sexta-feira, 29 de julho de 2011

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Secos & Molhados [1978]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


É muito fácil criticar sem conhecimento de causa, e depois que conhece o assunto, pedir desculpas, assumir que está errado e fingir que nada mudou, completamente ignorante do mal que possa ter atingido ou causado com tamanha crítica. O mundo da música é cercado de injustiças, e a sessão "Discos que Parece que Só Eu Gosto" apresenta de certa forma, um ponto de vista pessoal de alguns dos nossos consultores para um determinado álbum que a maioria das pessoas não gostam, o que não significa que por tal consultor gostar do álbum ele é injustiçado.

Gerson Conrad, Ney Matogrosso e João Ricardo

Mas, com todo o perdão, o álbum a ser tratado hoje encaixa-se no termo injustiçado. Afinal, quando falamos em Secos & Molhados, lembramos apenas de Ney Matogrosso fantasiado com plumas, penas e paêtes, e mais dois membros mascarados (João Ricardo e Gerson Conrad, ambos nos vocais), cantando clássicos como "O Vira", "Sangue Latino", "Rosa de Hiroshima" e "Flores Astrais", registrados em um período de pouco mais de um ano em dois álbuns seminais do rock nacional, Secos & Molhados (1973) e Secos & Molhados (1974), que levaram o nome do grupo ao auge de vendas no Brasil, superando o Rei Roberto Carlos, e projetando uma carreira internacional de extremo sucesso, que acabou sucumbindo por diversos problemas de briga entre os membros, divisão de dinheiro e também, falta de apoio.

Primeiro álbum solo de João Ricardo

Mas, caro leitor, o Secos & Molhados continuou sem Ney Matogrosso, e na realidade foi muito além dos dois álbuns citados. Tendo na capitania o músico João Ricardo (violão, vocais, letras), em 1977 ele reformulou a banda depois de investir em uma carreira solo de relevância praticamente nula. Nesta carreira, lançou dois álbuns: João Ricardo (1975) e Da Boca Pra Fora (1976).

Como os discos não emplacaram, fracassado financeiramente, João resolveu investir novamente no nome Secos & Molhados e resolve reviver o grupo. Para isso, convocou o guitarrista e vocalista Wander Taffo (que fez sucesso em carreira solo e também como fundador do Rádio Taxi, além de ser integrante da clássica formação do Made in Brazil), o baixista João Ascensão e o vocalista Lili Rodrigues. Com a participação de Gel Fernandes (bateria), Lazy (teclados) e Rubão (percussão), em maio de 1978, quatro anos após o fim prematuro da primeira formação do Secos & Molhados, a chama voltava a ser acesa. Porém a proposta era diferente. 

Jornal de 1978 anunciando a volta do grupo

Apesar de seguir uma linha similar aos primeiros discos e de Lili ter uma voz tão aguda quanto a de Ney, João decidiu parar com a androginia, retirar as plumas e investir no talento individual de cada um dos novos músicos do grupo. De cara limpa, partiu para os estúdios e, aquele que eu considero um dos melhores álbuns do rock nacional, o excelente Secos & Molhados (também conhecido como A Volta dos Secos & Molhados).

O disco abre com um verdadeiro clássico, "Que Fim Levaram Todas as Flores?", a qual foi um sucesso nacional, dando direito à banda de participar de inúmeros programas de televisão. A semelhança com faixas como "Flores Astrais" e "Assim Assado" não pode ser evitada, e Lili mostra que estava na banda para substituir, e bem, Ney. É impossível não confundir a sonoridade dessa canção com as canções da fase Ney, mas o resto de Secos & Molhados segue uma linha sonora bem diferente, que já se torna evidente na faixa seguinte, "Lindeza", onde os violões introduzem a canção com o baixo característico das músicas mais rápidas dos primeiros álbuns, além de trazer um belo arranjo de cordas, uma novidade nas canções do grupo. 

Segue mais uma canção totalmente diferente. Após flertar com o blues em "Primavera nos Dentes", o flamenco em "Primer Mundo" e o fado de "O Vira", o Secos & Molhados invadia o funk, com uma bateria marcando o ritmo, tendo na sequência uma ótima linha de baixo, guitarras e teclados, dando espaço para os vocais cantarem "De Mim Pra Você", uma das faixas mais dançantes da banda e que merece espaço em qualquer festa anos setenta que você pense em fazer, ao lado dos clássicos de Village People, Bee Gees, Gloria Gaynor entre outros. 

Após a sacudida no esqueleto de "De Mim Pra Você", temos a bela balada "Minha Namorada", onde Lili está fenomenal, mostrando sua simpatia (a qual contava nos créditos do álbum). O violão de 12 cordas de João leva a canção, que ainda trás um belo solo de Taffo (apresentado no álbum como Wander Tosh). O lado A encerra com "Anônimo Brasileiro", que apesar da bela melodia e do arranjo de cordas e metais, traz os vocais graves de João Ricardo, não combinando com o clima proposto na canção.

Wander Taffo, Lili Rodrigues, João Ascensão, João Ricardo e Rubão

O lado B começa com "Última Lágrima", que lembra muito "Sangue Latino", principalmente pela levada do violão e do baixo. Segue "Insatisfação", uma pedrada na orelha de quem achava que o lado B seria lento, contando com vocalizações e destacando novamente a voz de Lili. Temos aqui uma boa letra de João, bem auxiliada por uma sessão instrumental de teclados e guitarras. Os arranjos de cordas se fazem presente em "Oh! Canção Vulgar", uma linda balada que antecedeu a musicalidade amena empregada por diversos artistas brazucas nos anos 80. 

Segue uma sessão acústica (antes mesmo dos acústicos terem sido inventados), com a belíssima "Como Eu, Como Tu". Com João Ricardo liderando as vozes e acompanhado apenas de seu violão, temos aqui uma das mais belas e comoventes letras da banda, a qual trata sobre a dor de uma pessoa que recorda os poucos momentos de um amor que não deu certo. De chorar! Um dos melhores arranjos instrumentais para apenas um violão que já ouvi. A animada "Quadro Negro" resgata o clima leve do álbum, contando com boas participações dos integrantes nas vocalizações, que também possui João no vocal principal. 

Por fim, "Cobra Coral Indiana" é introduzida pelo piano elétrico e baixo, que lembram bastante "Flores Astrais". A pequena letra, narrando a história de milhares de brasileiros que entram e saem de filas enormes para pagar suas contas, dá espaço para um longo tema instrumental com cordas e guitarras, encerrando o álbum em altíssimo nível.

Porém, nem toda flor cheira bem, e João acabou tendo diversos problemas com os integrantes dessa formação, lançando seu terceiro trabalho solo, Musicar, em 1979. Em meados de 1980 tenta mais uma vez resgatar o Secos & Molhados, contando agora com os irmãos Roberto Lampé (violão), César Lampé (voz) e Carlos Amantor (percussão), lançando mais um álbum homônimo, também muito bom, mas não no nível de seus antecessores.

Depois, em 1987, foi a vez de ao lado de Tôto Braxil, João Ricardo registrou mais um LP sob o nome Secos & Molhados, o fraquíssimo A Volta do Gato Preto. Seguiram-se ainda Teatro? (1999) e Memória Velha (2000), praticamente álbuns solos de João Ricardo, que ficam muito longe do esperado para o nome Secos & Molhados. O grupo para muitos acabou em 1974, mas em 1978, foi dado o último suspiro, aliás, um suspiro cujo perfume parece que só eu gosto, mas creio que pelo fato de que a maioria dos fãs do grupo apenas desconsideram a existência do mesmo sem o Ney. Mera injustiça!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: The Flowers - I'm Dead [1969]




Primeiramente, não confunda o nome da banda da capa que está vendo acima. Apesar da mesma ser da Flower Travellin' Band, o grupo que registrou nossa maravilha dessa semana não foi o homenageado da semana passada, mas sim o seu embrião, o The Flowers.

Como vimos,  a Flower Travellin' Band destruiu o cenário musical japonês através de um álbum seminal, Satori, lançado em 1971 e que até hoje ainda causa seus estragos. O grupo capitaneado pelo produtor Yuya Uchida, ficou poucos anos caminhando sobre a Terra, suficientes para deixar seu legado como uma das mais importantes bandas da história do hard prog nipônico.

Mas, antes de se envaretar como produtor musical e conceber a suíte "Satori", Yuya já havia feito parte de uma pequena obra-prima da geração psicodélica de Tóquio gravada pelo The Flowers. O nome da maravilha: "I'm Dead". 

Antes de entrarmos nos méritos de "I'm Dead", voltamos no tempo para percorrer um pouco da história de Uchida. Nascido em 17 de novembro de 1939 na cidade de Kobo, durante a adolescência, nosso nobre escorpiano teve contato com o rock 'n' roll de Elvis Presley. A performance do americano encantou os olhos do jovem japonês, que resolveu montar seu primeiro grupo em 1957, o qual foi batizado de Blue Caps. A primeira apresentação de Uchida foi em  1959, no Nichigeki Western Carnival. Depois, mudando de grupo como que de cueca, Uchida se fixou como músico do Takeshi Terauchi and the Bluejeans, onde fez diversas (e raras) gravações.  

Nesse período, Uchida também começou a desenvolver sua carreira como artista de cinema, a qual ele iria fazer sucesso posteriormente nos anos 70 e 80, participando de um filme chamado "Subarasii Akujo" em 1963. Entre 1965 e 1968, gravou mais cinco filmes, todos sem grande sucesso.

Alguns álbuns de Uchida pré-The Flowers

Com a chegada da invasão britânica, a cabeça de Uchida mudou completamente, passando a virar um seguidor nato do The Beatles, sendo que uma homenagem aos Fab Four foi construída e registrada em forma da canção "Welcome Beatles", quando os mesmos fizeram sua visita ao Japão em 1966.

Porém, Uchida não conseguia ninguém para montar um grupo na linha do som dos garotos de Liverpool, e como solução, mandou-se para a europa. Lá, deparou-se com os novos sons de The Who, Jimi Hendrix, Cream, Janis Joplin e toda a geração flower-power que brotava tanto no Reino Unido quanto na América, além de tomar os primeiros ácidos e ver o nascimento da psicodelia londrina no famoso UFO Club.

Alucinado com as experiências europeias, Uchida voltou para o Japão e decidiu se concentrar na construção de um grupo psicodélico nos moldes do que havia ouvido e visto no velho continente. Apesar da conservadora visão sobre música dos japoneses, o músico decidiu inovar, enfrentando a tudo e a todos para mostrar sua música.

Toshi Ichiyanagi, o inventor de "I'm Dead"

Apresentando o projeto inovador para diversos ícones japoneses, Uchida acabou recebendo o apoio de Toshi Ichiyanagi, curiosamente ex-marido de Yoko Ono (futura viúva de John Lennon). Ichiyanagi estava viajando com psicodélicos e alucinógenos, liderando uma ópera que misturava orquestra sinfônica e rock'n'roll. Ao conhecer as ideias do garoto, propôs a ele a gravação de uma canção que fosse inspirada no quadro I'm Dead, de Tadanori Yokoo. Detalhe, essa canção deveria ter 30 minutos!

Uchida adorou a ideia, e como havia acabado de montar uma banda ao lado de Hiroshi Chiba (vocais), Hideki Ishima (guitarras), Katsuhiko Kobayashi (guitarras), Ken Hashimoto (baixo) e George Wada (bateria), partiu para o processo de composição da pequena obra-prima pedida por Ichiyanagi. Com a entrada da jovem cantora Remi Aso, o The Flowers nascia praticamente a fórceps, entrando nos estúdios da NHK Radio em meados de 1969 para registrar em um único take, uma das canções mais piradas da história da humanidade, a qual é considerada o grande épico psicodélico do Japão.

Compacto do The Flowers

"I'm Dead" começa com uma soturna introdução, onde entre batidas nos pratos, as guitarras fazem um tema macabro utilizando-se do recurso da variação do volume. Ishima passa a variar a afinação das cordas da guitarra, enquanto Wada delira nos pratos, e então, o wah-wah surge na guitarra, querendo abrir espaço para a nave viajante do The Flowers sair do chão.

O tema inicial é repetido pelo wah-wah, e depois de acordes soltos da guitarra, com Hashimoto tocando algumas notas graves no baixo, guitarra e prato executam uma curta sessão percussiva, para então uma lisérgica guitarra surgir solando ao fundo, enquanto Wada faz rolos entre tons, bumbo e caixa. Notas aleatórias do piano assombram o quarto, seguidas da marcação de um metrônomo ditando o ritmo das batidas de Wada no bumbo.

Um pequeno solo de wah-wah e o baixo surge para Ishima solar alucinadamente, com uma guitarra extremamente lisérgica sobre o ritmo simples mas envolvente de baixo, bateria e guitarra. As notas ácidas de Ishima injetam adrenalina na canção, que ganha delirantes minutos de soberba maestria psicodélica, passeando por temas com wah-wah, volume e notas totalmente dispersas, além de agressivas batidas nas cordas do instrumento.

Ishima e Kobayashi alternam-se nos solos, e com o baixo marcando o ritmo, a bateria passa a fazer diversas viradas, voltando para a soturna introdução, com Ishima e Kobayashi agora solando em cima de escalas bluesísticas. A parte percussiva é uma espécie de embrião do que Jamie Muir faria no King Crimson, e a guitarra de Ishima literalmente frita as cordas com notas totalmente discernes e enlouquecedoras. Essa sessão da canção é muito viajante e tenebrosa.

Depois dos minutos apavorantes de guitarra, baixo e percussão, onde a guitarra uiva de dor, wah-wah e volume elaboram um tema para explodir no arrepiante sustain das guitarras, com uma barulheira infernal de bateria, baixo, guitarra, e um Chiba gritando louca e apavoradamente ao fundo. De arrepiar os cabelos de um calvo!

A lisergia volta no solo de Kobayashi, cercado de barulhos e percussão, variando notas muito agudas e outras extremamente graves, enquanto Ishima faz uma estranha marcação na sua guitarra. Novamente o piano aparece, e como uma locomotiva invadindo sua casa, o The Flowers leva "I'm Dead" para a insanidade total, com Kobayashi solando sob o ritmo avassalador de Wada, as escalas complicadíssimas de Hashimoto e da torturante marcação de Ishima, além dos gritos alucinados de Chiba, em um frenêsi diabólico e puramente insano.

Entregue à diabólica tortura mental que o The Flowers construiu, seu corpo aterrisa em terra firme, relaxando com o retorno ao início da canção, onde a guitarra expele seus últimos gritos, com a percussão fazendo o enterro dos ossos resultantes da macabra insanidade cometida minutos antes, e como um coveiro sozinho dentro de um cemitério isolado da humanidade,  entre tosses e gritos, colocar a pá de cal no túmulo dos instrumentos com orgísticos gritos e barulhos das guitarras de Ishima e Kobayashi, bem como do piano e da percussão, em uma piração jamais vista na música japonesa, e por que não, na história do rock progressivo, onde os instrumentos parecem representar a dor de alguém que está sendo enterrado vivo, encerrando a canção com belos harmônicos cobrindo as ácidas notas da guitarra, soluçando seus últimos suspiros.
Capa de From Pussys to Death in 10.000 Years Freakout

Essa maravilhosa sessão instrumental de 27 minutos acabou sendo escondida dos mortais por mais de 30 anos. Ao que parece, Ichiyanagi achou que a canção era tão delirante e hipnótica que ninguém ia querer comprar aquilo, ficando a fita master da gravação da mesma perdida no acervo de Uchida, até que em 2002, saiu na coletânea da Flower Travellin' Band intitulada Music Composed Mainly By Humans (capa que ilustra a matéria). 

Antes disso, ela já havia saído de forma clandestina no bootleg From Pussys to Dead in 10.000 Years Freakout, o qual também contém outras raridades ligadas ao The Flowers, com destaque para uma espetacular apresentação ao vivo do grupo no Rock'n'Roll Jam 70 fazendo uma estonteante e definitiva versão para a recém lançada "How Many More Times" (Led Zeppelin), com uma interpretação vocal fenomenal de Remi Aso.

A fabulosa estreia vinílica do The Flowers: Challenge

Após a gravação de "I'm Dead", Uchida registrou com o The Flowers o fabuloso Challenge (1969), com a capa contando com todos os Flowers nus. Recheado de covers de canções ainda não conhecidas na terra do sol nascente, mas que hoje são sucessos mundiais, esse LP apresenta clássicos como "Piece of My Heart" (Big Brother & the Holding Company)", "Hey Joe" (Jimi Hendrix)  e "White Room" (Cream), destacando também a bela "Hidariashi No Otoko", única canção composta por Uchida e que é uma pequena amostra da potência psicodélica de "I'm Dead", até montar a Flower Travellin' Band e estourar no Japão.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amy Winehouse: 1983 - 2011


Sei que a notícia já ficou velha, mas é que eu ainda não havia parado para assimilar tal fato, e hoje pela manhã que consegui encaixar as coisas.

Tirando o lado pessoal de Amy Winehouse, cercado de polêmicas, encrencas e muita baixaria, musicalmente e pessoalmente a cantora inglesa mostrou para os jovens dos anos 2000 aquilo que muitos deles enxergavam apenas em ídolos do passado: talento, inovação e muita transpiração.

Conheci o som de Amy Winehouse através de uma ex-namorada, que insistia em me dizer que eu estava perdendo tempo em não ouvir o som dela. De tanta encheção de saco, um dia ouvi "Back to Black" (que por acaso o vídeo apresenta um enterro) e pirei. Essa canção é uma aula sentimental para os anos 2000, e o arranjo jazzístico/orquestral da mesma é fantástico. Na sequência, ouvi  as cinco canções que havia sido me indicado: "Tears Dry on Their Own", "Love is a Losing Game", "Me & Mr. Jones", "In My Bed" e "Some Unholy War". No meio delas,  exatamente em "Me & Mr. Jones", o vírus contagiou. 

Amy e Blake Fielder-Civil

Baixei os dois discos da cantora, Frank (2003) e Back to Black (2006), ouvindo praticamente sem parar, encantado com a sonoridade antiga empregada nos anos 2000. Frank é um disco que deve ser curtido em doses homeopáticas. Com uma potência destrutiva de uma banda altamente entrosada, é nele que o mundo conhece a voz rouca e rasgada de Amy, com toques de rock 'n' roll envolvidos pelo blues e pela soul music. Já Back to Black é um disco que deve ser proibido para uma pessoa que quer cometer suicídio. Um dos melhores álbuns da década passada, nele Amy coloca para fora todo o seu amor pelo então marido Blake Fielder-Civil, cuja relação foi uma bomba atômica implodindo rapidamente dentro de seu corpo através de muito álcool e o quíntuplo de entorpecentes. Através de canções planejadas para tocar a alma do ouvinte, Amy misturou ritmos como jazz, gospel, soul, funk e por que não, rock 'n' roll, como quem mistura uma sopa com veneno, e não satisfeita, afiando as facas para cortar os pulsos.

Back to Black, o melhor disco de Amy

A mistura acima me lembra muito o que Janis Joplin fez quando saiu da Big Brother and the Holding Company, fundando a Kosmic Blues Band em 1969 e colocando para fora todo o sentimento que não era possível de ser colocado dentro do Big Brother and the Holding Company.

Single de "Rehab"
Aliás, creio que não seria injusto dizer que Amy Winehouse foi a Janis Joplin dos anos 2000. Sua carreira meteórica, com apenas dois discos oficiais, a diferença principal foi que Amy vendeu muito ao redor do mundo, além de ter gerado muita polêmica. Viciada em drogas, o maior sucesso foi "Rehab", não por acaso de Back to Black. Essa canção é uma autobiografia que simpatizou com diversos fãs, e gerou problemas diversos tanto com sua família quanto com a imprensa sensacionalista, sempre preocupada em encontrar um fato novo para colocar a imagem de Amy mais para baixo do que o cocô da mosca no cocô do cavalo do bandido.



Amy
Muitos alegam que Amy não tinha voz, não tinha personalidade no palco, e era uma péssima intérprete. Não creio que seja bem assim. Envolta sempre por uma banda extremamente competente, Amy fazia do simples sua marca registrada. Não tinha a explosão vocal de uma Tina Turner, a devassaladora presença de palco de Janis Joplin, a beleza de Debbie Harry, a sensualidade de Madonna ou a sutileza musical de Elis Regina, mas como que contando para amigos, em uma mesa de bar recheada de garrafas de uísque, Amy exalava sentimento em letras construídas em sua maioria por ela mesma, narrando as histórias pessoais de sua vida com uma paixão que é rara de se encontrar na música de hoje em dia, ao ritmo principalmente de um jazz rock dançante e envolvente.

Corpo de Amy sendo carregado
A morte da cantora, aos 27 anos, já era esperada pelos fãs. Afinal, Amy entrou para o hall dos grandes nomes da música da mesma forma que Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, todos falecidos aos 27 anos. Claro, não tenho como comparar Amy com os artistas citados, que para mim (e creio que para todos vocês, leitores do blog) são muito melhores e mais emocionantes de se ouvir do que a cantora inglesa, mas no fundo, muitas das canções de Amy dizem mais par mim do que alguma letra de Jim Morrison, por exempo.

Perdoem o desabafo, mas Amy Winehouse é uma merecedora inclusive de uma sessão A Little Respect, já que, repito, em termos de música, poucos conseguiram fazer algo com uma qualidade tão elevada nos últimos anos. Acabei não conseguindo assistir a cantora ano passado, quando ela esteve no Brasil e se apresentou perto de Porto Alegre, ali em Floripa, pois estava em viagem naquela data, mas quem foi, por melhor ou pior que tenha sido a apresentação, viu com certeza o principal nome da música desde Kurt Cobain. 

De uma forma especial,  Amy Winehouse tocou milhões de almas ao redor do mundo, passando a ser lembrada por aqueles que apreciam sua música para sempre principalmente por suas composições emocionantes, dosadas de um talento único e que aparece raramente.

Rust in Peace!!!
Que os astros lhe recebam com muito uísque, ceva gelada e claro, um palco montado para você deixar sua voz rouca soar entre os comentários de "como ela está melhor agora!".

Podcast Grandes Nomes do Rock #29: Guns N' Roses



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Essa semana, o Podcast Grandes Nomes do Rock homenageia um dos principais grupos do rock mundial no final da década de 80 e início dos 90, os americanos do Guns N' Roses. Em uma hora e meia de programa, conheceremos a história de Axl Rose, Slash, Izzy Stradlin e demais músicos do grupo, através de canções da carreira do Guns N' Roses, versões originais de canções que o grupo gravou como covers, o bloco O DISCO e também participações solos dos ex-integrantes.


Formado em 1985 a partir da fusão do Hollywood Rose e do L. A. Guns, o Guns N' Roses se tornou sinônimo de sucesso, escândalos, polêmicas e milhares de fãs ao redor do planeta. Do Hollywood Rose saíram os membros Axl Rose (voz) e Izzy Stradin (guitarra), enquanto do L. A. Guns, Tracii Guns (guitarra), Ole Beich (baixo) e Rob Gardner (bateria) completaram o time.

A união dessa formação não durou mais do que cinco apresentações, pois logo a formação passou a contar com Duff McKagan (ex-Road Crew) no lugar de Beich e Slash no lugar de Tracii, sendo Slash um exímio guitarrista que teve uma rápida passagem pelo Hollywood Rose. O grupo começou a compor canções e fazer shows com relativa frequência, até que durante uma série de shows pela Califórnia, Gardner foi substituído por Steven Adler, dando origem para uma das mais poderosas formações do rock dos anos 80, com Axl Rose (voz), Duff McKagan (baixo, vocais), Izzy Stradlin (guitarras, vocais), Slash (guitarras) e o próprio Adler (bateria).

A formação clássica: Steve Adler, Izzy Stradlin, Slash, Axl Rose e Duff McKagan
A estreia dessa formação foi na turnê batizada de Hell Tour, que levou o nome do Guns N' Roses até os empresários da Geffen Records, com o qual assinaram para gravar seu primeiro LP. Em 1986, registram o EP Live?! *@ Like a Suicide em uma tiragem limitada de apenas 10 mil cópias, contando com quatro canções: "Reckless Life", "Nice Boys", "Move to the City" e "Mama Kin". Essas 10 mil cópias fizeram um relativo sucesso, e os nomes de Axl Rose e Slash começavam a se destacar entre os jovens americanos.

Este EP registra a apresentação no Halloween de 1986 no UCLA's Ackerman Ballroom, abrindo para o Red Hot Chili Peppers, se tornando um raro item de colecionador. Não tardou para sair o primeiro LP oficial do grupo. Em 21 de julho de 1987, Appetite for Destruction estourou nas paradas mundiais graças a hinos como "Sweet Child O' Mine", "Paradise City" e "Welcome to the Jungle". O álbum conquistou facilmente o primeiro lugar em vendas em países como Estados Unidos, Argentina e Brasil, vendendo mais de 28 milhões de cópias ao redor do mundo e alavancando o nome Guns N' Roses para o cenário dos mais importantes grupos da história americana.

Uma das várias prisões de Axl
Assim, passam a fazer shows cada vez maiores, trazendo como consequência, o aumento do ego de Axl Rose e do consumo de drogas, principalmente por parte de Slash e Adler. O grupo viajou por todos o Estados Unidos e fez sua primeira apresentação na europa, sendo uma das principais atrações do Monsters of Rock de 1988, ao lado do Iron Maiden. Durante a apresentação do Guns nesse festival, dois fãs acabaram sendo pisoteados até a morte, já que a capacidade do local era menor do que o número de pessoas que estavam lá para assistir ao grupo. A imprensa sensacionalista acabou acusando Axl e cia. de incitarem a violência contra os fãs, continuando tocando mesmo assistindo a tragédia ocorrer. Essa foi a primeira das muitas encrencas entre imprensa e Guns N' Roses.


A turnê de Appetite for Destruction levou a mídia a batizar o grupo de "A banda mais perigosa do mundo", principalmente pelo comportamento extra-palco de Slash, Stradlin e Adler, sempre chapados e descompromissados, além de Axl cada vez mais crescer seu lado egoísta.


Guns N' Roses, após a gravação de G N' R Lies


Depois da agitada turnê, voltam para os estúdios para registrar o segundo LP. Aproveitando-se das canções de Live?! *@ Like a Suicide, registram mais quatro canções em estúdio, e assim, com oito canções, G N' R Lies chegou as lojas em 1988, alcançando logo na primeira semana a segunda posição em vendas na Billboard, carregado principalmente pelo sucesso da balada "Patience". Novamente, outra polêmica envolveu o grupo, dessa vez em relação a canção "One in a Million", que por causa das palavras "niggers" e "faggots" fez com que a imprensa acusa-se ao Guns, e principalmente à Axl, de racismo e homofobia.


O lançamento de G N' R Lies fez com que a banda conquistasse o prêmio de Artista Favorito do Heavy Metal e Álbum Favorito do Heavy Metal (no caso, Appetite for Destruction) no ano de 1990, através da American Music Awards. Durante a premiação, Slash e McKagan apareceram visivelmente chapados. Esse comportamento passou a refletir também na relação com Axl Rose, que deu um ultimato para o consumo de drogas dos membros, vindo a público falar sobre seus problemas com heroína e também dos problemas com cocaína de alguns membros do grupo, ao mesmo tempo que eram a banda de abertura do Rolling Stones durante a Steel Wheels Tour. 



Guns N' Roses: sexo, drogas e muita diversão

O problema com drogas abalava principalmente Adler, que por exemplo, durante a gravação de "Civil War", uma das primeiras canções para o novo álbum, teve que fazer mais de 30 sessões para concluir sua parte. Assim, ele foi despedido em julho de 1990, sendo substituído por Matt Sorum (ex-The Cult). Outra importante modificação no line-up do Guns foi a entrada de Dizzy Reed para os teclados, bem como Axl estourando sua raiva contra o empresário Alan Niven, despedindo-o e colocando em seu lugar Doug Goldstein.


Esse foi o período de maior criatividade musical de Axl, Stradlin e Slash. Empregando influências de progressivo ao metal, bem como revigorando o punk através de pesadas distorções, o agora sexteto grava material suficiente para dois álbuns. De maneira inesperada, em 27 de setembro de 1991 chegou as lojas os LPs Use Your Illusion I Use Your Illusion II.


Apesar de serem ambos LPs duplos (CDs simples), incrivelmente nos seus lançamentos eles chegaram nas duas primeiras posições em vendas, com Use Your Illusion II sendo o primeiro lugar. Ambos permaneceram 108 semanas entre os mais vendidos, e marcaram o auge da carreira do Guns N' Roses. Com muita criatividade, o grupo investiu em um gigantesco palco para promover os álbuns, além de também cair pesado na concepção, construção e elaboração de vídeos repletos de efeitos especiais, destacando "November Rain", "Estranged", "Don't Cry", "You Could be Mine",  e "Live and Let Die", sendo que os três primeiros fazem parte dos vídeos mais caros da história.


O investimento valeu a pena, já que "November Rain" tornou-se o vídeo mais pedido da MTV americana, recebendo o prêmio de melhor vídeo em 1992. Além disso, essa é a mais longa canção a chegar entre as Dez Mais, com seus oito minutos e cincoenta e sete segundos. Aliás, as longas canções foram um dos destaques de ambos os LPs. "Coma", "Locomotive", "November Rain" e "Estranged" viraram sinônimos da melhor performance individual de cada um dos seis membros do grupo.


Para se ter uma ideia da importância em vendas dos Use Your Illusions, a primeira versão foi terceiro lugar na Suíça, Suécia e Noruega, segundo lugar nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Argentina e Áustria e primeiro no Canadá, enquanto a segunda versão foi segundo na Suíça e Noruega, e primeiro no Reino Unido, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, Áustria, Brasil e Argentina, sendo que no final da década de 90, Use Your Illusion I ficou na posição 71 e Use Your Illusion II na posição 67 dos mais vendidos da década.

Os participantes da Use Your Illusion Tour
O Guns N' Roses partiu para uma gigantesca turnê mundial, contando com um gigantesco palco e com a participação dos músicos convidados Teddy Andreadis (vocais, harmônica, percussão, teclados), Roberta Freeman (vocais), Tracey Amos (vocais), Cece Worrall (metais), Anne King (metais) e Lisa Maxwell (metais). Foi nessa turnê que o grupo fez suas primeiras apresentações no Brasil, durante a segunda edição do Rock in Rio, tendo como auge a incrível apresentação no Freddie Mercury Tribute, além da turnê ao lado de Metallica e Faith No More, batizada de Guns N' Roses / Metallica Stadium Tour, que passou por 25 grandes estádios dos Estados Unidos e Canadá entre julho e outubro de 1992, todos com a lotação esgotada.


Obviamente, os incidentes entre banda, fãs e imprensa foram inumeráveis. Por exemplo, durante a tour com o Metallica, o guitarrista James Hetfield sofreu queimaduras de segundo e terceiro grau em seu braço esquerdo durante as explosões de "Fade to Black" na apresentação do dia oito de agosto, no estádio Olímpico de Montreal. O Metallica foi forçado a cancelar sua apresentação, gerando um longo atraso para a entrada do Guns. 


Quando Axl e cia. subiram ao palco, nenhum dos equipamentos de retorno estava preparado para o início da apresentação. Axl, enfurecido, abandonou o palco, seguido do resto do grupo. O show foi cancelado e o público invadiu as ruas de Montreak, quebrando carros, vidraças e o que aparece-se pela frente. Algumas imagens dessa arruaça pode ser conferida nesse vídeo.


O incidente em São Paulo
Outro famoso incidente ocorreu no Brasil em 1991. Durante a estada do grupo no Copacabana Palace, centenas de fãs aguardavam ansiosamente a presença de Axl Rose na Av. Atlântida. Irritado com a gritaria do pessoal, Axl acabou jogando um telefone pela janela do hotel bem na cabeça de quem estava por lá. Em dezembro do ano seguinte, outro comportamento temperamental aconteceu em São Paulo, com Axl brindando os jornalistas com uma cadeira sendo arremesada contra os mesmos dentro do saguão do hotel onde iria ser realizada uma conferência.


Um dos fatos mais bizarros aconteceu em uma apresentação em St. Louis, em 1991. Durante "Rocket Queen", Axl percebeu que havia uma pessoa fazendo fotos do show com uma câmera amadora. O vocalista pediu para a segurança do local tirar o rapaz. Como a segurança não o fez, Axl pulou na plateia e agrediu o cidadão no meio da canção. Inconformado, o vocalista foi separado pelo pessoal do "deixa-disso", e anunciou "Obrigado por essa segurança cuzona, eu vou para a casa", deixando 2 mil e 500 fãs enfurecidos, e um prejuízo de mais de 200 mil dólares como consequência.


Outro fato importante ocorrido nessa turnê foi a saída de Stradlin, que formou o Ju Ju Hounds, e a entrada de Gilby Clarke. Isso ocorreu em 07 de novembro de 1991, e, segundo Stradlin, o comportamento de Axl fora dos palcos e a dificuladade de Slash, Sorum e McKagan se manterem sóbrios durante a turnê forem decisivos para ele perceber que aquela não era a vida que ele planejava.


Premiação pelas vendas dos Use Your Illusion
Enfim, a turnê dos Use Your Illusion rendeu muitas histórias, e também sucesso para o Guns. Entre 20 de janeiro de 1991 e 17 de julho de 1993, foram realizados  194 shows em 28 meses, a maioria deles em arenas lotadas. O último show, realizado em Buenos Aires, também marcou a última apresentação com Slash e McKagan, bem como a despedida de Sorum e Clarke, os quais foram despedidos por Axl pouco depois do lançamento do quinto álbum do grupo.


Ainda em 1993, cansados pela extensa turnê, os membros do Guns N' Roses, se reuniram para gravar um álbum somente com covers. Assim, nasceu The Spaghetti Incident?. O grande sucesso desse álbum foi "Since I don't Have", originalmente gravada pelos Skyliners, mas a grande polêmica ficou pela inclusão de "Look at Your Game, Girl", uma faixa de Charles Manson.


The Spaghetti Incident? vendeu bem logo no início de seu lançamento, mas com o passar do tempo, não atingiu o que seus antecessores já havia conquistado. Além disso, o gênio indomável de Axl estava incontrolável, e a solução foi todos sairem em férias, ao mesmo tempo que se concentrariam para gravar um novo material. Nesse período, McKagan lançou seu álbum solo Believe in Me.


Axl Rose e Matt Sorum (em pé); Duff McKagan, Dizzy Reed, Slash e Izzy Stradlin (sentados)
Em dezembro de 1994, são convidados para participar da trilha sonora do filme "Entrevista com Vampiro", onde gravam uma versão para a clássica "Sympathy for the Devil", do Rolling Stones, saindo também em um single especial. Nessas alturas, o guitarrista Paul Huge já havia substituído Clarke, sendo que esse foi o último registro a contar com Slash, McKagan e Sorum.


Depois de muitas brigas, em outubro de 1996 Slash saiu do Guns N' Roses, seguido de Sorum, que foi despedido em abril de 1997, e McKagan, que pediu as contas em outubro de 1997. Para o lugar de Slash, o ex-Nine Inch Nails Robin Finck foi escolhido, assinando um contrato por dois anos. Mas, o mais curioso é que mesmo sendo apenas Axl, Reed e Finck, o nome Guns N' Roses ainda existia, apesar da última apresentação ter sido em 1993.


Axl chamou o baixista Tommy Stinson e o baterista Chris Vrenna, fazendo uma salada de bateristas durante o período de maio e setembro de 1997, por onde passaram ainda os nomes de Pod e Josh Freese, entre outros. Depois de várias mudanças na formação, o Guns N' Roses estabelecia-se com Axl, Finck, Stinson, Reed e Chris Pitman.


Essa formação começou a longa gravação do próximo álbum do grupo. Antes, a Geffen Records lançou no mercado o excelente ao vivo Live Era '87 - '93 (1999), trazendo apresentações do grupo desde o início de carreira até a turnê de Use Your Illusion. Ainda em 1999, o Guns lançou a canção "Oh My God", a qual aparece no filme " Fim dos Dias". Nessa canção, os guitarristas foram Dave Navarro e Gary Sunshine. Finck voltou para o Nine Inch Nails, sendo oficialmente substituído pelo guitarrista Buckethead, já em 2000. Outra mudança foi a entrada de Bryan Mantia no lugar de Freese. Fink acabou voltando para o Guns, e então, contando ainda com Paul Tobias nas guitarras, passaram a ensaiar para o grande retorno do grupo.


Rock in Rio III
Depois de nove anos, os fãs podiam ver Axl e cia. em cima de um palco para apresentaçãoes em Las Vegas e na terceira edição do Rock in Rio, ambas em janeiro de 2001. Apesar da grande expectativa do lançamento do novo álbum, que já estava batizado de Chinese Democracy, com algumas músicas sendo apresentadas nesses shows, nada ocorria.


Axl e Buckthead
Em 2002, Richard Fortus entrou para o lugar de Tobias, e mais shows foram realizados, agora por europa e ásia, bem como uma apresentação no MTV Video Music Awards, seguida de uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá, que, como toda a história do Guns N' Roses, foi cercada de polêmicas, atrasos, lotações esgotadas e diversos shows cancelados, causando muita frustração e quebra-quebra nas cidades onde isso ocorreu.


Em março de 2004, foi a vez de Buckethead sair, mesmo mês do lançamento de Greatest Hits, platina tripla nos Estados Unidos. O Guns permaneceu nas sombras até 2006, quando mais uma turnê foi realizada, agora pela europa e Estados Unidos, contando com a presença do novo guitarrista, Bumbblefoot. Um dos grandes momentos dessa turnê foi a participação de Stradlin como convidado especial em alguns shows. O baterista Frank Ferrer também entrou no grupo, substituindo Mantia.


Foto de promoção da turnê de Chinese Democracy


Depois de muitos anos de expectativa, shows e prorrogações, em 23 de novembro de 2008 finalmente Chinese Democracy foi lançado. Para muitos, uma grande decepção. Para outros, um bom disco, que mostra a capacidade que Axl Rose ainda tem de compor e também o bom trabalho das guitarras. Canções como a faixa-título, "Better", "Madagascar" e "Street of Dreams", as quais já vinham sendo apresentadas ao público durante as turnês anteriores, agradaram a maioria dos fãs, fortalecendo uma nova turnê, cercada de muitas polêmicas como de costume, e que passou pelo Brasil entre março e abril de 2010. Essa turnê contou com a presença de Duff McKagan no show da Inglaterra, em 14 de outubro do mesmo ano.


Axl e seus milhares de fãs na turnê de 2010
Atualmente, o Guns N' Roses está em processo de composição de um novo álbum,  além de ensaios para a apresentação no próximo Rock in Rio, em setembro desse ano. O novo álbum deve ser lançado no ano que vem, isso se atrasos como o de Chinese Democracy não surgirem, já que quando falamos de Axl Rose, tudo pode acontecer.

Vinis ligados ao Guns N' Roses

Track list Podcast # 28 - Supertramp

Bloco 01
Abertura: "Your Poppa Don't Mind" [do álbum Indelibly Stamped - 1971]
"Aries" [do álbum Indelibly Stamped - 1971]
"From Now On" [do bootleg BBC Sessions - 1993]
"Don't Leave Me Now" [do álbum ... Famous Last Words - 1982]
"It's A Hard World" [do álbum Some Things Never Change - 1993]

Bloco 02
Abertura: "Dreamer" [do bootleg England - 1977]
"School" [do bootleg Super Golden Radio Shows no 8 - 1975]
"Rudy" [do álbum Crime of the Century - 1974]
"Hide in Your Shell" [do bootleg BBC Sessions - 1993]
"Crime of the Century" [do álbum Crime of the Century - 1974]

Bloco 03
Abertura: "The Meaning" [do álbum Crisis? What Crisis?]
"Breakfast in America" [do álbum Triple J: Like A Version - 2007 (Gomez)]
"Give a Little Bit" [do álbum Live in Buffalo: July 4th 2004 - 2004 (Goo Goo Dolls)]
"Take the Long Way Home" [do álbum Undercover - 1994 (Trixter)]
"Fábula" [do álbum Luau MTV - 2004 (Engenheiros do Hawaii]

Bloco 04
Abertura: "Free as a Bird" [do álbum Live '97]
"Try Again" [do álbum Supertramp - 1970]
"Fool's Overture" [da apresentação Live in France - 2004 (Roger Hodgson)]
"Brother Were You Bound?" [do álbum Brother Were You Bound - 1985]

Encerramento: "Downstream" [do bootleg One More for the Road - 2002]

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Star Fleet Project



O ano é 1983. Havia passado um ano desde o lançamento do  ícone do rock britânico Queen, o conturbado Hot Space.  A turnê de divulgação do LP, junto ao afloramento sexual de Freddie Mercury, acabou levando o grupo para uma crise interna de proporções gigantescas. A solução encontrada para o não término do Queen foi que cada um tirasse umas longas férias.

Nesse período, Roger Taylor (bateria), se mandou para a Escócia, John Deacon (baixo) voltou para os estudos de eletrônica e para sua família, enquanto Mercury excursionou por projetos paralelos e carreira solo. Apenas o guitarrista Brian May ficou a ver navios e sem ter o que fazer. Não querendo abandonar a música, mas querendo abandonar o Queen, May buscava alguma inspiração para tentar arranjar forças e lançar-se em uma carreira solo.


Caixa com a série completa de Star Fleet
Foi quando em um belo dia de janeiro de 1983, em sua casa, May viu que seu filho Jimmy estava vidrado em um programa de TV. Esse programa era uma série de ficção científica da TV britânica, com diversos efeitos visuais para as batalhas dos heróis, os quais pilotavam veículos espaciais que podiam reconfigurar-se em gigantescos robôs durante as batalhas contra alienígenas que viajam em aeronaves em formato de inseto, gerando pequenas máquinas de guerra, tudo para possuir o segredo de F Zero One.

Apesar da bizarra história, May ficou fascinado com a série, e principalmente, com a trilha sonora do programa, batizado de Star Fleet, a qual foi composta por Paul Bliss. Assim, decidiu fazer uma versão para a trilha, a qual ele batizou de "a versão hard para Star Fleet". 

Confortado com a ideia, ele começou a ligar para alguns amigos, ver se os mesmos estavam disponíveis, e se aceitavam fazer a gravação da mesma, já que ele queria presentear o garoto que lhe apresentou a série com a canção. Os quatro primeiro samigos que ele ligou logo aceitaram participar. Eles eram Alan Gratzer (bateria), Phil Chen (baixo), Fred Mandel (teclados) e Eddie Van Halen (guitarra).


Brian May, Eddie Van Halen, Phil Chen e Fred Mandel
Nos dias 21 e 22 de abril de 1983, o quinteto se uniu para fazer o registro da trilha de Star Fleet no Record Plant Studios, de Los Angeles. Como as gravações ocorreram muito bem, sobrou tempo no estúdio, que os levou a gravar algumas improvisações. Passado as gravações, Brian entregou a fita para o menino e mostrou a gravação para diversos amigos, que acabaram o aconselhando a lançar o material em um LP, já que o que estava contido nas gravaçõesera um registro únido do guitarrista do Queen fora da banda.


Assim nasceu o EP Star Fleet Project. Lançado ainda em 1983, com o título da banda de Brian May + Friends, este é um álbum que passou despercebido até mesmo pelos fãs do Queen. Muitos nem se quer se animam a ouvir, devido a capa do mesmo com seu robô espacial, e a maioria desconhece a participação de Eddie Van Halen nas seis cordas.


Eddie Van Halen e Brian May
Pobres mortais! Star Fleet é uma amostra de como Brian May sabe tocar vários estilos, sem se prender ao andamento do Queen, e ainda, de como Eddie Van Halen no início dos anos 80 era o melhor guitarrista que a Terra tinha sobre seus pés. O álbum abre com "Starfleet", onde os acordes da guitarra de Brian são acompanhados pelos harmônicos de Van Halen, trazendo a bateria em um ritmo bem anos oitenta. Aqui já podemos perceber um detalhe importante: a mixagem privilegiou as guitarras, deixando bem claro quem é que está fazendo sua parte principalmente pelos diferentes estilos de May e Van Halen.


Os vocais de Brian surgem sobre o ritmo oitentista, tendo ao fundo intervenções vocais na linha do Queen, e também a destacada participação dos sintetizadores. Após a segunda repetição do refrão, começa a sequência de solos, primeiro com Brian, seguindo seu estilo tradicional, e depois com Van Halen, abusando de harmônicos. Os vocais retornam cantando o nome da canção, levando para mais uma sequência de solos, agora começando com Eddie.


A letra é repetida, encerrando a canção com seu nome sendo cantado e carregada de sintetizadores, partindo então para uma longa sessão instrumental onde Brian e Van Halen brincam em cima dos acordes centrais da mesma, de onde Eddie brota fazendo um rápido solo, seguido pelo solo de Brian, e terminando com uma sequência de solos de ambos.


A seguir, começa a sessão de improvisos, primeiro com "Let Me Out", onde piano e baixo fazem a introdução de um leve blues, com Brian cantando sobre o bom andamento da canção. May é o responsável pelo primeiro solo, cantando a sequência da letra, a qual já havia sido escrita para entrar em algum álbum do Queen, mas nunca mereceu uma chance. Van Halen faz o segundo solo, e então o blues come solto, em um ritmo embriagante, crescendo na espetacular sequência de solos de Brian e Van Halen, com os dois guitarristas totalmente relaxados, executando solos fantásticos e empregando suas diferentes técnicas para arrancar o mais feeling blues que você poderá ouvir de ambos, encerrando o lado A em um clima de total descontração com Brian entoando o nome da canção, e com Eddie estourando uma das cordas de sua guitarra.


Contra-capa de Star Fleet Project


O lado B é totalmente dedicado para a jam "Bluesbreaker (Dedicated to E. C.)". E. C. significa Eric Clapton, e se você pensou que só ia ouvir blues em "Let Me Out", está redondamente enganado. May e Van Halen estraçalham em um blues espetacular, nessa incrível jam session com solos memoráveis, começando com Van Halen solando timidamente, seguido de Brian em uma linha rock 'n' roll, sem firulas ou técnicas extravagantes. Eddie passa a usar acordes de blues, aplicando velocidade ao manhoso ritmo de piano, baixo e bateria, e a canção cresce em ritmo com Brian, que despeja distorções e escalas velozes ao lado de bends e alavancadas, sem perder a pose bluesística.


Estamos no centro da orgia bluesy, e Eddie parece uma mistura de Jimmy Page (Led Zeppelin) e Eric Clapton, totalmente diferente de seu estilo habitual, enquanto May solta bends rasgados, fazendo a guitarra gritar como poucos. Arpejos então é a 'arma' de Eddie para seu quarto solo, mesma técnica empregada por Brian. A sequência de solos nessa altura já tomou conta do seu corpo, e finalmente, Van Halen faz as suas mágicas escalas que são impossíveis de serem reproduzidas, chegando no momento onde ambos os guitarristas solam juntos, com muitos bends e arpejos.


Encarte do LP
Fred Mandel ganha seus segundos de fama, com um interessante solo ao piano, trazendo a guitarra de Brian para entrar na sequência final de solos, dessa vez solando mansamente, com notas engasgadas que são repetidas por Van Halen, um monstro na guitarra, com sua mão direita sendo muito veloz. O grupo para, deixando Mandel sozinho para puxar o ritmo de um dançante rock 'n' roll, seguidopor baixo e bateria. As guitarras aparecem vagarosamente, e May faz mais um solo neste novo ritmo, encerrando a canção do nada, com algumas conversas ao fundo e monstrando que o quinteto estava à vontade, apenas improvisando.


Festa de lançamento de Star Fleet Project, contando com May (esquerda), Van Halen (direita), John Entwistle (centro, ao lado de Eddie) e diversos convidados


Como Brian escreveu no encarte do vinil: "você pode nos ouvir sorrindo como que em um busca de respostas para as notas de guitarra um do outro". Esse é o clima de Star Fleet Project: relaxado, tranquilo e sem exibicionismo. Dois monstros da guitarra apenas tendo o prazer de tocar seu instrumento.


Sou um dos poucos que conheço que gostam desse disco. Para todos os que nunca ouviram por preconceito, ou medo, eu digo: deixem isso de lado e adquiram já este valioso material. Se você gosta de guitarras bem tocadas, você não irá se arrepender!
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