terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Lynyrd Skynyrd - Parte II


Encerro hoje os textos que narram a história do grupo norte americano Lynyrd Skynyrd. No texto anterior, contei desde as origens do grupo até o trágico fim com o acidente de avião em outubro de 1977. Hoje, apresento o retorno da banda nos anos 90, e conto sua história até os dias de hoje.

A coletânea póstuma de muito sucesso nos EUA
Porém, começo falando sobre a coletânea Skynyrd's First And ... Last. Lançada em 1978, é uma coletânea somente de canções inéditas, registradas entre 1971 e 1972, as quais ficaram de fora do primeiro álbum do grupo, e que vale a pena ser citada pelo alto nível de qualidade do material aqui registrado. 

De todas as faixas, a inspiração sulista aparece apenas na alegre "Down South Junkin" (com a participação das The Honkettes, algo que ficou meio enigmático, já que o trio entrou para o grupo posteriormente), e nos boogies "Things Goin' On" e "Preacher's Daughter". O que chama mais a atenção é a participação de Rickey Medlocke nos vocais das lindas baladas acústica "White Dove" e "The Seasons", e também nas baquetas das pesadas "Lend a Helpin' Hand" e "Wino", essa última com Collins destroçando o wah-wah a la Jimi Hendrix, lembrando que Medlocke virou guitarrista fixo do grupo a partir da década de 90. 

Relançamento da coletânea aqui citada

Temos ainda a viajante "Was I Right or Wrong" e a emocionante "Comin' Home", trazendo uma performance vocal praticamente perfeita de Van Zant em ambas. O disco mostra um Skynyrd um pouco diferente do que nos habituamos a ouvir, e particularmente, considero um dos melhores do grupo. São solos e mais solos de guitarra com todo o calor pantanoso da Flórida, complementado por uma certa dose de peso que foi escassa nos discos anteriores. 

Mais um disco de platina para o grupo, sendo que o  LP em sua versão original tornou-se uma raridade, e vale a pena ser buscado principalmente pela quantidade de fotos inéditas incluídas no formato encarte-livreto. Esse álbum foi posteriormente renomeado para Skynyrd's First: The Complete Muscle Shoals Album com a adição de mais oito canções já lançadas anteriormente, porém em suas versões originais, o que deu uma pequena perda no charme original do LP.

Coletâneas póstumas e o ótimo ao vivo da turnè de 1987

Outras coletâneas, lançadas pouco depois do fim da banda, é a belíssima coletânea Gold & Platinum, abrangendo todos os álbuns citados na primeira parte, lançada em 1979, e The Best of the Rest (1982), trazendo somente canções que não foram hits, mas que são consideradas excelentes pelos fãs, e duas canções inéditas, as quais são "I've Been Your Fool" e "Gotta Go". Também é extremamente recomendado o filme Freebird ... The Movie, que conta a história do grupo durante os anos 70 de forma emocionante e muito bem feita.

Em janeiro de 1979, Billy Powell, Gary Rossington, Artimus Pyle e Allen Collins realizaram uma versão instrumental de "Free Bird" no evento Volunteer Jam, organizado por Charlie Daniels. Ainda em 79, Collins e Rossington criaram o projeto Rossington Collins Band. Posteriormente, Wilkeson e Powell passaram a fazer parte do grupo, junto da cantor Dale Krantz. A Rossington Collins Band durou três anos, lançando os álbuns Anytime, Anyplace, Anywhere (1980) e This Is the Way (1981).

A Roosington Collins Band, com membros da Lynyrd Skynyrd

O final da Rossington Collins Band, em 82, gerou novos projetos, como a The Rossington Band,​ Artimus Pyle Band,​ Allen Collins Band e Vision. Porém, em janeiro de 1986, Collins  se acidenta com seu automóvel. No acidente, sua namorada falecei, enquanto Collins ficou paralítico.​ O guitarrista faleceu em janeiro de 1990, vítima de pneumonia. Em 1987, o Lynyrd Skynyrd reune-se novamente no Volunteer Jam, tendo na formação Leon Wilkeson (baixo), Billy Powell (piano), Gary Rossington (guitarra), Artimus Pyle (bateria), Ed King (guitarra), Randal Hall (guitarra) e o irmão mais novo de Ronnie, Johnny Van Zant (vocais), além dos vocais de apoio femininos Carol Bristow e Dale Krantz.​ Essa formação fez uma pequena turnê de 32 shows, registrada no ótimo Southern by the Grace of God (1988), que chegou na posição 68 da Billboard, e conta com uma linda versão de "Free Bird", cantada apenas pelo público, enquanto a banda faz a parte instrumental.

Cerca de catorze anos se passaram desde o acidente, a retomada da "marca" original causa certo impacto perceptível como a voz de Johnny: apesar de muito semelhante à de Ronnie, sentia-se que era algo completamente diferente. Comparado com os discos anteriores, 1991, lançado em 1991 pela Atlantic Records, fica em dívida e isso não é necessariamente algo imperdoável, uma vez que, mesmo com parte da formação original (estão lá Ed King e Gary Rossington nas guitarras, Billy Powell no piano, Artimus Pyle na bateria e Leon Wilkeson no baixo), e Johnny carregando o carisma e talento do sangue Van Zant (família invejável, aliás), além de Randal Hall na guitarra, Kurt Custer na bateria e mais um trio de vocais femininos, eles não chegavam perto do "dream team" que explodira em sucesso vinte anos antes. 


O primeiro álbum de estúdio em 14 anos, e uma nova banda nasce nos anos 90

Talvez um estranhamento que se deve muito mais pela distância temporal que separava o álbum de retorno de Street Survivors, uma lacuna que ia do final dos 70's até a nova sonoridade que se instaurava na década que dava título ao disco, passando por toda a década de 80, provavelmente a mais prolífica e característica da história da música (ao menos, comercialmente falando), mas é fato que o choque foi sentido por todos os que aguardavam por esse retorno. 

Além disso, é intrigante que os trabalhos dessa nova formação seguem certo "padrão", com músicas rápidas, com uma pegada bem Hard Rock, uma ou duas baladas (no mínimo) e alguma música falando sobre "pássaros", "voar" e "simplicidade", quase como uma referência ao legado dos primeiros discos do grupo, deixando a dúvida se seriam questões meramente comerciais para cativar um público "órfão" dos primeiros trabalhos ou mero saudosismo romantizado pelos próprios membros (o que não deixa de ser coerente, haja visto que todos se viam como uma família, sendo bem ligados em valores como a liberdade e a união de todos eles). 

A formação dos anos 90: Ed King, Leon Wilkeson, Gary Rossington, Johnny Van Zant,
Kurt Curtes, Artimus Pyle, Randall Hall e Billy Powell

Nisso, 1991 consegue o êxito de ser um retorno digno para o grupo. Suas onze faixas (uma para cada ano, coincidentemente) são pulsantes e honestas, apesar de ainda não trazerem nada de marcante como o esperado para a ocasião. Apesar de parecer uma tentativa não muito bem sucedida de emplacar uma nova "Simple Man", a balada "Pure & Simple" é bela e agradável, destacando-se no álbum junto com seu encerramento, "End of the Road", e a agitada "Keeping the Faith".

O disco foi um fracasso comercial, e nem a turnê de promoção foi rentável. Pyle acabou deixando o grupo por problemas de drogas e álcool, sendo inclusive processado por assédio sexual de menores. Nesse ano, sai o Box Lynyrd Skynyrd (1991), com um belo apanhado de canções do grupo entre 1970 e 1977, distribuídos em três CDs. O grupo seguiu como hepteto, e em 1992, começa a gravação do segundo disco da nova fase, lançado em 16 de fevereiro de 1993. 


Segundo álbum pós-retorno nos anos 90

The Last Rebel deixa claro que a volta era pra valer, com um material lançado bem mais interessante que o anterior, mostrando que o grupo possuía potencial criativo à altura do nome que carregava. Pelo menos duas músicas entram fácil em qualquer lista de melhores do grupo, como a faixa título, "The Last Rebel", e a crescente "Born to Run", que encerra o álbum com seu solo de guitarra que lembra, na construção, "Free Bird". Temos ainda a belíssima balada "Love Don't Always Come Easy", também das melhores do grupo.

Antes da turnê, o grupo encerrou seu contrato com a Atlantic, e na sequência, Hall foi despedido do grupo. A turnê teve como atrativo clássicos na versão acústica, o que levou os remanescentes a pensarem em um novo projeto, contando com o novo guitarrista Mike Estes e também Owen Hale, substituindo Custer.

Terceiro álbum e terceira formação diferente pós-retorno

Endangered Species é o oitavo álbum no geral e resgata material da sua fase áurea, porém em um formato praticamente acústico, com as bases sendo levadas por violões e piano. Nele, estão clássicos como "Down South Junkin'", "Saturday Night Special" (Nuthin' Fancy), "Sweet Home Alabama" (Second Helping), "I Ain't the One", "Things Goin' On", "Am I Losin'" e "Poison Whiskey" (todas de (Pronounced ‘Lĕh-’nérd ‘Skin-’nérd)), com o vozeirão de Van Zant chamando bastante a atenção. 

"The Last Rebel" também recebeu uma cara nova, bem como o Lynyrd grava uma versão para "Heartbreak Hotel". Complementam o álbum as inéditas "Devil in the Bottle", "All I Have is a Song", "Good Luck, Bad Luck" e "Hillbilly Blues", todas mantendo o nível lá em cima, parecendo que estamos em um bar da Flórida, cercados por brancos cabeludos, bebendo uísque e curtindo o calor de uma tarde de verão.

O álbum ao vivo lançado somente na Europa
A turnê do grupo levou a gravação do ao vivo Southern Knights, lançado agora em mais um novo selo, o SPV Records, e lançado apenas na Europa. O álbum foi mais um fracasso comercial. 

Ocorre também o lançamento da coletânea Old Time Greats, com sucessos dos anos 70, em 1997. Estes e King abandonaram o Lynyrd, King por problemas no coração, e foram substituídos por Rickey Medlocke e Hughie Thomasson. Uma nova voz feminina foi adicionada aos backings, Carol Chase, e assim, é gravado o nono disco do Lynyrd.

O penúltimo álbum nos anos 90, e mais uma nova formação
Twenty chegou às lojas vinte anos após o acidente trágico que acabou com a o grupo, é lançado o novo álbum.Em Twenty, temos a re-estreia de Rickey Medlocke nas guitarras, o que trouxe mais vigor para as canções, principalmente para os duelos de guitarra, além da estreia de Hughie Tomasson no lugar de Ed King, o qual saiu da banda no meio da excursão de Endangered Species

O investimento acústico está presente em "Voodoo Lake" e em momentos de "Never Too Late", enquanto a introdução da balada "Blame It on a Sad Song" certamente nos leva para a inrodução de "Free Bird". O grande momento desse disco é o duelo vocal dos irmãos Van Zant na faixa "Travellin' Man". Através da "modernidade", foi possível unir uma gravação com Ronnie Van Zant e intercalar a voz de Johnny. Outros bons destaques ficam por conta de "We Ain't Much Different", "Talked Myself Right Into It" (com inclusão de metais) e "O. R. R.". 

Leon Wilkeson, Billy Powell, Johnny Van Zant, Highie Thomasson e Ricky Medlocke (em pé);
Gary Rossington e Owen Hale (sentados). Formação de Twenty.
Na sequência, o grupo saiu em mais uma turnê, a qual está gravada no ótimo Lyve from Steel Town, que também saiu em DVD e foi o único disco dessa década a conquistar ouro. Duas mudanças na bateria ocorrem praticamente na sequência. Owen Hale deixou o grupo e foi substituído por Jeff McAllister, e na sequência, Kenny Aronoff entra no lugar de McAllister.

Encerrando os anos 90 com mais uma formação
Edge of Forever, lançado em 1999, mostra uma nova face para o grupo, bem mais pesado do que seus antecessores e fugindo bastante das características Southern do Skynyrd enquanto música, apesar das letras continuarem falando sobre luas, dinheiro e mulheres. Aronoff manda a ver nas pancadas "Full Moon Night", "Throught it All", "Workin'" e na faixa-título. 

A safadeza sulista é guardada para "FLA" e "Money Back Guarantee", sendo que ambas empolgam principalmente pelas linhas de slide, que também estão presentes em "Gone Fishin'" e "Preacher Man", a última possuindo um riff bem hard. As baladas também têm seu espaço, através da melosa "Tomorrow's Goodbye" e da bonita "Rough Around the Edges". 

É impossível não lembrar dos anos 70 ao ouvirmos "G. W. T. G. G." e "Mean Streets", talvez as melhores canções do álbum, únicas a realmente ter a "alma" do Southern Rock. Um disco mediano, bem longe de merecer um status de álbum do Lynyrd, mas que por outro lado, tem seus méritos principalmente pelo grupo conseguir encontrar uma nova linha de composição, mantendo o trio de guitarras como o centro das atenções.

Christmas Time Again, somente com canções natalinas

Logo em seguida, é lançado Christmas Time Again, que traz canções com citações natalinas, e foi lançado em setembro de 2000 apresentando um novo baterista, Michael Cartellone, além de uma série de músicos convidados. São onze canções relativamente curtas, que apresentam os temas natalinos com o clima Southern de forma que soa muito bem aos ouvidos. Duas delas não são atribuídas para o Lynyrd, mas para o .38 Special ("Hallelujah, It's Christmas") e Charlie Daniels ("Santa Claus is Coming To Town"). 

O maior destaque ficou para a bela balada registrada na faixa-título, e para a emocionante recriação ao piano da peça clássica "Greensleeves". Ainda temos mais uma balada, "Mama's Song", com Van Zant mostrando todos seus dotes vocais, e "Classical Christmas", levada apenas por violão, percussão e um mini-coral infantil. No mais, a diversão é garantida, com solos de guitarra e piano fazendo um rock 'n' roll básico e recriando clássicos do cancioneiro natalino norte-americano como "Santa's Messin' With the Kid", "Rudolph, The Red Noosed Reindeer", a adaptação para "Run Rudolph Run", de Chuck Berry (aqui chamada de "Run Run Rudolph"), "Santa Claus Wants Some Lovin'", e que vale não só como um álbum para completar a coleção, mas também para ser ouvido no final do ano, ao lado da família durante os festejos tradicionais de dezembro. 

O encerramento, com "Skynyrdy Family", é talvez o momento mais divertido de todo o álbum, em um clima de festa dentro de silo, garrafa de uísque derrubadas e tudo o mais que conhecemos dos filmes de fazendeiros norte-americanos. Vale ressaltar que esse foi o último álbum a ter a participação de Leon Wilkeson. 

O baixista, apesar de creditado no álbum, acabou não registrando nenhuma linha de baixo (que ficou a cargo de Mike Brignardello), pois estava com problemas de saúde, mas o grupo fez questão de citá-lo. Wilkeson veio a falecer em 27 de julho de 2001, vítima de hepatite crônica e doenças pulmonares.

Último álbum com registros de Wilkeson no baixo

Tendo Ean Evans no lugar de Wilkeson, Vicious Cycle chega ao mercado em 2003. É o álbum mais longo da carreira do Lynyrd. Pelos mais de setenta minutos, temos uma banda inspirada, com composições longas e recheadas de novidades, como as cordas em "Crawl", "The Way", ótima canção, com diversas mudanças no seu andamento, e que foi o último registro com Leon Wilkeson no baixo, sintetizadores (e um pouco de cordas) na oitentista "Life's Lessons" e os metais nas alegres "Rockin' Little Town", "Sweet Mama" e "Pick 'Em Up", a última com a participação especial de Tom Hambridge nos vocais, e com dois belos duelos de guitarra. 

Adoro os estalos de vinil no início de "That's How I Like It", com o slide comendo solto e mostrando que os riffs pesados de Edge of Forever continuam se sobressaindo, assim como "All Funked Up", que parece ter saído de algum álbum do Bon Jovi, "Mad Hatter", destacando o baixão de Evans, uma homenagem para Wilkeson, e na quase grunge "Jake". 

Por outro lado, sempre há espaço para uma balada, e aqui, "Lucky Man" (outra canção a contar com o baixo de Wilkeson), "Hell or Heaven (trazendo um quarteto de cordas) e "Red, White and Blue (Love It or Leave)" são as responsáveis por melar as calcinhas das meninas, sendo que o single da última figurou na ponta da parada da Billboard durante alguns dias. O disco também foi o único do grupo, até então, a entrar na parada da Billboard em boa posição - 30a. Complementam esse bom disco "Dead Man Walking", e a versão japonesa ainda conta com uma versão para "Gimme Back My Bullets", com Kid Rock nos vocais.

Rickey Medlocke, Gary Rossington e Ean Evans no show do Super Bowl
(Michael Cartellone ao fundo)

Da turnê desse álbum, foi lançado o ao vivo Lynyrd Skynyrd Live: The Vicious Cycle Tour (2003), e no mesmo ano saiu a coletânea Thirty, com vários clássicos da carreira do grupo, que entrou em um longo hiato de seis anos até lançar material novo. Porém, nesse período continuaram a fazer shows, destacando a apresentação no Super Bowl em 05 de fevereiro de 2005, já sem Thomasson nas guitarras (o qual saiu temporariamente do grupo para reformular o grupo Outlaws). Thomasson faleceu no dia 09 de setembro de 2007, vítima de um ataque do coração.

No ano de 2006, o Lynyrd Skynyrd entra na Rock 'n' Roll Hall of Fame. No show da indução à Calçada da Fama, a formação então atual do Lynyrd, adicionada de Ed King, Bob Burns, Artimus Pyle e as cantoras JoJo Billingsley e Leslie Hawkins, tocaram "Sweet Home Alabama" e "Free Bird". Mark Matejka foi o escolhido para substituir Thomasson, mas mais duas perdas ocorrem. Billy Powell falece em 28 de janeiro de 2009, também por conta de um ataque de coração, enquanto Ean Evans faleceu em 06 de maio de 2009, vítima de câncer. O grupo segue na ativa, e com Peter Keys complementando o piano (algumas partes já gravadas por Powell) e Robert Keans no baixo (com Evans tendo gravado algumas partes), God & Guns é lançado ainda em 2009.

God & Guns, colocando novamente o Lynyrd Skynyrd entre os 20 mais da Billboard

É um álbum bem diferente dos álbuns dos anos 70, consolidando de vez o poder e o peso que tanto se destacam nos álbuns com Johnny Van Zant, e em nada lembrando a banda Southern dos anos 70. As canções em sua maioria são mais curtas que em Vicious Cycle, e a abertura com "Still Unbroken" já é uma bigorna pesadíssima, com as guitarras, baixo e bateria destacando-se e muito, sendo que John 5 (Marilyn Mason, David Lee Roth, entre outros) acompanha a banda como músico de estúdio, e o peso continua com "Little Thing Called You", apresentando uma ótima passagem com guitarras gêmeas, "Skynyrd Nation", tendo Van Zant dividindo os vocais com Medlocke, todas ótimas canções, para sair pulando pela casa facilmente. 

Por outro lado, temos canções muito comerciais, no caso "Storm", "Simple Life", que virou um single, assim como a canção de abertura, "Comin' Back for More" e "That Ain't My America", outro single do álbum, além de momentos mais leves em "Southern Ways" (caprichando nos vocais de apoio), na longa introdução acústica da faixa-título (que torna-se uma pancada sem dimensões posteriormente), e novamente cordas em mais duas canções, as baladaças "Unwrite That Song" e "Gifted Hands". 



Carol Chase, Peter Keys, Mark Matejka, Dale Krantz-Rossington, Gary Rossington, Johnny Van Zant,
Michael Cartellone, Rickey Medlocke e Robert Kearns

O que chama mais a atenção é a participação de Rob Zombie na soturna "Floyd", canção que poderia facilmente estar em algum álbum de Doom Metal ou algo no estilo. O melhor disco do Skynyrd pós-retorno, tanto que atingiu a posição 18 da Billboard, e a 36 no Reino Unido! O grupo excursionou pela Europa e Estados Unidos, sendo o show no Freedom Hall de Louisville registrado no CD/DVD Live from Freedom Hall (2010).

O grupo passou pela primeira vez no Brasil em 2011, durante o SWU Music & Arts Festival na cidade de Paulinia (São Paulo), e no ano seguinte, lançou o último álbum (até o momento). Com um novo baixista, Johnny Colt, novamente com John 5 nas guitarras adicionais, Last of a Dyin' Breed (2012) é um álbum muito bom de se ouvir. Apesar da tentativa de retorno ao estilo Southern na faixa-título, em "Life's Twisted" e nos boogiezões modernos de "Mississippi Blood" (com os vocais de Medlocke) e "Nothing Comes Easy", a última com grandes momentos no slide e no dueto de guitarras.

O último álbum de estúdio até o momento

O álbum segue a linha de composição do seu antecessor, trazendo baladas em "Ready to Fly" (incluindo um pequeno quarteto de cordas) e "Something to Live For", e riffs pesados para "Homegrown", com efeitos na voz de Van Zant, e "Honey Hole", essa com mais dois grandes duelos de guitarra, e ainda um boogie arrastado em "One Day at a Time".

O wah-wah come solto em "Good Teacher", destacando também a linha de baixo e o hammond, e o encerramento fica por conta de "Start Livin' Life Again", levadas por violões carregados de slide e a marcação de um chimbal em um blues de alto nível para um álbum de alto nível, o qual possui uma edição limitada com quatro bônus: "Poor Man's Dream", "Do It Up Right", "Sad Song" e "Low Down Dirty". O disco chegou na décima quarta posição na Billboard, a melhor desde Street Survivors. Infelizmente, no dia 3 de abril de 2015, o baterista original do grupo, Bob Burns, faleceu vítima de um acidente de trânsito. 

O grupo  anunciou, no último dia 25, que estará encerrando suas atividades esse ano. Uma pena que a bandeira dos Estados Confederados não continue tremulando pelos palcos americanos, resgatando o estilo Southern da década de 70. Mas fica para a história uma das maiores bandas que os Estados Unidos pariu!

sábado, 27 de janeiro de 2018

Consultoria Recomenda: grandes produções



Editado por Fernando Bueno
Tema escolhido por Diogo Bizoto
Com Alisson Caetano, Davi Pascale, Diego Camargo, Fernando Bueno, Mairon Machado e Ulisses Macedo

O que faz um disco merecer o rótulo de “grande produção”? Qualidade de som muito acima da média, performances perfeitas, atenção aos detalhes, riqueza de dinâmicas, impacto no mercado musical...? Tudo isso e muito mais? Para mim, o maior mérito de uma boa produção é fazer com que as músicas elevem-se a um nível superior, sejam enriquecidas e tenham suas melhores qualidades ressaltadas. A proposta desta edição é indicar álbuns que mereçam ser ouvidos não apenas pela força de suas composições, mas pelo trabalho árduo que músicos, produtores, engenheiros de som e demais técnicos tiveram para que essas canções se tornassem realidade. Não deixem de opinar a respeito de nossas recomendações e indicar as suas!

Steely Dan – Aja (1977)
Recomendado por Diogo Bizotto
Produzido Gary Katz
Não são poucos, felizmente, os álbuns que me vêm à mente quando penso em grandes produções. Nenhum deles, entretanto, com a mesma força de Aja. Suas sete faixas não são necessariamente as melhores que Walter Becker e Donald Fagen já criaram – Pretzel Logic (1974) e The Royal Scam (1976) são tão bons quanto – mas representam o auge de seu perfeccionismo. Ao lado do produtor Gary Katz e de vários engenheiros de som – ênfase para o mestre Roger Nichols – Becker e Fagen atuaram como verdadeiros regentes de uma orquestra de aproximadamente 35 músicos, atuando para que cada detalhe, cada pequeno arranjo fosse perfeitamente encaixado com a visão que tinham de como deveria soar cada canção. Vários dos melhores músicos que Los Angeles poderia oferecer – e muitos mais! – deram as caras em suas gravações. Vários já haviam contribuído em discos anteriores, como Larry Carlton (guitarra), Chuck Rainey (baixo), Michael McDonald e Timothy B. Schmitt (vocais de apoio), além do renomadíssimo e fantástico Bernard Purdie (bateria). Outros deram as caras pela primeira vez. É o caso de Jay Graydon, que venceu uma disputa ferrenha pelo solo perfeito para “Peg”, do fabuloso Wayne Shorter, que em menos de meia hora registrou seu saxofone em “Aja”, e de Steve Gadd, que só faltou fazer a bateria falar, também na faixa título. Todos os elogios a um registro como este podem fazer com que pensem se tratar de um álbum asséptico, frio, excessivamente calculado. Errado. Aja é envolvente, dinâmico, rico em nuances, dono de uma atmosfera que nunca mais foi capturada, nem pelo próprio Steely Dan, e olha que eles tentaram muito com Gaucho (1980). Chamá-lo de jazz rock é um nada. Aja é muito mais do que isso. É rock, é jazz, mas também é funk, soul, blues e deliciosamente pop. Se você conhece a série “Classic Albums”, sabe que se trata justamente de um programa que desvenda detalhes sobre a gravação de grandes discos. Bem, basta dizer que, para mim, não há episódio mais excitante que aquele que aborda Aja, e não são poucas as excelentes edições. Se há um álbum que representa bem o que um artista pode fazer dentro de um estúdio de gravação, esse álbum é Aja.
Alisson: Não tem disco melhor pra ouvir com o seu pai do que esse aqui. E não é nada pejorativo. Se tem algo que esbanja classe, sofisticação e elegância, são os timbres que emanam do disco. Não é preciso ser fã de jazz e AOR, apenas basta gostar de ouvir um bom som para saber que Aja é próximo dos melhores esforços de produção da história.
Mairon: Aja é um trabalho que envolve diversos músicos convidados junto a dupla Donald Fagen e Walter Becker.  Até Wayne Shorter dá as caras durante a faixa título. Foi o primeiro álbum do grupo que eu ouvi, e talvez por isso não tenha levado um choque tão grande de cara. Acho que por ser recheado de baladas melosas ou dançantes, não é um disco que me impressiona. Considero-o fraquinho, mas com uma produção muito boa, é verdade (colocar tantos músicos diversificados em um som de qualidade é raro), mas não é uma audição que eu teria frequentemente, e não consigo entender o sucesso que ele teve. Enfim, para a época que foi lançado, há diversos álbuns similares a esse que também fizeram sucesso. Acho que é a audição que os detratores do flower-power devem se deliciar, comemorando o fim do amor livre e das drogas liberadas em defesa da união estável entre um único casal careta e sem graça quanto Aja.
Davi: Não é à toa que esses caras são referência entre os caras mais exigentes do universo, os audiófilos. Não estou falando daquele cara que coleciona discos e presta atenção em cada detalhe da canção. Estou falando daquele cara que não somente faz isso, como investe uma bela grana em equipamento de som para que tenha a reprodução mais fiel possível, os famosos high-ends. Uma das músicas mais utilizadas por essa moçada, para testar a qualidade do equipamento, é justamente “Deacon Blues” desse álbum do Steely Dan. Os caras faziam um som pop que bebia bastante na fonte do jazz. Sendo assim, os timbres utilizados pelos músicos são bem limpos. A mixagem deixa todos os instrumentos em evidência. Até mesmo o contrabaixo que muitas vezes fica mais escondido, ganha destaque na audição. Faz sentido utilizar um disco desses para testar um equipamento de som. Se não estiver ouvindo alguém é porque há algo de errado. A equalização deles é realmente perfeita. Em relação ao tracklist, minhas preferidas são “Black Cow”, “Aja” e “Home At Last”.
Diego: Mais um dos tantos discos que eu descobri em minhas idas aos sebos de São Paulo e que eu comprei por 1 R$. Aja foi paixão à primeira audição. Cada detalhe desse disco é perfeito. Não interessa quantas vezes eu ouça “Black Cow”, “Aja”, “Peg” ou “Josie”, cada vez é algo mágico e encantador! Um disco que traz tantos detalhes, tantas ideias, tantas nuances, tanta classe, reunidos em pouco mais de perfeitos 39 minutos. A companhia perfeita para esse disco é o DVD da séria Classic Albums onde a dupla mostra diversos detalhes de cada faixa e vários segredos são revelados sobre as gravações do disco. Dupla perfeita, disco e documentário.
Fernando: Ter grandes produções em discos do Steely Dan não chega a ser uma grande novidade. Tudo o que os caras fizeram tinha muito esmero de todos. Assim, acredito que qualquer um até o Gaucho poderia estar aqui, mas é verdade que em Aja eles foram além. Na época do disco a banda já tinha sido reduzida para sua dupla de líderes e eles lançavam mão de inúmeros músicos de estúdio para as gravações. E esse entra e sai dentro do estúdio exige um pulso firme e um direcionamento muito bem definido pelo produtor. Já escrevi sobre o Steely Dan aqui para o site e no texto eu digo que as melodias da banda são tão perfeitinhas que é quase uma covardia com o ouvinte que é facilmente capturado.
Ulisses: É quase impossível encontra um fórum, tópico, discussão ou o que for, envolvendo produção, mixagem ou audiofilia em geral, em que Aja não seja mencionado. E por muito tempo essa foi a fama do álbum pra mim: o disco para se testar sistema de som, o disco que é um orgasmo musical, e etcetera e tal. Mais do que isso, porém, Aja é um disco feito por perfeccionistas, algo que se reflete tanto no tratamento sonoro quanto nas próprias composições. A clareza do registro se une à sofisticação musical do espaçoso jazz-rock, com linhas melódicas perfeitamente colocadas. Um álbum feito meticulosamente por gente que entende do assunto, durante seis meses, em um dos melhores estúdios da época - não havia como dar errado, e ainda assim ele entrou para a história superando as expectativas. Cá entre nós, aprecio o álbum (ou melhor, toda a discografia do Steely Dan) mais pelo que é do que pelo que me faz sentir; para mim ainda é uma experiência mais cerebral do que visceral.

AC/DC - Back in Black (1980)
Recomendado por Davi Pascale
Produzido por Jonh "Mutt" Lange
Muitos podem estranhar minha escolha. Um disco que não traz milhões de efeitos. Uma banda que não utiliza instrumentos estranhos e que é conhecida por sempre ter mantido suas origens. Há quem diga que eles faziam o mesmo disco sempre (maldade), mas aí está o X da questão. Às vezes, o mais simples é o mais complicado. É difícil você criar um enorme impacto no ouvinte com um universo que ele já está acostumado. Back in Black conseguiu isso e até hoje é uma referência. Na minha opinião, um dos melhores sons de bateria da história do rock (ao lado do Van Halen e do Creatures of The Night do Kiss. Até pensei em citar o disco dos mascarados, mas achei que iriam me acusar de protecionismo, então deixei de lado para evitar chororôs). Não estou falando de técnica do baterista. Estou falando do som da bateria. Timbre, captação, definição de bumbo, de caixa. O som é praticamente perfeito. Timbre da guitarra também é perfeito. Não é bunda mole, nem com excesso de graves, o que poderia causar um som embolado. Some isso à um tracklist memorável e o resultado não poderia ser outro. Não somente o mais vendido na carreira do AC/DC, como um dos mais vendidos na história do rock. Merecido.
Diogo: Musicalmente, Back in Black é um bom disco. Não é tudo aquilo que fazem parecer – como a grande maioria do catálogo do AC/DC, soa repetitivo às vezes – mas é um atestado da funcionalidade de sua música, simples e bem estruturada. Alia composições cativantes – dessas que fazem o cara começar a bater o pé sem nem se dar conta – a uma produção magnífica, que ajudou a cimentar de vez o nome do sul-africano Robert John “Mutt” Lange como um dos maiores profissionais do ramo, tanto em qualidade quanto em sucesso. A condução incessante de bumbo e caixa de Phil Rudd soa como o arrimo perfeito que uma banda de rock necessita. O som extraído das Gretsch de Malcolm Young e das Gibson SG de Angus Young é vigoroso, sem saturação excessiva ou qualquer outra característica inadequada ao hard rock potente e blueseiro do quinteto. Mesmo Brian Johnson, um vocalista pelo qual não morro de amores, apresenta grande performance, e isso tem muito a ver com a cobrança incessante de “Mutt” Lange, um perfeccionista na mais plena definição do termo. Todos os hits são bons, mas tenho especial predileção por “Shoot to Thrill”.
Alisson: Entre Highway to Hell e Back in Black, nota-se uma transição clara entre os anos 70 e os anos 80. O anterior mantinha aquele timbre mais seco e ríspido, uma produção mais rústica. Já este é de uma estética mais grandiosa. Timbres mais esmerados e polidos pensados para grandes estádios, mesmo que mantendo a agressividade das guitarras e o ataque direto da bateria. É fácil notar essa transição sonora se pensarmos que em 2008 os seus singles principais foram relembrados para a trilha sonora do filme "Homem de Ferro" sem necessitar de grandes atualizações. Minha produção favorita deles ainda é de seus discos com Bon Scott nos vocais, mas Back in Black ainda é mais bem encaixado como conjunto da obra.
Mairon: O disco que colocou o AC/DC definitivamente no hall das maiores bandas de todos os tempos, e que tirou o grupo de uma profunda crise pós-falecimendo do vocalista Bon Scott. Não me deterei nas músicas nesse Recomenda, mas na qualidade geral da produção do álbum em questão, e Back in Black tem uma produção gigantesca. As distorções dos irmãos Young, a coisa precisa de Phil Rudd e Cliff Williams e o vocal esganiçado de Brian Johnson, estão todos impecavelmente audíveis. Os sucessos que Back in Black gerou (a faixa título, "Hell's Bells", “Shoot to Thrill” e “You Shook Me All Night Long”, entre outras) criou uma banda praticamente nova, mais pesada e hard, concentrando-se em riffs e refrãos grudentíssimos, do que o blues rock de letras sacanas que sobressaía-se nos discos anteriores. E isso reflete no fato de Back in Black ser um dos três discos mais vendidos de todos os tempos, ultrapassando a marca de 50 milhões de cópias. Uma aula de produção, criação e de como ganhar dinheiro com um investimento certeiro.
Diego: É verdade que Back In Black é um clássico! É verdade também que o disco é provavelmente o pico da carreira da banda, tanto em criatividade quanto em popularidade! Mas é verdade também que, sonoramente falando, o disco em nada se diferencia dos anteriores (ou posteriores), além do vocal de Brian Johnson, claro. Não há muito o que eu possa dizer sobre esse disco, é uma bordoada na orelha do começo ao fim com um dos momentos mais interessantes da carreira do AC/DC. E isso não é pouca coisa!
Fernando: Back in Black tem tantos clássicos que fico me perguntando se seria o enorme sucesso que foi se tivesse sido produzido pelo primogênito dos irmãos Young como foram os primeiros álbuns. O quanto Mutt Lange modificou as músicas das versões iniciais para o que ficou para posteridade. Claro que ele já tinha produzido Highway to Hell. Mas tem também a morte de Bon Scott. Quanto esse fato influenciou os fãs a comprar o disco? Eu adoro o disco, considero o melhor do grupo junto do já citado Highway to Hell, mas sempre me surpreendo quando lembro que esse foi um dos discos mais vendidos da história. Aliás aqui nessa edição da série temos um outro que foi um dos mais vendidos também. Certa vez ouvi que o Motorhead ajustava o equipamento nas passagens de som com esse disco. Não sei se é só um mito, mas faz sentido.
Ulisses: Ótima indicação, cheguei a pensar nele também. Um baita exemplar de álbum que conseguiu captar aquele som genuinamente ideal e poderoso do rock. A sonoridade se aproxima de ser ao vivo - sem compressão, com pouquíssimos overdubs, ao passo em que os efeitos como reverb e eco estão presentes de maneira discreta (os Young não gostam disso escancaradamente). O disco soa muito bem independente da fonte que se use para tocá-lo, combinando a espacialidade potente da gravação com a pegada forte, rítmica e precisa da banda. É produção de referência para o hard rock.

Madonna - True Blue (1986)
Recomendado por Mairon Machado
Produzido por Madonna e Patrick Leonard
Ao receber o tema desse recomenda, o primeiro nome me soou tão óbvio que descartei-o imediatamente. O segundo considerei longo demais (mas visto por outras duas indicações, poderia ter entrado fácil aqui), daí veio o terceiro, aquele que fez o Pop ainda mais Pop, e que criou uma Rainha: True Blue. Antes dele, Madonna era apenas uma garotinha pobre que tinha conseguido uma atenção da mídia com alguns sucessos. Mas é em True Blue que as rádios, a imprensa e o mundo se rende para a loira. Sua voz agora está pronta para seduzir ouvidos, os arranjos estão prontos para balançar o corpo, os refrãos estão perfeitos para grudar na mente, tudo graças ao talento incomparável de Madonna ao lado do inigualável Patrick Leonard, o maior nome da música Pop nos anos 80. Claro, a participação do também monstruoso Stephen Bray é importante, mas Madonna e Leonard são os principais produtores do disco, principalmente a própria. O lado A de True Blue é simplesmente de tirar o chapéu e venerá-lo durante eras. Cada faixa é certeira, envolvente, e ainda com novidades (orquestra em "Papa don't Preach", percussão latina em "Open Your Heart", guitarra pesada em "White Heat" e "Live To Tell", simplesmente a faixa que Dave Marshall (conhecido crítico de música dos EUA) colocou como uma das Melhores de Todos os Tempos, e ainda afirmou: "Se não houvesse tanto preconceito contra a sexualidade de Madonna, 'Live to Tell' deveria ter sido uma das 10 músicas pop dos anos 80. O lado B é igualmente fantástico, mas não vou deter-me mais em falar das músicas. Letras de amor, problemas sociais e feminismo, algo revolucionário para a complexa geração de jovens mulheres dos anos 80, deram início a uma importante mudança no paradigma social mundial do papel da mulher junto à sociedade. Ouvidos mais atentos irão perceber que há nas músicas do álbum diversas referências à música clássica, uma forma de tornar Madonna mais "adulta". Aqui, Madonna fez a façanha de se tornar número um em tabelas de vendas musicais de vinte e oito países ao redor do mundo. Ninguém tinha feito isso até então, só ela. Essencial, fundamental, sucesso fácil e de diversas audições garantidas para quem não for METALCEFÁLICO.
Diogo: Quando penso em uma produção realmente bem sucedida, penso em discos cuja sonoridade superou o teste do tempo e continua com surpreendente frescor, mesmo muitos anos após o lançamento. Não importa o gênero musical, o que vale, acima de tudo, é qualidade acima de qualquer suspeita, bom gosto e adequação à proposta. Álbuns como Rumours (Fleetwood Mac, 1977), Powerslave (Iron Maiden, 1984), Sign ‘o’ the Times (Prince, 1987) e The Chronic (Dr. Dre, 1992), apenas para pegar exemplos distintos, traduzem bem essa asserção. Por que estou dizendo isso? Pois True Blue, apesar de ser um disco produzido decentemente e condizente com sua época, é bastante arraigado ao seu tempo, e isso fica evidente em muitos detalhes. Veja bem, isso não é necessariamente ruim. Gosto muito de como soam vários álbuns bastante datados, vide Leftoverture (Kansas, 1976), Rage for Order (Queensrÿche, 1986), Somewhere in Time (Iron Maiden, 1986) e muitos, muitos outros. Difícil mesmo é não datar. True Blue é, apesar disso que citei, um disco gostoso de se ouvir. A mistura de instrumentos acústicos e elétricos, sintetizadores e cordas funciona relativamente bem, ficando mais evidente – e muito bem aplicada – em “Papa Don’t Preach” (a introdução é ótima). Minha favorita, porém, é a balada “Live to Tell”, datada até o osso. “La Isla Bonita” é pura diversão. Penso que Like a Prayer (1989) seria uma escolha mais adequada a esta edição.
Alisson: Este é um disco que merece ser colocado em perspectiva temporal. Para os padrões de música pop que estamos acostumados atualmente, parecem timbres um tanto datados. Entretanto, são timbres que soavam acima da média para as produções do período. É vibrante, colorido e consegue destacar os vários elementos e instrumentos usados em cada faixa, sem sufocar o talento vocal da Madonna em momento algum. É um bom disco para ser transportado para os anos 80, de fato, tanto pela força de seus singles principais quanto pela sonoridade imediatamente associada ao período.
Davi: Existe quem não goste do som dos anos 80. Como cresci nessa época, gosto muito da sonoridade dessa época. E Madonna foi uma artista que cresci ouvindo. Os primeiros artistas pop que me liguei foram Michael Jackson, Madonna e Prince. Nessa época, entre os artistas pop, havia uma grande preocupação em se criar hits, singles, para que continuassem em evidência. Ela conseguiu vários aqui: “Live To Tell”, “Papa Don´t Preach”, “La Isla Bonita” e “Open Your Heart” foram enorme sucesso e hoje são considerados clássicos da rainha do pop. A bateria misturava som de bateria acústica com programação, o que ajudava a não deixar um som pasteurizado. O teclado tinha bastante destaque. As linhas vocais não eram repletas de efeitos. Embora nunca tenha tido um grande alcance vocal, Madonna soube trabalhar bem com sua limitação. As linhas vocais são bem agradáveis. Algumas músicas como “Jimmy Jimmy” fazem bastante uso de sintetizadores. No clássico “Papa Don´t Preach” gosto muito do baixo funkeado que marca a canção. Porém, quem quiser ter uma noção do que era a música pop da época, basta ouvir a faixa-título ou a linda “Live to Tell” com atenção. Todas as características da mixagem da época estão ali.
Diego: Eu ouvi o primeiro disco da Madonna (que é fraco) e ouvi o Ray Of Light (um bom disco), fora isso eu nunca tive interesse na cantora, e ainda não tenho. Quando esse disco pintou na lista eu pensei comigo mesmo: “Será que esse é um dos que todo mundo comenta que foi uma virada na carreira dela”? Ao ouvir o disco eu constatei que... não. É mais do mesmo e a produção, apesar de bem feita, não passa de uma produção igual de tantos outros discos dos anos 80, com som datado e com timbres que estavam presentes em todos os outros discos que venderam muito na mesma época. Segundo o tema do Recomenda, os discos escolhidos seriam grandes produções, aquelas que atingiram um pico de qualidade não alcançada antes, especialmente por aquele determinado artista. Não vejo nada disso em True Blue. Volto a repetir, o disco tem bons timbres (pros anos 80), uma boa produção, mas nada demais e nada que outras bandas/artistas do mesmo período não tivessem alcançado. Não apenas isso, as canções são... chatas. Até os hits 'Papa Don' Preach' e 'La Isla Bonita' não são grande coisa, e quando um artista que vive de singles tem singles meia-boca você sabe que a coisa tava feia...
Fernando: Estou longe, quilômetros de distância, de ser o fã que o Mairon é da Madonna. Já disse várias vezes que não desgosto, mas é algo que dificilmente vou ouvir a não ser que esteja tocando em algum lugar público que eu estiver. E é preferível que esteja tocando isso do que o pop atual. Impressiona saber que ela é um das produtoras do álbum, aliás, algo normal em sua carreira, mostrando que artistas completas como ela já não se encontram mais hoje em dia. Basta saber que em um disco da Beyoncé ou Katy Perry pode haver, as vezes, mais de uma dezenas de produtores. Foi legal ter ouvido o álbum, "Live to Tell" é ótima, principalmente aquelas músicas que não tocam tanto.
Ulisses: O sucessor de Like a Virgin (1984) é uma avalanche pop bem construída que dialoga com diversas facetas da música, encaixando alguns poucos elementos de música clássica ("Papa Don't Preach") ou latina ("La Isla Bonita") em meio às batidas dançantes dos sintetizadores. Liricamente, Madonna vai da inocência da faixa-título à polêmica de "Papa Don't Preach", tendo participado da composição de todas as faixas. Típico álbum em que todos os seus aspectos convergiam para o sucesso no mainstream, e ninguém precisa morrer de amores pelo disco para perceber isso.

Pink Floyd - The Dark Side of the Moon (1973)
Recomendado por Ulisses Macedo
Produzido por Pink Floyd
Sob o risco de me tornar o maior Capitão Óbvio da série, sugeri um álbum bem manjado para o tema da vez. Simplesmente porque foi o álbum a me ensinar o que é uma grande produção, me forçando precocemente a pesquisar mais sobre os detalhes de todos os aspectos de sua criação. Já que o Diogo pediu por "picos de qualidade sonora poucas vezes atingidos, seja em termos de dinâmica, timbres, mixagem, definição, impacto", o TDSotM marca todas as caixinhas. É um primor que une de forma orgânica melodias e harmonias com uma atmosfera única, atingindo o objetivo proposto por sua temática - os espectros da existência e experiência humana - através de inúmeras inovações e criatividades no estúdio, fazendo com que composições que inicialmente não são extremamente complexas ganhem efeitos, texturas e timbres pioneiros, através do uso de samples em loop, gravações multicanal, equipamentos topo de linha (como o sintetizador EMS VCS3 utilizado em "On the Run") e, claro, a criatividade na hora de produzir os sons "na mão", como os inúmeros alarmes de "Time" e as moedas de "Money". Sim, pois o mérito de Dark Side é ser tanto uma cria de tecnologia do estúdio quanto da genialidade dos músicos e do engenheiro de som Alan Parsons, algo que perpassa desde a ideia de Roger Waters de entrevistar pessoas com perguntas pertinentes ao tema do álbum - e colocar ali suas respostas - até o inacreditável improviso em take único de Clare Torry em "The Great Gig in the Sky".
Diogo: Fico feliz que vários colegas não tenham se furtado a indicar discos tidos como óbvios. Uma edição dedicada a grandes produções não poderia de jeito algum deixar de contar com clássicos indiscutíveis, daqueles que ajudaram a moldar a forma como ouvimos música. The Dark Side of the Moon, obviamente, é um deles. Ao lado de Alan Parsons, engenheiro de som, a banda soube usar o estúdio de uma forma poucas vezes experimentada com tanto êxito e ousadia, trabalhando com efeitos sonoros diversos, sintetizadores e loops de forma a construir uma obra que vai muito além dos instrumentos habitualmente tocados por seus integrantes, formando camadas de texturas que transportam suas canções a outros níveis. É admirável que um álbum gravado há 45 anos soe mais fresco que muito material lançado décadas depois. Não posso deixar de citar também o fato do grupo ter aliado ambição e acessibilidade de forma a fazer com que o disco se tornasse um sucesso massivo. “Money” e “Time” fecharam maravilhosamente com o público, mas é em “Us and Them” que The Dark Side of the Moon tem seu auge, com as vozes de David Gilmour e Richard Wright mesclando-se de maneira majestosa.
Alisson: Além de todos os méritos ao grupo por ter conseguido um resultado perfeito na produção, é preciso elogiar a equipe de engenheiros de som e o pessoal da mixagem desse disco. Anos à frente de qualquer coisa antes testada em termos de captação de sons e qualidade de reprodução, o disco ainda parece arrebatador de se ouvir até para os dias de hoje, sem ter precisado de grandes remasterizações, já que na época ele já havia sido pensado para equipamentos de som robustos e sistemas de som quadrifônicos, mesmo que uma mísera parcela de ouvintes tivesse o sistema para poder desfrutar 100% da experiência do disco. Falar sobre qualquer aspecto artístico do deste é redundância, pois já foi feito de forma bem mais eficiente por outras pessoas.
Mairon: Um álbum com produção impecável e que foi o primeiro nome a me vir na mente quando foi proposto esse recomenda. Era muito óbvio, e daí escolhi outro. O que Waters, Gilmour, Wright e Mason fizeram aqui é uma aula de produção, ao lado do ainda não-renomado Alan Parsons. Experimentando tudo o que estava sendo disposto em termos de tecnologia, e ainda implementando saxofones, vocalizações femininas, melodias suaves e muita inspiração, o Pink Floyd (Waters principalmente) criou um disco conceitual, e que popularizou a banda e o rock progressivo em todo o mundo, e que veio posteriormente a ser o pivô da criação de estilos como o AOR e o soft rock. Ok, o progressivo já estava em alta antes de 1973, mas depois que Dark Side chegou às lojas, e ficou na lista dos mais vendidos por 741 semanas seguidas, não havia pessoa no planeta que não conhecesse o nome Pink Floyd. "Time", "Money", "Us and Them", "Breathe", "The Great Gig in the Sky" e todas as demais faixas contam com uma sábia e exclusiva produção musical, que passam fácil pelos ouvidos, e melhor, agradando imediatamente. Cada pequeno detalhe inserido em cada uma das canções é único, especial, e incrivelmente fascinante. Não é a toa que é um dos três discos mais vendidos de todos os tempos. É impossível não se render a audição desse disco, mesmo quem não curte um rock 'n' roll. Indicação fácil fácil para essa lista, e que tem que estar presente em todas as casas do mundo, assim como em faculdades de arte e história.
Davi: A pessoa que indicou esse disco acertou em cheio. Do mesmo jeito que o som de bateria do AC/DC é um exemplo no campo do rock pesado, o som de guitarra de David Gilmour é uma referencia na história do rock. Mas essa não é a única marca desse disco. O uso de looping, delay e reverb que hoje são tão comuns, nessa época era inovador. Outro ponto a favor é que mesmo tendo a oportunidade de trabalhar com essas técnicas e acrescentá-la ao seu som, os músicos tiveram o cuidado de não exagerar nesses recursos a ponto de deixar com que os efeitos falassem mais alto do que a musicalidade. Foi colocado tudo com enorme cuidado. Está tudo no ponto certo. Assim como a mixagem. Nos momentos que temos a banda toda tocando, os volumes foram colocados de um modo que todos os instrumentos fossem perceptíveis e nenhum se destacasse mais que os demais. Agora, é claro, nos solos eles sobem um pouquinho o volume do camarada. E nesses momentos podemos notar aquilo que comentei lá em cima. O timbre da guitarra de David Gilmour era um grande destaque no conjunto.
Diego: Me chamem de velho. Eu não ligo. Mas  é perfeito! É impossível, pra mim, descrever em palavras a experiência de ouvir o disco do começo ao fim pela primeira vez. Um disco mágico, daqueles que mudam a história da música e que tem o poder de mudar vidas (por mais piegas que isso possa parecer). Perdi a conta das vezes que ouvi o disco só com a luz de um abajur e cada vez ele me levou para uma viajem. E não são muitos os discos capazes disso
Fernando: Talvez o melhor álbum de todos os tempos. No mínimo Top3. Todo mundo fica com receio de recomendar um clássico para essa série de publicações, mas esse não poderia ficar de fora, principalmente com um tema desse. Foi o primeiro que pensei e só não fui eu o responsável pela indicação por que deixei todo mundo mandar as suas antes de escolher a minha. Privilégios de editor da matéria! Esse foi o primeiro disco que eu percebi o quanto é importante a produção em um disco. No início temos uma visão meio romântica de que a banda entra em estúdio, toca a música e grava o disco. Claro que não é bem assim. Foi quando vi pela primeira vez o Live At Pompeii em que tem imagens da banda trabalhando em estúdio para o Dark Side of the Moon. Imaginei o tempo que foi investido nas experimentações que Waters estava testando. E na época os equipamentos eram todos analógicos o que requer uma maior precisão em tudo o que se está fazendo. E o melhor de tudo; o resultado de todo esse trabalho é simplesmente maravilhoso. O trabalho feito nos possibilita até a dizer que eles usaram todos os recursos do estúdio quase como outro instrumento.

Ramones - End of the Century (1980)
Recomendado por Fernando Bueno
Produzido por Phil Spector
Quando ouço esse disco eu lembro do famoso lema do punk “do it yourself”, ou “faça você mesmo”, justamente pelo fato de uma banda punk já não conseguir fazer sozinho o que ouvimos nos sulcos desse LP. Já em “Do You Remember Rock ´N´Roll Radio” temos os metais adicionado para fazer quase que toda a melodia da música. Se você apenas ouvir o álbum pode achar um exagero ele ter sido indicado nesse tema. Afinal uns metais aqui, uma orquestração ali e uma pitada de overdubs talvez não seja o exemplo de grande produção, mesmo que isso seja algo fora dos padrões considerando os parâmetros do punk rock. Para quem tem quase nada, um pouco proporcionalmente fica enorme. Até por isso resolvi escolher esse disco, um pouco pela provocação aos meus colegas consultores. Além do mais, Phil Spector tirou o que pode dos rapazes da banda, algo que eles nunca tinham sido exigidos e quem mais sofreu no processo foi Johnny que teve que repetir à exaustão suas partes até conseguir os takes perfeitos que o produtor esperava. Phil Spector aparece no documentário da gravação desse disco apontando uma arma para Dee Dee Ramone. Mesmo as faixas mais diretas soam redondinhas. Mas alguns fãs chegaram a pedir uma versão “pura” do álbum. Exagero?
Diogo: Fiquei um tanto surpreso quando vi End of the Century entre as indicações. Sim, pois o quinto álbum dos Ramones é uma evidente tentativa de elaborar uma grande produção, mas uma tentativa que falhou. Os métodos de Phil Spector podem ter dado certo com vários outros artistas, mas acabaram soando inadequados à crueza dos Ramones, que não precisava de um caminhão de overdubs para fazer um grande álbum. Basta ouvir o disco imediatamente anterior a este, Road to Ruin (1978), produzido por Tommy Ramone e Ed Stasium, para perceber como ele soa mais “certo” para uma banda como essa. Gosto do disco e não posso negar que ele tem até um certo charme com seus ecos, violões e solinhos em overdub (obviamente não tocados por Johnny), mas sua força maior reside nas composições. “I’m Affected” e “Chinese Rocks” são especialmente sensacionais. Se a intenção era galgar o mainstream, parece que não deu muito certo, apesar do relativo sucesso. Embora sua produção também tenha ficado devendo, acredito que Graham Gouldman – outro profissional menos acostumado com sonoridades mais agressivas – que assinou Pleasant Dreams (1981), compreendeu a banda um pouco melhor.
Alisson: Na teoria, ter um produtor responsável por grandes sucessos radiofônicos do rock dos anos 60 além de ter no currículo discos lendários, como Let it Be dos Beatles e Plastic Ono Band, estréia solo de John Lennon, na produção de um disco dos Ramones era a escolha perfeita. Na prática, as sessões de gravações se tornaram um inferno. Johnny nunca escondeu que sempre odiou a figura de Phil e sua personalidade tempestiva. Seja como for, Phil pesou a mão para valer no resultado final, deixando sua marca como produtor de maneira intensa nos 50 minutos de End of the Century. Conhecido por ser um dos mentores do wall of sound, Spector deu uma nova dimensão ao som do quarteto. Arranjos mais bem elaborados, guitarras carregadas de efeitos e eco e até uso de elementos jamais pensados em um disco dos Ramones, como naipes de metais e backing vocals para além do 1,2,3,4 proferido por Dee Dee. Mesmo contendo clássicos como “Rock n’ Roll High School” e “Chinese Rock”, faltou muita coesão. Muitos elementos e camadas sonoras acabam prejudicando músicas que já eram boas por si só. Aquela crueza natural dos primeiros registros foi completamente limada. Essa decisão comercial matou quase que por completo a autenticidade natural do quarteto, deixando o registro com cara de inflado e repleto de arroubos desnecessários. Caso queira ver o real potencial de suas principais faixas, recomendo que procure-as em suas respectivas versões ao vivo, como as presentes nos discos Loco Live! e We’re Outta Here!.
Mairon: O punk rock foi caracterizado por sons sujos e mal produzidos. Mas isso, só com bandas brasileiras. Os álbuns das bandas ícônicas no estilo, como Sex Pistols, The Clash, Television e claro, Ramones, sempre foram de grande produção. End of the Century é um belo exemplo disso. Nunca o punk foi tão pop. Afinal, os caras colocaram metais e teclados em "Do You Remember (Rock 'n' Roll Radio)", pianinho elétrico em "Danny Says" e "I Can't Make It on Time", e orquestras na cover das Ronettes, "Baby I Love You". Ok, tem algumas faixas mais "podres", mas nada que soe agressivo ou visceral. Magistral trabalho de Phil Spector, e uma obra seminal no punk mundial.
Davi: Nesse álbum, os Ramones contaram com as mãos de Phil Spector na produção do álbum. Não há dúvidas que Spector era um gênio. Adoro o trabalho que ele fez em grupos como The Ronettes, The Crystals e Ike & Tina Turner. Entretanto, algumas vezes, acho que ele erra. Não gosto do som que tirou em Let It Be (Beatles) e nesse disco do Ramones, olhando pelo ângulo da produção, há erros e acertos. Mais uma vez, o disco é um clássico, Ramones foram geniais dentro do seu universo e o tracklist possui verdadeiras pérolas. Algo muito bacana nos Ramones é a crueza, a agressividade e Spector é conhecido por seu perfeccionismo. Isso, automaticamente, traz alguns conflitos. Ele tentou fazer uma aproximação do som dos rapazes com o pop. Em alguns casos, funcionou. “Do You Remember Rock n Roll Radio” é perfeita. O teclado de “I Can´t Make It On Time” ficou espetacular. O mesmo não posso dizer dos teclados inseridos em “Baby, I Love You”. Teria funcionado muito bem com os Carpenters ou com a Carly Simon. Nunca com os Ramones. Também teria deixado o volume da bateria pouca coisa mais alta. As palmas inseridas em “The Return Of Jack and Judy”, por outro lado, foi uma sacada sensacional. O disco realmente é muito bom, mas a produção acho que tem acertos e erros. Tem alguns momentos que acho que ele exagerava nos elementos adicionais.
Diego: O Ramones era uma banda crua punk. Ponto. Mas ao ver todos os outros contemporâneos punks terem sucesso e eles não, algo ficava no ar e o gosto de fracasso apertou os corações dos moçoilos. Em Road To Ruin (meu favorito da banda), de 1978, a banda já dava uma guinada em seu som tendo várias faixas mais suaves e mais melódicas. Em 1980 a banda escancarou e ficou claro que eles estavam buscando o mercado de massa. Chamaram Phil Spector pra produzir o disco e End Of The Century era lançado em 15 de fevereiro de 1980. A banda escancarou toda a vontade de ser pop nesse disco e a presença da famosa marca registrada de Phil (a wall of sound) se faz presente de maneira até incomoda por diversas vezes. As faixas do disco são, como sempre, ótimas faixas com a característica dos Ramones, mas a produção que tentava deixar a banda mais acessível desfigurou demais o som da banda, fazendo com que End Of The Century seja um grande alien na discografia mais antiga do grupo. Longe de ser um disco ruim. Mas não é o primeiro disco que eu coloco pra tocar quando eu quero ouvir Ramones.
Ulisses: Nunca me passou pela cabeça considerar End of the Century como uma grande produção. Inusitada, certamente, por tornar o som dos Ramones mais polido, cheio de camadas e instrumentos adicionais nas canções. O punk veloz do quarteto permanece competente, como se ouve em faixas como "Do You Remember Rock 'n' Roll Radio?", "Chinese Rock" e "Let's Go". As açucaradas, chatas e forçadas "Danny Says" e "Baby, I Love You" descem o nível do álbum para baixo, e o restante não cheira e nem fede. No mínimo é o álbum que gera as discussões mais acaloradas dentro da fanbase do grupo, tendo tanto detratores quanto apreciadores.

Swans - The Seer (2012)
Recomendado por Alisson Caetano
Produzido por Michael Gira
Em algumas entrevistas, Michael Gira chegou a afirmar que as composições de The Seer levaram algo próximo de 30 anos para ficarem prontas, a mesma longevidade de seu projeto principal. Cada ideia e inspiração de seus discos passados parecem convergir em passagens e ataques sonoros que não devem ser encaradas exatamente sob a ótica de músicas com estruturação tradicional. A realidade é que discos assim são complicados de se analisar através de uma ótica muito técnica. Cada faixa, da abertura com "Lunacy" ao encerramento apoteótico com "Apostate", são experiências imersivas através das intensas progressões à base de muita improvisação e crescendos instrumentais, onde a imprevisibilidade é certa, apenas sabemos que a conclusão é sempre para um apogeu de sentimentos niilistas. Para compor todas as peças desta obra, Gira usou um número absurdo de instrumentos ecléticos. Gaitas de fole, teclados, sintetizadores, dulcimer, instrumentos percussivos, além dos tradicionais baixo e guitarras. Estruturar toda essa confluência de instrumentos diversos em camadas e fazer com que isso tudo ganhe coesão e um sentido é o desafio maior do projeto, que foi alcançado com uma produção ví­vida e que sempre surpreende o ouvinte com soluções de produção criativas e pelas camadas e blocos musicais que vão desenrolando a cada segundo que transcorre - não por menos o único responsável pela produção do disco foi o próprio Michael Gira. O disco é longo e sua audição é realmente penosa, como é a intenção de seu criador. Muitos reclamam que as faixas "não chegam a lugar algum". Tudo o que tenho a dizer é que a música aqui registrada é o mais próximo que podemos chegar de algo ritualístico, a interpretação, portanto, será baseada nos sentimentos que a música lhe provocou, da mesma forma que uma arte abstrata ou um filme do David Lynch.
Diogo: Haha, eu sabia que um álbum assim apareceria. Vejam bem, eu não acho que um disco precisa necessariamente ser integrado por canções. Vários artistas, inclusive alguns bem famosos, são prolíficos em criar paisagens musicais belíssimas, sobre as quais não precisam pairar estruturas habituais, melodias confortáveis e muito menos letras que façam algum sentido que não seja puramente fonético. Apenas para citar um grande exemplo, lembro que Low (1977) e Heroes (1977) estão entre os melhores lançamentos de David Bowie. The Seer não é um álbum ruim, mas se perde em repetições excessivas, que minam faixas que poderiam ser de melhor serventia caso formassem um disco simples, não duplo. Faixas como “93 Ave. Blues”, “A Piece of the Sky”, “Apostate” e a própria faixa-título, com seus 34 minutos, funcionariam como trilhas sonoras decentes, mas mesmo assim excessivas. Sobre a produção, bem, sinceramente, não chamou minha atenção em especial. Ouvi-o duas vezes para elaborar este comentário e não pretendo escutá-lo novamente; talvez apenas a longuíssimo prazo.
Mairon: Tudo o que eu ouvi do Swans sempre foi grandioso. O seu álbum To Be Kind (2014) gerou até uma polêmica com um certo blogueiro aí, e eu curti bastante. Eu não conhecia o The Seer até ouví-lo para esse recomenda. Achei-o bem diferente dos outros que já tinha ouvido (o citado To Be Kind e o loucaço The Glowing Man), mais musical e melódico. Gostei muito do disco, e a produção, como sempre, é digna de nota. Diversos instrumentos "inusitados" surgem na audição. Em especial, a louca faixa-título, com mais de meia hora de duração, foi a primeira grande orgia musical que tive em 2018. Que música sensacional e viajante! As duas outras "suítes" ("A Piece of the Sky" e "The Apostate") também são magníficas. É um disco complexo, um pouco longo e exagerado, necessita de muita atenção, mas ao mesmo tempo, um disco mágico e hipnotizante. Para poucos loucos como eu, que me encantei com essa obra aqui.
Davi: Já vi muita gente rasgando elogios à essa banda, mas nunca consegui me emocionar. Nunca ouvi nada que me fizesse pensar ‘uau, preciso desse disco para ontem’. Sem dúvidas, é muito bem feito e devemos aplaudi-los por serem ousados. Eles trabalham com bastante mudança de andamento, dissonâncias, linhas vocais incomuns. Esse lado acho realmente bacana Esse disco, em especial, tem bastante efeitos. É um disco que sei que seus admiradores têm ele lá em cima, portanto não me surpreende sua citação. Mas para quem nunca ouviu nada deles, acho um trabalho difícil. Em termos de produção, os efeitos estão bem colocados, a voz está bem agradável, mas o som da bateria me incomodou um pouquinho. Pelo menos, ouvindo pelo PC (não tenho esse disco na minha coleção). Teria colocado mais grave no bumbo e deixado a caixa mais seca. Mas, isso, óbvio, é questão de gosto pessoal. Ainda mais, no meu caso, que sou baterista. A mixagem é mais moderna e para quem curte esse tipo de som, diria que está bem produzido. Curiosamente, o lobo da capa é bem old school. Me lembrou aqueles lobisomens que apareciam nos filmes dos anos 80, tipo “Garoto do Futuro”. Curioso...
Diego: Na minha opinião música pode ir aonde quiser e pode ter a forma que os músicos escolherem. Não há regras. No entanto, existem regras pra mim. Existem também, muitos e muitos ouvintes que seguem certas publicações/sites e que gostam de ser 'diferentes', assim, no final das contas, eles acabam entrando em um mundo alternativo, junto de diversos outros ouvintes. No final de tudo existe uma legião de ouvintes alternativos que ouvem e endeusam a mesma coisa... Bom, o porque desse texto 'nada a ver com nada' no começo do texto? Porque pra mim o Swans sempre esteve nessa categoria: música pra gente que é alternativa, mas não é. Que quer fazer música estranha e diferente só pelo simples fato de querer ser diferente. Ponto. É isso que The Seer me mostrou. Tentei ouvir o disco sem pré-concepções, talvez estivesse ali um bom disco pra ser descoberto (finalmente) por mim. Não. Engano. Canções que são longas simplesmente 'porque sim', não porque existe um propósito. Músicas que saem do nada e chegam a lugar nenhum ("The Seer", a música sendo o exemplo perfeito dessa minha colocação). E no final do disco fica aquela sensação: esse disco existe pra que mesmo? A discografia da banda é toda 'hypada' e os alternativos adoram adorar a banda. Ah, dizem que eles são influência de muitas outras bandas modernas e igualmente 'cool' mais novas que, também, só fazem barulho ou simplesmente colocam colagens de sons aleatórios em seus discos. Fico imaginando se The Seer tivesse sido fosse gravado sem a pretensão, sem toda a 'vibe cool', sem a intenção de ser 'legal'. Imagino que teria sido um bom disco, porque há diversos bons momentos que são simplesmente destruídos pela pretensão. Em termos de produção e apogeu da banda em questão, não faço ideia. Nunca ouvi Swans antes e não pretendo ouvir de novo, então...
Fernando: Não gostei do Swans das outras vezes que ouvi. Eu até poderia reclamar do tempo total do disco, mas acabei ouvindo esse depois de outro disco aí e agora perdi até o argumento. Porém aqui o caso é diferente. Experimentações musicais durante duas horas é demais. Por ser um tipo de música difícil de assimilar é complicado ficar focado por todo esse tempo. Tem uma sequencia que inicia pouco antes dos 3 minutos da música “Mother of the World” que fica repetindo um riff simples em loop e aquilo vai se estendendo e parece que não tem fim e isso exemplifica bem o que estou querendo dizer. Será que tem a necessidade de um trecho tão longo assim que serve apenas como uma transição entre uma parte e outra da música? Isso diz muito sobre o disco e o grupo. Se alguém fizer um resumo das partes realmente boas do disco, por que elas existem, tenho certeza que ficaria ótimo. Mas se tiver que analisar como um todo eu continuo não gostando do Swans.
Ulisses: Sem dúvidas o mais desafiador dos álbuns indicados aqui. The Seer é um álbum grandioso (são duas horas de duração) cujo grande truque é (tentar) colocar o ouvinte numa espécie de estado de transe através de sua densa atmosfera hipnótica, com escassa presença de versos cantados, mas com uso constante de noise, drone e elementos tribais, além de uma certa vibe do rock progressivo. O disco é longo e repetitivo, não sendo uma audição para todos e nem para qualquer lugar e qualquer momento. Há muitas passagens inquietantes ou intimidadoras aqui, abrindo territórios até então pouco explorados, e nisso reside o mérito do disco, que julgo até possuir uma estética interessante, mas que certamente agrada a poucos.

XII Alfonso - Charles Darwin (2012)
Recomendado por Diego Camargo
Produzido por XII Alfonso
O XII Alfonso é uma banda Francesa formada no final da década de 80, mas eles gravaram seu primeiro disco apenas em 1996. E, para dizer a verdade, era tudo que eu sabia sobre eles até ouvir Charles Darwin em 2012. Bom, eu sabia que eles eram franceses e que eles tinham um disco chamado The Lost Frontier que eu tinha ouvido e não tinha gostado muito. Como eu não havia gostado do disco de estreia deles, eu não acompanhei mais nada da banda desde então. Mas a verdade é que eles nunca pararam. Desde 1996 eles lançaram 6 álbuns antes desse disco e lançaram mais um em 2016 chamado Djenné. Foi quando eu fui contatado pela banda em 2012 e eles me enviaram esse CD pra resenha. Dizer que Charles Darwin é um projeto completamente original seria uma mentira. Muitos álbuns conceituais sobre personagens famosos da história mundial foram gravados durante os anos, especialmente no Rock Progressivo. O próprio XII Alfonso já fez isso com seu disco (dividido em duas partes) sobre Claude Monet em 2002 e 2005. Mas nesse disco a banda alcança um nível completamente novo! Charles Darwin não é apenas um álbum conceitual, é uma grande trabalho artístico em formato de musical. Baseado no livro "A Origem Das Espécies", escrito por Darwin e lançado em 1859, o álbum é dividido em uma jornada de 3 discos através da vida naturalista, cada movimento que ele fez para cumprir seus objetivos e fazer suas descobertas foi coberto nesse trabalho ambicioso e envolvente. Cada álbum cobre um período da vida de Darwin e cada um deles tem uma hora de música, 3 horas de música no total. Essa é o único ponto negativo do disco, mas deixa eu explicar primeiro. Eu adoro esses projetos conceituais e adoro obras complexas, mas 3 horas de música é demais para ouvir de uma só vez, então se faz necessário a digestão do disco em partes. Uma coisa que torna todo o projeto ainda mais especial é o pacote dele. O CD vem em formato digibook com capa dura e material de alta qualidade. Fora isso um livreto com mais de 70 páginas impresso em um papel de excelente qualidade com todas as letras, informações sobre as gravações, fotos, notas sobre a vida de Darwin e um detalhado texto sobre o processo de gravação. 52 músicas, mais de 3 horas de música e mais de 20 convidados especiais. Claro que não foi um processo fácil para a banda, entre compor e gravar o disco foram 3 anos de trabalho. É difícil entrar em detalhes, musicalmente falando, é muito, muito difícil. Já ouvi esse disco do início ao fim pelo menos umas 20 vezes e é quase impossível citar as melhores músicas ou fazer um texto detalhado sobre o disco. Por quê? É simples. Todo o trabalho é uma jornada, uma viagem de alma e espírito, onde você pode facilmente colocar seus fones, abrir a sua cerveja favorita e simplesmente entrar no mundo criado pelo XII Alfonso. Se você não quiser ou não tiver tempo pra esse tipo de audição, será muito difícil entender o álbum ou até mesmo gostar dele. Algumas músicas certamente vem à mente depois de algumas audições, como 'Sillent Battle', ‘So Many Years’, ‘The Coral Of Life’ e ‘Mysterious Illness’, mas você realmente precisa ouvir o disco por você mesmo. A diversidade é incrível. Infelizmente, uma das mentes por trás desta obra-prima, o baterista Thierry Moreno faleceu em 2011 depois que o grupo terminou as gravações, mas antes de ver o álbum ser lançado.
Diogo: Tomei um susto quando me dei conta de que Charles Darwin é um álbum triplo. Ainda mais em se tratando de um disco rico em nuances e de instrumentação caprichada, o ideal seria poder realizar várias audições a fim de melhor compreendê-lo e avaliá-lo, mas não é fácil conseguir dedicar nada menos que três horas para ouvi-lo de cabo a rabo. Por ora, achei o álbum um tanto enfadonho, cheio de detalhes que o embelezam, mas não dizem muita coisa musicalmente. Não dá pra negar que há muito esmero envolvido, a produção é boa e a mixagem faz com que cada pequena intervenção receba seu espaço no espectro musical, mas faltam composições cativantes. De certa forma, Charles Darwin representa um polo oposto àquele de outro disco presente nesta edição, The Seer (Swans). Há um preciosismo excessivo em relação ao conteúdo – as letras estilo “contação de história” condicionam melodias vocais pouco interessantes – enquanto a forma acaba sofrendo com a falta de foco.
Alisson: São 3 horas de conteúdo livremente inspirados pelo livro "A Origem das Espécies", do naturalista Charles Darwin. A parte do "livremente" é o que deixa a apreciação do disco beirando o martí­rio. A narrativa dos acontecimentos é detalhada linearmente em faixas que passeiam por uma gama enorme de estilos que vão se intercalando aleatoriamente e com transições extremamente inesperadas e até mesmo forçadas. O rock progressivo acaba servindo apenas de desculpa para costurar nessa colcha de retalhos grotesca todo tipo possí­vel de estripulias musicais: folk árabe, música celta, sinfônica, onde nada conversa com nada e tudo acaba sendo qualquer coisa, menos surpreendente, apenas o mais clichê de cada elemento executado. Nem mesmo a produção consegue disfarçar o cheiro de auto-indulgência do registro, já que tudo soa sem profundidade e com aparência de produção de rock progressivo datado em pelo menos 30 anos. Para ser mais direto, dá para afirmar que foram 178 minutos e 43 segundos de puro exercí­cio de ego.
Mairon: Então, um disco triplo para ser ouvido no recomenda é a primeira vez. Ouvi cada CD em um dia, não tive como me dedicar um turno inteiro para a audição de três álbuns. Gostei do que ouvi, e como são 52 canções, destacar algumas fica complicado. No geral, vários foram os momentos que me chamaram bastante a atenção, em especial no CD 1 (O Cd 2 não gostei tanto, e o CD 3 é jazzístico, experimental, necessita mais audições, mas é melhor que o CD 2). Como minha intenção aqui não é analisar qualidade musical, mas sim a produção, achei essa aqui bastante complexa. Há diversos instrumentos inusitados para o rock (além dos citados aparecem marimbas, flautas, cordas, metais ...), e colocá-los de forma relevante na maioria das faixas faz com que sejamos detidos pelas caixas de som. Vejo Charles Darwin como um álbum ambicioso, ainda mais por colocar em música "A Origem das Espécies", de Darwin (algo que o Banco fez em 1972 sem tanta pompa) e o disco no total não é ruim. Apesar de longo, é sim uma belíssima demonstração de grande produção musical. Parabéns a quem indicou, e ao XII Afonso por ter criado algo tão grandioso.
Davi: Não consegui encontrar esse disco na íntegra na net, mas o que ouvi já deu para ter uma noção. Principalmente, em relação à produção. A pegada dos caras é um som calmo, meio prog... Entre os trabalhos de instrumentistas, quem mais me chamou a atenção foi o guitarrista. Criou algumas passagens super bonitas. Linha vocal achei, meio morta. Em relação à produção, não gostei. Achei o som dos instrumentos muito magro. Bateria magra, teclado magro. Um teclado mais encorpadão faria a diferença. O som do sax também não gostei. A sonoridade do cara me remeteu ao Kenny G. O que, para mim, não é algo exatamente bom. Há alguns momentos bonitos, foi interessante conhecer, mas não é um trabalho que compraria e nem um trabalho que usaria de referência na hora de mixar a demo de alguma banda que esteja tocando.
Fernando: Daí você indica um disco de 34 minutos para a galera ouvir e me vem um outro consultor com um de mais de três horas. Era melhor assistir a versão original de Ben Hur. Sei que a viagem de Charles Darwin durou muito tempo, mas os caras não precisavam fazer uma trilha sonora para a viagem toda. Fiquei na dúvida se é mais rápido ouvir o álbum ou ler "A Origem das Espécies" inteiro. Deixando as inevitáveis piadas de lado, é inegável que tudo o que se ouve aqui é de extremo bom gosto e qualidade superior. Não posso deixar de dizer que não é algo que seja possível ouvir de uma tacada só. A não ser que você esteja com outros afazeres que demandem bastante tempo e ouça isso de fundo. Porém, nesse caso vai perder muito. Ouvi em três parcelas e acho que é o ideal. Porém, não consegui ouvir mais de uma vez. Talvez eu consiga fazer isso algum dia. O progressivo aqui serve como um suporte para outros estilos como o jazz, música folk e até erudita – só eu identifiquei um ritmo meio nordestino em “H.M.S. Beagle” e música oriental em “Collection Height”?. Procurando pelo disco descobri que ele vem em uma embalagem bastante caprichada o que aumenta a chance de eu procurá-lo um dia. Ouvir o disco acompanhado das letras deve ser ainda melhor.
Ulisses: Quando vi o título, me lembrei daquele álbum que o Fernando indicou em seu "Aqueles que Faltaram", já que ambos tratam da obra de Darwin, só que de forma diferente. O álbum destes franceses é gigantesco, consistindo de nada menos do que três CDs. Parece que alguém andou confundindo "grandes produções" com "grandes durações", mas vá lá, o XII Alfonso ao menos tem o mérito de possuir bons instrumentistas, que se aliam à uma miríade de convidados tocando os mais diversos instrumentos e, assim, trazendo um som bastante rico e diverso no decorrer da longa audição. Como cada CD cobre um período da vida e obra de Darwin, separar as audições em três momentos distintos ao invés de absorver tudo de uma vez só é uma opção viável e que não compromete a apreciação do registro. Ainda assim, nota-se que a falta de direcionamento e foco prejudica a audição, em que boa parte fica relegada a música de fundo que vai de lugar nenhum a nenhum lugar, ainda que composta por belas passagens instrumentais que combinam o rock progressivo com pitadas de jazz. Digamos que é uma "grande" produção mais em termos quantitativos do que qualitativos. Das faixas que ficam na cabeça, destaco principalmente "HMS Beagle", com feeling bizarramente feliz e até nordestino; bom seria se o álbum inteiro fosse nesse estilo.
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