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Pink Floyd em 1973: Rick Wright, Roger Waters, Nick Mason e David Gilmour |
Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, José Leonardo Aronna, Mairon Machado, Micael Machado e Ronaldo Rodrigues
Participação especial de Diego Camargo, editor do site Progshine
A edição da série “Melhores de Todos os Tempos” referente a 1972 já havia deixado evidente a força do rock progressivo na época, abocanhando três posições entre as dez – sem falar nos álbuns que flertavam com o estilo –, incluindo o primeiro colocado da lista. Em 1973, a importância do gênero e o gosto de vários colaboradores pelos artistas enquadrados no rótulo revelou-se ainda mais impressionante, resultando na ocupação de metade dos postos nesta listagem, incluindo não apenas o primeiro, mas o segundo lugar; além de outros discos que também se aventuram pelo progressivo em diversos momentos. Isso evidencia, em uma lista formada pela opinião de 12 ouvintes de música, que a qualidade desses grupos não pode ser ignorada. Por pouco, inclusive, nosso primeiro colocado,
The Dark Side of the Moon (Pink Floyd), não formou unanimidade, sendo citado por 11 colaboradores da série. Lembramos que o critério para elaborar nossa listagem final, baseada nas listas individuais, que podem ser conferidas mais abaixo, segue
a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Agora é com você, leitor: esteja livre para deixar sua opinião e manifestar críticas, registrando também suas preferências. Aproveite e confira
aqui as edições anteriores da seção.
Pink Floyd – The Dark Side of the Moon (142 pontos)
Adriano: Este pode não ser nem de longe o melhor disco do Floyd, mas é certamente um belíssimo disco. “Time” e “Money” são clássicos inegáveis, mas eu também destacaria todo o restante do lado A, especialmente “On the Run”, que punha a banda minimamente a par do que os alemães vinham fazendo com os sintetizadores. O lado B não me agrada como à maioria, mas também não compromete.
Bernardo: Há adjetivos suficientes para descrever The Dark Side of the Moon? A magnum opus do Pink Floyd figura com justiça como um dos melhores de 1973. Repleto de clássicos, como “Money” e sua repetição estilística, cujo baixo combina com o ritmo de caixas registradoras, as levadas de “Time” e “Us and Them” e a sideral “Brain Damage”. Mas o grande momento do disco fica mesmo com “The Great Gig in the Sky”, na qual Clare Torry entrega uma das performances vocais mais intensas e arrasadoras da história do rock. Praticamente irretocável.
Bruno: O disco mais falado, celebrado e exaltado da carreira do Pink Floyd e talvez do todo o rock progressivo. Talvez seja o equilíbrio definitivo entre a erudição e complexidade do gênero com um som mais acessível e palatável ao grande público. Gosto do álbum, mas ainda prefiro bem mais o The Wall (1979). Primeiro lugar da lista já é um pequeno exagero.
Davi: Álbum simplesmente perfeito. É o meu favorito do grupo, lado a lado com Wish You Were Here (1975) e The Wall. Lindos arranjos, belíssima execução. Grande trabalho de guitarra do David Gilmour. Nota certa na hora certa. Contagiante e sem exibicionismo. Item obrigatório.
Diego: É quase impossível falar algo novo ou que nunca foi dito sobre esse disco do Pink Floyd (aliás, sobre toda a discografia deles). Da minha parte prefiro contar como eu descobri esse álbum, emprestado de um amigo, e na época computador pra mim era ficção, então fiz minha cópia em fita cassete e fiz o encarte a mão com todas as letras e detalhes que eu ainda tenho (para quem ficar curioso, tá aqui). Um disco mágico, do começo ao fim, um disco em que cada peça se encontra e se encaixa perfeitamente. Um belo e merecido primeiro lugar, tanto aqui quanto na minha prateleira de CDs!
Diogo: Meu disco favorito do Pink Floyd é The Wall, mas não hesito sequer um instante em afirmar que The Dark Side of the Moon é a mais bem realizada obra da carreira do grupo inglês. Aliando um delicioso acento pop à exuberância de composições ambiciosas e encaixando cada nota no lugar certo, o quarteto conseguiu, como nenhuma outra formação, levar a sonoridade progressiva a um público ainda maior, quebrando todas as barreiras possíveis e se consolidando como um dos discos mais vendidos de todos os tempos. “Money” e “Time”, que foram lançadas como singles e tornaram-se clássicos pouco discutíveis, ajudaram a alavancar o desempenho do álbum, mas a verdade é que The Dark Side of the Moon desvela-se muito bem em sua integridade. Apesar disso, não posso deixar de destacar aquela que considero a provável melhor canção da banda (ao lado de “Comfortably Numb”, de The Wall), “Us and Them”. Roger Waters é meu Floyd favorito, mas a combinação das vozes de Richard Wright e David Gilmour nessa música é primorosa.
Eudes: Primeiro lugar óbvio – embora preferisse Houses of the Holy (Led Zeppelin) no primeiro posto. Os gênios que gostam de reescrever a história segundo a moda do momento (lembram de quando se dizia, nos infelizes anos 1980, que Doors e Velvet eram mais importantes do que os Beatles e os Rolling Stones?) não vão gostar da escolha. E só por isso eu já vou defendendo a taça para o álbum multiplatinado do Pink Floyd, que, na minha lista pessoal, ficou em segundo lugar. Mas já se falou tanto deste disco que tudo que eu pudesse dizer aqui seria ocioso. Próximo…
Fernando: Assim como o disco que ficou em primeiro lugar em 1972, este aqui é merecidíssimo. Já falei bastante sobre ele aqui. Álbum planejado, composto, executado e produzido para ser um clássico. A banda já havia gravado alguns discos antes de The Dark Side of the Moon e foi aprendendo e amadurecendo em cada um deles como se estivessem se preparando para fazer algo extraordinário.
José Leonardo: Puxa, o que falar deste disco que já foi e ainda é comentado até os dias de hoje, com exaustão? Um marco na história da música. Entre os melhores dos melhores. Até hoje me arrepio ouvido a dobradinha “Brain Damage”/”Eclipse”. Uma verdadeira obra-prima, tendo como foco principal a visão da vida e da morte ensinada através de um conjunto de sons com letras bonitas e talvez um pouco deprimentes de Roger Waters. Definitivamente, na minha lista top 10!! Ah, e foi o primeiro vinil que comprei na vida!!! E escutar de fones de ouvidos é um deleite!!!
Mairon: Era inevitável que este álbum fosse escolhido o melhor de 1973, já que, sempre que ouvimos o nome Pink Floyd, ele é citado como um dos favoritos. Na minha lista de preferidos do Floyd, está na quinta posição. É um disco recheado de clássicos, do calibre de “Time”, “Money” e “Breathe”. Além disso, é nele que está aquela que considero a melhor canção da carreira do grupo, “The Great Gig in the Sky”, com uma interpretação fabulosa da cantora Clare Torry. Além disso, as experimentações eletrônicas de Roger Waters colocaram o rock progressivo em um novo patamar, que veio posteriormente a ser o pivô da criação de estilos como o AOR e o soft rock.
Micael: Um clássico em todos os sentidos, o disco que mais tempo permaneceu nas paradas até hoje, e aquele que a maioria dos ouvintes associa como sendo o “som real” do Pink Floyd. Não o coloco entre os melhores do grupo, e sempre o considerei como o disco mais “comercial” do quarteto, mas, mesmo assim, é um grande registro, e merecedor deste primeiro lugar.
Ronaldo: O Pink Floyd consagrou uma vertente única na linguagem do rock progressivo, ainda que não tendo em sua música vários dos elementos que tornaram clássicas outras bandas progressivas. Neste caso, souberam extrair o sumo de composições simples com um esplêndido trabalho de estúdio, experimentação com efeitos sonoros e um conceito que parte do campo de experiências pessoais (do baixista e letrista Roger Waters) para abordar e questionar as relações sociais como um todo. O apelo para o público geral foi fortíssimo, já que a banda atinge em The Dark Side of the Moon o foco necessário e suficiente para constituir uma música simples e lindamente lapidada.
Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery (91 pontos)
Adriano: Inferior ao seu antecessor, Trilogy (1972), mas ainda assim um magnífico trabalho! Iniciando com “Jerusalem” – uma estupenda adaptação de um hino de Hubert Parry baseado em um poema do gênio William Blake –, o grupo já adentra o campo de batalha com total favoritismo. “Toccata” mantém o nível no alto, com doses de um “virtuosismo experimental” competentíssimo. “Still… You Turn Me On” é chata, mas logo o grupo se redime com a divertidíssima “Benny the Bouncer”, pra então coroar-se com a magistral “Karn Evil 9”, que se distribui pelo final do lado A e todo o lado B do disco. Uma das melhores suítes de toda a historia do prog, com excelente trabalho de cada um dos três, que valiam por uma orquestra.
Bernardo: Gostei de “Toccata”. Caiu muito bem a música de Ginastera com os arranjos de Emerson e os sintetizadores. De resto não me impressionou e deu um certo marasmo.
Bruno: Não, obrigado.
Davi: Não curto Emerson, Lake & Palmer. Não comentarei.
Diego: Brain Salad Surgery, o quinto disco do ELP, é também o ponto mais alto de suas carreiras. Ambiciosamente escrito para ter uma suíte de 30 minutos (“Karn Evil 9″), mas, por causa da limitação do LP (25 minutos de cada lado), acabou sendo dividido. Mais um disco que eu descobri emprestado em LP e que eu ouvi até quase furá-lo. Hoje em dia é mais um clássico que brilha orgulhoso na minha estante de CDs.
Diogo: Meu conhecimento a respeito do ELP não é tão grande quanto eu gostaria que fosse, mas acho que posso afirmar sem muito medo de errar que Brain Salad Surgery é meu favorito do trio, tanto que integra a lista dos álbuns que não incluí em meu top 10, mas poderia fazê-lo com muita tranquilidade, assim como Billion Dollar Babies (Alice Cooper), Goodbye Yellow Brick Road (Elton John), We’re an American Band (Grand Funk Railroad), Houses of the Holy (Led Zeppelin) e alguns outros. Ao contrário do Yes, que muitas vezes perdeu o foco nas longas faixas que compõem seu álbum lançado nesse mesmo ano, Tales from Topographic Oceans, o ELP consegue cativar melhor o ouvinte durante os quase 30 minutos da suíte “Karn Evil 9″, que traz exuberância e variação, mas deixa uma série de iscas que vão sendo mordidas pelo ouvinte, querendo mais e mais das divertidas maluquices de Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer. O restante do disco mantém o mesmo pique, em especial a percussiva “Toccata”, mostrando pra quem ainda não havia percebido que o título de melhor baterista do rock progressivo era disputado baquetada a baquetada entre Palmer e Bill Bruford (Yes, King Crimson).
Eudes: Aí eu faço de novo a pergunta que já se fez aqui: quando mudaremos o nome do site para “Consultoria do Prog”? Não que o álbum não tenha méritos para disputar um lugar no top 10 de 1973, ou mesmo a medalha de prata que acabou papando, mas, se fosse para nomear um disco do ELP para o hall da fama, não seria este. O álbum repete as várias virtudes que fizeram dos primeiros discos da banda imprescindíveis, mas falta, para mim, falta aquele algo mais que justificaria que ele entrasse na lista, mas não, por exemplo, Beck Bogert & Appice, ou uma gema latina como Artaud (Pescado Rabioso). Mas não dá pra reclamar muito. O disco é mesmo muito bom.
Fernando: Surpresa para mim Brain Salad Surgery ficar em uma posição tão alta, já que ele não é um disco fácil de se ouvir, principalmente por conta da longa suíte que fecha o álbum. “Jerusalem”, apesar de não ser uma composição original, é fantasticamente bela, o mesmo acontecendo com “Still… You Turn Me On”. Quem disse que disco bom não tem música ruim? “Benny the Bouncer” é a prova disso.
José Leonardo: Entre os melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos! Além disso, nenhuma outra banda prog jamais foi capaz de adaptar de tal maneira formidável peças de música erudita e hinos como feito aqui. E, pelo menos, duas das melhores composições do ELP estão aqui: a belíssima “Still… You Turn Me On” e a poderosa suíte “Karn Evil 9″. Ainda por cima de tudo isso, provavelmente uma das melhores capas de álbum já feitas. O ELP estava na melhor forma aqui, e, infelizmente, nunca mais atingiria um nível como esse nos seus lançamentos posteriores.
Mairon: O melhor disco da carreira do trio Emerson Lake & Palmer, e, com certeza, um dos melhores lançamentos de 1973. Enquanto o Pink Floyd brincava com eletrônicos, Greg Lake apresentava um instrumento de dois braços para interpretar a maravilhosa “Karn Evil 9″, Carl Palmer virava um polvo em “Tocatta” e Keith Emerson duelava com Rick Wakeman para saber quem era o melhor tecladista da história, fazendo misérias nas canções citadas. Ainda temos a linda “Jerusalem” e a voz aveludada de Lake arrasando corações em “Still… You Turn Me On”. O único defeito vai para o jazz-country de “Benny the Bouncer”, totalmente descartável, mas que não chega a manchar a face desse essencial álbum.
Micael: Talvez o disco mais conciso do ELP, sendo aquele em que as qualidades das composições são as mais equilibradas. A suíte-título é um exemplo dos exageros e das maravilhas do prog, assim como a percussiva “Toccata”. Já a versão para o hino britânico “Jerusalem” ficou lindíssima, e outra faixa bela é “Still… You Turn Me On”. “Benny the Bouncer” é a música mais “fraca” deste que é um belo registro, embora o segundo lugar talvez seja um pouco demais para ele.
Ronaldo: É compreensível que o trio inglês tenha tantos detratores. Cada disco seu era um passo adiante na exploração extrema de musicalidade e do virtuosismo. Quem até então não gostava da proposta ousada do grupo, aqui tem toda a chance para detestá-la. E o contrário também é verdadeiro para que os aprecia. Aqui chega-se ao ápice. Keith Emerson trabalhando com uma gama ainda maior de sons e timbres de suas máquinas analógicas, Greg Lake torturando seu contrabaixo e Carl Palmer nem parecia mais que tinha só dois braços e duas pernas. As músicas podem ser comparadas a sinfonias eletrônicas contemporâneas. Dentro do som progressivo que fervilhava na Europa, com Brain Salad Surgery eles não só já estavam no topo do Olimpo como construíram uma tenda pra ficar por lá por algum tempo.
Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath (90 pontos)
Adriano: Metal nunca será minha praia. O disco tem alguns momentos levemente interessantes, como “Who Are You”, mas no geral é aquele mais do mesmo que não me agrada muito.
Bernardo: A participação do lendário tecladista Rick Wakeman já dá o tom do disco: mais que em Vol. 4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath é o disco do Black Sabbath que mais se aventura pelo rock progressivo. Sob o pseudônimo Spock Wall, o tecladista confere uma sonoridade espacial para o disco nas faixas “Sabbra Cadabra” e “Who Are You?”. Há a tradicional pancadaria sabbáthica na faixa-título, que abre o álbum, e em “Killing Yourself to Live”, contrastando com o lado acústico em “Looking For Today” e os momentos orquestrados em “A National Acrobat”. Quase um compêndio do melhor do rock produzido nos anos 1970, heavy, hard e progressivo estão, no final das contas, à serviço da música do Sabbath, acima de todos os rótulos.
Bruno: Considero este uma obra subestimada do Sabbath, mas está entre as minhas preferidas do grupo, superando até clássicos como Paranoid (1970) e o disco de estreia (1970). Se em Vol. 4 a banda já botava as asinhas de fora e ensaiava algo diferente com mais melodias, passagens intrincadas e flerte com outros gêneros como o psicodélico e o progressivo, aqui eles se jogaram de cabeça, aperfeiçoando ainda mais essa mistura. E nem por isso o quarteto deixou de pesar a mão: “Sabbra Caddabra”, “Spiral Architect” e a faixa-título figuram facilmente entre os riffs mais potentes de Iommi, e “Killing Yourself to Live” é uma paulada.
Davi: Mais um belo álbum do Sabbath. Todas as características do grupo seguiam intactas: os riffs contagiantes de Tony Iommi, a bateria pulsante de Bill Ward e os vocais caracteristicos de Ozzy. Definitivamente, não é o famoso disco mais do mesmo. Seus arranjos eram mais ousados. Por vezes, até flertando com o progressivo. Clássico!
Diego: Ah, o disco “prog” do Sabbath (hehe)! Brincadeiras à parte, este é o disco que mostra o Black Sabbath de maneira mais ousada, tentando novas direções e acertando em cheio. A inclusão de Rick Wakeman (sob a alcunha de Spock Wall) foi apenas a cereja no topo do bolo. Depois deste álbum as coisas começariam a desmoronar no Black Sabbath, mas ai já é outra história. Mais um CD que eu orgulhosamente tenho em minha prateleira.
Diogo: Neguinho pode até chiar, mas vai ter que aguentar: é mais um disco do Black Sabbath no pódio. Nada mais justo, afinal, diminuir a importância do quarteto e resumi-lo à sua epopeia rumo aos limites do peso e da agressividade é um reducionismo infantil, considerando a criatividades dos integrantes (especialmente Tony Iommi) e a qualidade de suas composições. Sabbath Bloody Sabbath pode até não ser meu favorito (ocupa uma provável quarta posição, mais exatamente), mas é justamente o álbum mais indicado para atestar tudo o que afirmei com tanta certeza; e poderia ser ainda melhor, não fosse a sonoridade um tanto magra da bateria. Músicas como “A National Acrobat”, “Sabbra Cadabra”, “Looking for Today” e, especialmente, “Spiral Architect”, vão alguns passos além do que já havia sido apresentado em Vol. 4 em termos de criatividade, flertando inclusive com o rock progressivo, enquanto a faixa-título e “Killing Yourself to Live” são pauladas prontas a satisfazer os fãs mais sedentos por violência, mas com um refino sem precedentes na carreira do grupo.
Eudes: Tá certo, o disco é bem bacana. Mas será que, a partir de 1970, todo disco do Sabbath vai entrar na lista dos dez mais? Pelamordedeus! Ou melhor, pelamordodemo! E se, como em 1970, o Sabbath lançasse dois discos por ano, haveria dois discos em cada lista? Só espero que, depois de 1977, isso pare, porque botar o Sabbath oitentista nas listas já vai ser caso de polícia!
Fernando: Só a faixa-título já valeria o álbum, mas ele ainda tem outras ótimas música. Alguns dizem que este álbum é muito zeppeliano, como se isso fosse algo ruim, e também citam a influência do progressivo. As pessoas se esquecem, porém, que a banda sempre usou várias facetas para construção do seu som e muito provavelmente isso é um dos segredos de seu sucesso.
José Leonardo: Apesar de não ser o meu top dos Sabbath, este é realmente um grande disco! Este é sem dúvida o álbum mais maduro musicalmente até então. Os riffs pesados e clássicos de metre Iommi ainda são abundantes, mas existem algumas tendências “progressistas”, incluindo teclados e arranjos orquestrais. Melhores faixas: “Sabbath Bloody Sabbath”, “A National Acrobat”, “Sabbra Cadabra”, “Killing Yourself to Live” e “Spiral Architect”.
Mairon: Este álbum QUASE entrou entre meus dez mais. Foi a partir dele que o Black Sabbath mostrou que não queria viver só de peso, apesar das ótimas faixa-título, “Killing Yourself to Live” e “A National Acrobat”. Porém, um dos pés de Tony Iommi e cia. já estava no rock progressivo, principalmente na tecladeira de “Who Are You?”, nas flautas de “Looking for Today” e na citada “A National Acrobat”. Por fim, Mr. Rick Wakeman dá o ar da graça na jazzística “Sabbra Caddabra”, e “Spiral Architect” é a arquitetura mais perfeita do grupo (até então) para mostrar suas inspirações progressivas, com três mini-movimentos de uma quase-suíte. Ainda temos o violão de “Fluff”, complementando um dos melhores discos da carreira do grupo.
Micael: Apesar de um pouco mais pesado, considero-o como a sequência natural deVol. 4, o disco anterior do grupo. Deixou várias faixas clássicas na carreira do Sabbath e no heavy metal, como “Sabbra Cadabra”, “Killing Yourself to Live”, “Spiral Architect”, “Looking for Today” e a que dá título ao álbum, além da “estranha” “Who are You?” e da calma “Fluff”, e também merece estar no pódio deste ano!
Ronaldo: Quando os fãs se dividem na hora de escolher o melhor lançamento de uma determinada banda, é sinal de que esta banda viveu um longo e fantástico período de criatividade. Outro excelente disco do Black Sabbath.
Genesis – Selling England By the Pound (81 pontos)
Adriano: O progressivo do Genesis não trilhava ambientes perigosos, como o Yes, o ELP e o King Crimson faziam, por exemplo, mas sem dúvida a banda atingiu um nível de maestria no rock sinfônico de que pouquíssimos podiam se gabar. Selling England by the Pound é tão bom quanto Nursery Cryme (melhor, portanto, que Foxtrot), sendo menos coeso, mas contando, a meu ver, com uma maior variedade musical. Não há muito o que falar – ou, mais corretamente, é difícil resumir a fala – sobre as músicas; é ouvir e perceber o nível de riqueza e dramaticidade atingido pelo grupo. A única falha é “More Fool Me”: canção bonitinha, mas que destoa do restante das faixas. “After the Ordeal”, por sua vez, é uma das maravilhas do mundo prog mais subestimadas que conheço!
Bernardo: O Genesis é uma banda diferenciada, e Selling England By the Pound, em conjunto com The Lamb Lies Down on Broadway (1974), exemplifica bem a razão. O cuidado com as harmonias de Steve Hackett e Tony Banks, o vocal sensível de Peter Gabriel e a cozinha marcante de Mike Rutherford e Phil Collins produziram discos únicos e complexos que entraram para a história quase que imediatamente. Destaque para “Dancing With the Moonlit Knight” e “More Fool Me”, com vocal de Collins, que já mostrava desde lá o porquê do estrondo que “In the Air Tonight” causaria em 1981.
Bruno: Tá aí um disco de progressivo que eu adoro. Como já disse em anos anteriores, o Genesis pra mim está acima de algumas outras bandas do gênero por sua grande qualidade nas composições, e com Selling England eles atingiram o ápice. “Dancing With the Moonlit Knight” e “Firth of Fifth” estão entre as melhores obras já compostas na história da música. E o solo de guitarra da segunda é algo de trincar o coração. Só ouvindo pra entender.
Davi: Genesis com Peter Gabriel não me agrada.
Diego: O Genesis vinha em um crescendo em excelência musical desde Trespass, de 1970. Em Selling England By the Pound tudo que a banda havia aprendido em estúdio e como músicos brilhou de forma perfeita no disco que eu considero o ponto mais alto do rock progressivo. Essencial é pouco!
Diogo: Se é para o Genesis ocupar uma posição de maior destaque nesta série, que seja mesmo com Selling England By the Pound, o primeiro disco da banda a verdadeiramente me conquistar, cativando pela qualidade de suas composições e por sua singularidade em meio ao que vinha sendo feito em se tratando de progressivo. Aliado à profusão de ideias interessantíssimas levadas a cabo por um grupo de instrumentistas excelentes e um vocalista que sabia impor sua personalidade, o Genesis trabalha sobre melodias agradáveis, capazes de conquistar o ouvinte não muito chegado no gênero (como exatamente tenho constatado). Exemplos disso são as magníficas “Dancing With the Moonlit Knight” (com Mike Rutherford “comendo” o baixo), “The Battle of Epping Forest” e “The Cinema Show”. “Firth of Fifth” então, é espetacular, destacando o piano de Tony Banks e o solo de Steve Hackett.
Eudes: Não entrou na minha lista, mas, pensando bem, seria um erro não incluí-lo no top 10. Disco marcado por sucessivas melodias genais, ressalta – ai, ai, lá vem pedrada… – a capacidade da banda (leia-se, nesse caso, Gabriel e Collins) de combinar a complexidade progressiva das faixas com uma pegada pop extremamente competente. Um álbum capaz de agradar, em seu lirismo melancólico, de mim até meu pai, de 86 anos. E isso é um (grande) elogio!
Fernando: Na minha opinião, a obra-prima do Genesis. Gosto de tudo do disco, até de “More Fool Me”, que, por ter sido cantada por Phil Collins, faz os fãs torcerem um pouco o nariz. Contém vários clássicos da banda e deu um maior destaque para a guitarra de Steve Hackett do que os antecessores.
José Leonardo: O quinto álbum de estúdio, Selling England By the Pound, é um dos discos mais vendidos da banda e, também musicalmente, é um dos seus melhores, e com certeza o melhor da formação clássica. Phil Collins, Steve Hackett, Tony Banks, Mike Rutherford e Peter Gabriel estavam no auge da sua criatividade. A interação entre Tony Banks e Steve Hackett é impressionante. É, sem dúvida o álbum que mostra Steve Hackett, um guitarrista subestimado, a mais. O disco é um clássico do prog rock e tem estruturas musicais complexas, além das letras bizarras e inteligentes de Gabriel, e essa é a razão pela qual eu ainda gosto de ouvir este álbum, que foi lançado há 40 anos: toda vez que você ouvi-lo, ainda pode descobrir algo novo na música.
Mairon: Outro que perdeu a vaga na última hora, muito por conta de uma canção que eu simplesmente abomino na carreira do Genesis, “I Know What I Like (in Your Wardrobe)”. Sinceramente, acho-a chata demais, e totalmente fora dos altos padrões que o Genesis de Peter Gabriel mostrou para a humanidade. Por outro lado, as épicas “Cinema Show”, “Dancing With the Moonlit Knight” e “The Battle of Epping Forest” são representativas desse padrão de excelência que citei, corroborado pela maravilha “Firth of Fifth”, com Steve Hackett eternizando um dos melhores solos de todos os tempos. A entrada entre os dez mais é justa e apoiada, deste que foi meu décimo-primeiro na lista. Quem quiser saber mais sobre o álbum, clique aqui.
Micael: Dos discos da fase clássica do Genesis com Peter Gabriel, provavelmente é o que eu menos aprecio (acima apenas de The Lamb Lies Down on Broadway), embora sua qualidade seja inquestionável. Se “I Know What I Like (in Your Wardrobe)” é a coisa mais “comercial” que o grupo gravou com seu vocalista original, “Dancing with the Moonlit Knight”, “Firth of Fifth”, “The Battle of Epping Forest e, principalmente, “The Cinema Show”, são clássicos do rock progressivo, que fazem com que este álbum mereça estar nesta lista com sobras.
Ronaldo: Entre 1971 e 1973 foram lançados os discos fundamentais do rock progressivo. Este lançamento do Genesis configura-se como o máximo que a formação clássica da banda conseguiu oferecer aos ouvidos do mundo. É difícil dar adjetivos para um disco tão conciso e perfeito.
Paul McCartney & Wings – Band on the Run (64 pontos)
Adriano: “Jet” é uma faixa interessante – não só pelo riff aparentemente inspirado em “Satisfaction” –, e “Let Me Roll It” e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, mais ainda. O restante são faixas que variam do fraco-mediano ao mediano-bom, mas com o sério problema de o Paul ser um cara chato com uma voz chatíssima.
Bernardo: Assim como Off the Wall (1979), de Michael Jackson, Band on the Run é um disco pop perfeito: nele absolutamente tudo é cantarolável e assoviável, os refrões são fáceis e a variação de andamento tanto das músicas quanto dos álbuns o torna uma experiência a ser desfrutada de forma fácil e prazerosa. A criatividade de Paul junto com o talento do ex-Moody Blues Denny Laine deu resultado no melhor disco já feito por um ex-beatle. O resultado é a dobradinha de abertura “Band on the Run” e “Jet”, explodindo de animação, o corinho viciante de “Mrs. Vandebilt” e as emocionantes baladas “Bluebird” e “Let Me Roll It”. Band on the Run é um daqueles discos que faz a vida parecer mais fácil.
Bruno: Dos discos solos do Paul McCartney, este é o que eu mais gosto. Um grande álbum de rock ‘n’ roll com todos elementos e a genialidade pop do baixista.
Davi: Obra-prima. Um dos melhores trabalhos, se não o melhor, dentro da magnífica discografia de Paul McCartney. Com clássicos do porte de “Band on the Run”, “Jet” e “Let Me Roll It”, o disco beira a perfeição. Não há muito o que dizer. Mais um item obrigatório.
Diego: Este disco foi uma completa surpresa pra mim, quero dizer, em relação a estar aqui na lista. Lembro que consegui uma cópia em vinil (bem surrado) há muitos anos e me lembro perfeitamente de ter ficado realmente surpreso em como o disco era bom. Conhecia “Band on the Run” de tanto ouvir a Kiss FM, mas o disco ainda traz muitas outras pérolas, como “Jet” and “Let Me Roll It”. Bom que está aqui na lista, porém não sei se colocaria entre os dez mais de 1973.
Diogo: Confesso que havia esquecido deste álbum e só fui escutá-lo após a consolidação da lista final agregando as opiniões de todos os colaboradores. Para minha surpresa, o disco superou minhas expectativas, apesar de ainda não achá-lo digno de uma posição tão elevada. Muito bem acompanhado por Denny Laine, Paul confirma seu talento para cunhar canções recheadas de ideias melódicas interessantes, algo muito bem exemplificado na faixa-título, um dos destaques. Cito ainda como dignas de nota a roqueira “Jet”, “Mrs. Vandebilt” e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”. “Let Me Roll It” tem mais a cara de John Lennon do que de Paul, mas isso acaba tornando-a ainda mais interessante no contexto do álbum, que não é nota dez nem nada do tipo, mas passa sem recuperação.
Eudes: Um monólito. E por isso colocado em lugar errado! Este álbum de Paul mereceria, no mínimo, o bronze desta lista. Band on the Run é uma coleção inigualável de grandes canções, em que a banda mostra flexibilidade e abrangência temáticas e melódicas difíceis de serem repetidas em discos posteriores. Paul, no auge da intolerância dos “lennonistas” doentes, mostrou quem era o maior compositor dos Beatles!
Fernando: O primeiro grande disco de Paul após o fim dos Beatles e, ao lado de All Things Must Pass (1970), de George Harrison, o melhor de um ex-Beatle. Claro que o destaque do disco é Paul, mas não podemos nos esquecer de Denny Laine, o braço direito de McCartney no Wings. Todos se lembram da faixa-título e de “Jet”, mas ouça “Bluebird”, “Mrs. Vandebilt” e “Nineteen Hundred and Eighty-Five” para se convencer de que Paul é o maior compositor do rock de todos os tempos.
José Leonardo: Não conheço muito a fundo a carreira solo de Paul McCartney. Possuo apenas três discos dele, este em questão e os álbuns de 1970 e 1971 (este com Linda). Na minha opinião, All Things Must Pass e Plastic Ono Band (1970, John Lennon), são os melhores discos solos de ex-beatles, mas este álbum é muito bom e é considerado o melhor trabalho de Paul. Dizem que ele estava passando por alguns momentos difíceis, com sua banda caindo aos pedaços. Deve ser por isso que este disco é bom! As melhores músicas são “Band on the Run”, “Jet”, “Bluebird”, “Mrs. Vandebilt”, e “Let Me Roll It”.
Mairon: O primeiro grande disco desta ótima banda que Paul McCartney criou pós-Beatles. Aqui o músico mostrou que era um grande instrumentista, e na companhia de Denny Laine (ex-Moody Blues), registrou clássicos como a faixa-título, “Jet” e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, a melhor composição da história de McCartney. Outros bons pontos são “Bluebird” e “Picasso’s Last Words (Drink to Me)”. Ainda vieram mais dois grandes álbuns posteriormente (Venus and Mars, 1975, e At the Speed of Sound, 1976), ambos com a mesma qualidade, mas a fama de Band on the Run é que continua fazendo o disco brilhar ainda hoje. Considero, porém, a quinta posição demasiada para um ano tão importante para o rock progressivo.
Micael: Não gosto de Beatles nem das carreiras solo de seus membros, mas este talvez seja o melhor álbum já gravado por um membro do Fab 4 fora do quarteto. O talento de Denny Laine agregou muito ao som da banda, e a capacidade de composição de Macca, mesmo não sendo o estilo que eu curto, é inquestionável. Não é um disco que eu ouça com prazer, mas não faz feio nesta lista!
Ronaldo: Paul McCartney sempre foi um excelente compositor. Depois da fama com os Beatles, tocar com ele era uma honra. Então, era mole conseguir reunir os melhores talentos para sua banda. O defeito que vejo em Band on the Run, que em si é um bom disco, é a falta de pegada. O disco ficou bem pasteurizado e da mais fácil deglutição para qualquer FM. Apesar da faixa-título ser uma preciosidade, “Let Me Roll It” é constrangedora e entediante.
Led Zeppelin – Houses of the Holy (59 pontos)
Adriano: Décimo-primeiro lugar na minha lista, empatado com o décimo! Não tem uma “Stairway to Heaven”, nem uma “Black Dog”, mas é mais coeso do que o disco anterior. E contém “Dancing Days”, com seu riff, talvez o mais viciante de todos os tempos, e o acompanhamento de guitarra no refrão, mais lindo ainda. Sem falar em “The Crunge”, “D’Yer Maker” e “No Quarter”, clássicos absolutos. Page, você não precisava roubar ninguém, cara.
Bernardo: O Led faz parte de um grupo seleto de bandas responsáveis por lançar uma obra-prima atrás da outra e sentar confortavelmente em um dos tronos por direito do rock. Houses of the Holy prossegue com essa maravilhosa sequência trazendo novos ingredientes que caem como uma luva, como o reggae em “D’yer Mak’er”, o funk em “The Crunge” e os traços progressivos de “No Quarter”, com introdução à base de sintetizadores e um belo solo de piano de John Paul Jones. O folk também tem presença forte em “The Rain Song” e “Over the Hills and Far Away”, fazendo de Houses um disco multifacetado, mas sem nunca perder a identidade da banda. Ganha valor pessoal também por sua faixa de abertura, “The Songs Remains the Same”, ser a primeira música que ouvi do Led. A levada contagiante foi paixão instantânea.
Bruno: Mais uma obra-prima desses gigantes que, na minha opinião, está a frente de alguns dos clássicos como Led Zeppelin (1969) e IV (1971). Não há pontos baixos aqui (“D’yer Mak’er” está longe de ser ruim!). Uma bolacha que reúne “No Quarter”, “The Ocean”, “The Song Remains the Same”, “The Rain Song” e “Over the Hills and Far Away” é quase uma coletânea.
Davi: Já vi muita gente criticar este disco e, honestamente, nunca entendi. O LP beira a perfeição. Das oito faixas, a única que não me agrada é “The Crunge”. Como curiosidade, vale lembrar que foi durante a divulgação deste álbum que foi filmado o clássico longa The Song Remains the Same (1976).
Diego: O disco do Led que todo mundo diz que é perfeito e que eu menos gostei! Realmente tenho pouco pra falar sobre este álbum, sei que muita gente considera-o completamente essencial e clássico. Da minha parte, acho que é um ótimo disco, mas o mais fraco da fase clássica da banda. Concordo, porém, que The Song Remais the Same continua sendo absurdamente boa!
Diogo: Como afirmei mais acima, Houses of the Holy não entrou em minha lista particular, mas poderia tê-la integrado tranquilamente, afinal de contas, o que dizer de um álbum que agrega no mesmo track list a galopante “The Song Remains the Same”, a pequena obra-prima “Over the Hills and Far Away” e a mística “No Quarter”, que conta com uma baita performance de John Paul Jones? Além dessas, que coloco entre minhas favoritaças da banda, o disco ainda traz outras ótimas mostras de um Led Zeppelin mais solto e seguro de suas capacidades, talvez até se levando um pouco menos a sério, caso de “Dancing Days” e “D’yer Mak’er”. A real é que a única que fica um pouco abaixo é “The Crunge”, pois “The Rain Song” e “The Ocean” também são muito boas.
Eudes: Se esta não fosse a “Consultoria do Prog”, este disco estaria lá em cima. Que outro lugar para um álbum que nos dá, de uma só vez, “The Song Remains the Same”, “The Rain Song” e “No Quarter”? Sim, não é o melhor álbum do Zeppelin, convenho, mas só essa trinca de genialidades já coloca-o acima de 95% da concorrência do ano de 1973. Tem nada não: em 1975 a gente bota as coisas no lugar!
Fernando: Não achava que este disco entraria neste top 10. Aí lembrei que Led Zeppelin e Black Sabbath acabam entrando em todas as listas. Contudo, fui ouvir o disco novamente e lembrei que ele precisava estar nesta lista sim, bastava lembrar que “D’yer Mak’er”, “The Song Remains the Same”, “The Rain Song” e “No Quarter” fazem parte do álbum. É possível que o sucessor de Houses of the Holy seja o último do Led a entrar nessa nossa série.
José Leonardo: Também não é o meu favorito da banda, mas é o álbum mais diversificado dos caras. Temos os rocks “The Song Remains the Same” e “Over the Hills and Far Away”, o épico “The Rain Song” e a bela e progressiva “No Quarter”. Na minha opinião, o funk “The Crunge” e o reggae “D’yer Mak’er” deixam um pouco a desejar. Para aqueles que, como eu, pensaram que o Zeppelin era mais do que apenas rock clássico, este álbum mostrou que a banda poderia trilhar outros caminhos, talvez sem brilho, mas com competência.
Mairon: Quem era a maior banda da década de 1970? Em 1973, no auge do rock progressivo, o Led Zeppelin mais uma vez dava um tapa de luva de pelica nos gigantes dinossauros prog, e desbancava todos eles com seu primeiro álbum com um título, no caso, Houses of the Holy. Comentei sua história aqui. Trata-se de um disco que possui divisões musicais, com petardos espetaculares, como “The Song Remains the Same” e “Over the Hills and Far Away”, ou novidades sonoras não tão apreciáveis para o som do Zeppelin, como o reggae de “D’yer Mak’er” e o funk de “The Crunge”. “The Ocean” e “Dancing Days” perambulam entre os momentos bons e os momentos ruins, mas “No Quarter” e “The Rain Song” acabam consolidando este álbum como um dos melhores lançamentos dos britânicos do Led, sendo a última a melhor canção que já ouvi em minha vida, provando que Jimmy Page não precisava usar de nenhum plágio para ser um gênio. Depois dele, o Led comprou seu avião particular, lotou estádios em EUA, Europa e Austrália e partiu para os dezoito meses de gravação de seu maior álbum.
Micael: Outro disco do qual nunca fui muito fã, apesar da imensa qualidade de clássicos como “No Quarter”, “Rain Song”, “The Song Remains the Same” ou “Over the Hills and Far Away”, uma das minhas favoritas na carreira do Zeppelin de Chumbo. Mas faixas como “Dancing Days”, “The Ocean”, a tentativa de reggae de “D’yer Mak’er” (que é legalzinha, mas muito pouco para uma banda do porte do Led), e, principalmente, “The Crunge”, na minha opinião a pior faixa da carreira da banda, depõem quanto à qualidade do álbum, fazendo com que ele não seja muito atraente a meus ouvidos, embora não seja indigno de estar entre os dez mais deste ano!
Ronaldo: O Led Zeppelin ficou tão eclético em Houses of the Holy que se permitiu até dar alguns escorregões. Seu inconteste leque de adjetivos, porém, lhe permitiu acrescentar mais algumas pérolas musicais a seu repertório. Por elas, já está garantida a colocação deste disco como um dos melhores do ano, ainda que o conjunto toda da obra não justifique colocá-lo no mesmo patamar dos lançamentos anteriores.
Yes – Tales from Topographic Oceans (58 pontos)
Adriano: Na matéria sobre os melhores discos do ano anterior, falei que todas as bandas clássicas de prog deviam ouvir o Thick As a Brick (Jethro Tull, 1972) de joelhos – o Yes parece tê-lo feito, e o resultado, Tales, foi maravilhoso! Você já deve ter ouvido/lido alguém dizer que este disco é um exemplo emblemático da pretensão exagerada das bandas progressivas. Isso pode ser verdade, mas jamais servirá como “crítica” ao álbum. Se Tales vai muito longe em suas viagens progressivas, talvez fosse disso que a música pop realmente precisasse! A melhor versão de “The Revealing Science of God (Dance of the Dawn)” é a do ao vivo Keys to Ascension (1996), mas a original já é ótima. O único motivo pra eu considerá-la uma música menor é o que vem em seguida: nada menos que três das melhores suítes que o prog gestou, em sequência! “The Remembering (High the Memory)” é comovente, mas o que Steve Howe faz com guitarra e violão em “The Ancient (Giants Under the Sun)” e “Ritual (Nous Sommes du Soleil)” é muito acima da média do melhor da música em geral. A sessão percussiva de “Ritual” também é algo a se registrar nos anais da criatividade humana.
Bernardo: Não consigo nem de longe admirar que nem o resto. Para mim, deste disco em diante, a banda nunca mais seria como foi em Fragile (1971) e Close to the Edge (1972). Mas tem seus bons momentos.
Bruno: Insuportável. Se o progressivo é as vezes estereotipado pelo virtuosismo desnecessário e a pretensão, este disco é um dos grandes responsáveis.
Davi: Não tenho este disco do Yes. É um dos dois que me faltam. Não comentarei.
Diego: Ah, o Tales From Topographic Oceans. O “auge” do progressivo para muitos. Para mim o auge da morte do rock progressivo. Sempre amei esses projetos bizarros e “over the top”, mas no caso do Yes não deu certo. Poucas vezes consegui ouvir o disco do início ao fim e com total atenção apenas uma vez. Pra mim este disco começou a por ideias na cabeças das bandas e tudo acabou ficando fora da realidade em poucos anos e isso no final das contas gerou uma má imagem do mundo prog.
Diogo: Tales from Topographic Oceans é um caso complicado. Para mim, ele não é tão bom quanto seus amantes dizem que o álbum é, nem tão ruim quanto seus detratores afirmam. O senso comum que me perdoe, mas é possível, sim, equilibrar-se entre esses dois extremos. Dessa vez com o baterista Alan White no lugar do estupendo Bill Bruford, a banda, como não poderia deixar de ser, capricha na instrumentação e expõe suas quase infinitas possibilidades em momentos de grande beleza, mas também perde-se em alguns exageros e acaba perdendo o ouvinte no meio do caminho, pois as quatro suítes que integram o álbum passam longe de ser tão contagiantes quanto as longas faixas apresentadas em discos anteriores. Talvez o ambicioso projeto fosse mesmo necessário para abrir os olhos do próprio Yes e de outros grupos do gênero, alertando que os exageros poderiam render negativamente e estereotipá-los. Reafirmo, contudo, que se trata de um bom disco.
Eudes: Só na “Consultoria do Prog” este álbum entraria em um top 10 de 1973… E o pior, em melhor posição do que o inventivo e inovador Larks’ Tongues in Aspic (King Crimson). No comments!
Fernando: Controverso. Talvez seja o adjetivo mais adequado para este disco. É inegável que é fruto da megalomania de músicos fantásticos e acabou concentrando todas as críticas sobre os exageros do estilo. De certa forma essas críticas são um pouco merecidas sim. Algumas passagens foram esticadas para que o tempo total das músicas fosse suficiente para preencher os quatro lados de um disco duplo. Entretanto, é notória a qualidade de muita coisa nele registrada.
José Leonardo: Podem falar o que quiserem deste disco: encheção de linguiça, masturbação progressiva, letras sem pé nem cabeça… Mas não adianta, sou suspeito para falar de uma das minhas bandas top 5. Para aqueles que esperam algo como Fragile ou mesmo Close to the Edge, talvez se decepcionem. Para aqueles que apreciam boa música clássica, estejam preparados para serem surpreendidos por, talvez, uma das maiores obras-primas da música de nosso tempo. A partir das primeiras notas de “The Revealing Science Of God” até as notas finais de “Ritual”, a música é composta de temas que são declarados, explorados, e atualizados de forma semelhante àquelas grandes sinfonias de mestres eruditos como Beethoven, Tchaikovsky e outros. Para entender a concepção e apreciar plenamente a verdadeira beleza deste álbum, o mesmo deve ser ouvido do início ao fim, sem interrupções, como se estivéssemos lendo um livro.
Mairon: Recentemente comentei sobre a história deste álbum aqui. LP duplo com apenas quatro suítes fenomenais, compreendidas por muitos, incompreendidas por diversos, e que gera discussões até hoje. Fico feliz de ver ele entre os dez, apesar de julgar que ele merecia uma posição melhor. Mesmo assim, só atesta que, apesar das grandes críticas, o disco é essencial para os audiófilos de plantão, e, com certeza, vale cada segundo dos seus oitenta e dois minutos de duração. Melhor disco da história do rock progressivo e fim de papo. Era o Yes, comandado pelos geniais Jon Anderson e Steve Howe no ápice de sua criatividade, que havia começado em 1971 e iria perdurar por mais quatro anos.
Micael: Um disco de audição complicada, longo, repetitivo, que parece meio sem direção em alguns momentos, e é absolutamente brilhante em outros. “The Revealing Science of God (Dance of the Dawn)” e, principalmente, “Ritual (Nous Sommes du Soleil)”, são duas músicas que eu curto bastante, mas às outras duas composições sempre tive minhas restrições. Não é à toa que este é o disco mais controverso da carreira do Yes, e talvez o que mais se adeque à frase “ame ou odeie”. Não estou em nenhum dos extremos, mas não sou tão fanático por ele quanto outros colaboradores do site!
Ronaldo: Um comentário bastante parecido com o que proferi sobre Brain Salad Surgery cabe ao Yes em relação a seu lançamento de 1973. Se de um lado temos a exuberância de sua virtuose levada a graus extremos, de outro temos um descolamento muito grande de um tipo som que pudesse atingir e se comunicar com o público ouvinte médio do rock, mesmo na época em que foi lançado. Quem gosta, adora. Quem não gosta, não suporta.
King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic (50 pontos)
Adriano: Este é um dos meus discos favoritos de todos os tempos, e eu falei um pouco sobre isso aqui. Atente para o trabalho de violino e de percussão, além dos instrumentos convencionais. Não dê o mínimo cabimento a qualquer conversa de que Fripp toca sem sentimento. Veja também como o peso pode ser algo bem utilizado, por uma banda de verdade. O King Crimson nem precisava desse álbum para eternizar-se como medalhão prog, mas eles o lançaram, e o estrago foi feito. Só “Exiles” e “The Talking Drum” já são suficientes pra deixar Larks’ no topo dos discos desse ano, mas ele ainda conta com mais quatro pauladas clássicas! Retorno grandioso do mestre Fripp!
Bernardo: Não me desce. Nunca consegui escutar nada deles além de “21st Century Schizoid Man”. Acho que, para esse ano, Aladdin Sane, de David Bowie, é uma escolha mais relevante.
Bruno: Gosto do King Crimson, mas este disco nunca me atraiu. Passo.
Davi: Não curto King Crimson. Não comentarei.
Diego: Todo mundo que me conhece sabe que eu sou apaixonado por rock progressivo – ainda mais depois de oito anos publicando matérias sob o nome Progshine –, mas o King Crimson, pra mim… Sempre foi um mistério. A banda sempre foi considerado o marco maior e a melhor, a mais ousada. Para mim é chato e eu confesso que ouvi este disco menos de uma meia dúzia de vezes e nunca gostei.
Diogo: Estabilizado após algumas breves encarnações sem o mesmo brilho da formação inicial e um disco inferior ao que Robert Fripp e cia. vinham apresentando, Islands (1971), o King Crimson cercou-se talento e pedigree, resultando em uma fase criativa e tão excitante quanto a que pariu In the Court of the Crimson King (1969). O primeiro resultado dessa reunião, Larks’ Tongues in Aspic, mostra quão relevante o grupo ainda conseguia ser em meio a uma cena já consolidada. Gosto de todas as músicas, que constroem, uma a uma, um clima de constante tensão, mesmo nos momentos mais suaves da belíssima “Exiles”, provável destaque maior no track list de uma obra não recomendada para quem não é realmente um amante de música. Exalto ainda a ousadia de Bill Bruford, que deixou a certeza de uma carreira consolidada no Yes para se aventurar em um grupo no qual a palavra “certeza” não tinha vez, promovendo orgias percussivas ao lado de Jamie Muir, contrastando com a aveludada voz de John Wetton e o violino de David Cross. Em meio a tudo isso, costurando os retalhos sonoros, a guitarra de Fripp. Bravo.
Eudes: O King Crimson é uma das raras bandas que justifica a longevidade. O grupo tem momentos mais altos e mais baixos, mas nunca se transformou em um combo caça-níqueis como algumas formações de passado glorioso. E isso porque Robert Fripp só saca a banda quando tem alguma coisa interessante para dizer. Larks’ Tongues in Aspic é um desses momentos altos, talvez altíssimos. Mas é claro que não é para gente que molha a cueca com os clichês do progressivo. Aliás, quem disse que King Crimson cabe nesse rótulo? E eu, tolamente preferi o ELP na minha lista, esquecendo este álbum inesquecível! Sou uma besta mesmo!
Fernando: Tá aí um disco do qual acabei esquecendo na minha própria lista. Não sei qual tiraria para colocá-lo, mas só “Exiles” já o faz merecer estar aqui.
José Leonardo: Eu amo cada segundo deste álbum. Com certeza um dos meus favoritos de rock progressivo. Com este registro, o King Crimson experimentou com um som um pouco mais “difícil” . Também é considerado seu álbum mais hard, e isso não é nenhuma surpresa. Especialmente as faixas de abertura e encerramento têm alguns momentos de peso aqui e ali. Temos seis músicas no disco e três delas são instrumentais, com uma enorme inclinação tanto para jazz fusion quanto rock experimental. Não é tão famoso quanto seu debut inovador, infelizmente. Este álbum tem tudo que um fanático por rock progressivo poderia querer: instrumental de alta classe e belas melodias com sons poderosos e épicos. Larks’ Tongues in Aspic tem tudo isso e na minha opinião é totalmente impecável.
Mairon: Outro discaço, mostrando que, em 1973, o rock progressivo só tinha páreo com gigantes como Paul McCartney, Black Sabbath e Led Zeppelin. Com Bill Bruford saindo do Yes e entrando fresquinho na trupe de Robert Fripp, tendo a companhia do maluquete Jamie Muir, além de John Wetton revelando-se como sucessor perfeito para Greg Lake, dos sulcos deste vinil saem as melhores composições da carreira do Rei Escarlate após quatro anos de constantes mudança de formação, com discos fenomenais, mas não tão reconhecidos (talvez apenas a estreia) quanto Larks’ Tongues in Aspic. As partes I e II da faixa-título são maravilhosas experiências auditivas, assim como “The Talking Drum” e “Exiles”. “Book of Saturday” e “Easy Money” complementam este que talvez, em sua integridade, seja o grande disco que Robert Fripp registrou.
Micael: As duas partes da faixa título deveriam ser um atestado de insanidade a quem as escreveu e para quem as aprecia. Somos todos insanos então! O único registro de estúdio com o percussionista Jamie Muir tem momentos sublimes como “Exiles” e “Book of Saturday, o proto-heavy de “Easy Money” e a suingada e experimental “The Talking Drum”, mas nada supera a suíte que dá nome ao disco, em que o grupo chega aos limites da demência, em uma faixa “queimadora de neurônios” totalmente oposta à sonoridade anterior do Rei Escarlate, e que apontaria o caminho que o grupo seguiria na melhor e mais destacada fase de sua carreira. Um clássico!
Ronaldo: Cada disco do King Crimson parece quase que uma faceta própria e paralela da banda capitaneada pelo genioso guitarrista Robert Fripp. Nesta época, uma nova encarnação trouxe um som amedrontador, fragmentado, pesado e nebuloso, usando a virtuose e a experimentação para ferir os ouvidos. Se esses elementos frequentemente eram usados na época para levar o ouvinte a outras dimensões infestadas de seres e paraísos fantásticos, o som do King Crimson os trazia para um lado mais frio e realista, de máquinas, metrópoles e fumaça.
Secos & Molhados – Secos & Molhados (43 pontos)
Adriano: Este disco rondou meu top 10, e fico muito feliz de vê-lo aqui, fazendo fugir um pouco do eterno duo EUA-Inglaterra. Um trabalho de muita qualidade, do qual eu destaco as clássicas “Sangue Latino”, “O Vira”, “Mulher Barriguda” e “Fala”.
Bernardo: Aí sim! Um dos grandes grupos não só do rock mas da música brasileira impressionou todo mundo na época deste primeiro disco e ainda hoje impressiona. A união de uma parte instrumental sofisticada por cortesia de João Ricardo e Gerson Conrad, com apoio de gente como Zé Rodrix nos sopros e sintetizador, John Flavin (Patrulha do Espaço) na guitarra e Willy Verdaguer (Beat Boys) no contrabaixo com o vocal impressionante de Ney Matogrosso, com sua voz cristalina e afinada, abalou as estruturas, cantando os versos de poetas como Vinícius de Moraes em “Rosa de Hiroshima”, Manuel Bandeira em “Rondó do Capitão” e João Apolinário, pai de João Ricardo, em “Primavera nos Dentes”. De uma musicalidade que não perdeu a exuberância até hoje.
Bruno: Um disco absurdo e muito à frente de seu tempo, pelo menos no Brasil. Um trio totalmente maquiado com um som que fazia uma mescla de MPB, psicodelia, música folk e progressivo. Letras afiadas, apresentações anárquicas e um vocalista com timbre feminino e performance desafiadora. Nem a censura deve ter conseguido entender o que Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso estavam fazendo. Álbum que figura facilmente entre os melhores trabalhos de rock já lançados no Brasil.
Davi: Ainda não consigo engolir essa historia que inventaram sobre o Kiss ter copiado o Secos & Molhados. Acho sem pé nem cabeça. Agora, não dá para tirar o mérito dos caras por conta disso. Quem tem birra, deixe a birra de lado e escute. Ney Matogrosso, além de ser um ótimo showman, sempre foi um interprete único. Os arranjos são, ao mesmo tempo, sutis e complexos. Letras totalmente poéticas. Um dos melhores trabalhos feitos no Brasil.
Diego: A marca maior do rock brasileiro e ouso dizer mundial. O Secos & Molhados foi um grupo ousado, cheio de boas ideias (especialmente João Ricardo) e de uma genialidade ímpar. Este disco é completamente essencial se você quiser entender alguma coisa do que aconteceu no rock do país em que nascemos. Mais um que tem um lugar especial na minha prateleira de CDs em edição dupla, com o segundo e último disco com a formação clássica da banda.
Diogo: Se existe algo que faz muita falta no cenário musical brasileiro, e falo do mainstream mesmo, é uma banda como o Secos & Molhados. Verdadeiramente única, excitante, sabendo incorporar as influências externas com sapiência, mas transformando-as em algo realmente novo e especial. Sem pastiche e clichês, esbanjando criatividade a cada trejeito daquele que é o melhor intérprete brasileiro do qual tenho notícia, Ney Matogrosso. “Sangue Latino” tornou-se clássico com os maiores méritos possíveis, enquanto o reconhecimento a outras canções, como “Primavera nos Dentes”, “Rosa de Hiroshima” e “Fala”, também é digníssimo. Não posso citar Ney sem também exaltar o violonista João Ricardo, principal responsável pelas composições que integram o disco.
Eudes: Escolha justíssima. Este primeiro álbum do Secos & Molhados não tem uma única faixa menor. Trata-se de uma coleção de canções belíssimas, em execuções que ressoam a influência roqueira, sem nunca se deixar colonizar por ela. Ou seja, é rock ’n’ roll brasileiro no melhor sentido do termo: é rock, mas se recusa a ser mera transposição das bandas gringas. Ainda falta este disco ser descoberto internacionalmente. Terá o mesmo impacto que teve a divulgação dos três primeiros discos dos Mutantes nos anos 1990.
Fernando: Não lembro de outro disco nacional entrando nesta série de publicações e esse fato até gerou uma lista própria para os brasileiros. Já ouvi, gostei, mas, pelo menos na minha opinião, não é um álbum top 10.
José Leonardo: Outro disco que já foi comentado exaustivamente. Um dos melhores trabalhos lançados por artistas brasileiros. Com uma imagem transgressora, letras poéticas cheias de metáforas e críticas sociais em plena ditadura militar. O que mais podemos falar? Único defeito: ser curto demais.
Mairon: Uma grata surpresa ver a estreia de João Ricardo, Gerson Conrad e Ney Matogrosso entre os dez mais de 1973. O segundo álbum nacional a figurar entre os Melhores de Todos os Tempos (depois da estreia dos Mutantes) é um bom disco, mas o considero um tanto quanto superestimado. A mistura folk-brasileira do disco é muito bem feita, e canções como “O Patrão Nosso de Cada Dia”, “Assim Assado” e “O Vira” tornaram-se clássicos de um disco que marcou época. “Primavera nos Dentes” é a demonstração do lado instrumental de um grande grupo, mas acredito que o excesso de vinhetas acaba atrapalhando o conjunto da obra. É um bom disco, mas se fosse para escolher um álbum nacional de 1973, ficaria com Todos os Olhos (Tom Zé), Krig-Ha Bandolo! (Raul Seixas), Novos Baianos F. C. (Novos Baianos) e, principalmente, o melhor álbum nacional desse ano, Terço (O Terço). O Secos & Molhados lançaria melhores discos depois.
Micael: Um dos melhores discos já registrados no País, e que, infelizmente, é mais conhecido pelo hit “O Vira” e pela bela “Rosa de Hiroshima”, além dos covers registrados para “Sangue Latino” pelo Nenhum de Nós e para “Assim Assado” pelo Capital Inicial, do que pela qualidade de composições como “O Patrão Nosso de Cada Dia”, “Primavera nos Dentes”, “As Andorinhas” e “Fala”, as quais foram superadas pela imagem espalhafatosa do trio, em um dos raros momentos em que um disco de qualidade caiu no gosto popular e virou um fenômeno de vendas! Mereceria um reconhecimento maior, e, com toda a certeza, uma posição mais alta nesta lista!
Ronaldo: Mesmo sem as distorções da guitarra elétrica, violões, jogos de vozes, performances ousadas e um visual andrógino foram os elementos que se combinaram para criar um pequeno fenômeno na música brasileira. Mesmo a nível mundial, o visual glam raramente esteve associado a um lirismo musical em tal grau como neste lançamento. Dentre desse caldo todo, havia, obviamente, espaço para o rock. E a visibilidade deste disco foi uma providencial alavancada no rock feito no Brasil durante a segunda metade da década de 1970.
The Stooges – Raw Power (42 pontos)
Adriano: Reouvi este disco agora pra comentar. Não o conhecia bem, e talvez isso tenha um motivo: os Stooges deram um grande salto de qualidade do primeiro pro segundo disco, o que não aconteceu aqui. Um disco bom, mas sem grandes atrativos.
Bernardo: Nas palavras da faixa-título: “Raw Power got a healin’ hand/Raw Power can destroy a man/Raw Power is more than soul/Got a son called rock and roll”. Verdadeira trilha sonora do apocalipse, ainda que não tão anárquico e despirocado quanto seu antecessor Funhouse (1970), Raw Power é um disco que tem todos os seus esforços voltados para deixar tímpanos zunindo, com a mixagem deixando os agudos afiados feito faca e os graves pesados feito pedra. Iggy faz um esforço mais nítido para realmente cantar em canções mais estruturadas que clássicos como “I Wanna Be Your Dog” e “T.V. Eye”, mas sem se poupar dos gritos ou da interpretação suja e perigosa. É o que resulta tanto nos punks anfetamínicos de “Search and Destroy”, “Your Pretty Face Is Going to Hell” e “Shake Appeal”, e a grande entrega em “Gimme Danger”, onde os Patetas de Ann Arbor provocam a “Gimme Shelter” dos Rolling Stones e dão o tom de um disco que ainda acreditava no “perigo” que o rock ‘n’ roll representava. Completam o conjunto a explícita “Penetration” e o grande encerramento “Death Trip”, com seu riff elétrico, ritmo maníaco e vocal gritado e ensandecido. Com um estilo mais explosivo, estridente e acelerado que o protopunk primitivo de Ron Asheton, a escolha de James Williamson caiu como uma luva nesse disco que é, com sombras, o momento mais agressivo do rock ‘n’ roll. Em meia hora, os Stooges provam porque sua foto devia estar do lado de “barulho” no dicionário: ninguém toca em alto volume melhor que eles.
Bruno: Sujo, rasgado, brutal, barulhento. Um representante da ressaca dos anos 1960, da transição do rock rural para o rock urbano e de uma geração que já estava em decadência com 20 e poucos anos. Ron Asheton trocou a guitarra pelo baixo, mas não deixou saudades. James Williamson arregaça com seu estilo peculiar e consegue deixar os Stooges ainda mais perigosos. Uma pena ter ficado só com o último lugar da lista.
Davi: A mesma discussão que existe sobre o Black Sabbath ter inventado o heavy metal existe sobre o Stooges ter inventado o punk. Não há como negar que muito do punk está aqui: a sonoridade densa, os vocais gritados, a guitarra falando alto. Está tudo neste belo trabalho. Sabe aquela musica “Search and Destroy”, que você conhece pelo Red Hot Chili Peppers? Bem, é daqui!
Diego: Raw Power???!!!!???? Por que diabos este disco tá aqui??? Um completo desperdício de espaço na lista. Melhor de 1973? Nem por um milagre do próprio capeta.
Diogo: Bom disco, mas, por ora, o que menos me agrada entre o top 10 final. Talvez isso mude no futuro com mais audições. Mesmo assim, destaco o trabalho de guitarra de James Williamson, ardido e inventivo, muito mais interessante que o da grande maioria daqueles que se dizem seus seguidores. A produção, a cargo de David Bowie ao lado da banda, também tem méritos, assim como o fato de, em meio à toda agressividade expressada pelo quarteto, haver foco, deixando tudo bem amarrado e mostrando que nem só de porralouquice vivem álbuns como este.
Eudes: Monocromático, monossonoro, monochato.
Fernando: Não curto, já tentei até para entender o motivo de Iggy Pop ser tão cultuado, mas não gostei.
José Leonardo: Provavelmente o auge da carreira de Iggy & the Stooges , pegando talvez o melhor dos dois álbuns anteriores em um: as composições do primeiro e o incessante peso sujo de Funhouse. Ao contrário do segundo, Raw Power mostra uma estrutura mais focada. A abertura “Search and destroy”, “I Need More”, “Gimme Danger” e a faixa-título estão entre as melhores da banda. Resumindo: o título do álbum diz tudo!
Mairon: Raw Power entre os dez mais??? Incompreensível. O que escapa é o trabalho genial da produção de David Bowie, mostrando que ele trabalhava bem em todas as áreas. Com exceção da fantástica “Gimme Danger”, a barulheira punk de Iggy Pop e companhia é interessante para aquele momento adolescente que todos nós temos, e a inclusão deste álbum entre os dez mais é apenas para que os consultores mostrem sua versatilidade. Bom disco, e nada mais.
Micael: A entrada do guitarrista James Williamson tirou um pouco da crueza dos Stooges, o que não impediu que o quarteto, apesar das diversas circunstâncias adversas, registrasse outro belo disco em seu terceiro lançamento. A faixa-título e “Search and Destroy” viraram clássicos, mas, ainda que componham no todo um álbum abaixo do que esses malucos fizeram em seus discos anteriores, as demais faixas merecem ser ouvidas por todo aquele que tenha um pouco de apreço pelo punk ou por um som mais agressivo e visceral do que técnico. Ouçam!
Ronaldo: Como em todo disco que se torna um marco para um determinado estilo, sua principal característica é ser exagerado. Já tratamos, nestas listas, de diversos álbuns com essa característica e que, assim como Raw Power foram importantes para outros estilos. Mas para o punk, estilo que bebeu da fonte de selvageria de Iggy Pop e seus patetas, faltou prestar mais atenção de que sim, poderiam haver até músicas com violões e o estilo não precisaria ser monotemático, monossilábico e nem uníssono. Alguns neurônios poderiam ser utilizados sem nenhum pudor. Nenhum pupilo sequer chegou perto de superar os mestres.
Listas individuais
Adriano KCarão
1. King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic
2. Genesis – Selling England By the Pound
3. Yes – Tales from Topographic Oceans
4. Gentle Giant – In a Glass House
5. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
6. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
7. Ange – Le Cimitière des Arlequins
8. The Who – Quadrophenia
9. Can – Future Days
10. Arco Iris – Anti Raymi
Bernardo Brum
1. The Stooges – Raw Power
2. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
3. Lou Reed – Berlin
4. Paul McCartney & Wings – Band on the Run
5. Secos & Molhados – Secos & Molhados
6. Led Zeppelin – Houses of the Holy
7. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
8. Tom Waits – Closing Time
9. The Wailers – Catch a Fire
10. David Bowie – Alladin Sane
Bruno Marise
1. Stevie Wonder – Innervisions
2. Thin Lizzy – Vagabonds of the Western World
3. The Stooges – Raw Power
4. David Bowie – Alladin Sane
5. Lynyrd Skynyrd – Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd
6. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
7. Led Zeppelin – Houses of the Holy
8. The Who – Quadrophenia
9. New York Dolls – New York Dolls
10. Genesis – Selling England By the Pound
Davi Pascale
1. Paul McCartney & Wings – Band on the Run
2. Alice Cooper – Billion Dollar Babies
3. Led Zeppelin – Houses of the Holy
4. Aerosmith – Aerosmith
5. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
6. Queen – Queen
7. Lynyrd Skynyrd – Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd
8. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
9. The Who – Quadrophenia
10. Grand Funk Railroad – We’re an American Band
Diego Camargo
1. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
2. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
3. Raul Seixas – Krig-ha, Bandolo!
4. Gonzaguinha – Luiz Gonzaga Jr.
5. Genesis – Selling England By the Pound
6. Le Orme – Felona e Sorona
7. Secos & Molhados – Secos & Molhados
8. Renaissance – Ashes Are Burning
9. Jethro Tull – A Passion Play
10. Mike Oldfield – Tubular Bells
Diogo Bizotto
1. Bruce Springsteen – The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle
2. Free – Heartbreaker
3. Bruce Springsteen – Greetings from Asbury Park, N.J.
4. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
5. Eagles – Desperado
6. King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic
7. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
8. Gram Parsons – G.P.
9. Lynyrd Skynyrd – Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd
10. The Who – Quadrophenia
Eudes Baima
1. Led Zeppelin – Houses of the Holy
2. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
3. Paul McCartney & Wings – Band on the Run
4. Som Imaginário – Matança do Porco
5. Marvin Gaye – Let’s Get It On
6. Beck, Bogert & Appice – Beck, Bogert & Appice
7. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
8. Pescado Rabioso – Artaud
9. Secos & Molhados – Secos & Molhados
10. Tom Zé – Todos os Olhos
Fernando Bueno
1. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
2. Elton John – Goodbye Yellow Brick Road
3. Genesis – Selling England By the Pound
4. Paul McCartney & Wings – Band on the Run
5. Le Orme – Felona e Sorona
6. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
7. Lynyrd Skynyrd – Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd
8. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
9. Styx – Styx II
10. Rick Wakeman – The Six Wives of Henry VIII
José Leonardo Aronna
1. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
2. Yes – Tales from Topographic Oceans
3. Genesis – Selling England By the Pound
4. David Bowie – Alladin Sane
5. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
6. Rick Wakeman – The Six Wives of Henry VIII
7. Alice Cooper – Billion Dollar Babies
8. King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic
9. The Who – Quadrophenia
10. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
Mairon Machado
1. Yes – Tales from Topographic Oceans
2. Som Imaginário – Matança do Porco
3. Mike Oldfield – Tubular Bells
4. Jethro Tull – A Passion Play
5. Renaissance – Ashes Are Burning
6. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
7. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
8. Led Zeppelin – Houses of the Holy
9. O Terço – Terço
10. Pescado Rabioso – Artaud
Micael Machado
1. Secos & Molhados – Secos & Molhados
2. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
3. Renaissance – Ashes Are Burning
4. King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic
5. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
6. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
7. Queen – Queen
8. Genesis – Selling England By the Pound
9. The Stooges – Raw Power
10. Led Zeppelin – Houses of the Holy
Ronaldo Rodrigues
1. Emerson, Lake & Palmer – Brain Salad Surgery
2. Genesis – Selling England By the Pound
3. Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath
4. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon
5. Buffalo – Volcanic Rock
6. Manfred Mann’s Earth Band – Solar Fire
7. Herbie Hancock – Headhunters
8. Mike Oldfield – Tubular Bells
9. Mahavishnu Orchestra – Birds of Fire
10. King Crimson – Larks’ Tongues in Aspic