quarta-feira, 28 de julho de 2010

Podcast Collector's Room #28


Durante algum tempo, comandei o Podcast Collector´s Room. Seguem então aqueles que eu apresentei, bem como s que não foram publicados oficialmente no ar, e também os que estão surgindo na Consultoria do Rock
 
O Podcast da Collector's room está de volta, trazendo muita guitarra em clássicos do rock pesado nos anos 70 e 80, canções gravadas ao vivo, bloco de obscuridades e uma homenagem ao artista da semana, aqui escolhido a dedo especialmente para você leitor da Collector's Room, levando a você o melhor da música do melhor dos tempos

Para baixar, clique aqui

E não esqueça de ouvir a todo volume!
Track list Podcast Collector's room # 28
Uriah Heep - Free 'n' Easy
Álbum: Innocent Victim (1977)
Judas Priest - Diamonds and Rust
Álbum: Sin After Sin (1977)
Uli Jon Roth - Eleison
Álbum: Beyond The Astral Skies (1984)
James Gang - Stop!
Álbum: Live In Concert (1971)
Moby Grape - Miller's Blues
Álbum: Vintage: The Very Best of Moby Grape (1993)
Glenn Hughes - Written All Over Your Face
Álbum: Soufully Live In The City Of Angels (2004)
Esperanto - Eleanor Rigby
Álbum: Last Tango (1975)
Bodkin - Three days After Death pt. 1
Álbum: Bodkin (1972)
Silberbart - Chub Chub Cherry
Álbum: 4 Times Sound Razing (1971)
Grand Funk Railroad - Big Buns
Grand Funk Railroad - Out To Get You
Álbum: Good Singin', Good Playin' (1976)
Frank Zappa - If Only She Woulda
Álbum: You Are What You Is (1981)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

West, Bruce & Laing


Para entender o que Jack Bruce fez após o fim do Cream, é preciso primeiro narrar rapidamente a história de um dos pioneiros do hard setentista, o power-trio Mountain.

Formado em 1969, o grupo tinha em sua formação Leslie West (guitarras, vocais), N. D. Smart (bateria, vocais) e Felix Pappalardi (baixo, vocais), sendo que este último havia sido o produtor do Cream nos álbuns Disraeli Gears, Wheels Of Fire e Goodbye. O som do Mountain era muito similar ao Cream, tendo como destaque justamente o poderoso baixo de Pappalardi e a potência vocal de West. O grupo participou do festival de Woodstock e pouco depois, Smart foi substituído por Corky Laing. Com a adição de Steve Knight nos teclados, lançaram os espetaculares Climbing! (1970), Nantucket Sleighride (1971) e Flowers of Evil (1971), além do essencial ao vivo The Road Goes Ever On (1972). O nome do grupo veio justamente da união de Smart, Pappalardi e West para a gravação do álbum solo de West, Mountain, lançado em 1969.
Mountain: Laing, Pappalardi, West e Knight

Porém, o curto tempo na estrada foi o suficiente para destruir as estruturas do grupo. No palco, eles tocavam tão alto que Pappalardi acabou ficando com problemas de audição. Além disso, o abuso de drogas e álcool por parte de West e Laing deterioraram as condições físicas de ambos, além do cansaço pela sequente sucessão de shows. Resultado, o Mountain separou-se em 1972, com Pappalardi voltando aos trabalhos por trás das mesas de som, indo produzir várias bandas, além de gravar com os japoneses do Creation o álbum Creation with Felix Pappalardi de 1976.


West, Bruce & Laing

Mas West não queria ficar abandonado, e decidiu tornar um sonho real. Desde a primeira vez que ouvira o Cream, West se encantou pelo talento de Bruce. O fácil contato de Pappalardi com o baixista, sendo que Pappalardi produziu e tocou no primeiro álbum solo de Bruce, Songs for a Taylor (1969), fizeram com que West e Bruce se tornassem bons amigos.

Bruce vinha de 3 álbuns solos: o já citado Songs for a Taylor, Things We Like (1970) e Harmony Row (1971), onde manteve o status de grande compositor e músico. Porém, sentia faltava de um "algo a mais" vindo de seu som, o que acabou encontrando na guitarra afiada de West. Foi o corpulento guitarrista que convidou Bruce para participar do Mountain. Bruce topou, mas como era muito amigo de Pappalardi, pediu que não adotasse o nome Mountain, mas sim um novo nome. Surge então, na primavera de 1972, mais um grande power-trio, o West, Bruce & Laing.

A ideia inicial do trio não era gravar discos, mas sim, tocar e tocar até a exaustão. A estreia oficial ocorreu em abril de 1972, com um show na cidade de Cleveland no dia 21, seguido por um show em Nova Iorque no dia 24 e em Boston no dia 27.

Porém, a Windfall, gravadora do Mountain à epóca, viu no novo trio a possibilidade de ganhar um dinheiro com o lançamento de um LP. Desta forma, assinam o contrato para a gravação do álbum, e entram em estúdio para gravar em poucos dias o primeiro e excelente disco de estreia.



Why Dontcha - Ótima estreia

Misturando o blues do Cream com o hard cru do Mountain, Why Dontcha foi lançado em novembro de 1972, e apresentava um Jack Bruce muito mais técnico do que nos tempos de Cream, pilotando dinamicamente piano, teclados e também baixo e voz.

O disco abre com a faixa-título, onde o riff de West apresenta a canção que é cantada pelo corpulento guitarrista, com um ótimo acompanhamentode Bruce e Laing, onde o destaque vai para as belas linhas de baixo de Bruce.

"Out In The Fields" vem a seguir, com Bruce ao piano acompanhado apenas pelos pratos, carregando uma bonita balada onde Bruce mostra seus dotes nos teclados. Acompanhado por vocalizações femininas, Bruce solta a voz, tendo no refrão uma marcante interpretação seguido por um interessante solo de West.

A clássica "The Doctor" é comandada por West, que canta forte enquanto gasta seu slide na guitarra. O acompanhamento de Laing e do baixão de Bruce, que também acompanha em algumas frases vocais, dão ainda mais peso ao som. Bruce faz uma sequência rápida de escalas, levado ao solo de slide feito por West, retornando a letra de uma das melhores canções do trio. As rápidas escalas de Bruce aparecem novamente, com West solando ao slide e Laing destruindo a bateria, em uma viajante sessão que leva ao final da canção com a repetição do refrão.

"Turn Me Over" lembra Cream, com Bruce tocando harmônica em um estilo similar a "Rollin' and Tumblin'". Essa é uma canção rara, já que é Laing quem comanda os vocais de um blues rápido levado pelo slide de West onde Bruce faz o solo principal na harmônica.

O lado A encerra com a cover de "Third Degree", de Eddie Boyd e Willie Dixon. Um fantástico e embriagante blues, com Bruce fazendo um duelo entre piano e baixo enquanto West solta notas rasgadas em sua guitarra. O solo de West parece ter saído dos primeiros discos do Led Zeppelin, tornando a faixa perfeita para um afundamento em um copo de uísque, enquanto se entorpecemos com os gritos de Bruce e com a guitarra de West. No encerramento da faixa, uma surpresa, a canção transforma-se em um visceral rock onde Bruce sola muito no baixo.



O trio em ação
"Shake Ma Thing (Rolling Jack)" abre os trabalhos no lado B, novamente com Bruce ao piano e dividindo os vocais com West. O solo do gordinho é feito novamente com o slide, pegando fogo com o enlouquecido acompanhamento de Bruce e Laing.

A balada "While You Sleep" surge com o piano seguido por um violão. West toca o que o grupo chamou de violin guitar, e é o vocalista da canção. Detalhe interessante é que Laing é o responsável por tocar o violão, e também para o bonito coral de vozes feito por Bruce no refrão.

Já "Pleasure" apresenta um riff característico feito por West, com Bruce no piano, baixo e vocais. As escalas de Bruce no baixo são impressionantes, tocando de forma rápida ora acompanhando a melodia vocal, ora o rif da guitarra. West sola sobre o rápido acompanhamento da cozinha e do piano, deste que é mais um grande som do West, Bruce & Laing.

"Love Is Worth Blues" é a paulada fundamental para os aprendizes do grupo. Muito similar as canções do Mountain, abre com West cantando emotivamente. A medida que a letra se desenrola, West vai cantando-a de forma cadenciada, até que a canção se transforma em uma ótima sessão instrumental, onde sequências de acordes em terça são a cama para West solar com muito pique. O encerramento se dá com West solando sozinho na guitarra, depois do pau ter pego geral no fantástico solo criado pelo trio.

Por fim,"Pollution Woman" fecha o vinil, com o baixo sendo inicialmente acompanhado apenas pelo cymbal, trazendo o pesado riff da canção. Bruce surge com os vocais, acompanhado por vocalizações femininas e tendo o ritmo feito por violões. No refrão, Bruce usa sintetizadores, enquanto West acompanha com frases vocais e intervenções da guitarra, naquela que para mim é a mais fraca do álbum.

"The Doctor" teve ampla divulgação nas rádios, tornando-se a carro-chefe do álbum e sendo uma das mais pedidas nos shows ao vivo. O LP ficou na vigésima sexta posição na parada da Billboad, e até hoje é reconhecido como um dos grandes álbuns de estreia em todos os tempos.

Sobre o disco, Laing comentou em uma entrevista para o blog da Poeira Zine:
Eu tenho que dizer que esses são os discos preferidos de toda a minha carreira. Eu costumo dizer que esses álbuns são meus filhos (risos). O Why Dontcha certamente foi um dos discos mais rapidamente compostos e gravados da história do rock. Tudo ali esbanjava urgência. Literalmente colocamos nossas tripas pra fora neste álbum de estréia."
Após o lançamento do LP, o trio partiu para uma turnê pelos Estados Unidos, tocando em Nova Iorque (06/11/1972), Boston (10/11/1972) e Dallas (29/11/1972). Dão uma pausa para as festas de final de ano, e voltam a ativa em fevereiro de 1973, já pensando em um segundo álbum, com a harmonia e alto-astral lá em cima e visualizando mais shows.

Partem então para a europa, onde realizam uma série de shows pelo velho-continente nos meses de março e abril, começando por Copenhagen (Dinamarca - 28/03), Viena (Áustria - 04/04), Paris (05/04), Munique (13/04), Kaiserslautern (Alemanha - 14/04), Frankfurt (16/04), Manchester (22/04) e encerrando a turnê em Newcastle (24/04).



A engraçada capa de Whatever Turns You On

O próximo passo foi entrar nos estúdios e concluir os trabalhos do segundo álbum, o qual foi lançado em julho de 1973. Com uma capa divertidíssima, contando os principais vícios de cada integrante (West com a comida, Bruce com bebidas e Laing com mulheres), Whatever Turns You On manteve o bom nível de Why Dontcha, apesar de não ter sido recebido tão bem pela crítica.

O disco abre com o riffzão de "Backfire", seguido por pequenos solos de West acompanhado pela cozinha. Bruce comanda os vocais de um ótimo rock'n'roll recheado pelos solos de West e as espetaculares escalas de Bruce.

"Token" vem a seguir, com a guitarra repleta de efeitos seguida por batidas na bateria. West canta sobre uma cadência bem hardiana, dividindo os vocais com Bruce em algumas partes. Bruce também é o responsável por alterar o ritmo da canção, tornando-a um agitado blues onde as escalas do baixo são o principal destaque junto com a sequência de solos de West eBruce.

A triste "Sifting Sand" possui participação apenas de Bruce no piano, baixo e órgão, contando com um lindo arranjo instrumental, encerrando o lado A com a paulada "November Song". Bruce começa cantando sozinho ao piano, tendo um violão ao fundo, que passa a acompanhar a letra junto com o órgão. Bruce solta a voz, em um raro momento onde o baixista canta calmamente. Finalmente, surge o solo de West, encerrando a canção com um leve andamento do piano.
A poderosa e barulhenta dupla de frente West / Bruce

"Rock and Roll Machine" abre o lado B com outro grande riff de West acompanhado por solos de slide, gravando mais um hard para a carreira do trio. Destaque para a ótima sessão de teclados, onde Bruce declama um poema, antes de encerrar a canção com um curto solo de West enquanto o nome da canção é gritado pelo gordinho.

"Scotch Crotch" trás Bruce ao piano, baixo e vocais, em outro animado blues onde West surge apenas para fazer um rápido solo sobre o andamento do paixo e do piano, levando a "Slow Blues".

Como o nome diz, é um blues arrastado, com Bruce ao piano e com West fazendo intervenções com a guitarra. Bruce canta muito nessa faixa, além de executar um ótimo solo ao piano duelando com West, e levando a "Dirty Shoes", uma paulada, começando com a bateria que dita o ritmo do piano e da guitarra, bem como os vocais de West. A canção vai ganhando volume, e então, Bruce e West passam a cantar juntos, embaladaços pelo acompanhamento visceral de Laing na bateria. West sola com slide, dando ainda mais pegada ao boogie feito pelo trio.

O disco encerra com "Like A Plate", onde harmônicos de violão introduzem a canção, para West soltar seu vozeirão acompanhado por violão, bateria e baixo. No refrão, as vocalizações femininas do primeiro álbum se fazem presentes, e o destaque vai para o bonito solo de órgão feito por Bruce.

"Whatever ..." ficou na posição 87 da Billboard, e não fez tanto sucesso quanto a estreia de Why Dontcha. Sobre o álbum, falou Laing: "Falando como baterista, gravar com um baixista como Jack Bruce foi uma experiência única e inesquecível. Ele é um mestre em seu instrumento e isso ficou mais latente ainda neste segundo registro. Tive sorte de estar junto desses caras e gravar álbuns como este.”

 

O derradeiro ao vivo

O grupo continou excursionando, fazendo shows por Europa e Estados Unidos. Da turnê, registram gravações que culminariam no fantástico álbum Live 'n' Kickin, lançado em 1974, que trás nos sulcos uma poderosa versão para "Play With Fire" dos Rolling Stones, além de inspiradas versões para "The Doctor", "Politician" (originalmente gravada pelo Cream) e a inédita "Powerhouse Sod".


Porém, antes do lançamento do disco ao vivo, o trio se separou por problemas internos e também com a gravadora Columbia, que era a chefe da Windfall e que não aceitou a quebra de contrato do Mountain, mesmo com o West, Bruce & Laing fazendo muitos shows e vendendo relativamente bem. Em 1973, a Columbia lançou a coletânea The Best Of Mountain, incentivando Pappalardi a voltar com o Mountain, o que ocorreu em 1974, com o lançamento do ao vivo Twin Peaks, gravado durante a turnê japonesa do Mountain em 1973.


O Mountain não duraria muito tempo, encerrando as atividades ainda em 1974, após o lançamento de Avalanche. Em 17 de abril de 1983, a esposa de Pappalardi, Gail Pappalardi, matou o marido, baixista e produtor, por questões de ciúmes, sendo condenada a apenas 4 anos de prisão, os quais cumpriu e depois se isolou na Califórnia.


Em 1985, o Mountain retornaria com Laing, West e Mark Clarke (ex-Colosseum e Uriah Heep) no baixo, registrando o álbum Go For Your Life (1985) e Man's World (1996). A dupla continou excursionando ora com o nome de Mountain, ora como West Band, tendo inclusive o excepcional Noel Redding (Experience) no baixo, e nos anos 2000 lançou dois álbuns: Mystic Fire (2002) e Masters of War (2007).


Já Jack Bruce seguiu sua carreira solo, além de participar de álbuns de artistas como Frank Zappa e John McLaughlin. Tocou ao lado de Bruce e Gary Moore no BBM, com quem lançou o disco homônimo em 1994. Um ano antes, esteve presente na reunião do Cream para o Rock 'n' Roll Hall of Fame (ao lado de Clapton e Baker) e também foi atração no retorno do grupo em 2005, com os shows em Londres e Nova Iorque.



West, Bruce Jr. & Laing

Em 2009, o filho de Bruce, Malcolm Bruce, convidou West e Laing para fazer uma série de shows com o nome West, Bruce Jr & Laing, que foi amplamente massacrada pela imprensa especializada, acusando Bruce de copiar o pai. O trio fazendo poucos shows durante o mês de janeiro de 2010, encerrando as atividades e o legado de um dos mais verdadeiros power-trios do rock.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Derek and the Dominos



Enquanto Baker montava a mega-banda Ginger Baker's Air Force, Eric Clapton se afundava em drogas e na depressão. A razão de tudo isto: um amor impossível. Clapton era apaixonado pela esposa de seu melhor amigo, o guitarrista dos Beatles, George Harrison, e não conseguia viver com a situação de ter o sucesso mas não ter quem se quer a sua volta, no caso, a formosa e bela Pattie Boyd Harrison.
Registro de Clapton com Delaney & Bonnie


Com o término da Blind Faith, Clapton fez participaçẽs ao lado da Plastic Ono Band e foi tocar com Delaney & Bonnie and Friends, onde estavam Jim Gordon (bateria, percussão), Bobby Whitlock (órgão, piano, voz) e Carl Radle (baixo, percussão), entre outros amigos de Delaney & Bonnie, que acabariam participando do importante registro On Tour With Eric Clapton, lançado em junho de 1970 com o registro de um show histórico realizado no dia 7 de dezembro de 1969, no Fairfield Halls de Londres. Meses depois, em setembro, saia o álbum To Bonnie from Delaney, que contava com a participação de Duane Allman nas guitarras e sem Gordon e Radle, que abandonaram a dupla para participar do excepcional grupo de Joe Cocker, o Mad Dogs and Englishmen.

Whitlock continuou com Delaney & Boonie, mas já procurava por fazer uma carreira onde não tivesse que obedecer as ordens do ditador Delaney. Aí surge a figura de Steve Cropper, um lendário guitarrista e também produtor que trabalhou com Otis Redding, Rufus Thomas e foi um dos fundadores da The Blues Borthers Band. Steve sugeriu a Whitlock que visitasse Clapton na Inglaterra, já que sabia que o guitarrista estava sem banda e passando por uma fase difícil.
A primeira participação vinílica do Derek and the Dominos, ainda que não oficial


E assim Whitlock o fez, largando tudo e indo visitar Clapton, onde ficou por algum tempo vivendo em harmonia, fazendo jams e compondo muito material. Após agruparem um determinado número de canções, Clapton e Whitlock são convidados por George Harrison para participar do álbum All Things Must Pass. (1970), e também pede ajuda para angariar mais músicos. Clapton e Whitlock lembram os amigos da Delaney & Boonie, Radle e Gordon, e também do guitarrista Dave Mason, que havia passado pelo Traffic e também tocara no álbum ao vivo de Delaney & Boonie. Formava-se então um embrião de grupo, que fez sua estreia camuflada nos sulcos de All Things Must Pass. Vale ressaltar que Gordon não foi a primeira opção para a bateria, mas sim Jim Keltner, que também estava trabalhando com os Mad Dogs.

Após o convívio das gravações de All Things Must Pass, o quinteto viu que era a oportunidade de formar um grupo de verdade. Porém, com o estrondoso sucesso que o nome de Clapton já tinha pelas passagens no Yardbirds, Cream e Blind Faith, o guitarrista desejava que o quinteto permanecesse o mais tempo posível no anonimato, mesmo quando em turnê.

O primeiro nome a surgir foi The Dynamics, mas o escolhido foi Derek and the Dominos. A origem deste nome possui várias histórias. Algumas indicam que seria um disfarce dos sentimentos de Clapton por Pattie. Já a mais sensata é a que surge na primeira apresentação do grupo, no Lyceum Theatre de Londres. De acordo com Jeff Dexter (amigo próximo de Clapton), nesta primeira apresentação, quem faria as honras da casa seria o guitarrista Tony Ashton, que recebeu a informação do nome da banda na hora. O nome era para ser Derek and The Dynamics, sendo que Derek era o apelido dos íntimos de Clapton.

Na hora do show, Ashton acabou errando o nome da banda, apresentando-os com a frase "Senhoras e senhores, Derek and the Dominos", criando o nome de mais uma grande banda da carreira de Clapton. Existe ainda mais uma versão na biografia de Clapton, onde o guitarrista diz que Ashton sugeriu o nome "Del and the Dominos", com Del sendo outro apelido de Clapton. Assim, a combinação dos dois apelidos (Del e Eric) dava origem ao Derek, e então, aos Derek and the Dominos.

 
Mason acabou sendo um Domino rapidamente, fazendo apenas um show beneficente com o grupo antes de seguir em carreira solo. A estreia do Derek and the Dominos ocorreu no dia 14 de junho de 1970, e depois disso, partiram para uma turnê pela Grã-Bretanha durante todo o verão daquele ano, tocando em pequenos clubes e boates, o que deixava Clapton animado, já que não tinha as milhares de pessoas atrás do seu nome.
melhor disco de Clapton segundo os fãs: Layla and Other Assorted Love Songs
Após o término dessa turnê, partem para o Criteria Studios em Miami, onde sob a batuta do produtor Tom Dowd (famoso por gravações para a Atlantic Records), registram entre agosto e outubro o álbum de estreia, aclamado pelos críticos da música como a obra-prima da carreira de Clapton, e que foi intitulado Layla and Other Assorted Love Songs.

Lançado em novembro de 1970, Layla ... é um LP duplo que tem Pattie sendo a principal influência para Clapton. O clima nos estúdios durante os ensaios não era de muito ânimo, até que surge o nome do maior guitarrista de slide da história do rock, Duane Allman.

Na época da gravação de Layla ..., Dowd também estava produzindo o segundo álbum da Allman Brothers band, o essencial Idlewild South. Dowd então convidou Clapton para assistir a um show do Allman Brothers, e aquele foi o primeiro contato de Clapton com Duane. Clapton saiu do local impressionado com o talento de Duane, e na tarde do dia seguinte, 27 de agosto, Duane chegava aos estúdios da Criteria para participar de uma sessão de improvisos. Destas sessões, saiu o convite para Duane ser o quinto membro do Derek and the Dominos.
Duane e Derek
Com Duane, o Derek and the Dominos tinha na sua linha de frente dois dos principais guitarrista da história musical, o que torna as canções de Layla ... ainda mais atraentes. O disco abre com "I Looked Away", onde a guitarra de Clapton surge junto do teclado, trazendo bateria e baixo para uma leve canção sessentista cantada por Clapton e Whitlock, com destaque para o bom solo de Clapton.

O LP segue com outra balada, "Bell Bottom Blues", começando com o dedilhado de Clapton acompanhado por teclado, baixo e bateria. Clapton canta as frases sempre com intervenções da guitarra, e no refrão, divide os vocais com Whitlock. No solo principal, Clapton é o dono das atenções, acompanhado pelo leve andamento da canção e utilizando as famosas "pipocadas" que Robbie Robertson consagrou na The Band. A presença da percussão de Gordon nesta faixa é outro destaque, e ela encerra-se com a repetição do refrão por diversas vezes.

"Keep On Growing" começa com Clapton puxando o riff, fazendo os acordes para a canção pegar embalo com a percussão de Gordon, com os vocais sendo brilhantemente divididos por Clapton e Whitlock. Em determinadas partes, Whitlock canta sozinho, acompanhado apenas pelo recheio de guitarras feito por Clapton, que deixa para a história um marcante refrão. Uma bela sobreposição de solos encerra a faixa. Nestas três primeiras faixas, não temos a participação de Duane, mas ele está presente nas demais.

A seguir, temos a cover para "Nobody Knows You When You're Down And Out", de Jimmie Cox, onde o grupo faz um blues de tirar o chapéu, começando com o riff de Clapton acompanhado pelo órgão de Whitlock e a cozinha Gordon/Radle. Clapton canta de forma suave, esbanjando emoção no tema principal, onde as intervenções de Duane são fundamentais para deixar a canção ainda mais bonita.
O piano de Whitlock, junto com o slide de Duane, acompanha o solo de Clapton, e a letra é retomada, encerrando com uma tradicional sequência de acordes de blues esse ótimo lado A.

"I Am Yours" abre os trabalhos do lado B, carregada por violões e pela percusão, os quais são acompanhados por baixo, órgão e a slide guitar de Duane. Os vocais de Whitlock e Clapton surgem, e a canção é construída de forma quase que totalmente acústica. Duane faz um curto solo com o slide, sempre na mesma estrutura.

"Anyday" vem a seguir com as guitarras comandando o riff inicial, onde Duane manda ver no slide. Os vocais de Clapton cantam a letra com os arrepiantes riffs de Duane. O embalado refrão tem a presença de Clapton e Duane solando sob os vocais da canção, e Whitlock assume os vocais na segunda parte da letra, levando a repetição do refrão. Duane faz o solo, com as suas famosas escalas, repetindo o refrão e tendo sequência na letra com Clapton aos vocais. Duane então estraçalha o slide, com Clapton solando junto, enquanto Gordon e Radle aumentam o ritmo da canção até seu encerramento.

Outra cover está presente, agora "Key To The Highway", de Charles Segan e Willie Broonzy. Essa canção começa lá em cima, com Clapton solando sobre um ótimo acompanhamento de piano, baixo e bateria. Duane começa a solar timidamente, e Clapton passa a fazer o solo principal. Ao que parece, esssa faixa foi gravada de improviso nos estúdios, mas não sei afirmar se isso é real. O fato é que Clapton está muito solto, solando fantasticamente junto com um Duane inspiradíssimo. A sequência final, com ambos solando juntos, é um dos grandes momentos da história das guitarras, levando ao final da faixa e do lado B com um solo de Clapton.
Derek and the Dominos em ação

O lado C trás "Tell The Truth", onde Clapton faz o riff junto ao slide de Duane. Os demais se juntam a dupla, e os vocais divididos de Whitlock e Clapton cantam outro belo blues com destaque para o uso do slide também por Clapton. A versão registrada é uma mistura de gravações que começaram ainda na época de All Things Must Pass e de uma jam feita já nas gravações do álbum.

A pegada de "Why Does Love Got To Be So Sad" vem a seguir, com Clapton solando sobre um rápido andamento feito por Gordon e Radle, onde Whitlock faz pequenos acordes no órgão. Clapton passa a cantar enquanto Duane faz pequenos solos ao final de cada frase. Após a segunda repetição do refrão, entoando o nome da canção, Duane começa seu espetacular solo, com Clapton surgindo do nada e solando junto, levando ao encerramento com outro grande momento de solos.

O lado C encerra com o sensacional blues "Have You Ever Loved A Woman", de Billy Miles. Clapton sola sobre o andamento de baixo, piano e bateria, cantando emotivamente e soltando frases na guitarra que parecem cantar a letra. Duane começa a solar, e o blues ganha volume, com Clapton solando ao mesmo tempo, mas independentes um do outro, dando uma aula de como tocar guitarra para os aprendizes. Clapton retoma a letra, e o encerramento se dá de novo com as frases de blues já conhecidas anteriormente.

Já o lado D possui duas covers e um clássico eterno. O disco abre com a versão totalmente nova de Clapton para "Little Wing", do deus negro Jimi Hendrix. Aqui, Clapton começa a canção criando um novo riff e solando acompanhado pelos Dominos, para então cantar ao lado de Whitlock uma das letras mais bonitas que fora escrita por Hendrix. O solo de Clapton é simples, fugindo totalmente da versão original, e certamente temos uma nova música, apenas com a mesma letra.

A balada rockabilly "It's Too Late", de Billy Miles, vem a seguir, cantada por Clapton e com participação de Whitlock cantando em algumas frases, tendo como principal destaque o solo de Duane.

Então, eis que surge "Layla". Composta especialmente para Pattie, "Layla" tem já em seu início um riff imortal, assim como o de "Smoke On The Water" (Deep Purple) ou "Satisfaction" (Rolling Stones), e que transformou a canção em uma das mais conhecidas de Clapton. Bateria e baixo surgem junto com o órgão, e Clapton rasga a garganta enquanto Duane sola ao fundo. Pode-se sentir toda a emoção de Clapton nas frases "
you got me on my knees", "I'm beggin darlin, please" e "won't you ease my worried mind", as quais fazem parte do refrão que é sempre acompanhado pelo riff inicial.

Duane faz um solo ao fundo do acompanhamento, levando para a sessão instrumental de encerramento da faixa, que começa somente com Whitlock ao piano, e finalmente, piano e violão ficam fazendo um bonito tema enquanto Duane sola com o slide.

O álbum encerra com "Thorn True In The Garden", começando com harmônicos feitos por Duane na guitarra enquanto Whitlock e Clapton tocam violão. O baixo faz um acompanhamento simples, e Whitlock canta essa bela canção que foi composta por ele.
A linda e inspiradora Pattie Boyd


Das gravações, no dia 28 de agosto Duane adicionou sua guitarra em "Tell The Truth" e "Nobody Knows ...", e em apenas quatro dias, os Dominos gravaram "Key To The Highway", "Have You Ever Loved A Woman" e "Why Does Love Got To Be So Sad".


Durante o mês de setembro, Duane foi excursionar com o Allman Brothers, e na ausência do guitarrista, foram gravadas "I Looked Away," "Bell Bottom Blues," e "Keep on Growing." Duane retornou e gravou "I am Yours," "Anyday," e "It's Too Late." No nono dia de gravações, foi registrado "Little Wing" e "Layla", e no dia seguinte, a faixa final, "Thorn Tree in the Garden".
O LP acabou alcançando a posição 16 na Billboard americana e recebeu disco de ouro da RIAA (Recording Industry Association of America), apesar de uma recepção inicial morna nas vendas, e que iria contribuir bastante para a crise que assolaria Clapton meses depois.


Porém, durante os anos de 1974 e 1977, Layla ... ficou entre os 200 álbuns mais vendidos de todos os tempos nos EUA, mas na Inglaterra não atingiu pontos consideráveis. Tempos depois, no ano 2000, o LP foi incluído no Grammy Hall of Fame. Em 2003, a revista Rolling Stone colocou Layla and Other Assorted Love Songs na posição 115 dos 500 grandes álbuns de todos os tempos, e no mesmo ano, a TV network VH1 nomeou-o o 89 melhor álbum de todos os tempos.

O triplo The Layla Sessions, recheado de improvisos

A capa de Layla ... é uma imagem tentando reproduzir o rosto de Pattie, mas isso ralmente nunca foi comprovado. O LP recebeu vários re-lançamentos, sendo o primeiro deles em 1983, em uma versão dupla em CD. Em 1990 foi lançado o triplo The Layla Sessions, trazendo o álbum na íntegra e mais dois CDs com ensaios, inclusive os iniciais com Duane. Já em 1993 tivemos o lançamento de uma edição limitada em versão Gold e em 96 fez parte da série de lançamentos chamada Eric Clapton Remasters Series.

 
Os especialistas creditam a Layla ... como sendo o álbum em que Clapton está tocando melhor, principalmente pela companhia de Duane. O fato é que Layla ... é um álbum que deve ser degustado com calma, e cada nota gravada nos sulcos do mesmo tem uma dose de emoção e sentimento que poucos outros registros conseguem obter.


Cinco singles foram lançados do álbum: "Tell the Truth" / "Roll It Over" (1970), "Layla" / "Bell Bottom Blues" (1970), "Layla" / "I Am Yours" (1971), "Bell Bottom Blues" / "Keep On Growing" (1971) e "Bell Bottom Blues" / "Little Wing" (1973), sendo que nem todos foram lançados pela mesma gravadora. "Layla" foi o que alcançou melhor posição: décimo nos EUA e sétimo na Inglaterra, elevando bastante o número de vendas do álbum.

 
Muitas histórias do álbum podem ser encontradas nos relançamentos, mas vou voltar a história do grupo, e deixar algumas curiosidades de fora para os bolhas de plantão correrem atrás das versões e também de livros sobre Clapton.

Após as gravações de Layla ..., os Dominos sairam em turnê, sem Duane, que voltou para cumprir seus trabalhos com o Allman Brothers (lembrando que os Brothers eram contratados da Capricorn Records, e os Dominos eram contratados da Polydor).
Derek, Duane e Whitlock no show de Tampa
Durante a turnê, o consumo de drogas aumentou, principalmente por parte de Clapton, que passou a consumir com frequencia cocaína e heroína, além de beber muito, fazendo com que tivessem que interromper a turnê para a recuperação do guitarrista. Após o lançamento do álbum, o grupo foi para o Reino Unido, onde fez uma série de shows, e retornou para os Estados Unidos, culminando a turnê no dia 06 de dezembro. Nestas apresentações nos EUA, Duane participou de dois shows da turnê: um em Tampa (Flórida) no Curtis Hixon Hall, em 1 de dezembro de 1970, e outro no Onondaga County War Memorial, em Saracusa (Nova Iorque) na noite seguinte.
O bom In Concert
Em 1971, Clapton participou do Concerto para Bangladesh, organizado pelo amigo Harrison, onde já dava sinais de abatimento e de estar sofrendo com as drogas. Retomou os trabalhos, e compilou registros feitos pelo Derek and the Dominos nas apresentações no Fillmore East do mês de outubro de 1970, lançando o duplo ao vivo In Concert em janeiro de 1973, o qual apresenta longos improvisos e muitos solos de guitarra.

Os Dominos tentaram retornar para a gravação de um segundo álbum de estúdio, mas os problemas pessoais de Gordon e o abuso de drogas por Clapton estavam cada vez mais destruindo o grupo, e levando a uma série briga entre ambos.

Whitlock acabou sendo o primeiro a abandonar a barca furada que estava afundando rapidamente com o choque de egos de Gordon e Clapton, e lançou seu primeiro álbum solo em 1972, contando com a participação de todos os membros do Dominos e mais Harrison, Bobby Keys e Delaney & Bonnie, partindo então para uma carreira solo de pouco sucesso.
Uma amizade que não se abalou mesmo com a briga pela mesma mulher
Já Clapton viu a morte de Hendrix durante as gravações de Layla ... e um ano depois, a perda de seu companheiro Duane em um trágico acidente de moto. Sem o amor de sua vida, com as vendas de Layla ... muito abaixo do esperado e sem seus principais herois da guitarra, o guitarrista consumia drogas como água, e prejudicava cada vez mais seu talento, até que Clapton decidiu para de se esconder atrás do nome Derek e assumir de vez que Layla na verdade era Pattie, encerrando as atividades do Derek and the Dominos em Londres, em 1972.

Radle ainda continou trabalhando com Clapton, mas Whitlock e Gordon quebraram os pratos feio com o guitarrista. A tragédia em torno dos Dominos continou, com Radle falecendo em 1980 devido a complicações renais causadas pelo uso de álcool e drogas. Gordon foi diagnosticado como esquizofrênico, chegando a matar a própria mãe em 1983, durante um ataque psicótico, que acabou o levando ao confinamento em uma insituição de doentes mentais, onde permanece até hoje.

Clapton afastou-se do mundo da música para fazer um tratamento de recuperação das drogas, tocando novamente no concerto organizado por Pete Townshed (The Who) na data de 13 de janeiro de 1973, feito para auxiliar na recuperação de Clapton e de onde saiu o famoso e lendário álbum
Rainbow Concert (1973).

A partir de então, Clapton revitalizou a carreira lançando bons discos (como
461 Ocean Boulevard e E. C. Was Here) e outros nem tanto (Behind The Sun e August são alguns exemplos), mas fazendo muito sucesso e se tornando um dos grandes guitarristas e compositores da história da música.
O casamento de "Layla" e "Derek"
No final de 1973, Pattie separou-se de Harrison por causa de Clapton, mas antes de se envolver com o guitarrista, arruinou o coração de outro ás das seis cordas, Ron Wood, fazendo com que o guitarrista dos Stones escrevesse outro clássico em homenagem a Pattie, "Breathe On Me". Em 1974, Clapton finalmente passou a ter Pattie ao seu lado, com quem veio a casar em 1979. O relacionamento dos dois foi muito conturbado, com Clapton agredindo-a constantemente e tendo vários casos de adultério. Separam-se em 1985, após Clapton ter um affair com Lori del Santo, mãe do garoto Conor, que faleceu no dia 21 de março de 1991 e que inspirou Clapton a cômpor outro clássico, "Tears In Heaven".
O derradeiro Live at the Fillmore
Ainda como último registro dos Dominos, em 1994 foi lançado Live at the Fillmore, trazendo a apresentação completa do que já havia sido lançado no álbum In Concert, em um material caprichado e totalmente remasterizado.

Mas o que fez Jack Bruce enquanto isso?
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