Primeiramente gostaria de agradecê-lo por participar do Baú do Mairon.
Quem acessa seu webspace (http://www.myspace.com/pachecoband) fica impressionado sobre sua carreira, principalmente pelas suas diferentes colaborações. Conte-nos um pouco sobre sua formação musical e suas principais influências? No gênero clássico sempre estudei com professores particular e/ou conservatórios e faculdades, porém no gênero popular (jazz, rock, mpb) sou auto-didata, minha escola foram a noite, bandas de baile e grupos de jazz e rock progressivo (shows e produção de discos). Nos anos 60 e 70, não haviam escolas ou professores do gênero popular, porém eu tive sorte de trabalhar, logo de início, meu primeiro emprego na noite (tocando de terça à domingo das 22 às 4h durante mais de 2 anos) com o Baterista Milton Banana, foi um bom começo para um garoto de 19 anos em 1974. Outros grandes músicos, mas não tão conhecidos me ajudaram a aprender jazz, rock, bossa-nova, com isso em 1978 fui um dos primeiros professores a ensinar jazz em escolas em S. Paulo (capital), abri um novo campo de trabalho unindo o clássico e o popular. Aproveitei meus 5 anos de S. Paulo para estudar jazz na escola do Zimbo Trio, com os métodos da Berklee School de Boston (USA), porém o Zimbo não tinha guitarrista e eu estudava com Pianista Fernando Campos Motta (conterrâneo santista - músico de bandas de baile ex-Pop-Six) , discipulo direto do Godoy, e com isso eu tinha que transpor tudo para a linguagem da guitarra (estudava duas vezes - isso foi muito bom - apreendi mais rápido e decorei tudo, graças a essa mão de obra, hoje dou aulas de improvisação, harmonia, arranjo sem precisar seguir livros, está tudo na cabeça), apesar que nos anos 80 tive 4 excelentes professores = Claudio Santoro, Almeida Prado (composição) Ian Guest (harmonia e arranjo) e Nelson Faria (guitarra jazz - improvisação). Mais tarde nos anos 90 estudei com Koellreutter (composição), e nos 2000 com Larry Coryell (guitarra fusion)e Eliot Fisk (violão clássico), entre esses apareceram outros como Eduardo Isaac, Miguel Girolet, Henrique Pinto. Mas a formação básica na área popular foi, como já disse, auto-didata, só muito depois que começaram a aparecer alguns professores, citados, com os quais fui procurando entende e organizar, didáticamente, esse linguagem, até aquele momento ainda não acadêmica. Em 1989 a UNICAMP inseriu na academia o gênero popular, no Sul de Minas eu consegui abrir portas para esse gênero, de uma forma pioneira, no início dos anos 90 no Conservatório Estadual de Música JKO (Pouso Alegre - MG) e a partir de 2002 na UninCor - Universidade Vale do Rio Verde (Três Corações - MG), na graduação e Pós-graduação. Gosto sempre de lembrar que a minha base de estudos técnicos no violão com o Professor Antonio Manzione (Santos) 60's e a complementação em nível acadêmico na área de pesquisa nos anos 90 na PUC/SP no programa de Pós-Graduação em Semiótica Musical e Crítica Genética Musical. Quanto a influências podemos destacar todos os grandes ícones 60's = começando por Beatles e Joven Guarda, seguindo para Santana e bandas de progressivo = Gênesis, Yes e Pnk Floyd, e todas as outras como ELP, Led Zepellin, etc... guitarristas de jazz fusion e jazz rock = Jeff Back, John Scofield, Pat Matheny, e segue-se nessa linha, ouço muita coisa, são muitos nomes, na Bossa-Nova = Johnny Alf, Tom Jobim, Baden Powell, etc..., etc...., etc....
Você chegou a fazer gravações com Larry Coryell? Como conheceu o mesmo?
Infelizmente ainda não, mas combinamos de gravar algumas coisas, ele era meu convidado no CD em Homenagem a Johnny Alf, porém na época da gravação eu estava envolvido com outros compromissos que me impediram de ir a Orlando (USA) para que ele participasse. Conheci Coryell em um Festival de guitarrista em Córdoba na Espanha e nessa oportunidade fui seu aluno, tive também o privilégio de tocar bossa-nova com ele em duo de guitarras e, também, de assitir, na primeira fila, uma apresentação histórica de Coryell tocando Beatles com a orquestra sinfonica de Córdoba regida pelo maestro Leo Brower, não acredito que se possa juntar esses dois novamente, foi um momento único, e eu estava lá.
Como foi a idéia de montar a Recordando O Vale das Maçãs? Quais bandas/projetos você teve antes da RVM.
O RVM nasceu naturalmente, eu, Motta e Domingos, convivemos desde a infância, começamos a tocar juntos, e com isso o RVM foi se surgindo, o batizado aconteceu em 1974, mas nós já tocavamos juntos desde 1967. Antes do RVM, sempre tocando junto com o Motta tivemos "Os Lobos" e o "End Up Six".
O disco "As Crianças da Nova Floresta" é considerado um dos melhores álbuns do rock progressivo nacional. Porém, a época de lançamento do álbum foi posterior a grande geração progressiva como os álbuns Close To The Edge e The Lamb Lies Down On Broadway. Qual foi o impacto causado pela banda com relação a imprensa e também ao público?
Justamente por só conseguir espaço na grande mídia (TV TUPI), na qual éramos contratados exclusivos, em 1977/78/79, no final do movimento progressivo/brasil e na época em que a TV TUPI estava fechando, isso fez com que o trabalho tivesse dificuldades de ser divulgado, com isso ele acabou abrindo mais portas no exterior (Europa e Japão) do que aqui no Brasil, onde só veio a conquistar novos espaços alternativos, nos anos 90, depois de algum reconhecimento no Exterior.
Por que Domingos Mariotti saiu antes do lançamento do primeiro álbum? Ele chegou a participar da composição de algumas canções?
Foi meu parceiro na música "Besteira", gravado no LP de 1977. Saiu antes, porque não queria seguir, na música, profissionalmente, mas a partir de 90's sempre esteve com a gente.
No site oficial temos que em 1975 a RVM já contava com vários integrantes, os quais participariam da gravação de "As Crianças". A idéia inicial era realmente ser uma banda progressiva ou, na época ao lado de Domingos e Fernando Motta o estilo era diferente.
A idéia era fazer um som, não havia preocupação com estilos, porém as influências são claras e sem pensar nosso trabalho se tornou progressivo, mas no início, na formação, inicial (73/74/75), de TRIO, o som estava mais para NEW AGE do que para PROGRESSIVO.
Como foi a elaboração da bela capa do álbum? É verdade que ela foi feita por um artista daqui do Sul?
Se vc está se referindo ao LP de 77 e o CD de 93, ele era contratado da GTA (gravadora - Gravações Tupi Associadas)), que eu saiba ele é de S. Paulo, não me lembro de ter conhecido, pessoalmente.
De onde surgiu o convite para a RVM ser o principal nome da Rede Tupi?
O responsável pelo primeiro contato foi o tecladista LEE que na época morava em S. Paulo, e resolveu sair com uma fita cassete batendo de porta em porta.
Como era a participação da banda no programa "Almoço das Estrelas"?
Da mesma forma que hoje, os artistas da globo, são obrigados a participar de programas de auditório, para divulgar novelas e etc..., nós, contratados da GTA, tinhamos o mesmo compromisso em divulgar nosso produto me programas da TV TUPI, fizemos vários, além de muitos clips da banda que passavam, em média, 6 vezes por dia.
É inegável a qualidade da obra do RVM, mas o que levou o cd da banda a ser considerado como a melhor reedição progressiva de 1994 pelos franceses da revista Big Bang e também ao fato da banda ter representado o Brasil no "Fête de la Music" de Paris?
Uma coisa está ligada à outra, a revista fez um estudo e concluiu que o melhor lançamento de 1994, foi "As crianças da Nova Floresta II", o mesmo aconteceu na Noruega em 1996, com isso a Embaixada do Brasil na França, nos convidou para representar o Brasil na mais tradicional festa de Paris "Fête de la Musique" (21 de junho). Maiores detalhes do porque disso ou daquilo, eu não sei, teria que perguntar a eles.
Como foi essa experiência?
Foi viajante, tudo muito novo, contato com outra culltura, um respeito e uma valorização do nosso trabalho que nunca tivemos em nosso País, apreendemos muito com essas novas experiência, o que ajudou para abrir outras portas, e ter uma visão de que o mundo é muito maior do que simplesmente a cidade, o estado ou o País em que vivemos, e que o músico não pode ficar limitado ao um público ou espaço, tem que fazer seu trabalho andar e seguir junto com ele. Nessa viagem a Paris fizemos um especial para a "TV5" com uma produtora Alemã, outra experiencia interessante.
Como tomou conhecimento sobre o sucesso da RVM na Europa?
Em 1987, quando recebi um telefonema de um distribuidor de discos de Santo André (SP), o qual comprou o LP "Himalaia I" em uma loja de S. Paulo, e na contra-capa desse LP tinha meu telefone de contato, ele ligou encomendando caixas do Himalaia I e aí descobri que havia procura do nosso trabalho em vários países. Depois das primeiras distribuições, desse contato, mais dois distribuidores do Rio de Janeiro me procuraram e compraram o que restava daquela produção. Em 1993, isso se concretiza com o selo Progressiverock de São Paulo que lança o CD de 1973, com produção final nos USA, o qual abre novas portas na Europa e Japão.
Fora da RVM, como foram suas participações junto ao "Quarteto Livre" e aos duos "Pacheco e Carioca" e "Duo Fernando's"?
Foram parcerias com amigos, muito amigos, grandes amigos até hoje, com os quais trabalhamos nesses projetos de múisca instrumental (jazz brasileiro ou se preferir músicaz instrumental brasileira), sempre paralelo a outros, como trabalhos comerciais em bandas de baile e noite, afinal eu trabalhei 30 anos em baile, por isso não morri de fome, foi de 1975 até 2006, agora só faço concertos e produções.
Sobre o álbum Himalaia I, a divisão em lado "The Past" e "The Present" se deve ao fato de "The Past" contar com a colaboração da RVM?
O passado foi uma gravação feita pela formação de 1982 em Curitiba - PR, que eu aproveitei para lançar em 1986, nesse album, e o presente eu gravei em 1986 sózinho usando um violão e uma guitarra sintetizada fazendo as orquestrações.
Quando ouvi "Himalaia" pela primeira vez logo percebi que era um trabalho ligado a RVM, principalmente pelas linhas instrumentais. Mesmo assim, temos um disco instrumental, e que não tira a qualidade do disco. As letras da RVM eram muito boas, então, por que você decidiu lançar um álbum somente instrumental?
Minha praia, sempre foi instrumental, apesar de sempre acompanhar cantores para sobreviver. A partir de 1986, quando assumi a produção do RVM, segui o meu caminho = instrumental, apesar que a formação atual apresenta músicas cantadas do CD de 2006 "Spirals of Time". Não tenho nada contra, porque sou a favor da democracia. Uma banda só se desenvolve se fizer o gosto de todos, mas se depender só da minha opinião trabalho sempre com as versões instrumentais.
Sobre a canção "Progressivo L-2 Sul", qual foi sua inspiração para a bela melodia e o belo dedilhado de violão que você executa na mesma?
L-2 Sul é o endereço da Escola de Música de Brasília, por aí vc já pode concluir que essa música foi composta nessa escola, em 1982, quando eu participava de um curso de composição com um professor da Inglaterra Cristofer Boochiman.
As intrincadas peças de "Ciclo da Vida" demoraram quantos dias para serem gravadas?
Nunca demorei muito para gravar. Estudio é cobrado por hora, o músico não tem muito dinheiro e a s produtoras de progressivo também não. Com isso o músico tem que chegar, no estudio, bem ensaiado. Ao longo dos anos a experiencia também ajuda. O produtor também é muito importante nessa hora e a concentração dos músicos e toda a equipe, também. Além disso não sou de enrolar com improvisos, o que soa pior é o que eu deixo, e quase sempre o primeiro, soa mais natural, sem emendas. O improviso que vc não gosta, na primeira audição é aquele que tem menos padrões prontos, com isso ele dedmora mais para ficar cansativo e/ou repetitivo, porque a cada nova audição ele te passa novas informações. Sempre gravei minha parte em uma sessão de 6 horas, no máximo 8 para dobras, bases, etc... costumo cobrar o mesmo dos meus colegas, e todos sempre corresponderam a isso, nunca tivemos problemas de estourar o orçamento em estudio.
Você fez shows em diversos países como Espanha, Portugal e França. A divulgação tanto da RVM e de Himalaia ocorreu em muitos países incluindo o Japão. Você chegou a ir até lá também?
Fomos convidados, o convite está aqui, na minha casa (arquivado), mas infelizmente não fomos (1999 - lançamemento do Himalaia II) porque o convite foi feito pela Embaixada do Brasil no Japão para 4 concertos em cidades diferente, porém a verba teria que sair pelo Itamarati, foram 3 meses de negociação, e a proposta foi indeferida por falta de verba do Itamarati. Coisas do Brasil.
Você chegou a fazer uma turnê de divulgação do álbum "Himalaia I" pelo Brasil?
Só no Sul de Minas, porque é mais perto de casa e o prejuízo é menor. Não dá pra ir muito longe, no Brasil, com uma Banda, a despesa é grande, os patrocinadores são poucos, e o público prefere pagode, sertanejo e axé.
O projeto Spirals, que culminou no lançamento do cd "Spirals of Time" em 2006, ainda está na ativa?
Está na ativa, sendo divulgado pelo RVM, cuja formação atual é, praticamente, a mesma do GALF.
Você já tocou aqui em Porto Alegre? Se sim, aonde e como foi a participação dos gaúchos? Se não, existe essa possibilidade?
Existe a possibilidade, é só ter um convite. Cheguei com o RVM até Floripa (SC). Em Porto Alegre tive sózinho em 1999 durante 30 dias num seminário de violão - Faculdade Palestrina, que juntou grandes nomes. Foi aí que estudei com Eduardo Isaac e Miguel Girolet (Argentinos)
Sou um grande fã de seu trabalho, porém admito que só fui conhecê-lo através de downloads na internet, em sites como o orkut e o e-mule. A partir de então, procurei em diversos sebos e na própria internet os vinis originais tanto da RVM como de "Himalaia I" e "Instrumental" (álbum gravado pelo Duo Fernando's) e, infelizmente, sei que nenhum centavo do que investi nos mesmos retornou para você, o que acho injusto, pois tenho um material de ótima qualidade cujo criador não teve seu retorno. Como você vê esse processo de downloads e do uso da internet para venda de vinis, cds e outros itens ligados à cultura.
São novos tempos. Incomodava um pouco no início, mas hoje vejo como uma excelente fonte de divulgação do trabalho do artista. Sempre quem ganhou dinheiro com discos foram as gravadoras, o músico sempre genhou com shows. Hoje as gravadoras perdem, com esse novo formato da internet, porém os músicos conseguem um público maior que antes não teriam acesso ao seu trabalho. O ideal é que tivessemos um meio termo, uma forma de divulgar, porém também VENDER, pela internet. Existem ferramentas, mas não impedem o downloads.
Você acompanha os blogs ligados a música? Como atualiza-se sobre som hoje em dia?
Vivo música 24 horas à 42 anos, isso se dá de forma natural, estou sempre ouvindo, são alunos que me trazem novas informações, as vezes colagas de trabalho, faz parte do meu dia/dia, mas não uso a internet para isso, o pouco tempo que tenho uso o computador, no estudio, para gravações, para estudos, para aulas, e para contatos via e-mail, como este que estamos fazendo agora. Sempre recebo de amigos, novos trabalhos. Nem sempre tenho tempo de ouvir todos.
Muitos falam que o vinil era melhor para o músico por que era mais difícil de ser pirateado. Você concorda com isso?
Nunca pensei nisso. Isso não me preocupa, a pirataria nunca me atrapalhou. Como já disse me incomodava no começo, mas logo me adaptei. Não interferiu no meu orçamento. Prejudica mais as gravadoras, do que os músicos.
Aqui no blog temos muitos leitores que são colecionadores. Teremos a chance de vermos algum DVD da RVM ou de sua carreira solo ou até mesmo algum lançamento de material raro, como shows ou fitas perdidas?
Pretendo gravar DVD's mas isso depende de leis de incentivo à cultura e/ou de algum produtor maluco, que goste de perder dinheiro se interessar. Mas se vc procurar por Recordando o Vale das Maçãs no You Tube poderá assitir pedaços de nossos concertos do segundo semestre de 2008.
Obrigado pela colaboração e sucesso sempre para você, sua família e a todos próximos de vocês.
Desejo o mesmo para vc e sua família. Agradeço a oportunidade de falar sobre a história do RVM e também por ajudar a divulgar nosso trabalho.
Abraços,