segunda-feira, 25 de junho de 2018

Elomar - Cancioneiro [2008]



Quem conhece a obra de Elomar, sabe o quanto ele valoriza seus lançamentos. No imenso cenário que a música brasileira possui, o baiano de Vitória da Conquista Elomar Figueira Mello é um ponto fora da curva, impossível de ser classificado, já que o que ele criou é exclusivo, raro e de uma beleza imensurável perto do que foi feito por aqui.



Em virtude dessa sua perfeição, em 2008 foi lançado o sensacional Cancioneiro, material de altíssima qualidade que engloba toda a arte de Elomar através de partituras, letras e textos diversos. O livro, em tiragem limitada de 2000 cópias, tem edição da Duo Editorial, com Planejamento e Gestão da Duo Informação e Cultura em parceria com a Fundação Casa dos Carneiros e Rossane Comunicação. A transcrição da obra de Elomar foi feita pelos "escribas" Avelar Jr., Hudson Lacerda, Kristoff Silva e Maurício Ribeiro, além do próprio Elomar, que transcreveu "Cantiga do Boi Incantado", e acompanhou todo o processo de pertinho. Também colaborou o filho de Elomar, João Omar, um dos músicos mais talentosos que nosso país pariu nos últimos anos.

Com exceção de seu primeiro álbum, Das Barrancas do Rio Gavião (1973), todos os demais álbuns solo oficiais de Elomar são acompanhados de um luxuoso encarte, trazendo letras e informações sobre as histórias contadas pelo bode trovador. O mesmo luxo aplica-se para Cancioneiro. Essa obra foi lançada em uma grande caixa de papelão, no formato 35,5 x 25 cm, que protege a embalagem central, em formato de caixa também, em papel grosso, no qual estão acomodados um livro central, um caderno de notas e letras e 14 cadernos de partituras.


O livro central, Cancioneiro, possui 80 páginas, encadernado com capa dura. Ao longo das páginas, que abre com um texto da patrocinadora do projeto, a Petrobrás (através do Projeto da Lei de Incentivo a Cultura), e da editora Duo Editorial, assim como um breve texto do próprio Elomar contando um pouco sobre sua história, lê-se uma bela tese sobre a carreira desse gênio da música nacional, que é o texto central, escrito por João Paulo Cunha, chamado de Cantador do Rio Gavião. São 28 páginas que contam sobre toda a trajetória de Elomar até 2008, além de enaltecer e muito o que é a obra do baiano. Uma leitura muito gostosa e que nos mostram como existe qualidade no nosso país. Também há imagens do processo de criação do livro, da caatinga baiana e a discografia de Elomar, desde os discos solos, passando por projetos paralelos e seus primeiros compactos, além de notas sobre o livro.

No caderno Notas e Letras, são 62 páginas, com textos de João Paulo Cunha, falando sobre o processo de criação de Cancioneiro, um texto de Simone Guerreiro, comentando sobre a importância lírica de Elomar para a música brasileira, as letras das 49 canções escolhidas para representar a carreira de Elomar, bem como explicações básicas para a leitura das partituras. 


Estas são dividas em 14 cadernos, e servem de estudos para iniciantes e também feras dos instrumentos como violão, violinos e violas, já que vários são os trechos que necessitam de muito treinamento e técnica para serem reproduzidos. Só esses cadernos já devem fazer parte de cursos de música no mundo à fora, com certeza. As canções presentes com letras e partituras são:

Acalanto
Arrumação
Balada do filho pródigo
Bespa / do 'Auto da catingueira'
Campo branco
Canção da catingueira
Cantada
Cantiga de amigo
Cantiga do boi encantado
Cantiga do estradar
Canto de guerreiro mongoió
Cantoria pastoral
Cavaleiro do São Joaquim
O cavaleiro da torre
Chula no terreiro
Clariô / do 5º canto do 'Auto da catingueira'
Corban / 7º canto de 'O mendigo e o cantador'
Curvas do rio
Dassanta / fragmento do 1º canto do 'Auto da catingueira'
Deserança
A donzela tiadora / 1º canto de 'O mendigo e o cantador'
Estrela maga dos ciganos
Faviela / fragmento da ópera 'faviela'
Função
Gabriela / 2º canto de 'O mendigo e o cantador'
História de vaqueiros
Homenagem a um menestrel
Incelença para um poeta morto / 4º canto de 'o mendigo e o cantador'
Incelença pro amor retirante
Joana flor das Alagoas
Loas para o justo
Louvação / fragmento do 5º canto do 'Auto da Catingueira'
A meu Deus um canto novo
Na estrada das areias de ouro
Naninha / 6º canto de 'o mendigo e o cantador'
Na quadrada das águas perdidas
Noite de Santo Reis
Parcelada / fragmento do 5º canto do 'Auto da catingueira'
A pergunta / do auto 'o tropeiro Gonsalin'
O peão na amarração
O pidido / 4º canto de 'o mendigo e o cantador'
Puluxias / do auto 'O tropeiro Gonsalin'
O rapto de Juana do tarugo
Retirada
Seresta sertaneza
Tirana / do auto 'o tropeiro Gonsalin'
Um cavaleiro na tempestade
O violeiro
Zefinha



Cancioneiro é um achado para quem aprecia arte no Brasil e no mundo. O registro é de fundamental importância, já que exalta o trabalho primoroso de Elomar e contribui para a divulgação da obra do velho bode violeiro baiano. 

domingo, 17 de junho de 2018

Supertramp - Parte I




Formado no ano de 1969 através de um anúncio do pianista e vocalista Rick Davies (ex-The Joint) no famoso semanário inglês Melody Maker, o Supertramp conquistou o mundo na década de 70 com um pop progressivo de alta qualidade, embalado por grandes clássicos que até hoje tocam nas rádios, e consolidado por uma das formações mais emblemáticas do mundo da música.

Essa Discografia Comentada do grupo britânicos irá ser dividida em duas partes. A primeira abrange os sete discos lançados entre a primeira formação da banda e a saída de um de seus principais membros, Roger Hodgson. A segunda, em quinze dias, trará os álbuns lançados pelo grupo pós-saída de Hodgson.

Uma das grandes estreias de todos os tempos

Lançado em julho de 1970, a estreia homônima do Supertramp é uma joia da psicodelia inglesa. A formação do grupo consistia em um quarteto, tendo como pilares o piano e o vocal de Davies (que também nessa época ainda tocava hammond e harmônica) e o violão, baixo (sim, baixo) e o vocal de Roger Hodgson (que também toca violoncelo e flajolé), na companhia de Richard Palmer (guitarras, balalaika, vocais) e Robert Millar (bateria, harmônica). Supertramp é um álbum muito distinto na discografia da banda, mas não tem um fator importante, que irá surgir e se repetir em todos os discos dessa primeira parte, que é a divisão vocal das músicas entre Davies e Hodgson. 

O predomínio dos vocais é de Hodgson, e assim como seus vocais, o disco também exala uma atmosfera jazzy fundamentada na guitarra e no órgão. A única faixa que há divisão de vocais entre Davies e Hodgson é a pegadaça "Nothing To Show", uma pancada com o baixão de Hodgson e o órgão de Davies espancando a cara do ouvinte através do ritmo de Millar e Palmer, e com uma grandiosa jam session na qual afloram inspirações no órgão e na guitarra. "It's a Long Road" é um som psicodélico levado pelo órgão de Rick, assim como "Shadow Song", faixa flower-power onde podemos ouvir o flajolé com destaque. 


O Supertramp e sua primeira formação, ao vivo na TV

As leves "Surely", com linda participaçãodo Hammond, e "Words Unspoken", guiada pela guitarra de Palmer e com o marcante vocal de Hodgson, são as únicas que contém elementos mais conhecidos para os apreciadores da banda na fase "The Logical Song", assim como a baladaça "Aubade And I Am Not Like Other Birds of Prey", com uma sensacional execução de Roger ao baixo, e onde percebe-se os dedilhados de violão que iriam ser um dos responsáveis por consagrar a banda anos depois. Para quem curte explorações instrumentais, delicie-se com "Maybe I'm a Beggar", um show de guitarras, órgão, vocalizações (divididas entre Hodgson e Palmer), para sair cantando pela casa, e a épica "Try Again", treze enlouquecedores minutos de um arranjo musical soberbo, e com uma jam session arrepiante, onde podemos conferir um pouco das habilidades de Hodgson ao baixo, e tendo a guitarra de Palmer como principal instrumento. 

Não posso esquecer da leve "Home Again", apenas com voz, guitarra e violão, e da vinheta "Surely", que pouco acrescentam à um disco impecável, talentosissimamente resenhado pelo meu amigo Ronaldo Rodrigues nesse link, e que vendeu muito pouco em sua primeira tiragem. Somente em 1977, com um relançamento americano, é que o mundo veio a realmente conhecer uma obra seminal dos ingleses. Como uma última curiosidade, foi gravado em apenas nove sessões, todas da meia-noite às 6 da manhã, como uma forma de superstição do grupo.


A primeira formação do Supertramp, adicionada do flautista Dave Winthrop.Rick Davies, Roger Hodgson, Richard Palmer, Frank Miller e Winthrop (L to R)
Algumas canções desse álbum entraram na rara trilha do filme Extremes (1972), de Tony Klinger e Michael Lytton.  Foram usadas "Words Unspoken", "Surely" e "Am I Not Like Other Birds Of Prey". Além delas, destaque da trilha para a participação do grupo Arc. A trupe chegou a participar da edição do Festival da Ilha de Wight de 1970, já com o flautista Dave Winthrop. No mesmo festival que se apresentou The Who, The Doors, entre outros, o Supertramp abriu a segunda noite de espetáculos. Mas ainda naquele ano Palmer discutiu com Hodgson e se mandou para escrever as letras do King Crimson, enquanto Millar teve um colapso nervoso durante uma turnê na Noruega, desmontando a banda. A dupla remanescente, Hodgson e Davies, junto com Winthrop, reformulou o grupo no ano seguinte, e criou outro álbum igualmente excelente.
Nova formação para o segundo disco da banda, tão bom quanto o primeiro


A nova formação contava agora com Davies, Winthrop, Hodgson (assumindo as guitarras),  Kevin Currie (bateria) e Frank Farrell (baixo). Lançado em junho de 1971, Indelibly Stamped é um dos melhores trabalhos dos britânicos, ainda bastante usuário de elementos psicodélicos. 

Aqui os vocais de Davies estão predominantes, começando pelo boogie inicial de "Your Poppa Don't Mind", destacando o baixo de Farrell e o solo de piano elétrico, passando por "Coming Home to See You", balada ao piano que transforma-se em um bluegrass instrumental de primeira, o rockzão de "Remember", a primeira participação do saxofone em uma música dos britânicos, e também com um exímio solo de harmônica por Davies, e a dançante "Friend in Need", contendo boas vocalizações.  "Forever" e "Times Have Changed", ambas com Davies nos vocais, são canções representativas do que irá se tornar o Supertramp anos depois, levadas pelo piano e pelo vocal de Davies em baladas emotivas e tocantes. 


Clássica imagem estampada na capa interna do segundo álbum

Falando em baladas, "Rosie Had Everything Planned" também é representante desse estilo, com um belo solo de acordeão por Farrell, e tendo Hodgson ao baixo e vocal. As outras duas canções com Hodgson no vocal são "Travelled", com sua linda introdução apenas com flauta e violão, e sofrendo uma transformação surpreendente, para um rock sessentista muito bom, e a sensacional "Aries", obra seminal da carreira da banda conduzida pelos violões, a voz de Hodgson e uma alucinante flauta, bem como uma leve percussão e intervenções do piano elétrico, em um clima de luau que dura perfeitos 7 minutos. 

Winthrop também dá o ar da graça no posto de vocalista principal, mandando ver em "Potter", faixa com uma pegada na linha The Band, e com ótima participação da guitarra. Como seu antecessor, vendeu muito pouco no seu lançamento, mas a partir do crescimento da banda, ganhou fama, chegando a conquistar ouro no Canadá e na França. Aos colecionadores, a versão original americana possui os bicos dos seios da mulher tapados com estrelas. Edição essa que é uma raridade hoje em dia.


Supertramp em 1972: Dave WInthrop, Roger Hodgson, Frank Farrell, Rick Davies e Kevin Currie


Davies estava convencido de que sua ideia musical era correta, mas talvez os nomes não fossem os apropriados. Então, reformulou o grupo mais uma vez, substituindo a cozinha por dois músicos não ingleses: o americano Bob Siebenberg (bateria, vocais, na época grifado como Bob C. Benberg) e o escocês Dougie Thomson (baixo), o último ex-The Alan Bowl Set, assim como John Anthony Helliwell, o novo saxofonista, e o responsável por dar o toque final para a criação de uma das mais importantes formações do rock mundial.
O incontestável Crime of the Century


Uma grande reformulação no grupo levou à entrada de John Helliwell (saxofone), Bob Siebenberg (bateria) e Dougie Thomson (baixo), unindo-se a Hodgson (agora nos piano elétrico, vocais, guitarras) e Davies (teclados, piano) para fechar uma das formações mais importantes do rock mundial, que estreou com diversos clássicos. 

A partir de Crime of the Century, lançado em 1974, os britânicos encontram a fórmula do sucesso, e passam a ter a mais importante característica do grupo: a divisão dos vocais. Com Davies, percebe-se um crescimento na interpretação. Ele é responsável pela leve "Asylum", com a presença do piano elétrico em evidência, o jazz "Bloody Well Right", com Hodgson desfilando seus dotes no wah-wah. 


Encarte de Crime of the Century

Já Hodgson emociona através de "Hide in Your Shell", comprovando que além de um ótimo guitarrista também é um exímio pianista e um talentoso vocalista - a dose de emoção que ele atribui à essa faixa, junto com vocalizações muito bem encaixadas, feitas por Christine Helliwell, Scott Gorham e Vicky Siebenberg, é arrepiante - , arrasar corações na suave "If Everyone Is Listening", e comandar o clássico "School", faixa que abre o disco de forma brilhante, através de um riff de harmônica que talvez seja o mais conhecido desse instrumento, e que rapidamente tornou-se essencial em todos os shows da banda a partir de então. 


O single de "Dreamer"
E deixou para a história musical o primeiro grande sucesso do grupo, "Dreamer", faixa comum, pop ao extremo, com o piano Wurlitzer fazendo sua mais importante participação dentre as obras do grupo, mas particularmente, considero a faixa mais fraca do disco, apesar de seu single ter chegado na 13a posição no Reino Unido. 


Já as que considero as melhores faixas são a própria faixa-título, interpretação arregaçante nos vocais e no piano, por parte de Davies, com um crescendo de chorar, e a sensacional "Rudy", uma Maravilha Prog (perdida pela Uol ...) com Davies fazendo misérias ao piano, Helliweel dando uma contribuição incrível com o saxofone, Hodgson estraçalhando com a guitarra e um duelo vocal Hodgson / Davies de tirar o fôlego. Meus colegas consultores e eu comentamos um pouco mais sobre este que é terceira posição dos melhores do grupo em minha opinião (segunda posição) aqui. Chegou entre os 10 mais no Reino Unido (quarta posição), e ficou entre os 40 mais nos Estados Unidos, onde ganhou ouro e o single de "Bloody Well Right" chegou na posição 35.

O mediano quarto álbum

Depois do sucesso de Crime of the Century, e uma longa turnê pela Europa e América do Norte, seria difícil manter o alto nível de qualidade musical que havia sido criado em 1974. Não que o quarto álbum da banda, Crisis? What Crisis?, seja um álbum fraco, mas como é apoiado em canções que ficaram de fora de seu antecessor (para se ter ideia, o Supertramp registrou 42 faixas durante as gravações de Crime of the Century, e só lançou 8), já temos uma ideia do nível mediano que vem pela frente. Um álbum com poucas inspirações progressivas,mas que continua com a democratização das divisões vocais. 

Para Davies, ficou a responsabilidade de comandar a jazzística "Ain't Nobody But Me", o grande sucesso do disco, com ótima participação da guitarra de Hodgson, o ritmo acelerado de "Another Man's Woman", também com importante presença da guitarra, e com um show a parte de Davies ao piano, além de utilizar o Wurlitzer durante a leve "Poor Boy". E que lindo solo de clarinete. Já Hodgson usa o violão e a guitarra para estabelecer suas composições e seus vocais, destacando "Sister Moonshine" como a sua principal canção do álbum, utilizando novamente o flajolé, comandando o dedilhado de "The Meaning", melhor canção do disco, relembrando bastante os primeiros álbum, e criando as bonitas "Easy Does It" e "Two Of Us", garantia certa de romance com o (a) companheiro (a). 


Uma das principais duplas do rock mundial

Hodgson também faz a prima nova de "Dreamer", usufruindo do Wurlitzer durante "Lady". Longe das cordas elétricas, faz até as paredes chorar ao piano elétrico durante a linda "A Soapbox Opera", fácil uma das melhores do LP, contando com a presença de sintetizadores imitando cordas, o que ocorre também na romântica "Just A Normal Day", essa tendo ambos dividindo os vocais. Foi o primeiro disco do Supertramp registrado nos Estados Unidos, o qual virou a sede do Supertramp a partir de então. 

Ficou apenas entre os 20 melhores no Reino Unido, e não atingiu se quer os 40 mais vendidos nos Estados Unidos, mas como disse, não é um disco desprezível. Apenas teve a infelicidade de ser lançado após uma obra-prima, e pior, antes do melhor disco da banda!


O melhor álbum da banda

Even in the Quietest Moments ... (1977) é o álbum que coloca-os novamente nas paradas britânicas e americanas, fazendo uma mistura soberba de baladas pop com pinceladas progressivas, comandado pelo hit "Give a Little Bit", faixa dançante levada pelo violão e voz de Hodgson, como só o Supertramp sabe fazer, destacando o solo de saxofone por Helliwell, e que está frequentemente nas rádios até hoje. Hodgson é a voz na linda faixa título, onde o trabalho de Helliwell é digno de nota. 



Davies canta o jazz suave de "Lover Boy", com as vocalizações já características e um bonito solo de guitarra, e comanda sozinho, com voz e piano, a sensacional "Downstream", uma dedicatória de amor perfeita para esses dias de inverno, gravada ao vivo no estúdio em uma única tomada. O ápice do LP vai para seu lado B, um dos melhores de todos os tempos, começando por "Babaji", emotiva canção cantada por Hodgson e com Helliwell também marcando presença em seu solo. Depois, temos "From Now On", super balada comandada por Davies ao piano e voz, com um encerramento em crescendo fascinante, e o saxofone de Helliwell novamente sendo grande atração. 

A formação clássica: John Helliwell, Bob Siebenberg, Rick Davies, Dougie Thomson


e Roger Hodgson


Por fim, a melhor canção dos britânicos, a mini-suíte "Fool's Overture", uma faixa espetacular, onde o quinteto faz valer sua criatividade de composição, entregando algo complexo, admirável, inesquecível e responsável por fazer com que muitos críticos e jornalistas classifiquem a banda como progressiva, já que ela realmente é uma Maravilha Prog (Uol, cadê essa matéria?). A importância de "Fool's Overture" é tamanha para o álbum que a capa de Even in the Quietest Moments ... destaca um Grand Piano na neve, com a partitura da canção. O disco - único da formação clássica a não contar com a participação do piano Wurlitzer - chegou na décima sexta posição nos Estados Unidos (décimo segundo no Reino Unido), e foi o primeiro LP do grupo a conquistar ouro na América (mais de quinhentas mil cópias vendidas). Foi primeiro em vendas na Alemanha e Canadá, segundo na Nova Zelândia e terceiro na Noruega, ampliando o nome do grupo por todo o planeta.


O grandioso Breakfast in America

Com Breakfast in America (1979), finalmente o Supertramp entra no Hall das Grandes Bandas de Todos os Tempos, e se entrega ao mundo Pop, com o Wurlitzer voltando à tona e comandando as principais faixas e consolidando o som próprio da banda. Platina quádrupla nos Estados Unidos (EUA), é até hoje o álbum mais bem sucedido da banda, tendo vendido mais de 20 milhões de cópias até hoje. Só as clássicas “Goodbye Stranger”, “Take the Long Way Home”, “The Logical Song”, e a faixa-título já fazem o álbum merecer os grandes números que atingiu, pois se tornaram singles de muito sucesso. 

"Goodbye Stranger", cantada por Davies e com um refrão marcante entoado por Davies e Hodgson, além do Wurlitzer puxar o riff, atingiu a quinta posição no Canadá e a décima quinta nos EUA. "Take the Long Way Home" é cantada por Hodgson, resgata a presença da harmônica, e também quinto no Canadá, décimo nos EUA, e não lançado no Reino Unido. "The Logical Song" foi número 1 no Canadá, 6 nos EUA e 7 no Reino Unido. Foi a canção que me apresentou ao grupo - ainda hoje tenho grande apreço por ela, apesar de considerá-la uma das mais fracas do disco. "Breakfast in America" ficou em nono no Reino Unido. Essa última possui a participação de Slyde Hyde na tuba e no trombone, e é um Pop direto, grudento, mas muito bom.


single de "Goodbye Stranger"

Escondida nos sulcos de um disco praticamente perfeito, a obra-prima “Child of Vision” é uma perfeita faixa progressiva, disparada a melhor música do LP, cantada por Hodgson e Davies, comandada pelo Wurlitzer e com um longo trecho instrumental onde o solo de piano por Davies é de se aplaudir em pé. Wurlizer também marcante em “Just Another Nervous Wreck”, onde a guitarra também aparece em destaque. 

Tem-se também a força de “Gone Hollywood”, pancada que abre o disco, cantada por Davies acompanhado de fortes vocalizações e fundamental presença do saxofone, e “Lord Is It Mine”, rara faixa com Hodgson ao piano, e forte candidata a melhor balada cantada por ele. Fechando, a simplicidade de “Oh Darling”, mais uma faixa suave com o Wurlitzer em destaque, cantada por Davies, e “Casual Conversations” para tornar o recheio do LP ainda mais gostoso, e deixar nossos ouvidos satisfeitos com um marco musical sendo transmitido.

Algo que chama bastante a atenção é a participação de Helliwell, cada vez mais importante para caracterizar a sonoridade do Supertramp, e que em especial em Breakfast in America, talvez seja sua melhor performance. Primeiro lugar em vendas na Austrália, Áustria, Alemanha, Canadá, Espanha, Nova Zelândia, Noruega e Suécia, segundo na Suécia e Japão (o mais novo mercado conquistado pelo quinteto até então) e terceiro na Itália e Reino Unido. O mundo estava sob os pés dos britânicos.

O excelente ao vivo Paris

Da turnê de divulgação desse álbum, saiu Paris (1980), um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos, e que só atesta a importância de Crime of the Century, já que sete das oito faixas do LP estão registradas nesse ao vivo. Aliás, falando em França, Breakfast in America é até hoje um dos cinco discos mais vendidos em todos os tempos naquele país.

O single de "Dreamer", retirado desse álbum, foi sucesso no Canadá e Estados Unidos. O álbum também contém "You Started Laughing", faixa lançada somente como lado B do single de "Lady". O DVD de Paris foi lançado somente em 2012, sob o nome Live in Paris '79. As coisas já não andavam bem entre os membros do grupo. Hodgson havia abandonado Los Angeles, indo viver nas montanhas do Norte da Califórnia. Era o começo do fim do Supertramp, como apresentarei em quinze dias.

sábado, 9 de junho de 2018

Queen - História Ilustrada da Maior Banda de Rock de Todos os Tempos [2011]





Phil Sutcliffe é um jornalista britânico que está no mundo da música desde a década de 70, mais precisamente 1974. Renomado escritor, tendo no currículo a bela obra AC/DC: High Voltage Rock 'n' Roll - The Ultimate Illustrated History, em meados da década passada foi convidado pela editora para fazer um texto biográfico sobre uma das grandes bandas de rock do Reino Unido, o Queen.
A versão gringa

Depois de uma pesquisa ampla, eis que em 2009 é lançado lá fora Queen: The Ultimate Illustrated History of the Crown Kings of Rock. Dois anos depois, o Brasil teve a versão traduzida do livro, batizada aqui como Queen - História Ilustrada da Maior Banda de Rock de Todos os Tempos. A tradução brasileira não agradou a Phil - para ele, a maior banda de todos os tempos é The Beatles - mas independente disso, a essência do livro está lá. Além de muitas imagens raras, traz informações e curiosidades para admiradores do grupo e também pesquisadores de música.

O livro começa com uma breve introdução, Prelúdio - a formação do Queen, sobre o período pré-Queen de todos os membros da banda, com fotos raras de Brian May (guitarra, vocais) na banda 1984, Roger Taylor (bateria) na The Reaction, Freddie Mercury (vocais) com a Sour Milk Sea e John Deacon (baixo) na The Opposition, todas bandas que formaram os garotos como músicos.
Trecho sobre Hot Space

A partir de então, passeamos pelos 10 capítulos de História Ilustrada, os quais são: O lado branco e o lado negro; Um pouco de alto, um pouco de baixo; Música e amor em toda parte; Fazendo o mundo do rock girar; Jogando o jogo; Sob pressão; Ser livre; Quero tudo isso; Adeus, todo mundo - tenho de ir embora; Continue, continue.

Através deles, somos conduzidos pela história do Queen, narrando detalhes de gravações dos álbuns, turnês, pequenos trechos de entrevistas feitas por Phil com integrantes da banda, chegando até a fase com Paul Rodgers nos vocais, a famigerada banda Queen + Paul Rodgers. Tudo isso acompanhado de um rico acervo de imagens que irão surpreender até os mais "catadores de joias" do grupo.
A “Red Special”

Esse é o grande atrativo do livro, a quantidade de imagens. São mais de 500 imagens de várias partes do mundo, desde fotos da banda no palco e fora dele, dezenas nunca publicadas, e capas dos LPs e Compactos, até itens de memorabilia e colecionáveis, como camisetas, cartazes de shows, cartões de acesso aos camarins, ingressos, palhetas, programas de shows,  revistas japonesas, trechos das histórias em quadrinhos das cobiçadas revistas "Rock 'n' Roll Comics" e "Hard Rock",  e muitas coisas que atiçam os olhos de colecionadores e historiadores. Muitas dessas imagens e informações exclusivas, bem como objetos pessoais, foram cedidas por Peter Hince, roadie do grupo que lançou, em 2012, o ótimo livro Queen Nos Bastidores: Minha Vida Com a Maior Banda de Rock do Século XX.
Um dos capítulos iniciais

Das principais imagens, algumas das mais raras são as dos compactos de Larry Lurex, nome sob o qual Robin Cable, engenheiro dos estúdios Trident, gravava as músicas registradas por Beach  Boys e Dusty Springfield, e cujo disco de estreia contou com a ajuda de Mercury, Taylor e May, "Picking Up Sounds", compacto do grupo Man Friday & Jive Junior, com participação de Deacon, a trilha do filme The Immortals, também com participação de Deacon, e imagens de alguns lançamentos da carreira solo de Freddie Mercury, principalmente as gravações ao lado de Montserat Caballet, a versão em vermelho do compacto "Nazis 1994" e a versão em laranja de "Pressure On", ambos de Roger Taylor.

Dos compactos do Queen, as imagens que aparecem as capas são: "Keep Yourself Alive", "Now I'm Here", "Killer Queen", "Seven Seas of Rhye", "You're My Best Friend", "Somebody To Love", "Spread Your Wings", "Bicycle Race", "Mustapha", "Play the Game", "Crazy Little Thing Called Love", "Save Me", "Flash", "Under Pressure", "Body Language", "Back Chat", "Calling All Girls", "Radio Ga Ga", "It's a Hard Life", "I Want to Break Free", "Hammer to Fall", "Friends Will Be Friends", "One Vision", "A Kind of Magic", "Scandal", "I Want it All", "Innuendo", a versão holográfica de "The Miracle", assim como as versões picture de "Bohemian Rhapsody", "Play the Game", "Jealousy",  "Invisible Man", "Keep Yourself Alive/A Winter's Tale", "Too Much Love Will Kill You", o  álbum Live Killers, e a versão octagonal de "Save Me".
Trecho da fase Miracle

A história é narrada pelo próprio Phil, sendo que há trechos especiais, como um texto central contando sobre a construção da famosa "Red Special" (guitarra de Brian May), escrito por Dave Hunter, o breve "Colocando os pingos nos i's", tratando a respeito da briga de Mercury com Sid Vicious, e a "Verdadeira história por trás de "Crazy Little Thing Called Love", essa escrita por Peter Hince. Outros nomes consagrados a escreverem pequenas passagens para História Ilustrada são Daniel Nester, Jon Bream, Jim Derogatis e Mick Rock. Músicos também colaboraram, pagando pau para a banda. Alguns dos principais são Adele, Slash - que só não colocou May como Deus por detalhe -, Tommy Lee elogiando Roger Taylor, Chris Squire elogiando John Deacon, Rob Halford colocando Mercury nas nuvens, Geddy Lee e outros

Outro destaque do volume é a discografia completa e comentada: cada álbum do Queen ganhou análises detalhadas assinadas por jornalistas especializados em rock, ou por amigos próximos da banda.
Já ao lado de Paul Rodgers

O livro possui um formato excepcional, capa dura, além de ser bem massivo. É uma aquisição incrível, que nas promoções que vez ou outra aparecem nos sites especializados, vale e muito a pena o investimento, ainda mais para os fãs da banda que querem conhecer detalhes da história e também ver capas de compactos que se quer sabia que existiam.
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