sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Gentle Giant - The Chrysalis Years


A primeira metade dos anos 70 propiciaram os grandes discos da carreira do Gentle Giant. Mas o que aconteceu com o grupo a partir de 1975. Vamos então apresentar os discos que encerram a carreira do grupo. Começamos pelo fato de que após o período de contrato com a Vertigo/WWA, o grupo estava insatisfeito com o mesmo. Lembrando que a formação na época era Gary Green (guitarras, violões, vocais), Kerry Minnear (teclados, mellotron, vibrafone, vocais), Derek Shulman (vocais, saxofone), Ray Shulman (baixo, violino, violões, trompete, vocais) e John Weathers (bateria, percussão).

O time então resolveu fazer um contrato com a gravadora Chrysalis, e assim, entrando no período chamado The Chrysalis Years, que culminou com os cinco último discos dos britânicos. 

Free Hand (1975) 

Free Hand foi lançado em 22 de agosto de 75. Ele traz resquícios do que fôra feito anteriormente aparecem aqui e acolá, como a brilhante "His Last Voyage", de grandes inspirações jazzísticas e um trabalho vocal esplêndido, e a também no trabalho instrumental da faixa-título. Porém, há um som mais acessível em Free Hand logo na primeira faixa, "Just the Same". A mesma fórmula é repetida em "Time to Kill" e "Mobile", que apesar de apresentarem alguns momentos mais trabalhados, estão longe do que poderíamos esperar das ousadias e complexidades já construídas pelo grupo. Por outro lado, é venerável o sorriso que o arranjo vocal polifônico e de lindas harmonias da sensacional "On Reflection" leva ao fã do grupo. Certamente uma das melhores canções do quinteto, com um brilho extra de Minnear nos mais diversos instrumentos e também nos vocais centrais, em uma peça que remete bastante músicas renascentistas. Essa lembrança renascentista também está forte na instrumental "Talybont", lindíssima e de nuances brilhantes através da repetição da melodia central em diversos instrumentos. No geral, a mudança na sonoridade não foi tão gritante, mas acabou facilitando os ouvintes americanos a adquirirem o gosto pelo grupo, alavancando as vendas nos Estados Unidos, e fazendo este o álbum da banda que conquistou a melhor posição nas paradas daquele país, no quase, a quadragésima oitava.

Interview (1976) 

Este álbum é conceitual, lançado em 23 de abril de 1976, foi concebido para ser uma espécie de entrevista imaginária para rádio, onde as respostas ironizam com a indústria musical e também com a imprensa em geral. Porém não funciona como conceitual. Os trechos da suposta "entrevista" não conseguem fazer com que aja uma fluidez que um álbum conceitual exige. Há momentos interessantes na faixa-título e em "Timing", onde a mistura de diversos instrumentos é um atrativo a parte, assim como a parte acústica novamente é encantadora, aqui na linda "Empty City". 

Gary Green estava soberano nas seis cordas, seja na guitarra, com ótimos solos, seja no violão, como na introdução trabalhadíssima de "I Lost My Head". Falando em violões, o melhor de Interview fica para o arranjo vocal e percussivo de "Design", apesar da canção em si não funcionar como por exemplo em "On Reflection" e para a veloz "Another Show", faixa bastante surpreendente pela pancadaria que come solta em pouco mais de três minutos. 

São desnecessárias as invenções de "Give it Back", que flerta com o reggae, e que acabou sendo o único (e fracassado) single do álbum. É um belo disco, e que apesar não funcionar como conceitual, continuou mantendo o nível dos lançamentos do grupo. Mesmo assim, foi apenas posição 137 nos Estados Unidos. 

A turnê de Interview propiciou o primeiro ao vivo da banda, lançado em 18 de janeiro de 1977. Playing the Fool é para mim um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos.  Registrando shows pela Europa no ano de 1976, aqui os fãs que não tiveram a oportunidade de ver um show do grupo, conseguiu comprovar que os caras eram realmente sobrenaturais, levando para os palcos toda a complexidade que já estava sendo empregada nos estúdios, e as vezes até ampliando a mesma. Vários são os destaques nesse disco, mas me atenho a três faixas: o complicadíssimo medley "Excerpts from Octopus", que como o nome diz faz um resgate das canções de Octopus, a estonteante "So Sincere", com uma magnífica sessão percussiva, e a mais que emocionante versão de "Funny Ways", onde Kerry Minnear se vira nos 30 entre teclados, violoncelo e mandando ver em um arrepiante solo de vibrafone. A versão britânica traz um belo livreto de doze páginas, que infelizmente não chegou ao mercado nacional. Disco essencial para qualquer amante de rock progressivo. 

Infelizmente, o desconforto interno já era grande, e isso seria sentido nos próximos álbuns do grupo. O impacto de Interview pode ser conferido nas palavras de Derek: "Penso que Interview foi o início da erosão da banda. A criatividade estava começando a diminuir, e ali, passamos a nos preocupar muito mais com o negócio da banda, e quem gerenciava isso era eu. O negócio da música se tornou um grande negócio para nós".

The Missing Piece (1977)

Após o fim da turnê de Interview, o quinteto viajou para a Holanda decidido novamente a mudar o som, ampliando os caminhos em busca desse "grande negócio", e claro, isso também exigiria o lançamento de singles. Lançado em 26 de agosto de 1977, The Missing Piece é um álbum chocante para o fã mais conservador do Gentle Giant, porém com ótimas faixas para aquele que tem a cabeça mais aberta. É dividido em dois lados bem distintos. 

Pela primeira vez, Derek assumiu o vocal em praticamente todas as canções, com exceção apenas de "As Old as You're Young", cantada por Minnear. O lado A tem a predominância de um som mais acessível, como no punk (?!) de "Betcha Thought We Couldn't Do It" , ou faixas do estilo soft rock, que iria vir a dar o tom do disco seguinte, Giant for a Day. Claro, esse pop não é um pop simples, vide as boas passagens de "Mountain Time", "Two Weeks in Spain" e "Who Do You Think You Are?". Gosto da balada "I'm Turning Around", que lembra o Genesis dessa época, principalmente no refrão. Claro, não é nada próximo do que a banda já fez, mas são boas músicas ao meu ver. 

Já o lado B traz o brilho e talento que qualquer admirador dos britânicos sabem apreciar, principalmente na obra "Memories of Old Days", fácil a melhor do álbum, e por que não, uma das melhores desse período, com sua hipnotizante introdução aos violões, a linha de baixo seguindo os violões, o vozeirão de Derek estourando as caixas de som e claro, Minnear fazendo uma participação precisa com seus teclados. Outro bom trecho progressivo é o riff intrincado de "For Nobody", uma faixa mais pesada, mas com belo trabalho vocal e instrumental, trazendo experimentações principalmente nas harmonias vocais. Experimentações, agora instrumentais, também aparecem na introdução de "Winning" e no solo de "As Old as You're Young", mas essas faixas estão aquém das demais do lado B, e até mesmo do disco em si. 


"Two Weeks in Spain", "Mountain Time" e "I'm Turning Around" saíram como singles, mas tiveram vendas abaixo do que poderia ser considerado terrível. 

O álbum até conseguiu uma posição melhor que seu antecessor, atingindo a octagésima primeira, mas nada que justificasse a mudança sonora para atingir o sucesso no tal "grande negócio", que estava naufragando. 

Porém, a banda acreditou que essa mudança ia trazer resultados positivos, e seguiu na mesma linha no fraquíssimo Giant for a Day!.

O fraco Giant for a Day!, com sua capa trazendo uma máscara

Lançado no dia 11 de setembro de 1978 chegou às lojas o contestado Giant for a Day!. Poucas bandas tem aquele disco preferido para ser considerado o pior de sua discografia, e o Gentle Giant é uma dessas, com este sendo o tal disco. O grupo fugiu de qualquer lembrança das inspirações renascentistas, construções intrincadas, multi-instrumentos entre outro, e preferível tentar criar um som totalmente comercial. O resultado é tão constrangedor quanto péssimo. O arranjo vocal de "Words from the Wise", faixa que abre o disco, até dá uma esperança, mas ao longo dos 35 minutos de Giant for a Day!, pouco se escapa. 

Faixas comuns e radiofônicas, como o rock de "Little Brown Bag", a dançante "Rock Climber" ou a emotiva "Thank You" e sua levada acústica, têm alguns pontos positivos, mas nada marcante ou que se dê para ficar ouvindo por muito tempo. Ruim e constrangedora é o que consigo dizer para "It's Only Goodbye", sem palavras mais para descrever. Por outro lado, esses adjetivos e no mínimo ridícula são adjetivos para a faixa-título, certamente a canção mais fora da curva em toda a discografia do grupo, brigando cabeça-cabeça com "Take Me", ambas cheias de eletrônicos e muito, mas muito ruins.  Se bem que "No Stranger" é muito ridícula, ruim e constrangedora, seja pelas vocalizações a la Beach Boys ou pela música mesmo. 

Enfim, difícil dizer qual a pior canção deste disco, mas fácil eleger as melhores. Elas são "Friends", cantada surpreendentemente por John Weathers, acompanhado apenas pelo violão e baixo, e a instrumental "Spooky Boogie", uma canção simples, levada pelo riff de baixo e bateria, mas com um certo ar de frescor perto das demais canções. Giant for a Day! é tão fraco que não conseguiu entrar nos charts de vendas, assim como nenhum dos dois singles ("Thank You" e "Words from the Wise", ambos com "Spooky Boogie" no lado B). A capa e o encarte podem ser recortados para se obter uma máscara de gigante, e ser então um Gigante por um Dia. Talvez se tivesse sido lançado com outro nome de banda, poderia ter seus méritos, o que também atesta que não é o pior disco de todos os tempos, quiçá do progressivo (Focus e Russian Roulette, do Triumvirat, ainda estão anos-luz à frente ocupando este posto). Mas como Gentle Giant, é um disco bem decepcionante, e foi o único a não ser promovido nos palcos. 

Civilian (1980) 

Mudando-se agora para os Estados Unidos, o grupo grava entre agosto e novembro de 1979, lançando em 3 de março de 1980, seu décimo primeiro e último álbum. Civilian apresenta uma grande influência da New Wave, e apesar de muitos fãs torcerem o nariz para o resultado final, eu confesso que gosto bastante do que foi registrado aqui. O álbum já começa com a pesadíssima "Convenience (Clean and Easy)", uma ótima faixa para colocar o quinteto nos anos 80. A guitarra é o instrumento mais marcante ao longo do disco, com destaque para o riff de "Number One" e o dedilhado enigmático de "Inside Out".

Para quem quer viajar em um progressivo oitentista, vibre com o piano e os teclados de "Shadows in the Street", cantada por Minnear e forte candidata a melhor do álbum. Brigando por essa posição, "Underground", com sua levada disco, mas ao mesmo tempo trazendo um arranjo vocal e um peso muito bons. Aliás, há influências modernas em todo o álbum, mas com um tempero progressivo bem empregado, como o AOR de "All Through the Night",  o pop de "I Am A Camera". Outra canção que chama a atenção pelo seu bom trabalho instrumental é "It's Not Imagination", onde teclados e guitarras fazem uma excelente condução. É um belo disco, que supera muito seu antecessor, e encerra digninamente uma obra fantástica. Vale lembrar que na América do Norte, Civilian saiu pela Columbia, onde alcançou somente a posição 203, sendo lançado pela Chrysalis no Reino Unido. Daqui saiu o single com "All Through The Night" / "Convenience (Clean And Easy)", que também foi um fracasso comercial. 

John Weathers, Gary Green, Ray Shulman, Kerry Minnear e Derek Shulman. Uma das últimas fotos da banda

Ainda em 1980, após uma breve turnê de divulgação de Civilian, o grupo se desfez. O último show do grupo foi em 16 de junho de 1980. A razão central da separação foi não conseguir mais encontrar a criatividade para sobreviver. Enquanto Kerry e Gary queriam voltar aos passos progressivos, os irmãos Shulman desejavam o sucesso a qualquer preço, acabando então com uma das maiores bandas da história. Derek entrou para o mundo da produção musical, onde chegou ao posto de presidente de empresas como Atco Records e Roadrunner Records. Ray compôs trilhas e também se tornou produtor musical, com destaque para os trabalhos com Echo & the Bunnymen, Genesis, Queen e Sugarcubes. John Weathers fez parte de grupo como o Man e o Wild Turkey, enquanto Gary foi o mais ativo como músico, participando de diversos álbuns desde então. Kerry entrou para o mundo da música gospel, e hoje é responsável pela Alucard Music, organização responsável pelos royalties do Gentle Giant. Martin Smith estabeleceu-se na Inglaterra, tocando bateria por diversas bandas, vindo a falecer em 2 de março de 1997, enquanto Malcolm Mortimore toca bateria em grupos de jazz até hoje.Por fim, Phil abandonou a música, e virou professor e comerciante, tendo trabalhado raramente com música após sua saída da banda.

Para os completistas, recomendo os boxes Scrapping the Barrel e Memories of Old Days, ambos com muitas preciosidades relacionadas ao grupo, e também o DVD Giant on the Box, onde pode ser conferido como era o exaustante e encantador trabalho de palco dessa formação, uma das melhores de todos os tempos não só para o progressivo, mas para a história da música. 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


E vamos as tradicionais listas de Melhores do Ano. Depois de algum tempo sem conseguir acompanhar lançamentos com certa assiduidade, ou de conseguir curtir 10 álbuns para fechar uma lista digna de ser apresentada aos leitores, eis que 2021 trouxe o retorno aos estúdios de gigantes que eu admiro, e que acabaram fazendo com que eu ouvisse bastante os álbuns que aparecem abaixo, principalmente nos lançamentos do último trimestre (outubro, novembro e dezembro). Foi um ano difícil, muitas perdas, muitas tragédias, mas fica a esperança para 2022. Que ele não repita tudo de ruim que aconteceu em 2021, mas que possa trazer paz, saúde, e claro, lançamentos tão bons quanto os que curti. Vamos a lista.

1.  ABBA - Voyage

Podem me dizer o que quiserem, mas Voyage é disparado o melhor disco de 2021. Anos esperando um lançamento novo dos suecos, e eis que o quarteto detona. O melhor do pop para agradar qualquer fã do grupo, ainda mais com músicas maravilhosas como "Don’t Shut Me Down", "Just a Notion" " Keep An Eye On Dan" e "No Doubt About It". Benny e Björn criando faixas como se o tempo não tivesse passado para eles, e o mesmo pode se dizer das vozes de Agnetha e Frida. A turnê holográfica não me atrai, mas esse discaço está rodando direto nessa descoberta (que não gosto muito, mas é o que temos no momento) que foi o Spotify. Lançado em 05 de novembro.


2. Steve Hackett - Under a Mediterranean Sky

Que Steve Hackett sempre é capaz de nos surpreender, disso ninguém tem dúvida. Depois de bons discos com vocais nos últimos tempos, eis que ele largou a guitarra, pegou o violão e foi unir-se a Roger King (teclados e arranjos orquestrais) para se inspirar nos sons mediterrâneos em um fantástico disco de violão clássico, que mistura elementos desde o flamenco até o oriente médio. O épico que abre o álbum, "Mdina (The Walled City)" é uma das canções mais virtuosas que já tive oportunidade de ouvir advinda das mãos do cara. Certamente sabia que ele é muito talentoso, mas os dedilhados furiosos que ele faz ao violão aqui, são de cair o queixo. Outra surpresa foi o uso do trêmolo em "Adriatic Blue" e "The Memory of Myth", como é linda essa técnica, e como Hackett a faz tão bem. E claro, ao ouvir "Scarlatti Sonata" uma lágrima correu, me lembrando os bons tempos que estudei violão clássico. Composições lindas, na linha do que John Willians já havia feito há algum tempo atrás, que atestam como um grande músico sabe se reinventar, e não necessariamente ficar tocando sempre a mesma coisa por anos e anos. Há tempos não ouvia algo tão tocante relacionado a arte do violão clássico. Lançado em 22 de janeiro. 

3. Styx - Crash the Crown

Outro que tocou muito no Spotify. O Styx volta a fazer uma sonoridade próxima ao progressivo, e faixas como  “A Monster”, “Hold Back The Darkness”, "Long Live The King" e “Our Wonderful Lives” atestam por que o Styx é a melhor banda daquelas que foram consagradas pelo seu som perambulando entre o pop comercial e o rock progressivo, empregando elementos acústicos, pesados, orgãos de igreja e até trompete (!) com uma precisão impecável. Perguntinha: quando o Styx dará o ar da graça por aqui? Lançado em 18 de junho. 

4. Greta Van Fleet - The Battle at Garden's Gate

Como é bom ver jovens alunos evoluindo, conseguindo caminhar por conta própria, e prometendo dar muito orgulho aos seus professores. É o caso do Greta Van Fleet. Se o álbum anterior trouxe muitas comparações ao Led Zeppelin, em The Battle at Garden's Gate os irmãos Kiska (e o batera Daniel Wagner) praticamente limaram essa comparação. Os rapazes estão cada vez mais soberanos em suas criações, claro, trazendo influências Zeppelianas, mas com arranjos e harmonias puramente VanFleetianos. O álbum é uma paulada atrás da outra, mesmo nas baladas, e até nos momentos acústicos as canções conseguem te dar uma pancada no peito, que te sacode por inteiro. Grande destaque para os solos de Jacob, como esse menino evolui nas seis cordas, e também no uso do wah-wah, basta ouvir, e se emocionar, com o maravilhoso solo de "The Weight of Dreams". Outras grandiosas faixas são "Broken Bells", "Heat Above" e "Built By Nations". Ansioso para ver esses caras abrindo para o Metallica, o laço que vão dar nos velhinhos. Certamente, se seguirem nesse patamar, serão lembrados como a maior banda deste século. Lançado em 16 de abril. 

5. Jerry Cantrell - Brighten

Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Todos os exageros da geração Seattle dos anos 90 não foram capazes de afetar sua capacidade de criar músicas sensacionais. Apesar de Brighten trazer canções que em pouco lembram Alice in Chains, como por exemplo "Prism of Doubt", há também faixas pesadas e empolgantes, como a faixa-título, "Had To Know", que me fazem pensar como seria bom se Layne Stailey estivesse ainda criando faixas ao lado de Cantrell. Ouvir "Siren Song" fez arrancar lágrimas imaginando os dois cantando juntos essa faixa. Belo disco! Lançado em 29 de outubro. 

6. Big Big Train - Common Ground 

Me aproximei mais do Big Big Train depois da entrada de Rikard Sjöblom na banda. Apesar de não curtir os vocais Neal Morseanos de David Longdon, é inegável a contribuição que o ex-Beardfish Rikard deu para a banda. Da Suécia, o rapaz trouxe sua genialidade ímpar para criar peças preciosas, e que bom que Longdon percebeu o talento do cara. Mesmo que Rikard tenha composto apenas uma canção, a linda "Headwaters", somente ao piano, suas contribuições com teclados e guitarra em faixas como "All The Love We Can Give" e na suíte "Atlantic Cable", verdadeiras teses de rock progressivo atual baseadas nos grandes trabalhos dos anos 70. Destaque total para "Apollo", fantástica faixa instrumental cria do batera Nick D'Virgilio, e indicada para quem curte Yes e afins. Lançado em 30 de julho. 

7. Stew - Taste

O Stew surgiu para mim através de um Test Drive que fizemos em 2019, e desde então, virou banda de audição constante com aquele álbum. Em novembro desse ano, veio Taste, mais uma bela paulada que mostra elementos de hard rock dos anos 70 surpreendentes. Novamente, o disco é curto (pouco mais de meia hora), mas o suficiente para quebrar pescoços e estourar cordas de air guitars mundo a fora, principalmente na pesadíssima "Earthless Woman", na rifferama de "Heavy Wings" e na trabalhada "Still Got the Time". Destaque também para a balada bluesy "When the Lights Go Out". Lançado em 12 de novembro.

8. Lucifer - Lucifer IV

Passei a prestar mais atenção ao som do Lucifer a partir do Melhores do Ano passado, onde a banda figurou nos dez mais. O som de Lucifer IV é pesado e ótimo de se ouvir com o som no talo. Os vocais de Johanna Sadonis estão cada vez mais sedutores e potentes, e as construções instrumentais mostram como o Black sabbath ainda influencia novidades, e é capaz de parir bisnetos tão tinhosos quanto foram suas composições originais, vide "Cold as a Tombstone", "Phobos", "Orion", "Wild Hearses", e com certeza, "Mausoleum", cuja introdução já colocou fácil esse álbum nesta lista. Essas faixas, que apesar do cheirão evidente do couro da jaqueta do bisavô Iommi, trazem todo um frescor do século atual. Lançado em 29 de outubro.

9. Robert Plant & Alison Krauss - Raise the Roof

Raising Sand, o primeiro álbum da dupla, é um álbum tão bom que ficamos na expectativa de como seria um segundo lançamento deles. Pois 14 anos depois, Plant e Krauss voltaram com Raise the Roof. Não é um disco tão impactante quanto seu antecessor, mas mesmo assim, muito belo. As canções parecem ser uma sequência natural da carreira de Plant ao lado da Sensation Space Shifters, porém aclimatadas pelo sempre excepcional vocal de Krauss. Faixas como "Go Your Way", "Searching for My Love" trazem belas harmonias vocais e instrumentais, e como Plant ainda está com a voz em dia, incrívelmente, como mostra também "High and Lonesome". Quando Alison tem o predomínio vocal, como "The Price of Love" e "It dont Bother Me", é de uma lindeza única. As melhores, "Quatro (World Drifts In)" e "Last Kind Words Blues", trazem elementos perfeitos para serem ouvidos enquanto nossos nervos são tocados pelas belezas emanadas dessas ótimas composições. Lançado em 19 de novembro. 

10. Caligonaut - Magnified as Giants

Estes noruegueses surgiram como indicação no Spotify, em virtude de eu ter ouvido bastante Wobbler esse ano, e fiquei encantado. É um progressivo mito bem feito, lembrando um pouco de Genesis mas trazendo também boas pitadas de peso, muito por conta da participação do membro do Wobbler  Lars Fredrik Frøislie (teclados, mellotron). A abertura com a linda "Emperor" já traz uma mistura incrível de elementos acústicos e elétricos, com teclados e baixo predominando entre os dedilhados de violão e guitarra. O trabalho de violão também é relevante em "Hushed" e na bela faixa-título. A suíte "Lighter Than Air" é uma das grandes joias desta década, em termos musicais. Quatro faixas apenas, mas muito boas para nos fazer esperar ansiosamente por mais um lançamento do Wobbler, e que o Caligonaut possa se manter na ativa, além de mostrar que a Escandinávia vem cada vez mais parindo as melhores bandas deste século em se tratando de progressivo. Lançado em 26 de fevereiro.

Menção Honrosa: Serj Tankian - Elasticity

O EP Elasticity trouxe o velho Serj Tankian para minhas audições. as cinco canções são uma moderna criação do que poderia ser o SOAD hoje em dia. Destaque em especial para "Your Mom" e "Electric Yerevan", pesadíssimas, e o piano com orquestra na sensacional "How Many Times?". Não entrou na lista dos dez melhores apenas por que é um EP. Ah se o SOAD voltasse ... 😔

Decepções: Iron Maiden - Senjutsu e Deep Purple - Turning to Crime

Que o Iron vem se repetindo há anos não é novidade. O problea central de Senjutsu é que as músicas longas estão cada vez mais sonolentas, e as mais curtas são um pastiche da carreira solo de Bruce Dickinson ou de composições de Adrian Smith. Disco modorrento, que não sei se irá me conquistar um dia. 

Turning To Crime é um disco triste. OK, o Deep Purple apresenta suas homenagens, mas falta uma vitalidade ao longo das canções. Mais uma banda que não há por que continuar na ativa, ao meu ver, e que deixei de acompanhar há algum tempo. Até tinha esperanças com Turning to Crime, mas foi uma grande decepção.

Vergonha alheia: The Metallica Blacklist 

Sério, quem foi o "gênio" que teve a coragem de lançar quatro horas de versões para algumas músicas do clássico "Black Album" do Metallica, em mais de 4 horas de duração? E sério, quem que se animou a comprar isso? Não me senti a vontade para ouvir o tal disco, até por que ouvir sete versões diferentes de "Sad But True" e "The Unforgiven", seis de "Enter Sandman", e doze (!) de "Nothing Else Matters" é ter muito tempo para ser perdido. Sério, que ideia de jerico isso aqui. 

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