domingo, 29 de março de 2015

Elis Regina - Parte III



É com uma incrível que surpresa que os amigos e o Brasil recebem a notícia do casamento de Elis Regina com o compositor Ronaldo Bôscoli. Os dois haviam se conhecido em 1964, e trocaram muitas farpas naquele ano, com Bôscoli, chefe de Elis no Beco das Garrafas daquela época, despediu a mesma dos espetáculos no local alegando justa causa.

Quando voltaram a se ver, mal se falavam, sendo Miele responsável por intermediar as conversas entre os dois, que na frente das pessoas, mal se olhavam. Porém, nos bastidores, uma paixão fulminante tomou conta de Elis e de Bôscoli (que já havia se relacionado com Maysa e Nara Leão), e o casal trocou alianças em 5 de dezembro de 1967 no cível (7 de dezembro no religioso). Dizem que na noite de núpcias, Bôscoli traiu Elis, e durante cinco anos de muitas brigas, discussões e agressões, além de alguns escândalos (Elis jogou fora toda a coleção de discos de Frank Sinatra que Bôscoli guardava com carinho), e do rebento João Marcello Bôscoli, nascido em 1970, a carreira de Elis sofreu uma grande transformação.

Fotos do casamento de Elis com Bôscoli, em 1967

Visualmente, a cantora cortou o cabelo, largando o corte "capacete" que marcou sua Era de Ouro ao lado de Jair Rodrigues, além de adotar roupas mais casuais, seguindo os conselhos do marido. Musicalmente, Bôscoli mostrou para Elis trabalhos fora do samba e da bossa-nova, fazendo com que a cantora passasse a se interessar por jazz, blues e até rock 'n' roll, sem abandonar, logicamente, os grandes e ainda desconhecidos compositores brasileiros.

São seis álbuns sob as asas de Bôscoli, que lentamente colocaram novamente Elis como o principal nome da Música Brasileira no mundo inteiro, já que dois destes seis álbuns saíram exclusivamente no exterior.

O primeiro álbum com Bôscoli

O primeiro disco de Elis pós-sucesso do programa O Fino da Bossa ainda traz uma cantora dividida entre interpretações para grandes sambas, - através do resgate de "Pot-Pourri de Mangueira", com uma mescla de seis faixas em homenagem ao bairro Carioca, e consequentemente à agremiação sambística, ou "Corrida de Jangada" (de Edu Lobo, o compositor predileto de Elis, com Carpinam), e "Samba do Perdão" - , com o aprochego da Bossa-Nova - em "Bom Tempo" (Chico Buarque), e no "Tributo à Tom Jobim", uma compilação com três joias de Antônio Carlos Jobim, "Vou Te Contar (Wave)", "Fotografia" e "Outra Vez" e "Da Cor do Pecado", com sua versão definitiva através do arranjo samba/jazz que somente Elis conseguia gravar. Em Especial está a primeira gravação oficial em estúdio de "Upa Neguinho", com um arranjo primoroso que foi registrado ao vivo no estúdio. 


Contra-capa de Especial

O ritmo agitado de Gilberto Gil marca presença em "Viramundo", e a audição de "De Onde Vens" para os novatos certamente irá trazer à mente um Q de Los Hermanos na linha musical. Elis vai literalmente às lágrimas na arrepiante "Carta ao Mar", composta por Bôscoli para sua esposa, e que segundo a própria, merecia uma resposta à altura, deixando aquela sensação de "Put@ que P@riu, que interpretação!". Apesar de não trazer nenhuma informação sobre os parceiros musicais de Elis, a banda de apoio é formada por Antônio Adolfo (piano), Roberto Menescal (guitarra), José Roberto (baixo), Wilson das Neves (bateria) e Hermes Contesini (percussão), além de Érlon Chaves nos arranjos. O que fica de Especial, relançado em CD em 1994, é que a tendência de Elis era cada vez mais guiar-se para interpretações jazzísticas, sem usar tanto a potência de sua voz, mas melhorando a sua técnica e caminhando para novos caminhos, com seu primeiro contato com o rock sendo realizado no ano seguinte, assim como a forte incursão pelo jazz.

Elis influenciada pela chegada do homem na lua Como & Porque

Influenciada pela chegada do homem na lua, e novamente com a colaboração de Érlon Chaves nos arranjos, Elis grava seu álbum mais primeiro álbum a contar com linhas próximas ao rock, acompanhada pelo mesmo time de Especial. Apesar da bossa nova pintar em "Samba da Pergunta", muitas faixas apresentam essa ligação com rock, com destaque total para José Roberto, que destrói com seu baixo sacolejante em "Vera Cruz" (Márcio Borges e Milton Nascimento), ou arrebentando em "Canto de Ossanha", dando um groove inimaginável para esse tradicional samba de Baden Powell e Vinícius de Moraes", totalmente desconstruído pela voz de Elis. Sobra até para "O Barquinho", clássico da dupla Menescal / Bôscoli, que apesar de manter as linhas do samba reconhecido em todo o Brasil, possui fortes pitadas de rock, dadas pelo groove da cozinha Wilson/José Roberto. 


Elis em apresentação na França

As variações de voz de Elis na samba-jazz "Giro" surpreendem pela perfeição, assim como ela passa por tranquilidade com o francês de "Récit de Cassard". Mantendo a tradição de lançamentos de grandes nomes da música brasileira, a bola da vez é Egberto Gismonti, com a sensacional "O Sonho", primeira gravação de Elis a aproximar-se do rock 'n' roll, com todos seu clima psicodélico através das variações entre a velocidade da bateria de Wilson e as intervenções sambísticas do violão de Menescal, e também o novato Danilo Caymmi, com a bela "Andança", parceria do filho de Dorival com Paulinho Tapajós e Edmundo Souto. Temos aqui a esplendorosa gravação com as complicadas vocalizações de "Casa Forte", mais um registro definitivo deixado para a história pela voz de Elis, e que me faz pensar por que ainda não fui atrás dos discos de Edu Lobo. Apesar de toda a virada musical que Como & Porque representa na carreira de Elis, se você quer um dia mostrar para um amigo estrangeiro o que é bossa-nova, rode "Aquarela do Brasil / Nêga do Cabelo Duro", e deixe ele segurar o queixo, e Edu Lobo, como sempre, marcando presença com a sensacional "Memórias de Marta Saré", parceria do compositor e músico com Gianfrancesco Guarnieri. 

Relançado em CD em 1994, Como E Porque foi o último disco de Elis registrado no Brasil na década de 60. Os novos caminhos musicais de Elis foram ampliados ainda em 1969, com uma breve temporada na Europa, após desligar-se da TV Record.

Convidada de luxo, Elis é coadjuvante em excelente disco de Toots Thielemans
Elis viajou para a Europa, e por lá entregou-se ao jazz. Entre diversos shows e apresentações em TV, conseguiu um tempo para gravar com o belga Toots Thielemans. A harmônica do músico acaba dando um charme especial para faixas que já haviam aparecido nos álbuns anteriores de Elis, duas em Especial e quatro em Como e Porque . Toots, o dono do disco, brilha com sua gaita dividindo espaço com o piano de Antonio Adolfo na linda instrumental "Visão", obra seminal desse subestimado e esquecido músico brazuca, que é o mestre por trás da pancada versão de "Canto de Ossanha", ou com a voz de Elis na dolorida "A Volta", melhor performance de Elis no álbum, a alegre "Wave" e a clássica "Barquinho". 


Elis e Toots, em apresentação na TV

O gaitista conduz a instrumental "Honeysuckle Rose" com vocalizações que acompanham as ótimas passagens de guitarra de Menescal, outro que destaca-se bastante no LP, fazendo uma dupla perfeita para os assovios do belga nas também instrumentais "Wilsamba" e "Five for Elis", essa última uma aula de samba-jazz para malandro nenhum botar defeito. Esse duelo assovio / guitarra marca a bela "Você", bossa-nova de melhor qualidade, com Elis solta, passeando tranquilamente pelas linhas jazzísticas promovidas pela dupla Toots / Menescal. "Aquarela do Brasil" / "Nega do Cabelo Duro", "O Sonho" e "Corrida de Jangada" não apresentam muitas diferenças em relação ao material original. A banda de apoio, o Elis Cinque Quintet, formada por Menescal, Antonio Adolfo, Jurandir Meirelles (Baixo), Hermes e Wilson das Neves, está afiadíssima, e é quem resgata um pouco de Brasil nas jazzísticas faixas de um álbum no qual Elis é apenas uma coadjuvante, fazendo um ótimo trabalho. Elis Regina & Toots Thielemans foi lançado primeiramente apenas na Suécia, e somente em 1978 chegou ao Brasil, com o título de Honeysuckle Rose / Aquarela do Brasil, com uma pequena alteração na ordem das músicas, tendo sido relançado em CD em 1998.

Do Brasil para o mundo, Elis encanta na Terra da Rainha

Esse álbum foi gravado pouco depois de Aquarela do Brasil, quando o produtor artístico da cia. inglesa ligada à Philips ouviu as gravações daquele álbum, bem como a apresentação da dupla Elis e Toots em um programa de TV na Suécia, e embasbacado, convidou a gaúcha para registrar um LP. Assim, com o mesmo time que registrou Aquarela do Brasil - com exceção de Toots - e uma orquestra de 41 músicos, foi registrado em apenas um dia (04 de maio), praticamente ao vivo no estúdio, Elis in London, tendo o maestro inglês Peter Knight como responsável pelos arranjos. Elis novamente concentra-se em canções que já haviam aparecido em Especial ("Corrida de Jangada" e "Upa Neguinho") e Como e Porque ("Giro" e "O Barquinho"), bem como três canções pertencentes a Aquarela do Brasil ("A Volta", "Wave" e "Você"), que ganharam todo um charme com os arranjos clássicos. O diferencial do álbum é ouvir Elis soltando o seu inglês sem nenhum sotaque, seja na versão para "Insensatez", batizada de "How Insensitive", seja na romântica "A Time for Love", ou na versão samba-jazzy de "Watch What Happens", clássico de Norman Gimbel e Michel Legrand. 



Até "Você" recebeu um tratamento todo especial, com letra em inglês e bem mais agitada do que o registrado no disco ao lado do sueco. Outro momento importante é que Elis rompe com o mal-estar criado com a "Marcha das Guitarras", fazendo as pazes com a Jovem Guarda em uma estonteante interpretação para "Se Você Pensa", de Roberto e Erasmo Carlos, e que virou figurinha carimbada no repertório de Elis a apartir de então, assim como "Zazueira", de Jorge Ben, aqui enaltecida pelos gritos agudos da cantora. Elis in London é um registro que os fãs brasileiros podem até torcer o nariz por conta da americanização jazzística e rocker de suas canções,  mas ao mesmo tempo, é o auge do melhor que o samba-jazz nacional produziu. Esse álbum foi lançado somente na Europa (sendo sua versão original muito rara), e no Brasil, foi parido em 1982, depois da morte da pimentinha, ganhando sua versão digital em 1998.



Elis e Pierre Barouh (acima);
O exclusivo lançamento italiano (meio)
Rainha Pimentinha e Rei Edson juntos em bolachinha especial (abaixo)

No final de 1969, saí o raro compacto Tabelinha Elis x Pelé, com duas canções escritas pelo eterno Rei do Futebol: "Perdão Não Tem" e "Vexamão". Devido ao grande número de shows no Brasil e na Europa, bem como as brigas com Bôscoli, esse foi o último compacto lançado por Elis nos anos 60, sendo o penúltimo com "Zazueira" / "Corrida de Jangada" (1969) e o antepenúltimo com  "Casa Forte" / "Memórias de Marta Saré" (1969). Um ano antes, Elis gravou na França o compacto duplo "Deixa / A Noite do meu Bem - Noite dos Mascarados / Tristeza", ao lado do cantor francês Pierre Barouh. Vale lembrar que o período na Europa deixou como herança o raríssimo álbum La Regina Della Canzone Brasiliana, reunindo os álbuns Ellis Regina e O Bem do Amor, em um lançamento exclusivo do mercado italiano.

De volta ao Brasil com o brilhante ... Em Pleno Verão

Foi no retorno ao Brasil que Elis novamente mostrou quem é dava as cartas por aqui. Agora sob a batuta de Nelson Motta, mas ainda com o auxílio de Bôscoli, veio  ... Em Pleno Verão, com o qual Elis colocou pelo menos dois grandes sucessos na boca do povo: o frevo "Frevo", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e o samba "Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaqua)", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, que a partir de então, tornaram-se obrigatórias nos espetáculos da gaúcha. O que é apresentado nos sulcos do vinil para "Verão Vermelho", de Nonato Buzar, famosa pela regravação de Santana no álbum Festival (1977), é de chorar, seja pelo arranjo percussivo casando milimetricamente com os arranjos de Erlon Chaves e a voz de Elis, seja pela curta duração da mesma, já que quando começamos a nos empolgar, a canção acaba. "Comunicação" coloca o pedal wah-wah de Menescal e escalas hipnotizantes de baixo como parte do instrumental de Elis Regina. 

O principal mérito de ... Em Pleno Verão vai para a consolidação de grandes nomes da música nacional, com Elis buscando composições que variam do resgate tropicalista de Caetano e Gil, ambos exilados na Inglaterra, e que de lá mandaram especialmente para o álbum as clássicas "Não Tenha Medo" e "Fechado Pra Balanço", respectivamente de cada um dos compositores, passando pela novata Joyce, até então com apenas dois desconhecidos álbuns lançados (Joyce, de 1968, e Encontro Marcado, de 1969), e compositora, ao lado de Sérgio Flaksman, de "Copacabana Velha de Guerra"até o swing de Jorge Ben, colocado no pedestal com duas faixas, a latina "Bicho do Mato" e o swing de "Até Aí Morreu Neves", na qual Elis demonstra as habilidades jazzísticas que aprendera na Europa. 


Aproveitando o verão, em 1970

Porém, os grande momentos do álbum vão para a majestosa homenagem para Roberto e Erasmo Carlos no soul comandado pelo piano de Antônio Adolfo "As Curvas da Estrada de Santos", com uma Elis Regina simplesmente levando os ouvidos para o paraíso e uma participação fundamental de Roberto Menescal e Wilson das Neves, e a surpreendente "apresentação" - conforme a contra-capa - de Tim Maia para o Brasil, em uma fulminante interpretação da dupla para "These are the Songs", jóia esquecida de uma das maiores vozes da música nacional, aqui apresentada com todo o charme jazzístico que a dupla podia empregar para ela, que é sem dúvidas, o ponto máximo do LP. Este álbum, relançado em CD em 1993, foi gravado durante a gravidez do primeiro filho de Elis, João Marcello Bôscoli, e após o espetáculo de Elis com Miele.

A gravidez foi muito conturbada, e complicou ainda mais o relacionamento do casal Elis / Ronaldo. O marido obrigou Elis, com sete meses de gravidez, a seguir fazendo shows constantemente, e pior, quando o menino nasceu, ficou constatado que ele era alérgico ao leite de vaca. 

Ronaldo, Elis e o bebê João Marcelo

Como Elis não conseguiu produzir leite suficiente para amamentá-lo, recorreu à televisão, clamando por mulheres que doassem leite para seu filho. Graças às doações, o pequeno João Marcello sobreviveu, e hoje, é um dos mais renomados produtores musicais do Brasil.

Com a vida do filho assegurada, Elis volta ao ritmo de shows, sempre comandada por Bôscoli. Ainda em 1970, estreia o show Cuca Fundida, em São Paulo, cidade que começa a dar novos ares para a carreira da cantora, e no final daquele ano, estreia na Rede Globo com o programa Som Livre Exportação, ao lado de Ivan Lins, responsável pelo grande sucesso de seu próximo álbum.

A revelação ao mundo de Ivan Lins foi com "Madalena", do álbum Ela

Ganhando cada vez mais espaço como a principal voz do Brasil, e depois do sucesso de "Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaqua)", Elis continua seu trabalho de ascensão com mais um álbum que marcou o início da década de 70, novamente sob as asas de Motta, mantendo a tradição de revelar nomes hoje famosos, como Ivan Lins e a dupla Marcos e Paulo Sérgio Valle, sem abandonar nomes já consagrados, através de Baden Powell / Paulo César Pinheiro, com o clássico samba "Falei e Disse" e a bossa "Aviso aos Navegantes", uma canção bem destoante do resto do álbum, Tom Jobim, que ganhou uma versão surpreendente para "Estrada do Sol", parceria dele com Dolores Duran, transformada aqui em um êxtase explosivo de metais sobrepostos com camadas orquestrais em um ritmo frenético permeando a voz de Elis, e a dupla Erasmo e Roberto Carlos, que marca presença novamente com "Mundo Deserto", repleta de percussões e com um embalo Motown dado pela guitarra que certamente deve agradar ao grande fã de Roberto Carlos aqui do site, nosso sempre presente Igor Maxwell. Aliás, com exceção das canções de Baden Powell, esse é o disco mais yankee da carreira de Elis, com o funk e o soul marcando presença em várias faixas. Para quem acha que a cantora é uma mera crooner, coloque "Black Is Beautiful" (da dupla Valle) e segure as paredes para a casa não cair com a voz arrebatadora de Elis acompanhada por um instrumental inegavelmente destruidor, graças ao arranjo de Chico de Morais. 


Elis em 1971, ano da separação de Bôscoli

O jazz desliza suave na voz e nas notas da guitarra da faixa-título, e brota fácil em "Os Argonautas", mais um show de interpretação de Elis nessa canção de Caetano Veloso, que trouxe também soul music em "Cinema Olympia", com uma introdução que me lembra "It" (gravada pelo Genesis em The Lamb Lies Down on Broadway), mas transformando-se em um soul embaladíssimo, com o arranjo orquestral magistral de Chico de Moraes, nesse que é um dos grandes sucessos de Ela, assim como "Madalena", samba-jazz candidata a uma das canções mais conhecidas da carreira de Elis, e que colocou nas casas dos brasileiros o nome de Ivan Lins, responsável também pela criativa "Ih! Meu Deus do Céu", misturando samba com funk-Motown em outro grande arranjo instrumental. Até mesmo os Beatles ganharam uma versão funk/soul, através da emocionante revisão para "Golden Slumbers". Para mim, este é o melhor álbum da carreira de Elis ao lado de Bôscoli, parecendo que ela colocou todo o seu sentimento de desprezo pelo marido através de sua voz, que estava vivendo um momento único. Ela foi relançada em CD em 1994, e deve ser um dos primeiros discos a ser apresentado para algum curioso em conhecer a carreira da gaúcha.

Raríssimo álbum da ONU com participação de Elis

Durante esse período, foi lançado apenas um compacto duplo: "Madalena" - "Fechado pra Balanço" / "Falei e Disse" -"Vou Deitar e Rolar" (1970). Além disso, ainda em 1970, colocou nas trilhas de novelas duas faixas: "Madalena", tema de A Próxima Atração, e "Verão Vermelho", tema de Verão Vermelho.

Elis também participou, cantando "Madalena", do raríssimo álbum Top Star Festival, lançado em 1971, gravado a pedido da ONU em apoio aos refugiados de todo o mundo, sendo o único artista brasileiro presente no álbum, ao lado de nomes consagrados como Neil Diamond, Aretha Franklin, Donovan e Johnny Cash. Ainda em 1971, Elis estreia, ainda na Globo, o programa Elis Especial, que durou um ano, e é lançado Ellis Regina, compilando Ellis Regina e O Bem do Amor. Um ano antes foi lançado a coletânea Série Autógrafos de Sucesso - Elis Regina, bastante indicada para um primeiro contato com a Elis da década de 60.

Elis e Bôscoli, em pleno verão de 1970

A separação de Elis e Bôscoli ocorre em 11 de maio de 1972, encerrando uma fase de transição que foi consolidada ainda naquele ano, quando Elis passa a ter sua principal companhia musical, o pianista César Camargo Mariano, como veremos daqui há quinze dias, com a quarta parte desta Discografia Especial.

sábado, 21 de março de 2015

Melhores de Todos os Tempos: 1989

Faith No More em 1989: Mike Bordin, Jim Martin, Mike Patton, Roddy Bottum e Billy Gould
Faith No More em 1989: Mike Bordin, Jim Martin, Mike Patton, Roddy Bottum e Billy Gould
Por Diogo Bizotto
Com Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Ben Ami Scopinho, ilustrador, designer gráfico e ex-colaborador do Whiplash!
As edições da série dedicadas à década de 1980 estão chegando ao final. Com isso, é normal que apareçam álbuns que apresentam uma transição rumo a sonoridades que seriam mais dominantes na década seguinte. É o caso do disco que ocupa o posto mais alto em 1989, The Real Thing, fenômeno que elevou a carreira do Faith No More a níveis até então inimagináveis, unindo estilos musicais diferentes com maestria e arrebanhando milhares de fãs pelo mundo, inclusive no Brasil. Completando o pódio, dois discos lançados por bandas brasileiras tidos cada um, por grande parte de seus admiradores, como os melhores e/ou mais importantes álbuns de heavy metal criados por músicos do País. Sepultura e Viper aparecem à frente de artistas consagrados internacionalmente, como Madonna, Aerosmith e Skid Row, para satisfação de alguns e insatisfação de outros. E você, leitor, concorda com isso? Não? Fique à vontade para opinar em nosso espaço de comentários. Nunca é demais lembrar que todas as edições da série são elaboradas seguindo a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Agora é com vocês!

01 The Real Thing
Faith No More – The Real Thing (118 pontos)
Alissön: A proposta sonora de The Real Thing – uma mistura homogênea de hard rock, metal e funk – pode não ser tão original atualmente, mas a qualidade de seu conteúdo sobressai-se. Dentre pauladas (“Surprise! You’re Dead!”), épicos funk metal (“Epic”) e músicas de fácil assimilação (“Falling to Pieces”), o disco monta um belo panorama de canções que se equilibram entre o experimentalismo – e a absurda versatilidade vocal de Mike Patton – e músicas feitas para o público mainstream. Merecido o posto de melhor de 1989, muito por sua qualidade evidente e a influência que surtiria nas futuras gerações – para o bem e para o mal.
André: Não gosto de Mike Patton, não adianta. Ainda mais quando inventa de cantar com um grampo de roupa no nariz.
Ben: Assim como qualquer outro disco do Faith No More, The Real Thing consegue soar de maneira bastante incomum, o que é um dos fatores que fez com que a banda atingisse o sucesso comercial rapidamente. “Epic”, “Surprise! You’re Dead!”, “Zombie Eaters” e “Falling to Pieces” são alguns dos grandes momentos da audição – e nem vou comentar o cover matador para “War Pigs”, de vocês-sabem-quem. Uma brilhante exibição de talento e esquisitice, que, após tantos anos, não perdeu a força.
Bernardo: Trio de abertura fantástico, com os teclados ganchudos de “From Out of Nowhere”, o riff fantástico de “Epic” e a linha de baixo incrível de “Falling to Pieces”, que mostravam uma banda que sabia casar com maestria tudo o que fosse sonoramente interessante – funk, rap, metal, melodia, groove e peso. Outro destaque vai para a atmosfera infernal e barulhenta de “Surprise! You’re Dead!” e o cover de Black Sabbath, “War Pigs”, bem fiel à versão original e que atraiu muito headbanger para os shows da banda (que Mike Patton, sempre ele, faria logo questão de afugentar substituindo por covers como “Pump Up the Jam” e “Easy”…). Bom registro, que mesmo em sua singularidade, não mostrava nem 1% do que a banda teria a apresentar.
Bruno: Já esperava que este disco entrasse na lista, mas ficar em primeiro foi uma grande surpresa. A estreia do monstro Mike Patton como vocalista do FNM está longe de mostrar toda a sua genialidade. Quando o cara assumiu o posto, substituindo Chuck Mosley, o álbum estava praticamente pronto, e ele pouco participou do processo de gravação. Apesar de divertidíssimo, The Real Thing ainda está longe da obra-primaAngel Dust (1992), e o considero até inferior ao injustiçado King For a Day… Fool for a Lifetime (1995). Mas nem por isso o álbum que fez o FNM explodir é menos excelente, com sua mistura de riffs pesados, baixo funkeado, o vocal debochado de Patton e a tecladeira de Roddy Bottum, essencial para o som do grupo.
Davi: Primeiro lugar merecidíssimo. O grupo é um marco dessa época e este disco também. The Real Thing ainda tinha uma grande similaridade com o funk metal de Introduce Yourself (1987). Embora tenham conseguido certo destaque na imprensa na época de Chuck Mosley, foi com a entrada de Mike Patton que o grupo despontou de vez. O carisma do rapaz ganhou os jovens. Com o tempo, Patton demonstrou ser um diferencial para o quinteto, graças à sua criatividade e versatilidade. The Real Thing traz diversos hinos do conjunto, como “From Out of Nowhere”, “Falling to Pieces” e “Epic”, além de clássicos menores como “Zombie Eaters”, “Surprise! You’re Dead!” e a faixa-título. Audição obrigatória.
Diogo: Sinceramente, para mim não é surpresa ver o Faith No More ocupando o posto mais alto desta edição da série. Da mesma maneira que sua sonoridade uniu com muita competência gêneros musicais não necessariamente próximos, o grupo arregimentou uma base de fãs e admiradores eventuais um tanto heterogênea, refletindo-se no respeito que o quinteto mantém até hoje entre diferentes ouvintes de música. A banda ainda daria passos mais ousados na década seguinte, com Mike Patton totalmente integrado ao grupo e participando ativamente do processo criativo, mas sua entrada no lugar de Chuck Mosley já deu um gás enorme para o grupo e abriu novos caminhos através de sua versatilidade vocal e mesmo de sua personalidade distinta. Claro, isso sem desmerecer os presentes teclados de Roddy Bottum (nada de “climinha”, é tecladeira na cara mesmo), os riffs espertos de Jim Martin e a cozinha boa de groove formada por Billy Gould e Mike Bordin. Acima de tudo, trata-se de um disco que mantém o ouvinte entretido o tempo todo, ao mesmo tempo que entrega música de muita qualidade, vide as conhecidas “Epic” e “Falling to Pieces”, que fazem jus ao sucesso obtido, e outras menos populares mas tão boas quanto, como “Surprise! You’re Dead!”, “Zombie Eaters” e “Woodpecker from Mars”. Aliás, que título sensacional desta última, alimentando a fama de “reis da irreverência” do grupo, como citado por um amigo. E o cover de “War Pigs”? Malandro, nem precisava, mas já que ele existe: ficou do caralho.
Eudes: Desde a lista de 1975 não ficava tão contente com um primeiro lugar. Claro que nenhum dos ocupantes do posto, desde então, chegou a amarrar as chuteiras de Physical Graffiti, nem este (como vocês sabem, prefiro mil vezes o Led Zeppelin de Robert Plant, seja qual for o assunto!), mas nem por isso The Real Thing deixa de ser fenomenal. O principal mérito do disco, ao meu ver, é mostrar que para fazer rock pesado nem se precisava apelar para temas de novela movidos a guitarras distorcidas, nem era necessário retroceder à condição pré-musical, que caracterizavam os dois extremos do heavy e hard rock oitentista. Sem sacrificar em nenhum instante a velha fórmula melodia-refrão-batida, a banda vai dos números pesadões, como “Surprise! You’re Dead!” e “Zombie Eaters”, aos flertes com a black music e o rap, como “Woodpecker From Mars”, para chegar em petardos pop da melhor cepa em “Epic”, “Falling to Pieces” e “From Out of Nowhere”. Tudo sem seguir o caminho fácil das melodias vulgares nem o da barulheira supostamente radical, mas de fato incompetente. O FNM era uma banda de composições! Para tanto, o grupo se ancorava em um guitarrista acima da média, Jim Martin, e nos teclados gloriosamente cafonas de Roddy Bottum, sem menosprezar as contribuições suingadas de Billy Gould e Mike Bordin, cama perfeita para um cantor dramático e de belo registro, Mike Patton. Tem experimentalismo? Tem, mas como deve ser, a serviço da música! Agora dá licença que vou ali usar o babador.
Fernando: Eu não esperava ver o Faith No More em primeiro, mas gostei do resultado. Mesmo recaindo sobre eles e mais algumas outras bandas a “responsabilidade” da existência do nu metal, acho que eles não têm culpa alguma. Todos vão lembrar de “Epic” mais pela saturação do que pela faixa em si, já que ela não é a melhor do disco. Lembro-me até hoje da propaganda do festival Hollywood Rock em que seu refrão tocava sem parar. “From Out of Nowhere”, “Surprise! You’re Dead!” e, principalmente, “Falling to Pieces” dão o crédito suficiente para garantir a primeira colocação para o Faith No More.
Leonardo: Não entrou na minha lista, mas confesso que é um álbum excelente, principalmente as músicas mais diretas e marcantes, como “From Out of Nowhere” e “Surprise! You’re Dead!”. Mas o principal destaque é mesmo a clássica “Epic”, dona de um dos primeiros videoclipes a se destacar na MTV brasileira, e que transformou a banda na sensação do início dos anos 1990 no País.
Mairon: A estreia de Mike Patton no FNM mudou totalmente a sonoridade do grupo. Se os dois primeiros álbuns, com Chuck Mosley, misturavam funk com metal em doses homeopáticas, The Real Thing trouxe um estilo exclusivo, misturando rap, metal, funk e pop em canções nas quais os teclados de Roddy Bottum contrastam com o peso da guitarra de Jim Martin, as insanas batidas de Mike Bordin e o baixo avassalador de Billy Gould. E como Mike Patton canta, pqp. Estilo que só ele tem, debochado, relaxado, mas contagiante. The Real Thing é um disco perfeito. Sua primeira posição pode até parecer surpresa, mas ouvindo atentamente os discos de METÁU lançados nesse ano, qual deles possui um lado A tão foderástico, trazendo as delirantes “Falling to Pieces” e “From Out of Nowhere”, o hiperultramegasucesso rap/metálico de “Epic”, a pancadaria estonteante de “Surprise! You’re Dead!” ou a beleza de “Zombie Eaters”, que já esmiuça os caminhos progressivos que virão no lado B, com a espetacular  faixa-título desmontando a casa em seus mais de oito minutos de duração, traçam os caminhos sinuosos da leve “Underwater Love” e das batidas psico-pops de “The Morning After”, para encerrar com chave de ouro na sensacional instrumental “Woodpecker from Mars”, com os teclados viajando sob a pancadaria alucinante de bateria, baixo e guitarra? A turnê deste álbum registrou um dos melhores ao vivo da história, Live at the Brixton Academy (1991), covardemente podado na versão em vinil, mas no VHS, simplesmente de chorar. Que baita disco, e acredito que tenha me equivocado na minha lista, já que mesmo citando-o entre os dez mais, ele poderia fácil ficar em um Top 4 nesse ano.
Ulisses: Ah, o famoso disco que contém “Epic”. Todo mundo já ouviu, então vou pular o comentário sobre ela. Até porque o álbum traz arranjos mais pesados após a trinca inicial, com muita versatilidade de Patton e forte presença da sólida cozinha de Gould e Bordin. Os anos seguintes mostrariam a importância de The Real Thing na história da música, a medida em que pipocavam grupos que fundiam metal, funk e rap, muito embora a grande maioria não tivesse a sagacidade do Faith No More.

 02 Beneath the Remains
Sepultura – Beneath the Remains (78 pontos)
Alissön: A estreia dos mineiros por uma grande gravadora, e o primeiro disco de projeção internacional, ainda é um divisor de águas para a visibilidade do metal brasileiro fora das fronteiras sul-americanas. Caminhando sobre a linha tênue que separa o thrash do death metal, Beneath the Remains é quase um catálogo das composições mais diretas e intensas de sua longa carreira. Peca pelo fator repetitividade, pois muitas músicas se assemelham umas às outras, mas nada que comprometa sua imagem frente aos outros presentes nesta lista.
André: Riffs. Riffs por todos os lados. Riffs aqui, riffs ali, riffs cá, riffs acolá. Riffs everywhere. O melhor disco da história do thrash metal. Já chicoteei muito os meus longos cabelos por causa deste disco quando mais jovem. Incontáveis visualizações minhas em vídeos de “Inner Self”. Igor Cavalera monstruoso, a melhor coisa que ele já gravou na vida. Que inventem logo a máquina do tempo para eu voltar aos anos 1990 e me acabar nas rodas de mosh a cada música tocada ao vivo.
Ben: Pioneiros tupiniquins ao enfrentar os palcos gringos… Ainda que continuasse destilando tanta influência de Slayer, foi Beneath the Remains o responsável por colocar o Sepultura em posição de destaque pelo globo, ofuscando outros nomes consagrados da época. Os riffs são muito melhores e mais numerosos; a sequência das canções equilibra brutalidade e melodia, e creio que minhas faixas favoritas sejam “Inner Self” e “Stronger than Hate”. Mas, apesar de reconhecer os méritos deste disco, prefiro o caminho trilhado posteriormente pelo Sepultura, caracterizado pelos elementos tribais e pela vibração alternativa.
Bernardo: A bola dentro da Roadrunner e do produtor Scott Burns, que encontraram no Brasil uma potência do death metal tão grande quanto seu companheiros de gênero na América do Norte e na Europa. Fez o nome do nosso heavy metal lá fora, tornou a banda underground uma estrela da música pesada e, de quebra, ainda é um disco bem acabado e bem resolvido.
Bruno: Schizophrenia (1987) foi a transição entre o death metal tosquíssimo e quase infantil dos primórdios do Sepultura e o thrash metal moderno e elaborado que faria a banda explodir no mundo todo. E foi com Beneath the Remains que os quatro cabeludos de Belo Horizonte deram o primeiro passo para essa empreitada. Com uma evolução absurda de Max e principalmente de Igor (o que o maluco toca aqui é um absurdo), além de composições azeitadíssimas, o Sepultura lançou seu primeiro grande disco, que não perde em nada para os equivalentes gringos do gênero. Riff atrás de riff atrás de riff, baterias insanas e Andreas Kisser brilhando nos solos. Impressionante o nível de excelência que o Sepultura conseguiu atingir em seus dias áureos.
Davi: Foi este álbum que me fez tornar fã do Sepultura. Certamente os caras deram um passo adiante. Nunca curti muito Bestial Devastation (1985) e Morbid Visions(1986), mas Schizophrenia já demonstrava que a banda poderia ter um futuro promissor. E Beneath the Remains veio para consolidar isso. Altamente influenciado por Slayer e Venom, o quarteto de Belo Horizonte demonstrava um thrash veloz e empolgante. Certamente, um dos melhores trabalhos do heavy metal brasileiro. “Mass Hypnosis”, “Beneath the Remains” e “Inner Self” são clássicos do gênero. Essencial!
Diogo: Posso ter um apreço muito especial pelo Sarcófago, mas é lógico e até certo ponto óbvio admitir que a grande banda brasileira de heavy metal é mesmo o Sepultura. Foi com este disco que conheci o grupo de verdade e com ele que me apaixonei pela sonoridade que me foi apresentada como thrash metal, mas que tinha uma personalidade distinta de seus contemporâneos do estilo e conseguia equilibrar diferentes elementos a cada lançamento, evitando a repetição. Enviar o produtor Scott Burns para o Brasil foi uma jogada acertadíssima da gravadora Roadrunner, possibilitando mais ferramentas para que os mineiros desenvolvessem uma sonoridade clara e pesada, adequada ao ritmo incessante das canções, que deixam pouco tempo para que o ouvinte respire. Em fase prolífica, Andreas Kisser e Max Cavalera cuspiam riff atrás de riff, enquanto Igor crescia como baterista a olhos vistos, tornando-se cada vez mais técnico e desenvolvendo sua pegada. A faixa-título, “Inner Self” e “Mass Hypnosis” são frequentemente apontadas como destaques com razão, mas na real o disco todo é formado por petardos impressionantes. Entre eles, destaco ainda “Stronger than Hate”, perfeita para ilustrar como a “máquina” Sepultura estava azeitadíssima. Aliás, é uma pena que Andreas tenha perdido (ou deixado de lado mesmo) a mão para solos como aqueles encontrados em Beneath the Remains.
Eudes: Minha simpatia pelo Sepultura se esgota quase que inteiramente nos aspectos não-musicais. Banda tupi que invade a praia gringa e se dá bem; meninada self made; escalada na carreira em gravadora fora do eixo. Bacana, meu ufanismo brasileiro se estufou. Mas a música mesmo nunca me entusiasmou. Além de que, em uma cabra-cega, eu não conseguiria distingui-los das toneladas de bandas do mesmo tipo. Mas valeu, meninos!
Fernando: Mesmo gostando, e muito, dos álbuns anteriores, foi com Beneath the Remains que o Sepultura cravou seu nome na cena heavy metal. Foi o primeiro grande disco da banda e seu lado A é impecável. Por muito tempo, “Mass Hypnosis” foi minha música preferida do grupo, depois foi “Inner Self” e agora nem sei qual é mais. Muitas vezes, vemos discos de músicos brasileiros sendo colocados em listas de melhores feitas por seus conterrâneos. Neste caso não tem patriotismo não. O Sepultura se tornou uma banda mundial.
Leonardo: Depois de uma evolução espantosa em seu terceiro disco, Schizophrenia, o Sepultura foi ainda mais longe em Beneath the Remains. Cada vez mais técnico, o thrash metal praticado pelo conjunto conseguia se manter furioso e extremamente marcante, com riffs e solos espetaculares, além de levadas de bateria impressionantes de Igor Cavaleira. Beneath the Remains colocou os brasileiros na primeiro escalão do thrash metal mundial, onde em breve eles alcançariam o topo.
Mairon: Foi a partir deste álbum que o Brasil começou a virar seus ouvidos para os mineiros do Sepultura. Se os dois primeiros discos, ainda com o saudoso Jairo T. nas guitarras, mostravam um grupo amador mas visceral, Schizophrenia trouxe o cara que mudou o som do grupo, o guitarrista Andreas Kisser. Suas composições e letras, ao lado de Max Cavaleira, construíram pérolas do thrash nacional que colocaram o Sepultura como a principal banda de metal do País. O álbum é só pancadaria, com exceção da vinheta acústica da faixa-título, nos moldes de grandes como Slayer e Metallica, acredito que mais no Slayer de South of Heaven (1988), principalmente em “Slaves of Pain”, “Primitive Future” e “Stronger than Hate”, e puramente Metallica em “Lobotomy”. O que mais se destaca é o trabalho de Igor Cavalera, um dos grandes bateristas do thrash metal, que vivia uma fase soberana, como comprovam “Sarcastic Existence” e “Hungry”, fazendo dos dois bumbos e dos pedais duplos meras extensões de suas pernas. É neste álbum que estão duas canções que considero essenciais na carreira do Sepultura, “Inner Self” e “Mass Hypnosis”, duas pancadas que perderam-se na hoje extensa e malfadada discografia do grupo, que ainda lançaria dois ótimos trabalhos, Arise (1991) e Chaos A.D. (1993), até perder-se com Roots (1996) e nunca mais se encontrar. Cederia fácil este espaço ocupado pelo Sepultura para Queen, Ramones ou Toy Dolls, apesar de ser um excelente disco. Porém, me consola que Arisetalvez possa dar as caras em 1991, o grande ano da música mundial na década de 1990 (quantos discos bons foram lançados naquele ano?).
Ulisses: Este disco é uma porrada na orelha. Riffs aparentemente infinitos, solos fantásticos (o de “Mass Hypnosis” é uma beleza) e as famosas pedradas de Igor Cavalera. Com uma produção muito melhor do que a dos dois primeiros álbuns graças a Scott Burns, e um instrumental matador, o Sepultura mostrou que competia de igual para igual com os gigantes do thrash norte-americano e alemão.

03 Theatre of Fate
Viper – Theatre of Fate (75 pontos)
Alissön: Dois fatos são inegáveis. O primeiro: o Viper foi um dos expoentes do chamado metal melódico brasileiro, abrindo caminho para um sem número de seguidores. O segundo fato: Theatre of Fate não envelheceu nada bem, assim como outras obras do mesmo estilo: sonoridade datada dentro do arquétipo mais genérico do que é o power metal. Mesmo levando em conta sua importância para a visibilidade do heavy metal brasileiro, ela é muito pontual, diria até mísera, frente à importância de outros discos que não entraram na lista.
André: Já tinha gostado de Soldiers of Sunrise (1987) e a mesma impressão me passou este aqui. Vejo agora por que esses dois discos do Viper são tão idolatrados, com este se destacando com composições ainda melhores. “Living for the Night” tem linhas de guitarra excelentes de Yves Passarell e Felipe Machado, que casam perfeitamente junto ao teclado e à voz de Andre Matos, e “Prelude to Oblivion” funciona praticamente como uma homenagem ao Helloween. Uma pena que a banda tenha se perdido nos anos 1990.
Ben: Theatre of Fate, o segundo álbum do paulistano Viper, surgiu em uma época em que o metal brasileiro estava dando seus primeiros passos significativos, com várias bandas conseguindo, enfim, liberar discos com um áudio poderoso e digno do termo heavy metal. Com produção de Roy Rowland (Kreator, Testament), as canções estavam mais trabalhadas e com todo aquele jeitão europeu em termos de composição. A grudenta “Living for the Night” e “A Cry from the Edge” são grandes destaques não só do disco, mas desse período inicial do metal brasileiro. Tive a oportunidade de assistir ao show de lançamento deste disco, e os músicos, moleques ainda, corriam e brincavam por todo o palco. Foi uma bela noitada.
Bernardo: Tirando alguns momentos do Helloween, power metal não me desce. Prefiro a trilha sonora de “Age of Mythology”.
Bruno: Sem comentário.
Davi: Com faixas mais elaboradas, menos velozes (embora ainda mantivesse o peso), o grupo paulista ganhava identidade. Durante a audição de Theatre of Fate, não ficamos com aquela impressão de “queremos ser o Iron Maiden brasileiro” que o álbum anterior apontava. O disco demonstra um grupo mais maduro. As composições eram melhores, eles estavam tocando e cantando melhor. Andre Matos, apesar da cara de Steve Perry (Journey), destacava-se com um trabalho vocal à la Michael Kiske (Helloween). Felipe Machado e Yves Passarel sobressaíam-se com um ótimo trabalho de guitarra. Indiscutivelmente, “Living for the Night”, “A Cry from the Edge” e “To Live Again” são clássicos do metal brasileiro. Ótimo LP!
Diogo: A inclusão de Theatre of Fate faz bem mais sentido aqui do que a deSoldiers of Sunrise na edição da série dedicada a 1987. Ainda um pouco exagerada, mas do mesmo tipo de exagero que podem me acusar ao incluir na minha lista pessoal bandas como Pestilence ou Running Wild; isto é: tá de boa. O disco é ótimo mesmo, mostrando, ao mesmo tempo, uma banda que evoluiu muito em seus instrumentos, um vocalista diferenciando-se cada vez mais dos seus contemporâneos brasileiros e um compositor (Pit Passarell) em grande fase. Além disso, Theatre of Fate conta com uma produção muito mais condizente com aquilo que o quinteto tinha para apresentar, de modo que as inserções e influências eruditas mesclam-se muito bem com o heavy metal cheio de melodia praticado pelo grupo. Apontar “Living for the Night” como destaque é obrigação, mas minha favoritaça mesmo é “A Cry from the Edge”, essa sim um dos grandes hinos do heavy metal nacional, ao lado de canções como “Nightmare” (Sarcófago), “Dead Embryonic Cells” (Sepultura), e “Carry On” (Angra). Raras vezes se fez música pesada no Brasil com tanta competência.
Eudes: Na minha modesta opinião, apesar de achar o Viper legal, o disco homenageado no disco anterior já estava de bom tamanho.
Fernando: Clássico irreparável! Com uma explícita evolução em relação ao que tinha sido feito em Soldiers of Sunrise, Theatre of Fate é uma joia do metal nacional. Andre Matos conseguiu introduzir muita coisa do que ele estava aprendendo na faculdade de música. Com um disco tão bom, o Viper poderia ter ganhado o mundo, mas por problemas de distribuição o álbum só foi lançado alguns anos depois em outros países, já depois da saída de Andre. Uma pena! Mais sobre o disco e sobre o Viper você pode encontrar aqui.
Leonardo: Provavelmente, o melhor disco de heavy metal já gravado no Brasil. Unindo as influências de heavy metal tradicional a uma leve inclinação clássica, o Viper compôs uma coleção de músicas extremamente marcantes e empolgantes. Ainda muito jovem, o baixista Pit Passarell mostrava-se um compositor de mão cheia, sendo autor de dois dos maiores hinos do heavy metal brasileiro, “Living for the Night” e “A Cry from the Edge”. Mas o restante das músicas também é excelente, mantendo o nível altíssimo do registro. O trabalho dos guitarristas Yves Passarel e Felipe Machado também é digno de elogios, com riffs, solos e melodias inesquecíveis.  E havia ainda a voz de Andre Matos, que se encaixava perfeitamente à música. Se tivesse sido gravado por uma banda norte-americana ou alemã, teria se tornado um dos grandes discos do heavy metal mundial, sem dúvida alguma.
Mairon: Desconheço um disco que tenha bebido tanto na fonte de um clássico musical e conseguiu sair-se ainda melhor quanto Theatre of Fate. O segundo álbum do Viper é inspiradíssimo no que o Helloween já havia apresentado em Keeper of the Seven Keys Part II (1988), até com uma introduçãozinha instrumental para preparar o ambiente. Só que o quinteto paulista ampliou o heavy metal, fundindo-o com a música clássica, criando uma obra atemporal cujo maior mérito vai para o baixista Pit Passarell, O CARA por trás deste incrível álbum, já que é o responsável pela criação de peças exclusivas da discografia do Viper, como “At Least a Chance” e “Prelude to Oblivion”, nas quais, além do belo trabalho vocal de Andre Matos, da inserção de um quarteto de cordas – o The Kubala Quartet Strings –, destacam-se as citações e/ou passagens que lembram composições eruditas, e também a dupla Felipe Machado e Yves Passarell nas guitarras (ainda não entendo como um guitarrista tão técnico quanto Yves foi parar no Capital Inicial). A linda introdução de “A Cry from the Edge” é para fazer qualquer headbanger ir às lágrimas, tamanha a perfeição do trabalho de violões, guitarra, bateria, baixo e sintetizadores, descambado para uma pauleira veloz na qual Andre grita como manda o figurino de Michael Kiske. Outra na qual Andre dá seu espetáculo à parte, seja no piano ou, principalmente, na interpretação vocal, é a emocionante “Moonlight”, inspirada na “Moonlight Sonata” de Beethoven, com um dos agudos mais impressionantes que algum vocalista do heavy metal mundial já tenha produzido. A faixa-título é uma aula de composição e, principalmente, de transpor para o instrumento uma criação tão forte e grudenta como só o Viper consegue fazer. Agora, quer ouvir novidade, ouça “Living for the Night”, maravilha metálica com uma introdução na qual Andre adota o cravo para fazer as notas de uma das canções que me fizeram um fã de Viper, graças ao saudoso Programa Livre, de Serginho Groisman, do qual o grupo era um habitué. Que espetáculo de sequência de solos que “Living for the Night” oferece, indescritível. Só ouvindo para sentir o arregaço que eles causam nos ouvidos. Mesmo a acessível “To Live Again”, com seu riff e solos de guitarra trazidos dos bons tempos do Iron Maiden, soa como um hino neste disco que não conquistou a primeira posição nesse ano na minha lista porque Madonna e Queen fizeram discos sobrenaturais, mas trata-se do melhor representante do metal nacional na década de 1980, sem nenhum concorrente por perto, já que, na minha opinião, é o melhor disco do metal nacional em todos os tempos. Mais sobre álbum já comentei aqui.
Ulisses: Muito mais bem trabalhado do que o antecessor, Theatre of Fate deixa um pouco de lado a sonoridade mais maideniana; o que marca a notável evolução do quinteto tupiniquim é o bom uso de passagens de violão, piano e instrumentos de cordas que, aliados à uma melhor produção e ótimos arranjos, tornou este disco um dos maiores clássicos brasileiros. Canções como “A Cry from the Edge” e “Living for the Night” são verdadeiras joias, e a releitura da lindíssima “Moonlight Sonata” de Beethoven, aqui chamada apenas “Moonlight”, é de muito bom gosto! Talvez a única crítica ao disco seja a curta duração (pouco menos de 35 minutos), entretanto, é preferível qualidade a quantidade.

04 Skid Row
Skid Row – Skid Row (66 pontos)
Alissön: O Skid Row está no mesmo patamar de qualidade de um Bon Jovi e um Cinderella, e isso não é um elogio. Músicas sem conteúdo, fracas em arranjos e que não empolgam, além de terem envelhecido terrivelmente a cada ano que se passou e, claro, tendo como a cereja nesse bolo indigesto a tenebrosa balada “I Remember You”. Faço uso das palavras de Coronel Kurtz aqui: “O horror, o horror, o horror, o horror…”.
André: Ótimo disco de estreia e muitas canções ótimas de se ouvir. Pensando bem, poderia ter entrado tranquilamente na minha lista. Com um instrumental que une um certo peso e muita melodia, o Skid Row conseguiu estourar na América graças a “18 and Life”, “I Remember You” e a minha preferida do disco, “Youth Gone Wild”. Se este disco fosse vendido como um álbum de compilação de suas melhores músicas, eu acreditaria, tamanha a qualidade. Não sou de ficar choramingando por causa de ex-integrantes em bandas e mesmo que sejam Rachel Bolan e Dave Sabo os líderes, não tenho como negar que o Sebastião faz falta.
Ben: Assim como tantos outros, eu já estava de saco cheio das bandas cuja preocupação com seu visual era muito maior do que a qualidade dos discos que lançavam. Mas eis que surgiram esses novatos, mais comportados, que faziam um hard rock grudento e muito pesado. Este debut é muito bom, e canções como “Big Guns”, “18 and Life” e o hit “Youth Gone Wild” certamente fizeram que este álbum ficasse entre os cinco discos que mais escutei em 1989. E nem era meu preferido…
Bernardo: Skid Row pode ter surgido só no final da década e só lançado seu disco no último ano, mas reúne tantos clichês da mesma que são quase uma caricatura, ainda que com um pouco mais de qualidade do que a média do gênero “hair metal/rock farofa”. Influências bem vindas de heavy metal nos riffs e de pop nas harmonias, principalmente nos refrãos. Destaque, claro, para as músicas de trabalho, a melosa “I Remember You”, a power ballad “18 and Life” e o peso sem freio de “Youth Gone Wild”. Ainda renderia mais um disco satisfatório antes de se juntarem ao limbo do marasmo que o filão tornou-se com o advento do grunge.
Bruno: Em 1989 esse tipo de som já tava bem decadente, nada de novo e nada de mais.
Davi: Depois do Bon Jovi, mais uma banda de New Jersey invadia as rádios mundo afora. O grupo nunca foi unanimidade, principalmente por conta de seu vocalista, Sebastian Bach. Embora fizesse um incrível trabalho vocal nos discos (ao vivo, nem tanto), muitos marmanjos torciam o nariz para eles por conta de várias garotas molharem as calcinhas gritando o nome do rapaz durante seus shows. A sonoridade dos caras era calcada no hard rock daquela época, trazendo um pouco mais de peso nas guitarras (sacada que o Mötley Crüe havia tido alguns anos antes). Mas a essência era a mesma: hard rock com refrãos pegajosos, bateria simples e riffs que ficam na cabeça. No disco misturam-se canções mais pesadinhas como “Big Guns”, “Midnight/Tornado” e “Youth Gone Wild” com baladas radiofônicas como “18 and Life” e “I Remember You”. Belo disco de estreia, mas era apenas um aperitivo do que estava por vir…
Diogo: O ano de 1989 foi de glória para o hard rock. Exposição constante, turnês lotadas e bons discos sendo lançados por artistas já consolidados, como Alice Cooper, Mötley Crüe e Whitesnake, e outros em busca de seu espaço, como Blue Murder, Badlands e Mr. Big, sem falar naqueles que passavam por situações distintas, como o Aerosmith, que renascia para o estrelato. Entre todos eles, porém, reinou uma banda estreante recomendada à gravadora Atlantic por ninguém menos que Jon Bon Jovi, amigo de longa data do guitarrista Dave “The Snake” Sabo. Por mais que o cenário já estivesse ficando saturado, o Skid Row injetou garra, ânimo e personalidade ao seu hard rock, pesando influências mais punk (cortesia do baixista Rachel Bolan) e heavy metal em boas proporções, soando como uma lufada de ar fresco. Sebastian Bach tinha a voz, o visual e a presença; Scotti Hill, a capacidade de criar alguns solos memoráveis; mas Bolan e Sabo eram o cerne do grupo, compondo canções marcantes e memoráveis, destacando, acima de todas, a power ballad “18 and Life”, mais sombria e agressiva que o habitual, exalando a juventude que seu título indica. Mas Skid Row não fica só nisso: o álbum todo é consistente. “I Remember You” é outra baladaça, assim como a pesada “Youth Gone Wild” virou hino tanto para o grupo quanto para Sebastian em carreira solo. Outras menos lembradas, como “Piece of Me” e, especialmente, “Midnight/Tornado”, são testamento de quão afiado o quinteto estava. Melhor: o ritmo não arrefeceria tão rápido. Mais um detalhe: raras vezes a capa de um disco do estilo refletiu tão bem sua sonoridade.
Eudes: Se o Bon Jovi já pisou este sagrado chão das listas dos melhores, por que não o Skid Row, não é? Questão de coerência e igualdade de critérios.
Fernando: Eu acho que o Skid Row é um exemplo de “local e hora errada”. Eles tinham um som distinto das bandas de glam/hair metal, mas foram colocados junto do mesmo balaio e receberam tanto o bônus quando o ônus disso. Muita gente não gosta do grupo por conta da imagem de Sebastian Bach e do seu apelo com as garotas. O fato das baladas serem veiculadas um número infinito de vezes mais que as músicas mais pesadas também não ajudou. Creio que este disco seja mais fraco que o seguinte, mas pelo jeito ele vai entrar na nossa lista também.
Leonardo: O melhor disco de 1989! Misturando a malícia do hard rock, a intensidade do heavy metal e a energia do punk, o quinteto norte-americano lançou um dos melhores álbuns dos anos 1980. Riffs espertos, solos memoráveis e os vocais espetaculares, pelo menos em estúdio, de um jovem Sebastian Bach conduzem um punhado de canções extremamente fortes e marcantes. O disco é todo excelente, mas é impossível não citar os hits “Youth Gone Wild” e “18 and Life”. A primeira tinha um riff e um refrão sensacionais, e a segunda era uma balada marcante e soturna, com uma atuação impecável de Bach e um solo inesquecível.
Mairon: Das grandes bandas surgidas no final da década que conseguiram transformar o hard farofa em algo mais palatável, cujo maior exemplo é o Guns N’ Roses, o Skid Row talvez seja a que mais se aproximou do reconhecimento mundial que a trupe de Axl e cia. teve. Apesar de Extreme, Warrant, Firehouse e Slaughter terem lançados bons discos, nenhum deles tinha um Sebastian Bach para comandar os vocais e tornarem clássicos uma lindeza como “18 and Life”, uma balada grudenta como “I Remember You” ou um petardo como “Youth Gone Wild”. Além disso, o baixão de Rachel Bolan em “Piece of Me”, “Makin’ a Mess” e “Sweet Little Sister” fazem o “air bass” sair do armário, e a capacidade de grudar refrões em “Midnight/Tornado”, “Big Guns” e “Rattlesnake Shake” na mente do ouvinte e fazer solos mágicos, são méritos que só o guitarrista Dave “Snake” Sabo conseguia por essa época. “Can’t Stand the Heartache” e “Here I Am” não acrescentam muito ao álbum, mas é legal ver a estreia da banda aqui, o que me faz crer que, para 1991, o ano mais concorrido da década de 1990, Slave to the Grind possa estar entre os dez primeiros.
Ulisses: Um disco competente, que representa com clareza o lado mais pesado do glam metal – e eles ficariam ainda mais pesados nos registros posteriores. Os destaques, todo mundo conhece: “18 and Life”, o hino “Youth Gone Wild” e a baladinha “I Remeber You”, interpretadas pelo enérgico Sebastian Bach. O restante do registro é sólido, mas não chega ao nível dos hits, exceção feita, talvez, a “Can’t Stand the Heartache” e “Rattlesnake Shake”.

05 Doolittle
Pixies – Doolittle (50 pontos)
Alissön: Justamente o ponto que mais me atrai na estreia dos Pixies, Surfer Rosa(1988), fora limado em Doolittle. Sempre elogiei a produção de Steve Albini, que conferia ao trabalho uma cara primitiva, destacando os instrumentos percussivos e o contrabaixo, além da habitual sujeira e das guitarras ruidosas, tudo isso, claro, sem descaracterizar as estruturas melódicas e o acento pop que poderiam ser conferidos com a devida atenção. Em Doolittle, esse caráter primitivo dá lugar a uma produção mais limpa, que enaltece o caráter pop que ficava devidamente escondido em um mar de guitarras faiscantes. Elogio muito a entrada de um disco tão influente como éDoolittle, mas não entrou em minha lista pessoa puramente por gosto pessoal.
André: Já foi terrível ter que ouvir Surfer Rosa na edição anterior, agora vem um ainda pior.
Ben: A influência do Pixies pela cena musical é inegável, mas taí uma banda cujo som sempre achei por demais enigmático para acompanhar a fundo cada um de seus discos. Após tantos anos, e com esta matéria, dei uma geral em sua discografia e… Ora vejam, continuo não gostando dessa veia alternativa que mescla punk e a velha surf music. Faz parte da vida…
Bernardo: “Debaser”, “Here Comes Your Man”, “Wave of Mutilation”, “Monkey Gone to Heaven”… Ufa. Ouvir Pixies é passar por tantos terrenos que é capaz de tirar o fôlego. Guitarras infernais, grooves dançantes, melodias cantaroláveis… Pixies não são apenas originais ao unir todo mundo na mesma festa, mas também aparentam serem mais do que completos, com suas letras sarcásticas, paradoxalmente surreais e realistas. Eles praticamente criaram a música de guitarras dos anos 1990, com uma obra-prima atrás da outra.
Bruno: Ainda mais bem resolvido e mais bem composto que o impressionante Surfer Rosa, e de quebra com um hit na manga (“Here Comes Your Man”), que destoa do restante do tracklist, mas atraiu um público maior ao som esquizofrênico do Pixies. Um disco impecável que poderia me tomar o dia todo elogiando-o e ainda assim não conseguiria expressar o quanto gosto dele.
Davi: O Pixies foi um grupo que gravou pouco, mas cujo legado influenciou centenas (talvez milhares) de bandas ao redor do planeta. E isso já faz com que ganhem seu merecido respeito. Famosa banda de rock alternativo. Arranjos com poucas notas, muita emoção. A sonoridade de Doolittle é um pouco mais polida que a de Surfer Rosa, mas isso não tira o brilho do disco. Para quem gosta do gênero, é um prato cheio e um disco meio obrigatório. Para quem não conhece muito, é uma ótima porta de entrada. Afinal, seu som mais conhecido (“Here Comes Your Man”) é daqui.
Diogo: Escutar um disco como Doolittle pode ser uma ótima experiência e um martírio em iguais proporções conforme o gosto de cada ouvinte. É inegável, porém, pertencendo a um extremo ou outro dessa relação, perceber a gênese de boa parte do rock feito na década de 1990 desvelar-se a cada canção. Em alguns casos, isso significa uma boa costura de guitarras, como em “Debased”, um resgate de melodias pop sessentistas, como no hit “Here Comes Your Man” (ouço-a e imagino “The Way”, do Fastball, lançada em 1998, da qual gosto muito mais) e em “La La Love You”, e algumas abordagens fora do comum, como em “Way”. Em outros casos, contudo, a alternância estrofe leve/refrão agressivo beira o irritante, como em “Tame”. Em meio a tudo isso, faixas que até têm seus méritos, mas que não necessariamente me atraem.
Eudes: Um álbum que vale muito por faixas como “Wave of Mutilation”, pelo ritmo quebrado de “I Bleed”, assim como o resgate do pop sessentista de “Here Comes Your Man” e de “La La Love You”, além do clima meio psicodélico de “Nº 13 Baby”. No mais, ficamos sabendo que o estilo new wave aprés la lettre de Yoko Ono vive e dá cria. Só registro que o disco anterior, Surfer Rosa, mereceu mais aparecer na série do que este agora contemplado.
Fernando: Pelo jeito essa banda deve ser boa mesmo, com dois álbuns entrando em sequência. Mas não é para mim. Gostei mais da capa de Sufer Rosa.
Leonardo: Chato. De doer.
Mairon: Depois da entrada de Surfer Rosa em 1988, foi com surpresa que vi mais um álbum do Pixies nas listas de melhores. Achei este melhor que o seu antecessor, mas ainda inferior a Bossanova (1990). Destaque para a super clássica “Here Comes Your Man”, “Silver”, “La La Love You” e “Debaser” . Meu único senão é que as músicas são todas curtinhas, e esse estilo de cantar de Black Francis, principalmente em “Hey” e “Tame”, ou as experiências sonoras como “Crackity Jones” e “Dead”, não me agradam tanto. Em tempo, “I Bleed” é a coisa mais Nirvana que o Nirvana nunca gravou, e “There Goes My Gun” é uma irmã agressiva de “Here Comes Your Man”. Podiam ter dado chances para o Queen aqui, heinhô …
Ulisses: Com uma leve mudança no direcionamento musical, os Pixies refinaram a sonoridade apresentada em Surfer Rosa, polindo as faixas com uma boa camada pop e uma mixagem melhor, trazendo canções radiofônicas (“Here Comes Your Man”, “Monkey Gone to Heaven” e a bobinha “La La Love You”) enquanto mantinham o estilo usual.

07 Like a Prayer
Madonna – Like a Prayer (42 pontos)
Alissön: Like a Prayer acabou não entrando na minha lista final, mas fiquei extremamente surpreso (no bom sentido, claro) com sua entrada na lista geral. O pop recheado de referências religiosas e temperado com uma variedade imensa de influências, da latinidade ao gospel e ao funk – méritos de sua parceria com o multi-instrumentista Prince e com o produtor Patrick Leonard –, soa atualíssimo e uma audição gratamente refrescante, auxiliado por clássicos do calibre de “Like a Prayer”, “Express Yourself” e “Oh Father”. Um marco para a música pop, o reconhecimento deLike a Prayer na lista é uma grande justiça a um dos discos mais bacanas de música pop.
André: Respeito Madonna por tudo o que conseguiu na música pop. Inclusive, estava acompanhando as letras deste disco e me impressionei com a sua escrita junto aos outros compositores, bem diferente do que estamos acostumados no pop. Porém, a cantora nunca conseguiu me cativar.
Ben: Caraca, Madonna… O lançamento de Like a Prayer reforçou sua condição de ícone da cultura pop, fazendo com que 1989 fosse o ano do auge do seu sucesso. Em sua proposta, não dá para negar que a “loirinha safada” era eficiente, tanto que a faixa-título, “Express Yourself”, “Oh Father” e “Keep It Together” são os destaques mais evidentes. Pop até o osso e, como tal, legalzinho. Mas apenas isso.
Bernardo: O álbum mais bem acabado de Madonna. O groove da ambígua faixa título é irresistível e “Express Yourself” é tudo aquilo que esperamos do pop oitentista, no melhor dos sentidos.
Bruno: Sem comentário.
Davi: Um dos grandes álbuns da rainha do pop. Like a Prayer ainda trazia aquela sonoridade típica dos anos 1980, repleta de teclados, sintetizadores, mas apostava em arranjos um pouco mais sofisticados do que em seus primeiros discos. Flertando com funk, gospel, soul e nosso amado rock, a garota trazia letras mais maduras, mais confessionais. Poucos anos depois de encantar a todos com sua apresentação no Video Music Awards, onde saiu vestida de noiva de dentro de um bolo, a cantora chocava a todos ao contracenar cenas quentes com um anjo negro no clipe de sua faixa-título. Hoje, o vídeo ganhou status de clássico, mas na época foi massacrado. Várias canções marcaram a adolescência de quem viveu aquela época, como “Cherish”, “Oh Father”, “Express Yourself” e “Keep It Together”. Like a Prayer demonstrava que Madonna não era uma moda passageira, que tinha vindo para ficar. Ótima fase da cantora.
Diogo: Ela veio comendo pelas beiradas e quase não entrou na minha lista pessoal. Não que não houvesse méritos: o que Madonna fez em Like a Prayer serviu para dar um tapa de luvas em quem ainda ousasse duvidar de sua capacidade como artista, mas a percepção da genialidade de uma música em especial ajudou em sua escalada. Falo de “Dear Jessie”. Canção de ninar, psicodélica, erudita? Tudo isso e mais? Quanta estupidez não ter percebido antes essa pérola na discografia de Madonna. Talvez isso tenha ocorrido em função dela ser seguida de uma de suas melhores baladas, “Oh Father”, de letra forte e confessional. “Spanish Eyes” e sua atmosfera espanhola, algo que a cantora já havia explorado anteriormente, não fica muito atrás, enquanto “Express Yourself” é pop descarado, mas de ótima estirpe, não à toa chupinhado por Lady Gaga em sua “Born this Way”. “Til Death Do Us Part” tem uma linha de baixo contagiante, “Love Song” só poderia ter sido feita mesmo ao lado de Prince… Mas você pode estar se perguntando: “E a faixa-título?”. Ora, meus amigos, aí falamos de um momento de iluminação que raras vezes se repete na carreira de um artista, ainda mais em se tratando de um caso como esse, em que música e vídeo casaram de forma a transcender, e muito, as ondas do rádio e os sulcos do vinil. Rock, gospel, funk, sensualidade e uma dose de heresia: que bela combinação!
Eudes: Digamos que Madonna não é exatamente a minha praia, mas há várias faixas deste disco de que gosto. “Express Yourself” e sua levada chupada (ops) de Quincy Jones é bem legal, assim como a balada sobre base eletrônica, “Love Song”, sem falar da faixa-título, com suas guitarras pesadinhas na introdução, hoje clássica. Sim, um dia um disco de Madonna vai entrar nas minha lista de melhores, mas só alguns anos à frente.
Fernando: Se o Mairon não conseguisse emplacar um disco da Madonna nesta série, acho que ele teria um ataque! Acredito que este seja o disco mais adequado para isso, apesar de apenas conhecer seus maiores hits.
Leonardo: Tempos estranhos… Madonna na lista de melhores discos da Consutoria do Rock, no Rock and Roll Hall of Fame… Madonna é rock? Ótimo disco de música pop, com 0% de rock.
Mairon: Finalmente Madonna dá as caras por aqui. Depois dos grandiosos Like a Virgin e True Blue terem sido desprezados nas listas de 1984 e 1986, respectivamente, seria uma vergonha se o melhor álbum da norte-americana não constasse entre os dez melhores de 1989, ainda mais que Like a Prayer foi o álbum mais vendido em mais de 20 países, em um ano no qual o heavy metal lançou grandes discos e o hard glam começou a tornar-se mais acessível e menos farofento. Esse número elevado (mais de 15 milhões de cópias em todo o mundo) é porque Madonna reinventou o pop, mesclando as batidas características do estilo com novidades que não se encontravam em nenhum outro álbum do estilo. Começando pelos grandes sucessos do LP, temos a clássica faixa-título, com seu polêmico videoclipe, em uma incrível mistura de música gospel, rock e pop de extrema qualidade, pasteurizados e condensados para atingir grandes massas, em uma faixa longa para os padrões do pop (quase seis minutos de duração), com uma participação fundamental do baixo de Guy Pratt. “Cherish” e “Express Yourself” viraram clássicos indiscutíveis no repertório de Madonna, a primeira em sua simplicidade infanto-juvenil que contagiou até o coração de Renato Russo, e a segunda resgatando o lado alegre e dançante do álbum de estreia de 1983, mas com um trabalho vocal acima do esperado para uma cantora que certamente não possui grandes dotes vocais. No quesito interpretação, Madonna supera-se na linda “Promise to Try”, acompanhada apenas por um quarteto de cordas e piano, revelando aos fãs que são nas obscuras faixas do álbum que Madonna mostra por que era rainha não só do pop, mas também da música. Sua voz brilha em pelo menos mais três canções, começando com “Dear Jessie”, na qual as cordas também aparecem, em uma faixa de difícil classificação, já que é uma peça singular e bela, sem nenhuma batida pop, construída apenas por escalas de música clássica, que conduzem a introdução de “Oh Father”, outra faixa soberana em Like a Prayer, novamente com Madonna acompanhada por piano e cordas, e com uma interpretação emocionante, nessa que é uma das minhas favoritas da discografia de Madonna, ao lado de outra bela faixa de Like a Prayer, “Spanish Eyes (Tears on My Pillow)”, com todo seu charme flamenco em uma balada emocionante. O embalo dance de “Till Death Do Us Part” e “Keep It Together” mostram a força pop que a cantora conseguia criar em suas músicas, e os mais exagerados irão dizer que a participação de Prince em “Love Song” é perfeita, e para os padrões “princeanos”, realmente a o swing dessa balada funk ficou perfeito, principalmente pela ótima combinação vocal da dupla, mesmo reconhecendo que essa é a mais fraca do álbum, perdendo até para a experimental e insana “Act of Contrition”, com uma guitarra carregada de distorções sobre as vocalizações de “Like a Prayer” e Madonna delirando em falas doentias. Com a turnê do álbum, a inesquecível Blonde Ambition Tour, Madonna começou a guiar seu espetáculo para as simulações sexuais que chocariam o mundo com “Na Cama com Madonna” (1991) e Erotica(1992), mas aí já é assunto para daqui a três anos, ficando para Like a Prayer os méritos de brotar soberanamente entre o mar metálico que assola essas listas dos anos 1980 como o melhor disco de 1989, e um dos melhores álbuns daquela década.
Ulisses: Quando recebemos a lista final e vi Madonna, achei que iria implicar com ela. Surpreendentemente, não foi o caso. Like a Prayer é dançante e ao mesmo tempo equilibrado, sem soar artificial, bem “down to earth”. As letras são bem pessoais, a ponto de serem interessantes, e por isso as interpretações da cantora transmitem honestidade. É um álbum consistente, mas apesar de conter faixas cativantes como “Cherish” e joias como “Oh Father”, também contém fillers como “Love Song”. No mais, saí com uma impressão bem positiva.

06 The Headless Children
W.A.S.P. – The Headless Children (40 pontos)
Alissön: Definitivamente, o que não falta para o W.A.S.P. é autenticidade. O amálgama do hair metal com o visual shock de Alice Cooper e uma aspereza característica conferem uma individualidade para o grupo, que já compôs músicas interessantes espalhadas pelos vários discos que deixaram registrados. The Headless Children, um de seus mais festejados, possui bons momentos e algumas ideias interessantes, caso da faixa-título e o hard rock faceiro de “Mean Man”, mas não deveria estar presente em uma lista de melhores de todos os tempos, tomando o lugar de discos mais bem gabaritados.
André: Gosto muito desses vocais esgoelados do Neguinho Fora da Lei, pena que as temáticas maliciosas que a banda compôs nos primeiros discos deram uma severa amenizada. Sempre galgando entre aquele heavy metal clássico e o tradicional hard rock oitentista, o W.A.S.P. é daquelas bandas que, embora tenha conseguido emplacar algumas músicas nos charts, nunca chegaram a estourar nas rádios norte-americanas (devido a suas letras repulsivas), mas que possuía todas as qualidades para animar multidões. “Thunderhead” e aquela introdução de piano inesquecível, música que vai crescendo aos ouvidos até estourar na fanfarrice característica de sempre. “Mean Man” tem um daqueles refrãos muito bacanas de se cantar em um show ao vivo. “The Neutron Bomber” é outra faixa que adoro. Ótimo disco, e sua presença nesta lista é bastante bem vinda.
Ben: É, este foi o disco que mais escutei em 1989, e um de meus preferidos do W.A.S.P.. Foi com The Headless Children que a banda mostrou que havia atingido a maturidade. Deixando de lado o visual sadomasoquista-circense e agora com temas políticos, este repertório prima pela variedade e muita distorção. Aqui tínhamos como baterista o preciso Frankie Banali (Quiet Riot) e foi a última aparição do porra louca do Chris Holmes, que só deu as caras anos depois. Destaques…? Aprecio todo o álbum – e esse sentimento permanece até hoje.
Bernardo: Gostei do cover de “The Real Me”. Apesar de não me arrebatar, o W.A.S.P. tem a minha simpatia com sua mescla da acessibilidade do hard rock com o peso do heavy metal e a atmosfera controversa e chocante de letras, capas e performances. Com o Twisted Sister na mesma época, Tia Alice Cooper deve ter ficado todo prosa com a rapaziada mais jovem pegando seu estandarte e levando adiante.
Bruno: Disquinho chato e genérico.
Davi: Há quem diga que este é o melhor trabalho do W.A.S.P.. Sempre o considerei o disco mais fraco dessa fase inicial. Blackie Lawless queria ser levado a sério como músico e deu uma mudada na proposta do grupo. O disco conta com letras mais obscuras, som mais trabalhado. O problema é que não tem tantas músicas memoráveis quanto seus trabalhos anteriores. Acredito que falte uma faixa com a força de “I Wanna Be Somebody”, “Wild Child” e “L.O.V.E. Machine”. Contudo, sou obrigado a reconhecer que o cover de “The Real Me” (The Who) ficou sensacional. Considero um disco bacana, mas apenas isso.
Diogo: Gosto do W.A.S.P. mais displicente, sexista e hardeiro dos primeiros discos, mas também aprecio muito a guinada operada por Blackie Lawless em busca de apresentar algo com mais conteúdo, tenha ocorrido isso por realização pessoal ou mesmo em busca de um reconhecimento que acabou nunca vindo em grande proporção. Normalmente, quando bandas do estilo enveredam por caminhos mais épicos, o resultado tem grande chance de soar indigesto, mas com o W.A.S.P. isso funcionou muito bem, vide o fato das duas músicas mais longas e trabalhadas do disco serem justamente minhas favoritas, “The Heretic (The Lost Child)” e “Thunderhead”, boas mostras de que, atrás de um visual que buscava chocar, havia bons músicos, que sabiam arranjar suas canções. Isso não quer dizer que o grupo não tenha investido também em faixas mais diretas, como atestam as boas  “Mean Man” (uma homenagem ao estilo de vida selvagem do guitarrista Chris Holmes) e “Rebel in the F.D.G.”, além do cover para “The Real Me” (The Who). Definir qual é meu disco favorito do W.A.S.P. é difícil, mas The Headless Children certamente é um dos candidatos. Surpreendente adição, mas bem vinda.
Eudes: Banda com dotes bem superiores aos da concorrência, o W.A.S.P. tem aqui um disco bem audível. A faixa inicial, um tour de force de mais de sete minutos, em que o guitarrista vai muito além dos acordes distorcidos de lei e demonstra dom para o solo (coisas rara nas bandas pesadíssimas da época), é bem legal. Assim como a faixa-título, em que emulam com bastante competência o velho Sabbath. “Thunderhead” é surpreendentemente bonita, sem deixar de ser pesada, e tem até rock para pular, “Rebel in the FDG”. Tá certo que o disco vai passando e a repetição de fórmulas começa a deixar a coisa meio óbvia, mas em uma lista com Skid Row e Morbid Angel, fica até chato reclamar.
Fernando: Uma banda que vergonhosamente só conheci poucos anos atrás. Mesmo assim, não conheço toda sua carreira, apenas os discos mais relevantes e indicados. A faixa-título e “Neutron Bomber” são os destaques. O W.A.S.P. é uma banda difícil de rotular. Eles não conseguem se encaixar na cena heavy metal por serem muito espalhafatosos e são pesados demais para serem considerados hard rock.
Leonardo: Depois de um disco mais festivo e despojado, Inside The Electric Circus (1986), o W.A.S.P. retornou em The Headless Children mais pesado, sério e maduro. As letras passaram a ter um cunho mais político e social, enquanto musicalmente a banda deixou um pouco do hard rock de lado e investiu no heavy metal mais direto, às vezes até épico, como na faixa título e em “The Heretic”. Mas os principais destaques do disco são as espetaculares “Mean Man” e “Rebel in the FDG”, ambas donas de riffs maravilhosos. Também vale a pena destacar a bela versão de “The Real Me”, do The Who, e a participação do ex-Uriah Heep Ken Hesley nos teclados.
Mairon: Não sei por que, mas desde que comecei a montar minha lista para 1989, tinha certeza que The Headless Children estaria aqui, tanto que o retirei aos 49 do segundo tempo para a inclusão do Bob Dylan. Adoro esse álbum, que marcou a transição do W. A. S. P. farofa dos ótimos The Last Command (1985) e Inside the Electric Circus (1986) para um estilo mais sério, com letras que saiam da temática “sexo, drogas e diversão” para problemas pessoais, religiosos e políticos, e que afastou os velhos fãs, mas conquistou muitos novos, tornando-se no trabalho mais vendido do grupo até então. Blackie Lawless cria faixas perfeitas, tendo logo na abertura a melhor delas, a clássica “The Heretic (The Lost Child)”, com seus intensos sete minutos de duração no qual o destaque vai para os solos do guitarrista Chris Holmes. Outro ponto marcante são os teclados do eterno ex-líder do Uriah Heep, Ken Hensley, que abrilhantam a arrastada faixa-título (juro que a primeira vez que ouvi ela achei que era Black Sabbath fase Tony Martin), a balada “Forever Free”, a furiosa “The Neutron Bomber”, e também dá show na bela e enigmática introdução de “Thunderhead”, uma das melhores parcerias da dupla Lawless / Holmes, sendo outra canção épica, recheada de mudanças, e dessa vez, com um longo e alucinante solo feito por Holmes, que também mostra seus dotes no fritador solo de “Maneater” e no dedilhado acústico da vinheta “Mephisto Waltz”. Para os farofeiros que admiram a trilogia inicial, “Mean Man” e “Rebel in the F. D. G.” causarão certa faceirice, já que é são as mais próximas do que o W. A. S. P. havia registrado até então. Para fechar, uma brilhante recriação para “The Real Me”, obra seminal gravada pelo The Who em Quadrophenia (1973), que perde muito pouco para sua versão original. Bom saber que depois dessa, The Crimson Idol certamente estará na lista de 1992, e que bom que eu acertei minhas previsões e o álbum entrou, apesar de ainda achar que o Ramones (nem vou falar do Queen) fez um trabalho mais importante para 1989 do que esse disco.
Ulisses: A primeira metade do disco até que é boa, mas depois disso acho difícil suportar a chatice. Tem tanto disco de heavy metal melhor do que este em ’89…

08 Pump
Aerosmith – Pump (39 pontos)
Alissön: O segundo “segundo disco” do Aerosmith. Pump carregou a responsabilidade de reafirmar uma nova fase na carreira dos bad boys de Boston, depois de passarem longos anos no ostracismo, lançando discos irrelevantes. Felizmente, não apenas conseguiram, como também deixaram registrados seu melhor álbum, e um dos mais inventivos trabalhos instrumentais de sua longa carreira. O disco não se prende ao hard rock linear e simplista e surpreende em uma sucessão de clássicos, ficando difícil dar destaque a apenas uma faixa. E é justamente o que não farei: ouça o disco novamente e entenda o porquê de ele estar presente aqui.
André: Banda que demorei bastante para gostar, hoje vejo que perdi muito em ignorá-los por tanto tempo. Curioso que nunca ouvi este álbum, que é um dos mais famosos deles depois dos discos setentistas. Por incrível que pareça, gosto mais de Get a Grip (1993) do que dos mais antigos e este Pump me soa mais parecido com o álbum da teta da vaca. Destaco “The Other Side”, single muito tocado nas rádios norte-americanas, contendo uma guitarra ganchuda e excelentes backings de Joe Perry e até mesmo a meio desprezada por muitos “Don’t Get Mad, Get Even”, estilosa e diferenciada.
Ben: Pump é, definitivamente, o último disco realmente bom do Aerosmith. Ainda que soe contemporâneo, o pessoal soube como manter as raízes setentistas bem fortes. Se o álbum anterior, Permanent Vacation (1987), possuía um repertório irregular, a coisa agora seguia bem mais estável e, naturalmente, com canções tocando direto nas rádios, como a matadora “Love in an Elevator”, “Janie’s Got a Gun” e “What It Takes”. Não sou fã da banda, mas coloco Pump entre os melhores da discografia do Aerosmith.
Bernardo: A dramática “Janie’s Got a Gun” e a emotiva “What It Takes” foram duas das principais responsáveis por trazer o Aerosmith de volta para o topo do mainstream do rock, que junto com Permanent Vacation e o posterior Get a Grip transformaram a banda pesada, marrenta e autodestrutiva em um grupo mais simpático à grande mídia. E como acontece nesses casos, vale mais pelas músicas de trabalho do que propriamente pelo conjunto.
Bruno: Minha relação com o Aerosmith é complicada. Considero a banda seminal para um lado do hard rock mais rueiro e cru, respeito demais Joe Perry como guitarrista e Steven Tyler como vocalista e frontman, mas nunca consegui gostar de um disco inteiro da banda. A maioria dos singles e clássicos são sempre excelentes, mas os álbuns me soam cansativos. Pump talvez seja o disco mais consistente do grupo, e uma abordagem mais pesada que fez os malucos de Boston voltarem às paradas após um período complicado.
Davi: Depois de reconquistarem os roqueiros com Permanent Vacation e sua participação na releitura de “Walk this Way”, realizada pelo Run DMC no álbum Raising Hell (1986), os caras entregaram esse verdadeiro petardo. Pump traz todos aqueles elementos que esperamos em um disco de hard rock. Guitarras falando alto com ótimos riffs, vocais gritados, faixas empolgantes. Além dos hits “Love in an Elevator”, “Janie’s Got a Gun” e a balada “What It Takes”, o LP traz grandes destaques como “Young Lust”, “F.I.N.E.” e “Monkey on My Back”. Belíssimo trabalho.
Diogo: Alguns podem discordar da presença de Pump aqui alegando o fato dos clássicos Toys in the Attic (1975) e Rocks (1976), que construíram a reputação do grupo, não terem dado as caras por aqui. Convenhamos: além dos anos correspondentes a esses lançamentos terem contado com uma concorrência fortíssima,Pump não apenas confirmou o renascimento do grupo como levou o Aerosmith a um nível de gigantismo jamais experimentado. O melhor de tudo: é um belo álbum.Permanent Vacation foi um primeiro e importantíssimo passo no ressurgimento do quinteto, com hits do quilate de “Dude (Looks Like a Lady)”, “Rag Doll” e “Angel”, masPump rumou direto à estratosfera, aproveitando-se de um cenário favorável e repetindo a parceria com o grande produtor Bruce Fairbairn, também responsável pelo anterior. Os grandes sucessos do disco, “Love in an Elevator”, “Janie’s Got a Gun” e “What It Takes”, são mais que apenas cifras, são canções excelentes, com ênfase para “Janie”, que combina uma letra de tom carregado com um instrumental vigoroso, “pra cima”, sem causar estranheza, e “What It Takes”, uma baladaça que a própria banda tentaria reproduzir em álbuns posteriores, mas sem a mesma qualidade. Outras boas músicas dão as caras, como a hardeira “Young Lust” e “The Other Side”, atualizando o Aerosmith para 1989 e fazendo bonito.
Eudes: Deixo logo claro que meu disco predileto da banda chama-se Rocks (1976), infelizmente editado em um ano em que a concorrência era pesada demais. Pump é tido e havido como um renascimento artístico e comercial da banda quando ninguém dava mais nada pelos velhos drogados, ao longo dos anos 1980, mais conhecidos por encabeçarem a lista dos pé na cova, pódio perseguido especialmente por Joe Perry. Isso, até o estouro do presentão que os meninos do Run DMC deram aos marmanjos com o espetacular dueto em “Walk this Way”, em 1986. Pump coroa a retomada da banda em bom estilo. Faixas hard ma non troppo, mas inspiradas (“Going Down/Love in an Elevator”, “Hoodoo/Voodoo Medicine Man”), tornam o disco bastante agradável. Mas é aquela coisa, melhor de todos os tempos, né? Será que cabe?
Fernando: Depois de anos de ostracismo, o Aerosmith engatou uma sequência de ótimos discos no final da década de 1980, com Permanent Vacation, Pump e Get a Grip. Quando ouvi pela primeira vez “Love in an Elevator”, se não me engano em uma transmissão do Hollywood Rock de 1994 pela TV, tive certeza que iria gostar daquela banda com o vocalista que parecia o Mick Jagger e o guitarrista que parecia o Slash (sim, eu conheci o Guns N’ Roses antes).
Leonardo: Com a ajuda dos “hitmakers” Desmond Child e Jim Vallance, que já haviam trabalhado com Bon Jovi e Kiss, o Aerosmith ressurgiu em Pump com uma roupagem mais polida e comercial, abandonando de vez a pegada mais suja e vigorosa dos seus discos setentistas. Ainda assim, algumas faixas impressionavam, como os singles “The Other Side” e “Janie’s Got a Gun”, donos de refrãos espetaculares. Mas, no geral, o álbum acabada se tornando um pouco cansativo pelo excesso de açúcar e pela falta de riffs mais fortes…
Mairon: Depois de alguns deslizes nem tão deslizantes assim, o Aerosmith voltou para a boca do povo com o regular Permanent Vacation, muito por conta do sucesso de “Angel”. Livre das drogas, a dupla Steven Tyler e Joe Perry (os Toxic Twins) renovaram-se na arte de compor, e, em 1989, lançaram seu principal trabalho da década de 1980. Apesar de longe de ser um Rocks ou um Draw the Line (1977), Pump tem suas razões de estar por aqui. Afinal, o disco vendeu mais de 7 milhões de cópias, carregado principalmente pela trinca de clássicos “Love in a Elevator”, cuja letra que Gene Simmons adoraria ter escrito; “Monkey on My Back”, com Perry fervilhando o slide guitar; e a grudenta “Janie’s Got a Gun”, música pela qual tenho grande apreço, já que foi ela que me apresentou o grupo. Outras canções que marcaram o álbum são a pancada “Young Lust” e a balada “What It Takes”, mostrando que o Aerosmith sabia fazer canções certeiras para serem ouvidas no rádio enquanto se está dirigindo ao lado de uma bela mulher. Escondidos nos sulcos do vinil estão outros ótimos momentos, como a psicodélica “Hoodoo/Voodoo Medicine Man”, com Perry estraçalhando no solo da canção, o boogie de “My Girl”, o swing southern de “F. I. N. E.” e o blues “Don’t Get Mad, Get Even”. Para mim, a melhor canção do álbum é “The Other Side”, com uma introdução que nunca foi e nunca mais será encontrada em qualquer canção do grupo. O Aerosmith poderia ter aparecido mais nos anos 1970, mas a presença de Pump aqui é muito saudável.
Ulisses: Sólido e conciso, Pump foi para mim uma excelente apresentação ao Aerosmith, grupo que nunca me preocupei em conhecer direito. Apesar do tracklist variado, achei que ele perde um pouco a empolgação lá nos momentos finais – mais especificamente, depois de “The Other Side” –, mas faixas como “F.I.N.E” e a excelente “Janie’s Got a Gun” garantem a vaga do Aerosmith nesse ano.

 
09 Altars of Madness
Morbid Angel – Altars of Madness (27 pontos)
Alissön: Ainda não é o Morbid Angel de músicas desafiadoras, estruturas experimentais e intrincadas, muito pelo contrário: as guitarras despontam em um turbilhão de riffs, os arranjos são mais lineares e as composições mais homogêneas, mas já apresentavam um saldo extremamente positivo para uma estreia (sem contarAbominations of Desolation, lançado oficialmente apenas em 1991). Não é, nem de perto, meu disco favorito do Morbid Angel, mas sua entrada na lista geral (e na minha própria lista) são mais do que justificadas por conta de sua influência sobre a próxima geração de garotos doentes que também viriam a fazer história dentro – e até mesmo fora – do estilo.
André: É pesado, bem tocado e tudo mais. Mas dentro do death metal, fico mesmo com o Vader.
Ben: Death Metal cru e cheio de emoção! A produção está longe de ser um primor, mas a sinergia entre o quarteto compensa esse “mero” detalhe. E, ainda que Pete Sandoval enriqueça em muito a audição de Altars of Madness, é a inspiração e precisão de Trey Azagthoth, cujos riffs e solos – e que solos! – o eleva à posição de maior destaque, digno de todos os louvores. Com o passar dos anos muita coisa mudou para essa banda, que foi liberando discos cada vez mais técnicos, mas nenhum deles ofuscou a aura cult de Altars of Madness, cujo repertório é irretocável.
Bernardo: Um dos pontos mais altos que o death metal conseguiu chegar, e um dos pontos mais próximos que eu consegui gostar de algo do estilo. Apesar de não me conquistar.
Bruno: Impossível ouvir este álbum e de cara não ter a reação de “PQP, esse baterista é um ignorante!”. Apesar do reverenciadíssimo Trey Azagthoth esmirilhar na guitarra, quem toma conta da parada é o monstruoso Pete Sandoval. O que esse maluco faz aqui com dois bumbos não é brincadeira. Haja canela. Discaço!
Davi: Pouquíssimos grupos em que o vocalista soa como o satanás tendo uma crise interminável de cólica cativaram a minha atenção durante os anos. E o Morbid Angel não é um deles. Tudo bem, a banda é cultuada, o disco é um clássico do heavy metal, mas definitivamente não é minha praia. Pelo menos o instrumental era bom, era uma podreira bem trabalhada. Mas como esse vocal me cansa…
Diogo: Muitos álbuns de qualidade foram lançados em 1989, alguns realmente ótimos, mas, para mim, apenas um realmente fabuloso. Seu nome? Altars of Madness, estreia oficial de um dos maiores responsáveis não apenas pela consolidação do death metal como gênero distinto, mas de sua popularização, influenciando um sem número de moleques, da Suécia ao Brasil, a darem um passo além no extremismo, solapando o thrash metal e trazendo à tona uma nova forma de fazer heavy metal, mais excitante, com mais possibilidades. As bases já haviam sido lançadas por bandas como Death e Possessed, além de outras de menor expressão ou que ainda estavam na fase de demos, mas o Morbid Angel elevou a níveis até então impensáveis o dinamismo das músicas e a proficiência técnica das performances. Sim, porque se já havia na época um baterista tão pedreiramente insano quanto Pete Sandoval, esqueceram de me me avisar. E Trey Azagthoth? O Eddie Van Halen do death metal formou com Richard Brunelle uma dupla encapetada, abusando de riffs e solos “tortos”, dominando o processo criativo do grupo e colocando em prática suas ideias pouco convencionais. À frente, David Vincent empunhava o baixo e vociferava rispidamente letras que traduziam em palavras a brutalidade levada a cabo pelo quarteto. Pense em um disco em que todas as músicas são de ótimas pra cima. Altars of Madness é dos raríssimos casos em que esse requisito é preenchido, mas exalto em especial a sequência inicial, com seis faixas para guardar na memória e nunca mais esquecer: “Immortal Rites”, “Suffocation”, “Visions from the Dark Side”, “Maze of Torment”, “Lord of All Fevers and Plagues” e “Chapel of Ghouls”. Melhor disco do Morbid Angel e só não é o melhor do gênero em si pois minha paixão pelo Death transcende meras avaliações. Digo mais: quem curtiu este álbum tem a obrigação de ouvir o primeiro álbum do Terrorizer, World Downfall, lançado no mesmo ano, com a presença de Sandoval e Vincent.
Eudes: Na boa, do que adiantaram milhões de anos de evolução para terminarmos nessa maçaroca pré-musical de batatinha quando nasce cantada com vocais guturais? Foi tudo em vão?
Fernando: Certamente a maior obra do death metal. Se você ouvir e não gostar dele, esqueça qualquer outra coisa dessa vertente do metal!
Leonardo: Não é a minha praia, mas a influência e a importância do Morbid Angel para toda a cena de metal extremo dos anos 1990 é inegável.
Mairon: Morbid Angel é uma boa banda, Altars of Madness um bom disco, mas será que Toy Dolls, Ramones e principalmente o QUEEN não merecia mais chance do que um disco mais do mesmo? A estreia do grupo traz tudo aquilo que os “METALERO” gostam: podridão sonora, vocais guturais e muita velocidade. O quarteto norte-americano possui técnica e cria boas faixas no estilo, das quais destaco “Blasphemy”, “Immortal Rites”, “Maze of Torment” e “Evil Spells”, mas para melhor de 1989? Cara, sinceramente, mais um disco de METÁU nesta lista, tinha necessidade? Aff…
Ulisses: Para a maioria das pessoas, Altars of Madness é apenas um monte de riffs aleatórios e solos que soam como o arranhar de um gato em um quadro negro. Mas logo meu cérebro se acostumou e conseguiu decodificar o disco, e percebi que composições como “Visions from the Dark Side” e “Blasphemy” são cativantes e que Pete Sandoval é um monstro, conduzindo com maestria quaisquer nuances que apareçam no disco – como, por exemplo, o desenvolvimento de “Chapel of Ghouls”. Vicent é um ótimo vocalista para o estilo, com um registro carniçal que está mais para o black do que para o death metal. Já a dupla Azagthoth e Brunelle tem uma dinâmica complementar, trazendo uma miríade de riffs perversos, mas nenhum solo memorável. Só acho um pouco estranho que o death metal tenha estreado aqui entre os “Melhores” com Morbid Angel e não com um dos dois primeiros álbuns do Death.

10 Sonic Temple
The Cult – Sonic Temple (26 pontos)
Alissön: Devido a uma série de infortúnios e contratempos, não tive a oportunidade de ouvir devidamente este disco para dar um parecer crítico sobre ele. Deixo aos meus colegas a missão de debater sobre os méritos de sua entrada na lista.
André: Há anos eu não ouvia este disco. E eu não me lembrava que era um hard rock tão bom assim. Tirando “Soldier Blue” como único ponto baixo, o hit “Fire Woman” é empolgante com aquele baixo pulsando firme e Ian cantando muito. “Soul Asylum” é mais lenta e bem trabalhada, com um riff simples de guitarra e com a cozinha de baixo e bateria apoiando muito bem. Valeu a audição.
Ben: Classe. Essa palavra resume bem o que o The Cult fez com Sonic Temple. Hard rock cuja maturidade ia muito além do que era feito pela imensa maioria das bandas na segunda metade da década de 1980. Ao longo da audição pipocavam referências de tudo o que os ingleses haviam feito até então, com a coisa toda bem construída e amarrada. “Fire Woman” e “Edie (Ciao Baby)” foram hits óbvios, mas o repertório é irretocável, e tenho como preferida “Sweet Soul Sister”. Um discaço que não possui glamour e é atemporal.
Bernardo: Sou indiferente demais ao The Cult para poder comentar. Não me desagrada totalmente, mas também esqueço logo depois de ouvir.
Bruno: Em Sonic Temple o Cult conseguiu unir o hard cru e festeiro de Electric(1987) com a atmosfera mais densa de seus primórdios góticos. Um belíssimo disco de rock pesado, em que o monstruoso Billy Duffy brilha mais uma vez, não só com seus riffs e solos, mas com todo o trabalho de guitarras, que dão todo o clima do disco.
Davi: Trabalho espetacular que dá continuidade para aquela pegada mais hard rock que já havia sido trabalhada em seus álbuns anteriores (especialmente no ótimo Electric). Billy Duffy sempre foi um musico de extremo bom gosto, tanto para timbres quanto para a criação. Ian Astbury é dono de um timbre de voz inconfundível, além de ter uma ótima presença de palco. Sonic Temple, além da balada “Eddie (Ciao Baby)” – que tocou tanto na rádio que muitos não aguentam mais ouvir –, trazia outras faixas extremamente memoráveis, como “Fire Woman”, “Sun King” e “Sweet Soul Sister”. E, por incrível que pareça, tudo melhoraria ainda mais com o disco que viria a seguir, o fantástico Ceremony (1991).
Diogo: A maneira como o The Cult evoluiu foi natural, mas marcante, sendo possível imaginar uma linha bem estabelecida entre Love (1985) e Sonic Temple, funcionando Electric (1987) como uma ponte entre essa dupla, harmonizando a relação e tornando as coisas mais fáceis para os ouvintes. A pegada mais gótica e inegavelmente oitentista deu lugar a uma sonoridade menos datada, que soa atual mesmo 26 anos depois, também graças à produção de um certo Bob Rock, que começava a fazer seu nome no meio e teria seus préstimos requisitados por muita gente grande. A capa do disco, com Billy Duffy em destaque, denota quem é o grande dono do disco, pois das mãos do guitarrista brotam linhas musculosas que conduzem o ouvinte por caminhos seguros. Na bateria, a presença do contratado Mickey Curry (Bryan Adams, Hall & Oates) também é garantia de solidez, oferecendo terreno fértil para que o vocalista Ian Astbury coloque os bofes para fora em grandes canções como “Sun King”, “American Horse” e “Soul Asylum”. Os hits? Sensacionais, com ênfase para a contagiante “Fire Woman”, apesar de “Edie (Ciao Baby)” e “Sweet Soul Sister” também serem ótimas. Sonic Temple entrega hard rock com peso, bons arranjos, classe e um pé fincado no blues. Discão.
Eudes: Bom disco, muito melhor do que a mescla de pós-punk e rock pesado chatinha que faziam no começo da carreira. A opção por cair de boca no hard rock foi super acertada, como provam faixas bacanudas como “Sun King”, “Sweet Soul Sister”, “Automatic Blues” e, sobretudo, a ótima “Lay Down Your Gun”. Curiosamente, a faixa com Iggy Pop talvez seja a mais chata do disco… Não, não, tem a inevitável balada épica, “Edie (Ciao Baby)”. Por que será que bandas de hard rock se acham na obrigação de gravar essas baladas em todo disco?
Fernando: Ótimo album! Daqueles para ouvir até o fim e começar de novo. Claro que o grande destaque é a excelente “Edie (Ciao Baby)”, mas faixas como “Sun King” (ótima introdução), “Fire Woman” e “Sweet Soul Sister” são pérolas.
Leonardo: O melhor disco do The Cult. Produzido por Bob Rock, o grupo adicionou um pouco mais de peso e distorção à sua sonoridade, aproximando-se do hard rock norte-americano. E o resultado foi excelente. Os riffs de Billy Duffy ficaram ainda mais fortes e em evidência, como pode ser ouvido em “Fire Woman”. Mas os vocais de Ian Astbury continuavam a beirar o insuportável…
Mairon: Quando o The Cult deu as caras por aqui na malfadada edição dedicada a 1985, ele foi uma flor de lótus entre o monte de merd@ que nela entrou. Já em 1989, com Sonic Temple, o The Cult só vem agregar e provar que, no final da década de 1980, o rock pesado estava produzindo grandes álbuns voltados para um novo mercado de fãs, caminhando para o que veio a ser o auge no ano de 1991, com os inquestionáveis lançamentos de Guns N’ Roses e Metallica. Ponto para Billy Duffy detonando em “Fire Woman”, talvez a canção mais conhecida do álbum, na pancada “American Horse” e na longa “Soul Asylum”, uma ovelha negra de lãs macias e confortáveis na discografia do The Cult, apresentando um belo arranjo de cordas, presente também em “Edie (Ciao Baby)”, o grande clássico do álbum, que tornou-se obrigatório nos shows. Sonic Temple nos convida para soltar a voz em “Automatic Blues”, “Sweet Soul Sister”, “Wake Up Time for Freedom” e “Sun King”, e o único momento mais fraco é “Soldier Blue”, devido à sua simplicidade e excesso de repetição do refrão. A participação de Iggy Pop nos vocais de “New York City” é um atrativo a mais neste bom disco. Não é o melhor álbum do The Cult, mas por pouco não ficou na minha lista de melhores desse ano. Sua presença é extremamente bem vinda, e fica a expectativa para que Ceremony, esse sim o grande trabalho do grupo, também esteja presente na edição dedicada a 1991.
Ulisses: Devo ter esgotado toda a minha cota de The Cult em Love, pois desta vez não tive muito saco para ouvir a banda. O disco passou e as canções pareciam um emaranhado homogêneo de power chords, riffs e linhas de baixo pipocantes, em que um ou outro momento emergiam à superfície e não me deixavam dormir, como em “New York City” e na metade final de “Fire Woman”. Em compensação, notei que o guitarrista parece ter melhorado bastante, a ponto de figurar na capa do álbum…

Listas individuais
Alissön Caetano Neves11 Djam Leelii
  1. Baaba Maal & Mansour Seck – Djam Leelii
  2. Beastie Boys – Paul’s Boutique
  3. Aerosmith – Pump
  4. New Order – Technique
  5. Faith No More – The Real Thing
  6. Nirvana – Bleach
  7. Voivod – Nothingface
  8. Ratos de Porão – Brasil
  9. Morbid Angel – Altars of Madness
  10. Mötley Crüe – Dr. Feelgood

André Kaminksi12 Rock in Motion
  1. Sepultura – Beneath the Remains
  2. Quade – Rock in Motion
  3. Decadence – Gangs and Victims
  4. Great White – …Twice Shy
  5. Tresspass – The Final Act
  6. Pulsar – Görlitz
  7. Tim Karr – Rubbin’ Me the Right Way
  8. Annihilated – The Ultimate Desecration
  9. Quasar – The Loreli
  10. Annihilator – Alice in Hell

Ben Ami Scopinho13 The Mind Is a Terrible Thing to Taste
  1. W.A.S.P. – The Headless Children
  2. The Cult – Sonic Temple
  3. Skid Row – Skid Row
  4. Ministry – The Mind Is a Terrible Thing to Taste
  5. Savatage – Gutter Ballet
  6. D-A-D – No Fuel Left for the Pilgrims
  7. Annihilator – Alice in Hell
  8. Pestilence – Consuming Impulse
  9. Faith No More – The Real Thing
  10. Badlands – Badlands

Bernardo Brum14 The Stone Roses
  1. Pixies – Doolittle
  2. The Stone Roses – The Stone Roses
  3. No Means No – Wrong
  4. Faith No More – The Real Thing
  5. De La Soul – 3 Feet High and Rising
  6. Nirvana – Bleach
  7. Ministry – The Mind Is a Terrible Thing to Taste
  8. Tom Petty – Full Moon Fever
  9. Nine Inch Nails – Pretty Hate Machine
  10. Lou Reed – New York

Bruno Marise15 Brasil
  1. Pixies – Doolittle
  2. Ratos de Porão – Brasil
  3. The Wedding Present – Bizarro
  4. Red Hot Chili Peppers – Mother’s Milk
  5. Gorilla Biscuits – Start Today
  6. Faith No More – The Real Thing
  7. Lou Reed – New York
  8. Toy Dolls – Wakey Wakey
  9. Beastie Boys – Paul’s Boutique
  10. Ramones – Brain Drain

badlands1Davi Pascale
  1. Faith No More – The Real Thing
  2. Aerosmith – Pump
  3. Madonna – Like a Prayer
  4. Badlands – Badlands
  5. Red Hot Chili Peppers – Mother’s Milk
  6. The Cult – Sonic Temple
  7. Tears for Fears – The Seeds of Love
  8. Sepultura – Beneath the Remains
  9. Lenny Kravitz – Let Love Rule
  10. Soundgarden – Louder than Love

Diogo Bizotto17 Death or Glory
  1. Morbid Angel – Altars of Madness
  2. Skid Row – Skid Row
  3. Sepultura – Beneath the Remains
  4. Running Wild – Death or Glory
  5. Pestilence – Consuming Impulse
  6. Faith No More – The Real Thing
  7. Kreator – Extreme Aggression
  8. Blue Murder – Blue Murder
  9. Madonna – Like a Prayer
  10. Terrorizer – World Downfall

Eudes Baima18 Oh Mercy
  1. Faith No More – The Real Thing
  2. Bob Dylan – Oh Mercy
  3. Neil Young – Freedom
  4. Titãs – Õ Blésq Blom
  5. XTC – Oranges & Lemons
  6. Tom Petty – Full Moon Fever
  7. Roy Orbison – Mistery Girl
  8. Elvis Costello – Spike
  9. Soundgarden – Louder Than Love
  10. Felt – Me and a Monkey on the Moon

Fernando Bueno19 Dr. Feelgood
  1. Viper – Theatre of Fate
  2. Sepultura – Beneath the Remains
  3. Mötley Crüe – Dr. Feelgood
  4. Faith No More – The Real Thing
  5. Exodus – Fabulous Disaster
  6. Skid Row – Skid Row
  7. Aerosmith – Pump
  8. King Diamond – Conspiracy
  9. Annihilator – Alice in Hell
  10. Sodom – Agent Orange

maxresdefault (1)Leonardo Castro
  1. Skid Row – Skid Row
  2. Overkill – The Years of Decay
  3. W.A.S.P. – The Headless Children
  4. Sepultura – Beneath the Remains
  5. Viper – Theatre of Fate
  6. Mötley Crüe – Dr. Feelgood
  7. Exodus – Fabulous Disaster
  8. Kreator – Extreme Aggression
  9. Running Wild – Death or Glory
  10. Pretty Boy Floyd – Leather Boyz With Electric Toyz

Mairon Machado21 The Miracle
  1. Madonna – Like a Prayer
  2. Queen – The Miracle
  3. Viper – Theatre of Fate
  4. Toy Dolls – Wakey Wakey
  5. Faith No More – The Real Thing
  6. Nenhum de Nós – Cardume
  7. Ramones – Brain Drain
  8. Badlands – Badlands
  9. Black Sabbath – Headless Cross
  10. Bob Dylan – Oh Mercy

Ulisses Macedo22 Foreign Affair
  1. Viper – Theatre of Fate
  2. Tina Turner – Foreign Affair
  3. Annihilator – Alice in Hell
  4. Candlemass – Tales of Creation
  5. King Diamond – Conspiracy
  6. Black Sabbath – Headless Cross
  7. Faith No More – The Real Thing
  8. Sepultura – Beneath the Remains
  9. Coroner – No More Color
  10. Mr. Big – Mr. Big
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