sábado, 30 de maio de 2020

Capas Legais: Episódio 04: The Wailers - Catch A Fire [1973]



No último dia 11 de maio, comemorou-se o Dia Nacional do Reggae. A data marca o aniversário de morte de Bob Marley, o maior nome da história do Reggae em todos os tempos, e que completou 39 anos agora em 2020. Sendo assim, nada mais justo que o Capas Legais desse mês prestar sua homenagem à Robert Nesta Marley, através de sua capa mais emblemática, Catch a Fire, lançado pelo grupo The Wailers em 1973, e cujo formato é um isqueiro.

domingo, 24 de maio de 2020

U2 pós Anos-80



Que o U2 é uma das maiores bandas de todos os tempos, isso ninguém tem dúvidas. Porém, muita gente acaba traçando todo esse mérito para os anos 80 da banda. Nesse texto, trago um pouco da história e dos lançamentos dos irlandeses Bono (vocais), The Edge (guitarras), Larry Mullen Jr. (bateria) e Adam Clayton (baixo).

Depois de conquistar o mundo com a trilogia clássica formada por The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e Rattle and Hum, o U2 entrou os anos 90 surpreendendo. Uma nova trilogia começou a ser formada, e poucos imaginavam que o grupo iria atirar-se tão de cabeça em uma empreitada quase suicida. O eletrônico era a bola da vez, e eles adaptaram seu estilo a uma sonoridade que quase levou a dissolução do grupo.


Se para os antigos fãs era uma verdadeira m*, para os novos era o ápice de um nível orgasmático inalcançável. Criticada, a fama do grupo caiu muito durante o período que durou essa trilogia (aproximadamente dez anos). Porém, para esse que vos escreve, é um período fértil, de extrema criatividade, no qual o quarteto (e principalmente The Edge) colocou suas mangas para fora e gerou seus melhores e revolucionários trabalhos. Voltamos então ao ano de 1991, e o mundo inteiro tentando entender o que os irlandeses queriam …


O revolucionário Achtung Baby


Adam Clayton nu na contra-capa do álbum; Bono carregado de maquiagem e usando roupas estranhas; The Edge com uma echarpe vermelha muito chamativa ilustrando o encarte. Essas cenas estranhas aterrorizaram os fãs do grupo ao verem a capa de Achtung Baby, e o que eles encontraram nos sulcos do vinil (ou na gravação digital da mídia) certamente fez com que 80% ou mais da geração acostumada a clássicos como “Where the Streets Have No Name”, “Bad” ou “Sunday Bloody Sunday” apedrejam-se esse disco. Por outro lado, a imprensa mundial dividiu-se em elogios e críticas. Na verdade, o U2 começava uma nova fase, “vendendo-se” aos apelos dos críticos e criando um mundo adaptado ao eletrônico dos anos 90. 

Criticado pela imprensa pela sua postura social nos álbuns anteriores, Bono e seus companheiros resolveram reinventar-se, mostrando que podiam criar canções interessantes sem serem apelativos ou sensacionalistas (como muitos jornais e revistas especializados costumaram chamar o grupo desde The Joshua Tree). O resultado é um disco controverso, mas muito bom. 

Adam Clayton pelado. Polêmica!!

Com a colaboração de Brian Eno e Daniel Lanois, Achtung Baby abre com o começo perturbado da guitarra e a bateria eletrônica introduzindo, “Zoo Station”, bem como os efeitos na voz de Bono, indicando um caminho que nos lembra o techno de bandas como New Order e Orchestral Manoeuvres in the Dark, continuando em “Even Better than the Real Thing”, destacando os vocais dobrados de Bono, em “Love is Blindness”, bonita balada destacando o baixo, e a ótima “Until the End of the World“. “One” tornou-se um clássico, e é uma das poucas a possuir traços do que o U2 havia apresentado nos anos 80, mas destoa bastante das demais canções do álbum. Momentos descontraídos aparecem em “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” – outra que lembra os anos 80, mas com muitos efeitos eletrônicos – na dançante “Misterious Ways” – outro clássico do álbum – e na pegada bluesy de “The Fly”, com destaque para a voz em falsete de Bono, alavancando a popularidade dos irlandeses para uma nova geração. 

Porém, são nas desconhecidas “Acrobat”, “So Cruel”, “Tryin’ to Throw Your Arms Around the World“, apresentando uma mescla do pop proposto para essa nova fase com as linhas rock dos anos 80, mescla esta explicitada na melhor faixa do álbum, a fantástica “UltraViolet (Light My Way)“, que encontramos os melhores momentos deste álbum que, apesar de todas as críticas, tanto dos fãs quanto da imprensa, conquistou a primeira posição em seis países (entre eles Brasil e Estados Unidos, país aonde atingiu oito discos de platina),vendendo mais de vinte milhões de cópias em todo o mundo e tornando-se um dos álbuns mais vendidos da carreira do grupo. Era o começo de uma nova e conturbada era.



O U2 na ZooTV Tour

Após o lançamento, o grupo saiu na famosa Zoo TV Tour, a primeira grande turnê mundial que o grupo fez, com um palco gigantesco, mostrando imagens de televisão, um potente telão ao fundo e diversas performances em cima do palco, destacando Bono, auto-apelidado de “Homem-Mosca”, utilizando óculos escuros, guampas reluzentes e outros artefatos durante as apresentações.
Experimental e sensacional Zooropa

Em 1993 veio aquele o disco que demorei muito tempo para entender, mas hoje, caio de joelhos a cada audição. Zooropa é praticamente perfeito. Bono e The Edge travam uma batalha de egos que encobrem as almas de Clayton e Mullen Jr., mas criam uma harmonia inédita nas canções do U2, produzidos novamente por Brian Eno, mas agora com a colaboração de Flood e The Edge, e investindo ainda mais em eletrônicos e também em samplers. Difícil destacar alguma faixa em específico, mas se pudesse citar apenas três, elas seria “Numb“, com sua mistura vocal/eletrônicos, os vocais em falsete e os gemidos da majestosa e contagiante “Lemon” (quem nunca dançou sozinho com essa canção que atire a primeira pedra), e as harmonias emocionantes de “Stay (Faraway to Close)“, não por acaso os três singles do álbum, e não por acaso, as três canções que encerram o lado A.

O inovador palco da Zooropa Tour
Desde a longa abertura da faixa-título, até os segundos finais de “The Wanderer” (com a participação mais que especial de Johnny Cash nos vocais), passeamos por quase uma hora de maravilhas techno-rock, cruzando pela suavidade de “Babyface”, a sequência citada e o recheado Lado B, os eletrônicos tomando conta de “Daddy’s Gonna Pay for Your Crashed Car”, o baixão de “Some Days are Better Than Others”, a emocionante balada “The First Time”, o viciante ritmo de “Dirty Day” e a citada “The Wanderer”, na qual a mistura dos eletrônicos com a gravíssima voz de Cash casou muito bem. Apesar de não ter vendido tanto quanto seu antecessor (10 milhões de cópias em todo o mundo), foi um marco principalmente pela consolidação do quarteto nas grandes arenas, ainda com a Zoo TV Tour, que foi registrada no DVD ZooTV: Live from Sidney (1994). Ainda considero ele o melhor disco do U2, apesar de cada vez mais ver ele perdendo seu espaço para seu sucessor.

 
O único e experimentalissimo Original Soundtracks 1

Mas nem tudo foram flores. Brigas internas levaram a dissolução (breve) do grupo. Nesse período, mudaram de nome e lançaram Original Soundtracks 1, único disco do projeto The Passengers, também ao lado de Brian Eno, destacando “Miss Sarajevo“, gravada em parceria com Luciano Pavarotti. Adam e Mullen ainda gravaram uma versão eletrônica para a trilha do filme Missão Impossível” (1996) e assim, o quarteto preparou-se durante mais de um ano para gravar seu mais odiado álbum e despedir-se de vez da eletrônica.



Pop, álbum conceitual e que praticamente acabou com o U2

Já comentei sobre esse álbum aqui no Baú, e fui muito criticado. Assim como Zooropa, demorei (e muito) para entender Pop. Único disco conceitual da carreira do U2, é um marco para toda a geração dos anos 90, sendo um desabafo contra o consumismo e o domínio dos Estados Unidos no comércio mundial, usando justamente de sonoridades americanas para provocar e criticar aquele país. O álbum começa vibrante, através de “Discothèque“, e pouco a pouco, entra em um clima de agonia e depressão que só será encerrado com “Wake Up, Dead Man!”, um pedido à todos para não venderem suas almas ao consumismo e capitalismo exacerbado. 

Musicalmente, Flood, Steve Osborne e Howie B. foram os produtores que aplicaram samplers sobrepostos entre guitarras e vozes cheias de efeitos. Mas, dos discos da fase eletrônica, este é o que mais apresenta traços da segunda fase da banda, como podemos ouvir em “Do You Feel Loved”, “If You Wear that Velvet Dress” e “The Playboy Mansion”. “Mofo” está entre as principais obras de arte compostas pelo quarteto, assim como a arrepiante “Please“, na qual Bono agoniza nos vocais. A balada “If God Will Send His Angels” demonstra os novos caminhos que o grupo veio a seguir posteriormente, com pouca participação dos eletrônicos, assim como “Staring at the Sun”, única que escapou da crítica destrutiva dos fãs. 
 
O inovador palco da PopMart Tour


Adoro os lances sintetizados de “Last Night on Earth” e “Gone”, ambas com a a voz de Bono carregada de depressão, e também flertando com o krautrock estilo Kraftwerk, assim como “Miami”, considerada a pior música gravada pelo U2 e uma das dez piores em todos os tempos pela revista Q Magazine, mas que está muito longe disso. Embora tenha alcançado no seu lançamento a primeira posição em 35 países (entre eles Estados Unidos e Reino Unido), trata-se do maior fracasso comercial da história do U2, com pouco mais de cinco milhões (!) de discos vendidos em todo o mundo, o que eu classifico apenas como incompreensão perante a genialidade que é esse álbum. Enfim, vários são os destaques nesse incrível e conturbado abismo sem fim do qual Pop mergulha em sua uma hora de duração, difícil de se entender no início, mas totalmente fantástico quando ouvimos ele com a mente entendendo cada segundo que passa em suas canções. Concluo dizendo que ouvir Pop do início ao fim deveria ser obrigatório em todas as aulas de arte quando fossem falar sobre música pop.

Sem forças para sobreviver por causa das baixas vendas, o grupo decidiu colocar o pé na estrada, indo em países da América Latina com a PopMart Tour, registrada no essencial DVD PopMart: Live from Mexico City (1999). O Brasil inclusive foi beneficiado com a magnífica produção de um gigantesco palco trazendo artefatos como um limão voador, um arco imitando o símbolo da rede McDonald’s e um hipnotizante telão de LED. Mesmo assim, a baixa procura pelos ingressos quase levaram os irlandeses a falência, e então, um longo hiato de três anos surgiu, afim de ver quais os caminhos que a banda deveria seguir.



Retorno aos anos 80 com All That You Can't Leave Behind

Passada a crise interna por conta do excesso de eletrônicos, os irlandeses reuniram-se, juntaram os cacos e resolveram voltar ao som mais convencional, baseado apenas na guitarra, baixo e bateria. All That You Can’t Leave Behind (2000) tem sintetizadores, samplers ou bateria eletrônica raramente são encontrados no décimo álbum do grupo. Contando com a produção de Daniel Lanois e novamente Brian Eno, sendo o início do álbum uma sequência fiel ao final de Pop, através da clássica “Beautiful Day”, a qual virou hino para os fãs, o que só comprova a minha teoria de que as pessoas não gostam de Pop simplesmente por que a maioria nunca ouviu o mesmo direito. 

Depois, entramos em um mundo bem acessível com a balada “Stuck in a Moment You Can’t Get Out Of”, seguida por “Elevation”, canção um pouco mais pesada e que batizou outra gigantesca turnê do grupo, voltando-se para locais como ginásios e teatros, tendo o palco em formato de coração como principal destaque, turnê essa que pode ser conferida nos DVDs Elevation 2001: Live from Boston (2001) e U2 Go Home: Live from Slane Castle (2003). 

O belo palco da Elevation Tour
 
“In a Little While”, “Peace on Earth” e “Walk On” são os melhores exemplo do que é este álbum para mim: canções arrastadas, com pouca inspiração, engatinhando no objetivo de criar algo de fundamento. Talvez o melhor momento seja quando o quarteto resolve fazer o simples, sem invenções, através de “Wild Honey“, que soa redondinha com o uso dos violões e do slide guitar. Ou então, “New York“, a mais próxima das canções de Pop que All that You Can’t Leave Behind possui, com a bateria eletrônica tomando conta da canção juntamente da guitarra cheia de peso. 

A alternância das canções, sem manter um padrão auditivo, faz com que muitas canções passem despercebidas, casos de “Kite”, com um interessante emprego do mellotron, “When I Look at the World”, saída de algum lugar obscuro entre The Joshua Tree e Achtung Baby, ou ainda “Grace”, uma balada sem criatividade e totalmente dispensável. Resonsável por novamente colocar o U2 como um dos mais vendidos, com mais de 15 milhões de cópias até os dias de hoje.
O sucesso "Vertigo" está aqui

Mais um breve hiato e, dessa vez, os irlandeses retornam com um álbum sensacional. How to Dismantle an Atomic Bomb, lançado em 2004, é digno de estar entre os melhores lançamentos do grupo, que faz uma belíssima reunião dos riffs marcantes na fase The Joshua Tree a um som atual, pesado e cru, carregado por uma performance irretocável de Mullen e Adam. As atenções ao eletrônico ou samplers desaparecem, e o que ouvimos é o mais puro e direto rock ‘n’ roll, a começar pela faixa de abertura, a clássica “Vertigo”, que até aquele momento, era a canção mais pesada que o grupo já havia gravado. Dessa vez a produção ficou a cargo de diversos nomes, dentre eles ainda Brian Eno, e o resultado alcançado é excelente. 

“Miracle Drug” parece ser uma sequência de “I Still Haven’t Found When I Looking For”, porém com mais peso e emoção, principalmente na voz de Bono, o grande destaque do álbum. Aliás, é dele a linda “Sometimes You Can’t Make It On Your Own“, belíssima homenagem feita a seu pai, e que é impossível não segurar as lágrimas ao ouvi-la. Outra bonita balada é “One Step Closer”, essa com os teclados marcando presença, enquanto “Original of the Species” destaca-se não só por seu andamento cativante, mas também pelo arranjo orquestral e claro, as passagens de guitarra de The Edge. 


“All Because of You” tem um riff e levada inspiradíssimo em “Rebel Rebel” (David Bowie), mas com muito mais peso. Outras canções que possuem raízes fortes nos anos áureos do grupo são “Crumbs from Your Table“, “Yahweh” e a fantástica “City of Blinding Lights“, todas com os marcantes riffs de The Edge, e inclusive com o piano e o baixo reaparecendo como há muito não se ouvia nas canções do grupo. “Love and Peace or Else” é um blues moderno e pesado, diferente de tudo o que o U2 já gravou. O único deslize fica para a latinidade de “A Man and a Woman”, que não caiu bem para os padrões deste belo álbum.

Mais um palco inovador do U2, dessa vez com a Vertigo Tour

Poderia facilmente ser substituída pela viajante “Fast Cars”, que saiu como bônus nas versões japonesas e nos lançamentos do Reino Unido, além da versão COLLECTOR’s EDITION, no formato de livro, contando com um DVD apresentando um interessante documentário sobre a criação do álbum e diversas mensagens e fotos coloridas. Existem também a versão DELUXE, contendo apenas o DVD citado, e uma pequena tiragem em vinil. Vale ressaltar que o disco, primeiro lugar em vendas em mais de vinte países, recebeu nove Grammys entre 2005 e 2006, sendo eleito o melhor álbum de 2004 por quase a unanimidade das revistas mundial, além de em apenas nove anos, já ter vendido mais de dez milhões de cópias ao redor do planeta.

A turnê de promoção trouxe o U2 novamente ao Brasil. Os shows nos Estados Unidos foram realizados apenas em ginásios, enquanto os shows na América Central, América do Sul e Europa foram todos em locais abertos. O bonito palco da turnê apresentava uma elipse que contornava alguns fãs, tornando-o mais próximos do grupo. Você pode conferir essa turnê nos DVDs oficiais Vertigo 2005: Live from Chicago, Vertigo: Live from Milan e U2-3D.




Para o autor, o melhor disco dos irlandeses nesse século
Se How to Dismantle an Atomic Bomb já era muito bom, o grupo se superou em 2009 com No Line on the Horizon. Blindando totalmente os eletrônicos e samplers, em No Line on the Horizontemos uma reinvenção para a criação das canções dos irlandeses. Com o mesmo time que produziu Achtung Baby, várias são as faixas que tornaram-se hinos para os fãs, como a ótima faixa-título, a arrepiante “Moment of Surrender”, carregada de teclados e com Bono destruindo nos vocais, o arranjo único de “White as Snow”, outra que Bono dá show nos vocais, o ritmo funkeado de “Stand Up Comedy”, ou as passagens singelas de “I’ll Go Crazy If I don’t Go Crazy Tonight”. 

Da onde saiu a sonzeira “FEZ-Being Born“? Nela, temos uma mistura que alivia os saudosos da época de Pop, mas ao mesmo tempo, hipnotiza por seu clima quase progressivo, a la Alan Parsos Project. “Magnificent”, “Cedars of Lebanon” e “Unknown Caller” remetem-nos diretamente para The Unforgettable Fire, e o auge do disco fica por conta das pesadíssimas “Breathe” e “Get on Your Boots“. Ouvir essas canções e associá-las ao U2 é tarefa quase impossível. 

As versões box e Magazine de No Line on the Horizon

No geral, o disco soa muito reto, mas graças as linhas de The Edge, o andamento cadenciado de Adam e Mullen, além de uma magnífica performance vocal de Bono (talvez a melhor de sua carreira), temos outro grande candidato a melhor disco do grupo. Para os colecionadores, o álbum saiu em cinco diferentes formatos: versão normal; versão em LP; versão MAGAZINE, trazendo uma revista com 60 páginas; versão DIGIPACK, com um pôster e um livreto com 36 páginas; e a versão BOX SET, trazendo um DVD, um livro com 64 páginas além de uma revista e de um pôster.

Em termos de vendas, este álbum debutou em primeiro lugar em mais de trinta países (entre eles o Brasil, aonde recebeu disco de platina por mais de 100 mil discos vendidos), e até hoje, já vendeu mais de dez milhões de álbuns ao redor do planeta. Assim como seu antecessor, foi eleito melhor disco do ano de 2009 por diferentes revistas, e ganhou o Grammy de melhor álbum em 2010. A bela turnê de promoção trouxe o U2 para os estádios americanos com a 360° Tour, a qual foi registrada no ótimo DVD 360° at the Rose Bowl, e que passou pelo Brasil em 2010.


Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr.
Existem ainda diversas coletâneas dessa fase do grupo, tanto em CD quanto em DVD, com os clipes oficiais. Álbuns ao vivo então são incontáveis, mas não tem como não destacar Hasta la Vista Baby! U2 Live from Mexico City (2000) e Live from Paris (2008). Para os aficcionados, vale a pena investir na caixa The Complete U2, lançada em 2004 somente para download, trazendo todo o material registrado pelo grupo, inclusive versões single e raridades. 

Em 2013, havia a expectativa para o lançamento do décimo terceiro álbum da carreira dos irlandeses, do qual já duas canções ficaram disponíveis para audição (“North Star” e “Glastonbury“), as quais já vinham sendo apresentadas na 360° Tour. O álbum seria batizado como 10 Reasons to Exist, mas somente em 2014, chegou às lojas Songs of Innocence.


O início de uma trilogia, com Larry Mullen e seu filho na capa
Depois de cinco anos, eis que o início da aguardada quinta trilogia dos irlandeses chega ao mercado, e de forma inovadora. Afinal, quando de seu lançamento, Songs Of Innocence foi disponibilizado gratuitamente para download quando durante a conferência da Apple para apresentação do iPhone 6 na cidade de Cupertino, Califórnia, o grupo anunciou uma parceria com a Apple, permitindo aos fãs conhecerem o álbum antes mesmo de seu lançamento físico oficial.

Songs of Innocence mantém a linha do que o grupo fez nos anos 2000, com refrões fortes e tendo talvez como principal diferença em relação aos anteriores uma presença mais constante dos teclados. É um disco bastante pessoal de Bono, com homenagens aos ídolos punk Joey Ramone ("The Miracle (of Joey Ramone)”) e Joe Strummer (“This is Where You Can Reach Me Now”), falando sobre como ambos impactaram a formação musical do vocalista. Outro grupo bem homenageado é o Beach Boys, com vocalizações apresentando a oitentista “California (There Is No End To Love)”, que poderia estar em algum dos álbuns clássicos da segunda trilogia, assim como a baladaça “Every Breaking Wave” parece uma sequência de "With Or Without You", e mata a saudade dos nostálgicos com sua atmosfera oitentista. 


Bono também faz homenagens à pessoas próximas, no caso sua esposa Ali na bela “Song for Someone”, o amigo Guggi Rowan na pesadíssima "Cedarwood Road", que narra a história de quando um carro bomba explodiu próximo a casa de Bono quando ele era adolescente, durante as brigas entre protestantes e católicos na Irlanda. Essas brigas também estão em “Raised By Wolves”, forte candidata a melhor do disco. Outra homenagem importante vai para a mãe de Bono, Íris, na emocionante “Iris (Hold Me Close)”, com o baixão de Clayton se sobressaindo nas caixas de som. 

 
U2 e Eagles of Death Metal dividindo o mesmo palco em Paris


O baixo sem sombra de dúvidas também é o principal instrumento de “Volcano”, faixa que ao lado de "Raised By Wolves" disputa o primeiro lugar, com um ritmo dançante e um refrão pronto para gritar no estádio. Outra boa de dançar é "This Is Where You Can Reach Me Now", que lembra uma faixa disco, ainda mais com a maciça presença dos teclados. “Sleep Like a Baby Tonight” exagera nos teclados, e é a faixa mais fraca do disco, enquanto a suave "The Troubles” novamente carrega de teclados, além de vocalizações femininas durante o refrão da mesma, méritos da cantora Likke Li, mas é uma ótima faixa. 

A versão DELUXE contém como bônus “Lucifer’s Hands”, “The Crystal Ballroom”, “The Troubles (Alternative version)” e “Sleep Like a Baby Tonight (Alternative Perspective Mix by Tchad Blake)”, bem como versões para "Something For Someone" e "Every Breaking Wave" (apenas voz e piano), "The Miracle (Of Joey Ramone)" e "Cedarwood Road" (apenas voz e violão), “California (There Is No End To Love)” e "Raised By Wolves" (ambas apresentando metais), e saiu também em vinil duplo, com a cor branca trazendo como bônus uma versão remix de “The Crystal Ballroom”. É um bom disco, mas na minha opinião, aquém de seus dois anteriores, mas que vem amadurecendo bem com o tempo.

A linda caixa iNNOCENCE + eXPERIENCE (Live In Paris)


A Innocence Tour começou em maio de 2015, e foi marcada por um palco interativo gigantesco, bem como os atentados da noite de 13 de novembro em Paris. Os shows do U2 foram cancelados após o atentado com o grupo Eagles of Death Metal, que vitimou 87 fãs dos americanos. O U2 voltou aos palcos franceses ao lado do Eagles, registrado no belíssimo DVD iNNOCENCE + eXPERIENCE (Live In Paris) (2016). A versão DELUXE desse box acompanha uma lâmpada de abajur. Ao longo do ano de 2017, o quarteto promoveu a The Joshua Tree Tour, que passou pelo Brasil com quatro shows lotados em São Paulo, um deles narrado por mim aqui. Na sequência, veio o décimo quarto disco.
Os filhos de Bono (esquerda) e The Edge (direita) na capa de Songs of Experience
Experimental como o nome sugere, Songs of Experience é bem melhor que seu anterior. Um pouco disso se deve aos diversos produtores que participaram do álbum (Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Andy Barlow, Jolyon Thomas, Brent Kutzle, Paul Epworth, Danger Mouse e Declan Gaffney), bem como convidados especiais (citados ao longo do texto), dando uma cara bastante diversa ao mesmo. 

A tecladeira viajante logo de cara na linda “Love is All We Have Left” já é uma mostra de que os irlandeses estão percorrendo um novo caminho aqui, e o mesmo acontece no encerramento, com a mágica “13 (There Is A Light)”, de fazer até paredes chorarem. Muitos teclados estão também na introdução de "Get Out Of Your Own Way", ou na bela “Love Is Bigger Than Anything In Its Way”. Kendrick Lamar faz vozes no encerramento da primeira, e também na abertura de "American Soul" faixa sensacional com um baita refrão para pular nos shows. 





A versão DELUXE de Songs of Experience

O surpreendente no geral é a variações de ritmos, como a pancada “Lights of Home”, melhor faixa do U2 nessa década, com os backing vocals do grupo pop Haim, a lembrança de The Wonders e os rocks anos 50 na ótima "The Showman (Little More Better)", o peso quase frenético do baixo em "The Blackout", ou a grudenta "Red Flag Day". Gosto da leveza de "Landlady", com vocalizações ótimas e encantadoras, do clima luau de "Summer Of Love", com participação de Lady Gaga nas vocalizações, e da estonteante viagem de “The Little Things That Give You Away”, que me remete direto a The Joshua Tree

Esse álbum cresceu muito a cada audição, e para mim está no Top 6 do grupo. Cada audição traz mais novidades, e foi muito bom re-ouvir o mesmo para essa DC. O único deslize é a declaração de amor "You're The Best Thing About Me", com um ritmo bem confuso. A versão em LP, DELUXE e SUPER DELUXE conta com as bônus "Ordinary Love (Extraordinary Mix)", "Book Of Your Heart", faixa que podia tranquilamente entrar no track list original, de tão boa que é, e "Lights Of Home (St. Peter's String Version)".
 
Bono e Lady Gaga


 A Experience Tour trouxe a inovação tecnológica da "realidade aumentada", na qual através de um aplicativo móvel, ocorre a sobreposição de imagens geradas por computador captadas pela câmera de um telefone celular. O mesmo pode ser aplicado para a capa do CD, sendo que fiz dois vídeos para capturar essa dimensão inovadora aqui e aqui. Existem ainda diversas coletâneas dessa fase do grupo, tanto em CD quanto em DVD, com os clipes oficiais.

A banda segue na ativa, e os fãs aguardando o encerramento da quinta trilogia, com a expectativa de que os boatos do fim da banda não se concretizem.

sábado, 16 de maio de 2020

Entrevista Exclusiva: Mário Testoni (Casa das Máquinas)

Entrevista cedida à Consultoria do Rock

O grupo Casa das Máquinas está na ativa novamente. Recentemente, lançou nas plataformas digitais o single “A Rua”. Batemos um papo com o tecladista, vocalista e compositor Mário Testoni, o qual nos conta como está o processo de gravação do novo álbum, bem como volta no tempo para contar algumas curiosidades do Casa nos anos 70. Confira!

Olá Testoni, obrigado por essa entrevista. Após 44 anos, temos novamente o Casa das Máquinas em ação para lançar novo disco. Como estão as gravações para o novo álbum, e quando o mesmo será lançado?
É um prazer estar com vocês. Bem vamos lá, as gravações foram feitas em duas fases, ou deveriam, a primeira fase já completa conta com 5 faixas inéditas, já masterizadas e aos poucos sendo lançadas em todas as plataformas digitais, a primeira faixa foi “A Rua”. Por esses dias estará sendo lançada a segunda faixa que é a “Brilho nos Olhos”. Por causa do Covid 19, essa PANDEMIA, vamos atrasar o lançamento físico do trabalho, pois o que deveria estar em mixagem, ainda não gravamos, pois tivemos, como todos, que parar…… principalmente gravações, imagina ficarmos 8, 12, 16 horas fechados em um estúdio de gravação, é um risco muito grande, mas acho que assim que formos liberados gravamos essas cinco faixas restantes e lançaremos ainda este ano, se Deus permitir, estamos gravando no estúdio ORRA MEU em São Paulo.



O novo single, “A Rua” está em todas as plataformas digitais. Sem dúvida uma das grandes mudanças da Casa das Máquinas da década de 70 para atual é a forma de divulgação da música. Se naquele tempo shows e discos eram a principal casa de moeda, hoje a internet tornou-se um meio de divulgação essencial para os artistas. Como o Casa vê a essa nova geração e a nova forma de divulgar seu som?
Realmente as mudanças foram muito grandes nesses anos, mas essa é a realidade, e atualmente a Casa das Moedas como você diz, ainda são e sempre serão os Shows, alguns anos atrás poderia se contar com as vendagens de LPs ou até os CDs, mas hoje, tanto os LPs, CDs, K7 e Plataformas, servem para divulgação, a realidade é outra, quem consegue vender 50.000 cópias já se considera uma vendagem espetacular, e antes se vendia 1.500.000 cópias, aí sim era uma vendagem expressiva, mas como disse, os tempos são outros……. Mas mesmo assim estou muito contente com a divulgação, hoje os caminhos são outros , web rádios, sites de entrevistas, até as imagens hoje são divulgadas pelas web rádios, o que eu acho bem legal, assim pelo menos, acabam os famosos JABAS, cobrados por programas de emissoras conhecida por todos, porém não assistidas e nem ouvidas por todos………… assim espero.

A canção “A Rua” faz uma crítica social política muito pertinente para o atual momento mundial. Como surgiu a canção, já que ela não é recente, mas parece que previu o futuro?
Verdade, é a primeira vez que a Casa grava uma letra “crítica” aos moldes políticos e sociais, mas apesar de ter sido composta há vinte e muitos anos, não é nenhuma previsão……… essa realidade já é conhecida pelo menos uns 40 anos ou mais ………… infelizmente, e não é nosso privilégio, isso se encontra no mundo todo, pelo menos nas grandes cidades com certeza. O Aroldo Binda foi quem compôs essa música e letra, ele foi o primeiro guitarrista, junto com o Pisca, da Casa das Máquinas, eu entrei em contato com ele e assim que me autorizou a gravar, escrevei o arranjo e gravamos……. e já lançamos.

Há a participação de um coro infantil na canção. Quantas crianças estão participando do coro e como foi trabalhar com elas?
Então, tratando se de uma música que fala das crianças que vivem na rua, tem no refrão um apelo delas ……. HEI, HEI, HEI……. aí tive a ideia de chamar algumas crianças e fazer esse coro com elas, uma das crianças é filha do Ivan Gonçalves, cantor da banda, fizemos umas três ou mais dobras e resolvemos o problema, o que acabou sendo uma solução. Foi muito legal por essas crianças dentro do estúdio para gravar, foi tranquilo.



Em cima do fato da pandemia, como o Casa das Máquinas está sobrevivendo nesse período tão conturbado?
Acredito que não esteja fácil para ninguém estar vivenciando esse problema, afinal não pensei que iria passar por uma loucura dessa, já passei por enchentes, tufão até dois terremotos, mas uma PANDEMIA nunca, espero passar e sobreviver a isso, então …… eu, particularmente, dou aulas na cidade de Cosmópolis, sou funcionário público da educação, então continuamos as aulas via NET, ah…… sou professor de música, e moro numa cidade vizinha, Artur Nogueira, apesar de amar minha cidade São Paulo, não é mais possível morar e viver nela………… também tenho alguns alunos particulares, mesmo tendo perdido alguns, ainda assim consigo me sustentar, pois recebo meu salário todo mês da prefeitura e algumas aulas particulares. Mas o rendimento da Casa das Máquinas parou, fizemos uma mini Live aqui em casa há umas duas ou três semanas atrás, só eu o Cadu, guitarrista que também mora em Artur, e o Ivan que estava voltando de Tatuí e aí conseguimos com que ele desse uma passada aqui em casa e fizemos um trio, mas fora isso estamos parados como a grande maioria, acho que os governos deveriam tentar ajudar todos nós, e não só alguns, como está fazendo essa COISA chamado de governador…………

Alguns especialistas acreditam que eventos como shows e peças de teatro em locais fechados, ou com grandes aglomerações, talvez nunca mais aconteçam. O que vocês pensam sobre isso?
Não é verdade, vão acontecer sim, talvez não nos moldes que vinham acontecendo. Na minha opinião os internacionais descobriram que é fácil vir buscar um dinheirão aqui no País das bananeiras, e entupiram de Shows, tínhamos mais Shows do que nos USA, proporcionalmente. Acho que teremos menos Shows internacionais e os nacionais de acordo com a realidade do País, não dá para aceitar um Show custar R$ 800.000,00 ou mais, e outros nem chegar a R$ 2.000,00, qual o critério para se avaliar…… sucesso? Qualidade? Produção? Equipamento? Aceitação de um ou outro? Acho que teremos que repensar tudo isso ……………..A mesma coisa com “supostos” Atletas, POLITIQUEIROS e afins, ou seja, nada será como era, mas tudo vai acontecer sim………….. esperamos.

Voltando no tempo, o Casa é reconhecido como uma vertente forte do progressivo nacional, principalmente com a entrada de você, Testoni, nos teclados (o excelente Lar de Maravilhas). Que bandas eram as principais influências do grupo naquela época, e como era o processo de criação da banda para petardos como “Astralização”, “Vale Verde” ou a dupla “O Sol / Reflexo Ativo” ?
Então, nos anos 70 tivemos o período mais criativo artístico, não só musical, mas através da música até novas peças teatrais com um novo conceito foram criadas, tudo mudou, a música trouxe novas atitudes, maneira de se vestir, apresentar, gírias, liberdade, etc……Além de influências, tipo: Yes, Genesis, Focus, PFM (Premiata Forneria Marconi), Supertramp, Led, Deep Purple, Triumvirat e outros, a maioria dos tecladistas tinham formação ERUDITA e com a liberdade nos dada, fazia com que o Rock virasse músicas eruditas, erradamente clássicas como chamam por aí, a diferença eram as letras e os instrumentos usados, mas se passar o arranjo para uma formação de uma Orquestra Sinfônica vai soar como erudito, por exemplo Vale Verde, Astralização e outras.

Cadu Moreira, Mario Testoni, Marinho Thomaz, Geraldo Vieira e Ivan Gonçalves. Casa das Máquinas.


Entre 74 e 76 parece ter havido no Brasil um interesse das gravadoras pelo rock, com o lançamento de álbuns e também um certo burburinho na mídia. Depois disso, parece que houve um arrefecimento da coisa toda. Como vocês veem o período?
Como disse anteriormente, na década de 70, 80 e início de 90 o Rock, de uma forma geral ………….. mais Popzinho ainda circulava pelas mídias, com o “Evento” Sertanojo (hoje), Pagode e essa coisa que batizaram de “Funk” (erroneamente descrito)…. PS: gosto de música Raiz, Caipira…….Essa coisa de sertanejo universitário nunca vai se formar? Quem sabe subiria de universitário para outra categoria……… desabafo. Vamos voltar, o que eu acho que aconteceu, foi uma mudança comportamental e de instrução cultural, e aí chegamos no que estamos, a culpa disso??????? Acho que as gravadoras querendo tudo imediatista, as mídias com produtos descartáveis, mas que geraram audiência, etc……. Mas acho que o Rock apesar de não estar nas mídias, tem estado bem presente, digo isso mundialmente, não no País das Bananeiras, aqui é isso que estamos vendo, se acham que acabou, nada disso, ainda vai piorar e só acabará quando conseguirmos bater os pés no fundo do poço para podermos voltar e recomeçar……….

Quais os motivos que levaram a banda para mudar seu som na época de Casa do Rock?
Olha a mídia e as gravadoras aí novamente, não que tenha sido uma imposição, mas uma forçada de barra sim, para poder ter uma mudança, acho que o ser humano vem emburrecendo, criando uma certa preguiça de raciocínio, como as músicas e letras mais elaboradas requerem uma audição mais atenta, fica mais fácil algo que não seja tão elaborado, só que com o passar dos anos as coisas vão piorando, haja vista o que acontece hoje com nossa população……… Mesmo com a mudança para o Casa de Rock, a Casa continuou ainda um progressivo, hoje nesse novo trabalho, teremos algumas músicas bem progressivas.

As mudanças de direcionamento sonoro de vocês em um curto espaço de tempo geraram tensão entre os membros da banda? ou todo mundo curtia de tudo?
Gostávamos e curtíamos de tudo que era bom, mas a mudança ocorreu também com a saída do Aroldo e do Carlos Geraldo, mas como digo, mudanças trazem movimentos, e sem movimento as coisas ficam estagnadas.



Quais as lembranças de festivais que o Casa participou nos anos 70?
O Casa não participou dos grandes festivais, até porque éramos uma banda que tinha um diferencial, tinha uma Som Livre por trás, uma estrutura de escritório, estúdio, equipe técnica, condução e condição própria, isso levava o Casa a ter vários Shows e tours pelo Brasil, mas participamos sim de vários festivais, principalmente pelo Sul do Brasil, onde existem até hoje, vários festivais de Rock.

Sempre ouvimos falar das dificuldades técnicas do show business roqueiro da época no Brasil. Poderiam contar um pouco como vocês se viravam para oferecer um som pesado e de qualidade para a moçada?
Dentro do que era possível, como disse antes, tínhamos uma estrutura muito boa, só existia uma banda que tinha mais equipamento que nós, eu acabei integrando entre os anos 77 e 78, se não me engano, a banda era os PHOLHAS. Mas o que conseguíamos era um som bem legal para época.

Vocês consideraram em algum momento adaptar o som da banda e embarcar na onda do rock/pop dos anos 80?
Não em nenhum momento isso passou pela nossa cabeça, jamais, aliás esse foi um dos motivos pela demora de voltarmos para os estúdios, fazer o Casa como era o Casa.

Qual a opinião das lives? Há ideia de uma live da Casa das Máquinas.
Sinceramente, acho que tem certos tipos de som que não são possíveis para Live, vão virar uma audição e visualização de apresentações de estúdios, sem o calor do público, o que é fundamental, mas acho que para o público é legal, deveria ter um incentivo financeiro, como disse antes, para sobrevivência e condições para se fazer uma coisa legal. Temos vistos muitos absurdos nessas Lives, muitos “artistas bêbados” enchendo o saco……………. Fizemos uma mini Live, não sei se faremos outra…………..



O grupo surgiu no meio da ditadura militar. Como você compara os tempos da ditadura com os dias atuais de nosso país?
Primeiro que não foi uma Ditadura, mas sim um Golpe militar, que aconteceu para que não tivéssemos influências e atitudes comunistas………..Só que a coisa acabou durando mais do que devia, talvez………. talvez não, da proposta de LIBERDADE, acabamos tendo a de LIBERTINAGEM, não vou discutir política, pois cada um tem sua opinião, e devemos aceitar todas…………. Tenho 66 anos, me lembro que tinha muita agitação por parte dos militares, mas tinha também mais segurança pública, mais empregos, menos roubalheiras, menos políticos para não fazer absolutamente nada, menos partidos, menos sindicatos, mais cultura, respeito……………… enfim, cada um tem sua própria opinião…………. mas Ditadura, teve no Chile, Argentina………. aqui, ok podemos dizer que sim, mas com o jeitinho brasileiro.

Por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores, e desde já, novamente agradecemos por essa entrevista. Forte abraço!
Gostaria de agradecer a vocês por essa oportunidade, batemos uma bola longa, mas gostosa e acredito que conseguimos esclarecer vários tópicos, um pequeno recado para todos vocês que estão nos acompanhando, fiquem em CASA como CASA, aproveitem e ouçam as músicas novas que o Casa está lançando………..e brevemente estaremos pelos palcos encontrando vocês pessoalmente, um grande beijo no coração de todos, fiquem com Deus.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Quilombo - Itankale [2019]



O grupo paulista Quilombo é formado por Allan Kallid na guitarra e baixo e Panda Reis na bateria e vocal, a banda lançou ano passado seu primeiro EP, intitulado Itankale, pelo selo Poluição Sonora Records levando seu estilo contestador aos quatro cantos, o qual foi recebido pela Consultoria no formato físico para resenha. No conceito do EP, o disco conta a história do Africano que veio escravizado para o Brasil e precisa se adaptar a uma realidade completamente diferente do que viviam até então. Reis, Príncipes e Rainhas mudaram de vida da noite para o dia, povos que tinham a natureza como sua principal característica passaram a ver sua realidade virada ao avesso. Um povo, uma etnia toda perseguida, torturada, escravizada, estuprada e perseguida até quase seu extermínio e mesmo assim persistente, sobrevivendo e influenciando seus algozes.

Como foi à história do Africano durante e após o cativeiro e como se encontra sua realidade em pleno século XXI, mas não pela visão que conhecemos nos livros e na história caucasiana, escravocrata e racista, que enfiaram goela abaixo isto ao longo dos anos, hoje os africanos estão escrevendo seu passado, sua história, com a veracidade dos reais fatos, pela ótica de quem apanhou, de quem foi acorrentado e arrancado de seu país, de seu povo, pela ótica de quem foi açoitado, espancado e morto nos troncos e caçados nas matas, simplesmente por serem africanos. Assim o Quilombo traz em quase vinte minutos no EP Itankale sua visão de toda essa história, contada por mão negras.

Quilombo

A ideia do grupo é muito boa e justa, porém, musicalmente há uma grande falha ao tentar atingir esse objetivo. Apesar de o EP vir acompanhado com as letras, o gutural de Panda é praticamente impossível de se entender. O que eu curti nas canções foram as introduções, com referências a músicas africanas. Por exemplo, "Melanina" até me animou bastante quando surgiu nas caixas de som, com os vocais africanos, e uma linda melodia de pouco mais de um minuto. O instrumental surgiu destruindo tudo, pancadaria geral, mas não dá para entender nada do que está sendo cantado. Se é português, inglês, russo, mandarim, não faz diferença. É uma massaroca sonora que não me agradou. Os atabaques e agogô, a cargo de Binho Gerônimo, tornam a canção mais compreensível, e aí percebemos que Panda está cantando em português. É um trecho legal da canção, pesadão, com uma guitarra aguda solando ferozmente, mas os vocais podiam estar bem mais claros para passar a mensagem que a banda quer. O encerramento com as percussões e a repetição das notas de guitarra também são interessantes, mas o problema realmente é o vocal.

Encarte com letras

As introduções africanas estão presentes nas demais faixas, com um belo blues em "Ancestralidade", o pequeno show dos berimbaus em "Treze Nações", lindas vocalizações africanas em "Descendentes De Reis" e "Semi Deusas", ou o reggae de "Diáspora d. C.", cujo encerramento é um pequeno deleite com as percussões e vocalizações africanas, e todas claramente samplers de canções próprias, e que duram alguns segundos apenas, Mas daí, quando entra as guitarras, ok, legal, mas os vocais, não dá para aguentar. Os solos poderiam ser melhor trabalhados, mas as bases são interessantes. E como as canções são curtas, com três delas tendo menos de dois minutos, incluindo as introduções, do nada elas acabam ...

O Quilombo anuncia no seu release que  não veio para causar desigualdade ou pender a balança para um lado, mas veio para falar a versão à visão de quem não tinha voz e nem direito de escrever e falar de si mesmo, e sim equilibrar a balança. Porém, falar com esse gutural tão forte não transmite a importante ideia pensada pelo duo. Como sugestão, o instrumental está muito interessante, e pode ser melhorado e ampliado, para tornar as canções mais longas, e por favor, parem com esse gutural. Se é para transmitir a mensagem de forma clara, ainda mais em tempos de que tem gente que acha que a Terra realmente é plana.

Contra-capa

Track list

1. Melanina
2. Ancestralidade
3. Treze Nações
4. Descendentes De Reis
5. Semi Deusas
6. Diáspora d. C.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...