segunda-feira, 29 de abril de 2013

DVD: Uli Jon Roth - Live at Castle Donington [2007]



Por Mairon Machado

Sabe aquele DVD que quando você menos percebe ele já acabou e quando olha em sua volta está tudo revirado como se um furacão estivesse ocorrido em seu quarto e você nem se dá conta do que aconteceu até colocar o DVD na caixinha e ver que o que acabou de passar realmente era algo fora do comum? Esta foi minha experiência ao assistir o DVD Legends of Rock at Castle Donington do guitarrista alemão Uli Jon Roth.

Este é o terceiro DVD da série de três DVDs divulgadas pela Hellion Records em homenagem ao ex-guitarrista do Scorpions. Os dois primeiros foram The Electric Sun Years Vol. I e The Electric Sun Years Vol. II, compilados em um único DVD. Os dois primeiros traziam um apanhado de shows nas duas fases da banda solo de Uli (a Electric Sun). Este contém a apresentação de Uli como headliner do festival de Castle Donington, o Rock & Blues Custom Show de 2001.


Acompanhado por seu companheiro de Electric Sun Clive Bunker (bateria), Don Airey (teclados) e Barry Sparks (baixo), Uli está em excelente forma e brinda a platéia com um espetáculo musical de extremo bom gosto.


O DVD começa com a instrumental "Trail in the Wind" mostrando uma coletânea de vídeos do show, bem como os músicos que participam do espetáculo, para o apresentador animar a plateia e dar as boas vindas à Uli Jon Roth.

Uli Jon Roth e sua Sky Guitar

Com a noite começando a baixar sobre as milhares de pessoas presentes no lugar, o guitarrista detona os primeiros acordes da linda "Sky Overture", trajando sua tradicional faixa na cabeça e empunhando a famosa Sky Guitar. Com um arranjo clássico que ganhou muito com a participação de Airey, as escalas de Uli são complicadíssimas. Mostra para os Malmsteen's da vida como empregar notas rápidas, alavancadas e bends no tempero certo, alternando momentos rápidos e outros lentos. Tudo isso sempre com um sorriso no rosto, como se fosse natural executar aquelas intrincadas peças.

O show continua com um arranjo para o início do segundo movimento do Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, popularmente conhecido como "Adagio". Uma das coisas que me irrita muito é alguém que diz adorar esse concerto, mas só conhece este início do segundo movimento. Originalmente elaborado para violão e orquestra tem nessa segunda parte, chamada aqui de "Aranjuez", um duelo entre oboé e violão. Airey faz novamente um belo trabalho executando as parte da orquestra enquanto Uli brinca na guitarra fazendo os lindos temas do oboé e do violão.


"The King Returns" mantém a linha clássica de Uli. Novamente acompanhado por Airey, tem como ponto máximo o belíssimo dueto de órgão e guitarra.

Após essa apresentação inicial de sua carreira solo, o músico chama ao palco os membros do UFO (grupo briitânico que estará em turnê pelo país agora em maio, com shows em São Paulo (11), Porto Alegre (12), Rio de Janeiro (14) e Goiânia (16)) Pete Way (baixo), Phil Moog (vocais) e Michael Schenker (guitarras). Aí começa a pauleira! Moog anuncia que vão voltar no tempo e "Let It Roll" é detonada nos amps. Sparks agora toca guitarra, enquanto Way corre por todo o pequeno palco. O duelo entre Uli e Schenker é fantástico! A parte lenta começa com o solo do gordíssimo Schenker, mas que está tocando como nos anos 70 com a sua Flying V. As intervenções de Uli tornam o solo de Schenker ainda mais bonito e é impossível não se arrepiar com a qualidade sonora apresentada quando começa a alternância dos solos. A sequência final é de chorar com ambos os guitarristas tocando as notas juntos e trazendo a pauleira novamente.

Uli, Phil Mogg e Pete Way

Mais uma canção do UFO é apresentada. Agora, a clássica das clássicas, "Rock Bottom". Aqui a minha air guitar começou a fazer efeito no meu quarto. Schenker executa o riff principal, seguido por Uli, enquanto Way pula feito um garoto no palco. É impressionante como o velhinho não perdeu a forma. Moog não está na melhor forma vocal, mas mesmo assim, é o cara ideal para cantar uma das melhores músicas de todos os tempos.
Uli acompanha a melodia vocal da parte antes do solo. A prova clara da influência do UFO sobre Steve Harris. Joguem as pedras, mas imaginem Paul Di Anno cantando os "Where do we go?" da letra.
O que vêm a seguir é matador. Se o solo de Schenker sozinho já era fenomenal, imagine os dois juntos! Pois bem! Schenker começa o solo no seu melhor estilo, abusando de feeds e notas longas, mas claramente sem muita inspiração. Uli faz seu primeiro solo, também sem muita inspiração, empregando bastante escalas clássicas. O que Schenker faz na guitarra a seguir é indescritível! Uma sequência incrível de arpejos e notas rápidas, contrastando com a segunda sequência de Uli. O dueto dos dois no tema final do solo é de chorar! Notas reproduzidas igualmente vão ganhando corpo, Uli destrói as cordas da guitarra para encerrar a sequência de solos com um solo magistral de Schenker quase ajoelhdo em frente aos amplificadores. Todos da banda sorriem, felizes pelo resgate deste grande guitarrista que já passou por poucas e boas em sua carreira. O único porém é que Bunker não é Andy Parker. E assim, o acompanhamento de bateria ficou aquém do que poderia ser...
O debulhe de notas do encerramento do solo é executado idênticamente por Uli e Schenker. Moog e Way puxam a platéia com os gritos de "Rock Bottom" voltando então ao riff principal e ao encerramento da letra e da canção com Way apontando seu baixo para o público como se fosse uma metralhadora (outra das inspirações de Steve Harris), tirando a corrente do baixo e jogando o mesmo para cima, alucinado.

Michael Schenker

O público delira, mas o show não pode parar. Uli chama a lenda do rock Jack Bruce e diz que é um prazer voltar aos anos 60 para tocar alguns de seus sons favoritos. O primeiro deles: "Sunshine Of Your Love". Não houve ensaio entre Bruce e a banda de Uli. Então, não se sabia o que esperar da apresentação do ex-baixista do Cream.
Bruce brinca no baixo por alguns segundos e Uli puxa o riff deste clássico, como um bom power-trio. Que me perdoem os conhecedores e apaixonados por Clapton. O timbre de Uli Jon Roth está idêntico ao do Deus da Guitarra. Colocando para um desavisado, certamente ele vai dizer que é o Cream que está tocando. Principalmente por que o vocal de Bruce continua o mesmo dos anos 60. O guitarrista dá o seu tempero para o solo, enquanto Bruce está alucinando pelo palco, girando e pulando com seu baixo sempre com aquele balanço de cabeça que o caracterizou.
E minha air guitar surge outra vez. O solo é fantástico! Com Bruce solando junto, tentando engolir cada nota de Uli, enquanto Bunker se vira em 1000 para acompanhar o duelo dos dois. Jon Roth sola rindo com a empolgação de Bruce, que de olhos fechados caminha por todo o palco, e cede espaço para o baixista executar um pequeno solo antes de encerrá-la de forma primordial.
A alegria estampada na cara de Uli é mantida para a execução de outro clássico, "White Room". Agora contando com Airey nvovamente! Novamente é impossível não dizer que é o Cream que está tocando. O guitarrista abusa do wah-wah como se o aparelho fosse uma jovem garotinha. Bruce rasga a garganta como nos bons tempos.
É impressionante como o timbre da Sky Guitar está diferente. Isso fica comprovado no solo, onde novamente os dois gigantes lutam como gladiadores famintos pelo sangue do adversário. O que Bruce está fazendo no baixo é assustador. Tocando o instrumento como se fosse uma guitarrra. Notas altas, notas baixas, bends e muito feeling. De tirar o chapéu! O sorriso nos rostos dos músicos é marcante. A prova clara do prazer de estar no palco. Não pelo dinheiro, mas pelo amor a música.

Uli e Jack Bruce

O DVD dá um salto no tempo e entra em uma homenagem ao seu maior ídolo, Jimi Hendrix. Assim, ele apresenta para nós "All Along The Watchtower", acompanhado apenas por sua banda. Uli canta a letra de Dylan. Seu ponto forte nunca foi os vocais, e sim a guitarra. O que ele faz em "All Along ..." é para Hendrix dizer amém! E a air guitar continua fazendo efeito.
A prova final vêm na segunda homenagem a Hendrix, a pérola "Little Wing". Em um ritmo um pouco mais rápido que a original, executa o riff introdutório de forma impecável. Com a adição dos teclados de Airey, a canção ganha um clima bem flower-power. Quem é fã de Hendrix, segure as lágrimas! Cada nota de Uli solando com a ajuda do botão de volume é emocionante até mesmo para o guitarrista. Um dos raros momentos do show em que esconde seu sorriso para um momento de concentração total.
Os integrantes do UFO voltam para a magistral "Doctor Doctor". A introdução ocorre acompanhado por Airey no piano e seguido por Schenker. O riff principal é executado e novamente temos Way pulando no palco e Moog liderando o vocal. Segure a perna para não dançar por toda a casa e pagar mico para os vizinhos. Certamente os gritos de "Doctor Doctor" serão ouvidos pelos mesmos. O som encerra com a platéia alucinada, gritando o nome de Uli e UFO.
O melhor de tudo ainda estava por vir. O guitarrista sai do palco enquanto um dos apresentadores começa a instigar a plateia dizendo que ainda restam dois minutos para o encerramento do festival. Aos berros de Uli! Uli! Uli!, volta ao palco e começa a elaborar um pequeno improviso sob os aplausos dos fãs. Do nada Bunker, Airey e Bruce retornam ao palco. O que temos a seguir é um verdadeiro resgate dos tempos de Cream, chamada de "Fireworks Jam". É o momento de encerramento do festival onde fogos são lançados para a platéia desfrutar o momento.
Se no Cream, Clapton ficava sério em seu canto tentando provar que era o máximo, aqui, Bruce encontrou um ótimo parceiro que abre sorrisos para o baixista e cede seu espaço por vários momentos, enquanto os fogos explodem no céu. Os dois minutos que o apresentador havia concedido acabam se tornando em uma deliciosa jam de quase 13 minutos contando com passagens pelo tema de "Norweggian Wood" (Beatles) e um retorno ao tema de "Sunshine Of Your Love" que se encerram somente pela intervenção de um dos organizadores do evento que sobe ao palco e grita nos ouvidos de Uli que está na hora de parar. Fato que deve ter sido muito frustante, pois a alucinação de todos no palco é enorme. Todos estavam de olhos fechados, com tímidos sorrisos e não dando a mínima bola para o tempo. Somente curtindo cada segundo do que estão fazendo.
Uli despede-se. A platéia, aplaude encantada com o que acabou de ver. No meu quarto já não resta mais nada em pé. O braço da minha air guitar derrubou tudo o que havia por perto. Ainda tem os bônus. Mas antes, "Atlantis", na versão de Transcedental Sky Guitar apresenta os créditos do DVD.

Nos bônus, duas canções que ficaram de fora da sequência. A primeira é "Midnight Train", a qual foi executada apenas pelos integrantes do UFO, juntos de Bunker e Airey, onde o destaque novamente é a energia de Way e os riffs de Schenker. A segunda é nada mais, nada menos do que "Spoonful" com Bruce cantando outro grande clássico imortalizado pelo Cream ao lado de Uli e Bunker. De quebra, temos fotos da apresentação e a história de como ocorreu o espetáculo (em inglês).
Pode ter faltado uma ou outra canção, como "Hiroshima", e principalmente clássicos do Scorpions como "Hell Cat", "Fly To The Rainbow" e "Polar Nights". Agora... Um DVD que traz uma variedade que vai do UFO para o Cream, coloca juntos Uli Jon Roth e Michael Schenker, com certeza tem que estar na prateleira de todo colecionador. E em uma posição de fácil localização, para ser colocado no aparelho quase todos os dias. Apenas controle sua empolgação com a air guitar e deixe que os mestres da guitarra façam o trabalho nas guitarras de verdade. Nota 10 em 10!
Track list
1. Trail in the Wind (intro)
2. Sky Overture
3. Aranjuez
4. The King Returns
5. Let It Roll
6. Rock Bottom
7. Sunshine of Your Love
8. White Room
9. All Along the Watchtower
10. Little Wing
11. Doctor Doctor
12. Fireworks Jam
13. Atlantis
bonus tracks:

14. Midnight Train
15. Spoonful

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Maravilhas do Mundo prog: Pink Floyd - Dogs [1977]

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Concluindo a série de Maravilhas Prog lançadas pelo Pink Floyd, chegamos ao ano de 1977. Dez anos depois de o grupo ter lançado seu primeiro álbum (The Piper at the Gates of Dawn), muita coisa havia se passado desde então.

O líder e fundador da banda, o guitarrista Syd Barrett, havia sido demitido em 1968, sendo substituído por David Gilmour. Em menos de cinco anos, o grupo lançou um álbum duplo mezzo ao vivo e mezzo estúdio (Ummagumma, de 1969), sendo as canções de estúdio solos individuais de cada membro do grupo, gravou com uma orquestra ("Atom Heart Mother", em 1970), passou a flertar com sintetizadores (Meddle, de 1971) e lançou o disco mais vendido da história do rock progressivo (Dark Side of the Moon, de 1973), além de ter participado com exclusividade de três trilhas sonoras (More, em 1969; Zabryskie Point, em 1970; Obscured By Clouds, em 1973) e ter feito um show para fantasmas na cidade de Pompeia, aos pés do vulcão Vesúvio (em 1971).

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Porco símbolo do Pink Floyd

É impressionante como hoje em dia, não encontramos mais essa agilidade e vontade nas bandas atuais. Por exemplo, há cinco anos atrás, éramos apresentados a Chinese Democracy (Guns N' Roses) e de lá para cá, nada mais foi lançado pela turma de Axl Rose cia. O mesmo pode se dizer de bandas como Slayer e Iron Maiden, que lançaram seus últimos discos em 2009 e 2010, respectivamente, e de lá para cá, estão vivendo de turnês intermináveis, explorando os bolsos de fãs de países que dificilmente viram essas bandas no auge, como é o caso de nosso Brasil.

Ou até mesmo grupos que vem lançando trabalhos regularmente, como Anthrax, Kiss, Testament e Megadeth, mas sem ter o mesmo poder conquistador do que a geração de bandas surgidas no final da década de 60 e em todos os anos 70. Mas isso já é uma questão a ser discutidas posteriormente.

Voltamos então ao ano e 1973, quando o Floyd encerra sua turnê de promoção para Dark Side of the Moon. Como visto na última Maravilhas do Mundo Prog, a partir daquele momento, Roger Waters (baixo, vocais, sintetizadores), David Gilmour (guitarra, vocais, baixo, sintetizadores), Rick Wright (teclados, vocais) e Nick Mason (bateria, percussão) não sabiam qual rumo seguir. 

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Um porco sobre o céu de Londres
Após uma série de shows, surgiram, mesmo que lentamente, as ideias que culminaram em Wish You Were Here, o qual passou por um longo processo de gravação, principalmente pela constante ausência de Gilmour e Mason dentro dos estúdios. Tentando manter o nome Pink Floyd na ativa, Waters era o principal membro a dedicar-se integralmente as gravações, e nesse momento, passa a se sentir o dono do Pink Floyd.

Porém, ainda durante a turnê de 1974, Waters já estava planejando o futuro do grupo: um ambicioso projeto conceitual baseado no livro Animal Farm, de George Orwell. Rapidamente, Waters começou a cômpor canções para esse álbum, sendo que duas delas entraram no set list da parte final da turnê, nos shows da Inglaterra, e eram apresentada logo no início dos shows, após a também inédita (na época) "Shine On You Crazy Diamonds". As novas canções foram batizadas de "Raving and Drooling" e "You've Got to Be Crazy", e isto atiçava a curiosidade dos fãs, já que dificilmente eles imaginariam um show do grupo tendo toda a primeira parte (quase uma hora de duração) com apenas três longas canções totalmente inéditas (N. R. a segunda parte era dedicada a execução na íntegra de Dark Side of the Moon, e o bis, como sempre, deixado para "Echoes").

Veio o lançamento de Wish You Were Here, e mudanças fizeram com que "Ravind and Drooling", bem como "You've Got to Be Crazy" ficassem de fora do álbum, principalmente pelo contexto musical criado para o mesmo, mas ambas não foram abandonadas, já que permaneceram no set list da turnê, agora, sendo as duas primeiras canções dos shows (que depois, passeavam pelas nove partes de "Shine On You Crazy Diamond", com a inclusão de "Have a Cigar" entre a quinta e a sexta parte, além da execução a íntegra de Dark Side of the Moon e o tradicional encerramento com "Echoes").

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Roger Waters

Foi durante os shows que Waters começou a concluir o projeto Animal Farm, e, como os demais não apareciam com ideias (ou segundo algumas fontes, tinham todas as ideias rejeitadas por Waters), passou a dedicar-se para o décimo álbum de estúdio do grupo. 

O livro de Orwell apresentava uma crítica ao Stalinismo (período político da antiga União Soviética, quando o país foi governado por Josef Stalin), e Waters preferiu não abordar o assunto de frente. Baseando-se em capítulos e em algumas histórias apresentadas no livro, Waters ampliou suas críticas ao capitalismo (que havia aparecido em "Have a Cigar"), tratando a decadência humana perante o dinheiro, tornando-se irracionais como animais. 

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Johnny Rotten e sua
"paixão" pelo progressivo
No auge do punk rock, o Pink Floyd era o principal pivô de bandas como o Sex Pistols, que jogavam as pedras no já "velho" rock progressivo e pregava a simplicidade nas canções, construídas apenas por três acordes. Tanto é que Johnny Rotten, vocalista dos Pistols, exibia-se com uma camiseta que dizia: "Eu odeio Pink Floyd". Waters aproveitou a onda e também soltou o verbo criticando o punk, e tudo encaixou-se maravilhosamente bem no álbum Animals, lançado em 23 de janeiro de 1977.

Projetado para ter apenas três canções, Animals é o último disco do grupo a conter uma participação importante de GIlmour, Wright e Mason ao lado de Waters, apesar de que também é o primeiro a não contar com nenhuma composição de Wright. As histórias que envolveram a gravação do álbum indicam que o clima não era nada amistoso, já que a predominância nas composições de Waters (ou recusa nas canções dos demais por parte do mesmo) não agradava a ninguém, principalmente por que os royalties iriam ficar em sua maioria com o baixista, já que o acordo com a gravadora EMI era de que cada integrante ganharia um cachê adicional pelo número de canções compostas pelo integrante no disco, e não pela duração de tais composições.

Gilmour estava curtindo o nascimento de sua primeira filha, enquanto Mason passou a dedicar-se a sua paixão pelos carros, e Wright ainda tentava (inultimente) criar algo para o nome Pink Floyd. As gravações ocorreram com muitas discussões, mas no final, as três canções acabaram sendo concluídas no tempo previsto (menos de um ano). O fator principal dessas três questões foi que as vocalizações femininas empregadas nos dois álbuns anteriores, bem como o saxofone, foram totalmente abolidos, e Animals acabou sendo um disco muito cru, somente com guitarra, baixo, violão, teclados e bateria, além de poucas experimentações sonoras (como ruídos ou barulhos de animais).

Porém, semanas antes do álbum ser lançado, Waters apareceu com duas vinhetas acústicas com pouco mais de um minuto, batizadas de "Pigs on the Wing Part I" e "Pigs on the Wing Part II", e exigiu que ambas estivessem no início e no final do álbum. Como haviam apenas três longas canções (duas delas compostas apenas por Waters, uma pela dupla Waters/Gilmour), o baixista incluiu as duas partes de "Pigs on the Wing", ganhando uns "centavos" a mais por ambas, mesmo com a canção feita ao lado do guitarrista ocupando mais de dezessete minutos do lado A de Animals.

Enfim, discussões a parte, o fato é que esta única canção composta pela parceria Waters/Gilmour que apresenta-nos uma inesquecível Maravilha Prog. Não que as demais canções do álbum não possam ser reconhecidas como tais, mas é que "Dogs" possui um poder de persuasão tão grande que dificilmente um fã do Pink Floyd não entrega sua mente para uma audição detalhada da canção.

"Dogs" era uma das duas canções apresentadas ainda na turnê de Dark Side of the Moon, com o título de "You've Got Be Crazy", que acabou sendo a primeira frase dessa pérola musical, cantada por Gilmour e Waters, com uma participação essencial de Wright e Mason. Sua letra conta a história de um magnata extremamente bem sucedido nos negócios, o qual chegou até lá comportando-se de maneira um pouco inconveniente, seguindo a linha de um capitalista ganancioso que só enxerga dinheiro à sua frente, conforme um cachorro desesperado por um simples osso. O magnata acaba sendo abatido por um fracasso inesperado, sem estar preparado para o tal, morrendo triste e solitário devido as suas ações como negociante.

Nossa maravilha surge com os quatro acordes tensos do violão de Waters, fazendo o acompanhamento principal após a leve "Pigs on the Wing Part I", com intervenções dos sintetizadores e trazendo a voz rouca de Gilmour, gritando com fúria. 

Marcações de pratos, rufadas e a participação da guitarra trazem o órgão, e então, temos o baixo estourando os alto-falantes, com o órgão viajando em acordes longos, a guitarra dedilhando sob o acompanhamento dos quatro acordes de violão e Gilmour conclui a segunda estrofe da letra, que leva para seu primeiro solo.
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David Gilmour

Com uma distorção diferente, destaca-se as viradas de Mason durante o solo, e o ritmo pega, com uma levada cavalgante, e Gilmour gritando como nunca. A canção é pesada, diferente da leveza de "Shine on You Crazy Diamond",  mas, depois de Gilmour encerrar mais uma estrofe, o clima muda, com os sintetizadores viajando entre os acordes de violão, entre as marcações da guitarra e do baixo, e também o tímido acompanhamento da bateria.

Cinco notas do baixo são o suficiente para fazer a canção parar, levando-nos para o triste e melodioso solo de Gilmour, utilizando-se do efeito de oitavas na guitarra, e com um acompanhamento emocionante dos sintetizadores, piano elétrico, violões, baixo e bateria. O andamento cadenciado é típico do Pink Floyd, só que aqui, não tem como não perceber a beleza e o trabalho que foi encaixar diferentes instrumentos para formar a bela cama na qual Gilmour chega ao seu orgamo solístico.

Longos acordes de sintetizador apresentam os acordes de violão e baixo que fazem a base para o piano elétrico ressoar com tímidas notas, enquanto cachorros latem ao fundo. Essa sessão é impressionante, pois parece que os cachorros estão latindo na sua rua. Gilmour solta a mão solando na guitarra, usando muitos efeitos na mesma, e o acompanhamento de baixo e violão continua, suave, junto da bateria e do piano elétrico.

A letra é retomada, agora com Gilmour cantando de forma mais suave, e utilizando por vezes de vozes dobradas, sempre com o leve acompanhamento ao fundo. A guitarra da uma ginga para o som, tornando o acompanhamento dançante, mas não por muito tempo, já que na sequência, entramos na viajante sessão instrumental que está na parte central da canção.
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Rick Wright

Tendo um acompanhamento no chimbal e no bumbo, Wright começa seus delírios nos sintetizadores, primeiro, executando um longo acorde que vai alternando-se a cada quinze segundos, enquanto a voz de Gilmour ecoa ao fundo. Os latidos aparecem novamente, para Wright abusar do minimoog, extraindo longas e confusas notas do instrumento. Apenas bateria, sintetizadores e latidos fazem o caroço da canção, enquanto o minimoog delira.

Repentinamente, o violão retrona ao acompanhamento principal, enquanto o minimoog e os sintetizadores executam suas últimas notas relativas ao solo. Gilmour retorna com a letra, tendo a voz bem limpa dessa vez, e assim como no início da canção, pouco a pouco os instrumentos vão surgindo. O ritmo retorna, similar as primeiras estrofes vocais, e assim, Gilmour faz mais um solo, desta vez utilizando-se de bends e um pouco de velocidade, enquanto o baixo e a bateria trovejam ao fundo.

As cinco notas do baixo então retornam ao melodioso central, com as notas oitavadas arrancando lágrimas de dentro do seu coração. Chegamos então no final da canção, cantada por Waters sob um acompanhamento marcado entre notas iguais de guitarra e baixo, enquanto o órgão executa longos acordes e Mason manda ver na bateria, com diversas viradas. 

Waters nesse ponto começa a comparar o ser humano aos cachorros que dão nome à canção: "Who was trained not to spit in the fan, Who was told what to do by the man ... Who was fitted with colar and chain ... Who was only a stranger at home ...".  Vozes passam a se sobrepor, adquirindo um belo crescendo, encerrando essa Maravilha com um longo acorde de órgão, batidas nos pratos e a guitarra de Gilmour uivando como um cusco indefeso, após Waters gritar: "Who was dragged down by the stone".

Animals continua no lado B com "Pigs (Three Diferent Ones)", bela canção com a guitarra sendo o centro das atenções, tratando sobre os hiócritas gerenciadores de instituições que tentam defender a moralidade, sem exercer a tal,  e "Sheep", a tal "Raving and Drooling" que apareceu na turnê de Dark Side of the Moon, com Waters cantando desesperadamente sobre a grande massa que se vê excluída das regras sociais atuais, tendo o baixo sendo o destaque total dessa pesada canção, além da segunda parte de "Pigs on the Wing". 
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David Gilmour e Snowy White

Durante todo o álbum, temos as mais implacáveis letras de Waters contra a sociedade. Sua fúria e indignação acabaram saindo dos sulcos e indo para os palcos. Durante a turnê In the Flesh, que promoveu Animals, e contou com Snowy White como músico convidado, para auxiliar nas bases de guitarra durante os solos de Gilmour, ocorreu o famoso show no dia 06 de julho de 1977, realizado no Olympic Stadium de Montreal, no qual Waters cuspiu em um fã que havia atirado uma garrafa de vidro contra ele, show este que deu origem a uma das obras clássicas do Pink Floyd: The Wall.

Um fato curioso sobre o lançamento do décimo LP do grupo está relacionado com a capa do mesmo. Eleita pela maioria dos fãs como a mais bela que o grupo já lançou, através de uma votação da revista Amazing Pudding, ela mostra um gigantesco porco sobrevoando a usina de energia Battersea Power Station,nas marges do rio Tâmisa, nas proximidades de Londres.

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Algie, na In the Flesh Tour

A capa original era para apresentar um menino de pijamas, segurando um ursinho e observando um casal durante um ato sexual. Porém, nenhum membro da banda aceitou a mesma. Foi de Waters a ideia de içar um porco sobre a usina, caracterizando a canção que abre o Lado B do álbum. O porco foi criado por Andrew Saunders, e fabricado por uma empresa alemã, recebendo como nome de batismo Algie.

As fotos para a capa foram programadas para serem tiradas no início de dezembro, mas o mal tempo não ajudou, já que ventava muito no local no primeiro dia de tentativas. No segundo dia, o vento diminuiu, mas repentinamente, quando o porco começou a ser içado, uma ventania arrancou os cabos que prendiam o "animal" ao solo, e o mesmo saiu voando desbaratinadamente pelos céus de Londres, entrando inclusive na rota dos aviões que pousavam no aeroporto de Heathrow.

Até mesmo um helicóptero da polícia foi enviado para tentar localizar o porco, pouco depois de um piloto de uma aeronave particular ser detido, com suspeitas de embriaguez, por ter avisado as torres de aviação que havia visto um porco voando perto de seu avião. No fim das contas, o porquinho aterrisou em uma fazenda na cidade de Kent, e a imagem que foi para a capa do álbum acabou sendo uma das realizadas no primeiro dia. O animal virou símbolo do Pink Floyd, marcando presença em todos os shows do grupo a partir de então e inclusive merecendo uma sátira na série The Simpsons (no episódio Homerpalooza, da sétima temporada do desenho). 
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Algie, satirizado no programa The Simpsons


Animals alcançou o terceiro lugar nas paradas americanas, e segundo no Reino Unido, mostrando que o rock progressivo ainda estava à frente do punk em termos de vendas (ficando atrás apenas da coletânea 20 Golden Greats, do grupo Shadows). Dois anos depois, o grupo lançou The Wall, o verdadeiro atestado do domínio de Waters perante os demais (e que inclui a maravilhosa "Comfortably Numb", principalmente por conta do solo de GIlmour na mesma) e em 1983, o corte final do grupo foi feito com The Final Cut, no qual Waters despede-se melancolicamente do Pink Floyd em um disco amado por uns, e odiado por outros.

Gilmour e Mason retornaram em 1987 com o nome Pink Floyd e o álbum A Momentary Lapse of Reason, que apesar de ser bem sucedido, não trouxe nada próximo aos anos áureos do grupo. Com a contratação de Rick Wright para os teclados, além de diversos músicos convidados (entre eles Guy Pratt no baixo e vocais, e Jon Carin nos teclados e vocais), o grupo saiu em uma gigantesca turnê, registrada o álbum Delicate Sound of Thunder (1988).

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Nick Mason

Em 1994, já com Wright novamente promovido a músico oficial, lançam The Division Bell, que dividiu opiniões, mas possui uma obra  singela que talvez possa ser classificada como Maravilha, a longa "High Hopes". Veio mais uma longa turnê e o ao vivo Pulse (1995), e desde então, o Pink Floyd nunca mais lançou nada oficialmente novo. 

O grande momento foi a reunião do quarteto Wright, Mason, Gilmour e Wright na apresentação do Live 8, em 2005, mas, a esperança de que um retorno oficial acontecesse esbarrou no ego de Waters e Gilmour. Wright faleceu no dia 15 de setembro de 2008, vítima de câncer, enquanto que Mason abandonou de vez o mundo da música. Waters e Gilmour vem fazendo turnês frequentes, sendo que Waters passou ano passado por aqui com o show The Wall Live, e mantém uma carreira solo que, se não está consolidada, pelo menos ainda entretem novos e velhos fãs com Maravilhas de um dos maiores grupos não só do progressivo, mas da história da música.

Mês que vem, o Maravilhas do Mundo Prog mergulha dentro da carreira de outro gigante britânico do progressivo, apresentando quatro Maravilhas lançadas pelo trio Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer, conhecidos mundialmente como Emerson, Lake & Palmer.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Coletânea - Hellstouch [2012]

capa hells - baixa

No ano passado, a gravadora Shinigami Records, apoiando o metal nacional, lançou uma interessante coletânea com diversas bandas do gênero em nosso país tupiniquim. No total, são doze bandas que apresentam seu trabalho ao público, algumas recebendo um pouco mais de espaço do que outras. Em ordem alfabética, informo alguns destaques sobre as respectivas bandas.

Cruscifire: Banda paulista, formada por Caio Angelotti (guitarra), Victor Angelotti (baixo, vocais) e Victor Nabuco (bateria), apresenta um bom instrumental, mas o vocal é muito difícil de se ouvir. Possuem um disco oficial, lançado em 2010 e batizado de Chaos Season.

Hellpath: O grupo paranaense possui um instrumental trabalhado, ótima mixagem, e vocais guturais audíveis. Formado por Thiago Müller (vocal) Richard Alexsander (guitarra) Tadeu de Oliveira (guitarra solo) William da Cruz (baixo) Rodolfo Pacheco (bateria), o grupo ainda não possui lançamentos oficiais.

Hocnis: Este grupo mineiro, formado por Canabrava (baixo), Luiz Toledo (bateria), Carlos Moonchild (vocais) e Igor Pödrão (guitarras), capricha no instrumental, destacando bateria e guitarra. Ainda não possui nenhum full lenght.

Imminent Attack: O grupo paulista lançou seu primeiro álbum no ano passado, batizado de Deliver Us from Ourselves. O som de Dinho (vocais), Ivan Caveirinha (guitarras), Jonas Guedes (baixo) e André Alien (bateria) lembra Venom pela pancadaria, mas não gostei da mixagem do vocal.
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Mother Zombie
Mother Zombie: Mais um grupo paulista, esse sem tanta agressividade que as bandas anteriores, e que para mim é a melhor do CD, com um som moderno e acessível. Formado por Julio Buzoli (vocais), João Pacheco (guitarra), Arthur Pacheco (guitarra), Rodrigo Cândido (baixo) e Murilo Martins (bateria), o grupo com certeza irá fazer sucesso em breve, sendo que até o momento, o grupo já gravou dois EPs.

Mud Lake: Outro grupo paulista, e igualmente muito bom. O som lembra bastante o metal da NWOBHM, principalmente pelo estilo Dickinson do vocalista cantar. A canção que entrou no CD irá atiçar os ouvidos dos seguidores do estilo, e faz parte de um ambicioso projeto conceitual que o grupo está gravando. Na formação, estão Samuel Barbizan (vocal), Junior Frascá (guitarra), Diego Pena (guitarra), Charleston Molina (baixo) e Gerson Damato (bateria).

Prey of Chaos: O trio paulista, formado por X (bateria), Japa (guitarra, vocais) e Jarrão (baixo, vocais), tem um som parecido com o Cruscifire, mas sem o mesmo vigor na parte instrumental, e com o vocal extremamente gutural.

Puppets from Hell: Boa banda, mais pesada que as demais, e destacando a bela linha de trabalho instrumental. O sexteto vem do Rio de Janeiro, e é formado por Danilo Botelho (vocais), Yuri Hildebrand (baixo), Léo Medeiros (guitarras), David Jozef (guitarras), Eduardo Cesario (bateria) e Nicholas Nunes (samplers).

Rattle: O grupo baiano apresenta um ótimo instrumental, muito bem trabalhado e com o baixo bem audível. Vocal gutural audível e compreensível. Bom destaque no CD. Na formação, estão Henrique Coqueiro (guitarras), Gustavo Martins (guitarras), Val Oliveira (vocais), Eric Ecllypsah (baixo) e Rodrigo Macedo (bateria). Gravaram apenas um split e um EP até o presente momento.
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Rhevan

Rhevan: Com dois lançamentos oficiais na praça (Perpetually, de 2009; One More Last Attempt, de 2012), esse é o grupo mais maduro nessa coletânea. O som lembra o Nightwish, principalmente pelos vocais de Dani Navarro. Fãs do grupo finlandês certamente irão se encontrar na proposta do pessoal de Mato Grosso do Sul, que ainda conta com Aldo Carmine (baixo), Matheus Mattos (bateria), Thiago Azevedo (guitarra, vocais) e Gleydson Keyler (guitarras). Gostei bastante desse grupo e acabei indo atrás de mais material. daí me deparei com isso aqui. Tirem suas conclusões ...

Severe Disgrace: Os cariocas fazem um som que lembra muito o Carcass. Boa banda, com um instrumental bem trabalhado. Na formação, estão Danilo Macedo (vocais e guitarras), Leonam Costa (baixo, vocais) e Vitor Macedo (bateria)

This Grace Found: Por fim, outro grupo paulista, com um som moderno demais para mim, na linha do System of Down. Na formação, Luiz Artur (vocais), Lucas Godoy (guitarra), Gabriel Godoy (baixo) e Marcus Dotta (bateria).

Parabéns à Shinigami por esse apoio, e sucesso para as bandas do CD. Talento a maioria demonstrou ter, e tomara que consigam uma luz para iluminá-los em suas trajetórias, já que o mercado está cada vez mais concorrido.

Track list

1. Black Candle Light (Cruscifire)
2. Last March (Cruscifire)
3. Liar (Hellpath)
5. Splact (Imminent Attack)
6. Noise For Nothing (Imminent Attack)
8. Suicide Town (Mother Zombie)
9. The Darkness Behind the Light (Mud Lake)
10. Forgotten by God (Prey of Chaos)
11. Grinding Brains (Prey of Chaos)
12. Chased by Words (Puppets from Hell)
14. Call of Duty (Rattle)
15. Embodiment of Evil (Rattle)
16. Horror Park (Rhevan)
18. Dark World (Severe Disgrace)
19. World Collapse (This Grace Found)
20. Your Life Remains the Same (This Grace Found)

sábado, 20 de abril de 2013

Melhores de Todos os Tempos: 1964

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The Beatles: Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e John Lennon
Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bruno Marise, Davi Pascale, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues
Damos seguimento hoje à nossa ambiciosa empreitada mensal de apontar os melhores álbuns de todos os tempos segundo os colaboradores da Consultoria do Rock. Caso o leitor não tenha lido a primeira parte dessa seção, pode acessá-la aqui e conhecer os discos que consideramos os melhores de 1963. Lembramos que o critério para elaborar a listagem final, baseada nas listas individuais de cada colaborador, segue a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Chegamos hoje a 1964, ano marcado pelas estreias discográficas de vários grupos que deram origem ao movimento que acabou sendo rotulado como “British Invasion” nos Estados Unidos, mudando a vida de muitos jovens, que resolveram pegar em instrumentos pela primeira vez movidos pela sonoridade e pelo sucesso desses artistas britânicos.

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The Beatles – A Hard Day’s Night (70 pontos)
Adriano: “If I Fell” é ótima, “Things We Said Today” e “You Can’t Do That” são boas, assim como o “refrão” de “When I Get Home”. Há algumas músicas audíveis, fora essas, mas, no geral, o disco é fraco. Não vou citar aqui duas músicas desse disco que DETESTO pra não ser linchado, só adianto que não são covers.
Bruno: O primeiro disco de gente grande dos Beatles, com um tracklist 100% autoral. Ponto fortíssimo, já que nos trabalhos anteriores as composições próprias sempre superavam os covers. Harrison faz um trabalho sensacional com uma guitarra de 12 cordas que dá toda a caracterização do álbum.
Davi: Terceiro disco dos Beatles e um dos que mais gosto deles. Embora leve o mesmo nome do filme dirigido por Richard Lester, ele não é exatamente sua trilha sonora, que foi lançada apenas nos Estados Unidos (assim como aconteceu com Help!). Este, contudo, é o primeiro álbum contendo apenas canções escritas pelo Fab Four. Entre os destaques estão “Can’t Buy Me Love”, “When I Get Home”, “You Can’t do That”, “I Should Have Know Better”, além da faixa-título. Clássico!
Diogo: Esse disco entrou em minha lista aos 40 do segundo tempo e acabou inclusive superando a estreia do The Animals, da qual gosto bastante. Demorou um pouco, mas algumas canções menos óbvias, como “If I Fell”, “Tell Me Why” e “You Can’t Do That” acabaram me conquistando. É fácil cometer erros analisando em retrospecto, mas acredito que não digo besteira alguma quando afirmo que A Hard Day’s Night foi a verdadeira confirmação do sucesso gigantesco do grupo. Exagero ocupar a primeira posição? Sim, mas muito digno, pela importância histórica e pela qualidade das composições, especialmente de minha favorita, “And I Love Her”.
Mairon: O que esse disco tem de bom para estar em primeiro lugar? Me digam? Um disco de trinta minutos, com rockzinhos simples, sem nada a acrescentar na discografia mundial. Para ser ouvido quando não há nada o que se fazer, e jamais melhor de 1964. Se fosse Beatles For Sale, ainda vá, mas ESSE?!
 
Ronaldo: Acho que dispensa comentários. Para ser cunhado algo como “beatlemania” a partir desse disco, algo de muito especial tem aí.

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Bob Dylan – Another Side of Bob Dylan (52 pontos)
Adriano: Fico feliz de esse disco ter entrado entre os dez, pois não por acaso é meu primeiro da lista. Disparado o melhor álbum de 1964, sem dúvida! Se contasse apenas com “Spanish Harlem Incident”, “I Don’t Believe You (She Acts Like We Have Never Met)” e “It Ain’t Me, Babe”, já deixaria todos os demais no chinelo, mas o disco ainda conta com as (re)conhecidíssimas – com muito mérito, diga-se – “All I Really Want to Do” e “My Back Pages”, regravadas pelos Byrds – e a última também pelos Ramones –, e várias outras faixas lindas, como “Black Crow Blues”. CLÁSSICO!
Bruno: Como disse na edição anterior dessa seção, gosto de pouquíssima coisa de Bob Dylan, e esse álbum não está incluído entre essas coisas. Passo.
Davi: Em seu quarto disco, Dylan resolveu mostrar a outra face, como o título entrega. Depois de fazer um álbum totalmente voltado ao protesto político social, o cantor resolveu apostar em novos temas, trazendo uma linguagem mais viajada e, por vezes, um certo romantismo. Aqui as guitarras elétricas ainda não faziam parte de seu trabalho. Não é meu disco favorito de Dylan…
Diogo: Em se tratando de um artista de nível tão elevado, fica difícil apontar favoritos, mas não hesito em dizer que Another Side of Bob Dylan é o melhor álbum da primeira fase do trovador urbano, não à toa ocupando o primeiro lugar em minha lista, com sobras em relação ao segundo. Houve um tempo em que eu pensava que os artistas que faziam versões de Dylan obtinham melhores resultados que o próprio, mas conhecer um disco absurdo como esse mostra como eu estava totalmente errado. Não ia nem citar destaques, pois o disco todo é absurdo, mas o fato é que ninguém pode morrer sem ouvir “Chimes of Freedom”.
Mairon: Grande disco, talvez o melhor da fase acústica de Dylan, que estava altamente inspirado. Dá um banho em The Times, They Are A-Changin’, do mesmo ano, principalmente pelas pérolas “Chimes of Freedom” e “Ballad in Plain D”.
Ronaldo: A revolução continuava. Dylan trazendo conteúdo para a adolescência do rock, ainda que só no violão. Gosto mais de seu outro trabalho lançado em 1964.

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The Yardbirds – Five Live Yardbirds (50 pontos)*
Adriano: Esse disco não me empolga. Não que seja ruim: é uma ótima demonstração do que viriam a ser os Yardbirds, a banda que fez as versões mais interessantes de blues e rhythm ‘n’ blues na Inglaterra desse tempo. Só que o disco não me empolga, vai entender…
Bruno: Estreia bastante enérgica do grupo, com versões sensacionais de clássicos do blues e do rock ‘n’ roll, mas ainda prefiro os trabalhos posteriores dos Yardbirds.
Davi: O grupo é lembrado por ter lançado três dos mais talentosos guitarristas do mundo do rock: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Como podem ver, Ozzy não é o único cara que sabia escolher guitarristas. Na apresentação registrada neste álbum, o músico responsável pelas seis cordas era Eric Clapton. O grupo esbanja energia na apresentação, ainda que o vocalista Keith Relf deixe um pouquinho a desejar. Item indispensável para qualquer colecionador que se preze.
Diogo: Ninguém encapetou o blues e o rhythm ‘n’ blues norte-americano como o The Yardbirds. Por mais que falte material autoral, a energia que transborda dessa estreia é absurda e, até onde se estende meu conhecimento, praticamente sem precedentes. Ouso afirmar que os pais britânicos dos anos 60 não gostariam nem um pouco de ver seus filhos ouvindo discos e frequentando shows desse estupendo e influente quinteto, e isso é um ótimo sinal! Muito fala-se de Eric Clapton, mas o fato é que todo o grupo estava calibradíssimo. Provável destaque para “Smokestack Lightning”.
Mairon: A melhor banda de todos os tempos em sua estreia. Fabuloso é pouco. Anos depois, essa mesma banda faria outra estreia tão grandiosa quanto essa, mas com o nome modificado (vulgo Led Zeppelin). Five Live Yardbirds é certeza de brilhantismo e energia pura em cima do palco, trazendo aos ouvintes o melhor da música, misturando blues e rock como só o quinteto inglês conseguia fazer.
Ronaldo: O berço da escola britânica de guitarra. Rhythm ‘n’ blues, rave up e muita anfetamina em um disco histórico, ainda que meio rude, como muitos outros trabalhos; pequenos diamantes que seriam lapidados com o tempo.

The-Animals-The-Animals The Animals – The Animals (44 pontos)**
Adriano: Com Animals, Stones, Kinks e Yardbirds, o rock inglês começou a virar “rock” – claro que Johnny Kidd & The Pirates era o máximo, mas não tiveram a sorte dessas bandas –, em um processo que viria a culminar no The Who, principalmente graças à bateria de Keith Moon. Das quatro bandas citadas no início, creio que quem lançou o melhor debut foram os Animals, com um disco bem dosado, consistente. A versão que saiu nos EUA é ainda melhor, mas a inglesa tinha já ótimos momentos, como “I’ve Been Around” e “I’m in Love Again”, além da interessante “The Story of Bo Diddley”, ótima sacada pra abrir um disco.
Bruno: O The Animals se diferenciava por uma maior ênfase nos teclados e as interpretações viscerais de Eric Burdon. Particularmente gosto mais da versão norte-americana, principalmente por “Talking ‘Bout You” e o clássico “The House of the Rising Sun”, mas essa aqui não fica muito atrás.
Davi: Eric Burdon é tido como uma das maiores vozes do rock. Assim como acontece com Joe Cocker, é comum compararem o rapaz aos cantores negros, muito provavelmente pela paixão com que cantam e pelo alcance de suas vozes. Famosos por misturar o blues e o folk ao rock, atualmente são tidos como um dos grandes representantes da British Invasion. Nesse álbum de estreia, grandes standards de rhythm ‘n’ blues se fazem presentes. Destaque para as versões de “Dimples” e “She Said Yeah”.
Diogo: Belíssima estreia de um grupo que só começou a receber minha atenção recentemente. Coesão, teclados bem sacados e uma excelente escolha de repertório dão a tônica do álbum, sem falar na grandiosa voz de Eric Burdon, certamente um dos melhores vocalistas a despontar nos anos 60. Mais que um belo timbre, trata-se de alguém dotado de verdadeira capacidade de interpretação. “Bury My Body”, “Dimples”, “I’m in Love Again” e “I’m Mad Again” são ótimas, mas nada supera a fantástica abertura com a narrativa “The Story of Bo Diddley”.
Mairon: Apesar das distintas versões, a edição inglesa (aqui escolhida) é outra grande estreia de 1964, bem à frente do primeiro colocado desta lista. Eric Burdon é um injustiçado e deveria ser mais ouvido pelos que se dizem “admiradores de rock”. Ouçam “The Story of Bo Diddley” ou “The Girl Can’t Help It” e vejam se os Beatles não eram um atraso musical nessa época.
Ronaldo: Acho o melhor trabalho da banda, um instrumental bem caprichadinho e um trabalho esperto de teclados de Alan Price junto do vozeirão de Eric Burdon.

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The Rolling Stones – The Rolling Stones (42 pontos)**
Adriano: Em seguida ao disco dos Animals, meu preferido desse ano é o dos Stones. Não é nenhum clássico, tá longe disso, mas possui momentos felizes o suficiente pra figurar em um décimo lugar em uma lista como essa. As versões de “Mona (I Need You Baby)”, “Can I Get a Witness” e, principalmente, “I Just Want to Make Love to You” e “Walking the Dog” ficaram ótimas, com uma energia emanando delas muito diferente de suas versões originais. Eu curto o trabalho do Keef nas guitarras desde esse disco, principalmente em “Now I’ve Got a Witness (Like Uncle Phil and Uncle Gene)” e em “Little by Little”. Como falei, é um disco apenas razoável, com suas falhas e limitações, mas no universo rocker desse ano um dos melhores.
Bruno: Trabalho ainda muito tímido dos Stones, com repertório recheado de covers e nada muito diferente das bandas britânicas da época. Quem se destaca aqui é Mick Jagger, com uma performance vocal já acima da média. Ouça a balada “Tell Me”.
Davi: Os Beatles eram os certinhos. Os Stones eram os marginais. Em seu primeiro álbum, os Stones trilhavam um caminho parecido com o dos Animals, gravando clássicos do rhythm ‘n’ blues. Traziam uma sonoridade bem mais crua do que a que estamos acostumados quando o assunto é Stones. É claro que o fato de não terem tecladista deixava o som dos rapazes um pouco mais sujo. Embora a dupla Jagger/Richards tenha se destacado como compositores, aqui aparecem com apenas uma canção autoral, a belíssima “Tell Me” Outros destaques são as versões de “Route 66″ e “Carol”. Grande disco!
Diogo: A música que abre esse disco, “Route 66″, diz muito sobre o que a banda apresenta ao longo de todo o disco e até em grande parte da carreira, explicitando as influências norte-americanas que norteavam a música dos Stones desde o início. A segunda, “I Just Want to Make Love to You”, deixa em evidência a energia do quinteto, que, na maior parte das vezes, se sobrepunha à excelência técnica, sem falar na malandragem que os diferenciava das outras formações da época. Por sua vez, “Tell Me”, única composição original presente no álbum, mostra que esses filhos da puta tinham, sim, alma de sobra. Não entrou na minha lista, mas entendo a inclusão no Top 10 geral.
Mairon: Que ano, senhoras e senhores, trazendo mais outra banda fantástica aos sulcos do vinil. A estreia dos Stones é diferente de tudo o que a banda fez depois. Rocks blueseiros com Mick Jagger mostrando ao mundo, mesmo que ainda jovem, por que viria a ser um dos principais nomes vocais já paridos na historia da música. Totalmente fundamental.
Ronaldo: Também dispensa muitos comentários. Parece até comum pra época, a energia é mais forte que o instrumental e compor as próprias músicas não era lá muito importante, mas é cativante por demais esse disco pra meus ouvidos. E acho que pra mais alguns milhões de pessoas.

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Bob Dylan – The Times, They Are A-Changin’ (30 pontos)
Adriano: Considero esse disco bem inferior ao Another Side of Bob Dylan, embora conte com uma das minhas canções favoritas do Dylan, que é “The Lonesome Death of Hattie Carroll”. Talvez por eu não me aprofundar no conhecimento das letras, eu termine não captando a riqueza do disco, mas é isso: mais um disco que não me empolga tanto.
Bruno: Gosto muito da faixa-título, mas só.
Davi: Este disco foi lançado antes de Another Side e trouxe letras totalmente ásperas, que combinam perfeitamente com o folk realizado pelo compositor. Não acho tão bom quanto o anterior, The Freewheelin’ Bob Dylan, mas vale uma audição.
Diogo: Pode até não ser tão bom quanto Another Side of Bob Dylan, lançado meses depois, mas o fato é que a inclusão desse álbum no Top 10 de 1964 faz todo o sentido do mundo. Hoje em dia virou lugar comum empreender protestos políticos através da música, isso pra não dizer que ficou fácil, nivelando a qualidade por baixo. Dylan, porém, dava uma aula disso há quase 50 anos, soando inteligente, sensível e pouco óbvio. Musicalmente, apesar da faixa-título ter se tornado icônica, destaco “With God on Our Side”, “North Country Blues” e “The Lonesome Death of Hattie Carroll”.
Mairon: Não acho esse disco tão bom quanto nosso segundo colocado. Baladeiro demais, possui poucos momentos significativos. Investir em Another Side vale muito mais a pena
Ronaldo: Trabalho bastante político do trovador folk pré-elétrico. Título mais perfeito não existia pra época.

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The Kinks – Kinks (29 pontos)
Adriano: Sou fã de Kinks, mas não por esse disco. Embora tenha “You Really Got Me”, que é não só boa, mas emblemática, e alguns bons momentos, como “Cadillac”, “So Mistifying”, “Just Can’t Go to Sleep” e “Revenge”, esse é mais um disco razoável, no nível do primeiro dos Stones. Os Kinks mostrariam os gigantes que eram a partir do próximo ano!
Bruno: Não está entre os melhores discos dos Kinks, e não foge muito do rock inglês sessentista, exceto pelo trabalho excelente da guitarra de Dave Davies, que gerou o agressivo riff de “You Really Got Me”, extremamente pesado para a época.
Davi: Álbum de estreia da banda de Ray Davies. Como podem perceber, esse foi um bom ano para o rock ‘n’ roll. E também para o grupo. Afinal, seu grande clássico “You Really Got Me” – anos mais tarde regravado de maneira extraordinária pelo Van Halen – é desse disco. O fato de ter sido uma das primeiras musicas compostas em power chords fez com que ela fosse considerada por muitos críticos como a primeira canção hard/heavy da história, deixando milhares de headbangers furiosos. Independente de ser ou não uma canção heavy metal, trata-se de uma grande faixa e um grande disco. Deixe o preconceito de lado e corra atrás
Diogo: Se os Stones eram os malandros, os Kinks eram os irônicos e debochados. Isso fica evidente não apenas nas características vocalizações de Ray Davies, mas no instrumental, que esbanja uma saudável displicência. Aprecio bastante o fato das originais, como “So Mystifying” e “You Really Got Me”, serem tão boas quanto os covers para as ótimas “Beautiful Delilah” e “I’m a Lover Not a Fighter”. Não entrou em minha lista por bem pouco. Meu conhecimento sobre o grupo ainda é bem limitado, mas julgo-o como um dos mais seminais da época.
Mairon: Yardbirds, Animals, Stones, Kinks… Quanta banda boa estreou em 1964, e vocês me vêm com A Hard Day’s Night. Fala sério. Esse álbum, em sua versão inglesa, traz clássicos como “Bald Headed Woman” e “You Really Got Me”. Só essas duas já valem mais do que qualquer um dos discos dos Beatles desse mesmo ano.
Ronaldo: Testosterona em alta aqui! Díficil pensar em algo mais forte do que o riff de “You Really Got Me” pra 1964, quase uma espécie de precursor da selvageria do rock de garagem e ainda nessa linha evolutiva, do heavy rock do fim daquela década e início da seguinte. Junto com os Yardbirds, podem ser chamados de avós desse estilo. Contam nos bastidores com a ajuda de um certo James Patrick Page.

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The Hollies – In the Hollies Style (29 pontos)
Adriano: Ouvi, ouvi e ouvi esse disco e não tenho muito o que dizer sobre ele. É impressionante como os disquinhos pop pra garotas de 1963 me agradaram mais que os de 1964 – e devo repetir que o melhor entre todos é o Big Girls Don’t Cry and 12 Others, do Four Seasons. Assim como o dos Beatles, não vejo lugar pra esse disco em um Top 10 de 1964, embora seja agradável de ouvir – algumas poucas faixas podem ser exceções.
Bruno: Uma pérola perdida dos anos 60. A primeira banda de Graham Nash manda um som grudento atrás do outro, com harmonias impecáveis e uma pegada rhythm ‘n’ blues de arregaçar! Destaque para o incrível desempenho de Allan Clarke, com melodias vocais maravilhosas.
Davi: Segundo álbum do grupo e mais uma vez gravado no lendário Abbey Road Studios. Neste trabalho, os músicos começam a se impor como compositores: sete das 12 faixas do LP são compostas por integrantes da banda. Essas canções aparecem na capa do disco sob o pseudônimo de “L. Ransford”. O álbum não traz nenhum hit (motivo que levou o álbum a não ser lançado nos EUA), mas vale uma audição. Os arranjos e as harmonias vocais já estão bem mais evoluídos do que os presentes em seu álbum de estreia. Destaques para “It’s In Her Kiss”, “Come On Home”, “Nitty Gritty” e “Too Much Monkey Business”, embora essa última não chegue aos pés da versão de Elvis Presley.
Diogo: Muita comenta-se sobre o fato do The Hollies ter revelado Graham Nash, e isso é merecido. No entanto, também tenho grande apreço por Allan Clarke, certamente um dos meus vocalistas favoritos surgidos na década de 60. Não apenas Allan, mas todo o grupo destaca-se vocalmente, mostrando que nem só os Beatles estavam se especializando em belas harmonizações, tornando In the Hollies Style um álbum de agradável audição, dotado de uma elegância que não se encontrava nos outros grupos da época que conheço. O disco é bastante homogêneo, mas ressalto a energética abertura com “Nitty Gritty/Something’s Got a Hold on Me”, “To You My Love”, “It’s in Her Kiss” e “Time For Love”.
Mairon: Não gosto muito de The Hollies, pois julgo uma similaridade muito forte com o Fab Four. O estilo citado no LP é o beat rock da época, e, sinceramente, o feito pelo quinteto britânico não me agrada.
Ronaldo: Desconheço o som deste disco dessa simpática banda britânica que catapultou o formidável Graham Nash.

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Julian Bream – Popular Classics For Spanish Guitar (25 pontos)
Adriano: Esse disco me foi indicado muito de última hora, e, portanto, não ouvi. Vi apenas um vídeo em que Bream interpreta Villa-Lobos, e claro que a musicalidade é ótima, mas eu teria de ouvir o disco muitas vezes pra poder opinar de forma prudente.
Bruno: Não ouvi.
Davi: Não ouvi esse disco.
Diogo: Infelizmente não consegui ter acesso ao álbum, apenas a alguns vídeos soltos. Não posso tecer uma opinião mais embasada, mas certamente trata-se de um mestre em seu instrumento.
Mairon: Esse é o melhor disco da carreira de Julian Bream e o melhor lançamento de 1964. Apesar de ser um álbum de violão clássico, nele estão as fontes primárias para qualquer guitarrista que se preze aprender a tocar de verdade. Basta ouvir “Leyenda (Asturias)”, que foi “coverizada” por nomes como The Doors (“Spanish Caravan”) e Triumph (“The City”). Bream passeia por obras de Joaquin Turina, Isaac Albéniz e Heitor Villa-Lobos, entre outros, com uma habilidade inquestionável, fazendo os ouvidos amolecerem como quando uma donzela vê seu príncipe. ESSENCIAL (com letras maiúsculas) para se conscientizar que nem só de guitarras pesadas vive a música.
 
Ronaldo: Outro desconhecido pra mim, disco e artista.

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Sam Cooke – Ain’t That Good News (20 pontos)
Adriano: Inferior ao anterior Night Beat, aqui eu acho que Sam Cooke perde um pouco a magia que trazia nas suas interpretações, talvez muito pela escolha dos temas, que não oferecem tantas ocasiões para que ele demonstre seu gênio como no antecessor. Bem mais digno de figurar neste Top 10 é o disco lançado nesse ano por Solomon Burke, Rock ‘n’ Soul. De qualquer maneira, Ain’t That Good News não é ruim. Destaque óbvio pra “Good Times”, além de outras canções lindas como “A Change Is Gonna Come” e “There’ll Be No Second Time”.
Bruno: Depois de duas pedradas no ano anterior, Sam Cooke mantém o nível com mais um disco contagiante, que registra o mestre da voz em seu auge.
Davi: Não ouvi esse disco.
Diogo: Bonde do Sam Cooke mais uma vez atuando pra colocar esse disco no Top 10! Ok, não é tão bom quanto Night Beat, lançado no ano anterior, mas, convenhamos, isso é praticamente impossível. Trata-se de um álbum, no geral, mais alegre, mas isso não quer dizer que Sam não tenha momentos de puro brilhantismo: sua voz segue exalando pureza, conquistando com suas belíssimas interpretações. Assim como em meus comentários a respeito de Night Beat, em nossa lista abrangendo 1963, não consigo apontar destaques, pois a vontade é de citar quase todas. Limito-me a afirmar que o culto a “A Change Is Gonna Come” é merecido. Seu assassinato, no final de 1964, certamente é um dos eventos mais lamentáveis da história da música.
Mairon: Depois de Night Beat, é difícil achar um álbum tão bom na discografia de Sam Cooke. Este, por exemplo, possui canções interessantes, como “Good Times” e a faixa-título, mas nada do porte de qualquer música do álbum anterior. Incompreensível sua entrada entre os dez mais.
Ronaldo: Dívida que tenho com essa grande voz: conhecer melhor seus discos.

Listas individuais:
Buffy_Sainte-Marie_-_It's_My_WayAdriano KCarão
1. Bob Dylan – Another Side of Bob Dylan
2. Buffy Sainte-Marie – It’s My Way
3. Simon & Garfunkel – Wednesday Morning, 3 A.M.
4. Eric Dolphy – “Out to Lunch!”
5. Oscar Peterson – Canadiana Suite
6. Herbie Hancock – Empyrean Islands
7. Charles Mingus – Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus
8. Solomon Burke – Rock ‘n’ Soul
9. The Animals – The Animals
10. The Rolling Stones – The Rolling Stones
 
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1. The Hollies – In the Hollies Style
2. The Beatles – A Hard Day’s Night
3. The Kinks – Kinks
 4. Sam Cooke – Ain’t That Good News
5. The Animals – The Animals
6. Solomon Burke – Rock ‘n’ Soul
7. Otis Redding – Pain in My Heart
8. The Trashmen – Surfin’ Bird
9. The Yardbirds – Five Live Yardbirds
10.  The Rolling Stones – The Rolling Stones
 
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1. The Beatles – A Hard Day’s Night
2. The Rolling Stones – The Rolling Stones
3. The Animals – The Animals
4. The Beatles – Beatles For Sale
5. The Dave Clark Five – A Session With The Dave Clark Five
6. Roberto Carlos – É Proibido Fumar
7. Little Richard – Little Richard Is Back
8. The Kinks – Kinks
9. Demetrius – O Ritmo da Chuva
10. Ronnie Cord – Rua Augusta
 
johnny-cash-bitter-tearsDiogo Bizotto
1. Bob Dylan – Another Side of Bob Dylan
2. The Yardbirds – Five Live Yardbirds
3. Bob Dylan – The Times, They Are A-Changin’
4. Johnny Cash – Bitter Tears: Ballads of the American Indian
5. Ennio Morricone – A Fistful of Dollars (Trilha Sonora Original)
6. Sam Cooke – Ain’t That Good News
7. Eric Dolphy – “Out to Lunch!”
8. The Hollies – In the Hollies Style
9. The Beatles – A Hard Day’s Night
10. The Animals – The Animals
 
d7a439dd5d947500c69b6610764b19feMairon Machado
1. Julian Bream – Popular Classics For the Spanish Guitar
2. The Yardbirds – Five Live Yardbirds
3. Muddy Waters – Folk Singer
4. The Animals – The Animals
5. Manfred Mann – The Five Faces of Manfred Mann
6. Wayne Shorter – Juju
7. Charles Mingus – Mingus Plays Piano
8. The Rolling Stones – The Rolling Stones
9. Bob Dylan – Another Side of Bob Dylan
10. Roberto Carlos – É Proibido Fumar
 
AllSummerLongCoverRonaldo Rodrigues
1. The Beatles – A Hard Day’s Night
2. The Rolling Stones – The Rolling Stones
3. Bob Dylan – The Times, They Are A-Changin’
4. The Yardbirds – Five Live Yardbirds
5. The Kinks – Kinks
6. The Beach Boys – All Summer Long
7. Chuck Berry – St. Louis to Liverpool
8. The Animals – The Animals
9. The Trashmen – Surfin’ Bird
10. Muddy Waters – Folk Singer
 
* Normalmente não consideramos a inclusão de álbuns ao vivo em nossas listas, mas abrimos uma exceção para Five Live Yardbirds, por tratar-se do primeiro registro do grupo, além de ser composto por músicas inéditas.
** Em se tratando de álbuns com diferentes versões britânicas e norte-americanas, chegamos ao consenso de sempre abordar as edições originais, isto é, as britânicas.
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