Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bruno Marise, Davi Pascale, Luiz Carlos Freitas, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues
Após seus álbuns anteriores terem sido citados em nossas listas congregando os melhores discos lançados em
1963 e
1964, Bob Dylan galgou a posição mais alta em 1965 com seu aclamadíssimo clássico
Highway 61 Revisited, com folgas em relação ao segundo colocado, confirmando seu status lendário e sua gigantesca influência. Lembramos, como sempre, que o critério para elaborar a listagem final, baseada nas listas individuais de cada colaborador, segue
a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Dito isso, fica o convite para que o leitor não deixe de registrar suas preferências a respeito do ano em questão, além de tecer as críticas que achar pertinente.
Bob Dylan – Highway 61 Revisted (90 pontos)
Adriano: O disco não é ruim, de forma alguma; é bom. “Like a Rolling Stone” é um clássico merecidíssimo e “Tombstone Blues” é uma das melhores coisas da carreira do Dylan, possuindo um dos meus trabalhos de guitarra favoritos de todos os tempos (cortesia de Mike Bloomfield). As demais músicas, no entanto, embora sejam boas, não me empolgam tanto. Acho que, desse ano, ainda prefiro Bringing It All Back Home.
Bruno: Meu preferido do Dylan. Não só pela adição muito bem vinda da guitarra, mas pelas composições. Um álbum que tem “Like a Rolling Stone”, “Tombstone Blues”, “Highway 61 Revisited” e “Desolation Row” não precisa de mais nada, não é?
Davi: Na época, Dylan quis inovar e resolveu colocar um conjunto de rock por trás de suas composições folk. Os fãs mais puristas torceram o nariz, é claro. Mas o tempo se incumbiu de mostrar que o rapaz estava certo, com uma mentalidade muito à frente de seu tempo. É aqui que está imortalizado o clássico “Like a Rolling Stone” (que décadas depois foi regravada pelos Rolling Stones). Este é o disco do qual mais gosto em sua discografia. Audição obrigatória!
Diogo: Poderia ser pelo clássico “Like a Rolling Stone”, cujo status como uma das músicas mais importantes de todos os tempos é merecidíssimo. Poderia ser pela performance louca e irreverente de Dylan e do guitarrista Mike Bloomfield – cheia de feeling – em “Tombstone Blues”. Poderia ainda ser pela lúgubre, dramática e estupenda “Ballad of a Thin Man”, ou até mesmo pela épica “Desolation Row”, praticamente sem precedentes em sua carreira. Para nossa felicidade, é por tudo isso e por mais cinco fantásticos motivos que Highway 61 Revisited merece, com sobras, ocupar o primeiro posto nesta lista. No também excelente Bringing It All Back Home (criminosamente ignorado aqui), Dylan já havia cometido a heresia de oferecer algo diferente daquilo que seus admiradores esperavam, eletrificando parte de seu material, mas foi através deste disco que o músico cravou definitivamente seu nome entre o panteão dos verdadeiros gênios da música.
Luiz: Assim como todo o folk, a sonoridade de Bob Dylan nunca me agradou muito. Todavia, o artista possui em sua discografia aquelas obras que estão além de qualquer parâmetro, funcionando sozinhas, como que uma referência a si próprio. Highway 61 Revisited é um desses discos que estão acima de criador, estilo ou qualquer outra forma de definição que o limite.
Mairon: Só por ter “Like a Rolling Stone” já podemos colocar Highway 61 Revisitedcomo um dos melhores de 1965 com toda a justiça. Não entrou na minha lista porque encontrei preciosidades que considero bem melhores, mas entendo o porquê de ele ser escolhido o melhor de 1965.
Ronaldo: Ao amplificar seu som com as guitarras elétricas, Bob Dylan também amplificou sua mensagem ainda mais largamente a todo o mundo, em um trabalho estupendo tanto no aspecto musical quanto no lírico. Díficil acrescentar alguma palavra a um trabalho tão importante e tão discutido quanto este. Bob Dylan influenciou os Beatles que influenciaram Bob Dylan e esses dois influenciaram mais de meio mundo.
The Who – My Generation (66 pontos)
Adriano: Bom disco, que por pouco não entrou no meu Top 10 particular. Já inicia detonando com “Out in the Streets” e, ainda no lado A, conta com a clássica faixa-título, uma pancada, e com minha preferida no disco, “The Good’s Gone”, na qual Daltrey canta com timbre grave, longe do seu comum. Quanto às demais faixas, todas agradam, especialmente as originais, das quais não consigo destacar nenhuma.
Bruno: Quando esse disco saiu, nada era tão barulhento e anárquico como o The Who. Quem estava fazendo isso em 1965? É o punk dando as caras dez anos antes de seu nascimento oficial. Além disso, a banda podia se vangloriar de ter uma formação impecável. Um baterista hiperativo, um baixista virtuoso, um vocalista visceral e um guitarrista que compunha brilhantemente.
Davi: Álbum de estréia do grupo britânico. Não o considero seu melhor trabalho, mas sem duvida é um álbum essencial. Townshend já dava as cartas como principal compositor e Keith Moon já demonstrava ser um baterista fantástico. No entanto, se você está acostumado com o The Who das óperas rock, vá com calma. Aqui a sonoridade é mais crua, direta e com influencia do blues. Porém, não menos visceral. Os destaques ficam por conta dos clássicos “My Generation” e “The Kids Are Alright”.
Diogo: Apesar de ainda estar a uma certa distância do The Who mais ambicioso que afloraria pouco tempo depois, mostrando de vez quão diferenciado o grupo liderado por Pete Townshend – um dos grandes arquitetos do rock – era, My Generation já deixa claro que a intenção do quarteto era fazer muito, mas muito barulho. Em comparação com o que se fazia na época, quase tudo é mais intenso: a agressividade, a crueza e, especialmente, a performance dos músicos, ressaltando o baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon, tão estrelas quanto Townshend e Roger Daltrey, um de meus vocalistas favoritos. Os clássicos “My Generation” e “The Kids Are Alright” são destaques, mas também enfatizo a ótima “The Good’s Gone” e a avassaladora instrumental “The Ox”.
Luiz: O mundo ainda não sabia o que era barulho … Não ainda! Com uma das mais fantásticas e invejáveis formações de um grupo até hoje, o The Who chegava para estrondar o mundo já em seu debut, com uma linha de clássicos capitaneadas pela porrada da faixa título (entre outras), que imortalizaram a máxima “Beatles? Play. The Who? Destroy!”, e com total propriedade.
Mairon: Bela estreia do Who, ainda no saudoso tempo do mod. Canções curtas, despretensiosas e agradáveis. Entwistle é o principal nome em todo o disco, e clássicos como a faixa-título e “The Kids Are Alright” estão nele. É a adrenalina e energia que faltava para o rock começar a virar hard, mesmo que ainda em uma visão embrionária.
Ronaldo: Estreia estrondosa do quarteto britânico. O som tem o espírito da época, mas aponta uma selvageria ainda pouco comum nas gravações. Canções icônicas e carregadas, chacoalhando o bom mocismo das bandas pop da invasão britânica, mas, ainda sim, também sendo pop.
John Coltrane – A Love Supreme (50 pontos)
Adriano: Não consegui entender esse disco. É só o que consigo pensar. Tanta gente com tantos gostos diferentes, todos amam esse álbum, e eu simplesmente acho um disco de jazz comum, sem nenhum appeal especial. “Resolution” me parece uma boa faixa, mas só isso! Fica, enfim, registrada minha ignorância.
Bruno: Não sou muito fã de post-bop e free jazz, mas esse aqui é uma exceção. Uma das melhores obras de Coltrane, dividida em quatro suítes impecáveis e brilhantemente executadas.
Davi: Não ouvi.
Diogo: Apesar de não ser um grande conhecedor de jazz, minha parca experiência dá a entender que A Love Supreme é, depois de Kind of Blue (Miles Davis), o mais icônico álbum do gênero já gravado. Convenhamos, isso não ocorre à toa. A interação entre Coltrane e os músicos que o acompanharam nessa fantástica jornada atinge níveis transcendentais e causa espanto, tamanha a qualidade de cada pequena intervenção. Certamente, A Love Supreme ainda soa atualíssimo.
Luiz: Um dos meus dez discos preferidos em todos os tempos. Com o perdão do trocadilho, a obra suprema. Apenas.
Mairon: Por pouco este disco não entrou na minha lista final, mas pouco mesmo. Perdeu para o também ótimo E.S.P., de Miles Davis. Coltrane começando a mergulhar no free jazz e mandando ver com uma interpretação do capeta, acompanhando por um quarteto fenomenal em um disco fenomenal.
Ronaldo: O mestre do saxofone em seu trabalho mais celebrado. Um som jazz que consegue ainda hoje soar muito moderno. Uma confluência de inspiração e talento que pode (e deve) ser apreciada sem moderação. Não entrou na minha lista porque só tenho escolhido (por critério pessoal) discos de rock ou relacionados.
The Yardbirds – For Your Love (48 pontos)
Adriano: O álbum conta com a versão definitiva de “I Ain’t Got You”, o que é suficiente pra entrar nesta lista. É um ótimo exemplo do que representavam os Yardbirds nesse momento: um grupo que fazia basicamente versões pra composições de terceiros, mas com uma potência e cara própria que punha a banda no nível de qualquer banda autoral do período – quando não acima.
Bruno: Não ouvi.
Davi: Lançado enquanto se preparavam para a primeira turnê nos Estados Unidos. Aqui misturam músicas inéditas com outras que já haviam sido lançadas em compacto. Algo muito comum na época. É o ultimo álbum gravado por Eric Clapton e o disco que tem o maior hit do grupo, a faixa-titulo “For Your Love”.
Diogo: Mesmo ainda focando-se em covers, os Yardbirds sempre mantinham-se um passo à frente dos outros grupos britânicos. Seu senso de urgência não tinha igual, vindo a ganhar concorrência apenas no final de 1965, quando o The Who lançou sua estreia. Equilibrando as fortes influências blues expressas no disco anterior, Five Live Yardbirds, com uma surgente ambição pop, o quinteto transformava canções alheias em material mais excitante e desafiador que as originais, tornando muito difícil a tarefa de apontar destaques. Eric Clapton pode ter deixado o grupo na época do registro, mas em pouquíssimo tempo ficaria mais que comprovado que seu substituto, um tal de Jeff Beck, não devia nada em relação ao “Slowhand”.
Luiz: E os Yardbirds finalmente adentram terras norte-americanas. Em termos de sonoridade, pouco muda com relação ao seu debut, mas a dimensão alcançada a partir de então é determinante para que se firmem entre os melhores. Destaque para “I Wish You Would”.
Mairon: Em 1965 houveram muitos lançamentos fantásticos, mas o Yardbirds superou a expectativa e lançou dos álbuns incríveis. For Your Love é um apanhado de singles lançados nos Estados Unidos, e não são quaisquer singles, são verdadeiros clássicos do rock que devem ser ouvidos por todas as gerações humanas. Uma banda que jamais existirá igual. Pena que o outro álbum lançado nesse ano (Having a Rave Up With the Yardbirds) não pôde entrar na lista por conta de seu lado B, mas também é um disco igualmente incrível em seu lado A.
Ronaldo: Uma das bandas mais importantes da década de 60 em um momento de cisma – escolher entre o purismo do blues e do r’n’b norte-americano ou um direcionamento mais pop. E como o Yardbirds equacionou a questão? Ora, se equilibrou entre os dois e ainda foi além desses dois rótulos. Porém, isso lhe custou a permanência de Eric Clapton na banda. O público saiu ganhando. O Yardbirds continuou a mil e Eric Clapton foi fazer história com John Mayall e depois com o Cream.
The Rolling Stones – Out of Our Heads (46 pontos)
Adriano: Um ótimo disco, talvez o primeiro grande álbum dos Stones. Embora ainda contenha mais covers do que canções originais, essas versões são muito competentes, super legítimas (a exceção, por não acrescentar muito, seria “Talkin’ Bout You”). De início, já temos a pancadaria de “She Said Yeah”, cujo arranjo proto-hardeiro deixa no chinelo sua contemporânea “My Generation” e iguala “Train Kept a-Rollin’” (polêmica!). Outras muito boas são “That’s How Strong My Love Is”, “Good Times” (reparem na sutileza dos arranjos e da performance vocal) e, em particular, “Cry to Me”, com Keef demonstrando ser um ótimo guitarrista solo, com muito sentimento, o que ele repete na autoral “Heart of Stone”, uma belíssima faixa. Completando esse timaço de canções, as maravilhas autorais “Gotta Get Away” e “I’m Free”. Merecia posição melhor, certamente.
Bruno: Melhor disco dessa primeira fase brit do Stones. Apesar de ainda muitas – e ótimas – versões, a banda aqui mostra uma pegada mais urgente, com guitarras mais altas e uma performance inacreditável de Mick Jagger. Discão.
Davi: Um álbum típico do inicio do grupo de Jagger e Richards. Ou seja, bastante influenciado por soul e blues e poucas composições da dupla. Mesmo que assinem apenas três faixas do disco, colocam respeito. “I’m Free” está entre os grandes destaques do disco. Entre as regravações, sempre gostei muito da versão de “She Said Yeah” (que também recebeu uma ótima versão do The Animals) e “That’s How Strong My Love Is”. Grande disco.
Diogo: Certamente o melhor disco da banda até então. Apesar de nenhum dos anteriores ser fraco, pelo contrário, Out of Our Heads é bem resolvido desde o início, com a hardeira e agressiva “She Said Yeah” até o final com a ótima autoral “I’m Free”. Em geral, os músicos demonstraram que a experiência em estúdio e nos palcos, além do óbvio entrosamento, lhes dava cada vez mais personalidade. Quanto a Mick Jagger então, nem se fala… Confirmou merecer posição entre os grandes da época, especialmente nas baladas blueseiras, caso de “That’s How Strong My Love Is”, “Cry to Me” e “Heart of Stone”.
Luiz: Meu preferido dessa fase do grupo, ao lado de Aftermath. Aqui é perceptível um som mais enérgico e extremamente versátil, indo da pegada mais firme e sacana à melodia sofrida e boêmia de uma balada como “That’s How Strong My Love Is”. Obrigatório.
Mairon: Assim como os Yardbirds, os Rolling Stones também lançaram dois discos excelentes em 1965. Prefiro Two a Out of Our Heads, mas, se considerarmos a versão norte-americana desse álbum, Out of Our Heads certamente teria que estar entre os melhores de 1965, já que possui a clássica “(I Can’t Get No) Satisfaction”.
Ronaldo: Na minha humilde opinião, o trabalho que melhor representa os Rolling Stones nos anos 60. O r’n’b turbinado, o som repleto de ironia, a postura musical de afronta e aquela musicalidade básica e cativante. Díficil destacar algo neste trabalho, que pra mim merecia estar mais próximo do pódio de 1965.
The Beatles – Rubber Soul (44 pontos)
Adriano: Se eu fizesse um Top 20 dos álbuns de 1965, Help! Certamente entraria.Rubber Soul talvez entrasse em um Top 50 (pois não devo conhecer mais do que 50 discos desse ano). Não quero polemizar muito, então vou falar apenas das faixas que me agradam. “Girl” já foi muito mais do meu gosto, mas ainda reconheço sua peculiaridade e carga sentimental. “Wait”, não sei por que, é uma música que me agrada bastante, embora não tenha nada de incomum ou de genial. A favorita, obviamente, tinha de ser “In My Life”, esta sim um trabalho magistral, de composição e de interpretação, inclusive por parte de George Martin no solo de piano. Merecia ocupar espaço em um disco melhor.
Bruno: Revolver e Sgt. Pepper’s é o caceta! É aqui que os Besouros começaram a botar as asinhas de fora, experimentando novos instrumentos, como a cítara em “Norwegian Wood”, guitarras mais rasgadas e harmonias vocais mais elaboradas. Um discão e talvez o mais subestimado da banda. Composições de primeira do começo ao fim.
Davi: Marca o inicio de uma nova fase do Fab 4. Aqui os músicos começaram a explorar mais os recursos de estúdio e a ousar mais em suas composições. Claro que os álbuns seguintes (Revolver e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band) são os grandes marcos dessa virada, mas já havia algumas dicas, como a cítara de “Norwegian Wood” e a letra de “In My Life”, por exemplo. Imperdível!
Diogo: É meio que uma convenção amplamente aceita o fato de Rubber Soul marcar uma virada na carreira dos Beatles, e isso faz bastante sentido. Não que álbuns anteriores já não contivessem fortes indícios do caminho mais experimental que seria seguido depois, mas é neste disco que se encontram obras que confirmam essa ideia, caso de “Norwegian Wood”, “You Won’t See Me”, “In My Life” e “If I Needed Someone”, todas ótimas. Apesar de alguns destaques, trata-se também do álbum mais equilibrado do grupo até então, não trazendo sequer uma música que eu considere muito abaixo do restante do track list.
Luiz: Invejo os outros 7 bilhões de habitantes do nosso planeta (e alguns marcianos) que são fãs dos Beatles. Nunca me despertaram interesse.
Mairon: O primeiro grande discos do Fab 4. For Sale é muito bom, mas é comRubber Soul que o grupo deu uma guinada de 180 graus em sua carreira, a qual particularmente é muito melhor do que o tempo do iê-iê-iê.
Ronaldo: Primeiro trabalho da banda que começou a dar as pistas de um outro direcionamento para toda a cena britânica. As inovações aqui são o som folk e a cítara, uma pequena intervenção neoclássica em um solo de teclado e músicas que fugiam da monotemática romântico-amorosa. Como eram a referência pra todos os jovens músicos da época, os manches todos se mudaram pra essas novas direções.
The Zombies – Begin Here (39 pontos)
Adriano: O que dizer do álbum que conta com a melhor música de 1965? Sei que é exagero, mas é difícil descrever o sentimento que causa em mim o feito musical chamado “I Can’t Make Up My Mind”, tão brega quanto linda, demonstrando a maestria de Chris White como compositor – enquanto a maioria lembra apenas de Rod Argent. Este, por sinal, ataca logo em seguida com a também lindíssima “The Way I Feel Inside”, uma faixa basicamente a cappella, com leve acompanhamento de órgão, mas cuja profundidade melódica nos leva a imaginar – em alguns casos, a ouvir! – um arranjo no estilo do que a banda fez em sua obra maior, o clássico Odessey and Oracle. O restante do disco apresenta covers que variam do bom ao ótimo e composições autorais, que pra mim são os verdadeiros destaques aqui.
Bruno: Melodias, melodias e mais melodias. Nenhuma banda se equiparava ao The Zombies nesse quesito. E o que falar do timbre limpo e suave de Colin Blunstone? Esse disco já tem uma certa dose de psicodelia, bem antes de o LSD tomar conta da música, principalmente pelas atmosferas criadas no teclado por Rod Argent. Na época, pouca gente entendeu, e Begin Here só foi se tornar um clássico anos depois.
Davi: Não ouvi.
Diogo: Este disco foi uma das grandes surpresas de 1965 pra mim. Como se não bastasse conter mais canções autorais do que covers, elas normalmente sobrepujam as versões e mostram personalidade muito acima da média. Além disso, a boa produção permite que todos os instrumentos estejam bem audíveis e destaca as ótimas intervenções de Rod Argent nos teclados. A vocação para criar e interpretar ótimas baladas foi outro fator que chamou muito a atenção, e não poderia deixar de ser, pois elas são destaque total, vide “I Can’t Make Up My Mind”, “She’s Not There” e “I Remember When I Loved Her”, além da surpreendente “The Way I Feel Inside”, trazendo apenas voz e teclados.
Luiz: A sensação ao ouvir Begin Here é de viajar pelo espaço-tempo. A sonoridade como um todo, das melodias ao vocal cadenciado, passando por uma psicodelia (?) que transporta qualquer um que ouve de volta a 1965. Quer dizer, eu acho. Não faço ideia de como seria em 1965, mas esse disco me passa uma boa sensação de como seriaa. E isso é delicioso.
Mairon: A estreia do The Zombies entre os dez melhores para mim é surpreendente. Gosto das versões para “Summertime” e “Road Runner”, e claro que “She’s Not There” é fantástica, mas em 1965 houve material muito melhor do que esse disco. A própria “She’s Not There” ficou muito melhor com o Vanilla Fudge dois anos depois. Rod Argent é o principal destaque, sem dúvidas.
Ronaldo: Não gosto muito desse trabalho. Me soa como um pop ordinário da época, com alguns inegáveis itens de requinte, mas nada que me fizesse colocá-lo no lugar do Them ou dos Pretty Things.
The Beach Boys – The Beach Boys Today! (29 pontos)
Adriano: Não vou discutir a posição que esse disco veio a ocupar no Top 10 final, mas convido o leitor a conhecê-lo bem, e ele falará por si. Um disco já de certo modo conceitual, pois apresenta uma clara divisão entre seu lado A e seu lado B, o primeiro dedicado a canções mais animadas e o segundo àquelas mais emotivas. Em todos os momentos de Today!, o trabalho é magistral, com uma riqueza que prenuncia o clássico Pet Sounds. O ensolarado lado A é suficiente para que esse disco ganhe o ouvinte, mas é no lado B, a “noite” do disco, em que caímos de joelhos e entoamos nossa adoração a Brian Wilson e companhia. Como não se render diante da dupla “She Knows Me Too Well” e “In the Back of My Mind”, dois dos maiores clássicos dos Beach Boys e do rock em geral? O mais impressionante é que a banda ainda lançou outro excelente disco em 1965, Summer Days (and Summer Nights!!), o qual conta com pelo menos mais dois clássicos, a saber, “Let Him Run Wild” e “You’re So Good to Me”. Conheçam!!
Bruno: Talvez o melhor álbum dessa primeira fase, mas ainda assim muito aquém do que a banda se tornaria após Pet Sounds.
Davi: Esse foi o primeiro de uma série de três álbuns lançados pelo grupo em 1965. A primeira metade é marcada por canções mais rock, enquanto a segunda metade é marcada por baladas. O disco trouxe arranjos mais sofisticados do que os que vinham apresentando até então. “Do You Wanna Dance” e “Help Me (Rhonda)” estão entre os destaques.
Diogo: Se o objetivo dos Beach Boys era aperfeiçoar o pop ao máximo, em Today! foi dado um importantíssimo passo nesse sentido. Certamente melhor que seus antecessores, o álbum é mais parelho e proporciona uma experiência agradável de cabo a rabo; no entanto, ainda não o suficiente para me arrebatar como ocorreu com milhões de outras pessoas. Mesmo assim, destaco a interessante divisão entre os lados do disco, ressaltando o estilo mais rocker e uptempo no lado A e as baladas de caráter, diria, quase erudito, no lado B (meu favorito).
Luiz: Gosto tanto quanto do aclamado Pet Sounds. Pode não ser tido como um divisor de águas na discografia do grupo como o outro, mas, ainda assim, tem excelentes canções e igualmente marcantes, como “Do You Wanna Dance?”, “Good to My Baby” e “Help Me, Rhonda”.
Mairon: Em 1965, os Beach Boys, assim como os Beatles, começou sua mudança sonora, e lançou três álbuns magníficos. Qualquer um deles é merecedor de estar entre os melhores de 1965. O meu escolhido para entrar nos dez mais seria Party!, masToday! realmente simboliza bem a mudança sonora que Brian Wilson estava preparando para os Garotos da Praia.
Ronaldo: A referência pop adolescente mor da América em mais um bom trabalho, também já com alguns temperinhos a mais do que aquele surrado surf-rock da primeira metade dos anos 60.
The Byrds – Mr. Tambourine Man (29 pontos)
Adriano: É ótimo ver os Byrds representados nesta lista, o que espero ver acontecer também nos anos posteriores. Prefiro este disco a Turn! Turn! Turn!, embora a faixa-título deste seja um clássico muito marcante pra mim. Mr. Tambourine Manapresenta as clássicas versões dos Byrds para canções de Bob Dylan, como a linda faixa-título e “All I Really Want to Do”, mas sua riqueza não se esgota aí. Ótimas versões para músicas de outros compositores, como é o caso de “Don’t Doubt Yourself, Babe” e, principalmente, “The Bells of Rhymney”, além de boas canções autorais, como “Here Without You” e “It’s No Use”, demonstram o potencial dos Byrds em levar adiante seu projeto de unir o rock ao folk (ou vice-versa).
Bruno: Folk rock não é muito minha praia. Já tentei o The Byrds várias vezes, mas não rolou. Passo.
Davi: Esse é o primeiro trabalho e um marco da cena norte-americana. Não é novidade para ninguém que o filme “A Hard Day’s Night”, dos Beatles, foi um marco para esses garotos. Foi depois de assistirem essa película que eles adquiriram as guitarras Rickenbacker (12 cordas) e Gretsch, além da bateria Ludwig. No entanto, suas grandes influencias musicais estão mais para o folk do que para o rock. A música “Mr. Tambourine Man” foi um grande hit. Particularmente prefiro a versão deles do que a original, de Bob Dylan.
Diogo: Que banda, meus amigos! O baterista Michael Clarke podia até não ser tudo aquilo, mas o tempo se encarregaria de mostrar que timaço tínhamos em Gene Clark, Chris Hillman, Jim/Roger McGuinn e David Crosby. A música excitante que brota deMr. Tambourine Man faz jus a essa seleção de craques e empolga como quase nada na época. Psicodelia, folk rock, country rock… O The Byrds influenciaria tudo isso e muito mais, ajudando como poucos grupos a moldar a música pop de maneiras que eles jamais imaginariam, fugindo inclusive do âmbito meramente musical e mudando tanto os negócios quanto o comportamento. Dizer que a força do disco reside apenas nos (excelentes) covers de Bob Dylan é sacanagem, vide composições de Gene Clark como “I’ll Feel a Whole Lot Better” e “I Knew I’d Want You”. O álbum seguinte, Turn! Turn! Turn!, até conta com duas canções das quais gosto mais ainda, a faixa-título e a emocionante “Set You Free This Time” (mostrando de vez que a estrela que mais brilhava nessa constelação era a de Gene Clark), mas, no geral, Mr. Tambourine Mané levemente melhor.
Luiz: Não ouvi.
Mairon: O que salva esse álbum são as composições de Bob Dylan. “Chimes of Freedom” e “Spanish Harlem Incident” são bons aperitivos do que o grupo viria a fazer posteriormente com o maravilhoso Fifth Dimension. Bom disco, mas desse ano, prefiro Turn! Turn! Turn!.
Ronaldo: O feliz cruzamento de Bob Dylan com os Beatles! As duas coisas mais importantes da primeira metade dos anos 60 sintetizadas no som de uma única banda. Outro que merecia estar no pódio deste ano.
The Beatles – Help! (25 pontos)
Adriano: Este sim um bom disco, digno de figurar no Top 10 final, embora ainda tenha alguns elementos típicos dos Beatles que me desagradam (identificáveis, por exemplo, em “The Night Before” e em “Another Girl”). Gostar de iê-iê-iê não é comigo, mas “You’re Gonna Lose that Girl” tem o mérito de conseguir esse feito. Apesar da ponte e do encerramento tosquíssimos, não há como negar a beleza peculiar de “Ticket to Ride”. Mas o que realmente me encanta no disco é a trinca “It’s Only Love” (breguíssima e lindíssima), “You Like Me Too Much” (o rockabilly de Harrison me convertendo de vez ao iê-iê-iê) e principalmente “Tell Me What You See”, melhor faixa do disco. Depois dessas três, prefiro me calar.
Bruno: Bom disco, seguindo a linha de A Hard Day’s Night, mas perde feio para o maravilhoso Rubber Soul.
Davi: Este álbum foi lançado simultaneamente com o filme, mas não deve ser confundido com a trilha sonora da película. Esta, foi lançada apenas nos Estados Unidos. Aqui, o grupo apresenta 14 faixas, sendo que a música-título e a balada “Yesterday” são atualmente tidas como clássicos do grupo. No entanto, há outros ótimos momentos, como “The Night Before”, “You’re Going to Lose That Girl”, “Ticket to Ride” e “Dizzy Miss Lizzy”. Mais um grande disco dos garotos de Liverpool.
Diogo: Em que pese o fato de haver, na mesma época, grupos que mereciam tanta atenção quanto os Beatles (quando não mais), o negócio é que o quarteto muito dificilmente decepcionava, sempre apresentando em seus álbuns uma coleção mais que satisfatória de canções, ora transitando em terreno sólido, que eles mesmos construíram (“Help!”, “The Night Before”, “Ticket to Ride”), ora se permitindo algumas ousadias que viriam a pavimentar o caminho a ser seguido após Rubber Soul (“You’ve Got to Hide Your Love Away”, “Yesterday”, “I’ve Just Seen a Face”). Help! é exatamente isso, sem tirar nem por.
Luiz: Mesmo comentário que fiz a respeito de Rubber Soul (apesar de adorar a faixa título).
Mairon: Um dos piores discos que já ouvi na vida, se é que podemos chamar isso de disco. Como diz um amigo meu: “chato bá garai!”.
Ronaldo: O auge dos Beatles enquanto banda de proposta declaradamente popular. Importantíssimo do ponto de vista da difusão do próprio rock, enquanto estilo musical e de vida, impulsionada também pelo estrondoso sucesso do filme homônimo em nível mundial.
Listas individuais:
Adriano KCarão
1. The Beach Boys – The Beach Boys Today!
2. The Kinks – The Kinks Kontroversy
3. The Rolling Stones – Out of Our Heads
4. The Turtles – It Ain’t Me, Babe
5. The Zombies – Begin Here
6. Nina Simone – Pastel Blues
7. The Yardbirds – For Your Love
8. The Byrds – Mr. Tambourine Man
9. The Moody Blues – The Magnificent Moodies
10. Them – The Angry Young Them
Bruno Marise
1. The Zombies - Begin Here
2. The Beatles - Rubber Soul
3. Bob Dylan – Highway 61 Revisited
4. The Who - My Generation
5. John Coltrane - A Love Supreme
6. Otis Redding - Blue
7. The Sonics - Here Are the Sonics
8. Grant Green - I Want to Hold Your Hand
9. The Beach Boys - The Beach Boys Today!
10. The Animals - Animal Tracks
Davi Pascale
1. The Beatles - Help!
2. The Who - My Generation
3. The Rolling Stones - Out of Our Heads
4. Roberto Carlos - Jovem Guarda
5. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
6. The Beatles - Rubber Soul
7. The Animals - Animal Tracks
8. The Yardbirds - For Your Love
9. The Beach Boys - The Beach Boys Today!
10. Gerry and the Pacemakers - Ferry Across the Mersey
Diogo Bizotto
1. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
2. Bob Dylan - Bringing It All Back Home
3. John Coltrane - A Love Supreme
4. The Yardbirds - For Your Love
5. The Byrds - Mr. Tambourine Man
6. The Who - My Generation
7. The Byrds - Turn! Turn! Turn!
8. The Moody Blues - The Magnificent Moodies
9. The Zombies - Begin Here
10. Thelonious Monk - Monk.
Luiz Carlos Freitas
1. John Coltrane - A Love Supreme
2. The Who - My Generation
3. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
4. The Hollies - Hollies
5. The Moody Blues - The Magnificent Moodies
6. The Animals - Animal Tracks
7. The Kinks - The Kink Kontroversy
8. The Rolling Stones - Out of Our Heads
9. The Zombies - Begin Here
10. The Yardbirds - For Your Love
Mairon Machado
1. The Yardbirds - For Your Love
2. Andrés Segovia - Plays Bach
3. Elis Regina e Zimbo Trio - O Fino do Fino
4. O Trio 3-D - O Trio 3-D Convida
5. Wes Montgomery - Movin’ Wes
6. The Rolling Stones - The Rolling Stones No. 2
7. The Supremes - We Remember Sam Cooke
8. Julian Bream - Baroque Guitar
9. The Paul Butterfield Blues Band - The Paul Butterfield Blues Band
10. Miles Davis - E.S.P.
Ronaldo Rodrigues
1. Bob Dylan - Highway 61 Revisted
2. The Beatles - Rubber Soul
3. The Byrds - Mr. Tambourine Man
4. The Rolling Stones - Out of Our Heads
5. The Who - My Generation
6. The Paul Butterfield Blues Band - The Paul Butterfield Blues Band
7. Them - The Angry Young Them
8. The Pretty Things - The Pretty Things
9. Bert Jansch - Bert Jansch
10. The Graham Bond Organization - The Sound of ’65