terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Guia do Led Zeppelin - Nigel Williamson [2007]




Em meados dos anos 2000, lá nos países de primeiro mundo, chegou ao mercado uma série de livros chamada The Rough Guide to ..., a qual foi construída com a intenção de não ser uma biografia ou uma obra especializada em um determinado assunto, mas sim, como um guia para quem conhecer um dado estilo/artista musical. 
CAPA DA VERSÃO ORIGINAL IMPORTADA

A série conta com diversos guias já lançados, escritos por diversos jornalistas especializados no mundo da música, e desses guias, destacam-se os de Bob Dylan (por Nigel Williamson), Pink Floyd (por Toby Manning), The Beatles (por Chris Ingham), Elvis Presley (por Paul Simpson), Nirvana (por Gillian G. Gaar), Jimi Hendrix (por Richie Unterberger), Velvet Underground (por Peter Hogan), The Rolling Stones (por Sean Egan) e muitos mais artistas e estilos. Dentre eles, me atiçou a curiosidade pelo O Guia do Led Zeppelin.

Lançado originalmente em 2007 e escrito pelo renomado jornalista Nigel Williamson, o livrinho, somente no formato brochura e com dimensões pouco convencionais para um formato de livro (19,5 x 19,5 cm) acabou valendo o investimento, sendo um prato cheio tanto para quem é fã dos britânicos quanto para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a história de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
A CAPA DA VERSÃO BRASILEIRA UTILIZA ESSA IMAGEM, QUE ABRE O CAPÍTULO COM O NASCIMENTO DOS MEMBROS DO ZEP


Como atesta a contra-capa do livrinho, lançado aqui no Brasil pela editora Aleph: "Reconhecidos mundialmente por sua originalidade, os guias da série inglesa Rough Guides vão muito além das biografias comuns. Verdadeiras obras de referência, trazem, além de história e discografia de bandas, artistas e gêneros musicais, conteúdo diferenciado para os leitores, fãs ou não".

Nigel foi editor dos jornais The Times e Tribune, o que já coloca em alta a qualidade do material escrito, e tem em sua bibliografia duas obras atemporais, as quais são Through the Past: The Stories Behind the Classic Songs of Neil Young, e The Rough Guide to the Blues, além de também ter escrito o excepcional The Rough Guide of Bob Dylan. O livro aqui em questão é dividido em três partes: A História; A Música e Zeppologia.
JIMMY PAGE (CENTRO), NA ÉPOCA DOS YARDBIRDS

Na primeira parte, temos toda a história do grupo, desde o nascimento de seu membro mais velho (Jimmy Page, em 08 de fevereiro de 1944) até o que aconteceu com cada integrante com o fim da banda em 1980, sendo muito detalhista. Ao longo de oito capítuos (Pré-voo - 1944-1968; A ascensão do zepelim - 1968-1969; Do sucesso ao excesso - 1969-1970; Pompa e Circunstância - 1970-1971; Martelo dos deuses - 1972-1973; Abuso e desgaste - 1974-1976; Pouso forçado - 1977-1980; e Desembarque: os anos solo - depois de 1980), são traçados o perfil e as experiências prévias dos jovens que músicos que formaram a banda, chegando ao grosso da história, no período dos anos 70, e levando a um detalhamento sobre a carreira solo de cada integrante. Baseado em entrevistas com os quatro membros da banda (o já citado Page, Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones), bem como pesquisas autorais, o autor foge de polêmicas ou fatos que os integrantes poderiam julgar improcedentes, mas não deixa de contar com minúcias motivos positivos (grandes shows, o alavancamento do sucesso da banda, construção de canções) e negativos (envolvimento com drogas, problemas internos, o lado oculto de Jimmy Page, ...) que fazem parte da curiosidade de qualquer pessoa que busque sobre o grupo, servindo exatamente como um guia especializado daqueles que compramos nos aeroportos de alguma cidade do primeiro mundo quando por lá vamos pela primeira vez.

Esse capítulo ainda é complementado por quadros alusivos à alguma parte do texto, que complementam ou explicam o que está sendo contado ou desenvolvido naquele momento, como algumas das principais gravações de Page e Jones como músicos contratados de estúdio, histórias de pessoas ligadas ao Led, entre outros pequenos detalhes que ajudam bastante a compreendermos como o Led Zeppelin foi formado fora dos palcos e estúdios, além de várias fotos praticamente inéditas ou pouco vistas (até 2007).
ROBERT PLANT E JOHN BONHAM (SEGUNDO E TERCEIRO DA ESQUERDA PARA A DIREITA, RESPECTIVAMENTE), NOS TEMPOS DE BAND OF JOY



A parte A Música apresenta resenhas minuciosas sobre todos os discos oficiais da banda, inclusive álbuns ao vivo e algumas coletâneas lançadas depois do fim do Led, bem como passeia com elegância pelas carreiras solo de Page, Plant e Jones, além de traçar uma lista sobre os principais bootlegs e raridades para fãs, encerrando com comentários muito apreciativos para aquelas que Nigel definiu como as cinquenta maiores canções do Led Zeppelin. Cabe notar que Nigel não poupa elogios quando necessários, como para obras primas como "Stairway to Heaven", "Kashmir", "Since I've Been Loving You" ou "Achilles Last Stand", mas em compensação, detona canções que os próprios fãs consideram fracas na grande obra do grupo, como "The Crunge", "D'yer Mak'er", "South Bound Saurez".

Nigel também aproveita para também descer a lenha nos álbuns do supergrupo The Firm (montado por Page ao lado de Paul Rodgers durante os anos 80, e que fracassou mundialmente) e travar fortes críticas para Robert Plant, principalmente por ter acabado com as alegrias de Jimmy Page ao criar seu projeto ao lado de David Coverdale e ter que abandonar por conta da gravação de No Quarter (1994). Essas críticas, feitas sem enrolação e com bastante propriedade, colocam o autor muito próximo ao leitor, e ainda mais ao fã, levando para o papel aquilo que praticamente a grande maioria dos admiradores do grupo pensa, e servindo, por que não, como uma espécie de "conversa de amigos" trocando ideias sobre os discos e as curiosidades da banda. Interessante notar que todas as capas dos álbuns são apresentadas com um pequeno comentário, alguns bastante ácidos - e convenhamos, no geral, as capas tanto do Led quanto dos músicos em carreira solo nunca foram lá grandes coisas mesmo.

ALGUNS DOS QUADROS ALUSIVOS AOS CAPÍTULOS DO LIVRO

Por fim, em Zeppologia, Nigel apresenta curiosidades pouco narradas sobre a banda, como a história de alguns dos principais artistas a colaborar com o sucesso do grupo (e Frank Zappa), os dez principais contos de excesso da banda, dando um pouco mais de detalhes sobre o famoso caso do Mud Shark, as dez principais locações para se conhecer o que vivenciaram os membros da banda, dicas de livros e websites relacionados ao Led, breves comentários sobre os únicos dois DVDs oficiais (The Song Remains the Same e Led Zeppelin), e encerra com a lista dos dez melhores covers e dos dez piores covers feitos para canções do grupo, além de destacar o grupo Lez Zeppelin (grupo de lésbicas que faz somente covers de canções da banda) em uma pequena seção chamada Bandas-tributo.

Nessa parte, Nigel detona com o filme The Song Remains the Same, além de deixar para a eternidade duas frases que podem chocar os fãs das bandas envolvidas: " ... é de se desconfiar de um autor que acredita que os paralelos mais óbvios com o Led Zeppelin foram Black Sabbath e Deep Purple; algo como comparar um premier cru de Bordeaux com um merlot vagabundo da Bulgária", ao criticar o livro When the Levee Breaks: The Making of Led Zeppelin IV", de Andy Fyfe, e no mesmo comentário, afirmar que "Mais bizarra é a afirmação de que nos anos 80, o Kiss levou o rock pesado à frente quase tanto quando o Led Zeppelin fez anteriormente", o que confesso, imagino só poder se maluquice de Fyfe.

MAIS ALGUNS QUADROS EXPLICATIVOS
Temos 264 páginas que passam rápido pelos olhos, e que certamente, se você o adquirir, irá querer retirar da prateleira cada vez que for ouvir alguma canção do Led Zeppelin. Vou buscar os outros livros, com certeza vale a pena.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Test Drive: Sepultura - Machine Messiah [2017]

Trazemos hoje mais uma edição do Test Drive, analisando o recente álbum do grupo Sepultura, Machine Messiah. Confira as impressões iniciais de nossos consultores.

Versão com CD + DVD
André: O Sepultura continua buscando elementos diferentes para o seu heavy metal, além de velhas sonoridades de fases diferentes da banda. Dessa vez notei uma influência do stoner logo na primeira música "Machine Messiah" e em mais alguns momentos no decorrer das faixas. Retoma o thrash ao estilo Bay Area tal como em "I Am the Enemy", pega aquele estilão pós-Max dos primeiros discos de Derrick em "Phantom Self" e músicas como "Alethea" já parecem com canções vindas do Dante XXI para frente. Sei que a temática envolvendo robotização e influências divinas deve atrair meu interesse em acompanhar as letras mais de perto. Por fim, destaco também o vigoroso thrash "Silent Violence" que me fez lembrar bons momentos do ápice do Sepultura lá no começo dos anos 90. É um disco de ótima qualidade, se lançassem um mês antes estaria na minha lista de Melhores do ano e como primeiro grande álbum de 2017, já digo que começamos com o pé direito.

Versão em vinil duplo colorido
Davi: Sepultura ou Max Cavalera? Fico com ambos. Para o desespero dos haters, o Sepultura continua sendo um ótimo grupo. Empolgante, profissional e inovador. Cada vez que lançam um trabalho, fico na expectativa para ouvi-lo e raramente decepcionam. Machine Messiah reflete o que o Sepultura é hoje. Uma banda de heavy metal que não fica presa ao rótulo thrash e busca inspiração em outras vertentes sem medo de ser feliz. Já tem um tempo que o grupo de Belo Horizonte vem explorando novos caminhos e a jogada permanece em Machine Messiah. O álbum inicia com a faixa-título e traz uma sonoridade nada típica no som dos garotos. Uma música arrastada, sombria, com Derrick apostando em uma vocalização limpa, quase soando como o Ghost. É uma faixa pesada e moderna. “I Am The Enemy” é a porradaria típica do Sepultura. Faixa veloz com os vocais agressivos de Derrick Green, passagens cadenciadas no meio e os solos velozes de Andreas Kisser. “Phantom Self” é um dos pontos altos do disco. Conta com alguns elementos orquestrais, mas bem de leve. O ponto alto, contudo, continua sendo o trabalho de guitarra e de bateria. Outra grande surpresa foi a (ótima) instrumental “Iceberg Dances” com elementos de progmetal inserido nos arranjos. - De boa, Eloy Casagrande está um monstro! - As orquestrações voltam a aparecer na empolgante “Sworn Oath”. Outro momento da sonoridade clássica do grupo volta a surgir em “Silent Violence”. Faixa agressiva, com bateria veloz e Derrick Green cantando como se estivesse pronto para dar porrada em alguém. Casagrande impressiona, mais uma vez, no petardo “Vandals Nest”. Assim como Casagrande, outro que merece destaque é Derrick Green. Está explorando mais suas linhas vocais. Buscando fazer linhas mais melódicas em diversos momentos, como pode ser conferida em “Cyber God”. Fez um ótimo trabalho no CD. Paulo Junior continua com suas linhas seguras (sim, eu sei da história de que ele não tocava nos primeiros álbuns, mas já passaram-se 30 anos, certo?) e Andreas Kisser continua com a competência de sempre, brilhando com ótimos riffs e ótimos solos. Machine Messiah não é um disco oldschool, mas é possível pegarmos alguns elementos de thrash 80´s e até algumas influências Tony Iommi aqui e acolá. São percebidas em algumas passagens inseridas no meio das canções. A sonoridade, contudo, é voltada para a hoje. A mixagem é bem moderna e como deu para ver, eles não estão preso em uma fórmula. Gosta do Sepultura da segunda fase? Especialmente em álbuns como Kairos e Dante XXI? Então, vá sem medo de ser feliz. Bela banda e grande disco.

Contracapa do LP
Diogo: O Sepultura vinha em curva ascendente. Após um longo período lançando álbuns que soam pouco memoráveis, pobres em inspiração e em alguns casos até preguiçosos – especialmente Nation (2001) –, Kairos (2011) e The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (2013) recolocaram a banda em um patamar minimamente digno, facilmente configurando-se nos melhores discos da banda desde Chaos A.D. (1993). Pode-se dizer que Machine Messiah é uma continuação do trabalho desenvolvido nesses dois lançamentos, mostrando um Sepultura bem mais focado, tecnicamente superior e soando menos hardcore, mais heavy metal. Andreas Kisser, especialmente, parece ter reencontrado seu caminho como guitarrista nesses últimos álbuns, soando mais próximo daquele jovem furioso que empunha uma Jackson modelo Randy Rhoads no videoclipe para “Arise” do que daquele cara que, na década passada, palhetava com displicência riffs simplórios em sua Fender Stratocaster. Sobre Eloy Casagrande, cada vez menos precisa ser dito. Sua consolidação como um dos grandes do instrumento, a nível mundial, é evidente. Entre Kairos e The Mediator... sua diferença já se fez notar, uma vez que é muito superior a Jean Dolabella. Mesmo quando as canções não são lá grande coisa, é bom ouvi-lo tocar. Derrick Green, por outro lado, continua sendo um ponto fraco. Ok, o cara é muitíssimo boa praça, mas como vocalista soa na maior parte do tempo unidimensional, carente de interpretação. Sim, porque é possível urrar na maior parte do tempo e ainda assim imprimir personalidade e interpretação, vide o trabalho de caras como Chuck Billy (Testament), Corey Taylor (Slipknot) e do próprio Max Cavalera, seja no Sepultura ou no Soufly. “Vandals Nest”, por exemplo, poderia ganhar muito com uma linha vocal mais adequada, valorizando sua veloz pegada thrash metal. “Resistant Parasites” é outra que talvez ganhasse com vocalizações mais variadas. Não é difícil, imaginar, quem sabe, alguém como Burton C. Bell (Fear Factory) dando outra cara à faixa. Por ora, minha favorita é a instrumental “Iceberg Dances”, que ilustra bem o trabalho de Andreas e Eloy, encaixa teclados com bom gosto e empolga bastante. A faixa-título, arrastada e um tanto pomposa, é mais próxima ao heavy metal tradicional e ao doom metal, surpreendendo positivamente. Algumas faixas ainda correm naquele esquemão pouco inspirado da década passada, com riffs e melodias genéricas, mas ainda assim o saldo pende mais para o lado positivo. A princípio, Machine Messiah representa uma leve queda em relação a The Mediator..., mas, sinceramente, não enxergo a banda fazendo muito melhor que isso hoje em dia. Um último comentário: essa capa não parece saída de um disco de alguma banda prog italiana da década de 1970?

Detalhe do vinil
Fernando: Já na primeira música podemos identificar que o Sepultura se preparou de uma maneira diferente para esse álbum. Derrick Green cantando com voz limpa e sem o drive característico na faixa de abertura, a faixa título, surpreende imediatamente. “I Am the Enemy” já era bem conhecida de todos já que eles estavam tocando na última turnê. Uma resenha de um desses shows você pode ler aqui. Interessante que o Sepultura vem intelectualizando sua música nesses últimos lançamentos com adaptações de livros e agora usando um conceito filosófico atual em que trabalha com a ideia da automatização das ações das pessoas. Elementos sinfônicos também foram acrescentados se tornando protagonistas em algumas faixas, como em “Sworn Oath”, certamente resultado do trabalho do produtor sueco Jens Borgen. Há muito tempo não tínhamos uma faixa instrumental legal o suficiente que não fizesse as pessoas a pularem como em “Iceberg Dances”, que tem até um pequeno solo de teclado a la Deep Purple. Não posso deixar de citar Eloy Casagrande que está tocando cada vez mais. Um monstro! Já li por aí alguns dizendo que esse é o melhor disco do Sepultura com o Derrick e é possível que ele se torne mesmo. Vou ouvir mais algumas vezes para comprovar isso.

Mairon: Há muito tempo que deixei de acompanhar o Sepultura. Quando eles enveredaram pelas experimentações tribalísticas lá em Roots, brochei tanto que não tive mais pretensão de seguir a banda. A saída do Max Cavaleira só piorou meu relacionamento com os mineiros (nem mais mineiros assim), e tinha largado de mão. Como o mundo da voltas, o grupo lançou Machine Messiah, cujo nome automaticamente me refere ao clássico gravado pelo Yes em Drama (1980). Então resolvi conferir o que estava no disco. Bom, pouco tempos que lembre o metal extremo dos melhores tempos da banda, seja nos excelentes Morbid Visions e Bestial Devastation ou nos clássicos Beneath the Remains e Arise, e aqui estão a excelente "I Am the Enemy" (puta som), mas fiquei feliz em saber que não temos mais aquelas batucadas malucas no meio de camadas de guitarras. Quando eles inventam de experimentar com elementos orientais em "Phantom Self", até que a coisa funciona bem.  É um disco comum dentro do cenário metálico, com músicas interessantes ("Alethea", "Vandals Nest") , outras surpreendentes (legal ouvir cordas no meio de "Sworn Oath"e "Resistant Parasites") outras mais arrastadas ("Machine Messiah" e "Cyber God") e outras que passam praticamente sem ser notadas ("Silent Violence"). Melhor faixa disparado para a instrumental "Iceberg Dances", sonzeira para quebrar pescoço e mãos com a air drums. Ainda temos dois bônus ("Chosen Skin" e "Ultraseven No Uta", totalmente desnecessária) que pouco acrescentam ao álbum, do qual gostei no geral, mas não vou comprá-lo, pois tenho certeza que seria um álbum de poucas audições, mas para quem é fã da banda, vá sem medo.
Sepultura 2017: Derrick Green, Paulo Jr., Eloy Casagrande e Andreas Kisser

Micael: Embora muitos ainda o façam, é uma besteira comparar o Sepultura “fase Derrick Green” (que já dura quase vinte anos) com sua encarnação anterior. Pelo menos para mim, é certo que, após a saída de Max Cavalera, o grupo nunca mais conseguiu gravar discos tão impactantes ou inovadores quanto aqueles registrados ao lado de seu antigo vocalista. Mas também dificilmente chegou a lançar álbuns abaixo da média, com alguns deles (AgainstRoorback e Kairos, em especial) bem acima do que se pode chamar de “medianos”. Machine Messiah sofre do mesmo mal de outros registros com Derrick: é um bom disco, mas nada que vá mudar o mundo ou gerar uma pilha de clássicos a serem cantados e celebrados nas apresentações ao vivo do grupo daqui por diante. Se “I Am The Enemy” (que o grupo já vinha apresentando ao vivo na sua turnê de trinta anos), “Vandals Nest” e “Chosen Skin” (presente apenas na edição limitada) se aproximam da “pauleira tradicional” das músicas da banda, não se pode acusar o quarteto (em seu segundo registro com o fenomenal baterista Eloy Casagrande, que consegue suprir com competência a enorme ausência de Iggor Cavalera) de acomodação no restante do track list, pois o álbum traz algumas músicas bem diferentes daquilo a que estamos acostumados a esperar quando ouvimos o nome Sepultura, visto a faixa título, com muita melodia e Green realmente “cantando” (com voz limpa e tudo, algo que também ocorre em “Cyber God”, a faixa de encerramento), e não “berrando” as letras, em algo mais melancólico e que eu nunca esperaria de uma faixa de abertura de um álbum do Sepultura. “Phantom Self” traz alguns arranjos que remetem ao Oriente Médio em suas melodias, e “Sworn Oath” faz uso de temas orquestrais para criar uma dramaticidade raras vezes ouvida na carreira do Sepultura. Há até um tema instrumental, “Iceberg Dances”, que, para mim, acaba sendo o maior destaque do track list, com muitas variações e até um trecho acústico ali pelo meio. Como disse, é um bom disco, que talvez venha a crescer com um número maior e mais atento de audições (quando ouvi o álbum pela primeira vez, procurei não ler nada a seu respeito, para poder formar uma opinião isenta sobre ele), mas que nunca chegará ao nível de “clássico”, algo que alguns registros mais antigos já o fizeram há tempos. Para terminar, duas questões que ficaram a me atormentar: por que dar ao disco o mesmo nome de uma das melhores músicas que o Yes já registrou (embora a maior parte dos fãs do Sepultura dificilmente virá a fazer esta associação algum dia), e por que registrar uma versão para o tema do Ultra Seven (“Ultraseven No Uta”, também presente na edição limitada), sendo que o Ratos de Porão já o fez (e com mais competência) anos atrás? Quem souber que me conte, por favor!

Ulisses: Por mais que a banda não detenha o mesmo poder de antes, é difícil ignorar um novo álbum do Sepultura, banda que possui um status lendário no cenário metálico. Ainda que os caras já estejam em seu 15º álbum de estúdio, demonstram que não perderam a ambição, apesar de certa estabilidade sonora. Em Machine Messiah, temos um disco conceitual que insere os mais diversos elementos musicais para retratar o mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos. Seja na introdução com a faixa-título, em que Derrick Green canta de forma limpa, pela inserção de elementos orquestrais em "Phantom Self" ou de teclados grandiosos em "Sworn Oath", são em experimentos assim, bem utilizados, que vemos a banda acertar a mão e nos apresentar a passagens interessantes. Soam bem menos cativantes quando dão preferência à sua sonoridade crua, mas, ainda assim, faixas de cunho tradicional, como "I Am the Enemy", "Silent Violence" e "Vandals Nest" estão longe de ser descartáveis, mantendo o bom pique do registro, mas demonstram que a banda parece não saber mais compôr aqueles petardos verdadeiramente icônicos e memoráveis de outrora - chegam perto, no máximo, como é o caso de "Alethea". No mais, a audição de Machine Messiah não é tão enfadonha como eu esperava que fosse, e revela que o grupo ainda consegue entregar bons momentos quando se esforça. Aqueles que são fãs do tipo de som que os caras praticam talvez se impressionem mais do que eu, mas ainda posso dizer que vale a audição.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Melhores de Todos os Tempos: Brasil - Anos 2000

Los Hermanos em 2001: Rodrigo Amarante, Marcelo Camelo, Rodrigo Barba e Bruno Medina


Por Mairon Machado
Com participação de André Kaminski, Bernardo Brum, Davi Pascale, Diego Camargo , Leonardo Castro e Micael Machado
Muitos odeiam, outros amam, mas poucos são capazes de questionar a importância do grupo carioca Los Hermanos para a história do rock nacional. Depois de uma estreia arrebatadora, em 1999, com o single "Anna Julia", o grupo mudou de formação (deixou de ser quinteto para seguir como quarteto) e mudou seu curso nos mares do sucesso. Abandonando o hardcore juvenil e as letras sentimentaloides, o grupo criou uma legião de fãs que passaram a admirar não só as letras e as músicas de Rodrigo Amarante, Marcelo Camelo, Bruno Medina e Rodrigo Barba, mas praticamente tudo o que a banda fazia. Ao mesmo tempo, uma legião de detratores dos cariocas também surgia, mostrando que a grandeza de um grupo não está somente entre os fãs.
A prova maior de que o Los Hermanos foi A Banda dos anos 2000 está nessa lista de Melhores álbuns. Sete consultores elegeram os dez melhores discos lançados em nosso país entre 2001 e 2010, fechando assim a nossa última lista de Melhores de Todos Os Tempos. No pódio, dois álbuns do Los Hermanos e a surpreendente filha de Elis Regina, Maria Rita, mas a lista apresenta ainda os mineiros do Skank, o grupo carioca de heavy metal Tribuzy, os gaúchos da Pata de Elefante, Video Hits e Cachorro Grande e os paulistas dos Racionais Mc's.
Lembrando que os votos seguiram a pontuação oficial do Campeonato Mundial de Fórmula 1, e que os comentários estão abertos para você concordar, discordar e adicionar novos nomes a nossa lista.

1. Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho (88 pontos)
André: Temos 3 discos do Los Hermanos nessa lista. Infelizmente, me obrigarei a ouvir os outros dois. Nenhuma lista colocaria esses três discos entre os melhores de uma década. Serve apenas para deixar demonstrado que nossas listas nada mais se baseiam em gosto pessoal, se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre isso. Sobre o disco, já me torturei ouvindo uma vez e comentei na lista do ano de seu lançamento aqui no site. Não o farei de novo, visto que tenho outros dois para isso.
Bernardo: Um dos resultados mais justos dessa lista, com o Los Hermanos virando sua carreira em 180 graus descolando-se do tradicional levante de rock com influências pop-punk e ska para fazer um álbum que mescla de maneira experimental a musicalidade demonstrada no primeiro disco com ritmos brasileiros - os arranjos de metais do ska pendem para o samba, exploram-se andamentos sincopados, letras sofisticadas estilística e tematicamente falando, com a banda almejando o início de uma maturidade como compositores - "Todo Carnaval Tem Seu Fim", "Retrato Pra Iaiá", "Sentimental" entre outras fazem parte do repertório de novos clássicos da música brasileira contemporânea.
Davi: O grande álbum do Los Hermanos. Depois de um álbum de estreia bem morno (em termos de qualidade, não de receptividade. “Anna Julia” foi um megahit...), os músicos surpreendiam ao se reinventarem trazendo influências descaradas de MPB e samba em seu segundo álbum. A fórmula funcionou incrivelmente bem e nos brindou com diversas pérolas como “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, “A Flor”, “Casa Pré-Fabricada”, “Sentimental”, “Deixa Estar” e “Fingi na Hora Rir”. Um dos grandes discos do rock brasileiro, sem exageros.
Diego: Normalmente eu 'resenharia' cada disco, mas como penso que muitos farão isso, e como tenho história com metade dos discos, decidi fazer um pouco diferente e contar a minha história com cada disco (ou minha 'não-história'). Eu conheci o Los Hermanos bem antes de eles estourarem com "Anna Júlia". Mais precisamente no dia 15 de Setembro de 1999, coisa de 3 meses depois do lançamento de seu disco de estreia. Na época ninguém tinha ouvido falar de Los Hermanos e eu ainda não havia ouvido "Anna Júlia". Eu comprei a revista ShowBizz daquele mês de Setembro e encartado na revista havia um CD promocional com 7 faixas, mais um monte de conteúdo multimídia (como o video clipe de "Anna Júlia", discadores, saver screens, etc). Na época a revista era editada pela Editora Abril, e a mesma Abril tinha começado um selo chamado Abril Music, então que melhor maneira de divulgar suas novas bandas? Lembro também de algumas semanas depois o meu irmão me dizendo: "Ei, sabe aquele banda do CD da revista? Tá tocando na rádio." Depois a história todo mundo já sabe, viraram febre por causa de Anna Júlia e mais tarde "Primavera", venderam mais de 300 mil cópias do disco, etc. Em 2001, lançaram o segundo disco, Bloco Do Eu Sozinho e que surpresa. Mais uma vez, me lembro de ter ouvido o novo disco pela primeira vez na MTV quando vi o clipe de "Todo Carnaval Tem Seu Fim" e de ter ficado pasmo. Realmente pasmo, queria o disco naquele mesmo minuto. Sábia escolha da banda de escolher aquela faixa como abertura, ainda mais depois de todo clima de Carnaval impresso no disco de estreia. Bloco Do Eu Sozinho foi lançado em Janeiro de 2001, mas eu comprei a minha cópia do disco somente em Outubro de 2002... Na época eu tinha 16 anos e dinheiro mesmo eu nunca tinha, ainda mais pra comprar CDs que custavam 25 reais. Mas é uma outra história engraçada em Maio de 2002 meu irmão decidiu me dar um presente de aniversário (fato que até hoje me deixa perplexo), eu disse que queria um CD e ele me levou até uma loja de CDs em São Paulo. Lembro bem de que não tinha mais nada que eu quisesse, queria o disco novo do Los Hermanos. Quando cheguei na loja vi tanta coisa e me deparei com tantos CDs bons na prateleira de promoções que consegui convencer o meu irmão a comprar 4 CDs pelo preço de um, incluindo o primeiro disco dos Los Hermanos. 5 meses depois dei um jeito de comprar o tão esperado segundo disco. A banda não encontrou sucesso em lugar nenhum na época, hoje todo mundo baba no disco, na época ele vendeu 35 mil cópias e a gravadora deu um pé na bunda deles. Pra mim, o disco ainda hoje é um marco dentro do cenário nacional, o único problema é que depois dele 300 mil bandas surgiram com uma linguagem que copiava tudo que o Los Hermanos tinha feito nesse e em seu próximo disco. A título de curiosidade, o CD original vinha com a parte plástica que segura o CD na cor branca e não nas tradicionais cores preto ou transparente. Infelizmente o meu não possui mais esse plástico, pois na mudança pra Polônia fiz a grande cagada de me desfazer da caixinha...
Mairon: Curiosamente, acho esse o terceiro melhor disco do Los Hermanos. Fui um daqueles que em 2001, quando Bloco saiu, me caiu os butiá dos bolsos. O que era aquela sonoridade maluca, misturando samba ("Todo Carnaval Tem Seu Fim" e "Assim Será"), chorinho ("Cadê Teu-Suin"), country e valsa ("Mais Uma Canção"), jazz ("Deixa Estar" e "Adeus Você"), MPB ("Casa Pré-Fabricada" e "Fingi Na Hora Rir"), música francesa ("Cheir Antoine") entre outros diversos estilos, depois do hardcore melancólico de Los Hermanos. Foi aqui que começou a surgir a verdadeira geração de amantes e seguidores da banda, foi aqui que o grupo saiu da Globo e conquistou multidões de verdade, foi aqui que Camelo e Amarante começar a dar os passos primordiais que os levaram ao estrelato e a nomenclatura de gigantes da música nacional. Mas era apenas o começo do fim das nossas vidas como apreciadores de uma banda que ainda entregava um bom hardcore dolorido ("Tão Sozinho" e "Aline") e que criou duas das mais belas canções da música nacional nos últimos trinta anos, "Sentimental" (a faixa que justifica a presença de Bruno Medina nos teclados) e "Veja Bem Meu Bem". Como disse, acho esse apenas o terceiro melhor disco da banda, mas todos aqui sabem quão fã eu sou desse grupo.
Micael: Com três discos do Los Hermanos na lista, prevejo que o mimimi vai ser grande nos comentários. Como fui um dos responsáveis por esta escolha, acho bom começar a defender minha posição. Bloco do Eu Sozinho não é o meu álbum preferido da banda (o primeiro ainda leva este posto), mas é o melhor depois da estreia. Ainda há resquícios da sonoridade do registro anterior em “Tão Sozinho”, “Fingi na hora rir”, “Deixa estar” e “A Flor” (composta ainda na época daquele álbum), mas a sonoridade já começava a apontar o caminho mais introspectivo dos registros seguintes, em faixas como “Todo Carnaval Tem Seu Fim” (o grande “hit” das rádios, mesmo quilômetros distante da sonoridade de “Anna Júlia”), “Adeus Você", "Assim Será" e "Casa Pré-fabricada", além da linda “Sentimental”, uma das melhores faixas da carreira dos cariocas. “Mais Uma Canção”, apesar de meio infantil, agrada bastante, e, em todo o track list, somente “Cher Antoine” nunca conseguiu conquistar a minha admiração. Bem, o disco ficou em primeiro lugar na minha lista particular também, então, podem me jogar as pedras!

2. Los Hermanos - 4 (43 pontos)
André: Tem músicas tais como "Fez-se Mar"... uaaaaaahhhh... "Os Pássaros"... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz ... , opa, desculpe, aí vem "Sapato Novo" que demonstra que a banda ... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Bernardo: Tirando "O Vento" e "Condicional", acho que esse álbum ficou devendo. Los Hermanos soaram acomodados aqui.
Davi: Depois de dois ótimos discos, os músicos me frustraram lançando uma das piores coisas que já ouvi na minha vida (e olha que já ouvi muuuuito disco e muita coisa ruim). Trabalho apático, down, xoxo, sonolento. Me dá a impressão que estavam desiludidos, sem inspiração. Na época, demorei três dias para ouvir esse CD até o fim. Ouvia três faixas e dormia, três faixas e dormia, três faixas e dormia. Hoje, consegui vencer esse problema, mas continua não me empolgando em nada. Uma pena esse ter sido o ultimo trabalho de inéditas. Estava esperando ansiosamente pelo 5° CD colocando as coisas novamente no eixo. Para não dizer que nada se salva, gosto de “O Vento”.
Diego: Outro disco que tenho história... essa já não tão positiva. Que a minha mulher atual não leia isso (e é um perigo pois ela fala Português melhor do que eu falo Polonês, risos), mas esse disco marcou minha primeira paixão de verdade. Não porque éramos embalados ao som de Los Hermanos (pelo contrário, ela gostava mesmo era de Angra), mas pelo fato de que comprei esse disco, meros 3 meses depois de seu lançamento (um marco para o outrora pobreta Diego com 15 anos), na primeira vez em que sai com ela. Era minha desculpa para ver ela fora da internet pela primeira vez: "Vou na Galeria (do Rock) comprar um CD, quer ir comigo?". Ela disse sim, eu comprei o CD, nós começamos a namorar 2 semanas depois e foram 6 meses de altos e baixos que no fim me foderam ferrenhamente quando levei um Homérico pé-na-bunda e fiquei em depressão por quase um ano (é sério isso). Após o ocorrido o disco acabou ficando com essa memória atrelada, e somado o fato de que 4 já é por natureza melancólico, triste e pé-na-fossa, fazendo com que hoje o disco não rode mais no meu player. Sem contar que ele é o mais fraco da banda, apesar de ainda ser um ótimo disco.
Mairon: O famoso disco da deprê. Tenho uma história muito particular com 4. No ano de seu lançamento, estava passando pela separação da mãe do meu filho, e o grupo esteve em Porto Alegre, onde morava na época. Me considerava um fã da banda, adorava Ventura, para mim o melhor disco do rock nacional já lançado até então desde a década de 70, e sabia que estavam lançando um novo álbum. Internet naquele tempo era algo raro, e downloads mais ainda. Fui ao show, uma noite de chuva e frio, na esperança de ouvir "Além do Que Se Vê", "Cara Estranho", "Todo Carnaval Tem Seu Fim", entre outras faixas alegres que me conquistaram como fã, e ouvir um bom som no geral. Mas quando começaram as primeiras notas de "Dois Barcos", e o Bar Opinião INTEIRO começou a cantar uma música que nunca tinha ouvido na minha vida, o mundo caiu. Que porr@ de fã era eu que não conhecia aquilo? Eu lá, no gargarejo do palco, sem saber o que estava acontecendo. Mudança de posições e Amarante assume os vocais para cantar "Primeiro Andar", faixa sombria, tensa, com uma percussão agonizante de Barba, e todo mundo cantando, de forma que não dava para ouvir a voz do Amarante. Cara, o disco acabou de ser lançado, como é que pode? O show foi passando, e 4 foi interpretado quase na íntegra, e eu fiquei abismado que todo mundo conhecia todas as músicas do disco novo do início ao fim, menos eu. Acho que é o disco nacional que mais ouvi na minha vida, e concordo que é um álbum com clima melancólico, mas na fossa que eu andava na época, aprendi a amar esse álbum de maneira incondicional. Faixas como "Fez-se Mar", "É De Lágrima" e "Pois É" são extremamente para baixo, mas tocantes demais para quem gosta de música assim, e eu adoro. Quando "Paquetá", "Morena" e "O Vento" passam pelas caixas de som, o clima de alegria se recupera, contrapondo a depressão maravilhosa das faixas citadas. "Condicional" tem uma letra impactante e muito reflexiva, além de dar um up muito bem vindo, e é impossível não sair pulando pela casa com "Horizonte Distante", chorar junto com Camelo durante a sensacional "Sapato Novo", querer arrancar a pele com a tristeza carregadíssima de "Os Pássaros" (put@ merd@, que letra fod@, e que música linda), e sentir a potência sonora de "Condicional". O melhor disco do rock nacional em anos, e que espero, um dia, receba o valor que ele tem, já que foi o último registro da banda, mas exatamente aquele que conseguiu casar todas as boas criações da banda, abrangendo música, composição, letras e harmonias, qualidades que se destacavam individualmente em seus álbuns anteriores, como uma verdadeira obra-prima faz. Obrigatório!!
Micael4 talvez seja o álbum mais introspectivo do grupo, apesar da popzinha “O Vento”, que até em Malhação apareceu. Não é um disco fácil, não é um disco divertido, mas é um registro intimista, introspectivo e muito, muito bonito. "Dois Barcos", "Fez-se Mar", "Os Pássaros" (esta quase depressiva em seu arranjo tristonho),"Sapato Novo", "Pois É" (linda, fantástica, maravilhosa) e "É De Lágrima" não são recomendadas àqueles com pensamentos ou tendências suicidas, mas sim para quem tiver a alma aberta à beleza, à placidez e à tranquilidade, ou para quem quer curtir uma enorme dor de cotovelo com um álbum que se encaixará quase perfeitamente em seu estado de espírito. E ainda tem “Horizonte Distante”, uma viagem sonora que, arrisco dizer, não encontra paralelos no pop rock nacional dos últimos vinte ou trinta anos. A quase animação de "Paquetá", "Condicional" e "Morena" é subjugada pela tristeza das outras músicas citadas, e o tom do disco acaba sendo mesmo o “para baixo”, o que talvez explique o “bode” que muita gente tem do registro (e da banda também). Pobres almas com os ouvidos entupidos de METÁU, e incapazes de apreciar algo tão belo e singelo quanto o que se ouve aqui!

3. Maria Rita - Maria Rita (35 pontos)
André: Boa cantora, carregou muito tempo o estigma de ser filha de Elis Regina mas nos últimos anos essas comparações caíram drasticamente. Ainda assim, não é meu estilo e suas músicas não me atraem, é mais mesmo para quem curte MPB.
Bernardo: Elis Regina é açúcar, Maria Rita é adoçante. Dá para o gasto mas não solta faísca em momento nenhum.
Davi: Para mim, esse foi um dos últimos grandes álbuns da música brasileira. Disco praticamente perfeito. Arranjos impecáveis, trabalho vocal soberbo, repleto de canções memoráveis. Sofisticado e popular ao mesmo tempo. Ainda gosto muito do trabalho dela, mas gostaria de vê-la gravando nesse estilo de novo. Mais MPB, meio jazz, menos samba. Ainda considero seu melhor álbum. Quem sabe um dia... Destaques: “Festa”, “Menininha do Portão”, “Não Vale a Pena”, “Cara Valente”, “Encontros e Despedidas”, “Pagu”, “Lavadeira do Rio” e “Veja Bem Meu Bem”. Sem exageros, uma das melhores cantoras brasileiras da atualidade.
Diego: Chato descreveria o disco muito bem. Maria Rita interpreta canções maravilhosas como se fosse uma boneca de plástico, o que importa é não errar as notas, a emoção que se exploda. O repertório do disco é soberbo, e ela é amparada por uma banda de primeira, mas a Maria Rita é uma personagem sem brilho nenhum, sem personalidade e isso transparece no resultado final. O disco de estreia de Maria Rita poderia ser algo para se ter orgulho, é um disco que tenta tanto ser emocional e não consegue. Este é um disco que quer ser todo coração, mas que tenta fazer isso através de números e não de emoções. Triste.
Mairon: Maria Rita viveu muito tempo pela sombra de ser filha de Elis Regina. Desde que ela surgiu, com esse belíssimo álbum, eu me tornei fã dela. Claro que há nuances de Elis na performance vocal de Maria, principalmente em faixas que certamente iriam ser notáveis na voz de sua mãe, como "A Festa" e "Encontros e Despedidas" (ambas de Milton Nascimento), ou o bolero "Dos Gardenias", mas não precisamos ficar nessas comparações. Há uma criação pessoal de Maria, por exemplo, adaptando sonoridades em versões especiais para "Agora Só Falta Você" (totalmente desconstruída) e "Pagu" (ambas de Rita Lee). Mas são nas MPBs de "Menininha do Portão" e "Lavadeira do Rio", na incursão experimental de "Cupido" e nas introspectivas "Não Vale a Pena", "Menina da Lua" que percebe-se quão grande é o talento de Maria Rita, suave, moderna, sem exageros e capaz de mexer com a mente do ouvinte. Além disso, o que ela faz nas duas faixas criadas por Marcelo Camelo, o embalado samba "Cara Valente" e a linda "Santa Chuva", é de se comer o chapéu, e quando ela arranca arrepios da espinha na clássica "Veja Bem, Meu Bem" (de novo ela), não há o que fazer a não ser estabelecer Maria Rita como um dos melhores discos nacionais dos últimos anos. Portanto, deixem de chorumelas e comparações, pois não tem o que comparar, e apenas abra sua mente para uma das melhores vozes que o Brasil tem na atualidade.
Micael: Sempre gostei muito da voz de Maria Rita, embora não goste muito das músicas que ela grave. Não sou fã de MPB nem de samba, dois estilos que aparecem com constância em sua discografia, mas ouvir a voz sempre agradável da filha da maior cantora que este país já viu nunca é um sacrifício, independente do que ela cante. E quando ela dá vida nova a canções de Marcelo Camelo como "Cara Valente", "Veja Bem Meu Bem" e "Santa Chuva", todas presentes no track list deste álbum, aí a coisa consegue me agradar de verdade. "Agora Só Falta Você" (totalmente reconstruída, com destaque para o baixo acústico) e "Pagu", ambas da rainha Rita Lee, também ajudam a me atrair para o disco, e mesmo as duas faixas de Milton Nascimento ("A Festa" e "Encontros e Despedidas") não chegam a me desagradar. Como disse, não é o tipo de música que eu gosto de ouvir nos meus momentos de lazer, mas a voz maravilhosa de Maria Rita compensa com sobras o “esforço” da audição.

4. Skank - Cosmotron (33 pontos)
André: Os caras são animados, fazem letras fáceis, são carismáticos e não se levam muito a sério. Sempre curti essa banda e acho este disco um tanto mais "psicodélico/espacial" como um de meus preferidos dos mineiros. "Formato Mínimo", "Resta um Pouco Mais" são as minhas favoritas, mas há também a ótima "Vou Deixar", muito tocada nas rádios e presença constante nos shows. Skank não tem erro, mesmo um disco inferior deles ainda é melhor do que muita coisa lançada por 80% das bandas nacionais.
Bernardo: Apesar do processo ter iniciado no antecessor MaquinaramaCosmotron é o disco onde a banda terminou a transição do pop-rock/ska-reggae que os tornou famosos pelo Brasil inteiro, absorvendo influências dos Beatles da segunda fase e do Clube da Esquina. A etérea e esmerada "Dois Rios" é o ponto alto do disco, mais o pop direto de "Vou Deixar" e a cheia de guitarras "Supernova". A nova fase dos anos 2000 revitalizou o Skank, e se não são mais hit wonders como antigamente, são uma banda popular consistente e ainda relevante na nossa música.
Davi: Puta disco que merece ser conferido até entre aqueles que não são fãs do grupo. Em Cosmotron, os garotos de Belo Horizonte afastavam-se da sonoridade reggae e dos metais àla Paralamas e traziam à tona suas influências de Clube da Esquina (que seriam aprofundadas no ótimo Carrossel) e, principalmente, Beatles. A bateria de “Supernova” foi claramente chupada de “Tomorrow Never Knows”. A conhecida balada “Dois Rios” e a psicodélica “Um Segundo” se os irmãos Gallagher ouvissem iam brigar para ver quem faria uma versão em inglês das mesmas. Outros ótimos momentos ficam por conta de “As Noites”, “Amores Imperfeitos” e o animado hit “Vou Deixar”.
Diego: O Skank faz parte da minha geração (nasci em 85), lembro dos hits da banda em todos os cantos desde que eu tinha 8 ou 9 anos de idade. Lembro de nunca ter realmente escutado o Skank justamente pelo acento extremamente Pop que eles sempre tiveram, não era pra mim. Desde 1998, quando lançou Siderado, o Skank mudava, pouco a pouco, o acento extremamente Pop ainda estava lá, mas a vontade de ir além ficava mais evidente em "Resposta". Não foi uma surpresa muito grande quando em 2000 eles lançaram Maquinarama e o acento mais "humano" estava ainda mais presente, os arranjos não mais dependiam de teclados techno e "eletronicisses", agora a banda fazia um Pop Rock vigoroso como em "Três Lados" e "Canção Noturna". No entanto, eu ainda não acompanhava a banda. Especialmente porque o disco MTV Ao Vivo Em Ouro Preto, de 2001, rodava incansavelmente no player do meu irmão, me incomodando profundamente... Em Julho de 2003 saía Cosmotron e que tapa na minha cara... Mais uma vez a MTV foi o meio de descoberta (houve um tempo em que ela era importante), ver o clipe de "Dois Rios" foi um daqueles momentos... Eu não conseguia acreditar que aquele som vinha do... Skank... a mesma banda de músicas chatérrimas como "Balada Do Amor Inabalável", "Saideira" e "Garota Nacional" gravando algo desse naipe? Impossível! Mas não era impossível, aconteceu e o Skank conseguiu algo MUITO difícil dentro do cenário Pop musical, se reinventar de maneira drástica, mantendo o acento Pop e ainda ser sucesso de público (vendeu cerca de 210 mil cópias na época do lançamento), quer exemplo mais perfeito do que eu disse acima do que "Vou Deixar"? Discaço com merecido destaque! Triste que a banda, depois do sucessor Carrossel, tenha decidido voltar ao som do início de carreira e segue lançado discos absurdamente ruins desde então.
Mairon: O Skank sempre me foi uma banda mais do mesmo. Nunca fui muito com a cara do Samuel Rosa, e apesar de ter visto eles em ação algumas vezes durante os anos 2000, acho as canções muito sem sal e alegrinhas demais. Quando comecei a ouvir "Supernova", até que me surpreendi, mas daí descobri que os méritos psicodélicos dessa faixa devem-se a Fausto Fawcett. Daí depois, veio muita inspiração em Beatles e Clube da Esquina (pô, "Dois Rios" é Lô Borges demais, e claro, foi ele quem compôs essa boa obra), e fui absorvendo aquilo sem me envolver, até surpreso por não ter tantos reggaezinhos xoxos quanto ouvi de outras vezes nas músicas do Skank, ter uma viagem interessante chamada "Nômade", mas quando me deparei com aquela chatice sonora "Vou Deixar", pensei: "É, vou deixar de ouvir essa porcaria, por que tenho mais o que fazer".
Micael: Olhando o track list deste disco na playlist que o youtube me ofereceu, a única faixa que chamou a atenção foi “Vou Deixar”, música que para mim resume tudo o que há de errado com o Skank, uma banda que começou interessante com sua mistura de reggae e ragamuffin (ou seja lá o que eles faziam em seu disco de estreia), mas depois foi “amadurecendo” a sua sonoridade e se tornando chata para caramba. E chato também é este disco, um popzinho comum feito quase que de encomenda para as rádios e para as garotas que passaram a idolatrar qualquer coisa que estes mineiros gravassem, mas que não consegue agradar aos meus ouvidos. Tirando "Supernova", que é quase uma cópia de “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles, a única faixa que me agradou foi “Dois Rios”, e não foi com surpresa que, ao conferir a ficha técnica, vi Nando Reis entre seus compositores, em sua única parceria com Samuel Rosa neste registro. Talvez falte mais a “mão” do Ruivão, visto que as músicas que mais me agradam na carreira do Skank depois do registro de estreia sempre tem o “toque de Midas” de Nando, o qual não apareceu aqui. Cosmotron deve ter suas qualidades, mas não é para mim.

5. Los Hermanos - Ventura (33 pontos)
André: Definitivamente, cheguei a conclusão que "Anna Júlia" talvez seja mesmo a melhor música da banda lá do primeiro disco. Pelo menos naquele álbum tinham um pouco mais de energia, metais e um instrumental ao menos decente. Desse segundo disco em diante foram três álbuns de letras xaropentas, clima de MPB juvenil, instrumental preguiçoso e uma atmosfera soporífera. Pensando bem, eu ouvi três discos deles agora e o de 1999 lá no primeiro Consultoria Recomenda. Caralho, posso até escrever a discografia comentada inteira do Los Hermanos e há bandas que eu adoro que sequer cheguei a ouvir todos os discos. Tem coisas que só a Consultoria do Rock te obriga a fazer.
Bernardo: Uma sequência natural de Bloco do Eu Sozinho, onde conseguiriam conciliar o manto alternativo com a faceta acessível - vê-se exemplos como a agitada e agridoce "O Vencedor", a pulsante e esbaldada em Weezer "Cara Estranho". Camelo que mais compôs hits no disco, mas é de Amarante aquela é a melhor música "Último Romance", dramática e doída na medida certa.
Davi: Embora Bloco do Eu Sozinho não tenha gerado um grande hit radiofônico dos portes de “Anna Julia”, o álbum transformou-os nos queridinhos da crítica e trouxe uma leva de fanáticos. Em seu terceiro álbum, os músicos resolveram não correr grandes riscos. Seguiram basicamente a mesma fórmula do álbum anterior. Ou seja, as guitarras suingadas, as letras chicobuarquianas, a influência do samba. Não tem o mesmo brilho do álbum anterior, mas ainda assim é um trabalho muito interessante com ótimos momentos como “O Vencedor”, “Tá Bom”, “Último Romance”, “Além do Que Se Vê” e “Cara Estranho”. Ótimo disco!
Diego: Nesse disco a banda já estava aceita como essa nova "coisa" que tinha se tornado. Ventura foi um disco que eu comprei no começo de 2004 e ouvi tanto, mas tanto que o meu CD começou a pular em alguns trechos. Não tenho histórias tão fortes com esse disco, só a lembrança de como foi bom ouvir ele na época do lançamento e ter a noção de que algo estava acontecendo na música do Brasil, e não era somente "lá fora".
Mairon: O disco do desbunde. Cara, como lembro da primeira vez que ouvi esse disco. O impacto de ouvir algo que podia ser considerado perfeito do início ao fim. Daqui saíram os principais clássicos do Los Hermanos, e que são de uma grandeza sem igual no rock nacional. Se não vejamos esse simples track list: "O Vencedor", "Tá Bom", "Cara Estranho", "Além do Que Se Vê", "Conversa de Botas Batidas", "Um Par", "A Outra", "Do Sétimo Andar" e "De Onde Vem a Calma". Poucos são os discos a ter algo tão imponente quanto essas faixas. Mas Ventura ainda traz mais: o sambão de "Samba a Dois", as inspirações oitentistas de "O Pouco que Sobrou" e a sensacional "Do Lado de Dentro", cuja letra é um coice nos peitos, e a musicalidade criada para esse absurdo musical é assombrosamente arrepiante. Amarante passou a dividir o espaço mais democraticamente com Camelo, e isso foi muito saudável para o grupo, pois gerou um contraponto muito importante para a presença MPBística de Camelo, dando um ar mais relaxado como em "O Velho e O Moço", e rock 'n' roll como em "Deixa O Verão". Acima de tudo, Amarante fez outra canção que tranquilamente está no hall das Melhores do Rock Nacional, "O Último Romance", faixa que já chorei pacas nos shows da banda que fui, e que ao lado da também belíssima "De Onde Vem a Calma", essa interpretada por Camelo, forma a dupla de belezuras deste disco. Aliás, foi com Ventura que vi a banda em ação pela primeira vez, e comprovei que realmente eles eram uma banda capaz de serem os melhores do país. Aqui a banda definitivamente criou seu legado de "Ame ou Odeie", viu ver aumentar exponencialmente o número de mulheres em suas apresentações, mas principalmente, cravou seu nome na história como uma banda capaz de surpreender positivamente. Ventura tem tudo o que se pode dizer de melhor, tanto que muitas são as listas que o colocam como o melhor disco do rock nacional nos anos 2000, só que para meu gosto maluquete, esse status durou apenas dois anos, pois como afirmei acima, com 4 meu mundo caiu.
Micael: O grupo se isolou em um sítio e saiu com um álbum bem diferente do Bloco, mas ainda não tão sombrio quanto o posterior 4. "Samba a Dois" remete a “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, enquanto "O Vencedor" e "Cara Estranho"(e também, embora em uma escala um pouco menor, "Além do Que Se Vê") viraram “preferidas” daqueles que eram fãs, mas não chegavam a ser devotos dos cariocas, devotos estes que formavam uma legião que só fazia aumentar a cada novo registro, e que cantou todas as letras do disco dias depois do seu lançamento em um Bar Opinião lotado aqui em Porto Alegre, como pude presenciar in loco. Embora conte com faixas mais animadas como "Deixa o Verão", "Um Par", "Do Sétimo Andar", "Último Romance", "O Pouco Que Sobrou" (com algumas viagens sonoras de Medina) e a "quebrada" "Do Lado de Dentro", são as músicas mais tristonhas que me chamam a atenção, como "Tá Bom", "A Outra", "O Velho e o Moço", "Conversa de Botas Batidas" (linda e emocionante) e, principalmente, "De Onde Vem a Calma", uma das melhores canções da carreira do grupo. Podem reclamar e espernear, mas, se vossos ouvidos não tem a capacidade de apreciar a qualidade de discos como este, a culpa não é das canções, mas da falta de disposição de se abrir a novas experiências sonoras que os caros colegas possuem!

6. Pata de Elefante - Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha (25 pontos)
André: Blues rock instrumental excelente e que faz tempo eu estou para recomendar ao pessoal da Consultoria. Com uma cozinha de baixo e bateria bem azeitada (tanto Gabriel Guedes quanto Daniel Mossman se revezavam no baixo e na guitarra) e belos solos, esse trio me surpreendeu nesse segundo disco deles, o que mais gostei dentre os que ouvi. Uma pena a banda ter acabado em 2013. Felizmente esses gaúchos nos deixaram três discos que espero sejam mais valorizados no futuro.
Bernardo: Uma banda instrumental que consegue fazer um disco variado, que não entedia em momento algum e trabalha as referências sessentistas com muita sabedoria. Bela surpresa da lista.
Davi: Esse disco me surpreendeu. Já tinha lido a respeito dessa banda, mas nunca tinha parado para escutá-los. Provavelmente, por ter lido muito sobre o Macaco Bong e quando os assisti ao vivo, não me disseram muita coisa. O trio, assim como a citada banda, apresenta um rock instrumental. Só que, dessa vez, a coisa funciona. Assim como acontecia com os grupos instrumentais de antigamente (como Shadows, Ventures ou até mesmo The Jordans), os músicos dão valor à musica em si. A ideia de canção. Com bastante referência de anos 60 e 70, bastante influência de classic rock, o som deles é bem trabalhado, porém bem objetivo. Quando for ouvir, preste atenção no trabalho de guitarra, é o creme do disco...
Diego: O Pata De Elefante, nascido em Porto Alegre no começo dos anos 00 era uma ótima banda. Uma das poucas bandas no Brasil que lançou uma quantidade decente de discos trabalhando exclusivamente com música instrumental (os únicos dois outros grupos que me vêem à mente são A Cor Do Som e Macaco Bong). Eu só tinha ouvido o primeiro disco da banda, de 2004, e apesar de ser um bom disco, não era nada de especial. Em Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha outra vez temos um disco acima da média, cheio de boas músicas e composições bem trabalhadas, instrumental mas sem ser chato, sem cair na masturbação sonora que é tão comum em bandas instrumentais. No entanto o disco mostra muito pouco, especialmente para entrar em uma lista de MELHORES DA DÉCADA... o disco não é ousado, fato que pesa bastante num disco instrumental. Bom disco, nada mais.
Mairon: Sou um admirador da Pata há muito tempo. Os caras souberam muito bem trazer o som southern para o Brasil, com um talento descomunal, misturando country rock, blues e muito rock 'n' roll de forma exclusiva, totalmente instrumental, com muitas músicas excelentes para ouvir acompanhado de um belo uísque e uma costela de cordeiro sendo assada direto no fogo de chão. Claro que existem faixas mais acessíveis ("Hey", "Marta", os "Pesadelos Hippie 3 e 4" e "Bolero das Arábias", por exemplo), mas é nas ótimas pegadas de  "Carpeto Volatore",  no ritmo flower power de "Presente Para Mary O", no bluesy " Breve Visita De Wilson A Nova Orleães", na lisergia de "Don Genardo" que escondem-se a essência da banda: o prazer de criar música que divirta. Basta saber que podemos conferir metais e piano na faixa-título, os quais nos levam direto para um boteco de quinta no interior dos states, para ter uma ideia do que a Pata propôs. Bom disco, sem dúvidas, apesar de muitas faixas curtas poderem ter sido limadas da versão final, e acredito que se fosse para ter a Pata aqui, prefiro seu antecessor, o excelente álbum homônimo que projetou o grupo para seus fãs. E fica a dica, os paranaenses do Kingargoolas vem fazendo um som similar, mas talvez melhor do que a Pata nos últimos anos.
Micael: Rock and roll instrumental com toques de southern rock e de blues. Dificilmente esta receita dará errado quando executada por “cozinheiros” hábeis, e, nas mãos (ou nos instrumentos) destes talentosos gaúchos, a coisa vira pura alegria! Toques orientais, jazz, soul e gospel aparecem aqui e ali para dar mais consistência ao “molho”, e fazer deste um álbum extremamente agradável de ouvir. Difícil citar algum destaque (até porque a versão que escutei para fazer os comentários desta lista não trazia a identificação das faixas), mas é um disco onde a média das canções é nivelada por cima, e que não faz feio nesta lista. Excelente lembrança!

7. Video Hits - Registro Sonoro Oficial (25 pontos)
André: A musicalidade me lembra aquelas trilhas sonoras de filminhos antigos dos anos 80 que passariam na Sessão da Tarde da Globo. As vozes femininas me lembraram as usadas pelo Bangles, com a diferença de ser mais focado no pop rock e menos no eletrônico. O principal defeito do disco são as letras bem bobinhas. Os arranjos até são bem trabalhados, principalmente os teclados. Mas as composições como um todo não me agradaram mesmo.
Bernardo: Equilibraram às homenagens rasgadas à bossa nova, tropicália e Clube da Esquina do resto da lista e fizeram um disco que é descaradamente Jovem Guarda e música de boate dos anos 70, com participações com Ronnie Von (regravando sua "Sílvia 20 Horas Domingo") e Gerson King Combo. Mais pesado que os homenageados, mas não chega a meus ouvidos como um grande disco.
Davi: Já tinha escutado falar dessa banda, mas ainda não tinha escutado esse CD do início ao fim. Só conhecia o clip “(Vo)C”, que assisti na MTV, na época. A faixa de trabalho, eu gosto. Um pop/rock delicioso, muito bem feito, com bastante referência de anos 60. Assim como todos os álbuns produzidos pelo ex-Baba Cósmica, Rafael Ramos (Deckdisc), a qualidade de gravação é muito boa. Peguei o disco para ouvir e bateu uma certa decepção. O instrumental é interessante, a influência de anos 60 é latente, principalmente Jovem Guarda (perceptível, principalmente, nos teclados àla Lafayette), mas as letras são horríveis. Na época, ainda estava na moda aquele rock engraçadinho, e o humor deles é beeem fraquinho. Se for para ouvir uma versão mais moderna da sempre divertida Blitz, fico com o ótimo Bidê Ou Balde.
Diego: 'Tem disco com histórinha do Diego? Tem sim, senhor!' Ah, a Video Hits de Diego Medina... Diego Medina é um cara que deveria ter tido maior reconhecimento na época do lançamento desse disco (2001). Acredito que se ele tivesse sido encorajado teria tido feito muitos outros ótimos discos, ao invés disso acabou se enfurnando em seu estúdio de desenho e hoje em dia música é algo que ele faz só por fazer... Banda e disco ímpar no cenário musical Brasileiro, uma mistura absurdamente inusitada de Faith No More e Jovem Guarda, com ótimos convidados (Gerson King Combo e o mestre Ronnie Von) e musicalidade latente. Conheci o disco através de uma coletânea da revista Trip em 2001. Junto da revista vinha encartado um CD promocional somente com bandas do Sul, conheci várias bandas legais através desse CD como Tequila Baby, Os The Dárma Lovers e em especial, a Video Hits. Também lembro que bem pouco tempo depois li sobre o disco na revista ShowBizz (numa época em que revista musical fazia algo no Brasil) e queria porque queria comprar, mas, como já escrevi aqui, um moleque sem grana não podia comprar tudo que via. Dois anos depois, já trabalhando, relembrei do disco ao ver minha famosa "lista". Na época eu tinha uma caderneta onde anotava todos os discos que queria comprar... Foi uma espécie de trabalho de arqueologia quando tentei achar esse CD pra comprar, nas lojas ele não estava mais, na galeria do Rock nunca tinha visto. Acabei achando no mais inusitado lugar, uma na Faunus Discos - loja especializada em LPs e raridades do mundo Prog, também no centro de SP. Esse disco deveria ter sido um clássico e no final das contas acabou se tornando apenas um cult para 'descolados', hoje em dia até em lista de melhores aparece. Eu ouço regularmente e acabei fazendo com que virasse um dos preferidos até da minha mulher. Discaço!
Mairon: Voltamos a Jovem Guarda durante os quarenta e sete minutos desse disco que há muito tempo eu não ouvia. Lembro que conheci o Video Hits quando estava "estudando" a obra psicodélica de Ronnie Von, e fui atrás da boa e maluquete versão de "Silvia 20 Horas" que a banda registrou nesse álbum, com a participação do Pequeno Príncipe. Isso foi no final dos anos 2000, e lembro que curti o disco desses gaúchos, mas não fiquei com ele em nenhum formato. Reouvindo hoje, bateu a nostalgia. É uma bela banda, na linha de nomes conterrâneos como Cachorro Grande, Bidê o Balde ou Acústicos e Valvulados, mas com um pouco mais de peso, a presença marcante do órgão, e com letras bem mais interessantes. Basta ouvir a crítica ácida de "Cozinha Oriental" e "Menino Feio" ou o deboche escancarado de "Louco Por Você" e "Joe Aipim".  As melhores faixas para mim são "Bomba", "(vo)C", "O Basset Azul" e a já citada versão do clássico de Ronnie Von. A banda, comandada por Diego Medina, ficou apenas nesse Registro Sonoro Oficial (para colecionadores, tem as demos Feito em Casa com Muito Orgulho e Doces, Refrescos e Tratamentos Dentários), uma lástima, já que é um baita achado no rock nacional.
Micael: Nossa, mais uma banda do Rio Grande do Sul na lista! Nem eu sabia que os grupos daqui tinham tanta consideração dentre os meus caros colegas consultores. A Video Hits foi outra frequentadora assídua das ondas da saudosa Ipanema FM, assim como a Cachorro Grande, mas seu estilo “jovem guarda animadinha docinha/bonitinha” nunca me agradou muito, apesar de saber reconhecer as qualidades do grupo dentro daquilo que se dispõe a fazer. A versão de “Silvia Vinte Horas Domingo” tocou muito aqui na capital gaúcha na época, mas não foi o suficiente para me animar a conhecer melhor a banda, algo que a audição completa do disco para fazer os comentários desta lista também não conseguiu fazer. Registro Sonoro Oficial é um bom disco dentro de um estilo que não me agrada, e não sei mais o que dizer sobre ele.

8. Tribuzy – Execution (25 pontos)
André: Excelente disco de power metal por parte de Renato Tribuzy, Até me surpreende como um cara tão bem conceituado no Brasil e com um grande vocal desses só tenha lançado esse disco de estúdio. Destaco principalmente "Divine Disgrace" e "Beast in the Light" com participação de ninguém menos que Bruce Dickinson e Roy Z. Mas Mat Sinner, Michael Kiske e Ralf Scheepers também brilham em um disco cheio de convidados. É de fato um belo destaque do metal nacional, devia até ter votado nele na lista de melhores de seu ano.
Bernardo: Power metal com toda a nata do power metal - Tribuzy à frente, Kiko Loureiro nas guitarras, participações de Bruce Dickinson, Michael Kiske, Matt Sinner, Ralf Scheepers, Roland Grapow, Roy Z.. Fica a seu critério se é bom ou não.
Davi: Olha só o que vocês foram desencantar. Fazia tempo que não ouvia esse disco, hein? Comprei esse CD na época por conta dos convidados especiais. O cara trouxe nomes de peso como Bruce Dickinson (Iron Maiden), Michael Kiske (Helloween), Ralf Scheepers (Primal Fear), Roland Grapow (Helloween), Kiko Loureiro (Angra), entre outros. O álbum realmente foi uma surpresa. Esperava um disco legalzinho, onde os convidados arrebentassem com tudo e fui surpreendido com um puta disco. Qualidade de som excelente, arranjos ótimos, músicos de primeira e, sim, Renato Tribuzy manda bem no gogó. A sonoridade como já deu para sacar é heavy metal. Uma mistura do metal tradicional com o melódico. Fortes elementos de Iron maiden e Helloween nos arranjos. Tudo feito com enorme competência. Momentos de destaque: “Execution”, “Web Of Life” e “Beast In The Light”.
Diego: A verdade é que Execution é um bom disco, mas pena em criar uma identidade. Renato Tribuzy é um bom vocalista, mas não há como diferenciá-lo de todos os outros vocalistas de Power Metal (ou Metal Melódicos) que andam por aí (e olha que são muitos). A execução do disco é muito boa, bons riffs, mas a produção é fraca, pra dizer o mínimo, a bateria está tão enterrada lá no fundo e traz aquele som de caixa "maravilhoso". O disco parece ter sido gravado com um vocalista, um guitarrista, e um baterista que poderia ter sido substituído por uma eletrônica. Baixista? Tinha um? Entendo que o disco é acima do nível do que se costuma ouvir no Metal Brasileiro, mas chamar Execution de melhor da década é mais do que Pegadinha do Malandro. Em tempo, fica a pergunta, como uma banda (ou no caso aqui, mais um disco solo) que lançou um dos melhores discos da década nunca mais lançou nada e caiu no esquecimento? Sempre tive a impressão de que esse tipo de artista dura pelo menos um segundo disco quando obtém tal conquista...
Mairon: Essa é a semana de Kiko Loureiro. Afinal, na terça ele encabeçou nossa lista de Melhores de 2016 com Dystopia, e agora, seu único registro com o Tribuzy está entre os dez melhores brasileiros dos anos 2000. Execution é um álbum tipicamente de heavy metal, bem interessante e bem tocado para os padrões nacionais, e com uma constelação de convidados no mais alto nível do estilo mundial (Bruce Dickinson e Roy Z em "Beast in the Light", Michael Kiske e Roland Grapow em "Absolution", entre outros nomes de igual importância na cena metálica). Gostei do que ouvi, apesar de não ter me tornado um fã da banda. Destaque para as faixas citadas acima, bem como o solo de Kiko na faixa-título, a linda "The Means" e a pesadíssima "Nature of Evil". Só acho que sua presença aqui, no lugar dos Shamans e Angras da vida, não é tão bem vinda assim, afinal, como diz um amigo nosso aí, é um disco bem mais do mesmo ...
MicaelExecution é um bom álbum, muito bem composto, excepcionalmente bem tocado, e com um cantor privilegiado (que gogó tem esse Renato Tribuzy!). Mas é um disco genérico dentro do estilo "metal melódico", ou algo que o valha. Eu ouvia e pensava "hum, é só um Angra (ou um Shaman, ou mesmo um Viper) mais pesado". Até o famoso "toque de brasilidade" aparece lá pelas tantas (mais especificamente, na faixa "Absolution"), para completar o clichê. Não consigo entender o que o faz melhor do que os álbuns das bandas citadas acima (e de tantas outras), a não ser a constelação de craques que Tribuzy reuniu para participar de seu primeiro registro solo (apesar de gravado por uma banda), com músicos consagrados ligados a grupos como Helloween, Angra, Primal Fear e Pink Cream 69, além da carreira solo de Bruce Dickinson (com o próprio cantor aparecendo em uma faixa, "Beast in the Light"). São estas participações que acabam rendendo os momentos mais marcantes do álbum (como é bom ouvir Michael Kiske emulando seus tempos de "Keeper" na citada "Absolution", ou o sempre correto Bruce arrebentando com tudo, como fazia na época de Accident of Birth e The Chemical Wedding), mas, mesmo com as qualidades citadas (e, repito, é um registro muito bom dentro do estilo adotado), ainda o considero um disco comum demais para ser considerado um dos melhores da década abordada. Mas, vá lá, a legião que tem os ouvidos entupidos de METÁU mais uma vez colocou um representante na lista. E dá-lhe Iron Maiden!

9. Racionais MC's - Nada Como Um Dia Após Outro Dia (25 pontos)
André: Escutei esse álbum longuíssimo com uma paciência que até me surpreendeu. Para piorar, não sei qual dos MCs "canta" com efeitos de voz de taquara rachada logo no início.
Bernardo: Já não bastava terem feito Sobrevivendo no Inferno, uma das senão a obra-prima dos Racionais e do rap do geral, Nada Como Um Dia Após Outro Dia faz um álbum mais variado, provocante, mais multifacetado, com Edi Rock competindo espaço com Brown, como "A Vida é Desafio". Mas é Brown que entrega a melhor música do disco, "Jesus Chorou", com uma lírica e uma batida arrasadoras. Some a isso canções já clássicas, como "Vida Loka Pt. 1 e 2", "Eu sou 157" e "Da Ponte Pra Cá", Nada Como Um Dia... é o batismo de fogo dos Racionais como um grande grupo, onde um disco que senão é perfeito está cheio de momentos espetaculares.
Davi: Depois do bem-sucedido Sobrevivendo No Inferno, a trupe de Mano Brown atacava novamente e agora com um álbum duplo. Para quem curte, maravilha. Para quem não curte, que é o meu caso, uma verdadeira tortura. Disco bem produzido, cheio de samplers, mas não gosto da voz do Mano Brown, não nutro nenhum tipo de simpatia por sua figura marrenta, e a sonoridade deles, definitivamente, não me agrada. Tô fora!
Diego: Ah os Racionais... Lembro de como o Rap invadiu todos os cantos no final dos anos 90 e começo dos anos 00, exatamente a mesma época em que eu me mudava para a periferia de SP, ou seja, berço do Rap. Era o que se ouvia de manhã, tarde e noite. Peguei raiva do gênero, mais pelas pessoas que ouviam do que pela música em si. Lembro de alguma coisa do disco anterior, Sobrevivendo No Inferno, em Santa Catarina, onde eu morava em 1997, o Rap não tinha exatamente um mercado, então mal tinha ouvido "Diário De Um Detento". Lembro de como fez-se um baita estardalhaço quando esse disco foi lançado, lembro de ser duplo e de ter um selo Preço sugerido R$23,90, logo na capa. Lembro também que ignorei com vontade o disco. Mas como o mundo dá voltas e como que para me dizer que nessa vida nada é 100%, ele voltou para me "atormentar". Em algum momento eu tive a vontade de ouvir Racionais uns anos atrás, talvez pela lembrança do meu irmão ouvindo eles no rádio do carro, não sei dizer, mas comecei a ouvir mais e mais e tanto Sobrevivendo No Inferno como Nada Como Um Dia Após Outro Dia hoje fazem parte do meu playlist, volta e meia escuto os dois discos de cabo a rabo, um atrás do outro. Existe algo no texto dos Racionais que os fazem diferente de todos os outros grupos de Rap que eu já ouvi, algo que ainda hoje mesmo depois da mudança do grupo, consegue passar uma verdade natural que é muito difícil de se encontrar na música. Ou talvez seja porque eu quero me lembrar de um tempo que foi muito difícil pra mim e os Racionais me ajudam a por tudo em perspectiva, tudo vem e vai. É bom lembrar de coisas ruins para dar valor às coisas boas que se tem hoje. Sei lá se isso faz sentido, mas esse disco faz isso comigo.
Mairon: As vezes acho que os colegas tão afim de zoar com a mente dos consultores, e esse disco é o caso mais explícito de brincadeira sem graça. Mas que merd@ é essa? Como é que chamam isso de música? Pelamordedeus, quase 2 horas de música totalmente desperdiçada. Put@ que pariu, não é para mim. A imagem ao lado demonstra um pouco o que é isso...
Micael: Ah não, é sério isso? Um disco duplo do Racionais, com 21 musicas e quase duas horas de duração? Quem foi o responsável por colocar este álbum na lista, podem me dizer? O registro de estúdio dos Racionais imediatamente anterior a este, Sobrevivendo no Inferno, é, na minha opinião, o melhor disco de rap já feito no Brasil, mas já é um sacrifício ouvir seus mais de 75 minutos de uma tacada só. Quase duas horas de bases repetitivas (KL Jay tem um bom gosto absurdo para escolher os samplers que usa, mas a necessidade de fazer faixas quilométricas para acomodar os textos dos outros três membros do grupo faz com que as músicas do grupo passem de interessantes a irritantes antes de acabar), letras estilo “pura revolta” (que podem até representar a realidade de muita gente, mas que não representam a minha) e faixas que começam e terminam sempre com a mesma batida, o mesmo padrão rítmico, sem mudança alguma desde os primeiros segundos até o final (que, como citei antes, normalmente só chega após longos, repetitivos e dolorosos minutos) fazem com que eu não tenha vontade alguma de escutar este disco mais uma vez. Talvez seja a única “bola fora” desta bela lista, mas é uma “bola fora” enorme, na minha opinião, e que tirou o lugar de outros discos que mereciam aparecer por aqui. E ainda querem reclamar da presença do Los Hermanos, vejam vocês!

10. Cachorro Grande – Cachorro Grande (22 pontos)
André: Sempre foi uma banda que começou mediana lá no início dos anos 2000 e depois só piorou entrando numa vibe "alternativa" nos últimos trabalhos que só de ouvir "as faixas de destaque" já me afastaram completamente. Ainda assim, há coisas boas nesse primeiro disco com alternância entre algumas boas músicas como "Lunático" e "Dia Perfeito" e algumas bobagens como "Lili" e "Vai T. Q. Dá". Dificilmente me animará em ouvir um disco inteiro deles novamente, mas fica aquela sensação que poderiam ter virado uma banda agradável mas que se perdeu pelo caminho.
Bernardo: Já começaram bem, mas nesse estágio ainda estavam bem crus. Algumas músicas são bem genéricas e não saem muito da referência, mas algumas outras já mostravam os grandes compositores - "Lunático", a agitada faixa de abertura e a cadenciada e sexy "Dia Perfeito" já mostravam a banda que iria amadurecer e dar uma cara nova ao rock brasileiro nos anos seguintes.
Davi: Grande banda! Sempre fui muito fã do Cachorro Grande e fico feliz de vê-los nessa lista. Em seu debut, os músicos entregavam um rock de garagem com altas influências de Beatles, Rolling Stones e Kinks. Algumas músicas daqui, atualmente, são consideradas clássicos entre seus fãs. Caso de “Sexperienced”, “Lunático” e “Dia Perfeito”. Além dessas, também vale se ligar em “Pedro Balão”, “Debaixo do Chapéu”, “Dia de Amanhã” e “Lili”. Rock n roll honesto e cativante.
Diego: Outro disco que tenho um pouco de história pra contar. Ainda quando morava na Zona Norte de São Paulo, tinha um amigo obcecado por Beatles e várias foram as vezes que fui com ele até o centro de SP atrás da discografia dos rapazes de Liverpool. Um belo dia de 2001 na escola ele me perguntou: "Ei, você viu o clipe de uma banda lá da tua terra na MTV? Um nome estranho, Cachorro Grande, tem um poster enorme dos Beatles atrás do palco onde eles estão." Nenhuma palavra se a banda era boa ou não, só que tinha um poster dos Beatles... ah os fanáticos (risos). Assisti o vídeo uns dias depois e uma dúvida pairava no ar, eu tinha gostado da banda, MAS QUE PORRA DE LETRA ERA AQUELA?!?! Na época lembro que não dei muita bola pra banda, só fui prestar atenção neles de novo em 2005 quando o segundo disco deles, As Próximas Horas Serão Muito Boas, saiu junto da revista do Lobão OutraCoisa, comprei, e ouvi o disco até dizer chega. Na mesma época e internet começou a ser a fonte-mór de pesquisa e downloads, então demorei um bom tempo pra comprar o primeiro disco da banda, só comprei no fim de 2008. Mas fico contente que comprei, porque esses disco é simplesmente um marco do Rock Nacional. Uma pena que depois do segundo disco a banda decaiu em qualidade mais e mais até chegarmos até sua ridícula nova fase, onde ele acham que tem 20 anos de novo e tocam um Alt-Eletrônico que dá até vergonha...
Mairon: A estreia dos filhotes gaúchos do The Who é um dos símbolos máximos do rock and roll brasileiro nas últimas décadas. Canções empolgantes, exalando testosterona, e diferentemente de outros conterrâneos que citei no álbum do Video Hits, o Cachorro Grande sempre privilegiou por entregar festa acima de tudo. Cachorro Grande traz canções em sua maioria beirando os três minutos, que passam socando os ouvidos e deixando o chão empapado de suor e adrenalina, como nos velhos bons tempos. Faixas como "Lunático", "Fantasmas" e "Dia Perfeito" tornaram-se audições frequentes nos bares e botecos gaúchos por onde rolava rock 'n' roll, e cara, por mais que eu não seja um fã da banda, admiro muito o trabalho deles. Destaque principal para as canções "Sexperienced",  "Pedro Balão", o impressionante delírio instrumental de "Vai T.Q. Dá" e a viagem psico-mod de "(Os Doces Exóticos de) Charlotte Grapewine", o que de melhor o Cachorro criou em toda sua carreira, com uma jam sensacional empregando solos de guitarra ácidos, metais e muitas lembranças da turma de Pete Townshed em seus melhores dias, e um final surpreendente. Belo disco, merecida sua entrada aqui.
Micael: Na época de lançamento deste disco, a saudosa rádio Ipanema FM ainda reinava nas ondas da capital gaúcha, e muitas faixas deste registro de estreia do Cachorro Grande rodaram à exaustão em sua programação. Talvez o resto do país conheça melhor apenas "Lunático" e "Sexperienced", mas, ao reouvir este álbum para fazer os comentários desta lista, foi como se eu reencontrasse velhos amigos queridos que escutei "Debaixo do Chapéu", "Lili", "Dia Perfeito" e "Cleptomaníaca de Corações", faixas que, junto com as demais deste registro, ajudam a justificar o apelido de “Who Gaúcho” que os rapazes ganharam por aqui (se bem que, depois de abrirem para os Stones em 2016 na capital gaúcha, a mídia passou a associá-los mais ao pessoal de Mick Jagger que ao de Pete Townshend). E o que é aquela jam fantástica chamada "(Os Doces Exóticos de) Charlotte Grapewine", que encerra o track list? Excelente registro, que não entrou na minha lista particular, mas fez por merecer estar aqui, Pena que depois a banda “amadureceu” demais sua sonoridade, e passou a ser menos significante aos meus ouvidos do que nesta “ingênua” e bela estreia!

Listas Individuais
André
  1. Pata de Elefante - Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha
  2. Jupiter Maçã - Uma Tarde na Fruteira
  3. Ratos de Porão - Homem Inimigo do Homem
  4. Pato Fu - Ruído Rosa
  5. Index - Liber Secundus
  6. Skank - Cosmotron
  7. Carro Bomba - Nervoso
  8. Os Haxixins - Os Haxixins
  9. Cálix - A Roda
  10. Pedra – II
Bernardo
  1. Racionais MC's - Nada Como Um Dia Após Outro Dia
  2. Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho
  3. B Negão e Os Seletores de Frequência - Enxugando Gelo
  4. Siba e a Fuloresta - Toda Vez Que Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar
  5. Nação Zumbi - Fome de Tudo
  6. Sabotage - Rap é Compromisso!
  7. Supercordas - Seres Verdes ao Redor
  8. Black Alien - Babylon By Gu, Vol. 1: O Ano do Macaco
  9. Cordel do Fogo Encantado - Cordel do Fogo Encantado
  10. Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências
Davi
  1. Maria Rita – Maria Rita
  2. Los Hermanos – Bloco Do Eu Sozinho
  3. Skank – Cosmotron
  4. LS Jack – V.I.B.E.
  5. Capital Inicial – Rosas e Vinho Tinto
  6. Charlie Brown Jr. – Bocas Ordinárias
  7. Pitty – Admirável Chip Novo
  8. Cachorro Grande – Cachorro Grande
  9. Céu – Céu
  10. Shaman – Ritual
Diego
  1. Video Hits - Registro Sonoro Oficial 
  2. Cachorro Grande - Cachorro Grande 
  3. Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho 
  4. Pipodélica - Simetria Radial 
  5. Skank - Cosmotron 
  6. Angra - Temple of Shadows 
  7. Arnaldo Baptista - Let It Bed 
  8. Lobão - Canções Dentro da Noite Escura 
  9. Solana - Feliz, Feliz 
  10. Plebe Rude - R ao Contrário 
Leonardo
  1. Tribuzy – Execution
  2. Bastardz – No Ass No Pass
  3. Dark Avenger – Tales Of Avalon: The Terror
  4. Shaman - Ritual
  5. Angra – Temple Of Shadows
  6. Hibria – Defying The Rules
  7. Nordheim – And The Raw Metal Power
  8. Viper – All My Life
  9. Malefactor – Centurian
  10. Violator – Chemical Assault
Mairon
  1. Los Hermanos – 4
  2. Los Hermanos – Ventura
  3. Van Zullat – O Casulo
  4. Los Hermanos – Bloco Do Eu Sozinho
  5. Maria Rita – Maria Rita
  6. El Efecto – Como Qualquer Outra Coisa
  7. Octophera – Bons Amigos
  8. Os Mutantes – Haih ... Or Amortecedor
  9. Uakti – Oiapoki Xui
  10. Nenhum de Nós – Histórias Reais, Seres Imaginários
Micael
  1. Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho 
  2. Los Hermanos - 
  3. Los Hermanos - Ventura 
  4. Nando Reis - Infernal 
  5. Poços & Nuvens - Província Universo
  6. Pitty - Admirável Chip Novo 
  7. Rodoxx - Estreito 
  8. Avec Tristesse - How Innocence Dies 
  9. Shaman - Ritual 
  10. Venin Noir - Rainy Days Of October 

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