Por Diogo Bizotto
Com Alexandre Teixeira Pontes, Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Christiano Almeida, Davi Pascale, Fernando Bueno, João Renato Alves, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Diego Camargo, editor do site Progshine
Às vezes as surpresas desta série são tão grandes que surpreendem até mesmo aqueles que acreditam no potencial de determinados álbuns que aparecem com destaque por aqui. É o caso desta edição, na qual Humanity: Hour 1, dos alemães do Scorpions, ocupa o posto mais alto. É importante frisar, porém, que se trata de mais uma edição em que a votação ficou extremamente dispersa, resultando em pontuações baixas e muita variedade nas listas pessoais. Por isso reforço: confiram a publicação até o final e conheçam os vários bons discos citados pelos colegas de série, que muitas vezes não aparecem entre os dez mais por detalhe. E não esqueça, nosso tão contestado critério para a elaboração da lista final segue o sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1.
Scorpions - Humanity: Hour 1 (60 pontos)
Alexandre: Por essa nem eu esperava, eu que devo ter sido um ou talvez o principal responsável por este disco vencer aqui. A vitória, que mesmo após a verificação da lista final considero justa, me trouxe uma triste constatação: É esquisito este álbum vencer em 2007 e quase todos os bons álbuns anteriores da banda sequer terem sido relacionados em alguma lista final. Se não me engano, apenas Love at First Sting (1984) chegou entre os dez em seu ano, mesmo assim em nono. Fica claro que o Scorpions é a prova viva que os melhores anos da música ficaram no passado. Há pelo menos cinco ou seis álbuns da banda melhores do que este. A fase inicial, com Ulrich Roth, e pelo menos Blackout (1982) e o já citado Love at First Sting são melhores. Mas como não está em questão a disputa entre anos ou décadas, considero Humanity: Hour 1 um sopro de criatividade na famosa banda alemã. É o melhor álbum deles ao menos desde Crazy World (1990). Acho até superior a este. E o segredo foi aceitar a colaboração de hitmakers como Marti Frederiksen e Desmond Child (que dispensa maiores apresentações). A banda deixou de compor em parceria e foi estabelecê-las com compositores externos. Tal ideia pode ser questionável do ponto de vista da integridade do conjunto, mas acabou funcionando, pois aliou as harmonias sempre presentes na banda a ideias que juntam qualidade e certo apelo comercial. Tendo como ponto forte o vocal de Klaus, um dos poucos que sobreviveram ao teste do tempo entre os de sua geração, o grupo entrega várias boas canções, como "The Game of Life", "321", "We’re Born to Fly", também boas baladas ("The Future Never Dies", "Love Will Keep Us Alive"), com o disco culminando na sua melhor faixa, uma candidata a clássico que pelo jeito ficou na poeira, infelizmente: "Humanity", a quase faixa-título, é linda e merecia um reconhecimento muito maior. Esqueçam essa história de disco conceitual, o que vale aqui é a quantidade e a qualidade das canções que os alemães sempre souberam fazer, mas haviam deixado para trás há pelo menos 15 anos até então.
Alissön: Dou créditos para a banda ter testado novas possibilidades de som, além de pelo menos ampliar seus horizontes com um disco que fugiu bastante do que se conhecia por Scorpions. Ainda assim, esse hard rock moderno carregado de drive e produção de discos de post-grunge não me chama atenção. São as coisas que soam modernas na época de seu lançamento e envelhecem quase instantaneamente.
André: Juro que não entendo por que ignoram e desprezam tanto este disco, inclusive a própria banda. É muito bom, estou arrependido de não ter votado nele. Olha esse peso heavy metal de "Hour I" e a lindeza rocker de "We Will Rise Again" (belo baixo do polaco Maciwoda). Toda a banda estava inspirada ao gravar este álbum, e mesmo Klaus Meine estando mais contido (justificável até pela idade), nos delicia com sua voz melódica e marcante. Já gostava do disco antes, e, graças a esta lista, passei a gostar ainda mais. Obrigado, consultores!
Bernardo: Como aqueles que acompanham, hard rock/heavy metal não fazem muito meu gênero e dificilmente os elenco em listas depois dos anos 1970. Portanto, não foi com a melhor das disposições que encarei um dos álbuns mais elogiados da banda no século 21. Não possuo muita bagagem para falar da carreira recente, mas este álbum carregado de temáticas futuristas tem bons momentos que capricham na distorção dos riffs e até outros que arriscam mais, como nas aspirações sinfônicas do encerramento, "Humanity".
Christiano: Depois de lançar Eye II Eye (1999), talvez a maior bomba de sua carreira, o Scorpions tentou retomar seu hard rock tradicional com Ubreakable (2004), um disco razoável. Em Humanity: Hour 1, tentaram fazer um álbum mais sério, com um clima mais pesado, o que já pode ser percebido pela própria capa. O resultado final foi muito satisfatório. Conseguiram soar mais modernos, explorando guitarras com afinações mais baixas e riffs densos. Talvez o melhor que gravaram após Savage Amusement (1988). Embora seja um bom disco, não acho justo que ocupe o primeiro lugar na lista desse ano, que teve outros álbuns bem melhores.
Davi: Grande trabalho do Scorpions. Conseguiram unir o peso do (bom) Unbreakable com a modernidade do (fraquérrimo) Eye II Eye, só que sem deixar de ser o Scorpions. O repertório é fortíssimo, com faixas absolutamente memoráveis como “The Game of Life” e “321”, sem contar a balada rocker “Humanity”, uma canção que tem de tudo para ser tratada como um clássico da banda daqui a alguns anos. Alguns de seus fãs já a encaram assim...
Diego: Lembro-me de quando vim pra Polônia, minha mulher tinha este CD na coleção dela. Demorei um bom tempo pra finalmente ouvir porque, pra mim, o Scorpions não merece muito respeito. A banda, desde o começo, mira no que der dinheiro. Eu admito que gosto, e muito, da fase 75-78. Mas o Scorpions pra mim é a famosa "banda puta". No começo fazia prog, aí, de repente, virou hard rock. Quando o heavy metal começou a ficar popular, lá foram eles fazer a mesma coisa. Quando o heavy metal deixou de ser popular, lá foram eles pro hard rock/AOR pra tocar na rádio e encheram seus discos de baladas. Quando o rock alternativo era a bola da vez, lá foram eles encher o som desses elementos. Quando não tinham mais pra onde ir, gravaram um disco pop. Quando estava na moda gravar com orquestras, eles também gravaram. Quando estava na moda gravar acústico, eles também fizeram. Quando o nu metal era a bola da vez... Lá estavam eles com Humanity: Hour 1, cheio desses elementos. Não me entendam mal, eu aceito e concordo com bandas que se reciclam e que trazem novas sonoridades para seus discos, mas o Scorpions não faz isso, o Scorpions simplesmente anda na moda e pra mim moda e o mundo pop andam de mãos dadas. Colocar este disco em uma lista de melhores do ano é simplesmente inaceitável. Completamente insosso. Mas, na lista passada, tivemos Evanescence, não foi mesmo?
Diogo: Muitos vão questionar o fato do Scorpions não ter aparecido por aqui com seus ótimos álbuns lançados na década de 1970, mas vamos combinar: a concorrência era muito forte. Prefiro me concentrar no porquê de Humanity: Hour 1 aparecer por aqui. Primeiro: ao menos pra mim, poucos discos surgiram como candidatos óbvios ao protagonismo nesta edição. O único no qual eu acreditei um pouco, The Blackening (Machine Head), sequer chegou entre os dez mais. Segundo: Humanity: Hour 1 foi uma surpresa positiva após uma sequência de discos no máximo medianos que já durava mais que dez anos. Não o suficiente para ocupar este primeiro lugar, mas é um álbum agradável de se ouvir, aliando o hard tradicional do Scorpions pós-Lovedrive (1978) a uma sonoridade mais moderna, algo compreensível ao ver James Michael na produção, fazendo algo que já coloca em prática no Sixx:A.M., que infelizmente não deu as caras por aqui. Esqueça o papo de disco conceitual, o que vale em Humanity: Hour 1 são as composições. Pouco me importa se há compositores externos ao grupo, o que importa pra mim é que canções como "Hour 1", "We Were Born to Fly", "321" e "Humanity" são boas de ouvir e bem superiores ao que a banda vinha fazendo nos discos anteriores. Não chegou a entrar no meu top 10 e não acho que deveria ocupar posição tão alta, mas considerando as condições que se apresentam, até que não faz tão feio assim.
Fernando: Prevejo milhares de protestos em relação a este primeiro lugar. Acredito que ninguém acredita que este é realmente o melhor disco de 2007, mas, pelo jeito todos gostam um pouquinho dele e o álbum deve ter entrado por estar presente em várias listas e não porque alguém o colocou em primeiro lugar e bombou sua pontuação. Eu já escrevi a seu respeito, mas a matéria foi deletada pelo Uol Host. Na discografia comentada do grupo, porém, fiz um resumo do que havia escrito e o leitor pode encontrá-lo aqui. Entendo que se trata de um lançamento esquecido dos alemães. Possui faixas bem legais em que se destacam as melodias criadas junto a Desmond Child.
João Renato: Confesso ter ficado muito surpreso com este disco no topo. Mais até do que alguns que não se encaixariam no mote principal da página. Considero-o um álbum genérico, uma tentativa de fazer soar moderna uma banda que já deu o que tinha para dar faz tempo. Tipo “aquele vovô garoto que vai pra balada super modernérrima tentar se enturmar com a moçada”. Porém, mesmo tentando se adaptar, ainda soa deslocado.
Leonardo: Depois de uma sequência de discos esquecíveis, o Scorpions tentou uma volta à sua sonoridade com Unbreakable, em 2004, um disco agradável, mas longe de ser um clássico. E quando ninguém esperava mais nada de muito relevante, o grupo alemão lançou o interessante Humanity: Hour 1. Mais pesado que seu antecessor, com uma produção mais moderna e com músicas mais marcantes, o álbum mostrou que o Scorpions podia competir no mercado heavy metal do novo milênio. Destaque para a faixa-título e para "The Future Never Dies".
Mairon: Sério que um disco recente do Scorpions entrou em primeiro lugar, e nenhum da melhor fase da banda (com Uli Roth) entrou? Nunca entendi o porquê disso, mas vamos ao primeiro colocado então. Com a ideia de criar um álbum conceitual, o Scorpions fez um disco que surpreendeu no seu lançamento por ser bastante pesado para os padrões alemães (será que conquistou o primeiro lugar por isso?), como atesta logo de cara o riff de "Hour I", a potência de "We Were Born to Fly", o grude de "321" e a quebradora de pescoço "The Cross", que, das pesadas, é a melhor disparado. Poucos são os momentos que lembram o Scorpions dos anos 1980 ("The Game of Life", a baladinha "Love Will Keep Us Alive" e o ritmo suave de "Your Last Song"), mostrando que o grupo estava a fim de fazer algo diferente, o que se comprova no investimento do piano para harmonizar a estilosa "The Future Never Dies" e o capricho na composição de "You're Lovin' Me to Death" e "Love Is War", com elementos acústicos misturados aos elementos elétricos. Os melhores momentos ficam por conta de "We Will Rise Again" e de "Humanity", esta última uma balada que entrou para o coração dos fãs no mesmo patamar de clássicos como "Still Loving You" e "Wind of Change". É um bom álbum, talvez o melhor do Scorpions em muito tempo (desde Crazy World), mas não para a primeira posição de 2007, se bem que, com o resultado final desta lista apresentada para vocês, o disco pelo menos é bom, perto de cinco ou seis que entraram aqui.
Ulisses: Eu não conheço bem o Scorpions pós-anos 1980, mas isso é erro meu mesmo. Humanity: Hour 1 está aí para mostrar que, mesmo com mais de três décadas de existência, a banda tinha fôlego para criar bons registros. Mesmo a temática meio esquisita para o quinteto alemão (humanos versus robôs, quem diria?) não tira o mérito das músicas, pesadas e acessíveis. Analisando a lista final de 2007, vê-se que o primeiro lugar não chega a ser um exagero.
Richie Kotzen - Go Faster/Return of the Mother Head's Family Reunion (58 pontos)
Alexandre: Richie é um dos grandes músicos cujo talento não ultrapassou as fronteiras de um público mais especializado. O que é uma pena, pois além de um virtuoso das guitarras, com um estilo muito próprio de tocar, é também um excelente compositor. Considero este Go Faster (ou Return of the Mother Head’s Family Reunion) mais um bom exemplo de trabalho que alia boas composições a um instrumental de muita qualidade. As faixas "Feed My Head" e "Fooled Again" se destacam nesse sentido, pois tem solos simplesmente espetaculares dentro das melhores canções do álbum. "Can You Feel It" me lembra "Hot for Teacher", do espetacular álbum 1984, do Van Halen, com boa participação de toda a banda. E "Faith" se destaca na parte final do álbum como uma bela balada com acento blues. Uma correta e justa opção para 2007, que me passou em branco. Parabéns aos consultores que o citaram.
Alissön: Se você gosta de hard rock menos pomposo e bem trabalho, não há motivos para você não conferir este trabalho. Para mim, não me incomodou, como grande parte de outros discos de hard rock que deram as caras por aqui. Mas as comparações entre a voz de Kotzen e a de David Coverdale me tiraram da audição em vários momentos. Mas, ainda assim, reafirmo: se gosta de hard rock, vá fundo. Não irá se decepcionar.
André: Lembro quando ouvi Mother Head's Family Reunion, lá na edição dedicada a 1994, e o quanto eu havia gostado daquele disco. Depois veio Get Up (2004) e minha consideração pelo norte-americano só aumentou. Vim com grandes expectativas para este que, teoricamente, seria a sequência do grande álbum de 1994. Escuto canções insossas, produção modernosa, teclados deslocados. Cadê aquele hard rock blueseiro, soulzeiro e funkeado de antigamente? Escuto "You're Crazy" e a sensação de uma breguice à la Bon Jovi me veio à mente. Por favor, me digam que os álbuns seguintes dele não são como este. Aguardo a resposta lá embaixo, nos comentários.
Bernardo: Não entendo a idolatria que nutrem por esse sujeito, sinceramente. Com o título apelando a um clássico de sua discografia, já ouvi achando que seria um repeteco, e é, só que piorado, nem o fantasma do que o disco de 1994 é.
Christiano: Esse cara grava muitos discos. Isso poderia ser um problema, mas não é. Mais uma vez, temos um belo trabalho. Hard rock com pitadas de blues, vocais muito bons, ótima banda e composições agradáveis. Claro que não existem grandes inovações, mas o cara faz o de sempre, e muito bem. Percebi uma pegada um pouco mais pop neste álbum, o que não atrapalho o resultado final. Bom disco.
Davi: Ótimo álbum do mestre Richie Kotzen. Depois de muito tempo gravando como artista solo, voltava a trabalhar com uma banda por trás. O músico entrega, mais uma vez, uma inspirada mistura entre hard rock, blues e soul. “Go Faster” é simplesmente contagiante. “Faith” comprova, uma vez mais, sua habilidade para compor bonitas baladas. “Can You Feel It” traz um ar de ZZ Top na levada dos versos e, principalmente, na introdução. Não falta o ar de jam que tanto gosta. Grande guitarrista, grande compositor, grande cantor e grande álbum.
Diego: Richie Kotzen é um daqueles caras sobre o qual todo mundo baba. Tudo que eu sei é que ele tem uma longa carreira solo, que participou do Poison entre 1991 e 1993, do Mr. Big entre 1999 e 2002 e atualmente toca no The Winery Dogs junto com Mike Portnoy e Billy Sheehan. Ouvi o primeiro disco do The Winery Dogs e não fiquei tão impressionado. Já para a carreira solo de Kotzen nunca dei bola. Mas eis que o disco apareceu aqui na lista, então fui visitar o todo babado Richie. Começa o disco, primeira pergunta na cabeça: "É o Chris Cornell cantando?" O Deezer não tem ficha técnica, então lá vou eu pra Wikipedia... Não, é o Kotzen. Esse "pequeno" detalhe ganha e perde pontos comigo ao mesmo tempo. Chris Cornell é um dos melhores vocalistas de todos os tempos. E, apesar de eu não gostar muito do material das bandas em que ele esteve ou de sua carreira solo, voz ele tem, então pontos o Kotzen ganha. Mas, ao mesmo tempo, perde os pontos que ganhou porque, no final do disco, eu ainda acho que estou ouvindo um disco do Chris Cornell... Musicalmente falando, Return of the Mother Head’s Family Reunion é um baita disco, cheio de faixas ótimas e acho que merece o lugar na lista. Mas a voz...
Diogo: Como grande fã de Kotzen, acho curioso o fato de que seus ótimos discos que apareceram aqui recentemente (Get Up, de 2004, e Go Faster) são imediatamente precedidos por álbuns ainda melhores que não deram as caras por aqui (Change, de 2003, e Into the Black, de 2006). Isso não diminui a qualidade deste disco, que dá sequência ao estilo funkeado e cheio de blues do rock que Kotzen havia praticado em outros lançamentos. Diria, inclusive, que Go Faster representa a sonoridade setentista que o inspirou, mas dentro da contemporaneidade, com produção condizente, muita personalidade e nada daquela forçação nos timbres para soar "de época". Desde a citação melódica à canção que dá nome a Mother Head's Family Reunion em "Go Faster" a "Drift", presente apenas na versão europeia, os fãs não terão o que reclamar, nem aqueles que gostam de um rock bem tocado e com muito swing. Os detratores vão continuar odiando baladas como "Chase It" e a magnífica "Faith", uma especialidade de Kotzen, assim como vão ignorar a genialidade de "Fooled Again", uma das melhores canções de sua carreira, uma mistura do Stevie Wonder setentista com Jimi Hendrix. Algumas de suas canções mais sacolejantes dão as caras em Go Faster, como "You Know That", enquanto seu lado mais moderno aparece em "Dust", "Do It to Yourself" e na maravilhosa "You're Crazy". Como citei antes: não é seu melhor álbum, mas diria que está no top 5.
Fernando: Sei que esse é considerado o melhor álbum da carreira solo de Kotzen. Porém, estou um pouco enjoado de ouvir o cara. Mesmo com uma certa má vontade, contudo, é impossível não notar que o cara acerta a mão quase sempre.
João Renato: Um pouco abaixo do anterior, o melancólico Into the Black. De qualquer modo, canções como “Fooled Again” e “Faith” mostram a categoria de sempre. Fico com os dois pés atrás em relação a esses resgates de títulos históricos. Como quase sempre, a continuação fica abaixo. Aqui não é diferente.
Leonardo: Disco espetacular do guitarrista. Hard rock setentista com alma negra e inspiração clara nas Marks III e IV do Deep Purple e nos primeiros álbums do Whitesnake. Corra e escute agora se você ainda não conhece.
Mairon: O queridinho de Mr. B novamente na série, que novidade... Neste álbum, Kotzen não lança canções instrumentais, colocando sua voz em todas as faixas, e quando vai para a guitarra, mostra excesso de virtuosismo = exibicionismo. Mesmo acompanhado de uma banda competente, ele traz um som moderno e identificado com os anos 2000. Em geral, as faixas são simples, e foi difícil aguentar a choradeira de "You're Crazy" e a enrolação de "Fooled Again". Além disso, cada vez mais me convenço de que o estilo gritado de cantar de Kotzen não é para mim. Desnecessário me fazerem ouvir as melosas "Faith" e "Chase It" (essas eu pulei). É um disco mais do mesmo, que não me trouxe nenhuma sensação, a não ser a de que tive uma hora de tempo perdido.
Ulisses: Como se o petardo hendrixeano "Fooled Again" já não valesse pelo disco inteiro, o cara entrega mais um CD sem escorregões, com pedradas do nível de "Can You Feel It" e "You Know That". Notável como o cara une blues, funk e rock virtuoso tão bem.
Rush - Snakes & Arrows (51 pontos)
Alexandre: O segundo disco da banda após o hiato causado pelos problemas pessoais de Neil Peart é, no meu entender, melhor que o anterior, mas perdeu o ar de novidade da volta na época do Vapor Trails (2002), e talvez por isso é menos considerado. Acho que o grande ganho está nas opções de Alex Lifeson por guitarras menos modernosas e o uso de violões em boa parte das canções. O começo do disco, no entanto, exceto pela ótima "Far Cry", é meio complicado pra mim. Ele só engata de verdade em "Spindrift", mais pesada e cadenciada. Faltou um belo solo na canção, ela bem merecia. Outra faixa que destaco é "The Way the Wind Blows", que mescla trechos calcados em blues e outros com bela harmonia conduzida por violões de 12 cordas. Alex faz bonito em uma das três belas instrumentais do álbum, "Hope", linda peça acústica. Outra faixa forte é "Faithless", com um lindo solo de Lifeson. É até desnecessário dissertar sobre a categoria dos três canadenses, mas o que eles fazem nas outras duas instrumentais, "The Main Monkey Business", e, principalmente, em "Malignant Narcissism", é de cair o queixo. O disco termina em ótimo estilo, com os vocais dobrados de Geddy Lee no refrão de "We Hold On". Ótima escolha para 2007.
Alissön: Novamente a banda erra a mão na duração do disco. Umas quatro ou cinco faixas a menos fariam um bem imenso à apreciação geral do conjunto da obra. Por outro lado, souberam moderar bastante o equilíbrio entre o uso de tempos complexos e técnica com melodias sóbrias e faixas hard rock mais básicas (lembrando que, nessa época, classificar a banda como rock progressivo já não fazia mais tanto sentido assim). Outro ponto positivo é a ótima ambientação e o clima mais obscuro que permeia o álbum como um todo, criando uma unidade muito interessante de se enveredar. O trabalho de produção é sofrível por jogar o volume no talo, mas dá para relevar.
André: O Rush lançou Counterparts (1993) como seu último álbum de grande relevância. Após isso, a banda jogou na segurança e lançou discos bons, embora não considere nenhum de grande destaque. Snakes & Arrows é isso, um punhado de boas canções que proporcionam uma audição agradável. Há muito violão, teclados discretos e, no geral, uma aura mais introspectiva por parte das composições. É aquele disco seguro de uma banda veterana que não precisa provar nada a mais ninguém. Ouça e viaje nas canções.
Bernardo: Respeito o Rush, mas à medida que os anos foram passado, suas músicas e álbuns pararam de dizer qualquer coisa pra mim.
Christiano: Depois de Vapor Trails, que deixou muito a desejar, principalmente pela produção suja e desleixada, o Rush chamou o produtor Nick Raskulinecz, que fez um ótimo trabalho, deixando o som de Snakes & Arrows bastante limpo e agradável. Neste álbum, Geddy Lee conseguiu fazer um trabalho vocal diferenciado, gravando vários backings, que enriqueceram muito as músicas. No geral, Snakes & Arrows é um trabalho bastante melódico, até meio pop. E não pensem que isso é uma característica ruim. Muito pelo contrário. Faixas como “Bravest Face” e “The Main Monkey Business” mostram um Rush inspirado, diferente e muito criativo, como sempre. Considero-o um dos pontos altos da longa discografia da banda.
Davi: Tem bandas que não decepcionam nunca. O Rush é uma delas. Até quando é ruim, é bom. Aqui, eles corrigiram alguns "erros" de Vapor Trails. Alex Lifeson voltou a solar, a bateria de Neil Peart está melhor timbrada, assim como as guitarras. Continuaram a não explorar os sintetizadores. Musicalmente, não tem muito o que falar dos caras. Três gênios. Qualidade das composições? Altíssima. Escute “Far Cry”, “Workin' Them Angels”, “The Main Monkey Business” e “Faithless” e tire suas conclusões.
Diego: Acredito que todos que me conhecem sabiam que este disco estaria na minha lista. Foram cinco anos entre o complicado e confuso disco de retorno, Vapor Trails, e Snakes & Arrows. Comprei o álbum assim que saiu e ainda hoje volto pra ele diversas vezes. Bom saber que, mesmo depois de mais de 30 anos, o trio canadense ainda tinha lenha pra queimar. As guitarras mais pesadas em certas partes, herança do disco anterior, estão bem presentes, Geddy volta a tocar algumas partes com os teclados, mesmo que ainda tímido, e o mais importante, as composições são de alto nível. "Far Cry" já é clássica, outras como "Workin’ Them Angels", "The Larger Bowl", "The Main Monkey Business" e "Malignant Narcissism" e sua magnífica linha de baixo fazem com que o álbum não pare do começo ao fim. Sem contar que há tempos o Rush não tinha tanto instrumental em um disco, são três faixas. Pra completar, a arte de capa é de altíssima qualidade. Hugh Syme, que trabalha com a banda desde 1975, fez um trabalho genial em suas ilustrações.
Diogo: Dizer que a produção de Snakes & Arrows é melhor que a de Vapor Trails é pouco, afinal, seu antecessor tem nisso um enorme defeito. Trata-se de um álbum superior, no qual a dinâmica entre guitarras e violões é um grande destaque, dono de composições mais bem resolvidas, mas ainda abaixo daquilo que o Rush costumava ser capaz de fazer. Falta o brilho daquele trio que fazia queixos caírem com a facilidade em aliar técnica exuberante a canções irresistíveis, coisa que aconteceu por último na época de Counterparts, em músicas como "Stick It Out" e "Nobody's Hero". A banda até chega próximo a isso em "Far Cry" e empolga bastante em faixas como "Spindrift", "The Main Monkey Business" e "Malignant Narcissism", e enfatizo que Alex Lifeson está em excelente forma, sendo, como em todos os álbuns desde Counterparts, o destaque maior. Quem estiver lendo isso aqui é capaz de pensar que eu considero o disco meia boca, mas não se engane: trata-se de um bom álbum do Rush. Mas que fica a expectativa de algo melhor em se tratando desses caras, sempre fica.
Fernando: Se Vapor Trails entrou, era quase certo que Snakes & Arrows também entraria. Não dá para acreditar que já se passaram quase dez anos desde seu lançamento. Parece que foi ontem que o comprei e ouvi-o três vezes antes de colocá-lo na prateleira com a coleção. Porém, admito que depois disso o ouvi cerca de cinco ou seis vezes novamente. Depois de sua volta, em 2002, o Rush atacou com um rock mais direto, quase que revisitando a fase dos dois primeiros álbuns, antes de partir para o progressivo. Se falta o sentimento de novidade sobra talento e bom gosto.
João Renato: Um bom disco do Rush. À época, curti, mas não achei memorável. Escutei novamente e tive a mesma sensação. De qualquer modo, não tira o mérito do trio. Especialmente porque consertaram alguns problemas do anterior, Vapor Trails. Para completar coleção, valorizando investimento.
Leonardo: É difícil o Rush lançar um disco ruim. Alguns são melhores, outros nem tanto, mas geralmente a qualidade do trio canadense aparece em todos os seus lançamentos. Snakes & Arrows é superior ao seu antecessor, Vapor Trails, com uma produção mais vigorosa e composições mais marcantes.
Mairon: Passados cinco anos de Vapor Trails, a expectativa dos fãs dos canadenses para seu 19º lançamento era muito grande em 2007, e Snakes & Arrows não decepcionou. Seguindo a linha de seu sucessor, o álbum traz um som encorpado e pesado, como nos riffs de guitarra da hoje clássica "Far Cry". Gosto bastante das misturas acústicas/elétricas na pesada "Armor and Sword", na enigmática "The Larger Bowl (A Pantoum)" e na versátil "Bravest Face", alterando momentos leves com outros pesados. "Workin' Them Angels" e "Good News First" nos remetem aos covers que o grupo registrou em Feedback (2004), mas também carregadas de peso, méritos de Alex Lifeson, responsável por criar um solo memorável na simpática "The Way The Wind Blows" e dar ritmo para a empolgante "Hold On". Para mim, aliás, Lifeson é o principal nome do grupo pós-Roll the Bones (1991). O que o cara está tocando não é pouco, principalmente nas faixas instrumentais: a sensacional "Monkey Business", com seu jeitão inicial de anos 1980 por conta dos teclados e da percussão, mas que na verdade é uma das pepitas de ouro deste belo álbum, a emocionante "Hope", levada apenas pelo violão, e a brilhante "Malignant Narcissism", que foi indicada ao prêmio Grammy de melhor canção instrumental de 2007. Alguns podem alegar que "Spindrift" e "Faithless" são desnecessárias, mas, apesar de achar que são faixas menores no álbum, não há como ouvir Snakes & Arrows sem ter a passagem delas pelas caixas de som. Claro que a voz de Geddy Lee já mostra sinais de cansaço – que agora estão cada vez piores – mas, mesmo assim, apoiado na sempre precisa bateria de Neil Peart e tocando baixo extraordinariamente ao lado de um Lifeson inspiradíssimo, não tinha como dar errado. Que bom que entrou.
Ulisses: Seguindo a pegada mais roqueira na qual o trio investe desde os anos 1990, Snakes & Arrows não é lá muito impressionante, mas tem seus méritos. Em especial as três ótimas faixas instrumentais ("The Main Monkey Business", "Hope" e "Malignant Narcissism") e as empolgantes "Far Cry" e "We Hold On". O álbum tem um certo trabalho acústico permeando as composições, resultado da influência de um encontro entre Alex Lifeson e David Gilmour, sendo este mencionado no encarte do álbum por isso. Esse estilo de composição, unido a uma boa mixagem, fazem do disco uma audição menos enfadonha do que seu antecessor (Vapor Trails). No geral, é pouco para um ano foda como 2007, mas dá para se divertir com uma boa parte do tracklist.
Robert Plant & Alison Krauss - Raising Sand (47 pontos)
Alexandre: Parece-me muito mais uma adaptação de Plant ao gênero musical proposto pela bela cantora Alison Krauss do que o inverso. Ainda que Robert tenha influências consideráveis e inserções no country e afins desde os tempos áureos no Led Zeppelin (como na maravilhosa faixa "Going to California", do histórico Led IV, de 1971), não me lembro de uma busca tão profunda nesse caminho no seu passado. Mas não é que a inusitada dupla deu certo? Os vocais estão muito bem encaixados e fazem bonito durante boa parte do álbum, em especial na primeira metade. E servem para Robert retomar a linda "The Battle of Evermore" (também de IV) em momentos em que a dupla se apresentou ao vivo. As versões da canção com Alison fazem justiça àquela gravada pelo Zeppelin. Ouso dizer que é a melhor coisa até então inédita que ouvi de Plant desde o fim do Zeppelin, exceto por uma ou outra faixa de Now and Zen (1988) e de Fate of Nations (1993). A versão de "Please Read the Letter" é superior à original do famigerado álbum Walking into Clarksdale (1998), mas, de fato, isso não quer dizer muita coisa, pois ainda assim a achei desnecessária. Boa parte do restante do álbum, apesar de ser um pouco lento demais para o meu gosto, funciona melhor. Destaco os momentos em que os vocais fazem belas harmonias em conjunto, como em "Killing the Blues" e "Your Long Journey".
Alissön: Belíssimo. Arranjos magistrais, clima introspectivo e acolhedor, produção matadora e as vozes únicas de Robert Plant e Alison Krauss em duetos e complementos melódicos agradabilíssimos. É um disco de covers? É. Mas também, foda-se. O que importa é que isso é bom e ponto.
André: Em uma antiga edição sa seção Consultoria Recomenda abordando duetos vocais entre homens e mulheres (jantado pelo Uol Host), o Mairon recomendou este disco (e obviamente deve ter votado nele). Na época, eu lembro que o achei no máximo mediano, e que Alison possui um desempenho muito superior ao do zeppeliano. Minha impressão não mudou muito nessa nova ouvida. Continua médio e a idade derrubou legal a voz de Plant, ao menos neste trabalho. Audível, mas são poucos os momentos em que o considero bacana. Todavia, posso dizer que me interessei mais em conhecer outros discos da Alison (não o Caetano, esse qualquer coisa que inventar de cantar vou descer o relho!).
Bernardo: Plant une forças com a cantora de bluegrass Alisson Krauss e o resultado é um disco que representa com força aquilo que críticos de fora batizaram de "Americana", um caldeirão de folk, blues, country e rock, repartindo regravações e composições originais. Entre os regravados, nomes clássicos como The Everly Brothers e Gene Clark, mas o que me chamou atenção foi a regravação de "Nothin'", de Townes Van Zandt, um gênio esquecido do folk.
Christiano: Com o tempo, a voz do sr. Plant mudou muito, mas o talento permaneceu intacto. Quem estava acostumado com seus gritos e exageros no Led Zeppelin, poderá ter uma surpresa ao escutar Raising Sand. Um disco bonito. São músicas tranquilas, contemplativas, acompanhadas pela bela voz Alison Krauss, que fez um trabalho digno de deixar Sandy Denny com ciúmes. Isso é muita coisa. Grande álbum, de ponta a ponta. Talvez o melhor da carreira solo de Plant.
Davi: Robert Plant é e sempre foi um dos meus heróis na música. Amo o Led Zeppelin e gosto muito de seus primeiros álbuns solo. Com Alison Krauss nunca tive uma enorme aproximação, mas sempre a considerei simpática. Agora... Este disco, infelizmente, nunca fez minha cabeça. Sorry!
Diego: Um disco de covers na lista de melhores do ano... Isso só me diz o quanto o pessoal votante está desatento no que anda ouvindo. Ganhou cinco prêmios Grammy, bicho papão do ano. Ganhou disco de platina nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Suécia. Vendeu mais de 2 milhões de cópias ao redor do mundo (fato incrível pra 2007). O disco foi tão bem que em 2009 eles até tentaram um segundo, mas, de acordo com Plant, não deu muito certo e acabou não acontecendo. De boa? Melhor assim, é ótimo ouvir Plant ainda na ativa e não se rendendo ao dinheiro fácil que seria uma volta definitiva do Led Zeppelin. Na verdade, é ótimo ver a galera dos anos 1970 ainda na ativa, com música nova (tal qual Brian May anda fazendo com Kerry Ellis). Mas a verdade, no final das contas, independentemente do sucesso comercial (que todos já sabemos, não quer dizer qualidade), a verdade é uma só... Disco chato do cacete. Quero-ser-country-mamãe-pra- ganhar-um-público-novo, hein, senhor Plant? Não, obrigado. Próximo!
Diogo: Raising Sand é a mais pura sutileza em forma de música. O repertório é bem escolhido e é muito bom ver artistas com força no mainstream fazendo covers de clássicos de Gene Clark e Townes Van Zandt, dois músicos de talento enorme que acabaram caindo no ostracismo ao final de suas carreiras. As versões são tão boas quanto? Não, assim como Raising Sand não é nenhuma novidade se comparado com So Rebellious a Lover (1987), lançado justamente por Gene Clark ao lado de Carla Olson, mas isso não diminui a qualidade do álbum. Na verdade, Alison destaca-se mais que Plant, que provavelmente conscientizou-se que seus tempos de gemidos orgásmicos já passou há tempos, trabalhando de maneira mais complementar do que como um protagonista. De qualquer maneira, é bom mencionar: apesar da qualidade, muito do sucesso deste disco deve-se à fama prévia de Plant. Não deixe de ouvir o que caras como Gene Clark fizeram ao misturar o rock e o country de maneira sutil e inteligente, não apenas ao lado de Carla Olson, mas especialmente em seu álbum No Other (1974), que cada vez mais cresce em meu conceito e confirma ser um dos melhores lançamentos da década de 1970. Fica como lição de casa: ouçam ao menos a faixa "Strenght of Srings". Quem tem o mínimo de bom senso não vai se arrepender.
Fernando: É fácil se enganar com este disco. Se fosse comentar com apenas uma ouvida, certamente diria maravilhas, pois tudo é certinho. A voz suave da garota, a ainda bela voz de Plant, apesar de comedida, a que ele consegue fazer nesses últimos anos, produção impecável etc. Porém, é um disco que não nos traz vontade de ouvir outras vezes. Sei lá. Parece que estão querendo me enganar.
João Renato: Há tempos Robert Plant reconheceu as limitações do tempo e resolveu não pagar mico se esgoelando. E o melhor, soube adaptar a nova realidade à música em alto nível. Entre o que fez de melhor, este álbum é destaque. Alison colabora, com uma performance sublime, sabendo impor seu espaço diante de uma lenda. Parceria que vale mais que uma conferida atenta.
Leonardo: Independentemente dos intérpretes, o folk rock costuma ser um estilo extremamente cansativo. E nem o talento de Plant e Krauss salva o disco. As melodias, os violões e os arranjos são tão enfadonhos que é difícil chegar ao fim do álbum...
Mairon: Este álbum eu indiquei quando publicamos uma edição da seção "Consultoria Recomenda" abordando duos. Na matéria, perdida no famoso incidente com o Uol Host, eu dizia que era "a surpreendente união de dois estilos totalmente diferentes em um álbum inigualável, com uma sensação de nostalgia, que para os admiradores de 'The Battle of Evermore', com certeza irá trazer boas recordações". Hoje, reafirmo essas palavras, complementando-as através de uma arrepiante audição na qual o casamento vocal de Plant com Alison é inigualável. Quem acha que Plant é o centro das atenções, engana-se feio. Sozinho, ele brilha em "Nothin'", "Fortune Teller" e "Polly Come Home", que tem participação de Alison apenas no refrão. No geral, porém, ele cede espaço para a cantora mostrar seu talento, e apenas coloca mais lenha na fogueira, fazendo vocalizações precisamente encaixadas. Quando Alison fica sozinha, é impossível não se arrepiar com a interpretação de "Trampled Rose", com a doçura musical de "Sister Rosetta Goes Before Us" e com o embalo de "Let Your Loss Be Your Lesson". Releituras de peças como "Stick With Me Baby", "Please Read the Letter", "Killing the Blues" e "Rich Woman" já valem o álbum, mas todas as suas 13 canções são lindas, com destaque para o rockzão à la Elvis de "Gone Gone Gone (Done Moved On)", e o country suave de "Through the Morning Through the Night" e "Your Long Journey". Um atestado de como Plant é capaz de se renovar musicalmente, e mesmo que este álbum tenha exterminado um possível retorno do Zeppelin de chumbo, suas qualidades são tão altas que não tem como não pensar na carreira de Plant sem lembrar do mesmo. Discaço, magnífico e exclusivo. Para admiradores de boa música em geral, é um prato cheio!
Ulisses: Calma, fãs de Zeppelin! O roqueiro deixa seus "baby, baby" de lado e arrisca uma colaboração com a cantora Alison Krauss, formando uma dupla de respeito e que demonstra muita química em Raising Sand, disco que passeia entre blues, folk, country e bluegrass. É impossível não perceber a beleza do álbum e a força das interpretações de ambos os artistas. Sendo assim, a audição será interessante mesmo ao pessoal que não tem apego a esses estilos.
Bruce Springsteen - Magic (40 pontos)*
Alexandre: Não sou fã do cantor, tampouco conheço em profundidade sua carreira. No entanto, até achei uma escolha adequada para 2007, considerando em especial a lista final, este Magic. Do pouco que entendo de Springsteen, e tendo aqui que revisitar um álbum mais recente do cantor, o que me pareceu foi considerar este disco como um que traz as características principais de seu trabalho, com a participação e a marca registrada da E Street Band. O que me incomoda um pouco é o uso do sax, meio básico, meio óbvio, mas isso é algo estritamente pessoal, devo reconhecer. O disco inteiro é bem coeso, quase não há faixas que destoam, podendo citar "Your Own Worst Enemy" (com o quarteto de cordas) e o single "Girls in their Summer Clothes" como as que mais me agradaram inicialmente. No meu pouco conhecimento, achei que Bruce optou por jogar seguro, o que deve certamente ter feito a alegria dos fãs mais assíduos. O resultado, por fim, tem mais prós do que contras, assim considero.
Alissön: Não sei explicar os motivos exatos, mas nunca gostei tanto de Bruce Springsteen. Não acho os discos dele ruins, mas nunca passei do limite de mero apreciador ocasional de sua obra. Magic novamente não provocou uma experiência diferenciada em mim. É bom, padrão, mas nada além disso.
André: Conheço ainda pouco da longa discografia de Springsteen, mas ouvi com atenção e me soou um bom disco. Rock básico, mas agradável. As duas que mais gostei são "I'll Work for Your Love" e a faixa-título. Não me parece ser lá um disco de grande destaque do "Chefe", mas se ouve sem maiores dificuldades.
Bernardo: Aliando maturidade com energia, Springsteen fez em Magic um de seus trabalhos mais consistentes de sua discografia recente. Tem muita coisa boa aqui, mas "Radio Nowhere" é especial. Legítima música de abertura de show, com riff empolgante e uma interpretação cheia de feeling do Boss. Enfim, a banda do Silvio do "Sopranos" é uma das poucas que sabem oferecer um rock de identidade, mas que dificilmente soa mofado ou repetitivo.
Christiano: “Radio Nowhere” poderia estar em um disco do Pearl Jam. “Last to Die” também. “Livin’ in the Future” tem um ótimo trabalho de metais. Nunca é demais elogiar a E Street Band, que acompanha Bruce há muitos anos. “I’ll Work for Your Love” é outro destaque deste que é um disco que não tem momentos ruins. Ótimo exemplo de artista que envelheceu muito bem, conseguindo criar uma sonoridade característica sem soar repetitivo. Magic é um álbum que não soa descolado do seu tempo. Ótima dica.
Davi: Excelente trabalho do The Boss. Mais uma vez acompanhado de sua E Street Band, o cantor entregou um álbum de rock 'n' roll com arranjos bem para cima. Curiosamente, as letras não têm muita alegria. Pelo contrário, expressam seu descontentamento com os EUA naquela época e contam com alta dose de melancolia. Excelente cantor e excelente compositor, como sempre foi, o rapaz entrega uma verdadeira aula de rock 'n' roll. Álbum para se ouvir no talo, do início ao fim.
Diego: Quando me interesso por um artista, geralmente começo a ouvir sua discografia pelo começo e vou indo, disco por disco, até os mais atuais. Não foi diferente com Bruce Springsteen, por isso não tinha conhecimento de Magic. Ao ouvir o álbum me deparei, felizmente, com grandes composições, que se não são o melhor que Springsteen botou no mercado, não devem em nada. Composições de qualidade, Bruce com sua voz intacta e forte e uma banda (a E Street Band junta novamente) competente. Fico feliz que esta lista me tenha mostrado o disco e fico feliz em vê-lo por aqui.
Diogo: Quem conhece a carreira de Bruce Springsteen a fundo sabe que, com exceção de The Rising (2001), o mais fino de sua discografia foi lançado entre 1973 e 1987. Só que um disco "normal" de Springsteen ainda é um álbum muito, mas muito acima da média. Não se deixe enganar pelas melodias praianas das ótimas "Girls in Their Summer Clothes" e "Livin' in the Future", pois o tom do álbum não é de alegria. Escondida sob temas que são pura energia está uma aura de melancolia e desesperança, um estender de mãos em busca de conexão com o mundo e com as pessoas. Não há canção fraca em Magic, e mesmo a faixa-título, a que menos gosto, é dona de uma sutileza cativante. O uso de cordas é uma presença constante que empresta ainda mais beleza a músicas como "Last to Die" e "Devil's Arcade", assim como a harmônica ajuda a construir a tensão de "Gypsy Biker". Isso é arranjo, isso é saber usar os instrumentos a favor das canções e da mensagem que elas buscam transmitir. E nenhuma delas é tão forte quanto "Long Walk Home", na minha opinião o grande clássico instantâneo presente em Magic. Aqueles que simplesmente derem uma breve ouvida podem até pensar que se trata de um álbum de rock sem maiores aspirações, o que é uma pena, pois Magic é riquíssimo em conteúdo.
Fernando: Da mesma forma que o André força nos discos do Nightwish o Diogo força nos do patrão. Conheço bastante superficialmente os discos dele de Tunnel of Love (1987) até The Promise (2010). Wrecking Ball (2012) ouvi mais do que esses e High Hopes (2014) ouvi bastante. Tenho todos os álbuns dele de The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle (1973) até Born in the USA (1984), que são os clássicos, então este me pareceu bastante genérico, talvez não acrescentando muito à discografia que entendo ser essencial. Meu sonho era ter tempo de pegar todos os discos de artistas do porte dele para destrinchar sua discografia. Talvez assim eu daria mais importância aos lançamentos menos aclamados.
João Renato: Um álbum que teve o mérito de estrear em primeiro lugar na Billboard, cair para segundo e recuperar o topo. Em plena era da falência mercadológica. Trazendo um rock enérgico e cheio de críticas sociais. Por todo esse conjunto, The Boss já merece ser exaltado. Além disso, provou sua relevância ímpar após tantos anos.
Leonardo: Confesso que, até começar a participar desta série, pouco conhecia da carreira de Bruce Springsteen. E quanto material legal eu estava perdendo. Magic é um disco com músicas vigorosas, fortes e marcantes. Mesmo em seus momentos mais calmos, há uma energia latente nas melodias e na interpretação do vocalista. Extremamente recomendado para quem curte rock 'n' roll.
Mairon: Comprei este disco na época, embalado por audições de álbuns como Nebraska (1982) e Born in the USA. Que decepção. Passei adiante por metade do preço que paguei, e não me arrependo. Ouvindo novamente hoje, quase dez anos depois, me vem à mente a lembrança de que, na época, o disco foi bastante elogiado, mas esse som "alegre" do Boss não me contagia, honestamente. Ele passa sem deixar nenhuma marca, nem positiva nem negativa, sem ficar um riff na cabeça, uma melodia vocal, nada. É semelhante a tomar uma grande dose de sedativo para fazer uma injeção contra a gripe. Houve discos bem melhores em 2007, só que na lista, a cota bizottiana se superou. Desta vez, dois queridinhos entraram, um pior que o outro ...
Ulisses: Disco trazendo o típico pop rock querido do The Boss, mas sem impacto algum – é um trabalho apenas agradável.
Arcade Fire - Neon Bible (40 pontos)*
Alexandre: É um estilo meio monótono para mim esse tal de alternativo/indie rock. Sempre sinto falta de algo, mas a música não é desagradável aqui especificamente, exceto quando os vocais femininos são os protagonistas, como em "Black Wave/Bad Vibrations", esses sim ruins de doer. São poucos esses momentos no disco, devo ressalvar. A bateria óbvia, às vezes meio tribal, que permeia boa parte do álbum, contribui significativamente para o tédio que inevitavelmente me acomete. O disco cresce um pouco nas duas últimas faixas. A levada principal de "No Cars Go", com baixo e bateria mais à frente, me lembrou o início da carreira do U2, como em "New Year’s Day", e é o que consigo destacar aqui. É muito pouco. Como citei, falta apimentar o som. É como se eu estivesse em uma festa legal e pedisse uma caipirinha, mas o bartender me viesse com uma limonada, alegando não ter vodca. Limonada é legal, mas não é caipirinha, certo? É por aí... Eu passo.
Alissön: Neon Bible é a consagração da sonoridade característica do combo Arcade Fire, uma das bandas mais essenciais e espetaculares desta que vocês ainda insistem em falar que é "a pior época da música". Post-punk sinfônico com arranjos folk e melancolia casando com uma ambientação e produção magníficas. Letras pessoais e a reunião de algumas das interpretações vocais mais sinceras que tive o prazer de ouvir em anos de pesquisa musical. Podem descer o sarrafo à vontade por birra ou por não ter entrado algum disco chato do Dream Theater, do Manowar ou aquele disco que só tem um nome forte estampado na capa, não importa. Só de este álbum estar aqui já é algo a se elogiar.
André: Fazia tempo que não tínhamos um legítimo representante das cotas para indies e alternativos em nossa série. Como quase sempre, a sonoridade me desagrada, mas noto boas qualidades neste trabalho, diferente de outros discos que pintaram em nossas listas, principalmente na década de 1990. Usam muitos instrumentos, o que considero um mérito. "The Well and the Lighthouse" me lembra bons momentos da grande época dos sintetizadores da new wave oitentista. "Black Wave/Bad Vibrations" até soou legal na alternância dos dois vocalistas. Só lamento "My Body Is a Cage", porque eu adoro o som de órgão e este foi porcamente usado em uma canção fraquíssima. Mas para quem não gosta nada de indie, como eu, no geral o disco até desceu melhor do que eu esperava.
Bernardo: Fazer um álbum que mantivesse o nível da estreia, a obra-prima Funeral, é um desafio e tanto. Ainda mantendo a extrema sofisticação em sua música, Neon Bible é ainda mais grandioso, permitindo-se até ser sombrio e perturbador em muitos momentos. Entre os grandes destaques estão "Keep the Car Running", "(Antichrist Television Blues)" e o encerramento com chave de ouro, "My Body Is a Cage", uma das minhas músicas preferidas do grupo. Não há como negar que é uma das grandes bandas do nosso tempo.
Christiano: Nunca fui um grande admirador do Arcade Fire. Confesso que fiquei impressionado quando o comecei a escutar este Neon Bible. Achei que tinha colocado um disco do Echo & the Bunnymen, tipo um álbum de sobras de Ocean Rain (1984). Mas era só um bom disco do Arcade Fire. Talvez o melhor de sua carreira. Admito que não dei a devida atenção quando foi lançado, e reconheço que é um belo trabalho.
Davi: Tenho em casa Funeral (2004) e o Reflektor (2013). Acho a banda interessante, mas nunca consegui enxergá-los como uma banda fenomenal, única, cativante, nem nada disso. Sempre o considerei um grupo competente, mas absolutamente comum. E o sentimento retorna ao ouvir este álbum. O disco, no geral, é bom, bem gravado e tudo mais, mas não consigo considerá-lo um dos grandes lançamentos de 2007. Os melhores momentos, contudo, ficam por conta de “Keep the Car Running”, “Intervention”, “The Well and the Lighthouse” e “No Cars Go”.
Diego: Nunca neguei o fato de que eu não dou bola pra música dos anos 2000 em diante. Super moderna e descolada... Também não é nenhuma novidade o fato de que quando falam demais sobre um certo artista/disco eu perco o interesse em ouvir. Então não é surpresa que eu não tenha ouvido o Arcade Fire. Nunca. Escutando o álbum pra escrever meus comentários, pude perceber que o disco realmente é bom. Pega as influências clássicas do post-punk e o gótico do Joy Division e do The Cure e adiciona o indie pop que os anos 2000 trouxeram ao mundo. Só que não é pra mim.
Diogo: A expectativa não era das maiores, mas não posso negar que o Arcade Fire a superou com facilidade. As referências pós-punk do final dos anos 1970 e do início da década seguinte são muito evidentes e apartam o grupo daquele indie rock modorrento que tanto sucesso fez na década passada e me afastou dos lançamentos da época. New Order, The Smiths, The Cure... Dá pra ouvir isso tudo nas canções do Arcade Fire, mas de uma forma que não soam como mero pastiche. É bom escutar aquele baixo simplezão, alto na mixagem, tomando conta, como em "Keep the Car Running" e "No Cars Go", duas das melhores faixas de Neon Bible. É uma pena, inclusive, ouvir uma música boa como "Black Wave/Bad Vibrations" arruinada pelo vocal feminino. "Antichrist Television Blues" soa como uma estranha fusão entre The Cure e o Bruce Springsteen oitentista. "Windowsill", por sua vez, lembra o U2 de The Unforgettable Fire (1984) e The Joshua Tree (1987). Entre os álbuns que preenchem nossa carinhosamente chamada "cota alternativa", certamente é um dos melhores que já apareceram, isso se não for o melhor.
Fernando: Lembro que ouvi a banda há dez anos, mas nunca mais. Acho que precisaria de mais tempo para absorver esse som claramente influenciado por Joy Division e Nick Cave. Porém, pelo pouco que li sobre o grupo, os fãs se preocupam mais com a temática das letras do que com a música em si.
João Renato: O Fogo No Fliperama não é tão pedante quanto alguns dos seus colegas de geração. Porém, ainda o considero muito “cabeça” pro meu gosto. Consigo ouvir de boa até a terceira faixa. Depois canso.
Leonardo: Na boa, esse indie rock introspectivo, meio deprê, não é para mim. Ainda que haja uma ou outra música mais animada, não me empolga. Na terceira faixa eu já estava pensando em suicídio. Em tempos de setembro amarelo, é melhor ouvir outra coisa.
Mairon: Voltamos aos anos 1980? Belo disco, muito bem trabalhado, com um ótimo vocal e ritmos datados, mas que agradaram e muito aos meus ouvidos. Foi com alegria que curti "Keep the Car Running". Os canadenses constroem boas composições, destacando-se a presença do órgão nas belas "My Body is a Cage" e "Intervention", o ritmo embalado dos violões "simplemindianos" de "(Antichrist Television Blues)" e os bons tempos da primeira fase do U2 em "No Cars Go", na qual o acordeão é soberano. Faixas como "Black Mirror", "Neon Bible", "Ocean of Noise" e "Windowsill" representam aquilo que o indie rock mais me traz de prazer em ouvi-lo, que é a agonia, a sombriedade, retiradas de influências do mais profundo gótico do The Cure e bandas do gênero. Destaque negativo apenas para "Black Wave/Bad Vibrations", pois acho que o vocal feminino não casou bem com a melodia musical. Surpresa total ver um disco desse estilo entre os dez mais, e fico curioso em saber quais foram os consultores que o elegeram. Boa!
Ulisses: Eu já ouvia falar bastante do Arcade Fire por conta de Funeral (2004), considerado por muitos um dos melhores álbuns da década, e desde lá eu tento entender o que essa banda tem de mais e que só eu não enxergo. Acho interessante a sobreposição de camadas sonoras através do uso de vários instrumentos musicais e o aspecto meio grandioso (porém ainda inegavelmente indie) dos arranjos, mas daí pra frente a banda não me diz nada. Do tracklist, gostei mais de "Keep the Car Running", "Intervention" e "Windowsill", mas nada que realmente desperte um mínimo de afeição da mesma forma que "No Cars Go", esta sim uma composição que eu poderia chamar de cativante.
Nightwish - Dark Passion Play (39 pontos)
Alexandre: Aqui vemos o Nightwish na principal encruzilhada de sua carreira, tendo que mostrar serviço após a saída de sua estrela inconteste, Tarja Turunen. Acho que a banda conseguiu inicialmente não só encontrar uma substituta capaz de manter seu status e reconhecimento junto ao público, mas entregar um álbum consistente e apontando também na direção de um caminho mais acessível, algo que se notava pelo menos desde o hit "Nemo", do álbum anterior, e que aqui continua em faixas como "Eva", "Amaranth" e "Bye Bye Beautiful". Essa última é uma espécie de lavação de roupa suja em público, mas no meu entendimento foi estrategicamente concebida para trazer mais polêmica e repercussão como consequência para o grupo. A escolha por Anette Olzon inicialmente se mostrou bem aceita pelos fãs, mas o vocal mais suave, que praticamente abandonou os tons operísticos da fase anterior, e definitivamente menos potente da vocalista seria um problema mais à frente, em face da dificuldade da moça em manter o vocal em bom nível nas desgastantes turnês subsequentes. Além da busca de músicas mais diretas (visando algo no mercado norte-americano, talvez na esteira do Evanescence), também vejo aqui momentos do tal estilo symphonic metal, como a faixa inicial, "The Poet and the Pendulum", e uma mistura com sons evocados da cultura natal da banda, usados, por exemplo, na instrumental "Last of the Wilds" e na acústica "The Islander". Boa escolha para 2007.
Alissön: Nem arrisque a sorte se chegou até aqui e não gostou das outras coisas da banda que deram o ar da desgraça nesta série. Continua tudo galhofa, pseudo-obscuro/emocional, mas com certos trejeitos mais acessíveis e uma timbragem de guitarras que pode lembrar alguma coisa de nu metal.
André: Lá vai a minha parede de texto e possivelmente o maior comentário meu desde que comecei a participar desta série. Este é o meu disco favorito de todos os tempos. Já era fã da banda e, quando lançaram este álbum, no alto de meus 21 anos, a minha cabeça pirou. Ao escutar toda a magia, os corais, aquela atmosfera angustiante de "The Poet and the Pendulum", já sabia que minha visão para a música seria totalmente diferente a partir daquele momento. Nunca havia escutado algo que parecesse tão belo, tão bonito, tão agradável aos meus ouvidos. Diferente de muitos fãs curiosos, evitei o single "Eva" e só conheci a voz da então novata Anette Olzon com o CD em mãos. Aquela voz era diferente do que eu estava acostumado com Tarja, mas me soava plenamente de acordo com tudo o que a banda se propôs a soar neste disco. Os longos minutos da primeira canção iam avançando e eu somente me sentia mais maravilhado. Tinha aura épica, tinha peso, tinha melancolia, e tinha paz, tudo na mesma música. Aí então veio a sequência com "Bye Bye Beautiful" e "Amaranth", músicas que pareciam com os dois principais singles anteriores de Once (2004). Soavam bem melhores, por sinal. Após a mediana "Cadence of Her Last Breath" viria então a música até hoje mais pesada da banda. Uma paulada quase thrash, "Master Passion Greed". Me surpreendia por nunca ter visto o Nightwish soar daquela forma, ainda mais sendo cantada exclusivamente por Marco Hietala. Entre outras faixas de alto nível, viria ainda a lindíssima "The Islander", um folk celta maravilhoso, com a voz de Olzon e Hietala se encaixando perfeitamente, me passando uma legítima vontade de levantar a âncora e sair navegando pelos sete mares. O disco ainda tem a praticamente gospel "Meadows of Heaven", uma lindíssima canção que fecha com chave de diamante o disco que eu louvaria para toda a vida. Brilhante, magnífico. Essas eram as palavras que eu pensava no momento em que o ouvia pela primeira vez. Continuei ouvindo-o diariamente por pelo menos umas duas semanas. Sabia que estava diante do disco que eu mais amaria na vida. E essa sensação não mudou em nada nos tempos de hoje. Agradeço ao(s) consultor(es) pelo voto a este disco e a oportunidade de poder deixar aqui registrado todo o sentimento que tenho por ele neste excelente site que é a Consultoria do Rock.
Bernardo: Primeiro álbum do Nightwish após a saída da vocalista original, Tarja Turunen. Quem assumiu os vocais foi Anette Olzon. Com mais de uma hora de duração, o disco mostra a mão de ferro do tecladista e mentor Tuomas Holopainen; ou seja, é o usual pé no saco que continua sendo eleito ano após ano. Tem medalhão do rock sessentista/setentista que deve perder de lavada em número de citações para o Nightwish.
Christiano: Quando vi que mais um disco do Nightwish havia sido escolhido como um dos melhores de todos os tempos, concluí que esse negócio de melhor ou pior é muito relativo. Parece que se algumas bandas gravarem qualquer coisa, aparecerão por aqui só por conta da grife. Disco chato. Foi uma tortura ter que escutar isso.
Davi: Tarja Turunen estava fora da banda. A nova voz, Anette Olzon, não era um nome conhecido do grande publico e cantava de uma forma totalmente diferente da cantora anterior. Cantava de maneira mais melódica, não tinha domínio lírico e isso fez com que a banda ganhasse uma nova cara, ao mesmo tempo em que seus fãs se dividiam. Sendo bem realista (eu os assisti naquela época), a moça mandava bem. Muitos questionam a influência de música pop no disco. Isso realmente se faz presente, mas nada muito diferente do que já haviam experimentado. “Amaranth” não é muito distante do que fizeram em “Nemo”, por exemplo. Tirando o lado operístico, todas as demais características se mantiveram. As orquestrações de Tuomas, o baixista Marco Hietala dividindo os vocais em algumas músicas etc. Muitos falam de Imaginaerum (2011), mas continuo considerando este o melhor trabalho da fase Anette. Faixas de destaque: “The Poet and the Pendulum”, “Bye Bye Beautiful”, “Cadence of Her Last Breath”, “Whoever Brings the Nights” e “7 Days to the Wolves”. Discaço!
Diego: Eu tive a minha parte de Nightwish e creio que Century Child (2002) e Once são bons discos. Este é o primeiro com Anette Olzon nos vocais. Ao mesmo tempo, o Nightwish perde a principal característica (os vocais operísticos) mas ganha em diversidade. Tarja pode ser ótima, mas não há quem negue que uma hora de "oohhh ohhhh" cansa, pra caralho. Anette não é a melhor vocalista do mundo (e desconfio que essa foi a principal razão pela sua saída em 2012), mas dá o acento pop que o Nightwish sempre quis. Mais uma vez, não fede nem cheira pra mim. O tal symphonic/gothic Metal soa todo igual pra mim. Cada disco que eu ouço, independente da banda, soa exatamente igual. Formulaico. Mas esta é a minha opinião, não discordo do disco estar na lista, só não é pra mim. Ah, sem contar que, mais de 70 minutos? PQP, hein!!
Diogo: Em 2007 eu já não esperava muito do Nightwish. As composições dos dois discos anteriores não haviam chamado minha atenção e o direcionamento mais pomposo havia me decepcionado. Apesar de Tuomas Holopainen sempre ter sido o principal responsável pelo direcionamento do grupo, a demissão de Tarja Turunen também significou muito, pois a identidade da banda estava totalmente colada a ela. Eis que, do desconhecido Alyson Avenue, grupo sueco mais voltado para o AOR, e que eu inclusive já conhecia, surgiu Anette Olzon como uma opção totalmente diferente de Tarja. E quer saber? Até que funcionou, especialmente na primeira metade do tracklist, que soa muito mais redonda que qualquer coisa extraída de Century Child e Once. Meu primeiro contato com o álbum foi através do videoclipe de "Amaranth", que surpreendeu com um acento mais explicitamente pop e uma dinâmica divertida, menos "trevosa", casando muito bem a sonoridade com o vocal de Anette. Até Marco Hietala, que normalmente não suporto, conseguiu encaixar um pouco melhor seus vocais, como mostra "Bye Bye Beautiful". Ok, eu não morro de amores pelo disco, longe disso, mas ele representou uma evolução em meio à incerteza e mostrou capacidade de adaptação, ao menos em estúdio.
Fernando: Não tenho tanto interesse no Nightwish pós-Tarja. Entretanto, não acho que Anette tenha feito um mau trabalho. Ela só não se encaixou nas expectativas dos fãs. André forçando a ter Nightwish em todas as listas.
João Renato: A troca de vocalista não me fez mudar sentimentos em relação ao Nightwish. Lógico, era alguém com um registro diferente. Porém, as composições já vinham tomando outros caminhos com o passar do tempo. Tuomas, goste-se ou não, é o grande responsável pela sonoridade da banda. Os outros integrantes são acessórios. Alguns muito importantes, mesmo assim, coadjuvantes. Dark Passion Play é um álbum audível, oferece alguns temas envolventes e prossegue a história sem maiores atropelos. Não vai fazer quem não é fã passar a gostar, mas agrada quem já curtia.
Leonardo: Confesso que gosto mais do Nightwish “pop” pós-Once do que da fase mais metálico-operística da banda. A voz da estreante Anette Olzon se encaixou bem a essa sonoridade mais simples, centrada em melodias fortes e refrãos marcantes. A carga sinfônica, com teclados, cordas e tudo mais, acaba deixando a audição do álbum um pouco cansativa em alguns momentos, mas, no geral, o disco flui bem, e é bastante agradável.
Mairon: De novo?? Passo longe!!
Ulisses: Disco que marca a entrada de Anette Olzon na banda, com uma leve mudança sonora, decorrente do estilo menos lírico da nova vocalista. No geral, o grupo apenas soa menos sutil. Há vários daqueles momentos mais agressivos do baixista Marco Hietala, como em "Bye Bye Beautiful" e "Master Passion Greed" – esta, praticamente um thrash metal sinfônico –, mas também os mais complexos e orquestrais de sempre ("The Poet and the Pendulum", "Sahara"), com levada pop evidente ("Eva" e "For the Heart I Once Had") ou mesmo folk ("The Islander" e "Last of the Wilds"). No álbum, Anette não faz feio, e o registro é variado e com boas ideias (em parte porque eles tiveram que ser criativos frentes às limitações da nova vocalista). Só gostaria que o registro fosse uns 20 minutos mais curto. De qualquer forma, o grupo faria muito melhor em Imaginaerum (2011).
Crashdïet - The Unattractive Revolution (35 pontos)
Alexandre: Não conhecia, mas bastaram os primeiros acordes da primeira faixa para a associação com o Mötley Crüe se escancarar na minha frente. Descobri, então, a participação do Mick Mars no crédito de duas faixas, solando. Tudo se fechou, em um círculo de coerência. Bem, se eu já não gostava de 95% da “farofada” original, o que dizer do clone? Há uma penca de bons solos de guitarra, inclusive os feitos pelo próprio Mars, e tenho de reconhecer que o disco é bem gravado dentro da proposta, mas é o que salvo de tudo isso aqui. No mais, backing vocals pasteurizados e um vocal esganiçado que deve ser do irmão mais novo do Vince Neil. Em face de tamanha semelhança, desculpem-me, acho que vocês foram longe demais. Destaco a faixa "Overnight", pois nessa nem o solo de guitarra se salvou. Destacar a melhor faixa não deu. Tá aí uma revolução (?) nada atraente mesmo....
Alissön: Hard rock Sunset Strip feelings em pleno 2007. A vida não faz sentido mesmo...
André: Conheço esses suecos e sei bem que eles fazem um hard rock naquela linha sleaze, bem pesado, típico dos melhores momentos do Mötley Crüe. Este é o melhor álbum deles, Fácil bater cabeça ao som de "I Don't Care" e "XTC Overdrive". Olliver Twisted é o melhor vocalista que passou pela banda. Disco para deixar o som no talo!
Bernardo: Para quem não sabe, chama-se sleaze metal uma iniciativa de bandas europeias de reerguer o sucesso do hair metal oitentista (não vou chamar de glam, glam é Bowie, New York Dolls, T. Rex etc.). Com um toque heavy metal mais pronunciado – mais rápido e mais pesado, mas ainda com a mesma pose, a banda não acrescenta muito. Sejamos sinceros, o estilo não decaiu por causa do grunge, decaiu por causa da saturação. Este disco, como não poderia deixar de ser, é uma rasgação de seda reverente aos clichês e saturações da época. Para quem curte, deve ser excelente. Eu não cheguei na metade do disco.
Christiano: Banda de hard rock dos anos 2000 que tenta emular bandas oitentistas, porém utilizando timbres modernos e bastante saturados. É como se o Mötley Crüe quisesse gravar com os mesmos timbres do Nine Inch Nails. Um fiasco.
Davi: Banda bem bacana e este sempre foi meu álbum favorito deles. Enfrentaram aqui uma situação bem difícil. Este disco foi meio que um recomeço, já que o vocalista anterior havia cometido suicídio. O que eles entregam aqui? Glam metal com altas influências de Mötley Crüe (aliás, Mick Mars toca em duas músicas), Ratt (ouça o riff de “Die Another Day” e tire suas conclusões), W.A.S.P. e afins. O álbum conta com uma mixagem moderna, mas ainda entrega as características que os fãs do movimento gostam: refrãos fáceis de memorizar, riffs simples e empolgantes, a famosa bateria com levada bumbo/caixa predominando. Se você curte aquela cena de L.A. dos anos 1980, pode ir sem medo.
Diego: Não conheço nada desse hair metal revival. Nunca gostei dos originais, então sempre me pareceu sem nexo ouvir o revival. Nunca nem havia ouvido falar no Crashdïet, mas sabia que a Suécia, por algum motivo, é a casa dessa nova onda hair metal. Ouvi no Deezer (assim como os outros discos) pra poder comentar e... Bom disco. Bom o suficiente pra estar em uma lista de melhores do ano? Nem ferrando!
Diogo: O disco de estreia do grupo já merecia ter aparecido por aqui, mas 2005 foi um ano tão concorrido que sua ausência foi normal. Ao menos minha obra favorita do quarteto, The Unattractive Revolution, dá o ar da graça por aqui, com suas melodias cativantes, refrãos simples e efetivos e um trabalho instrumental direto ao ponto. Os fãs de Dave Lepard que me perdoem, mas Olliver Twisted é o melhor e mais marcante vocalista que passou pela banda. Seu jeitão meio esganiçado combina com o hard mais rueiro do grupo e aproxima sua sonoridade com a de referências do estilo, como Mötley Crüe (obviamente), Ratt, L.A. Guns e o Skid Row do primeiro álbum. Não raro me pego ouvindo com frequência canções como "In the Raw", "Like a Sin", "Falling Rain" (com um tom um pouco mais sério e surpreendentemente bom), "Die Another Day", "Alone" e "Overnight", essa última dona de uma introdução estúpida de tão simples, mas que funciona bem pacas e nunca mais sai da mente. Normalmente não sou muito fã de grupos hard revivalistas, seja da década de 1970 ou da de 1980, mas o Crashdïet costumava ser uma saudável exceção. Hoje em dia já não sei.
Fernando: A Suécia sempre teve tradição com bandas de hard rock desde o Hanoi Rocks e acredito que o Crashdïet poderia herdar esse trono há tempos vago. Porém, acho que escolheram um disco inferior do Crashdïet para representá-los nessa série. Acredito que o anterior, o debut de 2005, ou o seguinte, de 2010 (meu preferido) poderia chamar mais atenção dos leitores. Detalhe que esses três primeiros álbuns foram gravados cada um com um vocalista diferente.
João Renato: Tá aí uma banda que nunca me chamou atenção de verdade – exceto pelo fato de trocar de vocalista a cada 20 minutos. Em seus melhores momentos, não passou de uma nota 6. Mesmo assim, Olliver Twisted é o cantor mais legal que tiveram, embora o Reckless Love, seu outro grupo, me atraia um pouco mais.
Leonardo: Confesso que a não inclusão do disco de estreia do Crashdïet, Rest in Sleaze, na edição dedicada a 2005, me surpreendeu bastante. Afinal, é na minha opinião o melhor álbum de hard rock/hair metal deste milênio. O segundo, The Unattractive Revolution, não tem o brilho de seu antecessor, mas faz por onde figurar nesta lista. Mais pesada e suja, a sonoridade da banda continuou mantendo os ganchos e os refrãos marcantes, mas com uma dose extra de energia. Destaques para a faixa de abertura, "In the Raw", dona de um riff animal, a melódica "Falling Rain" e a sensacional "Die Another Day".
Mairon: Hard pesado, na linha de grupos como Mötley Crüe (final dos anos 1980). Quando vi que Mick Mars participa de duas canções ("I Don’t Care" e "Alone"), fiquei ainda mais surpreso pelo fato de ter acertado na mosca quando pensei. Guitarras criando riffs musculosos e canções com refrãos grudentos fazem deste álbum uma audição tranquila, sem muito o que comentar no geral. Não irei comprar o CD, nem correr atrás da discografia da banda, mas foi interessante conhecê-la.
Ulisses: Hard rock glam e farofeiro nunca foi a minha praia, mas não posso ser injusto desta vez. O som do Crashdïet é bem legal e os caras são competentes. O tracklist tem vários momentos marcantes, seja por conta dos riffs ou da voz de Ollie Twisted (aliás, eu conhecia só o vocalista mais recente, o Simon Cruz, do cabelão maneiro), que bota pocando em faixas como "Falling Rain" e "XTC Overdrive". Não faz tanto a minha cabeça, mas é um CD divertido pacas, e os fãs do estilo têm motivos de sobra para conferir.
Ulver - Shadows of the Sun (35 pontos)
Alexandre: O instrumental é, em muitos momentos, belo, embora muito, mas muito lento. O álbum traz alguns momentos de muita harmonia, com o uso de orquestração e alguns belos solos utilizando instrumentos como trompete, mas às vezes é meio incompreensível. Posso citar o fim da faixa "Like Music" como exemplo. Mas o que mata, de verdade, é o estilo vocal à la “locução de aeroporto”. Eu preferiria algo com mais personalidade, para contrastar com o instrumental bem atmosférico que se ouve durante todo o decorrer do trabalho. Basta os tons graves do vocal serem substituídos por frases mais cantadas para que a canção em si melhore. Por exemplo, nos poucos instantes em que há vocal “mais normal” na faixa-título. Assim, o óbvio acaba acontecendo, a versão de "Solitude" (Black Sabbath) é disparado o melhor momento do disco, pois o instrumental encaixa com as intervenções do trompete e até o vocal do filho norueguês da Íris Lettieri funciona. Foi a única música que me deu vontade de ouvir de novo. Eu indicaria este trabalho para a trilha sonora de filmes como "2001: A Space Odissey" (1968) ou para sessões de yoga. Jamais como representante da lista de 2007 da Consultoria do Rock.
Alissön: O nível de imersão que os discos do Ulver provocam em mim é impossível de se exprimir em palavras. São poucas as bandas que conseguem me colocar em um estado de transe similar ao que discos como este e outros de sua fase longe do metal conseguem. Misturando elementos sinfônicos com programações e instrumentações diversas, é um dos álbuns mais versáteis e de fácil apreciação de sua farta discografia. Só a cover de "Solitude" – me perdoem, mas ela ficou muuuuuito melhor que a original do Black Sabbath, que já é ótima – seria justificativa suficiente para você ouvir isso o quanto antes.
André: Lembro de ter conhecido a banda através de em uma edição da seção "War Room" organizada pelo Alisson. Perdition City (2000) é um bom disco e até tinha este Shadows of the Sun em meu PC, sem tê-lo ouvido ainda. Um tempo depois botei para tocar e gostei até mais do que o disco da "Sala de Guerra". Gosto deste estilo de ambient bonito e introspectivo junto a momentos tétricos, como "Like Music" e "Vigil". O piano e a orquestra são muito agradáveis. O noise, que poderia me incomodar, é discreto. Ótimo disco, recomendo a quem curte essa mistura de música eletrônica com sinfonias.
Bernardo: Te falar que esses lances ambientes experimentais e eletrônicos têm me atraído cada vez mais ao longo dos anos – amo conhecer novas formas de fazer música, novas propostas estéticas, limites sendo rompidos. Ainda não é algo que ouço toda hora – tenho que estar no espírito –, mas devo dizer que a versão de "Solitude", do Black Sabbath, é tão bela quanto perturbadora, com um cheiro de pesadelo andando lá atrás. O disco todo tem esse ar meio, digamos, esse ar meio feérico, e ouvir olhando a capa deve ser uma verdadeira viagem.
Christiano: 2007 foi um ano repleto de ótimos lançamentos. Mas considero Shadows of the Sun como um dos melhores discos não só de 2007, mas daquela década. Difícil é falar sobre ele. Não tem como definir muito bem o que criaram aqui. Músicas calmas, sombrias, bonitas, com um clima meio denso, meio etéreo. É um daqueles discos que devem ser escutados com calma, aos poucos, e que revelam novos detalhes a cada audição. Altamente recomendável.
Davi: “Aaaaaaaaf. Aaaaaaaaaaaaf. Aaaaaaaaaaaaaf. Naaaadaverrrrrrrrrr” (Nina, 2016).
Diego: Fazia muito tempo que eu não ouvia este disco e fico feliz de ter entrado nesta lista porque me mostrou o porquê de não ter entrado na minha: A) Não é top 10 do ano nem mesmo se o Freddie Mercury voltasse dos mortos e me pedisse; B) Depois de ter ouvido este álbum, nunca mais voltei a ouvir nada do Ulver, e isso diz muito sobre a banda. Mas o disco funciona. Funciona muito bem como: música pra viajar (dentro da própria cabeça), música de fundo, música pra ir dormir, música pra meditar, música pra yoga, música pra quando se está drogado, música pra impressionar aquela gata new age, música pra impressionar aquela gata que curte música ultramoderna, música pra dizer como você é antenado, música pra pedir por um mundo melhor, música pra tentar entender o mundo em que vivemos, música pra quem quer ser descolado, música pra quem quer ser moderno, música pra impressionar aquele amigo que é fã número 1 do Steven Wilson, música pra impressionar aquele amigo muderrno que ama música eletrônica, música pra impressionar aquele amigo cool que só ouve jazz, música pra impressionar a sua mãe, música pra impressionar o seu pai, música pra gente depressiva, música pra quem gosta de sentar em um canto escuro e chorar, música pra emo, música pro Papa, música pra Dona Benta, música pro Chico Bento, música pra se ouvir enquanto a vida passa, música pra ninar o seu filhinho bebê que vai ser muderrno, música pra quem gosta de coisa bem chata, música pra embalar o mundo muderrno, música pra jogar fora na lata do lixo com o caminhão já andando pra não ter perigo de te devolverem.
Diogo: De vez em quando surgem algumas restrições de tempo que não nos permitem ouvir com a atenção merecida alguns álbuns que precisam de mais audições para que sejam devidamente captados em sua essência. Digo isso pois discos como Shadows of the Sun merecem ser ouvidos com calma, repetidas vezes, para que o ouvinte aclimate-se à sua ambientação sonora e consiga extrair melhor o que os artistas pretendiam. Como não consegui fazer isso, o que tenho a dizer é o seguinte: falta ao Ulver uma voz que combine melhor com a proposta instrumental, que é bacana, mas não chega a empolgar nem a provocar uma imersão total. Existem momentos bem interessantes, especialmente quando o uso de cordas se faz mais presente, mas não posso dizer que foi o suficiente para que eu louvasse o trabalho desses noruegueses.
Fernando: Não conhecia a banda e coloquei na busca do YouTube. Pelo nome do grupo e do álbum, imaginei se tratar de uma banda de black metal. Porém, para minha surpresa, este foi um daqueles discos em que essas bandas guinaram para o tal atmospheric black metal. Fica difícil até de comentar, sabendo que provavelmente houve uma radical guinada musical. Muitas ideias interessantes, como o uso de teclados de fundo, instrumentos de sopro, mas me parece que falta um pouco mais de identidade, apesar de entender que está longe de ser ruim. Vou deixá-lo aqui para ouvir novamente.
João Renato: Aquele clima de ressaca, sol modorrento no rosto e gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Faz tempo que não sou mais adepto disso.
Leonardo: Não é o tipo de som para se ouvir em qualquer ocasião. Atmosférica e melancólica, muitas vezes a sonoridade da banda parece abstrata, etérea. Tem seus momentos, mas no geral é uma audição bastante cansativa.
Mairon: Velho, que viagem este disco. Achei que ia rolar um metal trevoso aqui, mas que nada. Música ambiente/experimental para literalmente viajar. São camadas e camadas de sintetizadores levando ao sono junto com um vocal doce e nada envolvente. Com exceção de breves passagens em "All the Love" e "Shadows of the Sun", não há nada de melodia ou ritmos. Ainda conseguiram estragar "Solitude", cover fraco e muito longe de ser mil vezes melhor que o original do Black Sabbath, como atestou o Alisson Caetano em uma edição da seção "War Room" que ele organizou. Aliás, daquela feita, até disse que o álbum Perdition City poderia ter entrado na lista de 2000, mas este Shadows of the Sun foi o chá de camomila com toneladas de sedativo para que eu dormisse e nem lembrasse que ele existe no outro dia.
Ulisses: Toda essa tentativa de soar melancólico, sombrio e depressivo acaba apenas se passando por música de fundo, com um jeitão sereno de trilha sonora, porém com certa carga de tensão. O vocalista não fode e nem sai de cima, tornando por ser irrelevante em um disco em que o instrumental consegue transmitir bem a carga emocional necessária, ainda que o resultado final continue insatisfatório. Estou curioso para saber por que os caros consultores se derretem por algo tão desinteressante.
Porcupine Tree - Fear of a Blank Planet (33 pontos)
Alexandre: Tá aqui uma banda que sempre fica no quase nas minhas listas. Ou fica no quase ou nem isso, para ser mais sincero. O problema para mim é o vocal muito suave de Steven Wilson, que piora sensivelmente quando há a opção de inserção de efeitos. Aí me faz lembrar Liam Gallagher, do Oasis, e isso não é um elogio. O que é uma pena, pois Fear of a Blank Planet talvez tenha sido o álbum que mais próximo chegou de ficar na minha lista final, até porque o instrumental é irretocável. Além disso, há belas faixas, como "My Ashes", e um trabalho próximo da perfeição do baterista Gavin Harrison. O que ele faz em "Anesthetize", que, para mim, é a melhor faixa do disco, é para elevá-lo aos grandes do instrumento. A música, como se ainda não bastasse, ainda traz um excelente solo de guitarra de Alex Lifeson, do Rush. Vou então congratular os consultores pela escolha deste álbum, ainda que eu preferisse ter e/ou ouvir Steven Wilson em suas outras funções, nas quais é brilhante, e que não são poucas: Como compositor, músico, arranjador, produtor ou grande influência e mentor para outros músicos, bandas e vários ótimos trabalhos, como Damnation (2003), do Opeth.
Alissön: Este é daqueles casos em que não votei no disco, não gosto tanto dele assim, mas concordo plenamente com o fato dele ter sido mencionado. O que o Porcupine Tree fez para o prog rock em tempos recentes, dando um frescor e apresentando novidades ao mesmo tempo que nunca virou as costas para o passado consagrado do estilo, é digno de menções eternas em matérias dedicadas ao gênero. Vá fundo, se você gosta de prog. O único problema aqui sou eu mesmo.
André: Diferentemente de outros discos do Porcupine Tree que havia ouvido, o anterior Deadwing (2005) sendo o melhor exemplo, achei este disco bastante monótono para uma banda que sempre me pareceu tão inventiva. Não sei o que houve aqui. Os riffs de guitarra estão mais sem sal (e nem Alex Lifeson ajudou nesse aspecto). Os teclados usam sonoridades tão pobres. Tudo aqui soa tão estéril... Esperava muito mais.
Bernardo: Progressivo e eletrônico, uma viagem sem fim para aqueles que se dispuserem a encarar. Diria que o Porcupine Tree, junto a bandas como o The Mars Volta, tiraram o que entendo como progressivo do ostracismo, atualizando-o com sabedoria.
Christiano: Mais um ótimo disco do Porcupine Tree. Agora com a participação de gente como Alex Lifeson, Robert Fripp e John Wesley. É o último bom álbum do grupo, que encerraria a carreira de forma decepcionante com The Incident (2009). Desde a abertura com a faixa-título, passando pela bela “My Ashes” e a viajandona “Anesthetize”, temos um grande exemplo de uma banda que conseguiu renovar a linguagem do rock progressivo e se manter em sintonia com o que estava acontecendo de mais interessante na música da sua época.
Davi: Já conhecia. Tenho este disco em casa. Excelentes músicos, canções muito bem construídas oscilando momentos calmos com momentos pesados (calmos, na maior parte do tempo). Como toda banda de rock progressivo, a maior parte das faixas é longa. “Anesthetize” traz uma pegada mais viajada e conta com um belíssimo solo de Alex Lifeson (Rush), enquanto “Way Out of Here” traz uma maior aproximação com o pop. A mais rock 'n' roll fica por conta de “Fear of a Blank Planet”. Bom disco.
Diego: SW+PT = Ø
Diogo: Fear of a Blank Planet estava no meu top 10 até os 45 do segundo tempo. Nos acréscimos, quando estava recebendo as últimas listas, lembrei-me que o W.A.S.P. lançou Dominator em 2007, disco que nunca havia ouvido até então. Rendi-me à beleza de "Heaven's Hung in Black" e o Porcupine Tree caiu fora da lista, mas não perdeu minha atenção. Um álbum que possui uma música de 17 minutos que não soa como embromação e passa mais rápido do que parece ("Anesthetize") é digno de elogios, ainda mais se o restante do tracklist se sustenta por suas próprias pernas. Tirando "Sentimental", que é chatinha, as outras quatro canções são muito boas e constroem paisagens sonoras dinâmicas e profundas, do jeito que apenas o melhor rock progressivo Made in UK é capaz de fazer. Esqueça os simples emuladores do progressivo setentista e dê mais atenção ao Porcupine Tree, que honra as referências do estilo, mas tem personalidade própria e não soa deslocado de sua época.
Fernando: Steven Wilson e sua banda conseguiram a participação de Robert Fripp e Alex Lifeson no mesmo disco. Só isso já poderia dizer muito sobre ele e também sobre a importância do grupo. O Porcupine Tree talvez seja a maior influência para todas essas bandas que atacam nesse progressivo atual. Muitas bandas estão utilizando esses elementos que o Porcupine Tree plantou há dez anos, como exemplo até óbvio podemos citar o Opeth, que abandonou praticamente de vez o metal extremo para seguir os passos de Wilson. Tenho um carinho em especial por este álbum, pois eu o comprei logo depois de assistir a um show do grupo em Nova York, naquelas barraquinhas de merchandising que toda banda tem.
João Renato: Temática interessante e envolvente. Daqueles discos para acompanhar lendo o encarte. Pessoalmente, tenho certa dificuldade com álbuns que duram dois dias e meio. Porém, a qualidade é inegável.
Leonardo: A faixa-título é bem interessante, com uma pegada moderna e até surpreendente. Infelizmente, o restante do disco não vai por esse caminho, optando por um rock progressivo introspectivo e extremamente chato.
Mairon: Steven Wilson mais uma vez pintando por aqui. O grupo emplacou o primeiro lugar na lista de 2002, com um álbum que realmente não me agradou. Fiz o esforço de ouvir Fear of a Blank Planet sem trazer nenhuma referência há alguma coisa que já tenha ouvido antes, mas não consegui. Nem as participações (onde?) de Alex Lifeson em "Anesthetize" ou a de Robert Fripp (será mesmo??) em "Way Out of Here" rendem um sorriso nos ouvidos. Se for para ouvir uma droga, pelo menos que seja a original, ou, traduzindo para os maus entendedores, ouça Dream Theater, e não essa pasteurização insípida que só serve para ocupar mídia.
Ulisses: Opa, nada mal! Progressivo sombrio, dosando bem os riffs pesados com a melancolia que as letras pedem. Mandar uma faixa de 17 minutos ("Anesthetize") sem deixar a peteca cair não é para qualquer um. Tive que ouvir o álbum umas três vezes até que se encaixasse na minha cabeça, mas cada audição ia revelando novas camadas, e percebi que a duração do álbum é perfeita; na verdade, não há a sensação de que o tempo está passando.
* Magic (Bruce Springsteen) ficou empatado com Neon Bible (Arcade Fire), ambos com 40 pontos. Como não foi possível aplicar nenhum critério de desempate, a decisão a respeito do quinto colocado foi tomada através de uma enquete na qual participaram todos os colaboradores da série.
Listas individuais
Alexandre Teixeira Pontes
- Scorpions – Humanity: Hour 1
- Alter Bridge – Blackbird
- Rush – Snakes & Arrows
- Megadeth – Unied Abominations
- Symphony X – Paradise Lost
- Kamelot – Ghost Opera
- Dream Theater – Systematic Chaos
- Joss Stone – Introducing Joss Stone
- Nightwish – Dark Passion Play
- W.A.S.P. – Dominator
Alissön Caetano Neves
- Earth – Hibernaculum
- Deathspell Omega – Fas – Ite, maledicti, in ignem aeternum
- Arcade Fire – Neon Bible
- Shining – V: Halmstad
- Ulver – Shadows of the Sun
- Justice – Cross
- LCD Soundsystem – Sound of Silver
- Radiohead – In Rainbows
- Oxbow – The Narcotic Story
- Neurosis – Given to the Rising
André Kaminski
- Nightwish – Dark Passion Play
- Kamelot – Ghost Opera
- Epica – The Divine Conspiracy
- Dream Theater – Systematic Chaos
- Dethklok – The Dethalbum
- Pata de Elefante – Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha
- Hidria Spacefolk – Symetria
- Hellfueled – Memories in Black
- Electric Orange – Morbus
- Black Bonzo – Sound of the Apocalypse
Bernardo Brum
- Arcade Fire – Neon Bible
- Kanye West – Graduation
- Bruce Springsteen – Magic
- Nine Inch Nails – Year Zero
- The Good, the Bad and the Queen – The Good, the Bad and the Queen
- Explosions in the Sky – All of a Sudden I Miss Everyone
- Iron & Wine – The Shepherd’s Dog
- Arctic Monkeys – Favorite Worst Nightmare
- LCD Soundsystem – Sound of Silver
- Klaxons – Myths of Near Future
Christiano Almeida
- Ulver – Shadows of the Sun
- Anekdoten – A Time of Day
- Porcupine Tree – Fear of a Blank Planet
- Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand
- Hearts of Black Science – The Ghost You Left Behind
- Dungen – Tio Bitar
- Sharon Jones & The Dap-Kings – 100 Days, 100 Nights
- PJ Harvey – White Chalk
- Rush – Snakes & Arrows
- Blackfield – II
Davi Pascale
- Scorpions – Humanity: Hour 1
- Velvet Revolver – Libertad
- Richie Kotzen – Go Faster/Return of the Mother Head’s Family Reunion
- Nightwish – Dark Passion Play
- Airbourne – Runnin’ Wild
- Maria Rita – Samba Meu
- Crashdïet – The Unattractive Revolution
- ZO2 – Ain’t It Beautiful
- Eagles – Long Road Out of Eden
- Chris Cornell – Carry On
Diego Camargo
- Ben Godwin – Skin and Bone
- Neal Morse – Sola Scriptura
- The Flower Kings – The Sum of No Evil
- Оргия Праведников – Уходящее солнце
- Rush – Snakes & Arrows
- Foo Fighters – Echoes, Silence, Patience & Grace
- Cidadão Quem – 7
- Violeta de Outono – Volume 7
- Somba – Cuma?
- Los Porongas – Los Porongas
Diogo Bizotto
- Bruce Springsteen – Magic
- Richie Kotzen – Go Faster/Return of the Mother Head’s Family Reunion
- Tempestt – Bring ‘em On
- Candlemass – King of the Grey Islands
- Eagles – Long Road Out of Eden
- Machine Head – The Blackening
- Sixx:A.M. – The Heroin Diaries Soundtrack
- Crashdïet – The Unattractive Revolution
- Bon Jovi – Lost Highway
- W.A.S.P. – Dominator
Fernando Bueno
- Blackfield – II
- Porcupine Tree – Fear of a Blank Planet
- Pain of Salvation – Scarsick
- Rush – Snakes & Arrows
- Scorpions – Humanity: Hour 1
- Machine Head – The Blackening
- Saxon – The Inner Sanctum
- Baroness – Red Album
- King Diamond – Give Me Your Soul… Please
- Magnum – Princess Alice and the Broken Arrow
João Renato Alves
- Richie Kotzen – Go Faster/Return of the Mother Head’s Family Reunion
- Paul McCartney – Memory Almost Full
- Ken Hensley – Blood on the Highway
- Alter Bridge – Blackbird
- Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand
- Sebastian Bach – Angel Down
- Hangar – The Reason of Your Conviction
- Megadeth – United Abominations
- Ann Wilson – Hope and Glory
- Machine Head – The Blackening
Leonardo Castro
- Crashdïet – The Unattractive Revolution
- Hardcore Superstar – Dreamin’ in a Casket
- Primordial – To the Nameless Dead
- Machine Head – The Blackening
- Sixx:A.M. – The Heroin Diaries
- Watain – Sworn to the Dark
- Arch Enemy – Rise of the Tyrant
- W.A.S.P. – Dominator
- Sebastian Bach – Angel Down
- Dark Tranquility – Fiction
Mairon Machado
- Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand
- Beardfish – Sleeping in Traffic: Part One
- Savoy Brown – Steel
- Rush – Snakes & Arrows
- Trem do Futuro – O Tempo
- Ken Hensley – Blood on the Highway
- Anekdoten – A Time of Day
- Elomar – Tramas do Sagrado
- Acid Mothers Temple & The Melting Paraiso U.F.O. – Crystal Rainbow Pyramid Under the Stars
- Saxon – The Inner Sanctum
Ulisses Macedo
- Shaman – Immortal
- Virgin Black – Requiem – Mezzo Forte
- Andre Matos – Time to Be Free
- Within Temptation – The Heart of Everything
- Dream Theater – Systematic Chaos
- Dr. Sin – Bravo
- Epica – The Divine Conspiracy
- Kamelot – Ghost Opera
- Tempestt – Bring ‘em On
- Capsule – Sugarless Girl