segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Rush: Praça da Apoteose, Rio de Janeiro, 10/10/10

Uma indiada sem pé nem tamanho foi a melhor definição para o que fiz nesse último fim de semana. Há pouco mais de três meses recebi um convite inesperado do meu irmão Micael para assistir ao Rush no Rio de Janeiro. Como amo o Rio e curto muito Rush, juntei a fome com a vontade de comer, e logo virei noite para comprar passagem, ingresso e reservar albergue para nós dois irmos assistir novamente juntos a um dos grandes shows que já presenciei na minha vida, já que em 2002 o Rush passou por Porto Alegre e nós havíamos sido um dos mais de 30 mil felizardos que lotaram o Estádio Olímpico naquela chuvosa noite de novembro.

Lá em 2002 eu ainda era casado com minha primeira esposa, fomos ao show juntos, passamos mal juntos, vimos o solo de Neil Peart num amasso que jamais consegui fazer em show algum, e principalmente, muito guri, perdi muitos detalhes do show ficando "endeusando" minha ex-mulher, e dessa vez nada me impediria de ver os magníficos rolos de Peart, ou Geddy Lee tocando teclados com os pés e principalmente as corridas para frente e para trás que o guitarrista Alex Lifeson faz como ninguém, e que eu copiava indecentemente na banda onde eu tocava, que não por acaso tinha como principal influência o Rush, afinal nós éramos um power trio que tocava rock progressivo, com os três amando o álbum
Hemispheres.

Enfim, o dia chegou, e depois de servir de guia para o Micael, fomos para o Sambódromo, talvez o único lugar do Rio onde tinha más recordações. De cara, na pequena fila que se formava em frente ao portão da Sapucaí, encontramos duas pessoas de ótimo caráter, Augusto e seu sobrinho (infelizmente esqueci o nome), onde batemos um bate-papo sobre as mais diversas bandas que você possa imaginar, papo esse que se estendeu para a pista do Sambódromo, enquanto ouvíamos Frank Zappa, Supertramp, King Crimson, Genesis, Pink Floyd e outras grandes bandas do progressivo nas caixas de som aquecendo a gurizada, formada em sua maioria por cariocas, mas dava nitidamente para ver que tinha gente de tudo que é lugar do Brasil ali.


Por volta das 20 horas as luzes se apagaram, e o pequeno público (pouco mais de 20 mil pessoas segundo algumas fontes) começou a dar gargalhadas com o hilariante vídeo de abertura, onde a "verdadeira história do Rush" foi contada para os presentes. Após cinco minutos de um vídeo que ensinou ao Casseta & Planeta como fazer humor, com Lifeson interpretando um alemão inventor, Lee um dono de bar e Peart um mero guardinha, a máquina do tempo que deu nome a Time Machine Tour apontou o ano de 1980 a partir de uma mancada do inventor Lifeson, e o trio canadense detonou "The Spirit of Radio", com Lee e Lifeson vestindo camisas com o símbolo da banda alemã Rash (que no vídeo foi a responsável pela criação do Rush) e com o público agitando muito.

A partir de então, a máquina deu um pulo para 1987, e do álbum
Hold Your Fire rolou "Time Stand Still", a primeira surpresa da noite, assim como "Presto", do disco homônimo de 1989, e para mim um dos melhores da terceira fase do grupo.

Finalmente consegui me situar e posicionar de forma a ver o bonito palco do Rush, talvez o mais belo que eles já usaram em todas as suas excursões. As máquinas de lavar roupa modernas e várias peças atribuídas à famosa máquina do tempo que aparecia ao final de cada canção indicando o ano da próxima faixa a ser tocada estavam visíveis para mim. Depois da sessão "fase III", Lee deu "Hello!" para o público e falou as famosas palavras de "
estamos felizes em estar aqui novamente", anunciando "Stick It Out", numa versão não tão pesada quanto a original do álbum Counterparts (1994), e que acabou brochando a mim e alguns que esperavam mais da faixa.

"Workin' Them Angels", do álbum
Snakes & Arrows (2007), contou com um ótimo vídeo no telão, mas baixou ainda mais o ânimo do público, que nem com "Leave That Thing Alone" (mais uma do Counterparts) agitou. Nessa canção, instrumental, o riff principal foi cantado junto pela galera, mas após a aparição de um "garçom alemão" que entrou no palco com um carrinho de mão e ficou limpando os pratos de Peart, além de tirar algumas fotos do baterista, todo mundo ficou rindo e parou de agitar. Pelo menos serviu para eu ver Lee detonando um solo de baixo espetacular ao mesmo tempo que tocava teclados com os pés. Um dos vários momentos que perdi em 2002 estava diante de meus olhos, e o aplauso após aquele fantástico solo foi inevitável.

"Faithless" e "BU2B" mantiveram o público preso ao chão, e a solução foi voltar para 1980 com "Freewill", onde Lee deu uma vergonhosa desafinada tentando alcançar os agudos da faixa original. Ali deu para perceber claramente que o Rush havia escolhido mal o repertório. Não pelas músicas serem ruins, mas por que não tem mais o pique para tocar as canções antigas. Peart, por incrível que pareça, atravessou o tempo do refrão principal, e somente Lifeson parecia a vontade para tocar as canções antigas.

"Marathon" (
Power Windows - 1985) foi a canção mais bonita da primeira parte do show. Nela, durante a viajante sessão instrumental, as luzes do palco começaram a se mexer, descendo sobre as cabeças de Lee e Lifeson e lembrando muito os ótimos palcos do Pink Floyd, principalmente com um arrepiante show de lasers azuis e vermelhos que iluminavam conforme as mudanças dos acordes e do ritmo. Muito lindo e “boca-abertiante”. Meu queixo praticamente caiu com aquela movimentação das luzes, e por pouco dois barbados ao meu lado não caíram em lágrimas.

"Subdivions" (
Signals - 1982) encerrou a primeira parte sem muita animação, e novamente com Peart cometendo um erro (tá, eu sei que é chato ficar repetindo isso, como se ele não fosse humano ou como se eu fosse um excelente baterista, mas ver Peart errando como errou nesse show jamais tinha visto), e então o trio saiu para "tirar água do joelho", conforme foi anunciado para o público.

Depois de 20 minutos, onde as 21:12 horas um camarada que estava ao meu lado fotografava o relógio para mostrar para a esposa posteriormente, a máquina do tempo apareceu no fantástico telão com o ano de 1973, e vagarosamente foi mudando o ano ao som de um relógio que despertou exatamente no ano 1980, entrando em mais uma hilária história sobre o Rush protagonizada pelo produtor de uma banda interpretado por Lifeson e mais os personagens feitos por Lee (um diretor de cinema) e Peart (um assessor do diretor), começando então a esperada segunda parte da apresentação, onde o álbum
Moving Pictures seria tocado na íntegra.

Ao som de "Tom Sawyer", o telão mostrava diferentes trios, com adolescentes, crianças, bebês, homens das cavernas (no ano 2112 B.C), magos, os músicos em posições diferentes (Lifeson no baixo, Lee na bateria e Peart na guitarra) e até macacos tocando a canção, tudo por mais um erro protagonizado agora por uma alemã mais que gostosa que flertava com o inventor Lifeson. Detalhe importantíssimo: ambos os vídeos de abertura estavam com legendas em português, tornando mais fácil a compreensão do já acessível inglês do trio, apesar de alguns erros grotescos como "Pictures" que virou "canecas".

O trio volta ao palco e começa a interpretar o disco
Moving Pictures, abrindo com "Tom Sawyer", cantada em uníssono pelo povo, ao mesmo tempo em que o telão delirava com as imagens dos trios citados anteriormente. O solo de Lifeson foi mostrado como que Peart fazendo o mesmo, imitando os trejeitos de Lifeson enquanto risadas e gargalhadas foram ouvidas pelos quatro cantos.

A sucessão do álbum clássico do grupo veio com uma animação onde o carro 2112 abriu espaço para a bela "Red Barchetta", contando com um belo jogo de luzes e com mais desafinações de Lee, seguida pela monumental "YYZ", onde o tema principal e todos os solos foram cantados juntos, sendo a faixa que mais agitou a gurizada, e onde uma gigantesca "aranha de luzes" desceu do teto do palco iluminando os músicos e protagonizando cenas inesquecíveis, encerrando o lado A com "Limelight", bem mais lenta que o original.

A "aranha subiu" e veio o lado B com "The Camera Eye", onde um grotesco corte em uma das partes da letra acabou botando mais água na fogueira que havia sido criada com "YYZ", decepcionando um monte aquele que vos escreve, afinal, era a música que eu mais esperava do show, uma das que mais demorei para tirar do grupo e uma das que mais gosto na carreira do Rush.

Mesmo com a perfeita introdução, que quase me levou às lágrimas, a desafinação de Lee e a podação do final foi de novo brochante, e tudo esfriou ainda mais com versões irreconhecíveis para "Witch Hunt" (e a bruxinha andando na floresta sendo exibida no telão), tendo novamente a "aranha" descendo sobre a cabeça dos músicos, e "Vital Signs", onde a "aranha" voltou ao lugar de origem, em mais um espetáculo floydiano para os fãs do Rush verem.

De novo ficou claro que Lee não consegue mais cantar, e que apesar do instrumental continuar muito bom foi necessário uma mudança brusca no tom das canções, o que tornou-as mais lentas e sem o pique original, culminando com o desânimo da plateia.

Depois de Lee anunciar que haviam tocado o
Moving Pictures, veio a inédita "Caravan", que será lançada no próximo álbum do grupo, Clockworks Angels, em uma versão bem diferente da divulgada no site oficial para download, seguida pelo solo de Peart. Aí sim, a brochação foi tanta que nem Deus segurou a onda. Logo no início do solo uma leve neblina começou a cair. A princípio, estaria Peart começando a fazer chover? Bom, o que se viu foi um solo triste e sem inspiração, que para os mais fanáticos pode ter sido perfeito, mas honestamente já ouvi o Peart tocando bem mais em 2002. Gordo e mais lento, Peart pareceu pouco a vontade. Pelo menos consegui ver ele dessa vez, a bateria girando, tudo que eu tinha perdido em 2002 por causa do tal amasso, mas o som foi decepcionante.

Depois dos quase nove minutos de improvisações, Lifeson ficou sozinho no palco para interpretar a linda instrumental "Hope" ao violão, seguida de "Closer to the Heart", que arrancou aplausos ao seu final, com Lee e Lifeson tocando em frente à bateria de Peart, o qual comandava quantas vezes mais eles iam ficar repetindo o mesmo acorde até o encerramento da canção.

As luzes se apagaram de vez e imagens espaciais surgiram no telão, indicando a épica "2112". Com uma introdução quase perfeita, o Rush levantava novamente a Sapucaí, e no meio do solo de Lifeson uma espécie de cachorro-quente humano e um macaco subiram no palco para mais palhaçadas, divertindo a gurizada ainda mais. Mas, no final de "Overture", um decepcionante “C” surgiu ao invés do “E” final, e então entramos em "The Temples of Syrinx" dois tons abaixo do original, e com Lee ainda desafinando. Mais uma decepção. Joguem as pedras, podem dizer que sou chato, mas é brabo ouvir uma música que você gosta tanto tocada pelos caras que compuseram a mesma de uma forma tão vergonhosa como foi a que ouvi de "2112". Enfim ...

"Far Cry" encerrou a segunda parte da espetáculo, mas como tradição não podia faltar o bis, e ele veio em grande estilo, sendo o melhor momento de todo o show. Depois de uma distribuição de camisetas e com Lee vestindo uma echarpe, começou uma "versão bandinha alemã" de “La Villa Strangiato”, com Lee tocando o riff inicial em um teclado com um som tipicamente alemão, entrando então nesse que para mim é o melhor instrumental da carreira do Rush. Todo mundo cantava os acordes e notas de Lifeson, e o arrepio subia pela espinha.

No momento calmo da apresentação, um show de luzes azuis deu espaço para novamente a "aranha" descer totalmente desmontada e proporcionando mais um lindo espetáculo visual, quando finalmente se posicionou inteiramente sobre o trio. Foi "o momento" de todo o show! Ainda deu tempo de Lifeson colocar uma camisa da Seleção Brasileira em cima de um microfone, ao mesmo tempo em que tocava os acordes finais, mostrando que é atualmente o melhor dos três em termos de distrair o público com palhaçadas. O melhor de tudo é que ele não resolveu "cantar" durante o solo, fazendo assim somente a versão original deste clássico.

Para encerrar, Lifeson destruiu em "Working Man", tocando muito e mais um pouco. A introdução reggeada dos anos 70, onde Lee conseguiu desafinar mais que uma galinha cacarejando, deu espaço para uma curta mas poderosa "Working Man", onde o solo de Lifeson, apesar de podado pela metade, foi o suficiente para deixar meus olhos vidrados no palco. Já vi Lifeson tocando muito, mas o que ele fez ali foi humilhante, mostrando para muitos guitarristas que virtuose não é sinônimo de talento. O cara destruiu, e fim de papo!

Ao término de "Working Man" o show ainda continuou. No telão, mais um divertido vídeo mostrava os bastidores do pós-show, onde dois fãs entraram no camarim do Rush. A história é mais do que hilária, com os fãs inclusive discutindo a pronúncia do nome de Peart e insistindo que Peart estava errando na pronúncia de seu próprio nome. Fantástico!!

Saimos da Sapucaí ao som de "Closer to the Heart" em ritmo de bandinha alemã e com a mesma sensação: o Rush se despedia de todos, parecendo esta ser a última turnê do grupo. Infelizmente, para mim, ficou também o sentimento de que Lee não canta mais como antigamente (apesar de estar tocando muito o baixo que o acompanha faz anos), e que Peart foi o mais decepcionante dos três, com viradas erradas e muito lento. Apenas Lifeson conseguiu manter os bons anos setenta no corpo, mas isso até por que o instrumento dele é o mais fácil de ser tocado.

Se em 2002 eu ouvi tudo e não vi nada, em 2010 vi e ouvi muito bem o show. O set list de 2010 para mim foi pior do que o de 2002, mas não que tenha sido ruim, apenas deixou de lado vários álbuns como
Fly By Night, Caress of Steel, Vapor Trails e Roll the Bones, mas tudo bem, isso é questão de gosto. De qualquer forma, achei o show de 2002 bem melhor, principalmente pela pegada do trio naquele ano.

Ao menos o Rush não virou uma banda cover deles mesmos (como o Deep Purple, por exemplo) e trouxe ao público muitas novidades sonoras, que apesar de não serem clássicos mostram que em estúdio o grupo ainda tem alguns anos de vida. E óbvio, posso contar aos meus netos que vi duas vezes o maior power trio da história do rock canadense, e que apesar da diferença de setlists e do pique da banda para cada show, pude cantar as canções que não tem letra junto com o grupo. Vai ser difícil para eles entenderem, mas quem estava lá ou gosta de Rush vai entender muito bem.

E desculpem pelo longo texto, mas um show de quase 2:40 horas não podia ser resumido em apenas alguns parágrafos.

Setlist:

Parte 1
1. Video Intro/The Spirit of Radio
2. Time Stand Still
3. Presto
4. Stick It Out
5. Workin' Them Angels
6. Leave That Thing Alone
7. Faithless
8. BU2B
9. Freewill
10. Marathon
11. Subdivisions

Parte 2
12. Video Intro/Tom Sawyer
13. Red Barchetta
14. YYZ
15. Limelight
16. The Camera Eye
17. Witch Hunt
18. Vital Signs
19. Caravan
20. Solo de Neil Peart
21. Hope/Closer to the Heart
22. 2112 (Overture / Temples of Syrinx)
23. Far Cry

Bis
24. La Villa Strangiato
25. Working Man

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os 40 anos da morte de Janis Joplin


04 de outubro é uma daquelas datas que marcam a humanidade. Exatamente há 40 anos atrás, morria a maior cantora branca de blues que o mundo já ouviu, Janis Joplin.

Nascida em 19 de janeiro de 1943, na cidade de Port Arthur, Texas, Estados Unidos, Janis Lyn Joplin cresceu ouvindo música com seus pais, influenciando-se principalmente em gênios do blues como Big Mama Thornton, Bessie Smith, Buddy Guy e Robert Johnson. Logo após terminar o segundo grau na Jefferson High School, Janis mudou-se para a Universidade do Texas, em Austin, no ano de 1960, onde sua vida começou a mudar significativamente.

A famosa foto de Bob Seideman

Com 17 anos, Janis desfrutava de uma beleza rara, o que pode ser conferido na bela foto de Bob Seidemann de 1967, e principalmente, dotada de uma voz incomum para brancos e com uma capacidade de fazer chorar até cantando "Parabéns A Você", Janis passava a ser uma das principais atrações nas casas noturnas da cidade.

Em 1963, Janis viveu sua transformação. De estudiosa e intelectual, vestindo-se como as francesas e seguindo uma geração beat, Janis mudou-se para San Francisco, onde teve contato com a geração hippie e com as primeiras pastilhas de LSD, bem como a heroína.

Desde os tempos da faculdade em Austin Janis consumia macona e muito álcool, mas os primeiros anos em San Francisco quase a levaram para uma pior. A mistura de bebida, heroína e drogas mais leves afetaram muito sua saúde, mudando inclusive sua voz, deixando-a mais rouca e blueseira do que já era.

Janis no início de carreira: uma tímida cantora folk

Janis teve que se afastar de San Francisco para fazer um tratamento de recuperação de saúde, mas por lá, deixou amigos e contatos, como Bob Dylan, Jimi Hendrix (ainda em começo de carreira) e Jerry Garcia.

Retornou para São Francisco em 1966, onde participou para a seleção de vocalista principal de diversas bandas. Na Big Brother and the Holding Company, Janis alcançou o posto de vocalista principal, e com a banda gravou dois excelentes discos: Big Brother and the Holding Company (1967) e Cheap Thrills (1968), esse último um marco, com clássicos do calibre de "Summertime", "Piece of My Heart" e "Ball and Chain", além de deixar todos de boca aberta com uma apresentação insana e emocionante no Monterey Pop Festival de 1967, onde interpretando "Ball and Chain", Janis fez Mama Cass engoli diversas moscas sem nem perceber.

O sucesso com a Big Brother fez a gravadora projetar vôos maiores para Janis, e assim, criou-se a Kosmic Blues Band, com quem Janis gravou o fundamental I Got Dem ol' Kosmic Blues, Again Mama! (1969), um dos discos mais importantes da história fonográfica, com clássicos do porte de "Try", "Maybe", "Kosmic Blues", "Little Girl Blue" e "Work Me Lord". O contato com as drogas passou a ser cada vez maior e Janis novamente se transformava. Agora a garota bonita do início dos anos 60 dava lugar a uma gorda espalhafatosa, falando bobagens e cometendo muitas gafes.

O sinal de decadência se deu na desastrosa apresentação em Woodstock. Totalmente chapada, Janis subiu ao palco cambaleante, e fez uma das piores apresentações de sua carreira, errando letras, tempos e pagando um mico geral ao ter que ser novamente segura para descer do palco.

Janis novamente buscou a saída em um tratamento de desintoxicação, e dessa vez, veio ao Brasil, onde fez sucesso, transando com Serguei e um holandês na praia de Copacabana, cantando em alguns bordéis (inclusive existe um que tem um cartaz afirmando que Janis lá cantou) e sendo expulsa do Copacabana Palace Hotel por nadar nua na piscina.

Janis em Copacabana
Janis voltou para os Estados Unidos, onde a Fill Tilt Boogie Band já esperava para a gravação de um novo álbum e para uma fantástica excursão chamada Festival Express, onde ao lado da Grateful Dead, Delaney and Bonie, The Band, Eric Andersen e Ian and Sylvia, Janis percorreram o Canadá em um trem, tocando em Toronto, Winnipeg e Calgary, e voltando mais forte para as drogas. Faltando colocar voz em apenas uma música, Janis foi encontrada morta no dia 04 de outubro de 1970 em um quarto de hotel em Los Angeles, vítima de uma overdose de heroína.

Após muita discussão, Pearl foi lançado em 1971 trazendo todas as canções que Janis havia gravado e mais "Buried Alive in the Blues", a única que faltou a voz de Janis. O disco foi um estouro, e mostrou Janis em ótimas fase de recuperação, com canções como "Cry Baby", "My Baby", "A Woman Left Lonely" e "Me and Bobby McGee".

Janis foi cremada no cemitério Westwood Village Memorial, e suas cinzas espalahadas pelo Oceano Pacífico, deixando um legado de uma voz inigualável, frases polêmicas como "estar no palco é fazer sexo com mais de 1000 pessoas ao mesmo tempo" e uma dose cavalar de emoção para cada palavra que saia de sua boca, sempre dando mais um pedaço de seu coração ao ouvinte.

Janis para mim é uma injustiçada. Chamada de baranga, hipponga e tudo o mais que é desprezível e menosprezante, Janis na verdade ardeu em um mundo que não entendia sua capacidade de amar, e principalmente, de se expressar, afundado na pior das soluções para fugir da depressão, as drogas, e tornando-se uma filha da heroína.

Infelizmente, foi mais uma vítima a ficar na interminável linha de trem dos famosos artistas que perdem a batalha contra as drogas, mas que tem seu legado cultuado até os dias de hoje.

Janis ao vivo: um vulcão em erupção

Fica aqui minha pequena mas sincera homenagem a maior artista e meu maior ídolo desde que me conheço como gente. Falaria muito mais de Janis, principalmente por ser apaixonado pela vocalista, mas prefiro elucidar todo meu sentimento em uma frase que admiro de um clássico da carreira dela:

"You know that I'll always be round
If you ever want me"
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