terça-feira, 26 de outubro de 2021

Datas Especiais: 50 anos de Chicago Live at Carnegie Hall [1971]


Muito antes do Chicago ser uma potência pop comandada por Peter Cetera nos anos 80, o grupo americano já era uma banda impactante. Para começar, o grupo era formado por sete membros, a saber o já citado Cetera (baixo, vocais), Terry Kath (guitarra vocais), Robert Lamm (teclados, vocais), Lee Loughnane (trompete, percussão, guitarras, vocais de apoio), James Pankow (trombone, percussão, vocais de apoio), Walter Parazaider (flauta, saxofone, clarinete, percussão, vocais de apoio) e Danny Seraphine (bateria). Como podemos ver, são três vocalistas oficiais, e mais vocais de apoio que caracterizaram as harmonias vocais entoando as letras políticas e românticas da banda ao longo de sua carreira. O trio formando o naipe de metais é monstruoso, com três músico gabaritadíssimos para esse papel. Seraphine é um dos bateristas mais injustiçados do rock, sendo que tocava qualquer estilo com uma segurança rara. E por fim, Lamm, Kath e Cetera além de vocalistas excepcionais, também tocavam demais seus instrumentos, sendo Lamm e Kath nomes que deveriam aparecer muito mais nas listas de melhores dos teclados e guitarra respectivamente. 

Seus três primeiros álbuns são talvez o único caso na história da música a serem todos lançados no formato duplo, inclusive com gatefold, e com a impressionante mixagem quadrifônica (também presente nos cinco álbuns subsequentes do grupo, com exceção do aqui apresentado hoje). Para aumentar ainda mais a grandiosidade, a partir do segundo disco, vários foram os lançamentos na primeira metade dos anos 70 com encartes exclusivos e pôsters gigantes, uma das grandes novidades que o Chicago trouxe para o mercado consumidor e colecionador. Por fim, a hegemonia do Chicago era tamanha logo na sua fase inicial que eles foram a primeira banda "de rock" a tocar durante uma semana inteira, entre 5 e 10 de abril, para um Carnegie Hall (berço do jazz nova iorquino) sold out, ou seja, com ingressos esgotados. Um fato tão importante quanto esse não poderia ser deixado de lado, e assim, culminou no lançamento de seu primeiro álbum ao vivo, Live at Carnegie Hall, que completou ontem 50 anos. 

Inserts individuais

Mas óbvio que o não seria qualquer disco ao vivo em se tratando do hepteto. Ele também tinha que ser grandioso, e após muitas discussões e especulações, e com o pessoal da gravadora Columbia de cabelos arrepiados, no dia 25 de outubro de 1971, ou seja, há 50 anos, Live at Carnegie Hall foi lançado em um magnífico formato quádruplo (subsequentemente lançado em formatos individuais duplos, com os volumes I e II em um álbum e os volumes III e IV em outro), em um box caprichadíssimo, trazendo além dos quatro LPs em encartes exclusivos, um livreto de 20 paginas, trazendo fotos da banda bem como todas as datas de shows do Chicago desde sua primeira apresentação, em 22 de maio de 1967, um pôster gigante do Carnegie Hall, um pôster gigante da banda e um colossal pôster da banda ao vivo. Para se ter uma ideia do tamanho desse pôster colossal (veja imagem abaixo), os pôsters gigantes são no formato 3 x 2, ou seja pegue uma capa de vinil normal e simule 3 colunas por duas linhas. O pôster colossal é no formato 6 x 4, ou seja, seriam seis colunas por quatro linhas de capas de vinil, totalizando o impressionante tamanho de 24 capas de vinil (!). O bendito ocupou todo meu sofá, sendo que os pôsters do Carnegie Hall e da banda, que já são grandes, parecem umas coisinhas sobre ele.

O colossal pôster que vem na caixa, ocupando todo o sofá …
… Comparando o tamanho do pôster colossal com os pôsters gigantes

Vamos ao som, que também é gigante. Após as conferências dos instrumentos, e a apresentação da banda, o Chicago começa já detonando com "In The Country", magistral faixa de Chicago (1970), também conhecido como Chicago II, mostrando um riffzão do naipe de metais, e um trabalho sensacional de baixo e guitarra. Comandados pela grave voz e as passagens de guitarra impressionantes de Kath, a faixa é perfeita para abrir as próximas três horas de audição, seguida de "Fancy Colours", outra de Chicago, a qual surge com o brilhante hammond de Lamm e os vocais adocicados de Cetera, modificando-se para uma dançante canção na qual a banda exalta suas harmonias vocais com um talento incomparável, além de Parazaider fazer estripulias diversas na flauta, passando por um breve duelo entre hammond e uma guitarra pesadíssima de wah-wah.

Na sequência, o grupo retorna para Chicago Transit Authority (1969), o álbum de estreia, trazendo uma mistura de duas canções daquele disco, "Does Anybody Really Know What Time It Is" e "Free Form" começando com uma longa apresentação solo de Lamm ao piano, nos deixando hipnotizados por 10 minutos com suas linha jazzística, aquela deliciosa melodia do trompete, e uma letra que até uma marmota bêbada consegue cantarolar. Faixa fantástica, e assim, como um estalar de dedos, encerramos os quase 25 minutos do Lado A. Ainda há mais sete lados para vir, e já estamos ajoelhados diante da vitrola. 

Terry Kath (acima) e Robert Lamm (abaixo)

Seguimos então com Chicago Transit Authority, através da sensual "South California Purples", uma magistral faixa onde Lamm manda ver no hammond, Kath pisoteia seu wah-wah sem piedade e claro, o naipe de metais dá um banho de participação, incrementando a massa sonora criada pelos demais instrumentos com passagens marcantes em nosso cérebro. O solo de Kath é a primeira amostragem de por que eu o considero um dos gigantes da guitarra, carregando de feeling mas também muita técnica e swing, algo difícil de misturar, e que leva a música por mais de metade de sua duração. Pena que faleceu cedo ... A ovação da plateia ao final não precisa dizer mais nada. Chegamos a "Questions 67 And 68", imponente faixa de Lamm e cujos vocais duelados entre ele e Cetera chegam a arrancar lágrimas. Adoro o trabalho de baixo de Cetera aqui, suave mas ao mesmo tempo muito forte nas melodias, acompanhando a bateria, que assovalha tudo em um andamento incansável. E os metais, buda que partiu, que coisa linda. Lado B encerrado, é hora de pegar uma água (ou algumas cervejas), por que o show está só começando.

O lado C pula para Chicago III, começando com a funkeada "Sing A Mean Tune Kid" e 13 minutos novamente avassaladores. Naipe de metais destruindo, wah-wah comendo solto, piano martelando o piso e os vocais grudando vários "yeahs yeahs" em nosso pensamento. Além disso, mais uma aula de Kath na guitarra, agora abusando de escalas jazzísticas, enquanto Lamm e Seraphine parece estarem em um frenesi alucinógeno. Que solo, para tirar o fôlego! Destruídos com  ferocidade de "Sing A Mean Tune Kid", os ouvintes são massageados pela singela beleza de "Beginnings", faixa linda para se declarar ao seu amor, com Lamm cantando magnificamente, e a guitarra de Kath embalando corações. É a quinta faixa do álbum de estreia dos americanos a aparecer em Carnegie Hall, e encerra o Lado C com os metais mandando ver sobre a ginga de bateria, guitarra e baixo.

Peter Cetera (acima) e Danny Seraphine (abaixo)

"It Better End Soon" e seus cinco movimentos ocupam todo o lado D. Nesta faixa que originalmente também ocupa quase todo o lado D de Chicago, temos de tudo. São 16 minutos do Chicago quase progressivo, começando por mais um veloz solo de guitarra, o riffzão do naipe de metais, o vozeirão de Kath estourando as caixas de som, o baixo de Cetera socando nossa cara na parede, passando por solos individuais de flauta, onde Parazaider apresenta alguns temas tradicionais, acompanhado pela leve percussão de Seraphine. Kath também nos abrilhanta os ouvidos com um veloz e furioso solo, acompanhado por muita percussão e todo o groove do baixo de Cetera. Kath também declama (a berros) também um grandioso poema antiguerra, batizado de "Preach", que inclusive está no livreto que acompanha o álbum. 

Vamos para os Volumes III e IV, ou melhor, o terceiro e quarto vinil de Live at Carnegie Hall, retornando para Chicago Transit Authority com a faixa de abertura daquele álbum, "Introduction", uma das melhores faixas da carreira dos americanos, com os metais criando um riff marcante, a bateria avassaladora de Seraphine e os vocais graves de Kath sacudindo a casa. As viradas e pontes da canção encaixam-se muito bem em discos progressivos de bandas como King Crimson ou Gentle Giant, com uma perfeição incrível, e o solo de trompete, com o dedilhado de baixo de Cetera, é simplesmente de chorar. Mas segure as lágrimas, por que o que Kath faz na guitarra não é apenas para chorar, mas para arrancar os cabelos pensando como o cara consegue tocar tão rápido. Que sonzeira! Faixa espetacular para iniciar alguém na obra do Chicago. "Mother" e "Lowdown", faixas que abrem o Lado C de Chicago III, encerram o lado E de Live at Carnegie Hall, apresentando mais influências progressivas, e com destaque para o acompanhamento de baixo de Cetera durante o sensacional solo dos metais na primeira, cantada por Lamm, e para o ritmo dançante da segunda (dê-lhe wah-wah e baixão estourando as caixas de som).

Walter Parazaider (acima) e James Pankow (abaixo)

Para o lado F, seguimos com Chicago III, através das três primeiras partes de "Travel Suite": o country rock de "Flight 602", lembrando Buffalo Springfield ou até mesmo Poco; "Motorboat to Mars", momento solo de Seraphine, usando muito dos tons e viradas rápidas, em um estilo muito peculiar de tocar; e "Free", uma pancada anti-vietnã no nível de "Introduction", na qual é difícil dizer o que é mais destacado, se as harmonias vocalizações, as intervenções dos metais, o ritmo avassalador da cozinha Cetera-Seraphine, os vocais arregaçados de Kath, o saxofone alucinado de Parazaider ou as viradas precisas do hepteto. Outra baita sonzeira para destruir a casa. Depois de arrasados com "Free", somos levados para Chicago e a balada "Where Do We Go From Home", conduzida pelo piano de Lamm e a voz de Cetera, já dando indícios do que um dia o Chicago conseguiria fazer com melosidades, encerrando o terceiro disco com o bluesão "I don't Want Your Money", de Chicago III, e mais uma pequena aula de Kath ao wah-wah, preparando então o caminho para o LP final.

A dançante "Happy Cause I'm Goin Home", de Chicago III, chega com as vocalizações e o embalo da guitarra de Kath, mas o grande destaque vai para o magistral solo de flauta de Parazaider. Na sequência, entramos para a suíte "Ballet for a Girl in Buchanan", com suas sete partes, e originalmente gravada em Chicago. Essa faixa é um desbunde total. Logo na abertura, os metais apresentam o riff progressivo de "Make a Smile", repleto de quebradas, muito complexo. A voz soul e rouca de Kath surge embalada pela poderosa cozinha de Cetera e Seraphine, e os metais tomam conta, com passagens e riffs fantásticos. Kath comanda o embalo e também faz um solo primoroso, veloz, arregaçante, abusando das escalas jazzísticas, enquanto a quebradeira come solta ao fundo. Repentinamente, a canção muda, e em uma escala decendente, temos mais uma amostra progressiva do Chicago ("So Much To Say, So Much To Give"), levando ao solo de trompete de "Anxiety's Moment" e as intrincações Zappianas de "West Virginia Fantasies". Se colocassem isso para eu ouvir, ia chutar que era algo de Zappa na fase The Grand Wazoo ou Over-Nite Sensation, tamanha a intrincação. Então, sob muitos aplausos, o piano de Lamm começa a dedilhar delicadamente em "Colour My World", e após a bela letra, mais um lindo solo de flauta por Parazaider. "To Be Free" é a penúltima parte da suíte, com mais um espetáculo dos metais, fechando então com "Now More Than Ever", que resgata a letra de "Make Me Smile". 

Lee Loughnane

O último lado é talvez o melhor de todos. "Puxa, mas depois de tudo que você escreveu ainda dá para melhorar?". Sim, e muito. Abrindo os trabalhos do lado H, o trombone sinistro de Pankow em "A Song for Richard and His Friends", canção inédita na qual Terry Kath mostra por que era um dos maiores ídolos de Jimi Hendrix. É um show de alavancadas e feedbacks para poucos, emulando trechos de "Free Form Guitar" (Chicago Transit Authority. Como que a guitarra aguenta tanta alavancada não dá para explicar. Os metais também fazem misérias, em uma intrincada sessão puramente progressiva. A guinada bluesy da canção, através da entrada do solo de hammond, é genial! Temos então mais um belo show dos metais, e claro, Kath mandando ver em seu solo veloz e com as escalas jazzísticas sendo dedilhadas com uma precisão robótica. Repentinamente, voltamos a quebradeira inicial, encerrando uma canção fantástica.

Na reta final, "25 or 6 to 4", de Chicago, coloca o salão do Carnegie Hall para dançar. O riff dos metais surge, e logo imaginamos que esse riff poderia estar na abertura de um programa esportivo. As passagens de metais, o vocal gritado de Cetera e um refrão forte irão fazer você sair pulando pela casa entoando o nome da canção, e cara, o que os metais participam aqui ... E Kath de novo nos brilha com outro grandioso solo, acompanhado pelo baixão de Cetera e o ritmo incansável da bateria. Demais! O ritmo avassalador de Seraphine continua em "I'm a Man", de Chicago Transit Authority. Lamm, Cetera e Kath dividem os vocais, e também a atenção de seus instrumentos durante a primeira metade da canção, com Cetera puxando a guitarra e o hammond fazendo o riff central. Na segunda, temos o longo solo percussivo, comandado pelo ritmo de Seraphine, e com os membros do naipe de metais mandando ver em diversos instrumentos percussivos, fechando com chave de diamante esse brilhante e subestimado álbum ao vivo.

Live at Carnegie Hall alcançou a terceira posição em vendas nos Estados Unidos, sendo até hoje o álbum quádruplo mais vendido da história, e foi durante muito tempo o Box Set mais vendido de todos os tempos, sendo superado apenas em 1987 por  Live/1975-85, a caixa de 5 LPs de Bruce Springsteen, mas fracassou na Europa. Muitos jornalistas criticaram o Chicago pelo excesso do álbum, seja pela longa duração, por registrarem até os momentos de afinação e conversas com a plateia, e claro, pelos extras do box. Dentro da banda, Cetera e Pankow também criticam a mixagem do disco, qualificando-a como pobre, sendo que Pankow acusou o naipe de metais de soarem como Kazoos - o famoso mirlitão, ou cornetinha de aniversário - o que discordo fortemente, mesmo tendo ouvido a mixagem posterior, considerada muito melhor, quando do lançamento em CD triplo, ou na versão DELUXE, que traz réplicas de todo o material lançado no box original, além de quatro CDs, sendo um deles somente de faixas bônus. 

A versão em CD, imitando o lançamento original, com os três pôsters

Falando nesse relançamento, as canções do CD bônus, a saber "Listen" (6/4/1971), "Introduction" (6/4/1971), "South California Purples" (5/4/1971), "Loneliness Is Just A Word" (8/4/1971), "Free Form Intro (Naseltones)", "Sing A Mean Tune Kid" (8/4/1971), "A Hour In the Shower" (8/4/1971) e "25 or 6 To 4" (6/4/1971), todas registradas naqueles dias de Chicago no Carnegie Hall, atestam ainda mais a grande perda que foi Terry Kath. O cara faz misérias em solos velozes mas repletos de muito feeling. Lamm também é outro que está tocando muito bem ao piano nessas canções, e que acrescentam mais uma hora de música para as já 3 horas de duração do box original.

Voltando então ao lançamento principal, Loughnane é o mais forte, alegando que o álbum nunca deveria ter sido lançado. Mas sou muito contrário a essas opiniões. Acho a qualidade de gravação muito boa, que nos remete diretamente para dentro de uma sala como o Carnegie Hall, não só como colecionador que aprecia os incríveis mimos que estão neste lançamento, ou pelas ótimas músicas que entretem por três horas, mas principalmente, por que Live at Carnegie Hall nos mostra como uma banda gigante como o Chicago pode soar em um palco, deixando também aquela dúvida de como que uma banda com composições tão incríveis pode ter mudado tanto de estilo ao longo dos anos. Para ouvir e se deleitar!

James Pankow, Robert Lamm, Walter Parazaider, Peter Cetera, Lee Loughlane, Danny Seraphine e Terry Kath

Track list

1. In The Country

2. Fancy Colours

3. Does Anybody Really Know What Time It Is? (Free Form Intro)

4. Does Anybody Really Know What Time It Is?

5. South California Purples

6. Questions 67 And 68

7. Sing A Mean Time Kill

8. Beginnings

9. It Better End Soon

10. Introduction

11. Mother

12. Lowdownd

13. Flight 602

14. Motorboat To Mars

15. Free

16. Where Do We Go From Here

17. I Don’t Want Your Money

18. Happy Cause I’m Going Home (Ballet For A Girl In Buchannon)

19. Make Me Smile

20. So Much To Say, So Much To Give

21. Anxiety’s Moment

22. West Virginia Fantasies

23. Colour My World

24. To Be Free

25. Now More Than Ever

26. A Song For Richard And His Friends

27. 25 or 6 To 4

28. I’m A Man


quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Ouve Isso Aqui: Guitarristas Subestimados




 Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Ronaldo Rodrigues

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno e Mairon Machado

Impressiona a quantia de bons guitarristas que o rock legou (e continua legando) para a humanidade. O objetivo dessa seção é pegar um apanhado de guitarristas que não alcançaram grande fama e sucesso em seus trabalhos e, apenas por isso, não figuram na lista dos melhores guitarristas de todos os tempos. É bom cifrar que essas listas são, em sua maioria, listas dos melhores guitarristas famosos. Aqui nós buscamos ir um pouco além e trazer uma seleção de guitarristas de alto calibre de diferentes épocas e vertentes do rock. Além disso, a busca visa ofertar bons guitarristas inseridos em bons discos. (Ronaldo Rodrigues)

Joe Beck - Nature Boy [1968]

Ronaldo: Joe Beck poderia, com tranquilidade, ser contado entre os guitarristas que ajudaram na evolução exponencial do instrumento na segunda metade dos anos 60. Jimi Hendrix virou a grande alegoria dessa evolução, mas ele não estava só nessa. E Joe Beck era um dos que corria por fora - seu trabalho solo, de 1968, é uma prova da técnica inovadora e criatividade do garoto. Além do repertório cativante, Beck gravava várias camadas de guitarra, usando diferentes efeitos e abusando do estéreo. O cara era bom na guitarra limpa ou na distorcida, usando com maestria o efeito wah-wah (ainda uma novidade na época), bem como no violão. É um disco que vai além de ser um disco de guitarrista - Nature Boy é um excelente álbum de rock, em fusão com outros estilos, com todo o sabor variado do fim dos anos 60.

André: Tá aí um cara que gosta bastante do wah wah. Um disco com pegada, energia, apesar da capa aparentar algo mais folk e relaxado, o álbum traz muito de rock, jazz e fusion. O disco é muito variado e com faixas para todos os gostos. Sua voz também é bastante agradável. Não conhecia este guitarrista e fiquei bem interessado em seus outros trabalhos.

Daniel: Eu nunca havia escutado este álbum ou mesmo ouvido falar em Joe Beck. Gostei deste álbum, tem aquela aura do fim dos anos 1960s e pré-70s. A psicodelia tem uma presença marcante na obra, com a guitarra liderando o trabalho, mas permitindo que os demais instrumentos brilhem. Álbum bem legal.

Davi: Confesso que não conhecia o trabalho desse cara. Dei uma lida sobre ele e vi que ele tocou com grandes músicos do jazz e, por conta disso, achei que essa seria a dinâmica do álbum, mas não é bem assim. Sim, há referências claras de jazz na construção das músicas, mas há também uma enorme dose de psicodelia nos arranjos e até uma influência do blues. E são justamente os momentos mais “roqueiros” que me chamaram a atenção. As faixas “Let Me Go”, “No More Blues” e “Ain´t No Use In Talkin´” são minhas favoritas. Achei o disco bom, muito bem tocado, várias faixas interessantes. Os pontos baixos ficam por conta do trabalho vocal (não compromete, mas não emociona) e a fotografia da capa, que em nada parece álbum de um guitarrista. Parece mais um trabalho solo do cantor do Rinaldo & Liriel, do que qualquer outra coisa. De todo modo, vale uma checada.

Fernando: Em um tema sobre guitarristas o que me chamou atenção logo de cara na primeira música foi o baixo. Também estranhei um pouco e até achei que estava ouvindo o disco errado, pois eu fui ouvir o disco com a informação de que Joe Beck era um guitarrista de jazz mas o que encontrei foi um rock psicodélico, cheio de whah whah, muito característico do ano do lançamento do disco. Também pensei comigo como alguém que se compromete a tocar jazz pudesse ser um guitarrista subestimado, já que esse é um estilo que você precisa ser considerado no mínimo bom para começar a tocar. O que fica claro logo na segunda faixa, “Spoon’s Caress”, com seus dedilhados bem intricados. Aí eu fico na dúvida se muitas vezes os considerados subestimados são só desconhecidos mesmo. Nessa caso eu estaria na segunda opção, já que desconhecia completamente Joe Beck. Belo disco! Vai ficar na minha lista de audições por mais tempo.

Mairon: A estreia de Joe Beck é um daqueles álbuns clássicos obscuros do final dos anos 60, graças ao estilo único do guitarrista tocar, seja pisoteando o wah-wah com elegância como na faixa-título, "Goodbye L. A." e "Maybe", ou dedilhando o violão no melhor estilo folk em "Please Believe Me" (lindíssima, ainda mais com o solo de piano) e "Spoon's Caress" . Aprecio muito as harmonias vocais que Beck emprega ao longo do disco, e também da utilização de um excelente naipe de metais em "Ain't No Use In Talking" e "Let Me Go". Apesar de ser um guitarrista de mão cheia, é no piano de "Come Back: Visions Without You" que o artista cria sua melhor obra nesse álbum, acompanhado pelo trompete demoníaco de Randy Brecke. Faixa delirante, assim como a sensacional "No More Blues", com uma introdução magnífica com orquestra que desencadeia em um blues animado onde Beck pisoteia seu wah-wah com gosto. Mais uma bela indicação do Ronaldo por aqui!

Elliott Randall - Randall's Island [1970]


Ronaldo: Randall era um guitarrista de estúdio que resolveu se arriscar com um projeto próprio. Se o sucesso não veio, do ponto de vista artístico, o primeiro disco que gravou com seu nome foi um primor em termos musicais. A técnica e as qualidades guitarrísticas estão em primeiro plano, mas uma banda afiada o acompanha em temas instrumentais e com vocais. O estilo parte do blues-rock, mas incorpora naipes de metais e percussões, se aproximando de Chicago e Blood, Sweat and Tears. O timbre de Randall é ardido e muito característico, repleto de personalidade; Randall joga o tempo todo para o time, ainda que ele seja o líder inconteste do trabalho. Suas qualidades como músico de estúdio o renderam participações em grupos como o Steely Dan. Um dos solos de guitarra da faixa "Reelin in the Years" é de sua lavra e Jimmy Page o contava com um de seus solos favoritos em todos os tempos.

André: Um blues rock do estilo que gosto: pegado, com energia e ao mesmo tempo que consegue soar algo fino e com classe. Você sente tanto aquela coisa mais selvagem do rock ao mesmo tempo que o baixo e a bateria colocam aquele requinte do blues e do jazz. O disco é curtinho, passou rápido e deixou ótima impressão.

Daniel: Este eu também nunca havia ouvido. Disco muito interessante, baseado em uma sonoridade que eu curto muito (Blues Rock), por vezes com doses muito bem colocadas de peso e de intensidade. Os solos esbanjam feeling e o trabalho da guitarra é cativante. Minha preferida foi " Mumblin' To Myself".

Davi: Elliott Randall é um músico que não é muito conhecido entre o grande público, mas é um nome manjado entre os músicos. Esse cara já chegou a tocar com grandes nomes como Steely Dan, Carly Simon, Peter Frampton... Chegou até a participar dos álbuns solo que o Gene Simmons e o Peter Criss lançaram em 1978. Randall´s Island é um disco muito bacana e traz um repertório bem variado. “Take Out The Dog, Bark The Cat” e “Mumblin´to Myself” embarcam no blues. “Jolly Green Giant and the Statue of Liberty” cai de cabeça na psicodelia. “Soulflower” conta com uma jam que possui os 2 pés no jazz, enquanto “Life In Botanical Gardens” é uma balada pop repleta de violões e vocais bem trabalhados que poderia, muito bem, ter tocado nas FM´s da época. Disco bem legalzinho e bem construído.

Fernando: Um início com uma mistura de vários estilos em uma faixa instrumental que me deixou com a impressão de este ser um disco totalmente sem vocais. Mas logo na segunda faixa isso se mostra errado em uma bela canção com vocais bem suaves, flautas e tudo o mais, representando bem o nome da faixa “Life Is a Botanical Garden (Oh, Yes)”. Já a próxima faixa é mais aquilo que eu esperava em um disco de blues rock. No geral um ótimo disco que eu também desconhecia totalmente.

Mairon: Um dos músicos de estúdio mais requisitados de sua geração, tocando com nomes tão diversos quanto os caras do Kiss e Steely Dan até Joan Baez e Chuck Berry, faz aqui sua estreia solo. Acompanhado de uma bandaça, cujo destaque maior é o saxofonista Paul Fleisher, Elliott manda ver em um álbum envolvente, com canções chapantes típicas do final dos anos 60, vide o embalo de "Brother People", a pancada instrumental "Sour Flower" ou a complexa e pesada "Bustin’ My Brains", com um grande solo de baixo carregado de distorção. Quando envereda pelo blues, o cara se sobressai com faixas swingadas e muito bem elaboradas para o estilo, vide "Mumblin' To Myself", onde o embalo da guitarra junto a participação do hammond dão um toque especial para a canção, e "Take Out The Dog & Bark The Cat", para ouvir balançando a perna com um copo de uísque na mão. E que maravilha o arranho acústico de "Life In Botanical Gardens (Oh, Yes)", onde os vocais suaves de Elliott brilham junto de um acompanhamento incrível, assim como o hammond de "All I Am’s", linda demais. Desnecessária apenas "Jolly Green Giant and the Statue of Liberty", que nada acrescenta para este bom disco. Como os anos 70 pariram discos fantásticos, e este é mais um.

.Philip Catherine - September Man [1975]

Ronaldo: Na praia do jazz-rock, haveria incontáveis nomes a se incluir nessa relação de discos. Mas o guitarrista belga Philip Catherine merece destaque, pois além da técnica apurada, detém uma assinatura muito original em seus solos e composições. No estilo fusion muitos guitarristas "velocistas" apareceram, mas Catherine sabia também muito bem tocar lento e soar celestialmente melódico, como se pode atestar pela bela faixa de abertura do álbum em questão. O álbum é bastante variado, indo desde abordagens mais tradicionais, a terrenos mais experimentais e de forma livre, nos quais a guitarra de Catherine sempre cria o clima perfeito. Catherine foi um substituto à altura de Jan Akkerman no Focus e até hoje lança ótimos discos de jazz, merecendo maior chance de reconhecimento entre os apreciadores de boa música.

André: Esse eu achei o mais fraco da lista. Sem muitos abusos e ousadias (em termos de prog), há um trabalho sólido em que se misturam guitarras, piano e a cozinha de baixo e bateria. Tenta pegar uma vibe progressiva mas com transições nem sempre suaves. Alguns solos legais, outros nem tanto. O baixo bem prog não me agradou. Um álbum mediano. A que gostei mais foi "When It Is - The Beginning" que lembra aqueles folks mais tradicionalistas que gosto bastante.

Daniel: Achei este o melhor álbum da lista. Primeiro, porque sou um apaixonado por Jazz, segundo, pois o álbum é realmente muito bom. "T.R.C." é uma canção espetacular e o que Catherine faz na guitarra nesta faixa é inacreditável. Também merece destaque o trompetista Palle Mikkelborg. Jazz Fusion de muito boa qualidade.

Davi: Esse cara eu já conhecia alguma coisa. Não sou um estudioso de sua obra, mas já tinha escutado alguns discos dele. Esse September Man, se não me engano, foi o disco que meio que colocou ele no mapa. De todo modo, apesar da importância do álbum em sua trajetória e da alta qualidade técnica de todos os envolvidos, o disco não me cativou. Considero esse trabalho um pouco cansativo, não tem nenhuma faixa que realmente me cative, me emocione. Em relação ao trabalho de guitarra, realmente é fantástico e muito bem elaborado, onde destaco a canção “When It Is – The Middle”. Não é um disco que faz minha cabeça, mas foi legal ter sua presença por aqui. É um nome que não esperava dar as caras aqui no Consultoria.

Fernando: Aqui entra novamente aquela dúvida: subestimado seria porque não dão valor ao nível musical da pessoa, ou pelo desconhecimento do público. Novamente não podemos dizer que o cara é um excelente músico, mas quantos músicos talentosos não foram reconhecidos não? O resultado depende de tanta coisa que é difícil dizer um só motivo, mas o fato de tocar um estilo que não é um dos preferidos das massa também não ajuda, não é?

Mairon: Phillip Catherine é um gênio subestimado. Uma carreira solo brilhante, a parceria incrível com Larry Coryell, uma passagem no mínimo interessante com o Focus, substituindo o também genial Jan Akkermann, e uma técnica incrível que passa do jazz ao rock com uma naturalidade monstra. Dito isto, vamos a September Man. Logo de cara, Catherine já apresenta seus dedilhados tradicionais e viajantes na linda "Nairam" , que se repetem na intricada "T.P.C."., com um solo veloz e muito representante da carreira do guitarrista, e na tímida mas eficiente "Monday 13". A banda que acompanha Catherine também é excepcional, o que não poderia ser diferente advindo de alguém tão perfeccionista quanto o belga.  Que maravilha é ouvir algo como a suíte "When It Is", e suas três distintas partes, com muitas inspirações em Miles Davis, e com a segunda parte, "The Middle", fazendo brilhar o piano elétrico de Jasper Van't Hoff, na melhor linha Chick Corea. E é exatamente quando Catherine envereda pelo jazz que a coisa fica demais, vide os hipnotizantes dez minutos de "Nineteen Seventy Fourths". Discaço!!

Pat Travers Band - Go for What You Know? (live) [1979]

Ronaldo: O canadense Pat Travers era um autêntico guitar-hero, daquele tipo que fazia sua guitarra falar alto e cativar grandes plateias com rocks empolgantes e performance incendiária. Ouvi-lo ao vivo, com sua banda de apoio que contava com Tommy Aldrige na bateria, e o segundo guitarrista Pat Thrall, é certeza de ouvir ótimos riffs, timbres marcantes e solos de guitarra faiscantes. O som de Pat as vezes até se conecta com o de seus conterrâneos do Mahogany Rush, com bases funkeadas e inspirações Hendrixianas. Travers, todavia, tinha um variado conjunto de ideias e referências, que lhe faziam soar apenas como ele próprio.

André: Esse eu conheço e adoro! Hard rock daqueles pesadões nervosos com uma energia gigante, animação e bateção de cabeça! Não tinha ouvido esse ao vivo e curti muito. "Heat the Street", que solo mais ao final da música! Ronaldo me provou agora mesmo que este foi o guitarrista mais subestimado da lista e um dos mais subestimados do rock. Não é possível que esse cara não tenha feito sucesso mundial.

Daniel: Eu nunca fui fã de álbuns ‘ao vivo’ e não será este que vai me fazer mudar de ideia. Apesar disto, eu gostei das canções, as quais contam com um viés feroz e boas doses de agressividade. Os riffs e solos de guitarra são muito bons e este é o tipo de sonoridade que eu costumo gostar bastante. Minhas favoritas são “Gettin’ Betta” e “Stevie”.

Davi: Esse é, certamente, o álbum que mais me empolgou nessa seleção. É um que vou tentar arrumar uma cópia para mim, inclusive. Também não tinha como dar errado, né? Pat Travers é um baita músico e o time que está por trás dele é sensacional. Temos aqui, nada mais, nada menos do que Pat Thrall (muito lembrado, no Brasil, pelo álbum que gravou ao lado do Glenn Hughes, no início dos anos 80) e o monstro Tommy Aldridge (dispensa apresentações). Pat Travers arregaça na guitarra e a banda tinha uma energia fora do comum. No repertório, vale destacar a explosiva “Hooked on Music”, a swingada “Go All Night”, o inspirado cover de “Boom Boom (Out Go The Lights)”, além da empolgante “Makes No Difference”, que conta com um solo de guitarra inspiradíssimo. Para ouvir no último volume!

Fernando: Curioso entrar discos ao vivo nesses tipos de matérias que a gente faz. Quase nunca ninguém indica esse tipo de material. Aqui, no quarto disco dessa séria de indicações do Ronaldo Rodrigues eu já estava me sentindo mal por não conhecer nenhum deles. Porém mais um daqueles que vão deixar ainda mais longa a lista de coisas que eu tenho (ênfase no verbo ter) que ouvir. A faixa de abertura mesmo é uma paulada! Lembrei até da expressão “rock pauleira” que ouvia de meus tios quando era criança (e eu tava ouvindo Titãs ou algo do tipo). Gostei também, exceto de “Boom Boom” que achei chatinha.

Mairon: Hardzão comandado pelas guitarras dos Pats (Travers e Thrall), que soa quase como um Lynyrd Skynyrd mais pesado, com o excepcional arroz de festa Tommy Aldrige na bateria e Mars Cowling no baixo. É um álbum bem regular, mas que não me impacta como os demais aqui indicados. Dá de dançar tranquilo com "Gettin' Betta", e curtir a baladaça "Stevie", com seu lindo solo de guitarras gêmeas. Mas aí que está. Ao ouvir esse solo, ou sons como o boogie de "Boom Boom (Out Go The Lights)", ou até mesmo a boa abertura de "Hooked On You", e a pegada "Makes No Difference", fica aquela sensação de que já ouvi algo similar (e melhor) anteriormente. E o vocal de Pat Travers, convenhamos, é bem fraquinho. É um bom disco, é sim, mas falta alguma coisa para me conquistar a ponto de adquirir ou ouvir mais frequentemente.

Earthless - Rhythms from a Cosmic Sky [2007]

Ronaldo: Quando apresentamos um disco todo instrumental, com apenas uma única música de cada lado (ou duas faixas em CD/digital) como uma longa jam, podemos ver uma horda de narizes torcidos. Mas quando nesse disco se encontra um guitarrista talentoso, como o norte-americano Isaiah Mitchell, há muitos que podem se converter. O disco começa com uma sessão de efeitos sonoros vindos de outra galáxia, para que uma avalanche de riffs espertos e pesados invada os alto-falantes. Mitchell segura muito a onda com solos inventivos, nada tediosos, e bases nervosas. A cozinha oferecida por Mario Rubalcaba (bateria) e Mike Eginton (baixo) também ajuda bastante. O disco é pura potência, com muita variedade. É guitarra em alta octanagem para estourar os ouvidos!

André: Gostei desse stoner rock. Apesar de ter uma receita típica para deixar todos de cabelo em pé (músicas muito longas e solos infinitos), achei um ótimo disco desse lado do rock que anda ganhando cada vez mais adeptos. A segunda canção, "Sonic Prayer" é a melhor. Achei que seria um álbum demorado, mas até que desceu bem. Já tinha ouvido alguma coisinha do Earthless antes, mas nada que me chamasse a atenção. Independente disso, o Ronaldo escolheu um disco mais "atual" bem bacana para fazer parte dessa lista.

Daniel: Este eu achei bem chatinho. O disco é composto de 2 faixas de mais de 20 minutos cada uma, cada qual mais interminável que a outra, fica a sua escolha quem seria a pior. Não é que seja terrível, não é o caso, mas foi uma sonoridade que definitivamente não me pegou.

Davi: Achei esse álbum interessante. Não é espetacular, mas foi curioso ouvir. O disco, na verdade, são 2 faixas. Cada uma durando um pouco mais de 20 minutos. “Godspeed”, a primeira delas, começa com uma introdução de aproximadamente 3 minutos com os músicos fazendo uma bagunça sonora. No início, não estava botando muita fé. Suspeitava que seria mais um daqueles discos artísticos sem pé, nem cabeça. Graças a Deus, estava equivocado. A faixa instrumental conta com uma pegada stoner, com os músicos tocando com garra e Isaiah Mitchell debulhando na guitarra. O riff remete à Sabbath, mas o solo apresenta claras influências de Hendrix. Influência que fica ainda mais escancarada na jam instrumental “Sonic Prayer”, onde o músico, mais uma vez, é o grande destaque. Algumas versões desse disco trazem o bônus “Cherry Red”, um cover do Groundhogs. A versão é bem bacana, bem enérgica e conta com um trabalho vocal correto. (Infelizmente, não consegui a informação de quem gravou a voz). Para quem curte rock instrumental, pode ser uma boa pedida.

Fernando: Nem havia percebido que tinha um disco “recente” aqui na lista. Apesar que a sonoridade e até a capa até confunde com algo dos anos 70. Essa introdução longa eu não curti, mas entendo que faz parte do tipo de som. No geral é calcado nos anos 70, mas adota aquela linguagem mais stoner que também nunca me fez tanto a cabeça. Estou no meio da audição e estou preocupado em não gostar do disco mais recente e ser taxado de ser daqueles que “só gostam de velharias”. Lá pelos 6 minutos da primeira faixa tem uma passagem mais rápida, quase heavy metal, que é bem legal. O disco só tem 3 músicas sendo duas seguidas com 20 minutos. Quero só ver fã de Iron Maiden reclamando disso aqui nos comentários, hein! Entendo o motivo dele estar aqui, o guitarrista pira em vários momentos, mas no geral o disco não me pegou.

Mairon: Não conhecia essa banda, e fui pego de surpresa com um trio que manda ver em um instrumental stoner/hard de ótima qualidade. Os caras tem uma grande pegada, e principalmente, ótima criatividade. São duas longas faixas que parecem ser uma longa série de improvisos em cima de bases pré-determinadas, o que em nada desqualifica o resultado final. Solos rasgados de guitarra feitos pelo competentíssimo Isaiah Mitchell competem com uma cozinha que manda ver sem piedade, e é uma audição muito boa, para curtir viajando com sua air guitar. Ambas as faixas são excelentes, mas curti mais o vigor da primeira, "Godspeed", em relação as viajantes e improvisantes passagens de "Sonic Prayer", que é uma canção mais "chapante" em relação a sua irmã. De bônus, uma versão poderosa para "Cherry Red", do The Groundhogs. Belo disco, e surpreendente.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Capas Legais - Crush With Eyeliner [1995]


Hoje, o Capas Legais traz a irreverente capa do single de 7″ de “Crush With Eyeliner”, canção originalmente lançada pelo R. E. M. no álbum Monster, de 1994, e cujo lançamento aqui apresentado é no formato de um calendário. Confira!



sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Brian May - Back To The Light [1992]



De outra feita, eu já apresentei nessa coluna de Discos Que Parece Que Só Eu Gosto o EP Starfleet, que Brian May lançou junto com o Van Halen. Porém, este não é o único lançamento dele que eu acredito estar nesta lista. Back to the Light também entra nesta barca.

Que Brian May sempre soube se cercar de bons músicos e ser uma espécie de Gene Simmons inglês, conseguindo lucrar um bom dinheiro com o seu passado no Queen, poucos podem duvidar. Particularmente, tenho uma certa antipatia com o guitarrista, principalmente por que não vejo com bons olhos sua vontade de seguir com o nome Queen mesmo sem Freddie Mercury e John Deacon. Porém, há muito tempo atrás, o guitarrista decidiu enveredar por uma carreira solo, e uniou forças com metade do Black Sabbath (na época) para parir seu primeiro LP. Os ex-Sabbath são nada mais nada menos que Cozy Powell (bateria), Neil Murray (baixo) e Don Airey (teclados), e que na época, haviam acabado de sair da turma do bigodudo Tony Iommi, por conta do retorno da formação com Ronnie James Dio, Geezer Butler e Vinny Appice.

Eddie Kramer, Neil Murray, Brian May e Cozy Powell

De 1988 a 1992, May compôs uma série de canções, que ganhou o mundo em julho de 1992 através de Back to the Light. No encarte, May já afirma que o homem que finalizou o álbum em 1992 é muito diferente do que o iniciou cinco anos antes, e que o fã irá ouvir é uma coleção de canções feitas ao longo do tempo, sem ter muito do que o fez sucesso com o Queen, mas sim traços de um músico pequeno e inseguro (no caso, ele mesmo). Com a participação especial de Geoff Dugmore (bateria), Gary Tibbs (baixo), Mike Moran (piano, teclados), temos aqui talvez o melhor disco solo de um Queen, batendo de frente em obras como Mr. Bad Guy (Freddie Mercury, 1985) ou Fun in Space (Roger Taylor, 1981).

O álbum começa com May entoando uma canção de ninar em "The Dark", trazendo parte da letra de "We Will Rock You" e apresentando acordes de sua Red Special que até uma formiga chapada reconhece. A vinheta, com pedaços registrados em 1980, surge pomposamente, com cordas, piano, harpa, preparando o terreno para o desenrolar do disco, então vem a faixa-título, concebida originalmente nos ensaios para The Miracle, com teclados e a voz de May, em um clima que lembra bastante faixas do álbum Made in Heaven, e com o refrão trazendo as marcantes vocalizações que consagraram o Queen, além de um solo característico de May.

Brian May

"Love Token" é um hard furioso, com Powell e Murray mandando ver na cozinha, bem diferente do que poderíamos esperar de algo vindo do Queen. O ritmo lembra algumas bandas do hard americano oitentista, mas com todo o charme e elegância britânica advindas dos vocais e da guitarra de May, encerrando com o blues do piano e da guitarra, e levando para a melhor faixa do disco, "Ressurection", um épico composto entre May, Powell e Jamie Page (não o do Led, mas do grupo australiano Black Alice), com uma pegada absurda por Powell, espancando a bateria, e de cara, com um magistral solo de May. Os vocais de May estão super agradáveis com a hardeira, e a guitarra é o centro das atenções junto com os teclados de Airey e a pancadaria de Powell. A faixa emerge por vocalizações sombrias, mas o ritmo incansável de Powell perdura ao longo de cinco minutos de tirar o fôlego. A sequência de solos de May é arrebatadora, e tudo encerra-se perfeitamente, em uma das melhores canções de toda a carreira de May.

Depois de toda a pancadaria, vem a clássica balada "Too Much Love Will Kill You", com May ao piano elétrico e teclados, cantando uma canção que se tornou conhecida no mundo inteiro, provavelmente a mais conhecida do álbum, já que ele havia apresentado a mesma no Freddie Mercury Tribute Concert meses antes. O único diferencial é que aqui May faz um solo de violão, além de entoar alguns acordes de guitarra e da presença sutil de cordas. Fechando o lado A, "Driven By You", uma faixa que retorna ao estilo Queen anos 80, e que poderia tranquilamente estar em qualquer álbum pós-Hot Space, contando com bons solos por May.

O guitarrista e sua Red Special

Teclados trazem "Nothin' But Blue", baladaça com a participação de John Deacon no baixo, mas bem diferente de qualquer balada Queen, mais próxima a um blues lento. "I'm Scared" é um rockzão com todas as características de May,  mas com a pegada de Murray e Powell levando a canção para um clima muito bom. O refrão dá vontade de cantar junto. Falando em blues, "Lost Horizon" é um bluesaço para curtir em uma noite com @ amad@, um insinuante andamento da guitarra solando sobre os teclados, que transforma-se repentinamente para um solo encantador, com os teclados de Moran ao fundo, e um ritmo gostoso. Bela faixa!

"Let Your Heart Rule Your Head" é um folk que lembra muito "'39", inclusive na melodia vocal, com a participação de backing vocals femininos a cargo de Suzie O'List e Gill O'Donovan, as quais também fazem os vocais da faixa-título, ao lado de Miriam Stockley e Maggie Ryder. A guitarra marca um pouco mais de presença em relação a faixa de A Night at the Opera, mas nada além. "Just One Life" é outra balada, com May acompanhado por apenas um violão e orquestrações, em uma faixa dedicada a Philip Sayer, encerrando com "Rollin' Over", um cover para essa ótima faixa do Small Faces, com participação de Chris Thompson nos vocais, e com muita guitarra estourando as caixas de som, fechando em alto estilo um belo disco a ser descoberto por fãs de Queen e de rock em geral. 

A banda de Brian May em 1993: Cozy Powell, Jamie Moses, Shelley Preston, Brian May, Cathy Porter, Neil Murray e Spike Edney

May ainda lançou outros trabalhos em carreira solo, e também ao lado da atriz e vocalista Kerry Ellis. Porém, a participação de Murray, Powell e Airey em Back to the Light dá um poder tão grande para o mesmo que creio que este seja o seu melhor álbum lançado fora do Queen, e mesmo assim, parece que só eu gosto dele. 

Contra-capa

Track list

1. The Dark
2. Back To The Light
3. Love Token
4. Resurrection
5. Too Much Love Will Kill You
6. Driven By You
7. Nothin' But Blue
8. I'm Scared 
9. Last Horizon
10. Let Your Heart Rule Your Head
11. Just One Life
12. Rollin' Over
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