quinta-feira, 18 de maio de 2017

Entrevista Exclusiva: Gerson Conrad (ex-Secos & Molhados)




Hoje, temos uma entrevista especialíssima com um dos maiores nomes do rock nacional, Gerson Conrad. Um dos fundadores e principais vozes do grupo Secos & Molhados, Gerson conta-nos abaixo detalhes de dois grandes projetos em que está participando, o 70 De Novo e o Grandes Artistas Interpretam Beatles, além de repassar a sua carreira solo e claro, contar fatos relacionados ao seu período ao lado de João Ricardo e Ney Matogrosso.


Olá Gerson, obrigado por nos conceder essa entrevista. Gostaria de que você começasse falando um pouco sobre o projeto 70 De Novo, que estará apresentando-se nos palcos no próximo dia 27 de maio. Como foi a a primeira edição do projeto, e o que haverá de novo na nova edição do dia 27, no SESC-Belenzinho.

O movimento 70 de Novo, começou com a ideia de um projeto idealizado por Zé Brasil com o intuito de reunir grupos e artistas que haviam feito sua história na década de 70. O nome do movimento, foi sugerido por Nico Pereira, parceiro/letrista de Zé Brasil. _ Logo no primeiro encontro fui convidado por Amarilis Gibeli, uma amiga comum ao Zé e à mim para conhecer a proposta. Apesar de particularmente achar o nome 70 de Novo negativo e não apropriado, acabei por entender que a proposta era uma celebração aos músicos/artistas pertinentes à época e quando me dei conta, passaram 10 anos desses encontros, festejados anualmente.

Quais serão os músicos convidados para essa nova edição, e como tem sido os ensaios para esse grandioso espetáculo?

Para essa comemoração de 10 anos, os convidados são: Oswaldo Vicchione (Made in Brazil), Mario testoni Junior (Casa das Máquinas) e, eu.

Com Zé Brasil, idealizador do Projeto 70 De Novo
O que você destaca como principal nesse evento?

É a celebração à época, que acaba por ser uma grande festa no encontro de músicos, grupos e ou, artistas que muito contribuíram para a história cultural em nosso país.

Há a possibilidade de esse evento ser registrado em um DVD ou CD?

Acredito que sim, mesmo porque já foi lançado um DVD com a participação da chamada primeira turma do movimento que participaram: Zé Brasil e Silvia Helena (Apokalypsis), Pedro Baldanza (O Som Nosso de Cada Dia) Cezar de Mercês (O Terço) e eu. Certamente deverá ser registrado um novo DVD com os novos convidados.

Você também está envolvido em outro grande projeto, o Grandes Artistas Interpretam Beatles, que irá apresentar um Tributo aos Beatles em um espetáculo na cidade de São Paulo ainda nesse semestre. Como surgiu a oportunidade desse projeto?
Estamos ainda na fase de ensaios. A princípio a data estava marcada para abril, mas soube que alguns problemas tiveram que adiar o espetáculo. Tem orquestra junto com o grupo de apoio, que é a formação clássica. Mas, é um projeto interessante. Estarão participando nomes como Tavito, Robertinho de Recife, Pedro Baldanza, César de Mercês, eu, entre outros, no total de 7(sete) participantes desse espetáculo. O projeto é muito legal, e surgiu através do convite do produtor e empresário Roberto Oka, que está cheio de grandes ideias e, tomara que ele consiga acertar na mosca (risos). A gente torce por isso, por que ele é muito be m intencionado, cheio de ideias e boas intenções. Mas, como diz o velho ditado: de ‘boas intenções” o inferno está cheio (risos). Mas a gente está dando esse voto de credibilidade para o Oka e, vamos tocar a coisa em frente. Já houveram ensaios, inclusive com orquestra, e está muito interessante. Vai ser um projeto bastante significativo.

O pessoal do projeto em homenagem aos Beatles

Qual foi o motivo principal que o levou a aceitar o convite para participar de um Tributo aos Beatles?
Acredito que a minha história não é diferente da de nenhum dos outros participantes. A gente vem de uma geração com uma diferença de idade muito pequena dos Beatles originais. Então, essa moçada toda no início dos anos 60, quando o mundo conheceu os Beatles, eram adolescentes entre 12 a 16 anos de idade e, todo mundo sonhou um dia ter o sucesso da turma de Liverpool. Acabou que alguns conseguiram fazer carreira, como é o meu caso, o doTavito, enfim, acho que de todos os nomes que envolvidos. Foi por esse motivo que aceitei o convite. Achei uma coisa interessante, de verdade, mesmo porque alimentava uma certa vontade de ter feito, ao longo da minha carreira, um Tributo nesse sentido, já que os Beatles tiveram uma importância tão grande na minha formação musical e, o que me fez acreditar que era isso o que eu queria fazer em termos de vida.

E o repertório que será apresentado, abrange toda a carreira dos Beatles ou concentra-se apenas em uma fase da banda?
Não, é geral. Cada um, à princípio, escolheu duas, três canções, com as quais se identificavam, e o repertório foi montado mais ou menos em cima disso. Mas abrange todas as fases. Está bonito. Nós fizemos um ensaio com orquestra, e a abertura está muito bonita. A gente começa com a música que tem “All You Need Is Love), daí, segue com “Sgt. Pepper’s”, convidando as pessoas para o show em si, depois começa a rolar as interpretações individuais, porque no início, estamos todos no palco, cantando juntos, com um belo arranjo vocal.

Fantástico. E você sabe dizer se isso irá ficar limitado a São Paulo, ou se chegará em outros locais?
O Roberto, evidentemente, tem vontade de levar o espetáculo para outros lugares. Parece que já existe uma possibilidade de, na sequência, fazer no Rio de Janeiro, mas daí você teria que conversar com o Oka ou com o seu assessor Erick Tedesco, que com certeza poderão lhe dar essa informação.
Eu morei em Porto Alegre durante minha adolescência. Morei de 1959 a 1966 na capital. Lá eu estudei, e fiz minha iniciação toda de estudo de violão por lá.

Poxa, que legal. Mas chegou a fazer música por lá?
Não, não, só estudei. Eu tinha, uns 8, 9 anos, era um menino, e foi um período lega. Eu tenho um carinho muito grande pelo Sul por causa disso. Eu costumo brincar, que todas as sacanagens de adolescente, foi lá que eu aprendi (risos). E é verdade, por que foi uma fase que era muito diferente dos dias de hoje. Porto Alegre hoje é uma tremenda metrópole, não tem lá muita diferença do que as demais metrópoles como São Paulo e outras capitais, mas naquela época, ela era mais interiorana, sabe. Então, você tinha uma liberdade de brincadeira de rua, com a gurizada, e por isso me lembro disso: a malandragem toda que a vida podia me ensinar eu aprendi, como moleque, nas ruas de Porto Alegre (risos).

(Risos). Já que você tocou nessa questão de Porto Alegre, como você sai do sul para chegar ao Secos & Molhados?
Então, eu sou natural de São Paulo, e meu pai era um executivo, diretor de empresas, e com isso, acabamos morando em vários lugares do Brasil, desde que eu era molequinho de colo. A gente morou em Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, por que meu pai era transferido por essas empresas como diretor, para essas regiões. Mas o foco de Quartel General era São Paulo. Então, a gente ficava nesse período, que variava de seis meses, as vezes de um ano ou mais, em várias cidades do Brasil, e voltava para São Paulo. A última moradia que tivemos, relacionado com o trabalho do meu pai, foi Porto Alegre, que foi o período mais longo que comentei. Quando terminou o contrato em Porto Alegre, voltamos para São Paulo, e coincidentemente fui morar na rua em que o João Ricardo acabou vindo morar também. Nós éramos vizinhos de mesma calçada no bairro da Bela Vista. O meu prédio, naquela época, foi um dos primeiros a reunir salão de festas, quadras poliesportivas, piscina, e como era meio novidade, a molecada do bairro que tinha amigos que moravam no prédio, acabava frequentando o edifício em que eu morava. E foi ali que conheci o João Ricardo, jogando ping-pong, lá no edifício (risos).

Nos tempos de Secos & Molhados

E como veio a ideia de criar uma banda?
Bom, logo no primeiro encontro a ideia surgiu. A gente começou a bater papo, e ele falou que era apaixonado por música, começamos a falar de Beatles, e a coisa foi amadurecendo. Eu conheci o Ricardo em 67, e em 69 a gente já deu o primeiro pontapé inicial ao que nos levaria ao Secos & Molhados. Primeiro foi um grupo inexpressivo, mas que chegou a ter umas matérias em jornais, chamado Eric Expedição, que não queria dizer absolutamente nada o nome. Era E de Eduardo, que era um vizinho nosso percussionista, Ri de Ricardo e o C tinha sobrado do Conrad. Era um trio. E a partir daí a gente desenvolveu para Secos & Molhados, dando os primeiros passos na direção para um trabalho autoral, que era uma proposta desde o nosso primeiro encontro. A gente não queria fazer, como era comum aqui em São Paulo, virar mais um grupo de covers, pois sabíamos que tinhamos um potencial para fazer um trabalho autoral, e acreditamos nisso para seguir em frente.

Inclusive, vocês faziam para época um som diferente de tudo aqui no Brasil, principalmente pela mistura do acústico com guitarras.
Isso. Essa coisa do acústico inclusive foi muito em função de meu aprendizado todo de violão, eu estudei em Porto Alegre com um exilado político espanhol que era discípulo de Segóvia, que estava morando lá nessa época, chamado Juan Mateo. Inclusive, ele tinha o mesmo nome do pai, que era um luthier que veio da Espanha renomado e, meu pai, acabou encomendando um violão para ele, que se tornou o meu primeiro violão e, que eu guardo até hoje, um autêntico Juan Mateo. Mas, por causa dessa escola espanhola, eu tinha uma mão muito pesada, por causa das características do flamenco e da música espanhola, e não conseguia me adaptar com a guitarra. Exatamente por que eu tinha uma mão direita pesada. Eu pegava qualquer instrumento que não fosse acústico e era um horror, mas não por que eu não soubesse tocar,o problema estava no peso da minha mão direita, que eu não conseguia dosar para o instrumento eletrônico. E aí a gente saiu com essa proposta acústica. Assim, os primeiros sons do Secos & Molhados eram violões, no máximo um microfone na frente com amplificação, flauta doce que eu arriscava tirar umas notinhas, o João Ricardo com a gaita dele, e quando incorporou a banda, que depois ficou conhecida no Brasil inteiro, e mundialmente, a gente tentou manter o máximo possível dessa sonoridade acústica.

E isso foi um grande diferencial, Junto com as máscaras. Mas haviam influências no trabalho da banda, por exemplo: Crosby Stills & Nash, Beatles ...
Claro, a gente teve uma série de influências, mas acho que inserimos isso em um processo de criação, dando ênfase a um trabalho autora., Algumas coisas que eu particularmente acho meio marcante, inegavelmente. Tanto que se você escutar com muita atenção você percebe uma escola de Beatles atrás, um Crosby Stills & Nash nos vocais, por que essas eram nossas referências na época. A gente curtia, por exemplo, Rolling Stones, mas não era o que nos chamava atenção.

Ao lado de Zezé Motta, em 75

E depois do Secos, você acabou gravando com Zezé Motta. Como surgiu esse projeto?
Então, quando acabou o Secos & Molhados eu fui contratado pela Som Livre, e por uma questão de insegurança da minha parte, e eu falo isso sem o menor constrangimento, gravei com Zezé. Explicando: Durante todo o processo do Secos & Molhados, eu fui responsável pela harmonização vocal do grupo, então, eu não estava acostumado a me ouvir cantar como primeira voz, como solista. Quando me vi a frente do meu próprio trabalho, eu entrei em pânico. Eu falei: “Meu Deus!Eu jamais gravei como primeira voz”. Então surgiu a ideia de convidar a Zezé Motta, o que foi muito legal, mas confesso honestamente que hoje, com a experiência de vida que eu tenho, talvez eu não repetisse esse tipo de coisa. Mas na época foi válido, por que eu me senti mais confortável, na verdade, com ela. Eu vinha de um trabalho de grupo e quis trazer esse espírito de trabalho de grupo para o meu trabalho.

Depois disso, por que demorou tanto tempo para chegar no Rosto Marcado?
Aí é uma história longa. Eu fui, se não o primeiro, um dos três primeiros contratados para o cast da Som Livre, e ela não era uma gravadora que tinha experiência de trabalhar com cast próprio. Eu acabei me indispondo com a direção deles, e de uma certa forma, a Som Livre me fechou as portas para o mercado. Daí, até que eu conseguisse botar panos quentes no mal entendido, por que saíram algumas coisas na imprensa, que houve bate-boca da direção comigo, a Continental entendeu, por bem, que não tinha nada a ver e, que tinha que me dar uma chance para continuar minha carreira, e fui para a Continental fazer o Rosto Marcado. O problema todo é que aí já era início dos anos 80, e daí a culpa não era da Continental, e sim propriamente minha, de eu não ter gravado mais nada. É que os anos 80 foram invadidos pelos chamados “produtores” que a gente acabou conhecendo, que eram contratados por essas gravadoras, que na verdade eram caras estavam com uma cabeça muito voltada para uma coisa muito imediata. Eles não acreditavam naquilo que eu levava como proposta, que era um trabalho de continuidade. E também, depois da experiência com o Secos & Molhados, nós ficamos estigmatizados como grandes vendedores de discos.

O disco com Zezé

E na verdade, cara, as vendas foram muito inexpressivas nos primeiros trabalhos de cada um de nós, tanto do Ney, quanto do João Ricardo, quanto do meu. Se não me engano, esse disco com a Zezé Motta, foi o que teve mais vendas. Foram, 46 ou 48 mil cópias, o que para a expectativa das gravadoras, era muito pouco mediante o 1 milhão de discos que havíamos ultrapassado com o Secos & Molhados. Então, quando encontrei esses produtores imediatistas, que queriam o consumo rápido, a gente bateu de frente de novo por que eu falei: Eu quero um trabalho de continuidade. De repente, você pode estourar uma ou duas músicas de sucesso, em um primeiro trabalho, mas em dez meses, eu quero estar em estúdio de novo, gravando de novo”. Mais ou menos como aconteceu com a carreira do Guilherme Arantes. Ele é um exemplo que costumo dar, por que ele só tem a importância que tem por que teve o trabalho de continuidade. O Guilherme ficou gravando, sequencialmente, ano a ano, e as pessoas se habituaram a conhecer o trabalho dele. E esse tipo de oportunidade, infelizmente nem eu nem o João Ricardo tivemos. O Ney ainda conseguiu fazer, não exatamente anualmente, mas conseguiu dar uma certa continuidade em termos de marcar seu trabalho solo na mídia, e ele foi acompanhando de certa forma o que acontecia no mercado fonográfico.

Isso acabou o afastando da música...
Sim, quando eu me aborreci com isso nos anos 80, eu voltei totalmente para a Arquitetura, por que eu sou formado em Arquitetura, e precisava sobreviver. A música não estava respondendo a contento e eu falei chega!”Vou me dedicar a arquitetura e deixar a música um tempinho em segundo plano”. O problema é que quando eu abri os olhos, haviam se passado mais de 11 anos, e voltei a atuar com música em 1992. De 81 a 92 eu fiquei totalmente fora, recusando convites e tal. Mas daí eu comecei, muito timidamente, a aparecer de novo no mercado, e de lá para cá eu não parei mais. O que acontece com a minha carreira, eu costumo sempre brincar com isso, é que eu sou um desses casos de extremada sorte por ter sido um profissional de um grupo que foi o maior sucesso desse país. E isso me permitiu, por exemplo, quando retomo a minha carreira em 92, apesar de não circular na chamada grande mídia por razões óbvias, fiquei muito tempo afastado, sem nada de novidade de disco no mercado. Eu sempre tive um público muito significativo em shows, e que mantenho isso até hoje. E isso, tem sido uma constante desde a década de 90, e veio a se firmar muito a partir de 2007, quando começo esse trabalho que estou fazendo até hoje com a Trupi, que é o grupo com o qual eu tenho me apresentado.

Para encerrar esse assunto sobre o Secos & Molhados, já houveram contatos para vocês voltarem como trio, e realmente, convites para se apresentar no Rock in Rio?
Bom, isso começou a surgir já desde o primeiro Rock in Rio, em que o Ney participou da abertura, com “Rosa de Hiroshima” e uma revoada de pombos brancos voando pelo local. Houve interesse até de reunir a formação original para o Rock in Rio desse ano, mas houveram empecilhos. Só que o Ney está lá, mais uma vez representando Secos & Molhados com a Nação Zumbi. O João detém a marca do grupo e se recusa terminantemente a trabalhar comigo e como Ney. Reunir os três é meio uma utopia, nunca vai acontecer. Mas de qualquer forma, o contato ocorre sempre primeiro comigo, não sei por que. Foi com o Rock in Rio, convites da Europa, de uma televisão alemã, enfim.

Mas quem sabe uma ideia entre vocês dois, Ney e Gerson.
Olha, eu falei já tem um tempinho com o Ney, e ficou uma pulga atrás da orelha, por que a gente recebe muitos convites, e disse: “Ney, se o João Ricardo não quer fazer, o nome Secos & Molhados é João Ricardo, a gente pode fazer um tributo, né?”. E aí isso, balançou um pouco a cabeça do Ney, mas não tem nada concretizado nesse sentido não. Vamos ver se pelo menos isso acontece.

Haverá um lançamento seu com a Trupi?
Então, eu estou terminando de gravar um CD, depois de anos relutando, até pelo fato de que tem o seguinte. Como a maioria dos meus amigos sabe, fazer uma produção independente para vender 10 ou 15 CDzinhos em cada apresentaçãoao vivo , isso jamais me passou pela minha cabeça. Não entenda isso como megalomania, nem algo semelhante, mas acho que a minha contribuição para o cenário artístico, cultural e fonográfico dentro desse nosso país foi tremendamente significativa. Então, essa história de que as gravadoras hoje já não existem mais, essa balela, pois a Warner está aí com cast próprio, a Sony Records está aí com cast próprio, eu acho que essa gente teria no mínimo obrigação de escutar aquilo que estou fazendo. Quando eu entrei em estúdio, no final do ano passado, para começar a gravar, entrei sem pressa nenhuma de colocar o trabalho no mercado. Vamos terminar em um mês e meio todas as gravações, mixagens e tal e, já pensei em levar esse disco para uma grande empresa dessas, para que eu tenha uma distribuição em termos de Brasil, seja através desse novo formato digital, já que o CD, propriamente dito, hoje em dia está ultrapassado. Eu estou muito confiante pelo que eu faço. Aliás, eu tenho um histórico de N reportagens de quando lancei o meu disco de 1981, com críticas de Maurício Krubusly e outros críticos renomados no país, que falaram que meu som, naquela época, estava 20 anos à frente do próprio tempo, e quando escuto esse disco hoje, continuo vendo que ele é atual, percebo que era bem mais de 20 anos, são mais de30,desde a década de 80 para cá (risos).

(risos) Sim. Eu conversava com o Pedro Baldanza esses dias e ele dizia que quando a música é boa, não importa o ritmo, o estilo, ela será eterna. 
Exato. E com isso, estou muito confiante naquilo que faço, e sei que estou vindo com um trabalho totalmente inédito, atualizado dentro daquilo que a música evoluiu, digamos assim, no nosso planeta.

Ainda mais hoje em dia, onde temos tanta porcaria rolando na mídia, terríveis. Precisamos de música boa.
Sim. Eu sou muito crítico. Eu deixei de ouvir rádio há pelo menos 9, 10 anos, por que me cansava. Você não ouvia nada de novo, e cada vez mais, com uma qualidade péssima. Letras sem o menor cuidado, nenhum tipo de informação que pudesse te cativar de alguma forma. Então, decidi continuar ouvindo em casa aquilo que seleciono, aquilo que acho ser mais sensato para minha pessoa. E na verdade, esse trabalho que estou fazendo atualmente em estúdio, ele reflete exatamente isso, nas composições. É um resultado de tudo aquilo que eu ouvi e assimilei durante esses anos, e um exercício diário enquanto compositor, que venho fazendo há muito tempo. Tenho ouvido muitas coisas interessantes, não só dos ingleses, mas de outros países.

Para encerrar, espero encontrar você em breve aqui no sul.
Então cara, eu devo estar indo aí em Porto Alegre em breve . É o seguinte:Tem um grupo aí no sul, chamado El Rey – Secos & Molhados, que eu apadrinhei esses meninos em 2010 ou 2011, e já estive aí com eles fazendo shows. São um grupo cover dos Secos & Molhados e, de todos os grupos que já me procuraram, eles são os mais criativos e mais fiéis em termos da sonoridade daquilo que o mercado conhece como Secos & Molhados. Volta e meia eles me convidam para tocar. Eles vão começar uma série de shows a partir do final de maio, e eu devo estar em Porto Alegre entre maio e junho, participando de um evento desses.

Puxa, será legal demais. Agradeço novamente sua atenção, desejando-lhe muita saúde, paz e muito sucesso para você.
Imagina, muito obrigado. Um grande abraço à todos da Consultoria do Rock, e obrigado pelo espaço. Sorte para vocês e sorte para todos nós.

domingo, 14 de maio de 2017

Trem do Futuro




Na década de 80, o rock progressivo nacional fez uma guinada interessante para o mercado mundial. Enquanto os gigantes progs da Europa (Inglaterra principalmente) enveredavam para um lado mais acessível, apoiando-se na nomenclatura AOR para continuar carreira, bandas como Bacamarte, Sagrado Coração da Terra, Quintal de Clorofila e Quaterna Réquiem, entre outras, criaram uma sonoridade progressiva tipicamente brasileira, espalhando sementes por todo o país. Algumas delas germinaram em Fortaleza, onde vingaram-se para florescer na exímia e talentosa banda Trem do Futuro.

O grupo foi formado em 1981, inspirado no prog inglês mas com algo de contemporâneo que fortaleceu uma identidade exclusiva, conquistando premiações durante toda a década de 80 e levando ao reconhecimento internacional, apesar de pouco conhecido em nosso país. 




O primeiro álbum da banda, auto intitulado, é lançado em 1995. O Trem tem na formação Gilmar Moura (teclados), Marcelo Macêdo (guitarras), Marcos Bye Bye (bateria), Paulo Rossglow (vocais), Jomar Sérgio (baixo) e Ulisses Germano (flautas e efeitos sonoros). O som traz grandes influências do rock progressivo e da música clássica, destacando principalmente as passagens de flauta e teclados, além de uma base sólida entre bateria, baixo e guitarra. 

O progressivo inglês está presente em "Bivar", A parte clássica surge com força durante a arranjo de flauta e violão em "O Anjo", na delicada sutileza do violão de "A Louca" e na dupla "Vagão / Requiem da Louca", que apresenta o Trem do Futuro com letras épicas cantadas em português, mais um diferencial da banda. Essa faixa também conta com a participação vocal de Rita de Cássia, co-autora do poema "Requiém da Louca". 

Imagem da contra-capa do primeiro álbum da banda: Marcos, Marcelo, Paulo, Jomar, Gilmar e Ulisses
Para absorver as letras "Rushianas" do Trem, ouçam a linda "Revolução das Flores", com violões e flautas comandando uma belíssima faixa, ao lado da épica "Sila", ambas candidatas a melhores letras do grupo. Além dessas faixas com belas poesias, também temos as instrumentais "Mental Física", onde a flauta e a guitarra fazem um belo trabalho solando em parceria, a vinheta "Entreé", os teclados predominando a dupla "Labirinto/Dança dos Lírios" e o exímio trabalho de "Moksha", para mim a melhor do álbum, que recebeu muitos elogios mundo a fora, destacando as revistas Arlequim (Itália), Harmone Magazine (França) e entrando ainda na lista dos 10 melhores álbuns de Rock Progressivo do Japão. 

Demorariam-se mais 13 anos até o lançamento do segundo álbum, mas o nome do Trem do Futuro já estava marcado na cena musical progressiva do Brasil, e principalmente, como o maior expoente dessa cena no nordeste. Destaque também para a linda capa, com inspirações Roger Denianas, criada por Jó Nunes. Trem do Futuro hoje alcança valores altíssimos nos Mercado Livres e Ebays da vida, o que mostra quão valiosa é essa obra.



Com uma mudança na formação, tendo a entrada de Alan Kardec Filho no lugar de Jomar, João Victor para o lugar de Gilmar, Marcelo adotando agora o nome Marcelo Leitão, e a adição do violinista Sidarta Guimarães, O Tempo chegou aos fãs em meados de 2008, apresentando uma banda mais madura, criando peças ainda mais memoráveis do que aquelas registradas em seu primeiro álbum, apesar de haver um revezamento nos teclados e no baixo, já que algumas canções contaram com baixistas e tecladistas alternados, sendo o baixo empunhado em algumas faixas por Marcos Pessoa, e os teclados de Julinho Silva, outras faixas com George Frizzo no baixo e Edson Filho nos teclados, e variações entre esses dois, além de Marcos e Gilmar Moura (teclados) fazerem-se presentes no rock oitentista "O Homem Antigo", que lembra bastante a fase inicial do RPM, sendo certamente a faixa mais fraca de O Tempo.

Com George e Edson, foram registradas a faixa que dá nome a banda, um rockzão com pegada blues que em nada se assemelha ao que já ouvimos nas outras faixas do grupo, mas que é muito boa, blues esse presente também em "Na Trilha do Diabo", com a participação da harmônica de Diogo Araujo, vocais de Carlo Macedo, Marcos e Gilmar, e um fantástico solo de flauta. Ainda com George e Edson, temos "O Som do Silêncio / A Porta", destacando a linda introdução com violão e flautas, a delicada "Búfalos Audazes", repleta de variações de andamento, tendo a participação de Álvaro Luis na steel guitar e Paulo Rossglow no tamborim, além de uma melodia grudenta. Com Marcos e Julinho, temos "Seres Imaginários", faixa muito bem trabalhada, que foi dedicada à Odete Macêdo, é uma delas, e nela, Ulisses está tocando bandolim, o que abrilhantou muito essa magnífica peça ao lado de um emotivo piano. 

Outra faixa com Julinho e Marcos é a sensacional "Saga", com o violino de Sidarta sendo um dos principais instrumentos, e que irá arrancar sorrisos dos fãs de progressivo. A dupla "Lamento das Horas / O Tempo", com as vocalizações "Great Gigianas" de Claudy Guedes, além de Marcos e Julinho, é forte candidata a melhor de O Tempo, principalmente pelas inúmeras mudanças de andamento e empregos de diversos instrumentos e timbres, que levam a emblemática "Ainda Que Tarde", com riffs pesados de guitarra e uma insana flauta nos dando uma sensação de que Ian Anderson uniu-se aos cearenses, além de uma frase importante para o país nos dias de hoje: "Eu luto até o fim". 

Outra faixa grandiosa, tendo Julinho e George, é a tríade "Olho do Tempo/Onda Brava/Tempo Nú", com a guitarra de Marcelo chamando a atenção na primeira parte, assim como uma narração por Marcelo que me lembra "The Necromancer" (Rush.) O álbum foi lançado em uma embalagem luxuosa com encantadora beleza gráfica, totalmente auto-produzida, bem como um encarte também luxuoso e inspirado no surrealismo, e é perfeito para quem quiser algo além da mesmice.

Em 2013 a banda completou 30 anos de carreira, e com uma nova formação, tendo os originais Paulo e Marcelo, além de Felipe Valentim Ribeiro (bateria), Julinho Silva (teclados, baixo), Sidarta Guimarães (violino) e Dudu Freire (baixo, backing vocals), voltam a excursionar, e consequentemente, gravam seu terceiro registro, Tr3s, lançado em 2015.



Este é o mais progressivo álbum da carreira dos cearenses. As letras com clima de surrealismo e fantasia, forte presença dos dois discos anteriores, surgem aqui principalmente em "Ismália", com a presença de Bye Bye na bateria e grande predomínio de sintetizadores de Gilmar Moura, músico que se destaca também na pesada "Lã de Sol", e também "Noite Senil", com um majestoso solo de flauta por Cleilton Gomes. Logo de cara, o saxofone de Afrânio Pinto em "Viajantes do Tempos" nos remete a "Us and Them", cujo andamento é puramente Floydiano, misturado com diversos elementos intrincados, onde a guitarra de Marcelo brilha, tendo a participação dos vocais de Vitória Bayma e os teclados de Gilmar. 

As bases instrumentais de "Soníferos Falham", também com Gilmar e Bye Bye, lembra um pouco faixas do Sagrado Coração da Terra, mas com uma diferença central nos teclados, onde o órgão faz uma bela participação. A complexidade da instrumental "Folhas Secas Sobre A Tarde" traz a soberania da flauta de Cleilton, e também Gilmar nos teclados, sendo esta a grande faixa do álbum ao lado da fantástica "A Busca", um tour de force com mais de oito minutos, que sai de um complexo dedilhado de violão acompanhando o violino para uma pesada faixa, no melhor modelo Rush, tudo recheado com o tempero que só o Trem tem. 

Essa faixa também conta com os vocais de Vitória Bayma, aqui ao lado de Marcelo, que também mostra sua voz na delicada "Além Sonho", revezando-se com Paulo sobre um lindo dedilhado de violão e piano, além de um emotivo violino. Um disco de virtuosismo e feeling na medida certa, e que para mim, é o melhor trabalho da banda.



Todos os três discos aqui apresentados foram relançados recentemente, e podem ser conseguidos através do Bandcamp oficial do grupo. O Trem continua na ativa, agora novamente com Paulo Mezzo no baixo, mostrando que além de ser muito bom, ainda faz muita fumaça!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Megadeth - Dystopia (Limited Edition) [2016]




Hoje em dia, os lançamentos especiais para colecionadores são quase obrigatórios entre os grandes e os pequenos artistas do mundo interior. A maioria desses lançamentos traz CDs bônus com canções inéditas, ou então, material em vídeo, acesso para download no site oficial, camisetas, entre outros mimos que se tornam atrativos para aquele fã que deseja ter até a tampinha da garrafa que seu ídolo bebeu.

O Megadeth resolveu apostar em algo ainda mais complexo, e para acompanhar o lançamento de Dystopia, entregou para seus seguidores uma edição limitada, na qual o fã poderá montar um óculos 3D.
O óculos para ser montado

O décimo quinto álbum do grupo do guitarrista e vocalista ruivo Dave Mustaine marcou a estreia do brasileiro Kiko Loureiro nas guitarras. Completando o time, estão o veterano Dave Ellefson (baixo) e o batera Chris Adler, que assim como Kiko, assumiu o posto nesse álbum, o qual gerou comentários bastante diversos entre fãs e imprensa. O álbum teve uma marca importante quando de seu lançamento, estreando em 3° lugar na Billboard americana, o que o fez superar a marca do Youthanasia, que na época de seu lançamento, 1994, estreou em 4° lugar, e ficando atrás apenas de Countdown to Extinction (1991), além de ter atingido mais de 50.000 cópias vendidas nos EUA apenas na semana de estreia.
Começando a montagem

De forma geral, é um bom disco, destacando a veloz "Fatal Illusion", o peso de "Bullet to the Brain", a pancada "Lying in State", a pesadíssima instrumental "Conquer ... or Die", com exímios solos de guitarra e cuja introdução ao violão é um daqueles momentos mágicos da união entre dois monstros em seus instrumentos, violão também que registra um bonito trabalho em "Poisonous Shadows", também apresentando a inserção de orquestra e piano, elementos raros nas canções do Megadeth.
Praticamente pronto

Em comparação com seu antecessor, Super Collider (2013), é um excelente disco, e vale muito a pena a sua aquisição, e essa versão limitada então, é daquelas que para um colecionador, é material essencial. Afinal, receber a caixa no formato de livro, abrir ela e encontrar uma nova caixa, junto ao CD, já causa aquela sensação de euforia que qualquer edição limitada apresenta.

Dentro da segunda caixa, encontramos um saco plástico envolvendo o material utilizado para montar os óculos. São cinco suportes de velcro, duas proteções oculares e os óculos em si, desmontados obviamente, mas sendo bem prático de montá-lo. Dentro dos óculos, vem um código que você irá utilizar para poder acessar o material que os óculos oferecem como diferencial, que é o site http://ceek.com/megadeth.
Curtindo um Megadeth 3D

Com esse código, o fã baixa um material para os dispositivos Apple ou Android, e assim, coloca o seu Smartphone no local indicado dentro dos óculos e pronto, irá curtir o Megadeth tocando em 3D dentro de sua sala, interpretando cinco faixas de Dystopia: “Fatal Illusion”, “Dystopia”, "The Threat Is Real”, “Poisonous Shadows” e “Post American World”. Durante a apresentação da banda, o fã pode mergulhar no mundo virtual criado como pano de fundo da apresentação, e se divertir com o que estiver vendo. Uma pequena palhinha pode ser mostrada no site citado acima, bem como no vídeo fornecido pelo grupo como divulgação, o famoso Behind the Scenes

Um material diferenciado e praticamente inédito entre as grandes bandas do rock, e que certamente, fará você ter muito orgulho de apresentá-lo aos amigos.
A caixa completa
Track list

1. The Threat Is Real  
2. Dystopia
3. Fatal Illusion  
4. Death from Within
5. Bullet to the Brain
6. Post American World
7. Poisonous Shadows
8. Conquer or Die!
9. Lying in State
10. The Emperor
11. Foreign Policy


sábado, 6 de maio de 2017

Melhores de Todos os Tempos - Aqueles que Faltaram: por Fernando Bueno


Elton John em 1973

Por Fernando Bueno


Edição de Diogo Bizotto


Com Alexandre Teixeira Pontes, André Kaminski, Bernardo Brum, Christiano Almeida, Davi Pascale, Flavio Pontes, Mairon Machado, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo


Quando iniciamos a série, eu não imaginava que, primeiro, teríamos tanto sucesso e tanto retorno dos leitores. Muitas discussões e até brigas aconteceram nos comentários. Porém, eu não esperava também que teríamos tantas indicações diferentes. Sinceramente, imaginei que poucos discos seriam votados e praticamente apenas definiríamos a ordem em que apareceriam nos resultados finais. A diversidade acabou me surpreendendo e chegamos ao ponto da necessidade dessas listas individuais com o que cada um entendeu como injustiçado. Pode-se dizer, então, que eu subestimei o conhecimento e o gosto dos nossos consultores e convidados. Sobre as escolhas abaixo, eu, sinceramente, não fiquei com muita dúvida na hora de escolher. Aliás, tentei fazer a lista final o mais rápido possível para que eu não tivesse muito remorso em relação a um ou outro que ficou de fora. Até agora, apenas um dos álbuns que eu colocaria apareceu em listas anteriores – Crosby, Stills & Nash (1969) – e ele deu lugar ao disco do Scorpions. O critério para elaboração desta lista foi a avaliação das minhas anteriores, identificando álbuns em colocações mais altas que acabaram não entrando na classificação final. Sobre um deles, porém, realmente achei absurdo o fato não ter entrado, Goodbye Yellow Brick Road. Esse era o único que senti, durante todo o tempo que fizemos ano a ano, que havia faltado.

Traffic - Traffic (1968)
Fernando: Lembro-me da primeira vez que conheci o Traffic. Foi através da capa de uma edição da Poeira Zine, há alguns anos. Com essa matéria, não descobri apenas uma grande banda, mas também um ídolo musical: Steve Winwood. O Traffic não é lá tão conhecido no Brasil, tanto que eu sequer conhecia o grupo de nome. Quando eu penso nisso, me vem à cabeça que é por causa do Traffic que hoje sou fã do Cream, já que o trio não era uma banda que havia me interessado até então. Acredito que o normal seja o caminho contrário. Sei que outros fãs podem citar outro disco como favorito, mas é o segundo álbum dos ingleses que me fez curtir a banda. Destaque para os clássicos “You Can All Join In”, “Pearly Queen” e, principalmente, “Feelin’ Alright?”. Winwood e Mason dividem os vocais. Aliás, o Traffic é uma banda na qual nem todo mundo tem seu posto exatamente bem definido em estúdio. Cada um toca vários instrumentos e trabalha para a banda, igual a um time de futebol em que o zagueiro faz gols e o atacante ajuda na marcação.
Alexandre: A primeira música, "You Can All Join In", não me chamou muita atenção, mas, a partir da segunda faixa, encontrei várias canções interessantes. A própria "Pearly Queen" e, principalmente, "Don’t Be Sad", na qual os vocais divididos entre Steve Winwood e Dave Mason funcionaram muito bem. O single "Feelin’ Alright?", com backing vocals recheados de soul e permeado pelo sax de Winwood, também se destaca. No lado B, a mesma coisa acontece, pois, no meu entender, a banda escolheu mal as faixas que iniciam os lados do vinil. É interessante a linha de baixo de "Vagabond Virgin", que tem boa parte da responsabilidade por seu ritmo latino. Ainda assim, a música não me agrada. O resto do álbum segue a mesma fórmula do lado A, em especial a sutileza de "No Time to Live" (minha preferida), com ótimos timbres de saxofone. Também destaco a flauta da boa “Roamin’ Thru’ the Gloamin’ With) 40,000 Headmen” e o refrão carregado de emoção de "Cryin’ to Be Heard". Acho que o fato de ser dividido entre Mason e Winwood ajuda sobremaneira, trazendo canções bastante variadas entre si e de ótimo gosto. Boa dica entre os álbuns esquecidos de 1968.
André: Eu esperando aqueles "metáu anos 1980" e o Fernando enche a lista de "rock crássico". Bom para a maioria, que aposto que adorou ouvir a lista toda, inclusive eu e este belo registro do Traffic. Tanto Mason quanto Winwood são ótimos vocalistas. Enquanto o primeiro se sobressai no folk, o segundo prefere o blues, o psicodélico e o fusion, Não tem como não elogiar a conhecida "Feelin' Alright?", além das menos conhecidas e tão boas quanto "Cryin' to Be Heard", com aquele cravo magnífico dando uma aura barroca a um rock contemporâneo, e "No Time to Live", meio agoniante em meio a um disco que preza pela sublimidade. Grande escolha!
Bernardo: Banda viajandona que mistura progressivo, psicodélico, jazz, folk e improviso. Tem seus momentos.
Christiano: Neste segundo registro, o Traffic ainda não havia iniciado sua investida em caminhos mais progressivos, como viria a fazer mais tarde. Mesmo assim, a riqueza e a beleza das músicas é inegável. É possível identificar alguns flertes com elementos folk e psicodélicos, mas tudo é feito com tanto bom gosto que o resultado final é um conjunto de canções agradáveis, bastante acessíveis e, ao mesmo tempo, muito ricas e elaboradas. Só a sequência de “Don’t Be Sad”, “Who Knows What Tomorrow May Bring” e “Feelin’ Alright?” já vale o disco, que é uma obra-prima. Essa a é minha fase preferida da banda.
Davi: Bandaça! Só músico fera. Steve Winwood, Dave Mason, Jim Capaldi... O lado folk rock de que Mason tanto gosta é sentido em faixas como “You Can All Join In” e “Vagabond Virgin”, ambas cantadas pelo próprio. Entretanto, sua grande contribuição é o clássico “Feelin' Alright?”, que ficou imortalizada na regravação de Joe Cocker. Steve Winwood também é responsável por grandes momentos no disco, como “Pearly Queen” e “Means to an End”. Ótima lembrança.
Diogo: Considerada sua importância, o Traffic foi uma descoberta tardia em minha vida. A maioria de seus álbuns, inclusive, precisa ser melhor ouvida por mim. A obra em questão traz um som relativamente eclético, ora mais folk, com uma sensibilidade pop evidente, ora levemente experimental e com climas que passeiam da psicodelia pastoril a influências do outro lado do Atlântico. O mistério se revela quando conferimos os créditos das canções, uma vez que há uma divisão bem evidente entre faixas escritas por Dave Mason e por Steve Winwood (geralmente acompanhado de Jim Capaldi). "You Can All Join In" e "Vagabond Virgin" ilustram bem o primeiro "modelo", enquanto "Roamin' Thru' the Gloamin' With) 40,000 Headmen" e "Cryin' to Be Heard" ilustram o segundo (e ambas são magníficas, destacando sopros e teclados). Steve é a voz superior do Traffic e suas canções caem melhor no meu gosto, mas o grande hit do disco é de autoria de Dave. "Feelin' Alright?" é, com justiça, uma música referencial na carreira do Traffic, daquelas que souberam encapsular uma época e um modo de vida, do mesmo jeito que os Rolling Stones fizeram com "Gimme Shelter" e o The Who com "Won't Get Fooled Again".
Flavio: O Traffic faz um rock 'n' roll que mistura momentos psicodélicos e de folk rock, calcado nas guitarras leves de Dave Mason e Steve Winwood. Há toques de soul e até de progressivo e, em geral, o disco é agradável. O timbre vocal aveludado de Winwood lembra um pouco o de Jack Bruce e o de Eric Clapton. O próprio som da banda, em alguns trechos (menos folk), lembram o na época recém-extinto Cream, com um pouco menos de vigor. Há misturas de saxofones, flautas e cravos aqui e ali, e posso ressaltar o bom gosto da mistura blues/folk de "(Roamin' Thru' the Gloamin' With) 40,000 Headmen". Não consegui deixar de notar também uma certa semelhança em "No Time to Live" com "Fool's Overture", do Supertramp. Um disco de bom nível, sem muitas novidades, mesmo para a época.
Mairon: Sou fã do Traffic e adoro sua discografia. Essa fase inicial, na qual eles ainda estavam buscando sua identidade, mesclando elementos psicodélicos com rock e blues, exaltados em "Don't Be Sad", "Vagabond Virgin" e "Cryin' to Be Heard" – com Winwood brilhando no cravo – tem várias joinhas interessantes de se ouvir. Neste álbum em especial, destaco as faixas em que Steve Winwood solta a voz, com seu órgão e sua guitarra estraçalhando as caixas de som, principalmente a baladaça "No Time to Live", a clássica "Pearly Queen" e a arrepiante "(Roamin' Thru' the Gloamin' With) 40,000 Headmen", na qual a flauta de Chris Wood e o climão acústico já mostra os caminhos que o grupo seguiria anos depois. Ainda temos as linhas mezzo country de "You Can All Join In", o embalo de "Who Knows What Tomorrow May Bring", o rockzão de "Means to an End" e a clássica "Feelin' Alright?" – particularmente, prefiro a versão do Grand Funk Railroad. Aprecio mais a sequência prog da banda, a partir de John Barleycorn Must Die (1970), e, mesmo gostando muito do álbum referendado pelo Bueno, não creio que houvesse espaço para ele na lista dedicada a 1968, a não ser no lugar daquele maldita bomba "velvetundergroundiana". Mesmo assim, é um baita disco!
Ronaldo: Grupo capitaneado pelo proeminente Steve Winwood. Este segundo disco do Traffic é o mais belo, bem acabado e diversificado trabalho da banda. No equilíbrio entre climas alegres e descontraídos com outros mais instrospectivos e tristes, ele aponta o quanto rock passou a ser permissivo no fim dos anos 1960. Cabia de tudo e o Traffic fez um maravilhoso encaixe de ideias e sons. Difícil destacar alguma faixa, pois todas trazem uma beleza singular, única, repleta de originalidade, instrumentação de alto nível e belas interpretações vocais. Justiça feita a um clássico.
Ulisses: Rock bom é bem assim: divertido, solto, revigorante. Não sei como, mas a mistura de blues, rock, country e folk dos caras é descomplicada, mas nada simples ou destrambelhada. Algumas composições são diretas, outras mais experimentais ou dinâmicas. Chama atenção a presença de instrumentos de sopro em todo o álbum. Destaque para "You Can All Join In", "Pearly Queen" e "Feelin' Alright?".

Caravan - In the Land of Grey and Pink (1971)
Fernando: Com “Golf Girl”, o Caravan me ajudou a entender que o progressivo, por mais underground que fosse quando comecei a ouvir o estilo, tinha muita sensibilidade pop. A música é cheia de camadas e melodias sobrepostas, ou seja, complexa para o ouvinte não habitual, mas possui uma beleza incrível que pode agradar qualquer pessoa. Este álbum também foi minha porta de entrada para o som de Canterbury. Lembro que eu tinha receio de ouvir essas bandas por achar que a conexão que elas tinham com o jazz não me agradaria. O lado B é mais progressivo que o lado A, com a longa suíte “Nine Feet Underground”, suas oito partes e mais de 22 minutos, mas é daquele tipo de música que passa tão rápido que nem percebemos. Claro que alguns grupos da cena Cantebury são difíceis de ouvir, mas começar com o Caravan foi perfeito.
Alexandre: Um pé no progressivo, um no rock britânico do fim da década de 1960. Guitarras limpas, simples, uma cozinha competente (novamente gostei do baixo bem audível), mas o que comanda o álbum são os teclados. Confesso não ter entendido muito bem o porquê da aura acerca deste disco. A parte menos progressiva que domina o começo do álbum tem até seu charme e letras com certo humor britânico aristocrático em "Golf Girl". Um discreto mellotron é o destaque da canção, que é relativamente simples. O tom menos intricado segue pelas duas músicas seguintes, e essa parte inicial do álbum é ok para mim, mas nada de mais. Trechos cantados sob melodias comuns que se incrementam com as intervenções de teclado. O vocal também não compromete, mas não se destaca. A própria faixa-título não modifica muito esse cenário. A coisa muda totalmente na faixa "Nine Feet Underground", que toma conta de todo o lado B. Solos com mais espaço. Além dos teclados, há um belo solo de sax tenor no início da canção. Foi a faixa que mais me agradou. O disco acabou me soando em um saudável meio termo. Bom, mas talvez não o suficiente para ficar entre os melhores de um ano tão inspirado como 1971.
André: A cena de Canterbury, junto ao progressivo sinfônico, são meus subestilos preferidos dentro do prog. O Caravan é gigante dentro dela. É o progressivo mais leve e descontraído que a pomposidade do sinfônico, da viagem do psicodélico e da complexidade do avant-prog. Dá para curtir de boa músicas como "Golf Girl" e "In the Land of Grey and Pink". É o subgênero mais fácil para que um não ouvinte do prog absorva seus sons. E o Caravan ainda deixa tudo melhor com composições de qualidade, caso deste excelente registro.
Bernardo: A cena de Canterbury deve ser o pico de sofisticação do rock, em que o mesmo era desconstruído e dissolvido em um caldeirão de experimentação. Dificilmente o nível é baixo ou enfadonho.
Christiano: Este é considerado por muitos o grande álbum do Caravan. De fato, é um grande disco, uma das principais referências do Canterbury Sound. Embora reconheça todas essas qualidades, não simpatizo muito com os vocais de Richard Sinclair, que acho bastante sem sal. Por isso, minhas faixas preferidas são as cantadas por Pye Hastings: "Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)" e a maravilhosa “Nine Feet Underground”, com seus quase 23 minutos de duração.
Davi: Excelente! Não conhecia este disco e gostei bastante. O lado A é lindo, lindo, lindo, com faixas como “Golf Girl” e “Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)”, trazendo uma forte pegada pop. “Winter Wine” e “Nine Feet Underground”, essa responsável por todo o lado B, já trazem os músicos mais soltos, improvisando mais. Excelentes instrumentistas, músicas muito bem construídas. Disco deliciosíssimo.
Diogo: Quem deixa de escutar este disco devido ao rótulo "prog" atrelado a ele não sabe o que está perdendo. Não deixe que uma mera convenção cujo julgamento pode ser arbitrário o impeça de apreciar esta belíssima obra, bem tocada (e isso não quer necessariamente dizer que nela haja técnica exuberante), bem cantada e bem produzida. Mesmo os quase 23 minutos de "Nine Feet Underground" passam como se fossem seis ou sete tão grande é o bom gosto do grupo para timbres e na hora de compor. A única faixa da qual não gosto tanto é "Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)" (chega a lembrar de leve o clássico "Louie, Louie", do The Kingsmen). De resto, trata-se de um rock puxado sim para o progressivo (com um quê de jazz), mas com uma latente veia pop. Gosto muito do fato do baixo de Richard Sinclair estar bem à frente na mixagem, pois seu estilo mais melódico conduz as canções com grande segurança, enquanto os teclados de seu primo Dave Sinclair as decoram com muito bom gosto.
Flavio: Este eu realmente não conhecia. Percebi em In the Land of Grey and Pink um disco leve, puxado um pouco para o rock progressivo, porém sem muito aprofundamento. Gostei do som do baixo, mas, no geral, o álbum traz a predominância do teclado de David Sinclair. Em alguns momentos, o vocal se encaixa bem, principalmente nos trechos mais leves, mas carece de maior expressão ou vigor para me agradar mais. Também não gosto do vocal sobre o teclado em linha melódica lenta, como em "Nine Feet Underground". Um álbum razoável, que passou sem sustos, mas senti falta de vigor para me cativar.
Mairon: O Caravan é uma banda cuja audição me agrada, mas não é minha favorita. Tanto que não tenho nenhum disco deles na minha coleção. Seu som mistura elementos da psicodelia do fim dos anos 1960 com um pouco daquele british pop de meados da mesma década – ouçam "Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)" ou a própria faixa-título e digam que estou errado – e pitadas progressivas advindas dos teclados de David Sinclair, o grande nome da banda. Basta ver sua importante contribuição para a trabalhada "Winter Wine", com seus solos referenciados por diversos timbres, que chapam durante sua bela sessão instrumental. In the Land é considerado o melhor de sua discografia pelos mais entendidos e, apesar de não conhecer toda a longa obra da banda, apenas a longa suíte "Nine Feet Underground" já é uma boa representante para fazer com que o álbum mereça tal mérito, principalmente pelo exímio trabalho instrumental do guitarrista Pye Hastings e do já citado David Sinclair, que criam solos delirantes na melhor linha jazzy-prog que os amantes desse estilo admiram. Além disso, o sensacional saxofone de Jimmy Hastings dá um ar bem "colosseumniano" para o Caravan, sem esquecer da cozinha azeitada da dupla de Richards (Sinclair no baixo e Coughlan na bateria). Há algum tempo não ouvia este disco, mas com ele descobri de onde conhecia o solo de trompete de "Os Assaltimbancos" (El Efecto), já que a introdução de "Golf Girl" é similar. Ok, entraria facilmente no lugar de Blue (Joni Mitchell), mas não acho que seria a opção mais apropriada.
Ronaldo: Diria que este disco, em muitos momentos, tem praticamente o oposto do que os fãs de rock progressivo costumam mais apreciar no estilo. Frequentemente, a instrumentação é econômica e as linhas vocais e harmônicas são das mais acessíveis que se pode encontrar no rock; não se trata de obra conceitual ou que escorregue em delírios psicodélicos; a rítmica é linear na maior parte do tempo. Contudo, o álbum é bastante apreciado nessas paragens (ainda que o Caravan tenha trabalhos mais característicos dentro do estilo). A obra remete a um polimento detalhista das fórmulas do pop barroco inglês, com a marcante voz grave de Richard Sinclair, os sintéticos teclados de seu primo Dave Sinclair e um bom gosto que permeia toda a execução e os arranjos. Destaco os momentos mais introspectivos do disco: "Winter Wine" e trechos da longa suíte "Nine Feet Underground".
Ulisses: Este álbum tem um senso melódico bastante agradável. Sinclair canta de forma relaxada, fazendo sua grave voz britânica se encaixar naturalmente com a dupla de baixo e bateria cheia de groove da banda, junto a intervenções de metais, sopros e teclados. Os caras sabem criar uma atmosfera aconchegante e um som gostoso de ouvir, escorregando somente na enrolada "Nine Feet Underground".

Banco del Mutuo Soccorso - Darwin! (1972)
Fernando: O rock progressivo italiano é apaixonante. Não deveria ficar de fora de nenhuma lista de melhores. Poderia ter citado vários outros discos, mas preferi lembrar daquela que eu entendo como a principal obra do estilo feito no país da bota. Já publiquei alguns textos sobre o prog italiano e falo brevemente deste álbum. O estilo, independentemente de sua nacionalidade, sempre foi relacionado com uma cultura mais elevada, e fazer um álbum conceitual sobre a evolução das espécies é, ao meu ver, o ápice. Com dois tecladistas na formação, a liberdade de criação fica quase sem limites e eles sabem dosar tudo isso. Quem nunca ouviu vai identificar timbres bem próximos aos de Keith Emerson. Já a voz de Francesco Di Giacomo é algo fora do comum. Sua versatilidade é impressionante. Este disco deveria ser usado nas escolas. Certamente faria os alunos se interessarem mais por ciência.
Alexandre: Mergulhando fundo no progressivo, uma massa sonora de teclados, pianos, sintetizadores, moogs, toda a sonoridade que uma boa música do gênero pode ter. Não conhecia a banda, conheço apenas o mainstream do mainstream do rock progressivo, mas achei quase tudo aqui bem legal. Além do ótimo trabalho dos dois irmãos tecladistas, gostei também de tudo que o baixista entregou. As faixas são de intricado instrumental progressivo cheio de virtuosismo, recomendo para todo tecladista que gostaria de ter uma referência das possibilidades do instrumento. Em alguns momentos a coisa caminha para o jazz ("Danza dei Grandi Rettili"), em outros os momentos vocais mais harmoniosos lembram até as canções lentas do pop italiano da década de 1970 ("750,000 Anni Fa... L’amore?"). O idioma italiano não me desmotivou a ouvir o trabalho, já que tenho certo receio em ouvir canções em espanhol, por exemplo. Acho que a língua encaixou de forma até razoável na proposta. E a citada "750,000 Anni Fa... L’amore?" tem linhas vocais bem bonitas. Só não gostei muito das duas últimas. "Miserere Alla Storia" é um dos poucos momentos em que o vocal não me agradou, ficou parecendo Zé do Caixão cantando em italiano. E a última, com algum ritmo mais tradicional europeu, ficou um pouco abaixo do restante. Em relação ao conceito sobre a evolução do homem, confesso não ter podido tentar entender a qualidade lírica desenvolvida nessas insuficientes audições. É mais um que vai para o meu rol de aprendizado com bons trabalhos via Consultoria do Rock.
André: Primeiro disco de prog italiano na série. Confesso que esse estilo demorou um pouco para cair no meu gosto e estou na fase de descobrimento do rico progressivo lá do Mediterrâneo. Esses sujeitos sempre estão entre os primeiros a serem lembrados. O disco tem uma sonoridade bastante sinfônica, embora a maioria de seus sons seja emulado de sintetizadores, excetuando alguns poucos. Ainda assim, a atmosfera eletrônica se sobressai perante as guitarras. Gostei muito deste álbum falando sobre a teoria da evolução em italiano. A sonoridade é rica, os sons variam entre o caos e a calmaria e a técnica dos caras é exuberante, principalmente quando o baterista Pier Luigi Calderoni se põe a solar no terço final de "L'evoluzione". Não é disco para quem prefere algo mais "padrão". Nem sei como explicar, mas é aquele tipo de situação em que o som dos caras se encaixa legal com os meus ouvidos. Com certeza procurarei mais discos dessa banda.
Bernardo: Desculpa ao Fernando, mas progressivo realmente não é minha praia. Mas é interessante.
Christiano: Não escutava este disco há muito tempo. Lembro que não era um dos meus preferidos de toda a cena de progressivo italiano. Por isso, foi muito bom ter a oportunidade de reconsiderar minha opinião. Musicalmente, Darwin! é surpreendente. Logo na primeira faixa. “L'evoluzione”, a riqueza dos arranjos é exuberante. Cada nuance é trabalhada em seus mínimos detalhes, com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, o que torna a audição muito agradável e interessante. A instrumental “Danza dei Grandi Rettili” é permeada por passagens jazzísticas, sem soar pretensiosa. Outro ótimo momento é “Miserere alla Storia”, com um clima um pouco mais pesado que o restante do disco. Ótima dica.
Davi: Hum... Então esse é o tão falado Banco Del Mutuo Soccorso? Rock progressivo muito bem tocado, teclado com grande destaque em todo o álbum, mas não me cativou. Já vi muitos o considerarem como um dos grandes álbuns do estilo. Não bate com minha opinião em hipótese alguma. O vocal de Francesco Di Giacomo realmente me incomoda, uns arranjos bem chatinhos. Faixa preferida: “Cento Mani e Cento Occhi”.
Diogo: Com Darwin! ocorre caso oposto ao de In the Land of Grey and Pink. Se você não é um aficionado por rock progressivo, muito provavelmente vai querer passar longe deste disco. Mesmo aqueles já bem iniciados precisam ter cautela. Não são poucos os trejeitos típicos do gênero, além de muitos arroubos dramáticos, que brotam especialmente da voz de Francesco Di Giacomo. Em grande parte esses exageros funcionam, como é o caso da tecladeira de “Cento Mani e Cento Occhi” e dos vocais de "750,000 Anni Fa... L’amore?", que entregam dramaticidade em uma canção que a pede. Em outros, parece que a intenção era colocar os instrumentos à prova, uma vez que as faixas talvez se beneficiassem de mais "limpeza". Trata-se, apesar de uma ou outra crítica, de um bom disco de uma banda muito talentosa, inventiva e ambiciosa. Não é, contudo, um álbum que pretendo ouvir com frequência.
Flavio: O disco mais surpreendente da lista, que se baseia na teoria evolucionista de Darwin. Há uma boa mistura, mas posso identificar bastantes elementos de rock progressivo, que se diluem na influência operística italiana, fazendo com que Darwin! seja realmente inusitado. Os músicos são bem afiados e nesse contexto abusam de mudanças de estilos e ritmos, mostrando grande qualidade na composição e na execução. Em certos momentos, me desagrada um pouco o timbre da guitarra, mas no geral a produção é bem ousada e acerta nos timbres dos instrumentos. Como dito acima, o vocal talvez traga maior influência operística que às vezes agrada e outras não. Diria que Darwin! foi uma experiência auditiva interessante e recomendo, para entender o panorama, pelo menos apreciar a segunda música, "La Conquista della Posizione Erette".
Mairon: Bela presença. Afinal, nenhuma banda prog italiana fez parte de edições da série, e o Banco é um excelente representante, principalmente com este disco conceitual sobre a evolução das espécies. É a nata do progressivo exalando através das caixas de som, privilegiando a interpretação absurdamente emocionante do vocalista Francesco Di Giacomo, bem como passagens empolgantes de teclados e guitarras (ouçam a introdução de "La Conquista della Posizione Erette" para entender o que eu falo). Além disso, as novidades de sintetizadores eletrônicos – na linha ELP – explodem aos ouvidos na canção que citei, na delirante "Cento Mani e Cento Occhi" e, principalmente, na suíte" "L'evoluzione", com Vittorio Nocenzi fazendo misérias nos instrumentos. É uma das melhores canções do prog italiano. Seu irmão Gianni também não fica atrás, exibindo-se com graciosidade ao piano na linda "Miserere alla Storia". Adoro o jazz de "Danza dei Grandi Rettili", a agressividade vocal e instrumental de "Ed Ora io Domando Tempo al Tempo ed Egli Mi Risponde... Non Ne Ho!", o peso de "750,000 Anni Fa... L'amore?". Enfim, um discaço. Machine Head (Deep Purple), Harvest (Neil Young) e Talking Book (Stevie Wonder) poderiam ter bailado fácil para que essa joia italiana tivesse entrado na lista abrangendo 1972. Uma pena, mas ainda bem que o Fernando lembrou deles.
Ronaldo: O Banco é uma das bandas italianas progressivas mais reverenciadas pelos fãs (eu incluído). Contudo, é preciso fazer julgamentos justos e afirmar que é um disco apenas para aficionados; a massa passou do ponto. A banda exagera em todos os quesitos e soa incrivelmente pomposa, abrindo a guarda para os detratores. Passagens instrumentais longas e algumas infrutíferas, vocais operísticos e linhas vocais que frequentemente escorregam para a pieguice e emulações desnecessárias das sonoridades que Keith Emerson experimentava com o Moog modular ou os sintetizadores ARP. Além do tema conceitual ser explorado de forma um bocado esquizofrênica. O disco é longe de ser ruim, mas não tem abrangência suficiente para figurar em listas generalistas como esta.
Ulisses: Talvez o disco mais surpreendente desta lista. Rock progressivo italiano, cantado na língua materna, que apresenta uma profusão de teclados e um vocalista que, embora não dê as caras tanto quanto eu gostaria, traz um pouco da expressividade do canto operático ao registro. Uma surpresa ainda maior é a lírica tratada pela banda, já denunciada no título do álbum; a teoria da evolução, desde os primórdios da vida na Terra até (inesperadamente) a Revolução Industrial – pelo menos até o que as traduções para o inglês que achei na internet me permitiram entender. Musicalmente, há muito virtuosismo e inúmeras mudanças de andamento no lado A (até mais do que eu gostaria), no qual se concentram as duas composições mais longas. No lado B, canções mais curtas, porém não menos bem trabalhadas. Fãs irrepreensíveis de rock progressivo se deliciarão com a forma grandiosa das faixas; já aqueles – como eu – que preferem algo mais palatável gostarão de conhecer o disco, mas não o manterão em sua biblioteca musical para audições constantes.

Elton John - Goodbye Yellow Brick Road (1973)
Fernando: Como afirmei na apresentação, Goodbye Yellow Brick Road foi, ao meu ver, o maior injustiçado na série. Já falei bastante sobre ele e não sei mais o que poderia acrescentar. O álbum possui uma música fantástica na aventura de Elton John pelo progressivo, “Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding”, tem alguns rocks anos 1950 e 1960, algumas canções românticas e até ritmos latinos em “Jamaica Jerk-Off”. Sei que a maioria citará outro álbum como favorito do cantor e compositor. Mas, ao meu ver, ele tem suas duas músicas mais conhecidas, que são “Candle in the Wind” e “Goodbye Yellow Brick Road”. Se você não o conhece ou acha que Elton John não é rock, primeiro dispa-se de sua ignorância e então ouça este disco.
Alexandre: Olha, a edição abrangendo 1973 traz uma senhora lista, mas este álbum cairia como uma luva no décimo lugar. Melhoraria uma lista que já é muito boa, mas tem essa imperfeição, no meu entender. Revisitar este disco, que está na minha coleção, foi uma beleza. Que bom ele ter sido citado. Sempre gostei de Elton John, pois passei minha infância conhecendo seus clássicos, seus hits. Neste álbum há vários: a faixa-título, "Bennie and the Jets", "Candle in the Wind", "Saturday Night’s Alright for Fighting". É um começo praticamente perfeito, com várias dessas acima mencionadas. E a melhor de todas, a abertura com "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding". Aliás, nem precisava da parte final ("Love Lies Bleeding"), só o início instrumental é uma obra-prima por si só. Além das clássicas, que são tocadas até hoje nos sets de Elton, o disco traz uma penca de várias boas canções menos conhecidas: "I’ve Seen that Movie Too" me lembra "We All Fall in Love Sometimes", que é a minha faixa preferida de Elton John; "The Ballad of Danny Bailey (1909-34)", além de ótima, tem uma linha de baixo sensacional. Há algumas faixas mais abaixo da média, mas isso é até normal por ser um disco duplo. A brincadeira com "Jamaica Jerk-Off" é a que menos me agrada, mas, no fim das contas, temos um disco genial. E há de se ressaltar a categoria dos músicos que acompanham Elton. Uma senhora banda, e alguns continuam com o cantor até hoje.
André: Estaria mentindo se dissesse que tenho lá grande estima pelo pianista britânico. Mas eu o respeito e sei da sua grande importância para o rock e para o pop. Porém, suas composições nunca casaram com os meus ouvidos. Algo similar me ocorre com Rod Stewart. Ao dar o play, me surpreendi com a primeira faixa, que me passou a pura impressão de estar ouvindo algum progressivo britânico setentista. No restante, John volta ao pop/piano rock com uma pegada glam que o caracterizou. Tirando a primeira música, o restante não conversa direito com meus ouvidos e me passa tudo meio em branco, embora sua voz realmente seja um destaque positivo na bolacha. Seus fãs devem adorar este trabalho. Vou parar de elogiar ou perderei a minha carterinha de sócio do clube dos metaleiros acéfalos.
Bernardo: Obrigatório, um clássico essencial não só do rock mas da música popular. Praticamente só clássico: "Bennie and the Jets", "Goodbye Yellow Brick Road", "Saturday Night's Alright For Fighting", "Candle in the Wind"... Para ouvir até riscar.
Christiano: Achei estranho este disco não ter entrado na série. Isso aqui é um clássico. Lembro que eu tinha uma ideia muito equivocada sobre Elton John. Achava que era um cantor brega, por conta de suas baladas diariamente tocadas em rádios FM. Só entrei em contato com sua obra por causa do Dream Theater, que fez um cover de “Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding”. Como achei a música muito interessante, resolvi buscar pela versão original. Foi um choque. Descobri que Elton John era um grande compositor e havia gravado ótimos discos. Além de conter vários de seus clássicos, Goodbye Yellow Brick Road ainda traz pérolas escondias como “I’ve Seen that Movie Too”, “Harmony” e “This Song Has No Title”.
Davi: Um dos grandes clássicos da carreira de Elton John. Embora muitos roqueiros ainda insistam em olhar torto para o rapaz, sempre fui um grande fã de seu trabalho. Ótimo pianista, ótimo cantor, excelente compositor. Quem deixar o preconceito de lado e se aventurar em sua obra vai se deparar com verdadeiras pérolas. Um ótimo exemplo é este LP duplo, no qual o cantor demonstra toda sua versatilidade e nos brinda com diversas faixas que se tornaram clássicos ao longo dos anos – como “Candle in the Wind”, “Bennie and the Jets”, “Goodbye Yellow Brick Road” e “Saturday Night's Alright for Fighting” – e outras pérolas injustamente menos lembradas, como “Grey Seal” e “The Ballad of Danny Bailey (1909-34)”. Discaço!
Diogo: Rapaz, eu não vou dizer que mudaria minha lista dedicada a 1973, mas este disco se encaixaria muito bem nela, assim como na lista geral. Mesmo sendo duplo, Goodbye Yellow Brick Road mantém o nível de qualidade muito bem e traz, além dos clássicos mais óbvios, algumas canções muito boas e menos lembradas pelos ouvintes eventuais. "Grey Seal", "I've Seen that Movie Too", "Roy Rogers" e "Harmony" são os melhores exemplos. Em se tratando de produção, acho que o Elton John menos glam dos discos anteriores cai mais no meu gosto, mas não dá pra negar que Goodbye Yellow Brick Road é um álbum mais ambicioso e extravagante, então isso acaba funcionando. Há, inclusive, uma leve tendência prog, como fica bem claro na magnífica obra "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding", melhor música do disco e facilmente uma das melhores da carreira de Elton. "Candle in the Wind" ficou batidíssima após a versão tocada no funeral de Lady Di ter se tornado um dos singles mais bem sucedidos de todos os tempos, mas basta ouvi-la tendo Marilyn Monroe na cabeça para que volte a ser magnífica. Um fato importante dessa extensão da série é poder prestar tributo a artistas que, por mais que não tenham sido representados com este ou aquele álbum, merecem menção pelo belo conjunto da obra. Elton John é uma dessas pessoas.
Flavio: Um disco definitivo na carreira de um grande artista muito bem resgatado pelo Fernando. Goodbye Yellow Brick Road traz canções magistrais que são executadas até hoje nos shows de Elton John. Os clássicos mais do que conhecidos "Bennie and the Jets", "Candle in the Wind", "Saturday Night's Alright for Fighting" e a faixa-título são acompanhadas de outras maravilhosas composições, como a canção de abertura, a suíte "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding", "I've Seen that Movie Too" e "Sweet Painted Lady". No geral, o álbum tem poucos pontos fracos. Talvez eu não goste apenas de "Jamaica Jerk-Off" e "Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n' Roll)" em 17 faixas, o que mostra a solidez da bolacha. Por fim, não posso fechar meu comentário sem destacar a maravilhosa banda que acompanha Elton (muitos até hoje em dia), como o guitarrista Davey Johnstone e a cozinha de Dee Murray e Nigel Olsson.
Mairon: Em um ano no qual o prog teve álbuns celebrados (Dark Side of the MoonBrain Salad SurgeryTales from Topographic OceansLark's Tongues in Aspic e Selling England By the Pound), quem ouve este disco logo de cara se surpreenderá, achando que outro gigante prog estava aparecendo naquele ano, pois "Funeral for a Friend" é uma das peças mais maravilhosas do rock progressivo, com seu instrumental carregado de sintetizadores, o piano de Elton fazendo estripulias e a belíssima guitarra de Davey Johnstone. Uma pena que o resto do álbum não siga essa linha, mas volte-se para o glam rock, certamente feito com ótima qualidade. O disco traz alguns dos hinos da carreira de Elton, como as boas baladas dançantes que são a faixa-título, "Sweet Painted Lady" e "Bennie and the Jets", os rocks pegados de "Saturday Night's Alright for Fighting" e "Love Lies Bleeding", as ótimas "All the Girls Love Alice", com seu climão oitentista, e "The Ballad of Danny Bailey (1909-34)", além da super clássica baladona "Candle in the Wind", que Elton tocou no funeral de Lady Di, que honestamente acho bem chatinha. Além disso, há boas faixas que ficaram esquecidas na vasta discografia do inglês, que são "This Song Has No Title" (lembra a fase inicial do Queen), a pegada "Grey Seal", na qual o mellotron surge com destaque, o country rock de "Social Disease" e "Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n' Roll)". Porém, ele tem algumas faixas a mais, principalmente "Jamaica Jerk-Off". Mesmo "I've Seen that Movie Too", com orquestrações, "Roy Rogers", "Harmony" e "Dirty Little Girl" não se equiparam à grandeza das outras canções e acabam tornando Goodbye Yellow Brick Road um álbum muito monocromático. Se fosse um disco simples, entrava fácil na edição dedicada a 1973, que foi quase perfeita. O único defeito nela é o Stooges, mas nem é tão defeituoso assim. Se Goodbye entrasse em seu lugar, acho que não mudaria muito meu pensamento sobre ela. Trata-se do álbum mais importante de Elton John – vendeu mais de 30 milhões de cópias –, apesar de eu achar seu melhor trabalho o impecável ao vivo 17-11-70 (1970). Além disso, é uma das grandes referências do glam rock. Ah, por favor, desconsidere a capa, hehehe.
Ronaldo: Acho incrível a produtividade em composições da dupla Elton John e Bernie Taupin. Em três anos de carreira, Elton John já tinha quatro (bons) discos inteiramente autorais. Em 1973, soltou a magna obra Goodbye Yellow Brick Road, um álbum duplo bastante extenso e justamente aclamado por seu conteúdo. Sobre seus méritos muito já foi falado; há músicas lindíssimas, como a faixa título, "Candle in the Wind", "Funeral for a Friend" e bons momentos rockeiros. Destaco (negativamente) a produção apavonada, visando colocar Elton John par e passo a ícones visuais como David Bowie e Marc Bolan. Nesse sentido, a bateria fica incomodamente em destaque em alguns momentos, a cafonice atingiu os arranjos de forma generalizada e vários dos timbres de teclados usados no disco. O estilo singer/songwriter de Elton John casa melhor com a produção mais econômica de seus dois primeiros discos.
Ulisses: Como álbum duplo, eu acho um exagero, mas não dá para negar que há muito material de qualidade. Desde a bela "Candle in the Wind", até faixas empolgantes e roqueiras como a dupla "Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n' Roll)" e "Saturday Night's Alright for Fighting", além de "All the Girls Love Alice", sem falar da grandiosa abertura "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding" – é um tracklist que denota diversidade, riqueza musical e polidez, denunciando se tratar de um clássico, mesmo àqueles que não conhecem a obra do pianista inglês.

Electric Light Orchestra - Eldorado (1974)
Fernando: Um álbum conceitual com sinfonia. Talvez você ache que isso não é surpresa alguma. O disco abre como se fosse a trilha sonora de algum musical e de cara temos “Can't Get It Out of My Head”, que fará qualquer headbanger se render às melodias matadoras do ELO. A história conta uma viagem a um mundo de fantasia. Uma das passagens da faixa citada diz que o protagonista trabalha em um banco e que Robin Hood, William Tell, Lancelot e Ivanhoé não sentem inveja dele. Isso dá uma ideia do que esperar. Não tive contato com o disco original, mas pelo menos na edição de 2001 que tenho, há comentários de Jeff Lynne em cada faixa. Eldorado é o álbum de que gosto do ELO, já que outros não me soaram tão simpáticos. Tudo bem, confesso, não tentei muitos outros.
Alexandre: Gosto bastante da mistura de cordas com guitarras e bateria que o Eletric Light Orchestra faz, inclusive já indiquei um álbum deles (Zoom, de 2001) em primeiro lugar na minha lista. Talvez seja um pouco exagerado, mas comprova minha apreciação pela banda. É clara a influência de bandas como Beach Boys e Beatles nas harmonias do conjunto. "Mister Kingdom" é quase uma "Across the Universe", trazida na década seguinte. Considero Jeff Lynne um gênio, não só pelo trabalho no ELO, mas também na participação em alguns trabalhos dos ex-Beatles (e no próprio Anthology, de 1995, do Fab Four) como produtor. O disco em análise apresenta um pop rock delicioso da época, que não se limita ao single super conhecido "Can’t Get It Out of My Head". "Boy Blue", "Poor Boy", "Illusions in G Major" são outros bons destaques. Acho que a voz de Lynne melhorou um pouco à frente, ficou mais suave do que em Eldorado. O conceito me passou ao largo, mas, no fim das contas, Eldorado é um bom álbum. Só não sei se mereceria tanto destaque e algum espaço na edição dedicada a 1974. Pensando bem, ele entraria no fim da lista sim....
André: Adoro cada minuto deste álbum. Sinfônico, agradável, delicioso, bem composto e executado. O rock e as sinfonias se fundem com perfeição. Melhor disco da banda, destaque da década e desta lista. "Mister Kingdom" é uma canção incrível. Mesmo que todo o álbum tenha aquele ar de grandiosidade, o fato é que todos os instrumentos se encaixam e de fato enriquecem a música, ao invés de um querer aparecer mais que o outro. Melhor disco da lista. Fernando ganhou mais uma estrelinha de bom menino que faz o dever de casa.
Bernardo: Álbum conceitual com uma história narrada com o auxílio de arranjos poderosos. Mas acho que datou um pouco.
Christiano: Acho o ELO uma banda pouco compreendida. Mesmo tendo conseguido uma boa repercussão comercial, não percebo muitas pessoas citando seus discos entre seus preferidos. Por isso, gostei muito da escolha de Eldorado, que considero um de seus melhores álbuns. “Can’t Get It Out of My Head” é bastante conhecida do grande público, mas o disco vai muito além dela, uma vez que é um álbum conceitual. Ótimos momentos não faltam: “Poor Boy (The Greenwood)”, “Nobody’s Child” e “Boy Blue” mostram que Jeff Lynne e cia têm o direito de figurar entre os grandes nomes do rock dos anos 1970.
Davi: Grande Jeff Lynne! Gosto desse cara. Este é, provavelmente, o maior clássico do Electric Light Orchestra e é realmente sentida sua ausência na série. Arranjos pomposos, melodias assobiáveis e latente influência de Beatles. Escute “Mister Kingdom” e tente não se recordar de “Across the Universe”. “Boy Blue”, “Nobody's Child” e o single “Can't Get It Out of My Head” são minhas preferidas.
Diogo: Nunca havia ouvido um disco do ELO até o Fernando ter feito a indicação. Conheço o trabalho de Jeff Lynne como músico e (especialmente) produtor, conheço Bev Bevan desde a primeira vez que escutei Born Again (Black Sabbath, 1983), mas sabia bem pouco sobre o rock sinfônico do grupo. Gostei da audição. Não chega a ser fantástico, mas Eldorado é uma audição bem agradável, especialmente quando os arranjos orquestrais não se sobrepõem às boas canções nele presentes. Há uma profusão de boas melodias e as influências sessentistas são evidentes (Beatles por todos os lados). "Can't Get It Out of My Head", "Boy Blue" e "Laredo Tornado" são as que mais chamaram minha atenção, justamente por ilustrarem esse equilíbrio. A médio prazo, pretendo ir atrás dos álbuns mais conhecidos do grupo.
Flavio: Conheço o ELO de outros discos e nunca havia escutado Eldorado. Há trechos interessantes, como o single "Can't Get It Out of My Head" e o uso da orquestra na trinca Eldorado ("Overture", a música propriamente dita e "Finale"), mas há outros que me soam datados (até para a época) e desnecessários, como o rock 'n' roll basicão de "Illusions in G Major". Claro que noto várias características do estilo que conhecia da banda. É praticamente inevitável perceber a influência dos Beatles na totalmente chupada de "Across the Universe" transcrita para o início de "Mister Kingdom", que a seguir se torna bem enfadonha.  Enfim, o disco tem bons atributos, mas é irregular e não me conquistou.
Mairon: Não sei dizer por que nunca fui com a cara do ELO. Parar para ouvi-lo de cabo a rabo foi a primeira vez. E olha que sou um admirador de Jeff Lynne e Bev Bevan. Mais um álbum conceitual nessa surpreendente lista do Fernando, que eu jurava vir cheia de metaleira, mas até que ficou bem boa. As orquestrações de "Eldorado Overture" e o próprio nome da faixa já nos diz que estamos diante de algo grandioso, assim como a dupla "Eldorado"/ "Eldorado Finale", a última uma recapitulação de "Overture". É isso que percebemos, um disco bem construído, no qual orquestra e banda encaixam-se para criar uma miniópera, que me lembrou várias outras bandas que se atreveram a fazer algo nessa linha, desde The Who até Meat Loaf. Gostei da audição, gostei das músicas no geral, sendo difícil destacar algumas em especial pela homogeneidade (acho que o jazz de "Nobody's Child" é o momento mais diferenciado do disco).
Ronaldo: O Electric Light Orchestra sempre teve um estilo declaradamente beatlesco de compor. Todas as faixas de Eldorado têm bons ganchos e momentos memoráveis, uma estruturação inteligente e engredada para capturar o ouvinte. Um porém cabe somente ao formato como essas canções foram embaladas e que mostra o quanto o rock e o pop estavam se separando irreconciliavelmente, cada um se radicalizando para um lado. As orquestrações são desmedidas e carimbam o disco com um selo capaz de afastar o público do rock de seus préstimos. Boas músicas vestidas com uma roupagem meio vulgar.
Ulisses: Bem pomposo, mas igualmente acessível. Não era exatemente o que eu imaginava de uma banda que é sempre descrita como rock progressivo sinfônico, mas a audição tem várias facetas atrativas, pois o grupo procura unir arranjos do pop e do rock sessentista com aquela grandeza orquestral. O resultado é agradável, mas senti falta de algo mais intenso e arrebatador – elementos que vejo, por exemplo, em vários momentos de "Blue Boy". Não me parece uma audição indispensável.

Scorpions - Virgin Killer (1976)
Fernando: Por mais que a maioria dos fãs considere In Trance (1975) melhor que Virgin Killer, é a este que recorro mais vezes. Tenho a impressão de que este disco é o que mais tem a ver com o heavy metal oitentista de várias bandas que citam o Scorpions como inspiração. Os outros álbuns deles também podem ser considerados desse modo, mas com graus inferiores nesse quesito. “Pictured Life” é a música que resume esta baita obra. Acho uma pena que a primeira coisa pela qual as pessoas se lembrem deste disco seja a polêmica da capa. Não comentarei aqui pois já escrevi a respeito das capas dos Scorpions em 2011.
Alexandre: Outro álbum que está na minha coleção. Sou fã dessa fase com Ulrich Roth (eu não consigo chamá-lo de Uli Jon) e todos do Scorpions dessa época são muito bons. Apenas Fly to the Rainbow (1974) é um pouco inferior. Sei que alguns integrantes da Consultoria talvez o considerem o melhor, é uma questão de gosto. Entre os outros três, é difícil escolher um. Considerando esse fato e também a questão de não se incluir discos ao vivo nestas relações, a citação a Virgin Killer é muito merecida. Ulrich Roth fez um trabalho fenomenal na banda, que tem sua melhor fase encerrada com o histórico Tokyo Tapes (1978), um dos grandes ao vivo de todos os tempos. O álbum começa muito bem, um lado A praticamente perfeito, no qual a faixa-título é a mais fraca. "Pictured Life", "Catch Your Train" e "Backstage Queen" são fantásticas. Ulrich destila virtuosismo em todas, em especial "Catch Your Train". "In Your Park", menos conhecida, também é linda e cheia de intervenções maravilhosas do guitarrista virtuoso. Já o lado B começa mal. "Hell-Cat", a despeito da maestria de Ulrich, tem uma melodia fraca que complica pela voz ruim do guitarrista. O restante do lado, no entanto, está no nível do lado A e termina muito bem, com duas faixas de Roth: "Polar Nights" e "Yellow Raven". Preciso ressaltar que em 1976 pouquíssimos guitarristas faziam algo próximo ao que Ulrich deixou registrado. O que ele faz em "Polar Nights" é de cair o queixo. Um gênio que nunca teve o reconhecimento de público próximo ao que seria merecido. Mas como o disco não é só Roth, pontos também para Schenker e Meine pelas composições. Meine canta muito bem durante toda a carreira, mas no ínicio da banda esteve um patamar acima. Portanto, qualquer dos álbuns do grupo com o “Hendrix alemão" é para mim super bem vindo, pois, além do ótimo nível das canções, traz a voz de Meine na sua melhor forma. Na edição abrangendo 1976, Virgin Killer certamente teria vaga.
André: Em se tratando deste álbum, a capa controversa infelizmente sempre costuma chamar mais atenção do que as músicas. Temos o Scorpions firmando de vez os pés no hard rock e com o excelente Uli Jon Roth solando divinamente. "In Your Park" traz meu solo favorito dele. O cara realmente sabe como emocionar com a guitarra. O disco segue cheio de petardos, como "Backstage Queen", "Hell-Cat" e "Yellow Raven". Esqueçam as polêmicas em torno do álbum e aproveitem este ótimo disco com o qual os alemães nos presentearam.
Bernardo: Me choquei mais com a polêmica da capa do que com o disco. Rock básico, bem tocado, mas a própria banda já teve momentos melhores.
Christiano: Um dos melhores discos da melhor fase do Scorpions, quando ainda contavam com Uli Jon Roth, um gênio das seis cordas. Lançado entre duas pérolas gravadas pela banda – In Trance Taken By Force (1977), Virgin Killer é mais um registro de alta qualidade dos alemães, que praticavam um hard rock altamente elaborado. Muito disso por conta da genialidade de Uli Jon Roth, que costurava todas as músicas com arranjos sublimes de guitarra. Roth também canta algumas faixas, caso de “Hell-Cat”, que traz um dos melhores riffs de todo o disco. Clássico incontestável.
Davi: Ainda contando com as guitarras de Uli Jon Roth, os alemães do Scorpions entregaram um hard/heavy mais direto, mais sujo do aquele que os fãs dos anos 1980 estão acostumados. Ainda que não conte com grandes hits, é um trabalho essencial para entender do que se trata a banda, além de contar com petardos de primeiríssimo nível, como “Pictured Life”, “Catch Your Train” e “Backstage Queen”. O único senão são os vocais de Jon Roth em “Hell-Cat” e “Polar Nights”. As músicas teriam soado muito mais impactantes na voz de Klaus Meine.
Diogo: Entre In TranceVirgin Killer e Taken By Force, qualquer um deles merece ser citado como o melhor álbum do Scorpions. Tenho uma quedinha por In Trance, mais melódico e de evidente transição para algo mais pesado, mas Virgin Killer atrapalha bastante minha escolha. Ele representou uma metamorfose mais completa para um hard rock puxado quase para o heavy metal mesmo, com muitos riffs furiosos, um guitarrista solo insano e composições caprichadas. Este é daqueles raros casos, inclusive, em que a faixa-título é a menos boa das canções, e ainda assim ela passa bem longe de ser ruim (o riff inicial é ótimo). Muito se fala dos méritos de Uli Jon Roth como guitarrista e compositor (com justiça), mas Rudolf Schenker e Klaus Meine não ficavam para trás. "In Your Park" e "Crying Days" ilustram muito bem o tino para melodias que a dupla tinha, enquanto "Catch Your Train" é um rockaço que não deve nada para aquilo que Uli vinha apresentando. Claro, o excêntrico guitarrista é mesmo genial com seu instrumento na mão, e não dá pra negar que a finaleira, com "Polar Nights" e "Yellow Raven", é excepcional.
Flavio: Assim como o álbum de Elton John, está presente na minha discografia particular. O terceiro Scorpions da era Uli Roth é outro testemunho da maravilhosa fase da banda, que não obteve o sucesso comercial merecido. Destaco o espetacular trabalho de Uli na bolacha toda, notadamente em "Pictured Life", "Catch Your Train", "In Your Park" e "Polar Nights". Identifico pontos fracos apenas em "Hell-Cat" (não gosto do vocal de Uli) e também na mediana faixa-título. No mais, é pedrada atrás de  pedrada, com ótimas interpretações de Klaus Meine e do restante da banda, até o final com a lindíssima e melancólica "Yellow Raven". Ótima pedida do Fernando. Deveríamos ter outros dessa fase do Scorpions entre as listas de esquecidos...
Mairon: O Fernando tirou mais um da minha lista. Meu álbum preferido do Scorpions é Fly to the Rainbow, mas Virgin Killer é, com certeza, o disco da fase Uli que deveria ter entrado. Nele, a banda consegue mesclar as guitarras ácidas do incrível alemão com canções, digamos assim, mais acessíveis, que marcariam a terceira fase da banda, já nos anos 1980, como percebemos na suave e arrepiante "In Your Park" (Iron Maiden fase Di'Anno certamente bebeu um pouco disso) e na enigmática "Crying Days", com Uli mandando ver na alavanca. Aliás, o que Uli está tocando é um absurdo, e não à toa, as faixas em que ele mete a mão na composição são as melhores. Quer comprovar? Então delicie-se com o riffzão de "Pictured Life", a pancadaria generalizada da faixa-título e especialmente quando Hendrix encarna no corpo do alemão durante "Hell-Cat", "Polar Nights" e na filha talentosa de "Little Wing", e tão bela quanto a mãe, "Yellow Raven". Ainda temos o rockaço "Catch Your Train", com um espetáculo à parte por Uli, e a animada "Backstage Queen" para fechar um tracklist sensacional. Ainda teria Taken By Force, mas acho que, no fim, Uli fez bem em sair do Scorpions, a banda era pequena demais para sua genialidade e talento. EXCELENTÍSSIMA indicação, meu caro Fernando, que abrilhantaria ainda mais a excelente lista dedicada a 1976, talvez no lugar do Ramones ou do Kiss.
Ronaldo: Um ataque de bons riffs de guitarra e uma pegada nervosa. O Scorpions naquelas alturas dos anos 1970 já era uma consistente máquina de rock pesado (os fãs se dividem entre qual seu lançamento favorito no período) e vinha em uma crescente. A banda mostra-se mais madura e, neste caso específico, o guitarrista Uli John Roth consegue emplacar mais sua devoção a Jimi Hendrix, seja em solos ou em composições como "Hell-Cat", "Polar Nights" e "Yellow Raven". Sabendo dosar dinâmicas e fazendo bom encaixes entre voz e instrumentação, trata-se de um grande disco de hard rock. Destaco a belíssima balada "In Your Park", que, em um mundo justo, deveria ser mais conhecida e devotada do que a baba "Wind of Change".
Ulisses: Tirando a polêmica capa original, é um belo disco. A banda sabia compor um rock bastante entusiasmado que praticamente explode as caixas de som – vide a faixa-título –, mas também trabalhou com esmero as baladas "In Your Park" e "Crying Days", além do arranjo serpentino de "Hell-Cat". Em um álbum de qualidade alta e consistente, Roth demonstra por que é um guitarrista tão respeitado por aqueles que o conhecem. Belo resgate, Fernando.

Fleetwood Mac - Rumours (1977)
Fernando: Toda vez que leio que a música pop já foi “bem feita” ou “bem melhor”, lembro do Fleetwood Mac e de Rumours, que é seu grande sucesso. É claro que estou dizendo "pop" na questão de popular, não sob o conceito musical atual. Ouça “Dreams” ou “Don't Stop”; melhor, coloque para aquele seu amigo que curte música que toca na rádio. Duvido que a pessoa não goste disso. “Don't Stop”, inclusive, virou hino na campanha à presidência norte-americana do então candidato Bill Clinton. As melodias e as vozes grudam na cabeça sem serem apelativas. Para os que nunca ligaram o nome do grupo às suas músicas, certamente lembrarão de “Go Your Own Way”. É interessante como Peter Green ficou marcado por ter montado a banda, mas, ao meu ver, ele passou longe dos bons discos que o grupo fez.
Alexandre: Um álbum absolutamente clássico, entre os maiores vendedores da história fonográfica. Seria essa já uma justificativa perfeitamente aceitável para entendê-lo aqui? Seria justificativa para colocá-lo na edição abrangendo 1977? No meu entendimento, já bastava. Mas há mais, pois as entradas de Lindsey e Nicks na banda, no álbum anterior, fizeram com o que o Fleetwood Mac passasse de um competente grupo para esse enorme potencial de vendagem e sucesso. Rumours é um atestado do som pop que venceu na década de 1970, em especial nos Estados Unidos. As canções se sobrepõem ao instrumental, que é competente, mas não se sobressai, a não ser para o ouvinte mais atento aos detalhes. Afinal, são bons músicos. Mas não há nada em excesso, tudo é bem encaixadinho para funcionar e fazer o grupo estourar nas paradas. Os vocais, é claro, têm destaque. As harmonias vocais, mais ainda, são espetaculares. Há diversas boas canções, como "The Chain" e "Gold Dust Woman". "Oh Daddy" e "Songbird" mostram mais especificamente o talento de Christine McVie como compositora. "Never Going Back Again" segue o mesmo exemplo para mostrar as qualidades de Lindsey. Mas é através das músicas de maior acento pop que a banda conseguiu chegar aos incríveis mais de 40 milhões de discos vendidos: "Don’t Stop", "Go Your Own Way" e "Second Hand News" são bons exemplos. Em um nível acima, "You Make Loving Fun" e, principalmente, "Dreams". Essa última é, pra mim, a cereja do bolo, graças principalmente a Stevie Nicks, sua voz, sua interpretação.
André: A verdade é que essa banda nunca me chamou atenção. O pouco que ouvi sempre soou insosso, sem ânimo ou simplório demais, tal como uma sopa de batata de presídio. Mesmo este disco famosíssimo, que vendeu horrores, não me cativou em nada. Nem o pop, nem o mínimo de rock, nada mesmo. Trouxe de bom apenas a composição "Dreams", que depois foi coverizada pelas irlandesas do The Corrs. Que, aliás, deixaram a composição muito melhor, como elas sempre fazem em todos os covers que gravam.
Bernardo: Bela escolha, Fernando. "Go Your Own Way", "Dreams", "You Make Loving Fun"... Outro álbum que parece uma coletânea. Os reis do soft rock.
Christiano: Mais um que deveria estar na série, sem sombra de dúvida. Rumours é um caso de disco pop perfeito. Seja por sua repercussão comercial ou por conta da qualidade de suas músicas. É tudo tão bem feito que fica até difícil comentar. No entanto, além de hits como “Dreams”, “Don’t Stop” e “Go Your Own Way”, ainda existem petardos como “The Chain” e “Gold Dust Woman”, em que a perfeita sintonia da banda, especialmente entre Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, fica evidente. Um clássico.
Davi: Mais um trabalho clássico que injustamente ficou de fora da série. Excelente lembrança. Trabalho com forte acento pop, mas lindíssimo. A situação interna da banda não estava lá aquelas coisas e as letras acabaram refletindo um pouco disso. Contudo, musicalmente, o período negro estava bem longe. Arranjos muito bem executados, ótimo trabalho vocal e melodias muito bem construídas fizeram com que este disco virasse referência no universo pop. Certeza que você já ouviu “Dreams”, “Don't Stop”, “Go Your Own Way” e “Gold Dust Woman” ao menos uma vez na vida.
Diogo: Minha lista elaborada para a edição abordando 1977 é das que mais necessitaria de uma reformulação. Citei Rumours em um modesto décimo lugar, mas hoje em dia ele disputaria o primeiríssimo posto e sequer precisaria ser relembrado pelo Fernando. Ainda bem que ele o fez, pois se trata de um dos melhores discos da década. É um álbum que cresce a cada audição, pois é recheado de detalhes que enriquecem composições aparentemente simples e denotam o talento que Lindsey Buckingham tinha como arranjador. A obra é dominada pelas composições de Lindsey, Stevie Nicks e Christine McVie, mas a contribuição de Mick Fleetwood e John McVie também é essencial, especialmente do baixista, que não apenas mostra ótimas performances, mas traz um som de baixo estupendo, redondo, quente. Seria seu Alembic, outro instrumento ou uma combinação? Aliás, a produção é das melhores que já ouvi. Se a intenção era fazer de cada faixa um single em potencial, olha, o pessoal conseguiu. Superou todas as crises conjugais tantas vezes relatadas e mostrou que nada como o sofrimento para fazer aflorar música de qualidade. De um clima pesadíssimo, com pessoas que sequer se falavam direito, surgiu uma obra de uma sensibilidade ímpar e cheia de canções assobiáveis. Rumours é bom de cabo a rabo, mas "Dreams", "The Chain", "You Make Loving Fun" e "Oh Daddy" são as que mais me emocionam. Agora, mais criminoso que eu ter citado este álbum em posição tão (relativamente) baixa é o fato de "Silver Springs" ter sido deixada como lado B de single, incluída apenas em relançamentos. Trata-se não apenas de uma parte integral do disco, mas de uma canção tão boa que chega a ser assustadora, tal é a interpretação de Stevie. Não hesito em afirmar que, apesar de haver bons concorrentes, Rumours é a melhor lembrança desta lista.
Flavio: Outro disco coerentemente resgatado pelo Fernando, Rumours é um exemplo de como um álbum rock/pop pode ter qualidade. O trabalho da banda está exuberante e há canções consagradas no decorrer da bolacha toda. Destaco obviamente as conhecidas "Dreams", "Don't Stop", "Go Your Own Way", "You Make Loving Fun" e "The Chain", mas o disco é praticamente impecável em todas as suas composições. Não consigo eleger uma música fraca. Rumours traz o auge da banda e vale cada minuto de sua audição.
Mairon: Ouvi Rumours pela primeira vez recentemente, em uma edição da seção "War Room" que a Uol Host apagou. Então repito o comentário final que havia escrito, adicionando novos apontamentos depois de mais uma audição. Esperava bem mais de um disco que vendeu horrores ao redor do mundo e ficou na primeira posição tanto na Inglaterra quanto nos EUA. Não encontrei nada de novo ou que me fizesse virar fã da banda. A versão que a série musical "Glee" fez para o disco é muito fiel, vale uma audição. Com exceção da vocalista McVie e do guitarrista Lindsey, o resto é muito simples e sem firulas. Enfim, as letras devem ter feito a diferença. Agora, que o disco é bem gravado e com uma ótima produção, com certeza, mas a sensação que passa é que o clima na banda era terrível. Salvam-se, musicalmente, a lindinha acústica "Never Going Back Again", com seu belo dedilhado, o baixão de "Go Your Own Way" e a melhor faixa do álbum, disparado, "The Chain". Se todo o disco fosse igual a ela, aí sim seria um baita álbum (que baixo, puta merda). Mesmo tendo vendido mais de 40 milhões de cópias, não entraria na edição abrangendo 1977 de jeito nenhum. Aquela lista só tinha como pequeno defeito o Kraftwerk, que deveria ter sido substituído pelo Sex Pistols.
Ronaldo: A segunda metade dos anos 1970 se caracteriza por uma corrida do ouro no filão do chamado rock de arena. Nessa corrida, parecia haver uma busca incessante por uma música pop perfeita. Partindo dessa premissa, o Fleetwood Mac (que havia deixado no passado seu ótimo retrospecto no blues rock) foi uma das mais bem sucedidas bandas nessa empreitada, com uma formidável conjunção entre canções assobiáveis com refrãos grudentos e arranjos absolutamente eficientes. Rico em sutilezas, o disco mostra quanto as composições dependem do arranjo (sonoridade, encaixe da instrumentação e seu diálogo com a voz, encadeamento da música, etc.). Prova cabal da eficiência do grupo é a faixa "Dreams", com seus parcos dois acordes que se desenrolam deliciosamente por quatro minutos. Não é à toa que este disco alçou a posição que lhe cabe na história da música pop.
Ulisses: O que sempre me impressionou em Rumours é o fato de ter sido gravado em uma atmosfera pesada de separações, divórcios e desconfianças. Parece receita para o fracasso, mas o rancor geral da banda foi o combustível para a criação de um álbum absurdamente bem produzido, com letras realistas e composições bastante palatáveis e de ótimo senso melódico, tornando-se um dos álbuns mais bem-sucedidos da história. "Dreams" e "You Make Loving Fun" são minhas favoritas. Uma pena que a primorosa "Silver Springs", composição de Stevie Nicks, ficou de fora da versão original, só figurando em edições posteriores.

Triumph - Allied Forces (1981)
Fernando: Allied Forces é o meu disco preferido dessa banda que tem uma carreira muito linear. Foi o álbum que fez mais sucesso, fazendo-os tocar no importantíssimo US Festival. É o disco mais rock do Triumph, que começou com um pé no progressivo e chegou até o AOR. A alternância de vozes entre Gil Moore e Rik Emmett é muito interessante, apesar de reconhecer que o guitarrista é melhor nesse fundamento que o baterista. A obra tem todas as características de um bom álbum de hard/heavy da época. Possui músicas mais rápidas, como a faixa-título, baladas marcantes (“Magic Power”), uma releitura das canções dos anos 1950 (“Hot Time (In this City Tonight)”) e aqueles rocks levanta arena (“Fool for Your Love”). Acho que as comparações com o Rush – apenas pelo fato de ser também um trio – só atrapalharam a carreira deles. Destaque também para “Ordinary Man” e “Fight the Good Fight”. Essencial!
Alexandre: Um senhor power trio com dois ótimos vocalistas, um realmente extraordinário (Emmett). Tá aí uma banda que poderia ter ido mais longe em termos de reconhecimento de mídia e público. O grupo não teve muito reconhecimento no início de suas atividades, em meados dos anos 1970. No momento em que lançou este ótimo álbum, o som mais voltado para temas de festas, mulheres, na linha da “farofada”, se anunciava entre as demais bandas do gênero. Basta ver o certo deslocamento do grupo em relação aos demais que se apresentaram no histórico US Festival, de 1983. Talvez seja um exemplo de grupo certo na hora errada, pois seu conteúdo musical e lírico foi um pouco além do que se procurava na época, na linha do hard rock. É uma pena, pois trata-se de um dos melhores álbuns desta lista. As primeiras faixas, no entanto, seguem uma linha mais padrão do desenvolvido por bandas como o Journey, um tanto comuns. Considero que as melhores canções estão mais do meio para o fim, como a própria faixa-título, "Ordinary Man", a linda peça acústica "Petite Etude" e, principalmente, "Fight the Good Fight". Uma excelente escolha, que certamente teria algum espaço na edição dedicada a 1981.
André: Conheço pouco do Triumph. Este disco me soou um hard rock bem bacana e agradável, principalmente pelo toque AOR do qual gosto tanto. A banda, apesar de ter iniciado as atividades nos anos 1970, já soava bem oitentista nesse início de década. Gostei principalmente de "Air Raid" e da faixa-título. Estranhei a sequência da primeira para a segunda faixa, porque me pareceram ser dois vocalistas diferentes. Pesquisei e confirmei que o baterista canta em algumas canções. Interessante, achei que seria uma boa se eles dividissem mais os vocais, tipo o Deep Purple da Mark III.
Bernardo: Não me chamou atenção. Hard rock oitentista com tudo o que você espera.
Christiano: Grande power trio canadense. Diferentemente de seus conterrâneos do Rush, o Triumph investe em um som mais voltado para o hard rock norte-americano, pelo menos a partir de Allied Forces, tido por muitos como seu melhor trabalho. A abertura com “Fool for Your Love” já mostra uma pegada mais pesada para quem estava acostumado com discos como Just a Game (1979), que traz uma sonoridade mais próxima de arranjos progressivos. Na sequência, “Magic Power” acalma um pouco a situação, com os vocais mais suaves de Rik Emmett. Outro grande momento, também encabeçado por Emmett, é “Fight the Good Fight”, minha preferida do disco. Enfim, um equilíbrio perfeito entre peso, energia e sensibilidade musical. Grande escolha.
Davi: Empolgante power trio. Gil Moore debulhava na bateria e nos vocais. Rik Emmett destruía nas guitarras e também mandava bem no gogó. Mike Levine brilhava no baixo e nos sintetizadores. O LP é repleto de momentos memoráveis, como “Fool for Your Love”, “Magic Power”, “Hot Time (In this City Tonight)” e “Say Goodbye”. As linhas vocais de Rik ora remetiam a Steve Perry, ora a Geddy Lee. A sonoridade é honesta. Pesada, cortante e melódica ao mesmo tempo.
Diogo: Entre o fim da década de 1970 e o início da seguinte, o Triumph lançou uma sequência de álbuns que solidificou uma carreira com dignidade e qualidade. Eles se equilibraram muito bem entre o AOR, o hard rock e o heavy metal (além de toques progressivos), apresentando composições cativantes, grandes melodias e performances excelentes. Rik Emmett é um baita guitarrista e, como vocalista, é uma espécie de Geddy Lee que deu certo. Gil Moore também canta muito e traz nuances diferentes ao trabalho vocal do grupo. Se tem uma coisa que esses caras sabem é como estruturar uma música de modo que não se torne enfadonha. "Fight the Good Fight" é o melhor exemplo, assim como "Ordinary Man", que começa lembrando Styx, mas depois descamba para um heavy metal enérgico que deveria atrair mais atenção dos fãs do estilo. Quem gosta disso tem mais um prato cheio na faixa-título, enquanto aqueles mais chegados em AOR têm a obrigação de ouvir "Magic Power" e "Say Goodbye", pra fã nenhum de Journey botar defeito.
Flavio: Talvez o disco mais consagrado do Triumph, Allied Forces traz uma mistura de heavy metal e hard rock, com boa presença de violões elétricos e teclados para trazer mais harmonia às composições. É justamente nesses momentos que a bolacha me agrada mais. Gosto muito do timbre vocal de Rik Emmett, que notadamente lembra o conterrâneo canadense Geddy Lee.  Gil Moore (baterista)  divide os vocais principais, também com boa performance. Tirando o rock 'n' roll básico de "Hot Time (In this City Tonight)", o disco é bem forte, com grande presença dos clássicos consagrados da banda, como "Magic Power", a faixa-título e a que mais aprecio, "Fight the Good Fight". Ainda destaco a bela "Ordinary Man" em álbum que "desce fácil" e agradará aos fãs do estilo.
Mairon: Descobri o Triumph através do ótimo Just a Game (1979), que foi o terceiro disco do trio e o último a trazer elementos ligados ao progressivo e comparações ao Rush. Com Progressions of Power (1980), a banda começou a enveredar para os anos 1980, próximo ao AOR, fato que torceu um pouco o nariz dos fãs. Em Allied Forces, o Triumph finalmente encontrou-se com o sucesso. Trata-se do álbum com maior quantidade de hinos para os fãs. Rik Emmett é um dos guitarristas mais injustiçados que eu conheço. O cara é um animal tanto no violão quanto na guitarra, e poucos tocam com tanta naturalidade quanto ele. Em Allied Forces, temos as classicíssimas “Fool for Your Love”, “Magic Power”, “Allied Forces”, “Fight the Good Fight” e “Ordinary Man”, cada uma com sua dose "triumphiana" que abre o sorriso de todo mundo que as ouve. “Fool for Your Love” se tornou um grande clássico, com um grudento refrão que fica na cabeça por dias, o mesmo acontecendo com a faixa-título, um bom hard adaptado para os anos 1980, antecedida pela vinheta “Air Raid”, que é uma sequência psicodélica de passos apressados, explosões e sirenes. A leve introdução de “Magic Power” dá origem a uma das mais bonitas canções do grupo, destacando a presença dos sintetizadores de Mike Levine. O rock de “Hot Time (In this City Tonight)” e o slide predominante de “Say Goodbye” são bons aperitivos do LP, além da peça clássica “Petite Etude”, deixando a cereja do bolo para “Fight the Good Fight”, uma bela canção repleta de alternâncias instrumentais e carregada de teclados, além da épica “Ordinary Man”, na qual a presença de um coral introduz uma sensacional canção, que começa como uma balada, ganhando velocidade e tornando-se um fantástico e pesado hard, com destaque para os velozes riffs de Rik, além de um solo arrepiante. Allied Forces virou o LP mais cultuado pelos fãs devido ao grande número de sucessos e, claro, a uma sonoridade perfeita. Entraria fácil no lugar de Discipline (King Crimson), Escape (Journey), Damaged (Black Flag) e, quiçá, Diary of a Madman (Ozzy Osbourne), tanto que o citei em minha lista pessoal para 1981. Sensacional lembrança, Fernando. Poderiam ter entrado também Just a GameRock & Roll Machine (1977) e Thunder Seven (1984). Você encontra mais sobre a banda em minha Discografia Comentada.
Ronaldo: Uma bela síntese do hard rock/AOR do início dos anos 1980, com o melhor de seus elementos. Uma pegada intensa e produção (muito) acima da média do discos de rock do período. O álbum é destaque tanto na instrumentação quanto nos vocais, com canções potentes e cativantes. Um tipo de rock que é puro acerto – divertido, empolgante e que, felizmente, trouxe isso de forma inteligente e bem trabalhada ao ouvinte. PS: havia esquecido como este álbum é bom, pois há bastante tempo não o ouvia.
Ulisses: Sempre via o Triumph ser comparado ao Rush, por ambos se tratarem de power trios canadenses, por vezes até tratados como o "primo pobre". Embora isso pareça verdadeiro em termos de reconhecimento, a verdade é que o Triumph também mandava muito bem na parte sonora, soando até um pouco mais pesado, com letras positivas ("Magic Power"), estupendas progressões ("Fight the Good Fight") e muita empolgação ("Ordinary Man" e a faixa-título). Há pouco do que reclamar em um disco tão sólido; dispenso somente a abertura "Fool for Your Love".

Pretty Maids - Future World (1987)
Fernando: O Pretty Maids é criminosamente esquecido ou relegado ao terceiro ou quarto escalão do heavy metal mundial. Os dinamarqueses têm material para agradar todo mundo. No início dos anos 1980 não havia muita diferenciação entre o heavy metal e o hard rock, e o Pretty Maids conseguiu estabelecer seu estilo perambulando e nunca se estabelecendo em apenas um. Pode sair de um thrash nervoso para um AOR grudento no mesmo disco, como é o caso de “Loud ‘N’ Proud”, seguida por “Love Games”. Chama atenção também a versatilidade vocal de Ronnie Atkins, que entrega em qualquer estilo aquilo que a música está pedindo. Ao citar este disco, chamo atenção para a discografia dessa banda, que continua até hoje lançando bons álbuns. Aliás, não lembro de ter ouvido um disco deles e achado ruim...
Alexandre: Eu até curti boa parte do álbum, mas em 1987 a coisa (no meu entendimento) já havia "farofado" demais para a grande maioria das bandas hard. Teclados exagerados, o ponto principal para a “maionese desandar”, e mesmo já lá em 1987 eu havia deixado essa sonoridade hair metal de lado. Ouvindo hoje, depois de muito tempo, até que passou bem, mas se tivesse de fazer muitas audições, acabaria achando tudo isso meio enfadonho. Não há o que questionar sobre a capacidade dos músicos, e a banda traz um vocal que está acima da média dos bons exemplos no estilo. É o destaque absoluto do grupo. A criatividade, no entanto, ficou devendo um pouco; refrãos que nada de novo possuem ou mesmo possuíam na ocasião. Entendo que todos deveremos trazer exemplos de cunho mais pessoal em nossas listas. Neste caso, eu a vejo como uma escolha muito pessoal do Fernando, motivada por algum fator específico. Fica a cargo dele confirmar ou não esse hipótese. Mesmo sem ter tanto conhecimento assim, eu acredito poder elencar outros melhores do estilo proposto. Ainda assim, não posso dizer que é um álbum ruim, mas é bastante genérico. Não o citaria nem mesmo em um ano que, na década em questão, não é dos mais favoráveis. Destaco a faixa-título; os contrapontos entre guitarra e teclados na cadência acelerada a elevam em relação às demais.
André: Assim como o Triumph, conheço pouco dos dinamarqueses do Pretty Maids. Fazem um heavy metal/hard rock com teclado que me lembrou o Europe, com um vocal que varia do ríspido ao mais melódico, me lembrando vagamente de Dave Meniketti, do Y&T. O pessoal aqui tem uma tendência a odiar esse tipo de rock recheado de teclados, mas eu os achei bem legais. "Yellow Rain" é a música da qual mais gostei, com aquele início de balada antes de acelerar e virar uma beleza cheia de sintetizador.
Bernardo: Não conhecia a banda, mas não me surpreendeu muito. Tem o valor da época, mas glam metal é algo que me satura rápido.
Christiano: Nunca dei muita atenção ao Pretty Maids. Talvez por seus discos serem difíceis de conseguir na época em que comecei a escutar heavy metal. Mesmo assim, em tempos de internet, nunca tive muita curiosidade de pesquisar sobre a banda. Por isso, gostei da oportunidade de reparar essa minha falha. Future World traz aquele tipo de metal característico das bandas da NWOBHM, com alguns flertes com power metal e até mesmo hard rock/AOR. As composições são bem legais, embora não exibam nada de extraordinário. Talvez um ponto negativo seja Ronnie Atkins, cuja voz chega a ser meio cansativa às vezes. No mais, gostei do álbum como um todo.
Davi: Essa é uma banda sobre a qual muita gente já havia comentado comigo, mas que por alguma razão nunca havia parado para ouvir. É bacana, mas, por algum motivo, achei as músicas com uma pegada mais comercial como “Love Games” e “Rodeo” mais interessantes que as mais porradas. Das mais pesadinhas, a que mais curti foi “We Came to Rock”. Bacaninha...
Diogo: O som pode ser datado, os teclados bregas, mas bah, eu curto muito este disco. A maneira desavergonhada com que esses dinamarqueses mesclaram power metal (de estirpe não alemã) e AOR é única. Às vezes isso ocorre em faixas separadas, às vezes na mesma. De um lado, "Loud 'N' Proud", "Yellow Rain" e a faixa-título mostram o lado mais agressivo da banda, que nem mesmo a tecladeira em alto volume esconde. De outro, "Love Games" (power ballad pra "baladeiro" nenhum botar defeito), "Rodeo" e "Eye of the Storm" se banham em um oceano AOR. Além de Ken Hammer ser um bom guitarrista, outro fator a se ressaltar é a versatilidade vocal de Ronnie Atkins. É como se a banda tivesse dois vocalistas diferentes, tão distinta é sua performance conforme as faixas pedem. Este é aquele tipo de disco que o cara sabe que vai ser criticado por aqui e até entende os motivos, mas, da minha parte, sou quase só elogios. Lembro bem de quando peguei este vinil emprestado e me surpreendi com quão bom ele é.
Flavio: Esse é outro dos inéditos para mim. Bem no começo, a introdução me transportou para a trilha sonora do filme "Blade Runner" (1982). A impressão rapidamente se desfaz para a entrada de um hard rock/heavy metal no qual o vocal mais agudo não me agrada, meio grunhido demais para o meu gosto. Apesar do exposto, a primeira música talvez seja a de que mais gostei. A seguir, uma avalanche de teclados pasteurizados invadem as próximas faixas, trazendo um tom artifical "poser" para o álbum, que então se transforma no pior da lista.
Mairon: Ainda bem que o Fernando não exagerou na metaleira. Este álbum me foi apresentado em uma edição da seção "Cinco Discos Para Conhecer", da Van do Halen, e lembro que torci o nariz para os tecladinhos e o vocal dos dinamarqueses. O guitarrista Ken Hammer é muito bom, mas sei lá. Acho que "Yellow Rain" e seus teclados tinhosos são um exemplo do que percebo ao longo de todo o disco: tem uma cara de Europe paraguaio (opa, é dinamarquês), mas que não conquista. Em diversos momentos o álbum me lembra os suecos, principalmente "We Came to Rock" e "Rodeo". "Love Games", "Long Way to Go" e "Eye of the Storm" são datadíssimas, meu Deus!! Que coisa tosca esses teclados e esse vocal. Temos alguns bons momentos em poucas faixas, essencialmente quando fazem belos speed metals na faixa-título, em "Eye of the Storm" e "Loud 'n' Proud, mas nada que me faça pensar em algum espaço na lista dedicada a 1987, que até tem alguns deslizes, mas nada de menor relevância ou que eu curta menos do que este trabalho. Não é ruim, mas não é um "Melhor de Todos os Tempos".
Ronaldo: Francamente, para este não há o que destacar de positivo. Achei ruim até dentro do estilo (que já não aprecio muito).
Ulisses: Um hard 'n' heavy de respeito, empolgante, bem tocado e bem produzido. Acerta a mão na mistura de peso, melodia e acessibilidade, intercalando faixas velozes, antêmicas e semibaladas. O tracklist gruda na mente com facilidade e, embora praticamente todas as faixas estejam no mesmo nível de qualidade, vale pôr "Needles in the Dark" e faixa-título à frente como destaques. Típico disco que faz a festa de qualquer roqueiro, mesmo que não venha a se tornar um favorito.

Mötley Crüe - Dr. Feelgood (1989)
Fernando: Este disco influenciou o álbum preto do Metallica. A produção de Bob Rock chamou atenção de Lars Ulrich e fez com que chamasse o produtor para o álbum de 1991. Lembro-me que conheci o grupo somente lá por volta de 1994/95, mas quando os ouvi pela primeira vez fiquei maluco. Um amigo tinha todos os discos. Na semana seguinte, já tinha todos os álbuns com Vince Neil em fitas cassete, e as ouvi demais. Nunca havia deixado de gostar de hard rock. Enquanto a maioria dos meus amigos estavam ligados em bandas de rock alternativo, death metal ou hardcore, eu estava lá ouvindo esses caras maquiados. Demorei para entender as letras e fiquei até chocado quando vi que elas eram até bastante explícitas em relação a drogas e tudo mais. Musicalmente, “Dr. Feelgood” é um petardo e “Kickstart My Heart” empolga qualquer um. Não é à toa que a faixa é uma das trilhas sonoras de uma montanha russa no Universal Hollywood Studios, chamada "Rock It". Demais!!!
Alexandre: Uma banda que conheço por sua grande maioria de hits, mas não considerava em seu trabalho mais clássico, com o line-up original, algum disco que fosse bom do início ao fim. O álbum homônimo com John Corabi, que chegou à edição da série abrangendo 1994, é o mais consistente. Nos demais, cito Dr. Feelgood como o que mais me agrada. Ainda que tenha músicas fracas ("Without You" é de doer...), é um álbum mais pesado, a começar pela ótima faixa-título. A produção de Bob Rock ajuda; ele certamente buscou melhores solos de guitarra, melhores riffs, melhores arranjos. Os singles "Kickstart My Heart" e, principalmente, "Same Ol' Situation (S.O.S.)" são outras boas canções que permaneceram até a turnê de despedida nos setlists. Ou seja, Dr. Feelgood é um disco com mais prós do que contras. Não morro de amores pela banda, não o indicaria para os dez esquecidos, mas dentro do catálogo do Mötley a escolha é adequada.
André: Creio que todo mundo aqui já deve ter ouvido algo deste disco. O Mötley Crüe foi gigante nos anos 1980 e está no top 5 entre minhas farofas favoritas. Mick Mars rouba todos os elogios para si, soltando guitarras ganchudas e pesadas, sendo impossível não acompanhá-las chacoalhando os longos cabelos que possuo. Destaco o disco todo, com apenas uma leve preferência maior por "Rattlesnake Shake". Banda divertida demais, uma pena que mudaram a sonoridade logo depois, em uma tentativa de se manterem em alta no mercado.
Bernardo: Nunca achei a banda lá muito consistente. Muitos de seus álbuns dos últimos 20 anos são de artistas presos ao próprio gênero, cansados e com medo de ousar. Seu início de carreira, apesar de ter vários hits apaixonantes, também mostrava a banda se descobrindo enquanto compositores e figuras públicas. Dr. Feelgood, para mim, é o único álbum bom do início ao fim, sem pontos baixos e cheio de pontos altos (a faixa-título, "Don't Go Away Mad (Just Go Away)", "Same Ol' Situation (S.O.S.)", "Without You"...). Resumindo, O disco do Crüe, através do qual a banda se encontrou e soube explorar os horizontes de seu gênero. Ainda uma pancada na orelha.
Christiano: Este é um disco mais pesado do Mötley Crüe, talvez pela influência da chegada dos anos 1990. Mesmo assim, o clima festeiro dá as caras em músicas como a faixa-título, por exemplo. “Kickstart My Heart” é outro exemplo de alto astral e de refrão grudento, características bastante fortes da banda. No entanto, por mais que eu reconheça alguma qualidade nas composições, que transbordam energia, confesso que o álbum, como um todo, é bastante cansativo, principalmente pela repetição de refrãos na maioria das faixas, fato que chega a irritar o ouvinte desacostumado com os exageros da banda.
Davi: Último disco da fase tida como clássica. Não é o melhor nem de longe, mas ainda assim é um bom álbum. Mötley é Mötley. Hard rock divertido, despretensioso e empolgante, com ótimos riffs de Mick Mars, além dos vocais inconfundíveis de Vince Neil e a poderosa bateria de Tommy Lee. Várias músicas venceram a barreira do tempo e se tornaram clássicos da banda, como “Kickstart My Heart”, “Dr. Feelgood”, “Same Ol' Situation (S.O.S.)” e “Don't Go Away Mad (Just Go Away)”. O lado B “Sticky Sweet” também é empolgante. Contudo, não gosto muito das baladas, em especial “Without You”, que sempre achei bem chatinha.
Diogo: O Mötley Crüe é uma espécie de banda símbolo do glam metal oitentista. Sua reputação vem do pioneirismo e de bons trabalhos iniciais, mas também de muitos acontecimentos fora dos estúdios e palcos. Dr. Feelgood, felizmente, representa a banda trabalhando muito bem dentro da salinha isolada. Não é seu melhor disco, mas é o que mais solidificou sua reputação. "Time for Change" é constrangedora e "Without You" é fraquinha, só que, de resto, o álbum foi um grande avanço em comparação aos dois anteriores. A produção certeira (grande som de bateria) e uma boa dose de peso fizeram bem demais ao quarteto, que entregou boas performances (Mick Mars está melhor do que nunca e Tommy Lee sempre foi monstro) e desceu a mão na faixa-título (melhor do disco e uma das cinco melhores da banda) e em "Kickstart My Heart" (realmente nos faz sentir em uma corrida de carros). Aquele rock de pegada Aerosmith vem em "Slice of Your Pie" (com direito a participação de Steven Tyler), "Rattlesnake Shake" e "Sticky Sweet" (também com Steven), enquanto "Same Ol' Situation (S.O.S.)" entrega aquele hard debochado que é a cara do Mötley Crüe. E pra não dizer que a banda não tem o mínimo tino com canções desse tipo "Don't Go Away Mad (Just Go Away)" é uma ótima semibalada.
Flavio: Finalizando a lista, o "caçula" de quase 30 anos. Dr. Feelgood traz o que eu imaginava ser a tônica da lista do Fernando: hard rock na veia. Ledo engano, como vimos acima. Deixo claro que tenho várias restrições, tanto ao vocal frágil e irregular ao vivo de Vince Neil quanto no baixo be-a-bá de Nikki Sixx, porém em Dr. Feelgood o produtor Bob Rock conseguiu tirar o melhor da banda. Há bons momentos, com maior peso na guitarra de Mick Mars e boa presença de Tommy Lee. Como ponto baixo, há as insossas "Without You" e "Don't Go Away Mad (Just Go Away)", mas consigo destacar a faixa-título, a boa "Kickstart My Heart" e a agradável referência beatlesca  de "I Want You (She's So Heavy)" em "Slice of Your Pie". No geral, o disco passa bem.
Mairon: Foi com este disco que conheci o quarteto norte-americano e logo de cara virei fã. As performances, principalmente de Mick Mars e Tommy Lee, me agradaram muito em uma época na qual bandas como Guns e Metallica dominavam a grande mídia, mas MTV, Bandeirantes e Manchete abriam espaço para programas de videoclipes e shows que ampliavam as possibilidades de audição em nosso País. Inclusive, atrevo-me a dizer que o Mötley foi bem melhor que o Guns no final dos anos 1980. Adoro o peso embalado da faixa-título, "Rattlesnake Shake" e "Don't Go Away Mad (Just Go Away)", todas boas para sair curtindo pela casa com uma ceva na mão. "Sticky Sweet" sempre me faz pensar como o Led talvez soaria nos anos 1980, mas com uma apimentada dose de Van Halen nas costas. Algumas das músicas que mais curto estão nesse disco, que são "Kickstart My Heart" e "Same Ol' Situation (S.O.S.)", principalmente porque são faixas roqueiras na essência e sem soar datadas. Mesmo com canções de menor expressão – no caso, "Slice of Your Pie" e "She Goes Down", nas quais apenas Mars (e as letras safadas) se salvam – e as baladinhas "Without You" e "Time for Change" – essa última totalmente desnecessária –, este disco entraria fácil no lugar do Morbid Angel, mas fácil mesmo!! Baita lembrança!!
Ronaldo: Assim como todo o glam rock, a maquiagem sonora exagerada joga a perder para o estilo. Menos purpurina, para fazer o som maior do que ele realmente é, ajudaria a destacar melhor os bons riffs de guitarra que acontecem ao longo de todo o álbum. Um hard rock com muita energia, envenenando a escola de som que o Aerosmith veio desenvolvendo desde o fim dos anos 1970. O Mötley Crüe firmou-se, respeitosamente, como uma referência nesse tipo de rock luxurioso. Os clichês do estilo (letras, vocais afetados e o modus operandi de rock festeiro), porém, deram argumento de sobra para os detratores, que alguns anos depois varreriam o hard/heavy glam que até então mandava no rock mundial.
Ulisses: Sem nunca tê-lo ouvido na íntegra, a única coisa que eu sabia sobre Dr. Feelgood é que sua produção inspirou Lars Ulrich na construção do autointitulado do Metallica. Mas vejo que eu poderia ter continuado a minha vida inteira sem ouvi-lo. "Kickstart My Heart" e a faixa-título são ótimas, mas o restante do tracklist não traz nenhuma grata surpresa e revela apenas um hard rock competente, embora pendendo para o cansativo, ou mesmo completamente anêmico – "Sticky Sweet" é uma vergonha, "Time for Change" também.
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