Após Grace recuperar-se da sua cirurgia, em abril de 1969, começam as sessões de gravação para o novo álbum do grupo. Com os bolsos forrados de dinheiro, usam uma mesa de 16 pistas, tornando o som mais potente, alavancando a fúria do grupo contra a sociedade, a política e as guerras. Crescem as polêmicas envolvendo o grupo com drogas, e também sobre as brigas internas.
Para piorar, o conteúdo das letras do álbum, basicamente criticando o governo norte-americano, a Guerra do Vietnã e profanidades como a defesa do anarquismo, causou um atrito entre a gravadora e os líderes do Jefferson Airplane, já que a gravadora achava as letras demasiadamente pesadas. O próprio nome sugerido para o LP, Volunteers of Amerika, já era uma ironia contra o povo dos Estados Unidos. Então, começa uma longa batalha entre grupo e gravadora para ter o álbum lançado.
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Visão traseira do palco de Woodstock durante o show do Jefferson Airplane |
Enquanto isso, a fama do Jefferson Airplane não para de crescer. Em junho de 1969, recebem a proposta para fechar a segunda noite do festival de Woodstock, pouco depois de terem feito um show ao ar livre no New York Central Park . No início de agosto, são uma das principais atrações do Atlantic City Pop Festival, e na manhã do dia 18 de agosto, sobem ao palco para fechar a noite do dia 17, pouco depois do sol nascer, naquela que Grace Slick classificou como "A manhã maníaca da música".
O show do grupo em Woodstock acabou acontecendo na manhã do domingo (terceiro dia do festival) devido aos inúmeros atrasos ocorridos na noite de sábado, e sob os olhares de milhares de pessoas, o hepteto (agora com a adição do pianista Nicky Hopkins) mandou ver em uma das melhores apresentações de sua carreira. Fontes não confirmadas afirmam que Jimi Hendrix (responsável por encerrar o festival) ficou com tanta inveja do show do Jefferson Airplane que pediu para os organizadores do festival atrasarem seu show até a manhã do dia seguinte, afim de conseguir o mesmo efeito conseguido pelo Airplane sob o nascer do sol.
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Airplane em Woodstock |
Com a famosa apresentação em Woodstock, tornam-se atração no Dick Cavett Show, onde sob os olhares incrédulos do apresentador, Joni Mitchell, David Crosby e Stephen Stills, o hepteto fez uma estonteante apresentação de dezessete minutos, nos quais apresentam duas canções do novo álbum ("We Can Be Together" e "Volunteers of America") e uma longa jam session em cima de "Somebody to Love", não deixando ninguém mais falar até o final do programa, mesmo com as tentativas frustadas de Dick. Para "piorar" a situação, o hepteto interpretou a letra original de "We Can Be Together", entoando palavras como "Motherfucker" e "Fuck" em pleno horário nobre.
Em outubro, Kantner é preso no Havai por porte de maconha, sendo liberado após pagar fiança de 350 dólares. Em novembro, um polêmico show no Fillmore East, no qual Slick apresentou-se vestida de Hitler, e Rip Torn fez o papel de Richard Nixon, atiçou os ouvidos dos fãs para o novo álbum.
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Volunteers, o melhor disco do Jefferson Airplane |
Finalmente, o último álbum da formação clássica então é lançado no final de novembro de 1969, após muitas tratativas, e tendo Nicky Hopkins como um dos principais nomes deste que considero o melhor disco do grupo. Com a participação de diversos músicos convidados, Volunteers é pesado, gritador e inovador, sendo um divisor de águas na carreira do Airplane. A partir dele, as psicodelias deram lugar à letras conscientes e canções complexas, começando pela faixa de abertura, a sensacional “We Can Be Together”, trazendo o riff inicial, executado pelo piano, violão e baixo, com intervenções de notas rasgadas de Kaukonen, que passa a solar em cima da melodia que acompanha os vocais do trio Slick, Kantner e Balin. O riff inicial retorna, com mais intervenções de Kaukonen, e o trio solta a voz dizendo que "We are all outlaws in the eyes of america”, em uma letra que fala sobre o anarquismo nos Estados Unidos e como o preconceito atinge a população.
O riff pesado e os solos de intervenção de Kaukonen continua, e os vocais então nos levam para a segunda parte da canção, através de lindas vocalizações acompanhadas por piano e percussão. Kaukonen despeja distorção na guitarra, com baixo, piano e bateria acompanhando o peso da parte central da canção, e os vocais mandando ver a canção de protesto, para então, retornar ao riff inicial, gritando “Up against the wall motherfucker, turn down the wall”, simbolizando um manifesto contra o muro do preconceito, em uma das melhores canções do Jefferson Airplane, e que teve esse "Motherfucker" escondido sob a palavra "Fred", mesma palavra que entrou no lugar de "Fuck". O riff inicial é repetido, com mais solos rasgados de Kaukonen e vocalizações do trio ordenando “Everybody together”, trazendo o início da letra, que entoa o nome da canção emotivamente, sofrendo, para encerrar essa magistral faixa com Hopkins solando ao piano, enquanto as vozes gritam “Turn down the Wall!”. Sensacional!
Violões nos levam para a tradicional “Good Shepherd”, tendo o arranjo de Kaukonen e com um riff chupinhado pelo Uriah Heep na clássica “Magician’s Birthday”, e intervenções do wah-wah de Kaukonen. Cantada por Balin, essa canção mistura elementos do country, e sem muitas variações, o maior destaque fica pela presença marcante dos violões e para o belo solo de Kaukonen.
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Jerry Garcia, invandindo uma reunião do Airplane |
Os violões também estão em “The Farm”, que aparece com o pedal steel guitar de Jerry Garcia, Grace Slick ao piano, além de baixo e bateria executando um gostoso country cantado por Slick e Kantner, destacando o grudento refrão. Essa canção conta com a participação especial do grupo feminino The Ace of Cups nas vocalizações.
O lado A encerra-se com a longa e viajante “Hey Frederick”, que inicia com o riff marcado entre bateria, piano, baixo e guitarra. Slick canta despojadamente, e acompanhada apenas pelo piano, transforma a canção para uma linda balada, com Kaukonen pisoteando o wah-wah e a cozinha baixo, bateria piano fazendo um arrepiante acompanhamento. Hopkins fica sozinho, trazendo o riff inicial, agora com o baixo carregado de distorção, e Slick segue a letra, repetindo a mesma ordem em termos musicais, retornando portanto a bonita balada, e assim, Slick encerra a letra, entrando em uma alucinante sessão instrumental, na qual Kaukonen e Balin executam um grandioso duelo de guitarras, com mais de cinco minutos de duração, em um crescendo arrebatador, esbanjando bends agudíssimos e notas velozes, alternando entre ritmos mais sacolejantes e outros mais vagarosos, enquanto, piano, baixo e bateria comandam a locomotiva sonora que ajuda a destruir o quarto, neste solo que certamente inspirou outro sensacional solo de guitarra, aquele feito pelo Lynyrd Skynyrd em “Free Bird”, encerrando . Assim como “We Can Be Together”, outra maravilhosa faixa, que também figura entre as melhores da carreira do Airplane.
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Lado A de Volunteers |
“Turn My Life Down” tem a honrosa tarefa de abrir o lado B, após a loucura sonora de “Hey Frederick”, trazendo os violões para mais um country simples, com destaque para os vocais de Kantner e a participação de Stephen Stills no órgão, bem como Joey Covington nas congas, além do curto solo de Kaukonen, o qual nos leva para outra sensacional canção de Volunteers, a linda cover de “Wooden Ships”.
Criada pela dupla Crosby/Stills, em parceria com Paul Kantner, essa linda e arrepiante balada aparece no LP com o barulho de um navio em alto mar, entre uma tempestade que nos apresenta os acordes de piano, percussão, violões e a manhosa guitarra de Kaukonen. Balin canta a primeira estrofe da letra, deixando a segunda para Slick. Kantner então canta a terceira estrofe, e então, a percussão explode para o trio cantar o emocionante refrão, com a guitarra de Kaukonen acompanhando a melodia vocal, voltando para a sequência da letra, primeiro com Balin, acompanhado pelas vocalizações de Slick, e depois, com o trio cantando as demais frases da letra, para voltar ao refrão, e Kaukonen rasgando a guitarra ao meio com suas notas agudas.
Os violões e o piano acompanham o breve solo de Kaukonen, e as vocalizações cantam novamente o refrão, destacando Slick com longos gritos, para Kaukonen fazer um emocionante solo, acompanhado de um embasbacante crescendo percussivo, que nos leva para a última repetição do refrão. Vocalizações então cantam a melodia do refrão, entre o wah-wah de Kaukonen e gritos de Slick, Balin e Kantner, que encerram outra magistral canção.
“Eskimo Blue Day” resgata os momentos psicodélicos de Surrealistic Pillow, começando com a guitarra de Kaukonen e as marcações de piano, baixo e bateria, criando um ritmo veloz. A flauta de Slick surge, trazendo sua voz, que tem a guitarra e a flauta como guardiões, além do ritmo criado pelo piano, bateria e baixo, lento e hipnotizante. Joey Covington aparece novamente com as congas, e a canção causou polêmica pela inclusão da palavra "Shit" por diversas vezes.
Hopkins e seu piano são o centro das atenções em “A Song for All Seasons”, outro leve country, dessa vez cantado por Kaukonen, Balin, Kantner e Slick, e com Bill Laudner sendo o vocalista principal, seguida pela curta vinheta “Meadowlands”, apenas com Slick executando algumas notas no sintetizador. O LP encerra-se com “Volunteers”, a qual começa com o riff da guitarra de Balin, Kaukonen e Hopkins detonando e Kantner soltando a voz em uma agitada canção, enquanto Slick e Balin fazem vocalizações gritando “Got the Revolution”, encerrando com um breve solo de Kaukonen.
Este foi o último álbum da formação clássica do Jefferson Airplane. Um dos discos mais vendidos do grupo, alcanço a décima terceira posição nos Estados Unidos, e entrou na lista da Rolling Stone entre os 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos, na posição 370.
Em seis de dezembro, são atração principal (ao lado do Rolling Stones) no festival Altamont Free Concert, em Altamont. Famoso pelo assassinato de um jovem negro (Meredith Hunter) pelos Hell Angel's durante a execução de "Under My Thumb" pelos Stones, e se tornou a única banda a participar dos três maiores festivais dos anos 60 (Monterey, Woodstock e Altamont). Durante a apresentação do Airplane, Balin foi agredido por um Hell Angel em pleno palco, enquanto tentava acalmar uma confusão generalizada que se formou com integrantes da plateia e os seguranças dos Hell Angel's durante a canção "The Other Side of This Life", o que pode ser conferido no documentário Gimme Shelter, lançado pelo Rolling Stones anos depois.
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Registro do incidente em Altamont |
Após o incidente, o grupo decide tirar férias, e em fevereiro de 1970, despede por unanimidade Spencer, principalmente pelo incidente em Altamont. Dryden vai parar no New Riders of the Purple Sage, sendo substituído por Joey Covington. O grupo então continua excursionando, além de lançar o single "Have You Seen the Saucers?" / "Mexico".
O grupo entrou em um período obscuro, onde cada um saiu para realizar projetos pessoais., com exceção da participação como grupo principal (ao lado do Led Zeppelin) no famoso festival de Bath, durante o mês de junho. Slick foi cuidar de sua família, enquanto Kaukonen e Casady tocaram o Hot Tuna em diante, lançando o primeiro álbum do grupo, o essencial Hot Tuna (1970).
Kantner lançou, em outubro de 1970, seu primeiro álbum solo, o ótimo Blows Against the Empire, que narra uma epopeia de ficção científica, gravada com a participação de membros do Jefferson Airplane (Grace Slick, Joey Covington e Jack Casady), David Crosby, Graham Nash, Jerry Garcia, Bill Kreutzmann e Mickey Hart (os três últimos do Grateful Dead), e lançada como Paul Kantner / Jefferson Starship.
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Grace Slick e Janis Joplin |
Ainda em outubro, no dia 05, o grupo fez um concerto em homenagem a Janis Joplin, que havia falecido de overdose um dia antes, fazendo uma apresentação no Winterland Ballroom, em San Francisco, sem a participação de Balin, que amigo próximo de Janis, recusou-se a subir no palco. O ano encerrou com o Airplane fazendo o Concerto da Virada de Ano no Fillmore East, que tornou-se o último show do Airplane contando com Balin na formação, assim como o lançamento no mesmo mês da coletânea The Worst of Jefferson Airplane, a qual alcançou a décima segunda posição nos Estados Unidos.
O ano de 1971 começou conturbado. Slick e Kantner já não eram apenas colegas de banda, mas também companheiros na cama, ao mesmo tempo que nascia o primeiro filho do casal, a atriz e apresentadora China Wing Kantner. Em março, Balin anunciou sua saída do grupo, desgostoso com os caminhos que o Airplane tinha adotado, saindo do mundo do rock e conservando-se como um estudioso da yoga, sem consumir álcool ou drogas (influenciado principalmente pela morte de Janis). O Hot Tuna lançou seu segundo disco, o também essencial First Pull Up, Then Pull Down (1971) em junho daquele ano.
Um mês antes, no dia 13 de maio Slick sofreu um grave acidente de carro, colidindo o mesmo contra uma parede em um túnel próximo a ponte Golden Gate, de San Francisco. Ela foi salva por Kaukonen (que também estava com ela no carro), mas sua recuperação demorou meses, o que atrasou o lançamento do novo álbum e também causou o cancelamento dos shows.
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Capa original de Bark |
O jeito era tentar gravar o novo álbum, mesmo com Slick sem estar 100%. Em setembro, Bark chegou às lojas, com o Jefferson Airplane apresentando um álbum mais leve, sem tantos conteúdos políticos e com a guitarra de Kaukonen não em tanto destaque quanto em Volunteers. Esse é o único álbum do grupo como um quinteto, tendo Grace Slick (voz, piano), Paul Kantner (guitarras, violões, voz), Joey Covington (bateria, voz), Jorma Kaukonen (guitarras, vocais) e Jack Casady (baixo, vocais), e também conta com a participação de diversos convidados, destacando Papa John Creach (violino), Bill Laudner (vocais), Will Scarlett (harmônica) e a dupla do Santana Carlos Santana (guitarras) e Michael Shrieve (bateria).
O LP começa com o violão e o piano apresentando o violino de Papa em "When the Earth Moves Again", seguido por um breve solo de guitarra, para Kantner, Kaukonen e Slick cantar uma tímida canção, mantendo a linha de composição do Jefferson Airplane, com vocais cantados por um trio e a guitarra de Kaukonen solando enlouquecidamente ao fundo.
O piano introduz "Feel So Good", trazendo percussão, guitarra e baixo. Kaukonen faz um breve solo, responsável pelos vocais quase funk da canção, que contém um ótimo solo do guitarrista, o qual torna-se cada vez mais peça importante para o som do Jefferson Airplane. Slick e seu piano são as atrações na linda balada "Crazy Miranda", outra na qual a guitarra de Kaukonen sola ao fundo, mas não consegue superar a beleza que é a dolorida voz de Slick nessa canção, destacando também a agitada ponte instrumental com piano e muitos efeitos na guitarra.
Papa John Creach, Carlos Santana e Michael Shrieve participam de "Pretty As You Feel", outra linda balada, mais bluesística, a qual começa com a guitarra de Santana, seguido pelo ritmo de Kantner e Kaukonen, bem como a percussão da dupla Shrieve e Covington. Kantner, Slick e Kaukonen canta a canção entre batidas leves na bateria e notas do violino, e então Kaukonen canta a canção acompanhado pelo leve andamento da canção, a qual desenvolve-se sempre com o mesmo ritmo viajante.
A linda instrumental "Wild Turkey" encerra o lado A, começando com o riff de Kantner e as intervenções de Kaukonen, abrindo espaço para um boogie meloso, com Kaukonen solando sem carregar nas distorções. Papa John Creach entra com o violino na segunda estrofe, rasgando as cordas de seu instrumento com o arco, e fazendo um grandioso solo enquanto o boogie domina ao fundo, cedendo espaço para mais um solo de Kaukonen, agora com o wah-wah sendo o centro das atenções, levando para o segundo solo de violino, centrado mais em notas velozes e escalas muito rápidas, nas quais Papa demonstra todo seu virtuosismo, e então, Kaukonen executa seu terceiro e último solo, soltando bends agudos, e finalmente, Papa passa a solar junto com a guitarra, em um maravilhoso duelo, nos quais ambos são vencedores, em uma canção excelente.
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Lado B de Bark, já pelo selo Grunt |
O Lado B abre com "Law Man", tendo o piano de Slick como atração central, trazendo as viradas de Covington e o ritmo de baixo, guitarra e piano. Slick canta com a companhia do solo de Kaukonen ao fundo, em uma canção sem maiores destaques, seguida por "Rock and Roll Island", a qual possui também o piano de Slick como atração principal de uma embalada canção, cantada por Kantner, Kaukonen e Slick, com muitos gritos vocais de Slick.
Vozes, violão e a harmônica de Will Scarlett introduzem a country "Third Week in the Chelsea", trazendo o belo dedilhado de violão feito por Kaukonen, trazendo os vocais de Kaukonen em destaque, permeados pelas vozes de Slick e Kantner, além da constante participação da harmônica.
A história do acidente de Slick pode ser conferida na canção "Never Argue With a German If You're Tired", a qual começa com a flauta de Slick e o baixo distorcido de Casady acompanhando os vocais de Slick, cantando como que contando uma história. Sintetizadores e piano aparecem ao fundo, acompanhando o lento andamento dessa bonita canção, sendo os sintetizadores os responsáveis pelo solo da canção. Piano e vocalizações apresentam a voz de Covington em "Thunk", uma fantástica canção na linha Beach Boys, cantada a capella por Kaukonen, Covington e Kantner, mostrando que além de excelentes músicos, também são excelentes cantores.
Bark encerra-se com "War Movie", a qual começa com os sintetizadores trazendo o ritmo dos violões, fazendo um pesado acompanhamento para Slick, Kaukonen, Kantner e Bill Laudner cantar uma fantástica canção-manifesto em um estilo muito similar ao de "We Can Be Together", porém tendo apenas o violão como instrumento de acompanhamento na parte inicial, destacando o órgão e o baixo na segunda parte. Lentamente, percussão, piano e guitarras passam a acompanhar os vocais, explodindo no maravilhoso refrão, com uma pegada pesada, para Kaukonen solar entre as delirantes vocalizações de Slick. Kantner canta entre as notas da guitarra e os gemidos de Slick, e então, a pauleira pega, com o piano comandando as marcações dos vocais. Batidas marciais nas cordas do baixo e da bateria, seguido pela repetição da primeira parte da letra, acompanhada por piano e violões, levam a repetição do refrão, e o LP encerra-se com os acordes iniciais do sintetizador.
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Capa interna de Bark |
O álbum alcançou a décima primeira posição nos Estados Unidos, com o single de "Pretty as You Feel" chegando na posição 60 na Billboard. Algumas canções que já haviam sido gravadas com Balin foram deixadas de fora, as quais são "Mexico", "Have You Seen the Saucers?", "You Wear Your Dresses Too Short", "Emergency" e "Bludgeon of a Bluecoat". Esse foi o último lançamento do grupo pela RCA, sendo ao mesmo tempo o primeiro da gravadora Grunt Records, fundada pelo grupo.
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Encarte (acima e meio) e contra-capa (abaixo) de Bark |
Na capa original da RCA, o LP vinha embalado em uma espécie de papel-cartão, imitando os papeis de embrulho de uma mercearia, trazendo as letras JA estampadas. Dentro do papel de embrulho, uma capa normal, apresentando um peixe com dentes humanos.
Apesar do sucesso de Bark, o grupo decidiu não excursionar naquele ano. Somente em abril de 1972 retornam para a gravação de um novo álbum, com John Barbata (ex-Turtles) substituindo Covington na bateria, ao mesmo tempo que o Hot Tuna lança seu terceiro LP, Burgers. Porém, o LP acaba contando com a participação de três bateristas diferentes: Barbata, Covington e Sammy Piazza.
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Capa original de Long John Silver |
Lançado em julho daquele ano, Long John Silver reflete o fato de que a maioria dos músicos já estava se dedicando à outros projetos, principalmente Kaukonen, Casady e Papa John Creach, concentrados com o Hot Tuna, além de que as brigas internas fizessem com que praticamente cada músico gravasse sua parte individualmente.
O álbum abre com a faixa-título, uma embalada canção composta por Casady, e com os maravilhosos vocais de Slick. O baixo aparece com destaque durante toda a canção, e a guitarra de Kaukonen soa mais leve, sem tantas distorções ou a participação do wah-wah. Kantner e Kaukonen participam fazendo as vozes nas pontes centrais das estrofes, e durante o solo, Kaukonen despeja sua fúria no wah-wah, com um solo espetacular. A canção modifica-se após o solo, tornando-se mais pesada, voltando ao seu ritmo natural e a repetição das primeiras estrofes da letra, encerrando essa boa faixa de abertura com mais outro solo de Kaukonen, pisoteando o wah-wah.
Guitarra, piano, baixo, bateria e violino apresentam a balada "Aerie (Gang of Eagles)", cantada por Slick e com participação efusiva do violino de Papa John Creach durante a canção, com um rasgadíssimo solo de Kaukone, seguida por "Twilight Double Leader", a qual conta com Joey Covington na bateria e que nos remete ao verão do amor de 1967, principalmente pela pegada da canção. A participação do violino, assim como o belo arranjo para o trio vocal Kantner, Kaukonen e Slick, fazem dessa uma das minhas preferidas no LP.
O violino introduz “Milk Train”, outra grande canção cantada por Slick, com uma pegada hardeira da guitarra e do baixo. O riff marcado do violino acompanha os gritos agudos de Slick, e a canção desenvolve-se diferente do que estamos acostumados ao ouvir nos discos do Jefferson Airplane, principalmente pela presença não tão marcante da guitarra de Kaukonen, que faz um curto solo antes do encerramento dessa pérola hard obscura na carreira do grupo.
A épica “The Son of Jesus” acalma os ânimos, lembrando bastante as canções de Bark, com um andamento arrastado, destacando o wah-wah e o violino, bem como o arranjo vocal do trio Kantner, Kaukonen e Slick, além de uma polêmica letra que teve a frase "Bastard son of Jesus" podada pela gravadora. Covington é o responsável pela bateria dessa canção, que encerra o lado A de Long John Silver sem muita empolgação, sendo uma prévia do que vem no lado B.
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Lado A de Long John Silver |
O lado B deixa a desejar em relação ao lado A, composto mais por baladas do que pelas agitadas canções que ouvimos antes. “Easter?” abre o mesmo com o piano de Slick, seguido por uma breve passagem de violino, trazendo o lento andamento dessa bonita balada, seguida pelos violões country de “Trial By Fire”, cantada por Kaukonen e com um interessante solo do guitarrista, além da participação do baterista Sammy Piazza.
O clima leve continua em “Alexander the Medium”, cantada por Kantner e Slick, com um bonito arranjo musical e um emotivo solo de violino, mas muito repetitiva em geral, e o LP encerra-se com “Eat Startch Mom”, a única faixa do Lado B que vale a pena, com Slick declamando furiosamente os versos da canção, quase como um rap, e como riff da guitarra, baixo e violino fazendo jus para a pegada hard da canção. Slick está cantando muito nessa faixa, e o duelo de solos entre violino e guitarra é muito empolgante, mas o que chama mesmo a atenção é a incrível performance vocal de Slick, encerrando com dignidade um álbum muito bom no lado A, mas precário de emoção no lado B.
O álbum ficou marcado por sua capa, o qual trazia (na sua versão original) uma reprodução de uma caixa de charutos, que quando o fã abria, encontrava a capa interna constituída por vários charutos com a inscrição JA. O álbum alcançou a vigésima posição nos Estados Unidos, mostrando que mesmo apesar da crise interna, o grupo ainda tinha reputação no país.
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Capa interna de Long John Silver |
Com a saída de Covington, e a entrada do vocalista David Freiberg (ex-Quicksilver Messenger Service), o Jefferson Airplane começou uma turnê de divulgação de Long John Silver, durante o verão de 1972, sendo estes os primeiros shows em mais de um ano. Destaque nessa turnê para a apresentação no Central Park, na qual o Jefferson Airplane tocou gratuitamente para mais de 50 mil pessoas.
Em setembro, apresentam-se na Costa Oeste (San Diego, Hollywood e Albuquerque), encerrando a turnê com dois shows no Winterland Ballroom em San Francisco, nos dias 21 e 22 de setembro. Na última noite, Balin subiu ao palco para interpretar "Volunteers" e "You Wear Your Dresses Too Short". Este acabou tornando-se o último show do Jefferson Airplane.
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Capa de Thirty Seconds Over Winterland |
Terminada a turnê, Casady e Kaukonen anunciam oficalmente suas saídas do Airplane, seguindo carreira com o Hot Tuna e lançando o ótimo The Phosphorecent Rat . Nesse mesmo ano, David Freiberg, Paul Kantner e Grace Slick lançaram o raro Baron Von Tollboth and the Chrome Nun, o qual traz a participação de diversos artistas, dentre eles os ex-Airplane Casady, Kaukonen e Papa John, além de Jerry Garcia e David Crosby. Esse álbum foi lançado em maio, um mês após o lançamento do álbum ao vivo Thirty Seconds Over Winterland, registrando a turnê de Long John Silver, tendo John Barbata na bateria. Em 1974, sai a coletânea Early Flight, a qual traz material não lançado oficialmente em vinil, com destaque para "Mexico" e "Have You Seen the Saucers?", que só haviam saído em compactos.
Ainda em 1973, Slick lançou seu primeiro álbum solo, Manhole, enquanto Kantner decidiu retornar com o seu projeto solo. Quatro anos depois de Blows Agains the Empire, lançado como Kantner & The Starship, Kantner funda o grupo Jefferson Starship, nada mais do que uma reformulação do Airplane, com Kantner, Slick, Barbata, Papa John, Freiberg, Craig Chaquico (guitarras) e Pete Sears (baixo, piano e órgão). O grupo lançou seu primeiro trabalho sob o nome Jefferson Starship ainda em 1974, no caso, Dragon Fly, que conta com a participação de Marty Balin na faixa "Caroline".
O grupo permaneceu na ativa a partir de então, com diversas formações e lançando vários álbuns e tendo as atividades encerradas em 1984. Em 1985 Kantner, Balin e Casady formaram o KBC Band, lançando o álbum homônimo em 1986, do qual saiu o famoso hit "America". A partir dessa reunião de Casady com a dupla Balin e Kantner, as portas abriram-se para uma nova reunião do Jefferson Airplane. Em 04 de março de 1988, durante uma apresentação do Hot Tuna em San Francisco, tendo como convidados Paul Kantner e Papa John Creach, Grace Slick deu as caras, e finalmente, após um pequeno período de conversas, o Jefferson Airplane voltou com sua formação clássica, ou seja, Slick, Kantner, Casady, Kaukonen e Balin, a exceção de Dryden, que decidiu ficar fora da reunião.
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Jefferson Airplane em 1989: Jorma Kaukonen, Jack Casady, Paul Kantner, Marty Balin e Grace Slick |
Essa formação lançou Jefferson Airplane, em 1989. representa bem o que era o som mundial na virada dos anos 80 para os 90, com uma participação destacada de piano e sintetizadores. O início com "Planes" anima o ouvinte. Principalmente pelo piano de Nicky Hopkins, que também participa na linda balada bluesy/flamenca "Freedom". "Common Market Madrigal" é aceitável, apesar do excesso de sintetizadores. "Solidarity" apresenta uma sonoridade oitentista que não agradam ao fã mais xiita, mas destaca-se no arranjo vocal. Assim como em "Madeleine Street", cuja levada da bateria não me agrada.
Outras difíceis de ouvir são a balada "Summer of Love" (melosa demais para um apreciador da banda), "True Love" (composição de Steve Porcaro que ficaria melhor se gravada pelo Toto) e "Now Is The Time" (trazendo uma letra de revolução que não serve mais para o ano em que o álbum foi lançado). Os fãs de AOR podem colocar o LP direto em "Ice Age". "The Wheel" é a mais apreciável do LP, com um estilo bem similar ao de "Planes" e uma letra genial. Outro destaque é a pequena instrumental "Upfront Blues". Uma aula de Kaukonen, dessa vez tocando um blues empolgante. "Too Many Years" e "Panda" complementam o álbum sem adicionar muito na discografia do grupo. Apesar de ter feito relativo sucesso, não garantiu o retorno definitivo do Jefferson Airplane, se tornando o último disco de inéditas. É também o mais fraco da carreira!
Em 1996, o Jefferson Airplane foi induzido na Rock and Roll Hall of Fame, com Balin, Casady, Dryden, Kantner e Kaukonen participando da premiação. Slick não pode participar por problemsa médicos. Já em 2004, o documentário Fly Jefferson Airplane foi lançado, contando a história do grupo entre 1965 e 1972, com muitas entrevistas com os membros da banda, além de treze canções completas.
O Jefferson Starship permanece na ativa, mas o Jefferson Airplane aposentou-se em 1990, após a turnê de Jefferson Starship. Um grande grupo, talvez o maior que os Estados Unidos já pariu, e sem dúvidas, o mais influente da geração californiana.