quinta-feira, 25 de outubro de 2018

The Gard - Madhouse [2018]



Formada em 2010, tendo como principal ideia unir música autoral, rock clássico e contemporâneo, a The Gard tornou-se uma das principais atrações da música pesada de Campinas a partir de então. Apesar de ser fortemente reconhecida por seu show Tributo ao Led Zeppelin, o grupo atravessou a década atual em busca de uma gravadora para registrar suas canções. Somente em abril de 2018, em parceria com a NG2 e o Som do Darma, eis que finalmente chega às lojas o álbum de estreia do trio Beck Norder (baixo, guitarras, vocais), Allan Oliveira (guitarras) e Lucas Mandelo (bateria, vocais).

Intitulado Madhouse, o debut auto-produzido apresenta uma sonoridade bem distinta entre suas faixas, com mesclas de diferentes estilos que torna-se difícil de classificar em uma primeira audição, a qual é prazerosa e capaz de te fazer sentir vontade de colocar o CD novamente para rodar. O álbum abre com "Immigrant Song", o clássico do Zep recebendo um arranjo totalmente inovador - obra da mente de Beck, praticamente o líder do grupo - e que de imediato, surpreende positivamente, tornando-se mais pesada, recebendo violões e modificando boa parte das linhas vocais originais de Plant. A canção inclusive virou single, e ganhou um video-clipe para ajudar na promoção de Madhouse.

O grupo no clipe de "Immigrant Song"

"Play of Gods" vem na sequência, apresentando de cara um belo solo de guitarra por Dennis Arthur, e com um riff que lembra muito o Zep. Dennis também surge no segundo solo, rasgado e com muita distorção. A faixa-título já apresenta uma nova cara no som do The Gard, saindo das raízes setentistas do Led para explorar um som mais moderno, próximo de grupos como Skid Row. É um som simplesmente rocker, que certamente irá agradar aqueles que apreciam os grupos americanos dos anos 90.

Chegamos na melhor canção do álbum, a longa "The Gard Song". Sua introdução com violões e bandolim foge totalmente do que havia sido apresentado até então. Após um minuto, surge o riff que nos mostra uma faixa próxima ao prog rock, com os vocais de Beck lembrando um pouco Michael Kiske na fase Avantasia. São 10 minutos e 30 segundos onde você irá parar o que está fazendo e prestar atenção na interessante construção musical feita pelos campinenses, principalmente a partir de sua segunda metade, onde fãs de Helloween irão delirar com a sequência de riffs e solos de guitarra. Por fim, violões e voz encerram essa grande faixa, a qual parabenizo o The Gard por sua criação.

Lucas Mandelo, Beck Norder e Allan Oliveira

O uso do glockenspiel na introdução e a longo da também experimental "Music Box" leva Madhouse para um novo caminho musical, que me remete a bandas britânicas dos anos sessenta, tais como Beatles ou Stones em suas fases psicodélicas, muito por conta do uso de vocalizações. O instrumento foi tocado por Isadora Conte, e quanto a própria "Music Box", confesso que não me chamou tanto a atenção, talvez por vir logo após "The Gard Song". "Back to Rock" faz jus ao nome, e retorna ao rock pesado apresentado anteriormente na faixa-título. Destaque para a longa introdução, caprichando no solo de Allan, e no riffzão para pular pela casa. É mais uma faixa para se sentir em Slave to the Grind, por exemplo, essencialmente no refrão.

Encarte com caricatura da banda, e o CD

Confesso que quando "Kaiser of the Sea" começou, lembrei-me do nosso colega Thiago Reis. Afinal, é uma canção puramente Black Sabbath fase Tony Martin, daquelas saídas de Cross Purposes ou Headless Cross, mostrando toda a versatilidade da The Gard, ainda mais quando inesperadamente, surge um bonito solo de violão. Fecha Madhouse "Panem et Circensis", voltando as inspirações setentistas, mas ligadas agora ao Aerosmith, onde Allan se aventura no slide guitar, e deixando a sensação de que valeu a pena a audição dos pouco mais de 40 minutos de duração.

O encarte, com 8 páginas, é bem caprichado, apresentando as letras de todas as canções e uma caricatura do trio, além de artes por Samir Monroe e a indicação para o site da banda, onde você pode ouvir Madhouse na íntegra de forma gratuita.  Mas detendo-se apenas no som, que é o que importa, a The Gard passa acima da média em sua estreia, a qual deixa boas expectativas para o futuro da banda. E fica a mensagem do release da banda: " ... temos o privilégio de existir em uma época onde Richard Wagner já trouxe ao mundo seu trabalho. Schoenberg, cantos gregorianos, músicas tribais, Beatles. Temos tudo isso com uma facilidade de acesso que nunca vimos antes. Há muito o que combinar ainda, o que se experimentar e aventurar".

Contra-capa

Track list

Immigrant Song
Play of Gods
Madhouse
The Gard Song
Music Box
Back To Rock
Kaiser of the Sea
Panem Et Circensis

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Uriah Heep - Living The Dream [2018]



Como é bom ouvir um disco novinho, de uma banda antiga que você admira, e gostar do mesmo do início ao fim. É isso que Bernie Shaw (vocais), Mick Box (guitarras), Davey Rimmer (baixo), Phil Lanzon (teclados) e Russell Gilbrook (bateria), os caras do Uriah Heep, vêm fazendo há algum tempo, e que se mantém no excelente Living The Dream, seu mais recente álbum, que chegou às lojas no último 14 de setembro.

Esse é o vigésimo quinto álbum do Heep, e já abre com uma pancadaria na bateria, um riffzão pegado de órgão, baixo e guitarra, e uma faixa veloz e sensacional chamada "Grazed By Heaven". A performance vocal de Shaw aqui é fantástica, e o refrão, além de grudento, é para botar os pulmões para fora do corpo. Os solos de Box e Lanzon são de tirar o chapéu - o que é o mínimo de se esperar desses monstros - , e duvido que você não se surpreenda com a virada que a canção dá em sua parte central, quase Sabbhática. E puta que pariu, como esse Gilbrook adora detonar e espancar as peles de sua bateria. Um rinoceronte em formato de gente!


Phil Lanzon, Bernie Shat, Russell Gilbrook, Mick Box e Davey Rimmer. Uriah Heep 2018, no encarte de Living the Dream.

Na sequência, vem a pesada faixa-título, que dá uma boa acalmada nos ânimos perto da violência que foi a apresentação do disco. Porém, preste atenção na reta final da canção, já que é outra que dá uma guinada bem forte em direção a rumos nada a ver com o que estávamos ouvindo. "Take Away My Soul" abusa de um refrão grudento, e conta com boa participação do órgão (com um trecho que me lembra "July Morning") e da guitarra, com outro solo fantástico, além de mais uma performance vocal soberba de Shaw.

"Knocking At My Door" tem um ar de fim dos anos oitenta em suas linhas de guitarras, lembrando Raging Silence (1989) e Different World (1989), mas com mais peso, essencialmente por conta de Gilbrook, e Box despejando wah-wah nos ouvidos. A longa "Rocks In The Road", e suas três distintas partes, é uma canção puramente Heepiana, com um refrão forte, marcação pulsante do baixo, e um riff exuberante por órgão, guitarra e baixo. A partir dos dois minutos, a canção desencadeia para uma etapa progressiva, muito breve, somente com órgão, guitarra dedilhada e os vocais de Shaw, que leva a uma série de solos de órgão e sintetizadores por mais de quatro minutos. Prepare-se para viajar sem sair do seu quarto, e sentir a sensação de um belo Hammond invadindo seu cérebro!!!!

Foto promocional do Heep

Os momentos acústicos iniciais da delícia "Waters Flowin" nos fazem sentir no meio da mata, para cantarmos os "la-la-las" junto de Shaw. A faixa encerra com uma breve participação de cordas. Voltamos a pancadaria descomunal em "It's All Been Said". Mais um riff poderoso, Lanzon se destacando acima dos demais, e de repente, uma linda balada ao piano, com Shaw carregando sua voz em dramaticidade, além de uma tímida participação de baixo e sintetizadores. Então, voltamos a pancadaria, e de novo balada, e de novo pancada, e isso em apenas seis minutos. Surpreendente e típica faixa para gritarmos "SE FUDER!!", de tanta alegria, ainda mais com o maravilhoso solo de Hammond. E o solo de Box, bah, arrepiante!!!

Estamos chegando ao final de Living The Dream. Se você é xiita-heep, e não aceita um disco da banda sem nenhuma baladinha, então esqueça. "Goodbye To Innocence" é um rock 'n' roll para sacudir o esqueleto, com aquela pegada bem anos 70 (parece que estamos ouvindo Lee Kerslake e Gary Thain comandando a cozinha, enquanto Ken Hensley está mandando ver no órgão). Que música ótima, e que refrão massa de cantar junto. O mesmo ocorre em "Falling Under Your Spell", para retornar aos temas mágicos de Magician's Birthday e Demons And Wizards (ambos de 1972).

A limitada versão DELUXE, com camiseta, CD e DVD


Para encerrar, "Dreams Of Yesteryear" grava mais um refrão em nossa cabeça, e o disco fecha com uma canção leve, mas longe de ser uma balada. Algumas versões trazem como bônus versões alternativas de "Grazed By Heaven" e "Take Away My Soul". Lá fora, Living The Dream saiu em vinil branco (Europa), vinil transparente (exclusivo na Itália), e vinil azul (Estados Unidos). Também há uma tiragem com CD + DVD, na qual o DVD traz o documentário Making The Dream, além dos clipes de "Grazed By Heaven" e "Take Away My Soul", e uma versão DELUXE, com CD, DVD e camiseta.

Depois do hiato de quatro anos desde Outsider, e de sete após o ótimo Into The Wild, os velhinhos mostram que ainda tem muita lenha para queimar. Box e Lanzon formam talvez a melhor dupla de guitarra e teclados da atualidade. Shaw continua com sua voz intacta, e a nova cozinha formada por Gilbrook e Rimmer deu um gás ao grupo que parece mergulhado em uma piscina com água da jovialidade. Disco para se ouvir por diversas vezes ao longo da semana, e um dos fortes candidatos a melhor de 2018.

Contra-capa do vinil


Track list

1. Grazed By Heaven
2. Living The Dream
3. Take Away My Soul
4. Knocking At My Door
5. Rocks In The Road
6. Waters Flowin
7. It's All Been Said
8. Goodbye To Innocence
9. Falling Under Your Spell
10. Dreams Of Yesteryear
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