terça-feira, 25 de setembro de 2012

Review Exclusivo: Bacamarte (Rio de Janeiro, 22/09/2012)





Existem fatos, acontecimentos, coisas em geral que nós pensamos: "Isso nunca vai acontecer!". O retorno do grupo Bacamarte, tendo na linha de frente o trio Jane Dubóc (vocais), Mario Neto (guitarras, violões, vocais) e Marcus Moura (flauta), o mesmo que gravou o clássico Depois do Fim, em 1983, era algo impossível, imaginável apenas na mente dos mais fanáticos.

Afinal, a saída conturbada de Jane, que seguiu (e segue) uma carreira solo muito solidificada, era o pilar base para que nada, nem se quer um resquício do Bacamarte que gravou Depois do Fim, pudesse existir, apesar de Mário Neto sempre afirmar que nunca houve desentendimento nenhum.

Mas eis que surge o nome do produtor Cláudio Fonzi, e uma incansável busca pela união do trio começou a crescer através deste que é um dos maiores fãs do grupo, e responsável por agitar o cenário progressivo no Rio de Janeiro.

Mario Neto e Jane Duboc
Depois de muitas conversas, discussões, tratativas, eis que vinte e nove anos depois Jane e Mário deixaram as indiferenças de lado, fizeram as pazes e toparam participar de um retorno exclusivo, fazendo um único show na noite de encerramento da terceira edição do Rio Prog Festival, que contou na noite de abertura com a Martin Turner's Wishbone Ash.

A alegria e expectativa por ver o trio aumentou ainda mais quando foi divulgado o set list do único show. O álbum Depois do Fim seria interpretado na íntegra, e canções do raro segundo álbum do grupo (o ótimo Sete Cidades, de 1999) seriam apresentadas com a voz de Jane.

Muita gente duvidou, muita gente caiu em prantos, muita gente vendeu o que tinha e o que não tinha, mas o fato é que na noite do dia 22 de setembro de 2012, o Teatro Rival foi pequeno diante da multidão de fãs que lotaram o local, comprovadamente minúsculo perto do gigantismo do Bacamarte.

Marcus Moura e Mário Neto

Eram 20:30 horas quando Mário Neto colocou seu pé no palco, seguido por Alex Curi (bateria), Nilo Rafael (teclados), Marcus Moura (flauta, acordeão, efeitos), William Murray (baixo) e Mr. Paul (percussão), os dois últimos ex-membros do Bacamarte, participantes de Depois do Fim, e sem piedade, detonaram "UFO", faixa de abertura do disco homenageado da noite.

Apesar dos problemas no som (que geraram muitas discussões pós-show), a abertura estremeceu o local, e bastou os primeiros acordes de "Smog Alado", com a entrada triunfal de Jane, para todos aplaudirem em pé o trio citado acima.

Jane demonstrou confiança, continuando com sua linda voz praticamente intacta, enquanto Mário, sempre perfeccionista, soltava sorrisos entre as intrincadas linhas da canção. Foi muito legal ver Jane de olhos fechados, com um sorriso nos lábios, curtindo as canções que revelaram ela ao mundo há trinta anos.

"Miragem" manteve a sequência original de Depois do Fim, ainda com o som bastante embolado, e a flauta praticamente inaudível, e eis que o encerramento do Lado A de Depois do Fim ocorre. Talvez a canção mais admirada pelos fãs do grupo, a expectativa era geral para a audição de "Pássaro de Luz", tudo por que nela, Mario e Jane iriam dividir o palco sozinhos, com uma breve participação de Murray no violoncelo.

O trio Marcus Moura, Jane Duboc e Mário Neto

A emoção de Jane e Mario foi incontrolável, e a apresentação de "Pássaro de Luz" arrancou lágrimas de mais da metade do Teatro. O abraço dado pela dupla após a canção mostrou como a música é capaz de superar brigas, intrigas e questões pessoais, e principalmente, o sorriso nas faces de ambos os músicos entregava quão satisfeitos estavam eles em estar no palco.

Moura empunhou o acordeão para interpretar "Caño", seguida pela maravilha prog "Último Entardecer", a qual lançou este que vos escreve para dimensões que somente uma canção tão linda quanto essa conseguem atingir. Incrível! Essa canção em especial me fez vibrar como uma criança, tamanha a perfeição  de cada nota executada pelo grupo. Mais lindo de ver (e ouvir) era o silêncio de todo o teatro, apreciando o espetáculo com fidelidade, e vibrando muito ao final de cada canção.

Vieram ainda "Controvérsia" e "Depois do Fim", e o álbum Depois do Fim era concluído, com o grupo saindo do palco para um pequeno intervalo.

Enquanto os fãs colocavam os queixos de volta no lugar, ficava a expectativa se o álbum Sete Cidades também seria interpretado na íntegra, e como soaria as canções do mesmo na voz de Jane. Após quinze minutos, uma nova banda subiu ao palco, com Robério Molinari (teclados), Alex Curi (bateria), Vitor Trope (baixo),  além de Marcus, Mário e Jane.

A dupla, durante "Filhos do Sol"


Se existia alguma dúvida do que iria acontecer com as canções de Sete Cidades, ela acabou logo nas primeiras notas de "Portais", dizendo aos fãs: "Preparem-se para a perfeição!". Mário Neto é um dos maiores guitarristas que eu já vi tocar, e olha que eu já vi muito guitarrista. O estilo dele é único. Tocando seu instrumento somente com um dedilhado, sem palhetas, ele executa escalas velozes, acordes complicados e esbanja técnica, seja de música clássica, seja de jazz, seja do estilo que for, e "Portais" foi uma amostra perfeita disso. A linda introdução no violão clássica foi executada perfeitamente, e não parece que Mário ficou tanto tempo sem tocar essas canções. Além de tudo, criar algo tão belo quanto a introdução de "Portais" revela ainda mais o talento desse injustiçado músico brasileiro.

Jane e Mário cantaram juntos "Filhos do Sol", a qual, por causa dos problemas no som, resolveram cantar novamente, aplaudidos em pé pela atitude. Como o próprio Mário falou: "Estamos aqui para mostrar para vocês as canções com a mais pura perfeição, e portanto, como não ouvimos nada, vamos tocá-la de novo!". E assim foi, tocada mais uma vez "Filhos do Sol", agora com a audição perfeita.

Mário durante "Mirante das Estrelas"
"Espírito da Terra" arrepiou à todos com seus ventos, e com a voz de Jane soando como o vôo suave de uma borboleta, e quando Mário empunhou a guitarra de dois braços, todos no teatro sabiam que era hora da épica "Mirante das Estrelas", outra grandiosa composição de Mário Neto, dando show no pedal de volume, e com uma velocidade incrível na mudança dos acordes.

A segunda parte do show encerrou-se com a canção que conclui Sete Cidades, a extremamente complicada "Canto da Esfinge", apresentada com seus mais de onze minutos sendo tocados perfeitamente, e ninguém, mas ninguém conseguia parar de aplaudir e gritar por mais. Uma pena que o som não estivesse tão bom, e que "Ritual da Fertilidade" tenha ficado de fora, mas mesmo assim, o ingresso já tinha sido pago com sobras.

Encerramento do show

Timidamente, Mário e o grupo voltou para mandar ver em uma versão pesadíssima de "Smog Alado", e quando já estavam deixando o palco mais uma vez, eis que Mário volta e diz: "Vamos fazer 'Pássaro de Luz' mais uma vez", atendendo aos pedidos exaltados da plateia, que ficou aind amais satisfeita quando Jane convidou à todos para cantarem juntos.

Com lágrimas e sorrisos, o grupo despediu-se dos fãs. Nos camarins, Jane e Mário receberam as dezenas de fãs com muita simpatia, e era visível a emoção de Mário pela quantidade de elogios. Jane foi extremamente atenciosa, em nada parecendo a super-estrela que é, com uma humildade incrível, beijando os fãs, tirando fotos e tendo muita paciência com alguns mais passadinhos.

Bolha e Jane Duboc
E quanto ao Bacamarte, bom, como disse Claudio Fonzi após o show: "Era mais fácil juntar o Yes com Steve Howe, Jon Anderson, Bill Bruford, Chris Squire e Rick Wakeman para tocar todo o Close to the Edge do que ver eles tocando de novo!".

Um espetáculo inesquecível, registrado na mente de mais de seiscentas pessoas, que na noite do dia vinte e dois de setembro, presenciaram um milagre no Rio de Janeiro. 

Quem viu, viu!

Autógrafos
Set list

1. UFO
2. Smog Alado
3. Miragem
4. Pássaro de Luz
5. Caño
6. Último Entardecer
7. Controvérsia
8. Depois do Fim

Intervalo

9. Portais
10. Filhos do Sol (Versão I)
11. Filhos do Sol (Versão II)
12. Espírito da Terra
13. Mirante das Estrelas
14. Carta
15. Canto da Esfinge

Bis

16. Smog Alado
17. Pássaro de Luz

Os 40 anos de Vol. 4



Uma capa marca muito a carreira de uma banda. Sticky Fingers (Rolling Stones), IV (Led Zeppelin), The Number of the Beast (Iron Maiden), Thick as a Brick (Jethro Tull), Todos os Olhos (Tom Zé) são alguns exemplos de capas que registraram um determinado álbum não só pelas canções, mas também por sua arte visual. 

O Black Sabbath nunca teve capas muito legais durante seus primeiros anos. A famosa bruxa do álbum de estreia, é talvez a capa mais lembrada por todos. Mas, há 40 anos, uma capa marcou época, e fez com que o nome Black Sabbath finalmente tornasse um dos maiores no cenário mundial do heavy metal, ao lado do Led Zeppelin e do Deep Purple. Estou falando de Vol. 4, o quarto LP do grupo.

Esse álbum é o primeiro grande divisor da carreira do Black Sabbath. Gravado entre junho e agosto de 1972 na cidade de Los Angeles, Califórnia, Vol. 4 registrou Bill Ward (bateria), Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarras) e Geezer Butler (baixo) no auge de suas harmonias individuais, e também em um crescendo coletivo impressionante. 


Geezer Butler e Tony Iommi (acima);
Bill Ward e Ozzy Osbourne (abaixo)

Ao mesmo tempo, foi a partir dele que as brigas internas começaram, principalmente pelo abuso no uso de drogas por Ozzy. Durante a gravação de "Cornucopia" chegou a fazer com que o baterista Bill Ward fosse despedido por algumas horas, sendo re-admitido no grupo após o efeito das drogas ter passado.

Durante os quarenta e três minutos desse magistral LP, o grupo apresenta experimentalismo e claro, muito peso. Isso gerou diversos clássicos, e ainda, mostrou o caminho que o grupo estava por seguir em seus próximos quatro álbuns.

O álbum abre com o riff melodioso de “Wheels of Confusion”, com Iommi sobrepondo guitarras em um andamento lento, puxando um riff mais pesado que traz a voz de Ozzy. Destaque para o acompanhamento de Ward. Baixo e guitarra criam uma pequena ponte e a letra continua, com o ritmo arrastado do riff pesado, retornando para a ponte feita por baixo e guitarra, com diversas viradas de bateria. Iommi então comanda um novo ritmo, feito juntamente por Butler, enquanto Ward solta os braços dando velocidade para a canção. Temos uma longa sessão instrumental, na qual Iommi vai criando riffs entre diversos efeitos, enquanto baixo e bateria apenas marcam o tempo. 

Batidas nos pratos levam ao segundo riff principal, e então, Ozzy chega ao refrão da canção, cantado enquanto Iommi executa um melodioso tema ao fundo. A ponte é repetida, e voltamos para o ritmo arrastado, para Ozzy encerrar a letra, e a canção ser concluída em uma longa sessão instrumental, apelidada de “The Straightener”, a qual apresenta o riff marcante de baixo e guitarra, e, com uma excelente marcação da bateria, Iommi executar um grandioso solo de guitarras sobrepostas, abrindo magnificamente Vol. 4

A segunda faixa é a pesada “Tomorrow’s Dream”, com o riff de baixo e guitarra que foi copiado por diversas bandas stoner anos depois. Ozzy canta com sua voz esganiçando, e novamente, Butler, Ward e Iommi criam uma interessante ponte. A letra continua, repetindo então o riff inicial e chegando em uma parte mais melodiosa, onde dedilhados de violão acompanham os acordes de guitarra, o vocal e as batidas nos pratos. A ponte é repetida, para Iommi e Butler começarem um breve solo juntos, voltando então para a ponte, e então, Ozzy encerrar a letra, com a canção sendo concluída com mais uma repetição da ponte central. 

A clássica “Changes” aparece na sequência. O piano de Rick Wakeman e o baixo de Butler traz a voz de Ozzy, chorosa, cantando uma das letras mais conhecidas da história das baladas metálicas. A bonita participação do mellotron nessa canção é uma demonstração que o Black Sabbath flertava (por que não) com o rock progressivo, o que se consolidaria principalmente em “Who Are You?” (Sabbath Bloody Sabbath), “Megalomania” e “The Writ” (ambas de Sabotage). Balada super reconhecida, que não precisa muito mais do que isso para defini-la ao leitor. 

A vinheta “FX”, outra a flertar com o progressivo, sendo somente microfonias e barulhos da guitarra de Iommi, leva-nos para o encerramento do lado A com “Supernaut”, surgindo com a marcação da bateria, trazendo o riffzão mais que pesado da guitarra e do baixo. A perfeição das notas de Butler e Iommi é algo mais do que suficiente para sair pulando pelo quarto. Ozzy solta a voz, e o embalo dessa faixa é perfeito para uma festa. O riff inicial é repetido, e Ozzy continua a letra, levando ao rápido solo de Butler, repleto de arpejos, executado sobre o riff inicial, o qual leva para um sambão feito por violão e percussão, com show a parte de Ward, voltando então para a conclusão da letra, e com o riff mais que grudado na cabeça do ouvinte. 


O famoso selo da Vertigo de Vol. 4

O lado B começa com outro riff magistral, agora o de “Snowblind”, voltando ao peso de “Tomorrow’s Dream” e com Ozzy cantando com fúria. A canção muda, ganhando um dedilhado da guitarra, e Ozzy cantando mais arrastado. Iommi executa um solo com muitos bends, e assim, voltamos ao riff inicial, para sozinho, Iommi puxar um novo riff, mais veloz, com Ward pisoteando o bumbo e Ozzy cantando na mesma melodia, voltando então ao riff inicial, e com mais uma participação de Wakeman, agora nos sintetizadores, Iommi concluir a canção com um solo veloz e técnico. 

“Cornucopia” é o maior exemplo do peso que Iommi, Butler e Ward exalavam de seus instrumentos, com uma potência capaz de destruir uma locomotiva em seu riff inicial. O riff principal é veloz, acompanhando a voz arrastada de Ozzy e com um show de marcações nos pratos. Iommi e Butler brincam de criar melodias durante o refrão, seguindo a pancadaria que acompanha a letra. Repentinamente, a canção ganha ainda mais peso, com uma ponte instrumental na qual Ward detona os gongos, e assim, um riff veloz levar a segunda parte da canção. Ozzy passa a cantar debochadamente, e claro, o destaque vai para a linha sonora feita por baixo e guitarra. Voltamos ao riff central, encerrando a letra e a canção com a repetição do refrão. 

Iommi mostra que é talentoso não somente na guitarra, mas também no violão, fazendo o solo da linda instrumental “Laguna Sunrise”, a qual possui apenas o violão fazendo a base no canal esquerdo, Iommi solando com o violão no canal direito e o mellotron preenchendo ambos os canais. Belíssima canção, e dentre os solos de violão registrados nos discos do Black Sabbath, sem dúvida nenhuma o mais bonito. 

Vol. 4 ainda nos brinda com um curto rock dançante, batizado de “St. Vitus Dance”, onde o maior destaque vai para a sujeira na distorção da guitarra, assim como a voz de Ozzy estar muito aguda na mesma, sendo uma canção que parece ter caído de gaiato no LP, não estando no mesmo patamar das demais, e encerra-se com outra linda pérola do cancioneiro Sabbathiano, “Under the Sun”. 



 
A capa interna original (acima) e o sleeve extra (três figuras abaixo)
Emblemática, ela surge arrastada, com baixo e guitarra carregados de distorção, enquanto Ward executa viradas satânicas em seu instrumento. O peso inicial é avassalador, e Iommi ameniza isso com um riff cavalgado, repetido pelo baixo e com uma pancada atrás da outra nos pratos de Ward. Ozzy passa a cantar a letra, e a primeira estrofe é concluída com uma breve ponte executada apenas pela guitarra. A letra é retomada, e depois de mais uma estrofe, a canção ganha velocidade. 

O riff de baixo e guitarra acompanham os vocais de Ozzy, que são intercalados por diversos rolos de bateria. Depois de dois versos, Iommi apresenta-nos um solo veloz, voltando então para o peso inicial da canção.Ozzy canta a última estrofe da letra, e finalmente, após a ponte da guitarra, chegamos no momento mais bonito de Vol. 4, no qual, após batidas nos gongos, e sobre um crescendo de batidas na caixa, Iommi cria um tema emocionante em escalas menores, repetido pelo baixo, do qual ele salta com um fenomenal solo de guitarras sobrepostas, encerrando essa maravilhosa canção com o tema repetido por três vezes, diminuindo a velocidade e sempre com intervenções de uma escala de guitarra para cada fraseado. 


Geezer Butler, Bill Ward, Ozzy Osbouner e Tony Iommi
Um disco bastante eclético, que guinou a direção do Black Sabbath para novos caminhos, os quais culminariam com a saída de Ozzy em definitivo seis anos depois.

Claro que não foi só a capa de Vol. 4, com Ozzy e os famosos dedos levantados na posição "Paz e Amor" que marcaram Vol. 4. Mesmo a versão original,que vinha acompanhada com um livreto recheado de fotos, não é o principal atrativo. Afinal, esse conjunto de dez canções é essencial para qualquer apreciador de rock em geral. Quarenta anos depois, Vol. 4 ainda soa como novidade em muitas casas mundo afora, até mesmo em casas que já conhecem o LP.

Track list

1. Wheel of Confusion
2. Tomorrow's Dream
3. Changes
4. FX
5. Supernaut
6. Snowblind
7. Cornucopia
8. Laguna Sunrise
9. St. Vitus Dance
10. Under the Sun

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Review Exclusivo: Martin Turner's Wishbone Ash (Rio de Janeiro, 21/09/2012)





A terceira edição do Rio Prog Festival ocorreu nesse último fim de semana, e claro, o Consultoria do Rock não podia ficar fora dessa. As atrações do festival ficaram por conta da versão revisitada do Wishbone Ash, intitulada Martin Turner's Wishbone Ash, e o re-encontro, após quase trinta anos, do grupo carioca Bacamarte, com Mario Neto e Jane Duboc interpretando na íntegra o álbum Depois do Fim, lançado em 1983 e considerado um dos melhores trabalhos do rock progressivo mundial em todos os tempos.

O festival começou na sexta-feira, dia 21 de setembro, debaixo de muita água. Choveu durante dois dias seguidos no Rio de Janeiro, e chuvas fortes alagaram o centro da cidade. A região do Teatro Rival Petrobrás, local escolhido para sediar os shows, ficou completamente alagada.

Entre trancos e barrancos, o show da Martin Turner's Wishbone Ash começou com quase uma hora de atraso. A Martin Turner's Wishbone Ash é uma versão recriada pelo baixista Martin Turner em 2004, e vem divulgando as velhas e clássicas canções do grupo britânico desde então. 

Ray Hatfield, Martin Turner e Danny Wilson

A atual formação do grupo conta com Turner (baixo, vocais), Ray Hatfield (guitarra, vocais), Danny Wilson (guitarra, vocais) e Dave Wagstaffe (bateria), e a banda é exatamente um contra-ponto ao Wishbone Ash original, que está na ativa, com o guitarrista Andy Powell comandando o grupo em shows e inclusive lançando álbuns, sendo o mais recente o bom Elegant Stealth, lançado esse ano.

Já o Martin Turner's Wishbone Ash veio ao Brasil com a turnê No Easy Road - Live Dates, que irá passar por São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, após uma série de lançamentos trazendo regravações para clássicos do Wishbone Ash original, lançadas nos álbuns New Live Dates: Volume One (2006), New Live Dates: Volume Two (2007) e Argus - Through the Looking Glass (2008).

Martin Turner e sua tradicional jaqueta branca com inscrições
No Rio, diante do pequeno teatro, completamente lotado (creio que com aproximadamente 600 pessoas), a expectativa ficava por conta da apresentação na íntegra do álbum Argus, talvez o mais conhecido disco do grupo, e que completou quarenta anos em 2012.

Martin subiu ao palco com a sua tradicional jaqueta branca, repleta de inscrições, e ele e cia. começaram o show de forma fria, trazendo canções um pouco que desconhecidas da carreira do Wishbone Ash. "Why Don't We", "Lady Jay", "Front Page News" e  "Ballad of the Beacon" aqueceram em banho-maria o público, que somente a partir de "Rock 'n' Roll Widow" começou realmente a esquentar, e o gordinho Ray começou a soltar seus dedos. 

Na sequência tivemos a longa "The Way of the World", e uma magistral versão para "The Pilgrim", que arrepiou muita gente. A perfeição do complicado riff principal da canção, que deixa muitos fãs de Robert Fripp indignados pela complexidade Crimsoniana do mesmo, abriu sorrisos e arrancou lágrimas desse que vos escreve. Além disso, as vocalizações centrais foram entoadas aos berros pela plateia, deixando o grupo bem mais a vontade em cima do palco.

Ray e Danny, as guitarras gêmeas do Martin Turner's Wishbone Ash
Reproduzindo fielmente os solos originais,Ray formou uma bela dupla com Danny, que é um pouco mais concentrado em fazer sua parte, enquanto Ray brinca, pula, dá risadas e bebe muito durante cada canção. Os dois fizeram muito bem a parte das guitarras gêmeas, e encantaram aos presentes com a perfeição de seus solos e muita simpatia.

A primeira parte do show encerrou-se com "No Easy Road", e ficamos todos aguardando o retorno, com a tão prometida apresentação de Argus na íntegra. 

Martin Turner
Após vinte minutos, a banda retornou, e começou assim quarenta minutos de louvor à um dos álbuns mais belos que o ser humano já gravou. "Time Was" abriu perfeitamente essa sessão de louvor, sendo reproduzida nota por nota. Ouvir as vozes de Martin, Ray e Danny interpretando esse clássico foi um dos momentos principais da noite, e os solos foram perfeitos.

Vieram "Sometime World" e uma pequena inversão na ordem das canções, com o grupo mandando ver em "The King Will Come". A partir de então, o teatro ficou em pé para acompanhar palavra por palavra a linda "Leaf and Stream" (outra que arrancou muitas lágrimas da plateia), "Warrior" e "Throw Down the Sword", e a sequência de canções de Argus foi encerrada com o maior clássico do grupo, "Blowin' Free", a mais cantada da noite.

No Bis, enquanto Danny distribuia salgadinhos para a plateia, Martin agradeceu à todos, apresentou "No Easy Road" e uma longa versão para "Jail Bait", com solos arrepiantes de cada integrante (com exceção do próprio Martin), deixando o palco após mais de duas horas de apresentação com a sensação de termos visto um show perfeito.

Martin Turner e o bolha que vos escreve
Após, o grupo recebeu os fãs no camarim, e com muita simpatia, distribuiu autógrafos, tirou fotos e claro, comentou sobre o show, dizendo que foi o melhor da carreira do grupo. Se foi clichê ou não, somente eles sabem, mas que os fãs do Wishbone Ash sairam com esse mesmo pensamento, isso é fato.

A lamentar apenas o altíssimo preço das lembranças (sessenta reais a camiseta, cincoenta e cinco o DVD e cincoenta o CD), além da ausência de "Phoenix", mas que segundo o próprio Martin, irá ser incluída nos próximos shows da turnê. Pessoal de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, preparem-se portanto para uma noite de diferentes emoções, e a certeza de um grande espetáculo.

Autógrafos em vinis (acima);
o homenageado da noite, palheta de Ray e ingresso (abaixo)

Set list

1. Why Don't We
2. Front Page News
3. Lady Jay
4. Ballad of the Beacon
5. Rock 'n' Roll Widow
6. The Way of the World
7.  The Pilgrim
8. No Easy Road


Intervalo

8. Time Was
9. Sometime World
10. The King Will Come
11. Leaf and Stream
12. Warrior
13. Throw Down the Sword
14. Blowin' Free
15. Persephone

Bis

16. No Easy Road
17. Jail Bait

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Cinco Discos Para Conhecer: Tony Iommi



Assim como Ritchie Blackmore, o guitarrista Tony Iommi também não teve uma carreira muito diversificada. Com mais de quarenta anos na estrada, Iommi consagrou-se como o líder das seis cordas do Black Sabbath. Porém, sua breve carreira solo também gerou um material de qualidade. Unindo a discografia do Black Sabbath, a carreira solo e o único registro do Heaven and Hell, temos assim Cinco Discos para Conhecer Tony Iommi.

Black Sabbath - Black Sabbath [1970]

A estreia dos britânicos de Birmingham é um petardo. Se não é o melhor disco da carreira do grupo, é nele que Ozzy Osbourne (voz), Bill Ward (bateria), Geezer Butler (baixo) e Tony Iommi (guitarra) se revelam como seres influenciadores de gerações e gerações de músicos dentro do metal. Concentrando-se apenas na participação de Iommi, o guitarrista é o principal destaque, seja no blues de "Evil Woman Don't Play Your Games With Me" e "The Wizard", na pegada de "N. I. B." ou no aterrorizante riff de "Black Sabbath", uma pequena amostra da potencialidade criativa de Iommi. Ouvir o riff de "Behind the Wall of Sleep" e não sair pulando pela sala é algo impossível. Mas, se você quer se deleitar mesmo com a guitarra de Tony Iommi, parta para a sequência "Sleeping Village / Warning", o mais longo e complexo solo da carreira de Iommi, exalando criatividade, velocidade e técnica para virtuose nenhum botar defeito. A versão europeia e americana ainda nos traz "Wicked World", um ótimo complemento renegado aos brazucas na época de seu lançamento, mas que hoje pode ser ouvida dentro dos relançamentos em CD dessa bolacha essencial.

Ozzy Osbourne (vocais, harmônica), Tony Iommi (guitarras), Bill Ward (bateria), Geezer Butler (baixo)

1. Black Sabbath
2. The Wizard
3. Behind the Wall of Sleep
4. N. I. B.
5. Evil Woman don't Play Your Games With Me
6. Sleeping Village / Warning
7. Wicked World

Black Sabbath - Heaven and Hell [1980]

Depois da saída de Ozzy Osbourne, ninguém sabia qual seria o destino do Black Sabbath. As incursões prog-jazzísticas de Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die (1978) haviam afundado a carreira dos britânicos, que perderam credibilidade e principalmente, espaço. Eis que surge o nome do baixinho Ronnie James Dio, e com ele, a aura de solos e riffs de Tony Iommi é recapturada em outro álbum mais que essencial. A partir de Heaven and Hell, Iommi especializa-se em criar riffs cantáveis, marcantes e que, apesar da simplicidade dos mesmos, são verdadeiras preciosidades no heavy metal. Desde as mais desconhecidas ("Wishing Well", "Lady Evil" e "Walk Away") até as clássicas "Neon Knights" e "Heaven and Hell", Iommi apresenta seu variado menu de riffs, dedilhados e palhetadas. O maior destaque vai para a épica "Die Young", outro grandioso solo na carreira do bigodudo mais famoso do rock mundial. Complementam essa pérola a linda balada "Lonely is the World" (com um solo de guitarra capaz de arrancar lágrimas até de uma pedra) e a eterna "Children of the Sea", com Dio mostrando ao mundo que o Black Sabbath era possível de existir sem Ozzy Osbourne. 

Ronnie James Dio (vocais), Tony Iommi (guitarras), Bill Ward (bateria), Geezer Butler (baixo)

Músico adicional

Geoff Nichols (teclados)

1. Neon Knights
2. Children of the Sea
3. Lady Evil
4. Heaven and Hell
5. Wishing Well
6. Die Young
7. Walk Away
8. Lonely is the World

Iommi - Iommi [2000]

Durante quase toda a segunda metade da década de 90, Iommi ficou quase relegado a obscuridade, participando de uma que outra reunião do Black Sabbath (que gerou o ao vivo Reunion) e só. Na verdade, ele estava preparando o material para esse que se tornou seu primeiro álbum solo. Iommi demorou cinco anos para ser lançado, e quando chegou às lojas, não deixou pedra sobre pedra. Contando com a participação de diversos músicos convidados, Iommi conseguiu colocar na mídia um álbum que se por vezes lembra a sonoridade pesada do Black Sabbath, por vezes soa novo e inédito. Os grandes destaques ficam por conta da pesadíssima "Time is Mine", "Laughin Man (In the Devil Mask)" e a agitada "Black Oblivion".  Iommi brinca com eletrônicos e peso durante "Patterns", "Meat" e "Just Say No To Love", e até mesmo a parceria com Billy Idol ("Into the Night") merece destaque, sendo que o álbum ficou reconhecido por "Who's Fooling Who", com a participação de Bill Ward e Ozzy Osbourne, além do sino imitando "Black Sabbath" (porém sem a tempestade ao fundo). Particularmente, me agradam as canções com Brian May na guitarra ("Flame On" e "Goodbye Lament", essa carregada de efeitos), mas todo o álbum vale a pena ser ouvido, mostrando que o velhinho Iommi ainda tinha muitos riffs para tirar de sua cachola.

Tony Iommi (guitarras).

1. Laughing Man (In the Devil Mask)
2. Meat
3. Goodbye Lament
4. Time is Mine
5. Patterns
6. Black Oblivion
7. Flame On
8. Just Say No To Love
9. Who's Fooling Who
10. Into the Night

Músicos convidados

Henry Rollins (Vocais em 1)
Skin (Vocais em 2)
Dave Ghrol (Vocais em 3)
Phil Anselmo (Vocais em 4)
Serj Tarkan (Vocais em 5)
Billy Corgan (Vocais em 6)
Ian Astbury (Vocais em 7)
Peter Steele (Vocais em 8)
Ozzy Osbourne (Vocais em 9)
Billy Idol (Vocais em 10)
Terry Phillips (Baixo em 1)
Bob Marlette (Baixo em 2)
Laurence Cottle (Baixo em 3, 4, 5, 7, 8 e 9)
Billy Corgan (Baixo em 6, guitarra em 6)
Peter Steele (Baixo em 8)
Ben Shepherd (Baixo em 10)
Ace Martin Kent (Guitarra em 2)
Brian May (Guitarra em 3 e 7)
Jimmy Copley (Bateria em 1 e 5)
John Tempesta (Bateria em 2)
Dave Grohl (Bateria em 3)
Matt Cameron (Bateria em 4, 7, 8 e 10)
Kenny Aronoff (Bateria em 6)
Bill Ward (Bateria em 9)

Iommi - Fused [2005]

Em 1986, Iommi lançou o álbum Seventh Star sob o título de Black Sabbath. A ideia era de que esse fosse o primeiro álbum solo do guitarrista, mas por imposição da gravadora, o álbum teve que sair como Black Sabbath featuring Tony Iommi. Nos vocais, o nobre Glenn Hughes era o encarregado de comandar as letras. Quase vinte anos depois, a dupla reuniu-se para um trabalho que só podia dar certo, e logicamente, deu. A fusão do peso de Iommi com o soul de Hughes acaba satisfazendo os admiradores de ambos os artistas. Não espere nada parecido com o Black Sabbath ou com o Deep Purple. É uma mistura de estilos que vale cada centavo investido.  Algumas canções lembram bastante a atual carreira solo de Hughes, porém com os riffs inconfundíveis de Iommi, como "Dopamine", "Face You Fear" e "Saviour of the Real", e outras que são mais hardeiras, como "Wasted Again" e "What You're Living For". "Resolution Song", "The Spell" e "Grace" são carregadas de peso nos riffs e na pegada da cozinha. Ainda há espaço para a balada "Deep Inside Shell", mesmo com os riffs pesados de Iommi. O álbum encerra com uma das melhores canções da última década, a épica "I Go Insane", na qual Iommi mostra por que de ser tão venerado como guitarrista, e Hughes exprime toda sua categoria nos vocais. Uma ótima combinação, que infelizmente parou só nessa colaboração.

Tony Iommi (guitarras), Glenn Hughes (vocais, baixo), Kenny Aronoff (bateria), Bob Marlette (teclados, baixo)

1. Dopamine
2. Wasted Again
3. Saviour of the Real
4. Resolution Song
5. Grace
6. Deep Inside a Shell
7. What You're Living For
8. Face Your Fear
9. The Spell
10. I Go Insane

Heaven and Hell - The Devil You Know [2009]

Quando ninguém esperava, eis que Tony Iommi, Geezer Butler, Ronnie James Dio e Vinnie Appice aparecem novamente como um grupo. Por problemas legais, o nome Black Sabbath não pode ser usado, e assim, Heaven and Hell foi a alcunha protagonizadora de The Devil You Know. Esse álbum tem várias circunstâncias importantes, principalmente por ter sido o último registro de estúdio de Ronnie James Dio, mas vamos nos deter apenas na parte musical. Iommi e cia. retornam ao peso Sabbáthico, trazendo novos e marcantes riffs. O peso inicial de "Atom and Evil" já serve para mostrar que o quarteto está em ótima forma, em uma excelente canção, que daqui há alguns anos certamente será lembrada como clássicos do porte de "Heaven and Hell" ou "Mob Rules". Outras pesadíssimas são "Follow the Tears", "Breaking into Heaven" e "The Turn of the Screw", apesar da levada simples de Appice nessa última, o que também prejudica "Bible Black", a canção mais conhecida de The Devil You Know. O quarteto mostra-se renovado, principalmente em faixas como "Rock and Roll Angel" (um belíssimo solo de Iommi), e exibindo velocidade em "Neverwhere" e "Eating the Canibals", que  faz dessas as melhores do álbum. O riff de "Fear" é surpreendente pela modernidade, assim como "Double the Pain", cujo maior destaque é o baixão de Butler. Último álbum de Dio, é também o último do bigodudo até o presente momento. Torcemos para que ele se recupere do câncer e lanCe muitos mais discos para conhecermos.

Ronnie James Dio (vocais, teclados), Tony Iommi (guitarras), Geezer Butler (baixo), Vinnie Appice (bateria)

1. Atom and Evil
2. Fear
3. Bible Black
4. Double the Pain
5. Rock and Roll Angel
6. The Turn of the Screw
7. Eating the Cannibals
8. Follow the Tears
9. Neverwhere
10. Breaking into Heaven


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Slayer - Parte II


Clássica foto do Slayer: Kerry King, Jeff Hanneman, Tom Araya e Dave Lombardo,
em 2010 (acima) e em 2008 (abaixo)

Tendo que manter o nível de Reign in Blood, o Slayer inova mais uma vez. Se Reign in Blood era um álbum extremamente veloz, o grupo diminuiu o ritmo em South of Heaven (1988), e desagradou muitos que esperavam uma sequência de Reign In Blood. Porém, fez outro grande álbum, consagrando-se ainda mais ao redor do planeta.


O pesado South of Heaven
 
Lançado em 05 de julho de 1988, ele abre com o riff de "South of Heaven", que assim como o de "Raining Blood", é um dos mais conhecidos da carreira do grupo, trazendo as viradas e marcações de Lombardo em uma longa introdução, lembrando as canções de Hell Awaits. Araya canta enquanto o riff é repetido, e o bumbo estoura os alto-falantes, para uma pesada canção surgir, arrastada e com uma pegada destruidora das guitarras e da bateria. A canção muda durante o refrão, um pouco mais acelerado, mas é o peso que predomina. A letra continua, repetindo o refrão, agora com Araya entoando o nome da canção, levando para o solo de King, enquanto Lombardo destrói os dois bumbos, para Araya concluir a letra e Hanneman fazer o solo final.

Alavancadas e um longo sustain nos levam para "Silent Scream", na qual a velocidade aparece, com um riff muito rápido das guitarras e as impressionantes viradas de Lombardo. Essa facilmente poderia estar em Reign in Blood, tamanha a velocidade, principalmente da bateria, em viradas indescritíveis. Araya canta pausadamente, com vozes distorcidas participando no início de cada frase, trazendo os solos de King e Hanneman. Após o solo, os vocais retornam, agora com mais peso, e os dois bumbos comendo solto, encerrando com o riff inicial sendo repetido assim como início da letra.

Já "Live Undead" inicia com um riff hardeiro, sem peso ou velocidade, enquanto Lombardo acompanha a melodia do riff com batidas nos pratos, tons e caixa. Então, o riff central aparece, pesado, enquanto o baixo participa apenas com marcações, e a bateria leva a canção lentamente, acompanhando os vocais arrastados de Araya. Durante o solo de Hanneman, os bumbos dão um pouco mais de velocidade para a canção, e a letra retorna com o acompanhamento arrastado. A partir do solo de King, ela ganha velocidade, voltando então ao riff inicial com diversas viradas de Lombardo, enquanto Araya agoniza no microfone. A pancadaria pega, trazendo o solo de King, duas frases de Araya, um solo de Hanneman, mais duas frases e outro solo de King. Araya cospe palavras rapidamente, e a canção encerra-se com o solo de Hanneman, além de batidas e viradas na bateria.

As guitarras abrem "Behind the Crooked Cross", com a bateria fazendo o mesmo ritmo e soltando um acompanhamento muito interessante no prato de condução. O riff é apresentado, e o ritmo dessa canção é mais ameno, parecendo as canções de Show No Mercy, destacando as viradas de Lombardo. Hanneman e King alternam-se durante os solos, e Araya encerra a letra, tendo ao fundo sempre uma segunda voz o acompanhando, com a canção sendo concluída entre as viradas de Lombardo.

O pesadíssimo riff de "Mandatory Suicide" introduz esta grande canção do Slayer, com uma marcação tímida de baixo e bateria. O vocal de Araya é suave, enquanto as guitarras soltam riffs simples, entre as marcações e viradas da bateria. O andamento é pesado, mas não muito lento, voltando então para o riff inicial, com o baixo se destacando. Então, sobre o peso da guitarra de King, Hanneman executa seu primeiro solo, voltando então para o riff inicial. Araya continua a letra, e então, uma virada de Lombardo nos apresenta o riff pesado, acompanhado pelos dois bumbos, Hanneman destruindo a guitarra e Araya entoando um triste poema suicida, encerrando o lado A com um longo grito e alavancadas.


Tom Araya, Dave Lombardo, Jeff Hanneman e Kerry King

O Lado B abre com a veloz "Ghosts of War", outra que poderia facilmente estar em Reign in Blood, com Hanneman e King comendo as guitarras como um cão faminto, assim como Araya cantando. Os solos de Hanneman e King estupram a canção, transformando-a em uma canção mais pesada e lenta, destacando o acompanhamento de Lombardo, para Hanneman fazer mais um breve solo, dando peso em um novo riff, e assim, Araya encerra a letra, repetindo duas vezes a mesma estrofe, e com o riff sendo repetido diversas vezes entre as viradas de Lombardo.

Peso é o que não falta em "Read Between the Lies", com uma complicada introdução marcada entre guitarra e bateria, trazendo o andamento de "South of Heaven" e "Mandatory Suicide", e com Araya gritando bastante. O efeito nas guitarras é impressionante, parecendo buzinas assustadoras, apresentando o solo de Hanneman, recheado de alavancadas. Araya retorna à letra, com o andamento pesado ao fundo, encerrando a canção com as marcações de guitarra, baixo e bateria.

Esses mesmos instrumentos introduzem a veloz "Cleanse the Soul", fazendo o riff zumbido e com Araya cantando novamente com um efeito de voz dupla, não tardando para o primeiro solo de King aparecer. Araya retorna à letra, e uma sequência de viradas apresenta o solo de Hanneman. Essas mesmas viradas trazem o encerramento da letra, concluindo a canção com mais um solo de King.

A cover de "Dissident Aggressor" (original do Judas Priest), alegra aos fãs do grupo britânico, e ficou muito similar ao original, apenas com um pouco mais de peso. O riff cavalgante da introdução ganhou mais sujeira nas guitarras, e os dois bumbos fazem a festa. Araya canta com a voz dupla e lentamente, em uma canção que, apesar de ser cover, é muito pedida pelos fãs do grupo.

Por fim, violões abrem "Spill the Blood", mais uma canção com o andamento arrastado, destacando a linha de guitarra e baixo do riff da mesma. A canção segue a mesma linha em toda sua extensão, e as únicas variações são um pouco mais de velocidade durante o solo de Hanneman. Os violões aparecem, repetindo o riff inicial, para Araya encerrar a letra, e King encerrar a canção com um breve solo.

Dois singles foram lançados, a saber, "South of Heaven" e "Mandatory Suicide". O álbum atingiu a quinquagésima sétima posição nas paradas americanas, sendo o segundo disco de ouro do grupo. Este foi o último disco com a Def Jam Records, e agora, o Slayer assinava com o novo selo de Rick Rubin (produtor de Reign in Blood e South of Heaven), o Def American Records.


O último álbum com Lombardo na década de 90, Seasons in the Abyss

O grupo fez uma breve série de shows, e voltou aos estúdios durante a primavera de 1989, para a gravação do novo álbum. A ideia era tentar mesclar tudo o que havia dado certo nos álbuns anteriores em um único álbum, e assim, criar um estilo que somente o Slayer poderia tocar, e que fosse facilmente identificado por um fã. Nasce Seasons in the Abyss.

Lançado no dia 09 de outubro de 1990, é outro grande trabalho da carreira do quarteto, abrindo com "War Ensemble", tendo as guitarras despejando velocidade e a bateria de Lombardo alucinando novamente, no melhor estilo Slayer, com um show a parte da dupla Hanneman e King na pegada dos acordes. As guitarras ficam sozinhas, acompanhadas pelas viradas da bateria, e Araya volta a cantar, gritando forte o refrão e a palavra "War" trazendo o solo de Hanneman. Araya grita o refrão novamente, apresentando um novo riff, mais trabalhado, para Araya continuar a letra, e com um longo grito de "War", King fazer um veloz solo em seu instrumento, para Araya finalmente encerrar a canção com a repetição do refrão.

Já "Blood Red" é pesada, com os tons e o bumbo acompanhando o ritmo das guitarras, que fazem um riff quebrado e trabalhado, enquanto Lombardo pisoteia os dois bumbos. O ritmo segue aquele cadenciado da maioria das canções de South of Heaven, trazendo a voz de Araya. A sequência de solos de Hanneman e King apresentam alavancadas e arpejos, voltando para o encerramento da letra da canção.

O mesmo ritmo segue na quase irmã-gêmea "Spirit in Black", porém com o riff variando um pouco mais, mas o peso continua, e dessa vez, o trabalho dos bumbos é mais destacado que nas canções anteriores. Após as primeiras estrofes, King e Hanneman apresentam seus solos, e depois de mais algumas frases, a canção modifica-se, ganhando velocidade através da bateria, com Araya mandando ver nas marcações dos pratos, trazendo mais uma série de solos, dessa vez feita pelas guitarras gêmeas, e assim, Araya encerra a canção, e um longo sustain conclui a obra, entre as viradas de bateria.

Bateria e guitarras abrem "Expendable Youth", pesada e arrastada, trazendo os vocais lentos de Araya. Os solos são com muitas alavancadas e barulhentos, e a canção em si não apresenta grandes destaques. Já a épica "Dead Skin Mask" remete-nos as longas canções de Hell Awaits, com uma sinistra introdução trazendo um poema entoado por King, seguido pelo riff principal. Araya canta pausadamente, em uma bela canção, e durante os solos de Hanneman e King, as escalas orientais são nos apresentadas, encerrando com uma fantástica sequência das guitarras gêmeas. A canção permanece apenas com um longo sustain, repetindo o riff inicial, voltando para a letra da canção, e, durante o refrão, uma voz feminina aparece ao fundo, gemendo, quase agonizando, arrepiando a quem ouve e encerrando o lado A com mais um longo sustain.


Tom Araya, Jeff Hanneman, Kerry King e Dave Lombardo
 
A velocidade toma conta no início do Lado B, com a pancadaria de "Hallowed Point", trazendo os vocais muito rápidos de Araya, e Lombardo mandando ver na bateria. Hanneman solta os dedos em seu solo, voltando para a letra. Uma pequena ponte de acordes quebrados dá espaço para o refrão, seguido pelo solo de King, repetindo o refrão e encerrando com mais um solo de Hanneman, agora com o ritmo mais cadenciado, abrindo espaço para os velozes solos de King e Hanneman, que encerram a canção.

O ritmo marcial e lento de "Skeletons of Society" acalma os ânimos, trazendo a voz clara de Araya, chegando no refrão, com a voz dobrada e com efeitos durante o refrão, que dá espaço para o solo de Hanneman, o qual serpenteia toda a canção com alavancadas e bends agudos. A letra continua, voltando ao refrão que entoa o nome da canção. Uma sessão instrumental marcada pela guitarra, baixo e bateria apresenta o solo de King, novamente com escalas orientais, seguido pelo solo de Hanneman, encerrando com as marcações da guitarra e bateria.

"Temptation" resgata a velocidade em sua introdução, sendo mais cadenciada durante a letra, que sobrepõem as vozes de Araya durante sua execução. O solo de Hanneman é feito com notas muito velozes, e um longo acorde modifica a canção, tornando-a mais pesada, e assim, Araya encerra a letra, com a repetição da introdução encerrando a canção.

A pancadaria come solta na veloz "Born of Fire", que surge sem dar tempo do ouvinte respirar. Uma faixa veloz, com um fantástico trabalho de Lombardo. Os solos são muito rápidos, mostrando como a dupla Hanneman e King aperfeiçoou-se disco após disco. O ritmo modifica-se, ficando mais pesado, trazendo a sequência da letra por Araya, além de mais um breve solo de guitarra, para Lombardo detonar nos dois bumbos, encerrando a canção com um veloz solo de Hanneman, arrancando uivos de seu instrumento.

Finalmente, a última grande obra prima do grupo, a sensacional "Seasons in the Abyss", com sua longa e chapante introdução. Dona de um arrepiante clipe gravado entre as pirâmides do Egito, ela tem em seu riff inicial o primeiro grande destaque, com as guitarras lentamente repetindo as mesmas notas, e um apavorante dedilhado das mesmas. Batidas nos gongos, a marcação do baixo e as viradas de Lombardo, mantém a longa introdução durante mais de dois minutos, e então, um riff intrincado de baixo e bateria, e a marcação muito complicada de Lombardo, soltam o ritmo similar ao de "South of Heaven", com os vocais dobrados sendo entoados no famoso refrão da canção. A letra continua, repetindo o refrão e trazendo o riff inicial, no qual Lombardo solta os pés. Hanneman entra rasgando com agudos da guitarra e alavancadas, mandando ver em escalas estupidamente velozes, enquanto King executa um solo mais melodioso, voltando para a sequência da letra, e então, o dedilhado inicial encerrar essa maravilhosa canção, com Lombardo dando show na bateria, em viradas precisas e marcantes. 
Seasons estreiou na quadragésima quarta posição, alcançando ouro em 1992. A faixa-título foi a primeira do Slayer a receber um videoclipe, o qual foi filmado diante da Esfinge de Gizé e das três grandes pirâmides do Egito. "War Ensemble" também recebeu um vídeo promocional.

Em setembro de 1990, o grupo participou da gigantesca turnê Clash of Titans, ao lado do Suicidal Tendencies, Testament e Megadeth, e que foi registrada e lançada no álbum Decade of Agression (1991), o qual comemora os 10 anos da carreira do Slayer. A turnê fez tanto sucesso que contou com uma segunda versão logo em seguida, com o Slayer ao lado de Megadeth, Anthrax e Alice in Chains.

Slayer em 1992: Kerry King, Tom Araya, Paul Bostaph e Jeff Hanneman
Em maio de 1992, Lombardo saiu da banda, alegando problemas internos com os outros integrantes, indo fundar o Grip Inc. Para seu lugar, o baterista do Forbidden, Paul Bostaph, foi chamado. A nova formação estreiou no Monsters of Rock de 1992, em Castle Donington. Logo em seguida, o grupo gravou um medley de três canções do grupo Exploited, o qual entrou na trilha do filme Judgment Night (1993). As canções são "War", ""UK '82" e "Disorder", e o grupo teve a participação especial do rapper Ice-T nas mesmas.


Divine Intervention, ótima estreia de Paul Bostaph

No dia 27 de setembro de 1994, a nova formação lança Divine InterventionEsse é o disco do grupo que mais vendeu nos Estados Unidos, alcançando a oitava posição. A primeira apresentação de Bostaph é a sensacional "Killing Fields", uma pancada para saudosista nenhum de Lombardo colocar defeito, com o batera mandando ver tanto nos dois bumbos quanto nas viradas alucinantes, fora que o ritmo da canção é aquele que já havia caracterizado o som do grupo desde South of Heaven.

Já "Sex. Murder. Art" é uma violenta canção, e que mesmo sendo curta, causa seus estragos. Mas se você quer violência, prepare-se para  "Mind Control" e "Dittohead", esta última, talvez a canção mais veloz já gravada pelo grupo, e com Bostaph novamente provando ter sido uma excelente escolha para o lugar de Lombardo. "Serenity in Murder" apresenta vocais com efeitos, mas também é violentíssima, com a pancadaria comendo solta na bateria. "Circle of Beliefs" é mais uma que Bostaph manda ver, assim como Araya cuspindo a letra ferozmente. Porém, quem mais chama a atenção é a dupla Hanneman e King. 


Kerry King, Paul Bostaph, Jeff Hanneman e Tom Araya
 
Simplesmente os caras então tocando demais. Basta ouvir o riff da já citada "Circle of Beliefs", ou o de "Fictional Reality", assim como os solos da mesma, quase impossível de serem reproduzidos. Ou então o dedilhado e os riffs assustadores da longa introdução de "213". O peso de outrora surge em "SS-3", e no riff imortal da linda e épica faixa-título, a melhor canção da era Bostaph, e um dos maiores clássicos dessa nova formação. Um álbum muito bom, que calou a boca dos que pensavam que era impossível existir Slayer sem Lombardo, e certamente, figura entre os três melhores já lançados pelo grupo, ao lado de Reign in Blood Hell AwaitsNo mesmo ano, apresentam-se no Brasi, durante a primeira edição do Monsters of Rock daquele ano. 

O disco de covers, Undisputed Attituded

Em 1996, saiu o disco de covers punk Undisputed Attituded, que não agradou aos fãs tradicionais do grupo, bem como o seguinte. Depois do estrondoso sucesso de Divine Intervention, o álbum demonstra que o grupo não está concentrado apenas em fazer Thrash. Com exceção da pesada "Gemini", a única canção composta pelo grupo (que havia ficado de fora do lançamento anterior), e de duas canções compostas por Jeff Hanneman para um projeto paralelo chamado Pap Smear (a velocíssima "Can't Stand You" e o baixo espetacular de "Ddamm"), temos treze covers de grupos punk, quase sempre compostas por Medleys dos mesmos. 

Assim, o Slayer faz versões sujas e velozes para as bandas Verbal Abuse ("Disintegration / Free Money", "Verbal Abuse / Leeches" e "I Hate You Filler"), T. S. O. L. ("Abolish Government / Superficial Love"), Minor Threat ("Guilty of Being White" e "I Don't Want to Hear You"), D. I. ("Spitirual Law" e "Richard Hung Himself", Dr. Know ("Mr. Freeze"), D. R. I. ("Violent Pacification") e The Stooges ("I'm Gonna Be Your God"). Todas são canções muito curtas, conforme manda o figurino punk, a menos de "Gemini", uma Ovelha Negra em um álbum que serve mais para colecionistas e curiosos em ouvir o Slayer tocando um outro estilo que não o Thrash Metal. As versões europeias e japonesa possuem outros covers, que no caso são "Sick Boy" (G. B. H.) e "Memories of Tomorrow" (Suicidal Tendencies).
O experimental Diabolus in Musica

Com uma sonoridade cada vez mais diferente, tendo letras voltadas para problemas humanos, não falando mais sobre o satanismo, mas ainda mantendo o peso e a velocidade que o caracterizaram, em 1998 é lançado Diabolus in Musica. Sem sombra de dúvidas, o álbum mais experimental da carreira do grupo, flertando com estilos como o punk, o rap e New Metal. Dez das onze canções foram compostas por Hanneman, um monstro na criação de riffs Thrash. Consolidados como O GRUPO da cena Thrash, e aproveitando-se de lançamentos não tão empolgantes de nomes como Metallica, Testament e Megadeth, o quarteto (novamente com Bostaph nas baquetas) abaixa a afinação do baixo e da guitarra, gravando um disco muito pesado, como comprovam os primeiros acordes de "Bitter Peace", a qual transforma-se bruscamente, com as guitarras despejando velocidade em cima das notas do instrumento, "Screaming from the Sky", com um belo trabalho de Bostaph, e as interessantes "Perversions of Pain" e "Point". 

Outras experimentações surgem nos ritmos não tão comuns e nos efeitos de voz ou instrumentos, como atestam "Death's Head", "Overt Enemy", "Love to Hate", "Wicked" e "In the Name of God", única não composta por Hanneman (no caso, composta por King). Destaque para a intrincada "Stain of Mind" (com Araya cantando quase como se fosse um rap, e com uma bateria repleta de batidas quebradas), os assustadores vocais de "Desire", assim como seu longo dedilhado de introdução, e a velocidade "Scrum", disparada a melhor canção deste mediano CD. 

O último álbum com Bostaph, God Hates Us All
Em 2001, sai o último álbum com Bostaph, God Hates Us All, que foge das experimentações de Diabolus in Musica, diminuindo o tamanho das canções e colocando o Slayer nos trilhos. Chama a atenção que os solos de guitarra perdem espaço para arranjos nos quais a voz de Araya é o destaque, com os instrumentos apenas dando o ritmo para as canções. A maluca vinheta de abertura, "Darkness of Christ", dá espaço para socos esmagadores passarem a destruir com o ouvinte através de pauladas furiosas intituladas "Disciple", "New Faith", todas criticando raivosamente as Igrejas e religiões. 

Poucas são as faixas que apresentam alguma experimentação, mas mesmo assim, soando muito bem, como "God Send Death", "Seven Faces" (e uma magistral introdução), "Threshold" e "Deviance", utilizando de bastante efeito na voz. "Cast Down", "Bloodline" e "Here Comes the Pain" lembram mais as canções da fase clássica no final dos anos 80, início dos 90. As melhores canções ficam para "Exile", com um bom trabalho de guitarras e com Hanneman e King relembrando-nos como são ótimos solistas com o wah-wah, "War Zone" e "Payback", essa última trazendo resquícios da velocidade insana de Reign in Blood, e com Bostaph despedindo-se em um acompanhamento destruidor na sua bateria. 


Paul Bostaph, Kerry King, Jeff Hanneman e Tom Araya

A capa original gerou polêmica por trazer sangue derramado sobre uma bíblia, e foi proibida em diversos países, onde recebeu uma espécie de capa protetoraGod Hates Us All foi lançado em uma edição limitada com um DVD bônus, apresentando uma entrevista e vídeos para "Darkness of Christ", "Bloodline" e "Raining Blood", em uma versão bastante cobiçada hoje em dia.

Durante a turnê, Bostaph sai do Slayer, partindo para um projeto solo. Necessitando terminar a turnê, o agora gordíssimo Kerry King convida o amigo Lombardo para cumprir as datas. Lombardo não somente aceita o convite como volta oficialmente para detrás dos bumbos do Slayer, o que motivou toda a nação slayerana a reviver os momentos da década de 80.

Em 2004, o Slayer excursionou interpretando o álbum Reign in Blood na íntegra. Durante o show, muitos efeitos especias culminavam com o quarteto banhando por uma chuva de sangue durante a última canção a ser apresentada, "Raining Blood". Essa macabra e sensacional apresentação pode ser conferida no DVD Still Reigning, lançado no mesmo ano.

Christ Illusion, o retorno de Lombardo
Com a expectativa nas alturas, 15 anos depois da saída de Lombardo era lançado o primeiro álbum com canções originais do Slayer com a sua formação original, Christ Illusion. Um petardo que conquistou novos e velhos fãs. E não é qualquer volta não. É a melhor apresentação do grupo desde Divine Intervention. "Flesh Storm" já coloca esses doze anos no bolso, remetendo-nos direto aos anos 80, mas com o quarteto muito mais afiado e maduro. Basta ver os riffs de "Skeleton Christ", "Supremist" e "Black Serenade". O grupo resgata as introduções velozes e trabalhadas, e cada canção é um verdadeiro deleite aos saudosistas. "Catalyst", "Jihad" e "Cult" são os melhores exemplos desse tipo de composição, enquanto "Eyes of the Insane" é a única mais próxima do som que o grupo estava desenvolvendo nos últimos álbuns. Destaque para o incrível solo feito por Hanneman e King durante "Consfearacy". 

Christ Illusion superou Divine Intervention em vendas, atingindo a quinta posição nos Estados Unidos. Esse álbum também teve polêmicas com sua capa, que mostra Jesus esfacelado. A capa alternativa mostra a imagem original sob uma capa protetora branca em formato de bolhas. Existe uma edição especial com um DVD bônus, que foi lançada em 2007, trazendo o documentário Slayer on Tour 2007 e dois clipes ("South of Heaven" ao vivo e "Eyes of the Insane" em estúdio).


O último álbum do grupo até o momento

Em 2009, mais um petardo, World Painted Blood.  O último álbum do Slayer (até o presente momento) funciona como um assustador álbum conceitual sobre violência, e segue o alto nível de Christ Illusion. A velocidade porém não é do mesmo nível, e as canções possuem mais variações, mas mesmo assim, temos um álbum muito bom. Arrepie-se com a fantástica introdução de "Snuff", uma bela demonstração de como King e Hanneman estão cada vez melhores. "Unit 731", "Public Display of Dismemberment" e "Psycopath Red" são velozes, no melhor estilo Slayer. Já "Beat Through Order", "Playing With Dolls" e "Human Strain" diminuem o ritmo de um álbum com canções bem trabalhadas, destacando "Hate Worldwide", "Americon" e "Not of This God". Porém, o maior destaque vai para a arrepiante faixa-título, com uma magnífica introdução, variações diversas e solos arrepiantes. O CD foi lançado com quatro capas diferentes, as quais quando unidades, formam um mapa-mundi coberto de sangue. Uma versão especial foi lançada apresentando um curta-metragem sobre um menino que vê a mãe assassinada, e a partir de então, passa a matar mulheres quase que por impulso. 

O mundo pintado de vermelho. Junção das capas de World Painted Blood

Esse álbum manteve o Slayer como uma das principais bandas do Thrash Metal do planeta, o que os levou em 2010 a ser um dos headliners do festival Sonisphere Festival - The Big Four, ao lado de Metallica, Megadeth e Anthrax, passando por países como Romênia, República Tcheca, Polônia, Inglaterra, Suiça, Espanha, Turquia, Grécia e Bulgária.

No início desse ano, Hanneman sofreu uma picada de aranha que acabou causando uma doença conhecida como Necrotizia Facial. O Slayer está programado para ser uma das atrações do Soundwave Festival, na Austrália, no dia 26 de fevereiro, e já anunciou que, com a ausência temporária de Hanneman, o guitarrista do Exodus Gary Holt irá substituí-lo.

Temos então alguns clássicos para serem conferidos principalmente por fãs e para quem não conhece essa que é uma das principais (se não a principal) banda de thrash metal da história.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...