quinta-feira, 30 de maio de 2013

Facção Caipira - Facção Caipira [2012]



O grupo Facção Caipira surgiu em em 2009, na querida Nikity (Niterói) no Rio de Janeiro, formado por uma gurizada afim de se divertir tocando o que viesse na telha. a intenção de tocar o que gosta e cantar o que quiser. O quarteto formado por Jan Santoro (vocais, resonator), Daniel Leon (gaita), Vinicius Câmara (baixo) e Renan Carriço (bateria) ganhou destaque ao participar dos maiores festivais de Niterói, tendo arrebatado os prêmios de melhor intérprete, melhor instrumentista, melhor música e melhor banda durante o Festival Som na Universidade Federal Fluminense, no ano passado.

O auto-intitulado EP foi lançado no fim do último ano em um show lotado no histórico Teatro Municipal de Niterói, e apresenta para nós uma promissora banda do rock nacional.
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Facção Caipira é uma boa apresentação de um blues moderno totalmente inspirado nas raízes do southern rock do final dos anos 60 e início dos anos 70. Temos nele blues agitados ("JJF", "Insight"), balada bluesy com letra áspera ("Cholocate Amargo") e a animada "Etiqueta", saída de algum boteco texano, destacando a bela levada do baixo, além de duas canções gravadas ao vivo no Theatro Municipal de Niterói, a viajante "Blues Brasileiro Foragido Americano", em uma mistura de ritmo nordestino feito com a gaita e distorções na guitarra, além do slide comendo solto, e a veloz "Maluco Doido".

Destaques para o ritmo dançante de "Blues Pra Lá de Rock 'n' Roll", destacando a gaita de Leon, e, sem sombra de dúvidas para o bluesão arrastado "Hoje", com uma maravilhosa introdução feita por Leon

Um som muito bom de se ouvir, que, sustentados pelas viajantes passagens de harmônioca, criam um clima diferente do que estamos habituados a encontrar nas bandas atuais. Tomara que a banda lance em breve um full lenght, conseguindo um destaque maior do que o já tem atualmente, e claro, merecendo a audição de vocês leitores.

Vale a pena conferir este EP, ainda mais que o mesmo está disponível para download nesse site.

Parabéns e sucesso ao quarteto.

Track list


1. JJF
2. Chocolate Amargo
3. Hoje
4. Insight
5. Etiqueta
6. Blues Pra Lá de Rock 'n' Roll
7. Blues Brasileiro Foragido Americano
8. Maluco Doido

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Review Exclusivo: Yes (Porto Alegre, 26 de maio de 2013)





A noite de 26 de maio de 2013 ficará marcada para sempre no coração dos quase três mil presentes no Auditório Araújo Vianna em Porto Alegre. Nada mais nada menos que o grupo Yes, um dos principais nomes da história do rock progressivo e da música no geral, apresentou três de seus principais álbuns na íntegra, enlouquecendo e deixando muitos de boca-aberta com quase duas horas e meia de apresentação.


Com uma formação que é bastante discutível, já que o principal vocalista do grupo, Jon Anderson, foi substituído pelo desconhecido Benoît David, e mais recentemente, pelo jovem (e também desconhecido) Jon Davison, os britânicos desembarcaram na capital gaúcha para dar sequência na turnê 2013 World Tour, apresentando na íntegra os álbuns The Yes Album (1970), Close to the Edge (1972) e Going for the One (1977). Apesar de uma certa dúvida perante como seria a performance de Davison e também do tecladista Geoff Downes (que acompanhou o grupo em 1980, na turnê do menosprezado álbum Drama, e que voltou para o Yes em 2010), a certeza de que o esapetáculo por parte de Steve Howe (guitarra, lap steel, violões, mandolin, vocais), Chris Squire (baixo, vocais, harmônica) e Alan White (bateria), membros de formações clássicas do grupo deveria ser no mínimo excepcional. O que poucos esperavam é que o show em si fosse tão surpreendente.




Apocalypse, com Hique Gomez

Acredito que muitos como eu, ficaram bastante decepcionados com o último álbum ao vivo do grupo, In the Present - Live from Lyon (lançado em 2011). Apesar da boa recepção para Fly from Here, o último álbum de estúdio, lançado também em 2011, ao vivo o grupo pareceu abatido, com as canções mais lentas do que o normal, e alguns erros que jamais seriam cometidos no passado da banda. David saiu por problemas de saúde, e o grupo apresentou Davison, um baixista do desconhecido grupo Sky Cries Mary, com uma fisionomia que lembra bastante Roger Hodgson (Supertramp), que por acaso, também começou como baixista. O que viria dele era uma incógnita, que foi respondido com o clamor de aplausos encantados por um carisma incomum.

Antes do Yes, o palco do Araújo Vianna recebeu o grupo gáucho Apocalypse. Com trinta anos de carreira, era visível a emoção da banda, e para acalmarem seus ânimos, começaram a introdução do show com uma revisão para "Roundabout" (homenageando o head liner) e "Carmina Burana". O vocalista e flautista Gustavo Demarchi surgiu no meio do público, cantando em um estilo que lembra bastante Andre Matos, e assim, juntou-se aos demais integrantes para fazer uma retrospectiva na carreira desse importante grupo do progressivo brasileiro, e que infelizmente, é mais reconhecido fora de nosso país.

Durante uma hora de apresentação, uma mistura de Genesis, Yes e Emerson, Lake & Palmer surgiu nos alto falantes, apimentada com uma dose de modernismo de grupos mais recentes, como até mesmo o próprio Dream Theater. Houve também participação de Hique Gomez nos violinos e vocais na canção "Last Paradise", e o encerramento foi marcado por uma importante frase dita por Gustavo: "Apesar de toda a descrença, é possível SIM fazer progressivo no Brasil!". O público, apesar de pequeno, recebeu muito bem seus conterrâneos, que deixaram o palco com um gostinho de quero mais. Cabe aqui os parabéns para o marketing do grupo, que além de vender CDs e camisetas com o nome da banda em um preço muito acessível, também distribuiu gratuitamente um CD com canções do Box Set lançado pelo grupo para comemorar os 25 anos de carreira.

Encerrada a apresentação do Apocalypse, o Araújo começou a receber os fãs do Yes, que encheram o local em poucos minutos, enquanto o palco era arrumado para a sequência do espetáculo.


 Yes: Steve Howe, Geoff Downes, Jon Davison, Alan White e Chris Squire

Quando os acordes de encerramento da suíte "The Firebird" (original de Igor Stravinsky) começaram a surgir nas caixas de som, e imagens de diferentes fases do grupo surgisse no telão, o público começou a ovacionar. Era a deixa para que o quinteto adentrasse o recinto, fazendo-o com a imponência de "Close to the Edge". Ouvir essa incrível suíte ao vivo é uma aula de arte. Apesar de Howe ter cortado seu solo inicial em alguns segundos, tudo soou quase que perfeito em comparação com a versão original. A única exceção foi para White, que desde os anos 80, já não possui o mesmo vigor por detrás do bumbo, e tentar compará-lo com Bill Bruford (baterista que esteve nos cinco primeiro discos do Yes) é totalmente desqualificado e incabível.


Enquanto Howe gastava seus dedos em um solo maravilhoso, o telão apresentava a capa de Close to the Edge, o primeiro álbum a ser apresentado na íntegra, e além disso, também apresentava com letras garrafais o nome da canção que estava sendo apresentada, e também o nome de cada uma das partes da mesma. Jamais eu presenciei algo assim, Geralmente, o vocalista ou algum outro membro da banda diz: "A próxima música chama-se ...", mas o telão apresentando foi muito melhor, pois gravava nos nossos olhos aquilo que nossos ouvidos estavam interpretando.



Jon Davison

Encerrado o solo, a voz de Davison surgiu. Claro que as comparações com Anderson são inevitáveis, só que não vou titubear, o jovem mandou muito bem. Esforçando-se para ser fiel as notas originais de Anderson, Davison conseguiu conquistar a plateia com uma voz tão cristalina quanto a do venerado vocalista original, e emocionou principalmente durante "I Get Up, I Get Down", a qual, apesar do (raro) erro na entrada da letra, foi ovacionada. Downes não conseguiu reproduzir as linhas de Wakeman durante seu solo, mas também surpreendeu positivamente. Para quem acostumou-se a ouvi-lo com o Asia e o Buggles, ver ele pulando de um teclado para outro e fazendo solos muito velozes (apesar de não serem os mesmos) amenizou bastante a ausência do mago dos teclados.

O público aplaudia insanamente para cada mudança da suíte, e após seus vinte minutos, o Araújo Vianna inteiro (até mesmo os seguranças, que frequentemente viravam-se de frente para o palco para tentar entender o que estava acontecendo, e claro, voltavam seus rostos para a plateia com a boca aberta) apladiu em pé, com um sentimento de incredulidade perante o que tinha se passado, e então, Howe executou as primeiras notas de "And You And I", outra genial canção de Close to the Edge, e o álbum de 1972 foi concluído com "Siberian Khatru", tendo um show a parte por Howe, fazendo mais um grandioso solo.


Steve Howe (Geoff Downes ao fundo)

Davison fez uma breve saudação em português (muito bom por sinal), e passou a voz para Howe, que contou a história do próximo álbum a ser apresentado. Sempre com sua carranca, Howe contou que "O próximo álbum havia sido gravado na metada dos anos 70, na cidade de Montreux, e ele era baseado em algumas linhas de rock'n'roll, como essa daqui" e assim, soltou o riff "Going for the One" em sua lap steel, dando espaço para a apresentação do álbum de mesmo nome. Aqui, podemos perceber que a faixa-título ficou um pouco mais lenta que a original, o que atrapalhou um pouco principalmente na complicada sequência de palavras que encerra a mesma, mas nada de anormal.

Os fãs ficaram em silêncio para deixar Howe debulhar seu violão na linda "Turn of the Century", com Davison fazendo uma interpretação magistral, e "Parallels" agitou a casa novamente. Downes fez as deixas de Wakeman durante "Wonderous Stories", e virou-se em um polvo para recriar as complicadíssimas passagens de "Awaken".


Yes ao vivo

Essa Maravilha Prog foi o grande auge do show. Surgindo com o piano de Downes, os primeiros minutos foram uma viagem no tempo, guiada pelos vocais de Davison e pelos acordes viajantes de Howe e Downes. Ao explodir na sua parte central, Squire apareceu com o famoso baixo de três braços com o qual ele executa as diferentes passagens da suíte, e foi como que uma agulha picasse meu corpo e injetasse uma dose enorme de adrenalina. Ver esse momento, a dificuldade e concentração dos músicos para passarem nota por nota da versão original aos fãs, a trabalheira de Downes, Howe e Squire nos intrincados temas que servem como ponte entre uma estrofe e outra da letra, e claro, o majestoso trecho central, com Davison resgatando a harpa original de Anderson, e Downes levando-nos para uma viagem enigmática, entre nuvens, cerração e neblina saídos de alguma obra escrita por Marion Bradley, fez com que todos permanecessem calados, sem piscar, hipnotizados pela beleza e genialidade dos músicos. Uma obra prima, sem igual, e que eu fui abençoado por ter assistido sua exímia interpretação.

Ali, o mundo podia acabar, pois o ingresso havia sido pago com sobras. Mas ainda havia mais.


Howe, Downes e Squire


Agora, o mestre de cerimonias foi Squire. Dizendo "Vamos voltar aos psicodélicos anos 60, mais precisamente na Londres de 1969, quando entramos nos estúdios da Advison e saímos de lá com um álbum que começa mais ou menos assim" e então, o grupo soltou o riff de "Yours is No Disgrace", e fomos levados pela canção, com pesar apenas para o curto solo de Howe (obedecendo a versão original, e não estendendo-se como nas turnês de apresentação do grupo durante os anos 70 e 90).


Howe mostrou os sinais da idade ao sentar em uma cadeira, mas foi só aí que a idade apareceu, por que quando ele começou a tocar "The Clap", a casa caiu. Com uma habilidade única, ele agitou a plateia, e irritou-se com a vibração de alguns passadinhos, que assoviavam e gritavam de forma ridícula, e totalmente inválida. Lembrei-me de 1998, quando Howe, após "The Clap". passou um esporro geral na produção, e em um determinado momento, quando agrediu violentamente as cordas do violão, como um sinal de "Parem com esse barulho", visualizei novamente a "mijadeira", mas o cidadão em questão calou a boca e Howe encerrou tranquilo seu magistral solo, sendo ovacionado mais uma vez.


Yes interpretando "Going for the One"

"Starship Trooper" levou-nos pelo espaço junto da aeronave que dá nome a canção (e cuja imagem na capa do álbum Fragile, de 1971, permaneceu no telão durante um bom tempo), e Davison convidou o público para acompanhar com palmas "I've Seen All Good People". "A Venture" ficou um pouco fora do tempo original (culpa principalmente de White), e o show encerrou-se com "Perpetual Change"), uma paulada inexplicável, talvez a mais pesada canção que o Yes gravou no início de sua carreira.

O grupo agradeceu os aplausos e sem firular muito, mandou "Roundabout". Os fãs deixaram suas confortáveis cadeiras e foram para a frente do palco, assistir em pé e cantando junto o maior clássico da carreira dos britânicos. Davison foi muito simpático, acenando para todos que acenavam para ele, fazendo o sinal de V com os dedos, enquanto o som rolava sem a mesma velocidade da versão original, principalmente no trecho central da canção, mas ainda sim, cativando como há 40 anos atrás, quando foi lançada como faixa de abertura em Fragile. Obviamente, se o grupo quisesse continuar com "Cans and Brahms", "We Have Heaven", "South Side of the Sky", "Five Per Cent for Nothing", "Long Distance Runaround", "The Fish", "Mood for a Day" e "Heart of the Sunrise" (os fãs entenderão), e depois passear por Tales from Topographic Oceans e Relayer, nenhum de nós iria arredar o pé.




Davison, acenando para a câmera do baudomairon.blogspot.com

O quinteto despediu-se dos fãs, acenando e agradecendo. Sabiam que tinham feito um bom show, que na Porto Alegre, em termos de rock progressivo como música, não contando com cenários ou artefatos extra-palco, certamente foi o melhor show que eu já vi (bem melhor que o de 1998, feito pelo próprio Yes, ou o de Rick Wakeman ou o de Roger Waters no ano passado). Davison ainda ficou mais um pouco no palco, agradecendo em bom português, desejando saúde, paz, amor, prosperidade e harmonia, e confirmando uma imagem carismática, de um fã do grupo vivendo seu sonho, e entrando de cabeça nele (inclusive usando roupas adequadas para o movimento).

Não podemos comparar com o Yes da década de 70, fervendo em ideias e construindo dezenas de clássicos do rock progressivo, ou tão pouco ao início da década passada, quando ressurgiu das cinzas com uma formação fantástica, e acompanhado por uma orquestra, reviveu os clássicos da década de 70 com precisão cirúrgica.

Encerramento do show


O fato é que hoje e daqui há 50, 70, 90 anos, quando se falar de rock progressivo, pelo menos seis discos do Yes estarão entre os principais nas citações: The Yes Album, Fragile, Close to the Edge, Tales from Topographic Oceans, Relayer e Going for the One, e os meros mortais que estiveram no remodelado Araujo Vianna na noite do último dia 26 de maio puderam conferir na íntegra três deles, nota por nota, executados por geniais seres imortais.

Set list


1. Opening: Excerpts from "Firebird Suite"
2. Close to the Edge
3. And You And I
4. Siberian Khatru
5. Going for the One
6. Turn of the Century
7. Parallels
8. Wonderous Stories
9. Awaken
10. Yours is No Disgrace
11. The Clap
12. Starship Trooper
13. I've Seen All Good People
14. A Venture
15. Perpetual Change

Bis

16. Roundabout

sábado, 25 de maio de 2013

30 anos de Holy Diver




O ano é de 1982. O britânicos do Black Sabbath vivem uma fase áurea. Com o lançamento de Mob Rules, o grupo retorna para as bocas dos fãs e da mídia mundial, já que este é o segundo álbum de uma nova era no grupo, agora com os vocais do baixinho Ronnie James Dio. Tony Iommi (guitarras) e Geezer Butler (baixo) haviam perdido o baterista Bill Ward para os excessos da estrada, e o jovem Vinnie Appice (irmão do virtuose Carmine Appice) era quem dava o gás para o grupo.

Uma extensa turnê ao lado do Blue Öyster Cult, com shows completamente lotados, os dois álbuns dessa nova fase (Heaven and Hell e Mob Rules) vendendo como nunca antes na história do grupo, era a hora de lançar o primeiro disco ao vivo, para consagrar de vez aquilo que todos já comentavam: O Black Sabbath de Ronnie James Dio era a maior banda de rock do início dos anos 80.

Live Evil foi lançado em dezembro daquele ano, e foi marcado por inúmeras polêmicas. A mais grave: Dio e Appice teriam mudado a mixagem do som, buscando destacar suas partes e deixando as partes de Iommi e Butler escondidos. Indignados, Iommi e Butler mudaram a mixagem novamente, e essa briga durou alguns dias, até o álbum chegar às lojas com uma mixagem que para a maioria dos fãs, não possui nenhum destaque maior para algum instrumento.

O fato é que havia um desgaste na relação do quarteto. Os horários combinados para o trabalho não eram cumpridos, e enquanto Dio e Appice trabalhavam das 14 as 16 horas, Iommi e Butler trabalhavam no início da noite. Um dos proprietários do local de mixagem acabou fazendo a "intriga", e originando toda a confusão, que acabou tendo como solução a saída prematura de Dio, antes mesmo do lançamento de Live Evil.
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Ronnie James Dio, Vinnie Appice, Jimmy Bain e Vivian Campbell


O vocalista indignou-se com o tratamento e as acusações recebidas, saindo sem rumo, mas não tardou para que a ideia de seguir em carreira solo brotasse em sua mente, e o primeiro passo foi unir forças com Appice, o outro membro do Black Sabbath que também estava envolvido no "Caso Mixagem". Em outubro de 1982, o mundo era apresentado ao Dio, apresentando ao mundo o jovem e talentoso guitarrista Vivian Campbell, o qual havia gravado apenas dois singles com o Sweet Savatage. Completava o quarteto o baixista e tecladista Jimmy Bain.

O grupo entrou rapidamente nos estúdios, e de lá, saiu com o seu primeiro álbum, lançado exatamente há 30 anos, no dia 25 de maio de 1983. Holy Diver, além de marcar a estreia vinílica de Vivian Campbell, é um importante marco para o hard rock. Nele, Ronnie James Dio fundiu o que havia aprendido no Rainbow com o que havia criado no Black Sabbath, ou seja, letras fantasiosas com peso, e graças ao super time que o acompanhou, entrou para a eternidade como um dos melhores discos da carreira do baixinho. Ao lado de Campbell, é a atração maior nas canções, já que enquanto o primeiro mostra-se com solos virtuosos e riffs fantásticos, Dio canta livre das amarras e da sombra dos guitarristas que o acompanharam anteriormente, fazendo uma performance impecável.

Holy_Diver_Single_CoverO álbum já surge nas caixas de som com a pancada "Stand Up and Shout", com um riff pegado, lembrando os bons tempos do Rainbow de Rising, e é impossível ficar parado com esse sonzão, e principalmente, não vibrar com os solos de Campbell. Na sequência, a imortal e sombria faixa-título, com o riff sabbáthico e o andamento arrastado que modifica totalmente o clima inicial do álbum. Os efeitos nos teclados no início da canção são daqueles momentos para gelar a alma. Cinco minutos e cinquenta e um segundos que registram o que significa o nome de Ronnie James Dio para o rock.

Voltando para os hards, "Gypsy" é um soco no queixo, com mais uma introdução pegada, um riff grudento e Dio gritando como nunca, além de o solo de Campbell ser uma bonita disputa com os solos de nomes como Jake E. Lee (para comparar com o guitarrista que acompanhava Ozzy Osbourne na época). O riff de "Caught in the Middle" soa moderno, assim como a canção em geral foge totalmente do que havíamos ouvido com os vocais de Dio até então. O lado A encerra-se com "Don't Talk to Strangers", cuja introdução lenta, é apenas uma enganação para os fãs, já que seu andamento é veloz e muito pegado, também distinto da obra de Ronnie James Dio até então, culpa principalmente do talento de Campbell, responsável por outro grande solo.

O Rainbow aparece novamente em "Straight to Your Heart", faixa que abre o Lado B tendo uma interessante introdução feita por Appice, e com muito peso durante seu desenvolvimento, além de Campbell criando um riff grudentíssimo, seguida pela incrível "Invisible", saída de algum álbum obscuro da NWOBHM, com uma das mais belas introduções da carreira de Campbell, fazendo um solo genial e mais uma vez, despejando peso para Ronnie James Dio entoar sua voz.

220px-RainbowintheDarkSingleA clássica "Rainbow in the Dark" aparece nos auto-falantes, trazendo os teclados de Jimmy Bain, e outro riff sensacional criado por Campbell, esbanjando virtuosismo em seu solo, e o álbum encerra-se com os lobos uivantes na introdução de "Shame on the Night", seguida pelo riff pesadíssimo, que poderia estar em qualquer um dos LPs de Dio ao lado Black Sabbath. As brincadeiras harmônicas de Campbell, e a rasgação de garganta de Dio (dificilmente você irá ouvir outra canção com Ronnie cantando tanto), unem-se ao andamento arrastado de Appice e Bain, e deixam "Shame on the Night" em um patamar elevado dentre as favoritas canções do Dio.
O single de "Holy Diver" (contendo "Evil Eyes" e "Don't Talk to Strangers no Lado B) ficou entre os 40 mais vendidos nos Estados Unidos, e teve posições modestas na Alemanha (52), Suécia (60) e Reino Unido (72). Seu vídeo-clipe apresentou o grupo com um visual diferente do que os seguidores de Ronnie Dio estavam acostumados a ver, com o vocalista fazendo o papel de um lutador medieval com poderes mágicos.
Já o single de "Rainbow in the Dark" (com versões ao vivo para "Stand Up and Shout" e "Straight Through the Heart") não fez tanto sucesso nas vendas, mas a canção tornou-se um hino para os fãs. A canção quase ficou de fora do álbum, pois Ronnie achou-a demasiadamente pop. Porém, os demais membros do Dio gostaram do resultado final, e assim, ela foi a última canção a entrar no álbum.
Outro fato importante relaciona à Holy Diver está na marcante presença do mascote do grupo, Murray. O demônio-monstro surge no céu, entre as montanhas, assassinando um sacristão, o que causou certa polêmica.
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Vinnie Appice, Ronnie James Dio, Vivian Campbell e Jimmy Bain

O principal é que há 30 anos, Holy Diver soltava as amarras de Ronnie James Dio para navegar pelos sete mares, e principalmente, trouxe ao mundo o fabuloso Vivian Campbell, que ainda gravou mais dois discos com Dio, The Last in Line (1984), outro álbum importantíssimo para o heavy metal nacional, e Sacred Heart (1985), um disco que mergulhou ainda mais nos temas fantasiosos elaborados por Ronnie Dio.


O grupo lançou ainda mais dois discos (Dream Evil, de 1987; Look Up the Wolves, de 1990) até o baixinho retornar para o Black Sabbath e lançar Dehumanizer, em 1992, cuja história apresentamos ano passado, quando o álbum completou vinte anos.


Track list


1. Stand Up and Shout
2. Holy Diver
3. Gypsy
4. Caught in the Middle
5. Don't Talk to Strangers
6. Straight Through the Heart
7. Invisible
8. Rainbow in the Dark
9. Shame on the Night

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Maravilhas do Mundo Prog: Emerson, Lake & Palmer - Pictures at an Exhibition [1971]


Seguindo nosso percurso pelas Maravilhas Prog criadas pelo trio britânico Emerson, Lake & Palmer, continuamos no ano de 1971. Após o lançamento de Tarkus, o grupo partiu para uma bem-sucedida turnê, vendo seu segundo álbum figurar entre os dez mais das paradas britânicas por mais de quatro meses.

A turnê era baseada basicamente nas suítes de Emerson, Lake & Palmer e Tarkus, mas também apresentava aquela que foi a primeira canção "composta" pelo grupo, e que na verdade, era uma adaptação para uma obra clássica seminal do russo Modest Mussorgsky: a incrível Pictures at an Exhibition.

Lembro que da primeira vez que ouvi falar de Keith Emerson (teclados, piano, sintetizador, moog, harpsichord), Greg Lake (baixo, guitarras, violão, voz) e Carl Palmer (bateria, percussão), a manchete do jornal Zero Hora de julhode 1992 dizia: Três que valem por uma Orquestra.

Naquela época, eu já gostava de rock progressivo, e também possuía simpatia pela música clássica, mas ficava imaginando como seria três músicos que fizessem toda a orquestração de uma canção. Imaginações infantis me levavam a pensar em homens com quatro, cinco braços, gastando todas as suas energias e mostrando todas as suas qualidades para tocar diversos instrumentos ao mesmo tempo. Porém, apesar das imaginações serem absurdas na realidade, o que esse trio fazia no palco era equivalente aos meus sonhos visionários e imaginativos, e constatei isso pouco tempo depois, quando ouvi a suíte "Pictures at an Exhibition", peça exclusiva que ocupa os dois lados do LP homônimo, de 1971.

Viktor Hartmann, o homenageado na versão original
da Maravilha Prog dessa semana
A versão do trio é uma adaptação fantástica (superada apenas, na minha modesta opinião, pela adaptação para um (!) violão feita pelo violonista japonês Kazuhito Yamashta em 1980, que você pode conferir aqui e aqui, em um show do japonês no Canadá, em 1984, e que foi esplendidamente interpretada pelo violonista ucraniano Marko Topchii) para a suíte original de dez movimentos, criada para o piano por Modest Mussorgsky no ano de 1874. Na suíte original, o pianista que se atreva a tocá-la coloca a prova todo o seu virtuosismo, e claro, fazendo as honras da casa de forma perfeita, arranca os glóbulos de quem o assiste, pois realmente, a peça é muito complicada.


A história da canção é uma homenagem de Mussorgsky para o arquiteto russo Viktor Hartmann. Ambos conheceram-se em 1870, e criaram uma amizade muito forte, que serviu como um elo para unir forças dentro da arte russa, promovendo os talentos daquele país para o resto do mundo. Porém, em 1873, Hartmann faleceu repentinamente, aos 39 anos, vítima de um aneurisma. Sua morte chocou toda a comunidade artística russa, principalmente Mussorgsky, que ficou inconsolável com a perda do amigo.

Como forma de prestar um último adeus para Viktor, o jornalista Vladimir Stasov resolveu fazer uma exposição com algumas das principais obras do artista. Assim, arrecadou mais de 400 peças criadas por Viktor, algumas doadas por Mussorgsky, que prontamente foi assistir a exposição realizada no Academy of Fine Arts de Saint Petersburg.
Modest Mussorgsky
Mussorgsky saiu tão emocionado da exposição, que acabou decidindo compor uma canção em homenagem a Hartmann. Em seis semanas, estava pronta "Pictures at an Exhibition", composta por dez movimentos que vão encaixando-se como engrenagens, formando uma máquina de Carnot (ou seja, trabalhando na mais pura perfeição).

O compositor russo criou um passeio imaginário pela exposição, circulando por algumas das principais obras de seu amigo. Inspirado pelas cores e tonalidades dos quadros da exposição, o passeio desenvolve-se através de caminhos ("Promenades") que levam de um quadro a outro, e para cada quadro, criou figuras sonoras que interpretam através de notas e acordes, as sensações e percepções quando o visitante coloca-se diante de cada quadro. Uma bela viagem, que por que não, é um dos embriões do que depois tornou-se o rock progressivo.

Pois foi uma banda de rock progressivo que fez de "Pictures at an Exhibition" seu carro-chefe para mostrar-se ao mundo. O ELP passou vários dias ensaiando e arranjando os movimentos originais, readaptando-os para uma sonoridade mais próxima ao do início dos anos 70, permitindo-se inclusive adicionar uma letra para a história. O projeto de interpretar "Pictures at an Exhibition" era um longo sonho de Emerson. Desde os tempos de The Nice, o tecladista enamorava por fazer uma apresentação solo ao piano com essa suíte. Porém, aproveitando-se da genialidade e da versatilidade de Lake e Palmer, foi nesse ponto que conseguiu construir uma versão sua, recheada com moogs, sintetizadores, órgão hammond entre outros apetrechos, e que entrou para a história do rock mundial.

Foi exatamente no segundo show do grupo que "Pictures at an Exhibition" foi apresentada pela primeira vez, o qual aconteceu durante o Isle of Wight Festival, em 1970. Apesar de ser uma versão enxuta, com apenas seis movimentos, foi um aperitivo e tanto (e também um grande holofote) para surpreender o mundo. Energética e muito virtuosa, "Pictures at an Exhibition" ocupou boa parte do show de pouco mais de uma hora apresentado pelo grupo, com Emerson e Palmer fazendo estripulias mil, e com o trio dando-se ao luxo de utilizar canhões para finalizar a suíte.


Keith Emerson (a esquerda);
Carl Palmer (acima, a direita) e Greg Lake (abaixo, a direita)
O comentário geral foi positivo, e "Pictures at an Exhibition" passou a fazer parte do set list do trio obrigatoriamente, e com a sequência de apresentações, a canção foi cada vez mais aplainada, até chegar em sua versão final, apresentada oficialmente em vinil no álbum Pictures at an Exhibition, de 1971.


Gravado ao vivo na data de 26 de março de 1971, no Newcastle City Hall (Newcastle, Inglaterra), o álbum traz única e exclusivamente toda a versão do ELP para a suíte de Mussorgsky, ocupando quase trinta e oito minutos do vinil. Essa versão possui onze movimentos, sendo oito deles adaptações dos movimentos da versão de Mussorgsky.

Seguindo fielmente a versão original, Emerson inicia "Promenade", tocando o órgão Harrison & Harrison instalado no topo do Newcastle City Hall, do qual ele desceu posteriormente para o palco através de uma plataforma móvel, enquanto Palmer executa um rufo, entrando em "The Gnome". Bateria e hammond fazem as malucas notas da canção, enquanto o baixo faz as intervenções. Os três instrumentos fazem a marcação central, retornando para as malucas notas, apenas com o hammond e a bateria, enquanto Lake faz as intervenções com o baixo, utilizando um wah-wah para criar efeitos interessantes.

O hammond então puxa os acordes que irão acompanhar o breve solo do sintetizador. Com um andamento cadenciado de baixo, bateria e hammond, o sintetizador surge timidamente, e este andamento toma conta das caixas de som, em um crescendo enigmático, para então, uma série de rufadas levarem as escalas menores de baixo, acompanhando mais uma passagem com o sintetizador em destaque. Chegamos em um viajante momento da canção, com Emerson criando os famosos "uiiiiiiiiiiiiiin" e outros barulhos eletrônicos através de seus sintetizadores e do Moog Modulado, ao mesmo tempo que  Palmer e Lake fazem o ligeiro ritmo ao fundo, o primeiro tocando os pratos enquanto o segundo insistindo na mesma nota. O órgão explode com longos acordes, enquanto o ritmo do baixo e da bateria aumenta o volume, com Palmer socando o bumbo, encerrando "The Gnome" com um rápido solo de hammond.

Voltamos então para "Promenade", tocada agora apenas pelo hammond, quase inaudível, deixando Lake ecoar sua voz (uma das mais lindas que o rock já ouviu) sozinho, interpretando a letra criada por ele. O órgão acompanha com leves notas, falando sobre . O moog valvulado ganha as atenções, fazendo o solo que nos leva para a linda "The Sage", através de uma longa nota do sintetizador.

Lake interpretando "The Sage"

"The Sage" é o momento solo de Lake, que acompanhado apenas pelo violão, faz sua voz estremecer as paredes do Newcastle Hall, seguindo um estilo folk muito belo. Após cantar duas estrofes, Lake demonstra seu lado virtuoso, fazendo uma bonita passagem com o violão clássico, mostrando que além de um grande vocalista e um bom baixista, ele também era um exímio músico com o violão. Para mim, este é o principal trecho da suíte recriada pelo ELP, e talvez o mais lindo na carreira do grupo. O trabalho de Lake é simplesmente incomum para os discos do grupo, e os minutos passam-se suavemente, trazendo novamente o vozeirão do violonista/vocalista, encerrando a última estrofe de "The Sage".


Depois desse lindo momento, Emerson e Palmer deliram com "The Old Castle", na qual o tecladista faz barbaridades e misérias com o clavinet, travando um duelo particular com Palmer, o qual agride o bumbo e as caixas. Depois dessa maluca sessão, Palmer puxa o ritmo marcado na caixa, com o baixo dançante de Lake fazendo a base para Emerson solar no moog.

Emerson, viajando em "The Old Castle"
A canção muda totalmente, virando um blues agitado chamado "Blues Variation", no qual Emerson diverte-se com o hammond, relembrando os velhos tempos de The Nice. A jam session continua, destacando a brilhante participação de Palmer, com uma marcação precisa mas sempre virtuosa, encerrando o lado A com barulhos diversos dos sintetizadores e batidas furiosas nos pratos.

Esses barulhos são a introdução de "Promenade", que abre o Lado B tocada imponente pelo hammond e tendo a marcação pegada de baixo e bateria, destacando novamente Palmer e suas rufadas, um trabalho genial!

A marcação do hammond e bateria repetem o tema central de "The Hut of Baba Yaga", com baixo e órgão repetindo as notas originais fielmente, e Palmer viajando com a bateria. O hammond faz o rápido solo central, e chegamos na viajante "The Curse of Baba Yaga", com Lake fazendo o solo da canção acompanhado por tímidas notas do órgão. O solo aqui é feito apenas com o baixo, o qual está carregado de distorção, e ainda recebe um tratamento de luxo do wah-wah. Depois, com o baixo "limpo", Lake puxa o ritmo, para Palmer soltar o braço em batidas e viradas nas caixas, pratos e tons, e o moog modulado fazer o solo principal, ora duelando com o baixo, ora viajando em um passeio próprio.

Repentinamente, a canção muda, retornando o tema central de "The Gnome", e com Lake cantando ferozmente, em gritos dilascerantes, ao mesmo tempo que Palmer comanda a loucura percussiva ao fundo, com diversas viradas e rufadas velozes. Emerson sola no clavinet, e a pancadaria come ao fundo, encerrando a letra com o mesmo clavinete sendo dominado por Emerson durante "The Hut of Baba Yaga", para uma magnífica sequência de notas de hammond, baixo e bateria nos levarem para "The Great Gates of Kiev".


Carl Palmer mandando ver em suas viradas

A velocidade absurda das viradas de Palmer são o principal destaque. Lake toca o baixo também muito veloz, com notas graves, e um longo acorde de hammond nos brinda com a doce voz de Lake, cantando as estrofes de "The Great Gates of Kiev" em um ritmo lento, diferente da loucura inicial, com o hammond repetindo a melodia original da versão de Mussorgsky.

O hammond fica sozinho, executando alguns acordes, retornando a melodia original e dando sequência para a letra. Mais uma vez o hammond fica sozinho, com pequenas mudanças de acordes. Timidamente, esses acordes passam a recriar o tema de "Promenade", com uma marcação de baixo e prato, explodindo em uma veloz rufada de Palmer, com o moog e o clavinet viajando alto, em barulhos absurdos, ao mesmo tempo que a plateia enlouquecida vibra com as estripulias de Emerson, retornando então ao hammond e a letra de "The Great Gates of Kiev", que é encerrada com as viradas de Palmer acompanhando as marcações de baixo e hammond. Lake grita absurdamente, concluindo "Pictures at an Exhibition" com a famosa frase "Death is life", seguido belos barulhos dos sintetizadores de Emerson e mais uma impressionante rufada de Palmer.

As partes novas são "The Sage", "Blues Variation" e "The Curse of Baba Yaga". No mesmo show no Newcastle Hall, o trio apresentou outra recriação para uma peça clássica, dessa feita "Nutrocker" (de Tchaikovsky, em uma versão feita por Tim Fowley), que também está presente no vinil Pictures at an Exhibition. A versão remasterizada em CD (lançada em 2001) traz como bônus "Pictures at an Exhibition" gravada em estúdio, apenas com o ELP interpretando os movimentos da versão original (sem "The Sage", "Blues Variation" e "The Curse of Baba Yaga").

Existe disponível em VHS uma apresentação do grupo Lyceum Theatre, em dezembro de 1970, a qual consta ser a primeira vez que "Pictures at an Exhibition" foi apresentada na íntegra, já com seus onze movimentos. Infelizmente, a versão em DVD cortou boa parte da apresentação, deixando apenas a suíte como única componente da mídia digital (se você encontrar a versão em VHS, não exite em vê-la).
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Capa dupla original de Pictures at an Exhibition, com os quadros cobertos (acima);

a capa interna, já com os quadros descobertos (abaixo)



A capa original de Pictures at an Exhibition foi construída no formato gatefold, apresentando seis quadros encobertos por um manto branco, cada quadro alusivo a um dos movimentos de "Pictures at an Exhibition". Quando o fã abre a capa, em sua parte interna encontra os quadros já descobertos, e consequentemente, as pinturas relativas para cada movimento ("The Gnome", "The Hut of Baba Yaga", The Old Castle", "The Sage", "The Curse of Baba Yaga" e "The Great Gates of Kiev"). Somente "Promenade" segue coberta, justamente por que ela não é alusiva a um quadro, e sim, ao caminho que guia para cada quadro.

O álbum  manteve o ELP como um dos mais vendidos na Inglaterra, alcançando a terceira posição em vendas naquele país (décimo nos Estados Unidos). Os nomes de Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer estavam gravados para sempre na história da música, mas eles estavam apenas começando a sua caminhada para tornarem-se os gigantes que vieram a ser dois anos depois. Ainda havia mais um passo, como veremos daqui a quinze dias, com a Maravilhosa "The Endless Enigma".

sábado, 18 de maio de 2013

Melhores de Todos os Tempos: 1965



Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bruno Marise, Davi Pascale, Luiz Carlos Freitas, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues
Após seus álbuns anteriores terem sido citados em nossas listas congregando os melhores discos lançados em 1963 e 1964, Bob Dylan galgou a posição mais alta em 1965 com seu aclamadíssimo clássico Highway 61 Revisited, com folgas em relação ao segundo colocado, confirmando seu status lendário e sua gigantesca influência. Lembramos, como sempre, que o critério para elaborar a listagem final, baseada nas listas individuais de cada colaborador, segue a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Dito isso, fica o convite para que o leitor não deixe de registrar suas preferências a respeito do ano em questão, além de tecer as críticas que achar pertinente.

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Bob Dylan – Highway 61 Revisted (90 pontos)
Adriano: O disco não é ruim, de forma alguma; é bom. “Like a Rolling Stone” é um clássico merecidíssimo e “Tombstone Blues” é uma das melhores coisas da carreira do Dylan, possuindo um dos meus trabalhos de guitarra favoritos de todos os tempos (cortesia de Mike Bloomfield). As demais músicas, no entanto, embora sejam boas, não me empolgam tanto. Acho que, desse ano, ainda prefiro Bringing It All Back Home.
Bruno: Meu preferido do Dylan. Não só pela adição muito bem vinda da guitarra, mas pelas composições. Um álbum que tem “Like a Rolling Stone”, “Tombstone Blues”, “Highway 61 Revisited” e “Desolation Row” não precisa de mais nada, não é?
Davi: Na época, Dylan quis inovar e resolveu colocar um conjunto de rock por trás de suas composições folk. Os fãs mais puristas torceram o nariz, é claro. Mas o tempo se incumbiu de mostrar que o rapaz estava certo, com uma mentalidade muito à frente de seu tempo. É aqui que está imortalizado o clássico “Like a Rolling Stone” (que décadas depois foi regravada pelos Rolling Stones). Este é o disco do qual mais gosto em sua discografia. Audição obrigatória!
Diogo: Poderia ser pelo clássico “Like a Rolling Stone”, cujo status como uma das músicas mais importantes de todos os tempos é merecidíssimo. Poderia ser pela performance louca e irreverente de Dylan e do guitarrista Mike Bloomfield – cheia de feeling – em “Tombstone Blues”. Poderia ainda ser pela lúgubre, dramática e estupenda “Ballad of a Thin Man”, ou até mesmo pela épica “Desolation Row”, praticamente sem precedentes em sua carreira. Para nossa felicidade, é por tudo isso e por mais cinco fantásticos motivos que Highway 61 Revisited merece, com sobras, ocupar o primeiro posto nesta lista. No também excelente Bringing It All Back Home (criminosamente ignorado aqui), Dylan já havia cometido a heresia de oferecer algo diferente daquilo que seus admiradores esperavam, eletrificando parte de seu material, mas foi através deste disco que o músico cravou definitivamente seu nome entre o panteão dos verdadeiros gênios da música.
Luiz: Assim como todo o folk, a sonoridade de Bob Dylan nunca me agradou muito. Todavia, o artista possui em sua discografia aquelas obras que estão além de qualquer parâmetro, funcionando sozinhas, como que uma referência a si próprio. Highway 61 Revisited é um desses discos que estão acima de criador, estilo ou qualquer outra forma de definição que o limite.
Mairon: Só por ter “Like a Rolling Stone” já podemos colocar Highway 61 Revisitedcomo um dos melhores de 1965 com toda a justiça. Não entrou na minha lista porque encontrei preciosidades que considero bem melhores, mas entendo o porquê de ele ser escolhido o melhor de 1965.
Ronaldo: Ao amplificar seu som com as guitarras elétricas, Bob Dylan também amplificou sua mensagem ainda mais largamente a todo o mundo, em um trabalho estupendo tanto no aspecto musical quanto no lírico. Díficil acrescentar alguma palavra a um trabalho tão importante e tão discutido quanto este. Bob Dylan influenciou os Beatles que influenciaram Bob Dylan e esses dois influenciaram mais de meio mundo.

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The Who – My Generation (66 pontos)
Adriano: Bom disco, que por pouco não entrou no meu Top 10 particular. Já inicia detonando com “Out in the Streets” e, ainda no lado A, conta com a clássica faixa-título, uma pancada, e com minha preferida no disco, “The Good’s Gone”, na qual Daltrey canta com timbre grave, longe do seu comum. Quanto às demais faixas, todas agradam, especialmente as originais, das quais não consigo destacar nenhuma.
Bruno: Quando esse disco saiu, nada era tão barulhento e anárquico como o The Who. Quem estava fazendo isso em 1965? É o punk dando as caras dez anos antes de seu nascimento oficial. Além disso, a banda podia se vangloriar de ter uma formação impecável. Um baterista hiperativo, um baixista virtuoso, um vocalista visceral e um guitarrista que compunha brilhantemente.
Davi: Álbum de estréia do grupo britânico. Não o considero seu melhor trabalho, mas sem duvida é um álbum essencial. Townshend já dava as cartas como principal compositor e Keith Moon já demonstrava ser um baterista fantástico. No entanto, se você está acostumado com o The Who das óperas rock, vá com calma. Aqui a sonoridade é mais crua, direta e com influencia do blues. Porém, não menos visceral. Os destaques ficam por conta dos clássicos “My Generation” e “The Kids Are Alright”.
Diogo: Apesar de ainda estar a uma certa distância do The Who mais ambicioso que afloraria pouco tempo depois, mostrando de vez quão diferenciado o grupo liderado por Pete Townshend – um dos grandes arquitetos do rock – era, My Generation já deixa claro que a intenção do quarteto era fazer muito, mas muito barulho. Em comparação com o que se fazia na época, quase tudo é mais intenso: a agressividade, a crueza e, especialmente, a performance dos músicos, ressaltando o baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon, tão estrelas quanto Townshend e Roger Daltrey, um de meus vocalistas favoritos. Os clássicos “My Generation” e “The Kids Are Alright” são destaques, mas também enfatizo a ótima “The Good’s Gone” e a avassaladora instrumental “The Ox”.
Luiz: O mundo ainda não sabia o que era barulho … Não ainda! Com uma das mais fantásticas e invejáveis formações de um grupo até hoje, o The Who chegava para estrondar o mundo já em seu debut, com uma linha de clássicos capitaneadas pela porrada da faixa título (entre outras), que imortalizaram a máxima “Beatles? Play. The Who? Destroy!”, e com total propriedade.
Mairon: Bela estreia do Who, ainda no saudoso tempo do mod. Canções curtas, despretensiosas e agradáveis. Entwistle é o principal nome em todo o disco, e clássicos como a faixa-título e “The Kids Are Alright” estão nele. É a adrenalina e energia que faltava para o rock começar a virar hard, mesmo que ainda em uma visão embrionária.
Ronaldo: Estreia estrondosa do quarteto britânico. O som tem o espírito da época, mas aponta uma selvageria ainda pouco comum nas gravações. Canções icônicas e carregadas, chacoalhando o bom mocismo das bandas pop da invasão britânica, mas, ainda sim, também sendo pop.

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John Coltrane – A Love Supreme (50 pontos)
Adriano: Não consegui entender esse disco. É só o que consigo pensar. Tanta gente com tantos gostos diferentes, todos amam esse álbum, e eu simplesmente acho um disco de jazz comum, sem nenhum appeal especial. “Resolution” me parece uma boa faixa, mas só isso! Fica, enfim, registrada minha ignorância.
Bruno: Não sou muito fã de post-bop e free jazz, mas esse aqui é uma exceção. Uma das melhores obras de Coltrane, dividida em quatro suítes impecáveis e brilhantemente executadas.
Davi: Não ouvi.
Diogo: Apesar de não ser um grande conhecedor de jazz, minha parca experiência dá a entender que A Love Supreme é, depois de Kind of Blue (Miles Davis), o mais icônico álbum do gênero já gravado. Convenhamos, isso não ocorre à toa. A interação entre Coltrane e os músicos que o acompanharam nessa fantástica jornada atinge níveis transcendentais e causa espanto, tamanha a qualidade de cada pequena intervenção. Certamente, A Love Supreme ainda soa atualíssimo.
Luiz: Um dos meus dez discos preferidos em todos os tempos. Com o perdão do trocadilho, a obra suprema. Apenas.
Mairon: Por pouco este disco não entrou na minha lista final, mas pouco mesmo. Perdeu para o também ótimo E.S.P., de Miles Davis. Coltrane começando a mergulhar no free jazz e mandando ver com uma interpretação do capeta, acompanhando por um quarteto fenomenal em um disco fenomenal.
Ronaldo: O mestre do saxofone em seu trabalho mais celebrado. Um som jazz que consegue ainda hoje soar muito moderno. Uma confluência de inspiração e talento que pode (e deve) ser apreciada sem moderação. Não entrou na minha lista porque só tenho escolhido (por critério pessoal) discos de rock ou relacionados.

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The Yardbirds – For Your Love (48 pontos)
Adriano: O álbum conta com a versão definitiva de “I Ain’t Got You”, o que é suficiente pra entrar nesta lista. É um ótimo exemplo do que representavam os Yardbirds nesse momento: um grupo que fazia basicamente versões pra composições de terceiros, mas com uma potência e cara própria que punha a banda no nível de qualquer banda autoral do período – quando não acima.
Bruno: Não ouvi.
Davi: Lançado enquanto se preparavam para a primeira turnê nos Estados Unidos. Aqui misturam músicas inéditas com outras que já haviam sido lançadas em compacto. Algo muito comum na época. É o ultimo álbum gravado por Eric Clapton e o disco que tem o maior hit do grupo, a faixa-titulo “For Your Love”.
Diogo: Mesmo ainda focando-se em covers, os Yardbirds sempre mantinham-se um passo à frente dos outros grupos britânicos. Seu senso de urgência não tinha igual, vindo a ganhar concorrência apenas no final de 1965, quando o The Who lançou sua estreia. Equilibrando as fortes influências blues expressas no disco anterior, Five Live Yardbirds, com uma surgente ambição pop, o quinteto transformava canções alheias em material mais excitante e desafiador que as originais, tornando muito difícil a tarefa de apontar destaques. Eric Clapton pode ter deixado o grupo na época do registro, mas em pouquíssimo tempo ficaria mais que comprovado que seu substituto, um tal de Jeff Beck, não devia nada em relação ao “Slowhand”.
Luiz: E os Yardbirds finalmente adentram terras norte-americanas. Em termos de sonoridade, pouco muda com relação ao seu debut, mas a dimensão alcançada a partir de então é determinante para que se firmem entre os melhores. Destaque para “I Wish You Would”.
Mairon: Em 1965 houveram muitos lançamentos fantásticos, mas o Yardbirds superou a expectativa e lançou dos álbuns incríveis. For Your Love é um apanhado de singles lançados nos Estados Unidos, e não são quaisquer singles, são verdadeiros clássicos do rock que devem ser ouvidos por todas as gerações humanas. Uma banda que jamais existirá igual. Pena que o outro álbum lançado nesse ano (Having a Rave Up With the Yardbirds) não pôde entrar na lista por conta de seu lado B, mas também é um disco igualmente incrível em seu lado A.
Ronaldo: Uma das bandas mais importantes da década de 60 em um momento de cisma – escolher entre o purismo do blues e do r’n’b norte-americano ou um direcionamento mais pop. E como o Yardbirds equacionou a questão? Ora, se equilibrou entre os dois e ainda foi além desses dois rótulos. Porém, isso lhe custou a permanência de Eric Clapton na banda. O público saiu ganhando. O Yardbirds continuou a mil e Eric Clapton foi fazer história com John Mayall e depois com o Cream.

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The Rolling Stones – Out of Our Heads (46 pontos)
Adriano: Um ótimo disco, talvez o primeiro grande álbum dos Stones. Embora ainda contenha mais covers do que canções originais, essas versões são muito competentes, super legítimas (a exceção, por não acrescentar muito, seria “Talkin’ Bout You”). De início, já temos a pancadaria de “She Said Yeah”, cujo arranjo proto-hardeiro deixa no chinelo sua contemporânea “My Generation” e iguala “Train Kept a-Rollin’” (polêmica!). Outras muito boas são “That’s How Strong My Love Is”, “Good Times” (reparem na sutileza dos arranjos e da performance vocal) e, em particular, “Cry to Me”, com Keef demonstrando ser um ótimo guitarrista solo, com muito sentimento, o que ele repete na autoral “Heart of Stone”, uma belíssima faixa. Completando esse timaço de canções, as maravilhas autorais “Gotta Get Away” e “I’m Free”. Merecia posição melhor, certamente.
Bruno: Melhor disco dessa primeira fase brit do Stones. Apesar de ainda muitas – e ótimas – versões, a banda aqui mostra uma pegada mais urgente, com guitarras mais altas e uma performance inacreditável de Mick Jagger. Discão.
Davi: Um álbum típico do inicio do grupo de Jagger e Richards. Ou seja, bastante influenciado por soul e blues e poucas composições da dupla. Mesmo que assinem apenas três faixas do disco, colocam respeito. “I’m Free” está entre os grandes destaques do disco. Entre as regravações, sempre gostei muito da versão de “She Said Yeah” (que também recebeu uma ótima versão do The Animals) e “That’s How Strong My Love Is”. Grande disco.
Diogo: Certamente o melhor disco da banda até então. Apesar de nenhum dos anteriores ser fraco, pelo contrário, Out of Our Heads é bem resolvido desde o início, com a hardeira e agressiva “She Said Yeah” até o final com a ótima autoral “I’m Free”. Em geral, os músicos demonstraram que a experiência em estúdio e nos palcos, além do óbvio entrosamento, lhes dava cada vez mais personalidade. Quanto a Mick Jagger então, nem se fala… Confirmou merecer posição entre os grandes da época, especialmente nas baladas blueseiras, caso de “That’s How Strong My Love Is”, “Cry to Me” e “Heart of Stone”.
Luiz: Meu preferido dessa fase do grupo, ao lado de Aftermath. Aqui é perceptível um som mais enérgico e extremamente versátil, indo da pegada mais firme e sacana à melodia sofrida e boêmia de uma balada como “That’s How Strong My Love Is”. Obrigatório.
Mairon: Assim como os Yardbirds, os Rolling Stones também lançaram dois discos excelentes em 1965. Prefiro Two a Out of Our Heads, mas, se considerarmos a versão norte-americana desse álbum, Out of Our Heads certamente teria que estar entre os melhores de 1965, já que possui a clássica “(I Can’t Get No) Satisfaction”.
Ronaldo: Na minha humilde opinião, o trabalho que melhor representa os Rolling Stones nos anos 60. O r’n’b turbinado, o som repleto de ironia, a postura musical de afronta e aquela musicalidade básica e cativante. Díficil destacar algo neste trabalho, que pra mim merecia estar mais próximo do pódio de 1965.

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The Beatles – Rubber Soul (44 pontos)
Adriano: Se eu fizesse um Top 20 dos álbuns de 1965, Help! Certamente entraria.Rubber Soul talvez entrasse em um Top 50 (pois não devo conhecer mais do que 50 discos desse ano). Não quero polemizar muito, então vou falar apenas das faixas que me agradam. “Girl” já foi muito mais do meu gosto, mas ainda reconheço sua peculiaridade e carga sentimental. “Wait”, não sei por que, é uma música que me agrada bastante, embora não tenha nada de incomum ou de genial. A favorita, obviamente, tinha de ser “In My Life”, esta sim um trabalho magistral, de composição e de interpretação, inclusive por parte de George Martin no solo de piano. Merecia ocupar espaço em um disco melhor.
Bruno: Revolver e Sgt. Pepper’s é o caceta! É aqui que os Besouros começaram a botar as asinhas de fora, experimentando novos instrumentos, como a cítara em “Norwegian Wood”, guitarras mais rasgadas e harmonias vocais mais elaboradas. Um discão e talvez o mais subestimado da banda. Composições de primeira do começo ao fim.
Davi: Marca o inicio de uma nova fase do Fab 4. Aqui os músicos começaram a explorar mais os recursos de estúdio e a ousar mais em suas composições. Claro que os álbuns seguintes (Revolver e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band) são os grandes marcos dessa virada, mas já havia algumas dicas, como a cítara de “Norwegian Wood” e a letra de “In My Life”, por exemplo. Imperdível!
Diogo: É meio que uma convenção amplamente aceita o fato de Rubber Soul marcar uma virada na carreira dos Beatles, e isso faz bastante sentido. Não que álbuns anteriores já não contivessem fortes indícios do caminho mais experimental que seria seguido depois, mas é neste disco que se encontram obras que confirmam essa ideia, caso de “Norwegian Wood”, “You Won’t See Me”, “In My Life” e “If I Needed Someone”, todas ótimas. Apesar de alguns destaques, trata-se também do álbum mais equilibrado do grupo até então, não trazendo sequer uma música que eu considere muito abaixo do restante do track list.
Luiz: Invejo os outros 7 bilhões de habitantes do nosso planeta (e alguns marcianos) que são fãs dos Beatles. Nunca me despertaram interesse.
Mairon: O primeiro grande discos do Fab 4. For Sale é muito bom, mas é comRubber Soul que o grupo deu uma guinada de 180 graus em sua carreira, a qual particularmente é muito melhor do que o tempo do iê-iê-iê.
Ronaldo: Primeiro trabalho da banda que começou a dar as pistas de um outro direcionamento para toda a cena britânica. As inovações aqui são o som folk e a cítara, uma pequena intervenção neoclássica em um solo de teclado e músicas que fugiam da monotemática romântico-amorosa. Como eram a referência pra todos os jovens músicos da época, os manches todos se mudaram pra essas novas direções.

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The Zombies – Begin Here (39 pontos)
Adriano: O que dizer do álbum que conta com a melhor música de 1965? Sei que é exagero, mas é difícil descrever o sentimento que causa em mim o feito musical chamado “I Can’t Make Up My Mind”, tão brega quanto linda, demonstrando a maestria de Chris White como compositor – enquanto a maioria lembra apenas de Rod Argent. Este, por sinal, ataca logo em seguida com a também lindíssima “The Way I Feel Inside”, uma faixa basicamente a cappella, com leve acompanhamento de órgão, mas cuja profundidade melódica nos leva a imaginar – em alguns casos, a ouvir! – um arranjo no estilo do que a banda fez em sua obra maior, o clássico Odessey and Oracle. O restante do disco apresenta covers que variam do bom ao ótimo e composições autorais, que pra mim são os verdadeiros destaques aqui.
Bruno: Melodias, melodias e mais melodias. Nenhuma banda se equiparava ao The Zombies nesse quesito. E o que falar do timbre limpo e suave de Colin Blunstone? Esse disco já tem uma certa dose de psicodelia, bem antes de o LSD tomar conta da música, principalmente pelas atmosferas criadas no teclado por Rod Argent. Na época, pouca gente entendeu, e Begin Here só foi se tornar um clássico anos depois.
Davi: Não ouvi.
Diogo: Este disco foi uma das grandes surpresas de 1965 pra mim. Como se não bastasse conter mais canções autorais do que covers, elas normalmente sobrepujam as versões e mostram personalidade muito acima da média. Além disso, a boa produção permite que todos os instrumentos estejam bem audíveis e destaca as ótimas intervenções de Rod Argent nos teclados. A vocação para criar e interpretar ótimas baladas foi outro fator que chamou muito a atenção, e não poderia deixar de ser, pois elas são destaque total, vide “I Can’t Make Up My Mind”, “She’s Not There” e “I Remember When I Loved Her”, além da surpreendente “The Way I Feel Inside”, trazendo apenas voz e teclados.
Luiz: A sensação ao ouvir Begin Here é de viajar pelo espaço-tempo. A sonoridade como um todo, das melodias ao vocal cadenciado, passando por uma psicodelia (?) que transporta qualquer um que ouve de volta a 1965. Quer dizer, eu acho. Não faço ideia de como seria em 1965, mas esse disco me passa uma boa sensação de como seriaa. E isso é delicioso.
Mairon: A estreia do The Zombies entre os dez melhores para mim é surpreendente. Gosto das versões para “Summertime” e “Road Runner”, e claro que “She’s Not There” é fantástica, mas em 1965 houve material muito melhor do que esse disco. A própria “She’s Not There” ficou muito melhor com o Vanilla Fudge dois anos depois. Rod Argent é o principal destaque, sem dúvidas.
Ronaldo: Não gosto muito desse trabalho. Me soa como um pop ordinário da época, com alguns inegáveis itens de requinte, mas nada que me fizesse colocá-lo no lugar do Them ou dos Pretty Things.

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The Beach Boys – The Beach Boys Today! (29 pontos)
Adriano: Não vou discutir a posição que esse disco veio a ocupar no Top 10 final, mas convido o leitor a conhecê-lo bem, e ele falará por si. Um disco já de certo modo conceitual, pois apresenta uma clara divisão entre seu lado A e seu lado B, o primeiro dedicado a canções mais animadas e o segundo àquelas mais emotivas. Em todos os momentos de Today!, o trabalho é magistral, com uma riqueza que prenuncia o clássico Pet Sounds. O ensolarado lado A é suficiente para que esse disco ganhe o ouvinte, mas é no lado B, a “noite” do disco, em que caímos de joelhos e entoamos nossa adoração a Brian Wilson e companhia. Como não se render diante da dupla “She Knows Me Too Well” e “In the Back of My Mind”, dois dos maiores clássicos dos Beach Boys e do rock em geral? O mais impressionante é que a banda ainda lançou outro excelente disco em 1965, Summer Days (and Summer Nights!!), o qual conta com pelo menos mais dois clássicos, a saber, “Let Him Run Wild” e “You’re So Good to Me”. Conheçam!!
Bruno: Talvez o melhor álbum dessa primeira fase, mas ainda assim muito aquém do que a banda se tornaria após Pet Sounds.
Davi: Esse foi o primeiro de uma série de três álbuns lançados pelo grupo em 1965. A primeira metade é marcada por canções mais rock, enquanto a segunda metade é marcada por baladas. O disco trouxe arranjos mais sofisticados do que os que vinham apresentando até então. “Do You Wanna Dance” e “Help Me (Rhonda)” estão entre os destaques.
Diogo: Se o objetivo dos Beach Boys era aperfeiçoar o pop ao máximo, em Today! foi dado um importantíssimo passo nesse sentido. Certamente melhor que seus antecessores, o álbum é mais parelho e proporciona uma experiência agradável de cabo a rabo; no entanto, ainda não o suficiente para me arrebatar como ocorreu com milhões de outras pessoas. Mesmo assim, destaco a interessante divisão entre os lados do disco, ressaltando o estilo mais rocker e uptempo no lado A e as baladas de caráter, diria, quase erudito, no lado B (meu favorito).
Luiz: Gosto tanto quanto do aclamado Pet Sounds. Pode não ser tido como um divisor de águas na discografia do grupo como o outro, mas, ainda assim, tem excelentes canções e igualmente marcantes, como “Do You Wanna Dance?”, “Good to My Baby” e “Help Me, Rhonda”.
Mairon: Em 1965, os Beach Boys, assim como os Beatles, começou sua mudança sonora, e lançou três álbuns magníficos. Qualquer um deles é merecedor de estar entre os melhores de 1965. O meu escolhido para entrar nos dez mais seria Party!, masToday! realmente simboliza bem a mudança sonora que Brian Wilson estava preparando para os Garotos da Praia.
Ronaldo: A referência pop adolescente mor da América em mais um bom trabalho, também já com alguns temperinhos a mais do que aquele surrado surf-rock da primeira metade dos anos 60.

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The Byrds – Mr. Tambourine Man (29 pontos)
Adriano: É ótimo ver os Byrds representados nesta lista, o que espero ver acontecer também nos anos posteriores. Prefiro este disco a Turn! Turn! Turn!, embora a faixa-título deste seja um clássico muito marcante pra mim. Mr. Tambourine Manapresenta as clássicas versões dos Byrds para canções de Bob Dylan, como a linda faixa-título e “All I Really Want to Do”, mas sua riqueza não se esgota aí. Ótimas versões para músicas de outros compositores, como é o caso de “Don’t Doubt Yourself, Babe” e, principalmente, “The Bells of Rhymney”, além de boas canções autorais, como “Here Without You” e “It’s No Use”, demonstram o potencial dos Byrds em levar adiante seu projeto de unir o rock ao folk (ou vice-versa).
Bruno: Folk rock não é muito minha praia. Já tentei o The Byrds várias vezes, mas não rolou. Passo.
Davi: Esse é o primeiro trabalho e um marco da cena norte-americana. Não é novidade para ninguém que o filme “A Hard Day’s Night”, dos Beatles, foi um marco para esses garotos. Foi depois de assistirem essa película que eles adquiriram as guitarras Rickenbacker (12 cordas) e Gretsch, além da bateria Ludwig. No entanto, suas grandes influencias musicais estão mais para o folk do que para o rock. A música “Mr. Tambourine Man” foi um grande hit. Particularmente prefiro a versão deles do que a original, de Bob Dylan.
Diogo: Que banda, meus amigos! O baterista Michael Clarke podia até não ser tudo aquilo, mas o tempo se encarregaria de mostrar que timaço tínhamos em Gene Clark, Chris Hillman, Jim/Roger McGuinn e David Crosby. A música excitante que brota deMr. Tambourine Man faz jus a essa seleção de craques e empolga como quase nada na época. Psicodelia, folk rock, country rock… O The Byrds influenciaria tudo isso e muito mais, ajudando como poucos grupos a moldar a música pop de maneiras que eles jamais imaginariam, fugindo inclusive do âmbito meramente musical e mudando tanto os negócios quanto o comportamento. Dizer que a força do disco reside apenas nos (excelentes) covers de Bob Dylan é sacanagem, vide composições de Gene Clark como “I’ll Feel a Whole Lot Better” e “I Knew I’d Want You”. O álbum seguinte, Turn! Turn! Turn!, até conta com duas canções das quais gosto mais ainda, a faixa-título e a emocionante “Set You Free This Time” (mostrando de vez que a estrela que mais brilhava nessa constelação era a de Gene Clark), mas, no geral, Mr. Tambourine Mané levemente melhor.
Luiz: Não ouvi.
Mairon: O que salva esse álbum são as composições de Bob Dylan. “Chimes of Freedom” e “Spanish Harlem Incident” são bons aperitivos do que o grupo viria a fazer posteriormente com o maravilhoso Fifth Dimension. Bom disco, mas desse ano, prefiro Turn! Turn! Turn!.
Ronaldo: O feliz cruzamento de Bob Dylan com os Beatles! As duas coisas mais importantes da primeira metade dos anos 60 sintetizadas no som de uma única banda. Outro que merecia estar no pódio deste ano.

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The Beatles – Help! (25 pontos)
Adriano: Este sim um bom disco, digno de figurar no Top 10 final, embora ainda tenha alguns elementos típicos dos Beatles que me desagradam (identificáveis, por exemplo, em “The Night Before” e em “Another Girl”). Gostar de iê-iê-iê não é comigo, mas “You’re Gonna Lose that Girl” tem o mérito de conseguir esse feito. Apesar da ponte e do encerramento tosquíssimos, não há como negar a beleza peculiar de “Ticket to Ride”. Mas o que realmente me encanta no disco é a trinca “It’s Only Love” (breguíssima e lindíssima), “You Like Me Too Much” (o rockabilly de Harrison me convertendo de vez ao iê-iê-iê) e principalmente “Tell Me What You See”, melhor faixa do disco. Depois dessas três, prefiro me calar.
Bruno: Bom disco, seguindo a linha de A Hard Day’s Night, mas perde feio para o maravilhoso Rubber Soul.
Davi: Este álbum foi lançado simultaneamente com o filme, mas não deve ser confundido com a trilha sonora da película. Esta, foi lançada apenas nos Estados Unidos. Aqui, o grupo apresenta 14 faixas, sendo que a música-título e a balada “Yesterday” são atualmente tidas como clássicos do grupo. No entanto, há outros ótimos momentos, como “The Night Before”, “You’re Going to Lose That Girl”, “Ticket to Ride” e “Dizzy Miss Lizzy”. Mais um grande disco dos garotos de Liverpool.
Diogo: Em que pese o fato de haver, na mesma época, grupos que mereciam tanta atenção quanto os Beatles (quando não mais), o negócio é que o quarteto muito dificilmente decepcionava, sempre apresentando em seus álbuns uma coleção mais que satisfatória de canções, ora transitando em terreno sólido, que eles mesmos construíram (“Help!”, “The Night Before”, “Ticket to Ride”), ora se permitindo algumas ousadias que viriam a pavimentar o caminho a ser seguido após Rubber Soul (“You’ve Got to Hide Your Love Away”, “Yesterday”, “I’ve Just Seen a Face”). Help! é exatamente isso, sem tirar nem por.
Luiz: Mesmo comentário que fiz a respeito de Rubber Soul (apesar de adorar a faixa título).
Mairon: Um dos piores discos que já ouvi na vida, se é que podemos chamar isso de disco. Como diz um amigo meu: “chato bá garai!”.
Ronaldo: O auge dos Beatles enquanto banda de proposta declaradamente popular. Importantíssimo do ponto de vista da difusão do próprio rock, enquanto estilo musical e de vida, impulsionada também pelo estrondoso sucesso do filme homônimo em nível mundial.

Listas individuais:
120836Adriano KCarão
1. The Beach Boys – The Beach Boys Today!
2. The Kinks – The Kinks Kontroversy
3. The Rolling Stones – Out of Our Heads
4. The Turtles – It Ain’t Me, Babe
5. The Zombies – Begin Here
6. Nina Simone – Pastel Blues
7. The Yardbirds – For Your Love
8. The Byrds – Mr. Tambourine Man
9. The Moody Blues – The Magnificent Moodies
10. Them – The Angry Young Them

Otis_Redding_-_Otis_BlueBruno Marise
1. The Zombies - Begin Here
2. The Beatles - Rubber Soul
3. Bob Dylan – Highway 61 Revisited
4. The Who - My Generation
5. John Coltrane - A Love Supreme
6. Otis Redding - Blue
7. The Sonics - Here Are the Sonics
8. Grant Green - I Want to Hold Your Hand
9. The Beach Boys - The Beach Boys Today!
10. The Animals - Animal Tracks

gethrjtjkDavi Pascale
1. The Beatles - Help!
2. The Who - My Generation
3. The Rolling Stones - Out of Our Heads
4. Roberto Carlos - Jovem Guarda
5. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
6. The Beatles - Rubber Soul
7. The Animals - Animal Tracks
8. The Yardbirds - For Your Love
9. The Beach Boys - The Beach Boys Today!
10. Gerry and the Pacemakers - Ferry Across the Mersey

5701847_147Diogo Bizotto
1. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
2. Bob Dylan - Bringing It All Back Home
3. John Coltrane - A Love Supreme
4. The Yardbirds - For Your Love
5. The Byrds - Mr. Tambourine Man
6. The Who - My Generation
7. The Byrds - Turn! Turn! Turn!
8. The Moody Blues - The Magnificent Moodies
9. The Zombies - Begin Here
10. Thelonious Monk - Monk.

The_Hollies_-_Self_TitledLuiz Carlos Freitas
1. John Coltrane - A Love Supreme
2. The Who - My Generation
3. Bob Dylan - Highway 61 Revisited
4. The Hollies - Hollies
5. The Moody Blues - The Magnificent Moodies
6. The Animals - Animal Tracks
7. The Kinks - The Kink Kontroversy
8. The Rolling Stones - Out of Our Heads
9. The Zombies - Begin Here
10. The Yardbirds - For Your Love


andressegovia-segoviaplaysbachMairon Machado
1. The Yardbirds - For Your Love
2. Andrés Segovia - Plays Bach
3. Elis Regina e Zimbo Trio - O Fino do Fino
4. O Trio 3-D - O Trio 3-D Convida
5. Wes Montgomery - Movin’ Wes
6. The Rolling Stones - The Rolling Stones No. 2
7. The Supremes - We Remember Sam Cooke
8. Julian Bream - Baroque Guitar
9. The Paul Butterfield Blues Band - The Paul Butterfield Blues Band
10. Miles Davis - E.S.P.

71rwQGlI1pL._SL1110_Ronaldo Rodrigues
1. Bob Dylan - Highway 61 Revisted
2. The Beatles - Rubber Soul
3. The Byrds - Mr. Tambourine Man
4. The Rolling Stones - Out of Our Heads
5. The Who - My Generation
6. The Paul Butterfield Blues Band - The Paul Butterfield Blues Band
7. Them - The Angry Young Them
8. The Pretty Things - The Pretty Things
9. Bert Jansch - Bert Jansch
10. The Graham Bond Organization - The Sound of ’65
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