aqui aparecem mais encorpados. O tracklist não possui nenhuma canção que tenha tocado tanto quando “Still Got The Blues”, mas traz bastante momentos marcantes como “Cold Day In Hell”, “Story Of The Blues” e “Jumpin´ At The Shadows”. Isso sem contar nas participações especialíssimas de B.B. King em “Since I Met You Baby” e Albert Collins em “The Blues Is Alright”. Discaço!

Fernando: Nunca tinha ouvido a carreira solo do Gary Moore. Esse disco é indicado para quem gosta desse blues rock mais eletrificado e cheio de distorção que aparece em alguns momentos da carreira do Eric Clapton. É música para levantar o clima de qualquer lugar. “Story of the Blues” é excelente! A participação de B. B. King em “Since I Met You Baby” nos leva de volta lá para as raízes do rock and roll. “Separate Ways” é daquelas músicas que um professor deve colocar para seus alunos quando for ter uma aula de blues.

Mairon: Depois dos anos 80 bastante recheados de altos e baixos, Gary Moore entrou nos anos 90 contudo, e nesse álbum, traz o blues como base para criação de faixas espetaculares ao lado de ícones como B. B. King (“Since I Met You Baby”, animadíssima) e Albert King (“The Blues Is Alright”, uma aula de solo dos músicos), ou sozinho em “Cold Day In Hell”. Desprezando as chatinhas “The Hurt Inside” e “Separate Ways”, que nada acrescentam ao disco, o resto é de alto nível. Por vezes, parece que estamos ouvindo o também saudoso Stevie Ray Vaughan comandando as guitarras. Melhores faixas para a dolorida “Jumpin’ At Shadows”, para cortar os pulsos com tanto drama, a baladaça bluesy “Story of the Blues”, linda demais, e com Gary Moore fazendo a guitarra gemer sem sentir dor, em um dos melhores solos de sua carreira, bem como a paulada “Only Fool In Town”, pesada mas bluesy como só Moore conseguia criar. Ainda temos a animada “Don’t You Lie To Me (I Get Evil)”, comandada pela presença dos metais, e a arrepiante “Nothing’s The Same”, que apesar de não ser uma faixa de blues, fecha o álbum em alto nível, com uma letra que me emociona muito. É uma surpresa ter After Hours como indicação para um Ouve Isso Aqui no quesito Gary Moore, já que há outros grandes discos do guitarrista em sua carreira. Mas isso não significa que After Hours não seja um belo disco de guitarras.


Kiko Loureiro – Universo Inverso [2006]

Daniel: Para aqueles que apenas conhecem a faceta “metaleira” de Kiko Loureiro, este disco é surpreendente. Foi o meu caso. Eu não acompanhava sua carreira solo e, quando ouvi este álbum pela primeira vez, fiquei positivamente surpreso. E isto foi há muito pouco tempo. As influências brasileiras estão presentes por aqui, mas o que pega, pelo menos para mim, é a fusão do Jazz com a Música Latina, e esta mistura é muito saborosa aos meus ouvidos. Um trabalho que eu curti bastante e do qual estou cada vez mais fã.

André: Muita gente reclamaria de “como um músico de metal espadinha vai se atrever a gravar um álbum de fusion”? Nunca tive esse preconceito, muito pelo contrário, admiro ainda mais quando músicos saem da segurança do estilo de sua banda principal e buscam outros gêneros e inspirações para o seus discos solo. Universo Inverso se destaca mais ainda no repertório de Kiko justamente por fugir do prog/power do Angra. Uma pena que eu sou minoria. Adorei a delicadeza e simplicidade de “Recuerdo”. Esqueçam o passado do músico em questão e admire a obra pelo que ela realmente apresenta.

Davi: Kiko Loureiro sempre foi um dos meus ídolos e tive o prazer de receber esse CD das mãos do mesmo, quando estive presente na sede da revista Rock Brigade para realizar uma entrevista com o famoso guitarrista no ano de 2006. Sucedendo o (bom) No Gravity, seu segundo trabalho solo mantinha elementos do rock e do fusion, e se distanciava de tudo que já havia feito antes por adicionar doses cavalares de jazz, música brasileira e música cubana. Os músicos são excelentes e fiquei muito feliz pela participação de outro músico que admiro muito, o baterista Cuca Teixeira. Musicalmente, esse é o álbum que menos gosto de Kiko, ainda que tenha alguns momentos brilhantes como “Feijão de Corda”, “Camino a Casa” e “Havana”. De todo modo, estou curioso para ver os comentários dos colegas sobre o disco.

Fernando: Quando vi que o tema seria álbuns de guitarristas eu imaginei que teríamos uma série de discos gravados por músicos virtuosos tocando para outros músicos. Até aqui isso não tinha acontecido e acredito que o Daniel quis brincar com isso quando escolheu o tema e os discos que entrariam. Mas esse é o representante de disco de guitarrista para guitarristas da lista. Gosto muito do Kiko Loureiro, as coisas que ele fez com o Angra fazem parte da minha vida como fã de metal, adorei o Distopia com o Megadeth, mas ultimamente eu tenho preguiça de ouvir esses discos. Só que Kiko é um guitarrista fantástico e mesmo que você não goste dos estilos que ele aborda em algumas músicas a audição te prende pela curiosidade de saber o que vem depois na música. Quem conhece a carreira dele e e já viu pelo menos uma entrevista sabe que ele tem todo esse background de música brasileira e latina. Apesar de tocar metal ele sempre foi interessado nisso e o próprio Angra foi criado para que esses estilos fossem de alguma forma agregados no tipo de som que o André e o Rafael estavam querendo fazer. Por isso Kiko foi o cara perfeito para aquela hora da banda.

Mairon: Kiko Loureiro vem usando de inspirações latinas pra criar um álbum bem interessante. De cara, “Feijão de Corda” já mostra traços nordestinos no estilo de tocar do rapaz, em uma ótima faixa que equilibra solos melodiosos com um acompanhamento jazzy muito bom, principalmente por conta do piano de Yanel Matos, para mim o principal nome do CD, ao lado dos membros da Point of View (Cuca Teixeira na bateria e Carlinhos Noronha no baixo). O Brasil é a principal fonte de inspiração de Kiko, com o samba jazz de “Samba da Elisa”, com um piano maravilhoso, a leve “Realidade Paralela”, o samba “Espera Aí”, com Kiko ao cavaquinho, “Anastácia”, uma das mais fracas do disco, e na dupla “Arcos da Lapa” / “Monday Mourning”, sendo que a última certamente poderia ter sido concebida pela mente de Tom Jobim, enquanto admirava a baía de Guanabara durante uma segunda pela manhã.  “Ojos Verdes” advém do tango, e novamente, é a Point of View quem dá seu show, assim como a belíssima e dolorida “Recuerdos”, na qual o casamento do piano com o violão é simplesmente perfeito. Já “Camino a Casa” é o momento onde Carlinhos brilha no baixo, e as inspirações advém de uma milonga uruguaia com elementos brasileiros, principalmente pela presença da cuíca. “Havana” vem com inspirações da terra do charuto, e é uma das faixas onde Kiko mais se solta. Um álbum que me surpreendeu positivamente, e essa banda que acompanha Kiko aí, bah, seria perfeita para assistir em um boteco enfumaçado e com um bom uísque. Disco muito bom, onde apesar da guitarra ser o instrumento central, é exatamente quando ela se ausenta onde o álbum cresce mais.

domingo, 15 de agosto de 2021

Capas Legais: Led Zeppelin - In Through The Out Dor [1979]



O Capas Legais de hoje traz a divertida capa de In Through The Out Door, último disco do Led Zeppelin, e que possui 3 versões diferentes, todas sobre uma mesma imagem. Aproveite para inscrever-se em nosso canal.



sábado, 7 de agosto de 2021

Styx - Crash of the Crown [2021]



O último mês de junho viu nascer o décimo sétimo disco da carreira do Styx. Trata-se de Crash of the Crown, o qual já está na lista de melhores lançamentos de 2021 em disparado. O grupo atualmente conta com a dupla consagrada de guitarras e vocais, formada por James "JY" Young e Tommy Shaw, Lawrence Gowan (teclados e vocais), Todd Sucherman (bateria) e Ricky Phillips (baixo), acompanhados de Will Evankovich (violões, guitarras, mandolin, sintetizadores, vocais de apoio), mas está na ativa desde o início dos anos 70. E o que impressiona em Crash of the Crown é como o grupo envelheceu muito bem. Não parece que estão na estrada há 50 anos (sim, o tempo passa), mantendo um nível tão alto tanto em criatividade quanto na qualidade musical, renovando-se sem perder a essência que o tornou um dos maiores nomes do hard rock americano em toda a história da música. 

O álbum abre com os teclados futurísticos de "The Fight Of Our Lives", que parecem saídos de alguma faixa perdida do Vangelis, e aos poucos, os demais instrumentos vão surgindo, explodindo nos vocais repletos de harmonia que consagraram o grupo. A curta faixa cantada por Shaw traz aquelas referências de Queen que apareceram em outras obras da banda, e empolga de cara, estabelecendo uma espécie de prelúdio para a sequência do disco. "A Monster" possui um ritmo dançante que parece saído dos grandes salões de uma Europa Medieval. Pesada, a canção vai entrando em nossa cabeça como uma broca repleta de chicletes, grudando bastante, e com diversas variações, mostra as diversas qualidades do Styx, com destaque especial claro para as lindas harmonias vocais, os trechos de mandolin e também a alternância dos sintetizadores, ora hammond, ora mellotron, ora moog. Muito bom e progressivo. 

Foto divulgação do álbum

Os violões de "Reveries" mantém esse climão medieval, quebrado no explosivo refrão, perfeito para arenas entoarem em uníssono. Aqui destaca-se também os solos de JY e Shaw. Seguimos pela linda "Hold Back The Darkness", uma obra fantástica comandada pelos teclados de Gowan e o violão de Shaw. Ambos alternam-se nos vocais, e a canção desenvolve-se com um cheirão de Pink Floyd que certamente irá fazer muita gente coçar a cabeça. Linda faixa, lindo refrão, bastante diferente do que poderíamos pensar em termos de Styx. O clima prog é quebrado pelo piano de "Save Us From Ourselves", com referências ao famoso depoimento de Winston Churchill, e muito próxima pelo Styx clássico do final dos anos 70, principalmente pelos vocais de Shaw e os solos de guitarra. 

A faixa-título é aquele momento que todo fã do Styx adora adorar, quando JY assume os vocais. Sabemos que dificilmente JY canta uma música ruim, e "Crash of the Crown" é muito boa realmente. Não parece que essa canção possui apenas 4 minutos, tamanha a quantidade de mudanças. Ela começa com sua levada agitada e os vocais graves do músico, e então ua virada no mínimo curiosa durante o refrão, com a entrada dos vocais de Gowan e Shaw. Quem está mandando muito bem também é Gowan, que faz diversas estripulias nos teclados. Mais uma mudança surpreendente, trazendo de novo as referências ao Queen, encerrando outra bela faixa. "Our Wonderful Lives" e seus violões nos colocam direto em algum local entre The Grand Illusion e Pieces of Eight, ainda mais com a entrada dos vocais e do moog. Essa canção tipicamente Styx conta com a presença mais que ilustre do baixista Chuck Panozzo, que fez parte da banda em diversas formações, e também de Steve Patrick no belo solo de trompete. 

Linda versão transparente

A faixa mais longa de Crash of the Crown, "Common Ground", surge com o moog seguido por violões na melhor linha Styx progressivo, e dê-lhe harmonias vocais. Mas vejam, a mais longa dura apenas 4 minutos, onde Sucherman dá seu espetáculo em particular. Os toques acústicos se mantém em "Sound the Alarm", mais uma linda balada cantada por Shaw, e com o órgão de igreja muito presente, junto de diversas camadas de teclados. O ritmo frenético de "Long Live the King" choca pela mudança abrupta no que estávamos ouvindo anteriormente, mas continua com Crash of the Crown em alto nível. Refrão forte, boa presença dos teclados e mais uma canção bem diferente no que esperamos de Styx. Passamos pela vinheta "Lost at the Sea", cantada por Gowan acompanhado pelos teclados e uma base formada por baixo (novamente Panozzo), guitarra e bateria, e somos levados a tabla de Michael Bahan em "Coming Out The Other Side", uma canção mais amena, que nos prepara para a reta final do disco, celebrando um refrão para se cantar abraçado aos amigos, lembrando um pouco o Yes dos anos 90, ainda mais com o solo de slide (feche os olhos e imagine que é Steve Howe ali).

Chuck Panozzo, Ricky Phillips, Todd Schurmann, Tommy Shaw, James Young e Lawrence Gowan

Voltamos aos teclados e aos vocais em harmonia do início do álbum em "To Those", funcionando como o epílogo de Crash of the Crown, e se aqui o álbum encerra-se, seria redondinho, em um clima mais que perfeito. Mas há ainda uma breve vinheta, "Another Farewell", que leva para o dedilhado brilhante de "Stream", outra que nos remete a Pink Floyd, mas agora ao de Animals, com um belo solo de slide, e que conclui o álbum de forma surpreendente, ainda mais para cima, e que sugere uma espécie de continuidade ao que foi desenvolvido no disco. Fantástico!

O ponto negativo de Crash of the Crown é de que justamente quando estamos curtindo a canção, ela acaba. Mas por outro lado, ouvir o álbum na totalidade parece que na verdade ouvimos uma única suíte de 43 minutos. Temos então um disco que traz um conceito interessante para o pós-pandemia, mesclando os dias de luta, isolamento, repressão com a celebração da vida,  através da esperança de que teremos dias melhores em breve, mas principalmente, que o Styx ainda tem muita lenha para queimar.

Contra-capa do CD

1 The Fight Of Our Lives

2 A Monster

3 Reveries

4 Hold Back The Darkness

5 Save Us From Ourselves

6 Crash Of The Crown

7 Our Wonderful Lives

8 Common Ground

9 Sound The Alarm

10 Long Live The King

11 Lost At Sea

12 Coming Out The Other Side

13 To Those 3:01

14 Another Farewell 0:26

15 Stream 2:56

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