quinta-feira, 27 de maio de 2021

Capas Legais: The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band [1967]


 

O Capas Legais de hoje apresenta a capa do aniversariante Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, lançado pelos The Beatles em 26 de maio de 1967 no Reino Unido (e 2 de junho nos Estados Unidos), e que revolucionou a história da arte das capas a partir de então, através de uma imagem além do usual, e também de uma maior atenção aos fãs com a inserção de letras e encarte. Confira, curta, compartilhe e não deixe de comentar e inscrever-se em nosso canal, além de ler nossos outros textos sobre este grande clássico da música mundial.



sexta-feira, 21 de maio de 2021

Consultoria Recomenda: Duos



 Por André Kaminski

Tema Escolhido por Marco Gaspari

Com Davi Pascale, Diogo Bizotto, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marco Gaspari, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo

Um belo tema escolhido, os duos do rock nada mais são do que bandas ou projetos criados por apenas dois membros que se responsabilizam por todos os instrumentos e vocais. Escolhemos oito discos de várias épocas. O que acharam de nossas escolhas?

Rodrigo y Gabriela - 9 Dead Alive [2014]

Por André Kaminski

Adoro esta dupla de violonistas que fazem um trabalho fantástico com solos e melodias usando apenas dois violões. Enquanto Rodrigo se foca nos solos e melodias, Gabriela é responsável pelas bases, ritmo e percussão batendo com as mãos no violão. A musicalidade é uma mistura de rock e flamenco e que demonstra o que apenas dois instrumentos comuns nas mãos de dois músicos brilhantes é capaz de fazer.

Davi: Rodrigo Sanchez e Gabriela Quintero são dois mexicaninhos que fazem música instrumental. Porém, usando apenas violão. As batidas com cara de percussão que você ouve aqui são realizadas por Gabriela no corpo do instrumento. Russo teria orgulho! Os arranjos misturam elementos de música clássica, rock e até mesmo heavy metal (aquela passagem aos 2 minutos de "Somnium”, por exemplo, faria Steve Harris ter orgasmos). Há um ‘q’ latino também, mas de leve (pelo que li parece que os trabalhos anteriores deixavam essa influência mais acentuada, mas ainda não ouvi os discos antigos para constatar). Os dois são excelentes instrumentistas, vale uma audição. Trabalho, no mínimo, criativo. Arriba!

Diogo: Surpreendente a audição deste álbum. “The Soundmaker” abre-o em grande estilo, mostrando que a dupla mexicana de violonistas constrói uma linguagem eclética, sem se prender às amarras de um gênero muito específico, impressão reforçada no decorrer do tracklist. Ao mesmo tempo em que solam muito bem, Rodrigo e Gabriela também exploram seus instrumentos de maneira quase percussiva, mostrando uma agressividade incomum para artistas desse gênero. “Misty Moses”, por exemplo, tem riffs que poderiam tranquilamente dar origem a uma canção thrash metal. Quem espera um álbum flamenco vai quebrar a cara, e levando em consideração o conteúdo de 9 Dead Alive, isso é muito bom!

Fernando: Legal a interação entre os dois violões. Estamos mais acostumados a ouvir as guitarras gêmeas, mas nunca twin acoustic guitars. Também é legal o uso de efeitos no violão, algo que não é tão comum. Mas é um tipo de som que se torna maçante com o passar do tempo, mesmo sendo extremamente bem tocado e perceptivelmente de alta qualidade.

Mairon: Mas que disco espetacular!! Adoro violão clássico, e o que esses dois fazem é muito belo. Nada sobrenatural como um Larry Coryell & Phillip Catherine (minha segunda opção era Splendid, mas achei que o Ronaldo ia pegar) ou o trabalho do mesmo Larry Coryell com Kazuhito Yamashita em As Quatro Estações, mas mesmo assim, de alto nível. O principal mérito para a dupla mexicana é que todas as canções foram criadas apenas por eles, e não se prendem só ao clássico, mas também navegam pelo heavy metal ("Soundmaker" e "Misty Moses"), blues ("Torito"), hard rock ("Russian Messenger"), ao mesmo tempo que a elegância de "La Salle des pas Perdus", o ritmo alucinante de "FRAM", os harmônicos de "Somnium" e a beleza singela de "Megalopolis" fazem de ambas obras para ficarem eternizadas na história do violão erudito. Ótima surpresa, de músicos fantásticos, que acredito ser a melhor das indicações de hoje, e já estou indo atrás de outros álbuns dessa dupla mexicana.

Marco: O ignorante aqui não conhecia. E adorei.  Tanto que fui correndo na wikipedia saber se eram casados. Explico: diferente do Edgar e da Gazelle, o casal do Jucifer, esses dois levam todo o jeito de serem felizes na cama.

Ronaldo: Ao utilizar seus violões de forma pouco convencional e com elementos percussivos, essa dupla vai além do que espera de meros violonistas. Excelentes composições, performances fortes e intensas, a dupla mexicana surpreende no território da música instrumental. E o maior mérito para qualquer duo é conseguir suprir na música a ausência de outros instrumentos. Vi (e ouvi) que Rodrigo y Gabriela podem fazer isso até com os violões nas costas.

Ulisses: Incrível o virtuosismo deste duo de violonistas, unindo rock, metal e ritmos latinos de forma impressionante, criando sons que eu não imaginava que pudessem surgir do violão. E procurar vídeos da dupla no YouTube só pra entender a magia percussiva da Gabriela não tem preço!


 

Agridoce - Agridoce [2011]

Por Davi Pascale

Volto mais uma vez causando polêmica. Sei que muitos participantes dessa série não morrem de amores pela roqueira baiana. Entretanto, esse é um trabalho que me chamou a atenção. Afinal, ela entregou exatamente o contrario daquilo que se espera dela. As letras cheias de mensagens positivas deram espaço à letras mais introspectivas. A influência do grunge saiu fora e veio a influencia do folk. O vocal acelerado deu espaço à um vocal mais melódico, mais suave. Optaram por gravar o material em uma casa afastada e não em um mega estúdio hiper equipado. Seu companheiro Martin, sempre demonstrou ser um bom músico desde os tempos de Cascadura. A dupla funcionou bem e entregou um trabalho intimista, envolvente e bem amarrado. Não é necessário ser fã de Pitty para curtir esse disco. Ansioso para ver os comentários dos demais consultores.

André: Não lembro exatamente o que escrevi na época, mas o que posso dizer é que os discos solo da Pity nunca me agradaram, por isso, achei esse projeto Agridoce até com uma boa qualidade se fosse levar em consideração tudo aquilo que a baiana já produziu. Ela canta em tons bem afinados, tem uma pegada meio folk minimalista que até me agradam. Não é lá um grande disco, mas até que desceu melhor do que eu esperava.

Diogo: Uma das coisas que mais abomino no cenário rock brasileiro mainstream de uns 15 anos pra cá é a cantora Pitty. Sua incapacidade para unir boas melodias vocais a letras ao menos medianas me leva a perguntar como ela conseguiu fazer tanto sucesso. Em Agridoce, álbum lançado com o guitarrista Martin Mendonça, essa característica foi um pouco atenuada muito em fato de se tratar de um disco acústico e as canções pedirem interpretações menos incisivas. Mesmo assim, Pitty “briga” com as músicas em vários momentos, especialmente quando inventa de cantar em outros idiomas. Se a intenção do disco era, como li por aí, soar folk da maneira que Leonard Cohen, Nick Drake e Jeff Buckley soavam, o objetivo, definitivamente, não foi atingido. Pra não dizer que não gostei de nada, a faixa “O Porto” tem bons arranjos.

Fernando: Não sei se foi a baixíssima expectativa que eu tinha antes de ouvir o Agridoce, mas até que surpreendeu. A Pitty tocando piano também surpreendeu. Mas é o tipo de coisa que eu não ouviria em casa nem que faltasse opções.

Mairon: Disco bem bonitinho e surpreendente, ainda mais se sabendo que a vocalista é a Pitty, uma cantora que não tenho grande apreço, e que tem um sotaque inglês bem irritantezinho nos ouvidos, e pior ainda foi aturar um francês mais bisonho que uma performance clássica de G. G. Allin. Me agradei mais das músicas em português, como "Dançando", "O Porto" e "20 Passos", essa a melhor, disparada, mas não é um disco que me cativou. Pergunta: quem toca bateria e as cordas no álbum?

Marco: Dizer o quê? Sempre gostei da Priscila. E esse projeto com o Mendonça deixou um gostinho de quero mais. Pois é, quero mais.

Ronaldo: Disco bem harmonioso e com boas ideias. Mas falta "elã" pra desenvolver essas ideias e o disco padece de muitas repetições dentro das músicas. Essas boas ideias são espremidas até a hora em que se enjoa delas. As partes vocais são bem construídas e bem tratadas em estúdio. Da parte instrumental, um trabalho honesto, sem destaques. Porém, o disco não supera um pop insosso com melodias que já ouvimos em outras esquinas. Pitty tem talento e atitude para ser muito mais do que ela já é. Se eu a encontrasse na rua um dia, lhe diria: surpreenda-me.

Ulisses: Eu não conhecia esse lado folk da cantora. Delicado, sereno e melódico, o disco inteiro tem um clima intimista e contagiante. Vale a pena conferir!


 

Darkthrone - The Underground Resistance [2013]

Por Diogo Bizotto

O Darkthrone notabilizou-se como uma das principais forças do black metal legitimamente norueguês através de discos como A Blaze in the Northern Sky (1992) e Under a Funeral Moon (1993), mas a verdade é que Nocturno Culto (vocais, guitarra, baixo) e Fenriz (bateria e baixo) foram além. Do death metal de Soulside Journey (1991) a uma guinada rica em influências crust punk na segunda metade da década passada, o Darkthrone incorporou elementos mais tradicionais à sua sonoridade, cuja culminância encontra-se em The Underground Resistance, um verdadeiro compêndio de heavy metal forjado na década de 1980. Fortes influências de Celtic Frost antigo (ouçam "Dead Early") e de outros grupos totalmente "lado B", além de uma pitada de NWOBHM, mesclam-se em um trabalho que revisita até o falecido speed metal, culminando na longa "Leave No Cross Unturned", que ao mesmo tempo remete ao Slayer dos primórdios, ao lado mais épico do Bathory e até aos vocais de King Diamond no Mercyful Fate. Quem verdadeiramente gosta de heavy metal oitentista tem a obrigação de conferir este álbum. A dupla pode não esmerilhar em seus instrumentos, mas tem garra de sobra.

André: Esse estilo de metal é muito mais ao meu gosto do que a tradicional guitarra “zumbido de abelhas” de grande parte das bandas de black metal. Aqui vejo que a banda usa mais como base o death e o heavy tradicional, com a parte “black” muito mais como um tempero estético e lírico do que musical, o que conta pontos comigo. O surpreendente é saber que só dois caras gravaram tudo, se produziram e ainda por cima tocam bem todos os instrumentos. Uma ótima recomendação para quem curte sons extremos.

Davi: Não conheço muito a carreira do Darkthrone. Sei, pelo que li, que eles começaram em uma pegada black metal. Um gênero que nunca morri de amores. Se para alguns, Mayhem e Emperor são deuses, pra mim são uns tontos metidos à revoltadinhos. Escutando aqui, encontro bastante influencia de thrash e até mesmo de punk. Dois estilos vocais diferentes. Um mais vomitado, outro bem limpo, mas bem chatinho. Instrumental bem tocadinho, mas as composições são muito chatas. Não curti.

Fernando: A maior surpresa da lista. Esperava algo naquela linha de tosquera das bandas norueguesas do início de suas carreiras, mas o álbum se não é um primor de produção tem uma sonoridade muito boa se comparados ao A Blaze in the Northern Sky, por exemplo. Achei uma mistura de Tryptikon com o que o Bathory está fazendo nos seus discos mais épicos. Gostei também da voz de Fenriz que vai desde o gutural até o mais heavy metal dos agudos.

Mairon: Gostei dessa dupla. Death Metal bem feito e bem tocado. Assim como quase todas as bandas aqui citadas, desconhecia a mesma. Gostei de "Valkyrie" e das duas longas: " Come Warfare, the Entire Doom" e  "Leave No Cross Unturned", essa com agudos na introdução que me lembraram o saudoso Massacration, em uma faixa de 13 minutos com muitas variações. Também não é um álbum que eu vá comprar ou ouvir diariamente, mas valeu a experiência.

Marco: Sei lá que porra é essa. Jamais vou conseguir emitir opinião sobre bandas assim. Mas é gostoso de ouvir enquanto se engraxa o coturno.

Ronaldo: Um som realmente pesado e pelo que pude ler a respeito, tratava-se de uma banda completa e esse trabalho foi gravado como dupla, mas soa como banda, porque ambos se dividem na gravação do baixo. Algumas convenções de bateria são de entortar a cabeça e alguns solos conseguem fugir do convencional desses estilos mais extremos, especialmente pelo uso de efeitos incomuns no gênero. Como era de se esperar, o clima épico e fatal se faz presente. Quem não é fã do estilo, precisa de fôlego pra tanta distorção, mas a dupla é até capaz de agradar o ouvinte de rock em geral, pelo conteúdo musical e energia da performance. Porém, a necessidade de sempre soar pesado limita a experiência com esse tipo de banda.

Ulisses: Não sou um expert em black metal, mas considerando que é Darkthrone, esperava algo bem "tr00 kvlt from hell". Mas me parece mais algo punk, com um pouco de thrash, black e até heavy tradicional. O disco até que é agradável, especialmente as duas últimas faixas - aliás, é adequada a duração do disco, distribuída em apenas seis faixas, sem delongar-se. Mas não fez a minha cabeça.


 

Fripp & Eno - No Pussyfooting [1973]

Por Fernando Bueno

Um marco na carreira dos dois músicos. Fripp usou os equipamentos eletrônicos criados por Eno e criou seu próprio sistema chamado Frippertronics. Já Eno acabou se tornando um mestre da música ambiente e também desenvolveu habilidades no estúdio que o fizeram se tornar um grande produtor. O interessante é que Eno cunhou o termo música ambiente apenas alguns anos depois. O som é basicamente uma evolução de loops de guitarras com algumas inserções de teclados de fundo e sons espaciais. Quem conhece Fripp nos disco do King Crimson acostumou-se com guitarras ativas e virtuosas, mas certamente ficará surpreso com a sutiliza de sons desse projeto. Um disco com apenas duas longas faixas instrumentais com essas características pode parece esquisito, não usual e de difícil defesa, mas se o ouvinte romper a barreira que te impede de ouví-lo vai encontrar composições de uma beleza ímpar e totalmente únicas.

André: Não é uma audição fácil, mas eu costumo gostar dessas viagens sonoras, caso desse álbum aqui. Com Eno nos sintetizadores e Fripp "guitarreando", deu de curtir legal esse disco, um dos pioneiros da chamada "música ambient".

Davi: Jesus! Que troço chato. Não dá pra aguentar isso até o final nem tomando Eno!

Diogo: Quando o tema desta edição foi levantado, tive certeza que este disco estaria entre os citados, afinal, trata-se de uma dupla soberana entre tantas outras, não em termos de sucesso comercial, mas de criatividade e capacidade de surpreender os ouvintes. Para mim, que ouvi a “trilogia Berlim” de David Bowie antes deste álbum, fica bem claro em que tipo de sonoridade o cantor captou boa parte de suas inspirações para essas grandes obras. Robert Fripp, que já vinha mostrando-se um “paisagista sonoro” eficiente ao lado de seus colegas de King Crimson, encontrou um ótimo parceiro em Brian Eno, deslizando suas guitarras incomuns sobre uma base sonora formada pelas experiências levadas a cabo por Eno manipulando decks de fitas. Mesmo sendo um apreciador de estruturas tradicionais, gosto da audição de No Pussyfooting, mesmo quando parece haver discordância entre os elementos que compõem suas duas faixas.

Mairon: Brian Eno cria camadas de teclados e sintetizadores que servem como colchão para as orgias virtuoses de Robert Fripp, que usa e abusa de escalas furiosas no mais tradicional schizoid guitar, isso é No Pussyfooting. Foi o primeiro disco que me veio à mente quando foi sugerido esse Consultoria Recomenda, mas não quis citá-lo por que temi sobre a receptividade do mesmo. Afinal, é um álbum muito complexo, com duas longas e viajantes faixas que, ocupando cada uma um lado do vinil, praticamente inauguraram o movimento New Wave, trazendo aquele clima zen muito viajante, mas com boas pitadas de esquizofrenia e alucinações. Ótimo disco, mas para poucos.

Marco: Na capa do disco, lá embaixo, dá pra ver as cartas das Estratégias Oblíquas criadas pelo Eno e pelo artista plástico Peter Schmidt. A possibilidade de se ouvir o resultado das cartas em ação ajuda a digerir e a viajar nas texturas do frippertronics. Evening Star, o outro disco da dupla, também vale muito a pena.

Ronaldo: As orelhas flutuam ao se ouvir coisas dessa natureza. Robert Fripp e Brian Eno foram dois caras importantíssimos para a música dos anos 70 e dos anos seguintes, justamente pelo pioneirismo que mostraram em trabalhos como este disco lançado em 1973. Diferentemente dos músicos alemães, que muitas vezes experimentaram com parafernálias eletrônicas centrados apenas no som, estes dois músicos ingleses não deixaram de produzir música, apesar da abstração e artificialidade de tanto aparato. O resultado aqui é único e icônico.

Ulisses: Não sou lá grande admirador de música ambiente. Mesmo contando com dois músicos geniais criando uma atmosfera etérea, saí da audição do mesmo jeito que entrei.


 

Whitesnake - Starkers in Tokyo [1997]

Por Mairon Machado

David Coverdale e Adrian Vanderberg sozinhos, posam sob o grande nome de Whitesnake, e apenas com violão e voz, detonam e fazem os farofeiros de plantão chorarem com versões perfeitas para "Sailing Ships", "Love Ain't No Stranger", "Give Me All Your Love" e as clássicas "Here I Go Again" e "Is This Love", que apresentadas na sequência, facilmente irão agilizar a noite de amor com a companheira, além de apresentar aos fãs as novatas "Too Many Tears", "Can't Go On" e "Don't Fade Away", bem como resgatar do renegado Slip of Tongue versões melhores que as originais para "Sailing Ships" e "The Deeper the Love". O play encerra-se de forma MAGNÍFICA, com letras garrafais, com a dupla, ou melhor, o Whitesnake  surpreendendo em uma emocionante versão para "Soldier of Fortune". Um grande violonista e um grande vocalista, provando que boa música e clássicos não precisam serem construídos com bateria, baixo e teclados. Talento é a palavra que melhor define esse discaço.

André: Não tem jeito, quando tem qualquer bolacha com o título "Whitesnake" já fico todo alegrinho sabendo que vou ouvir músicas melosas e cheias de amor. Vandenberg no violão e Coverdale no vocal, aí é a receita de fazer o cabeludo aqui abrir um sorriso de felicidade.

Davi: Esse eu já conhecia! Comprei na época. Apresentação com voz e violão, apenas. O lendário David Coverdale e o espetacular Adrian Vanderberg realizaram essa apresentação no Japão, como o nome entrega, para um grupo seleto de fãs. O show intimista focava nas baladas do conjunto, contando ainda com uma versão matadora de “Soldier Of Fortune” (vinda dos seus tempos de Purple). Coverdale fez linhas vocais mais sutis, sem apostar em gritos, cantando várias notas para baixo, o que jogou à seu favor. (Embora estivesse com uma voz bem mais forte do que hoje, já apresentava algum cansaço nas cordas vocais). Os arranjos são bem resolvidos. Afinal, Adrian Vanderberg é um músico espetacular. Junta isso com composições pra lá de bacanudas e o resultado não poderia ser outro: uma audição super envolvente.

Diogo: Sendo um grande fã do Whitesnake, posso dizer que Starkers in Tokyo é uma experiência bastante diferente do habitual. Neste acústico consistindo apenas da voz de David Coverdale e do violão de Adrian Vandenberg, o hard rock “pra cima” do grupo toma contornos melancólicos, causando até um pouco de estranhamento ver como funciona a adaptação de músicas como “Here I Go Again” e “Give Me All Your Love”. No fim das contas, são justamente aquelas canções mais melancólicas e reflexivas em seu formato original que se revelam os grandes destaques, caso de “Can’t Go On” e “Soldier of Fortune”, esta última emocionante como se tivesse sido registrada pela primeira vez.

Fernando: Quando escolhi o Fripp & Eno fiquei pensando se não me acusariam de apelar para satisfazer o tema da matéria, mas depois que vi esse disco aqui fiquei tranqüilo. Isso aqui, sim, foi apelação! Afinal essa foi uma apresentação em dupla do chefe Coverdale e o ótimo Adrian Vanderberg. Pegando uma carona no hype da época em fazer shows “acústicos”, coisa que começou com o Bon Jovi ainda no começo da década e chegou a seu auge com os discos do Kiss, do Alice in Chains e do Nirvana. Gostei do resultado, mas não acho que seja adequado aqui.

Marco: Tudo muito bonito, mas bonito demais. Passou da conta. Na terceira música já estou precisando tomar um banho de arruda pra ver se o encosto de doçura sai deste corpo. Vade retro Coverdale.

Ronaldo: Independentemente do valor musical, esse disco deveria estar em uma futura lista da "Consultoria Recomenda: voz e violão".

Ulisses: Uma performance acústica e ao vivo de Coverdale e Vandenberg, que interpretam as canções com bom gosto. "Sailing Ships" e "Don't Fade Away" estão de arrepiar. Muito agradável a recomendação.


 

Tractor - Tractor [1972]

Por Marco Gaspari

Não basta ter peso. Tem que ter neurônios. Tractor foi uma banda inglesa com dois neurônios de peso, sendo que o Tico era o guitarrista e vocalista Jim Milne e o Teco o baterista Steve Clayton. Eles eram ingleses e montaram o Tractor quando a banda beat The Way We Live acabou. Quem adorou o som e apostou na dupla foi John Peel que tratou logo de contratá-los para seu selo Dandelion Records. O primeiro disco dos dois ainda veio no nome da antiga banda, mas no próximo assumiram o nome Tractor e arregaçaram uma das sonoridades mais impiedosas do rock inglês do começo dos anos 70. Com o tempo, novos membros foram recheando a banda e novos lançamentos foram coroando uma carreira de nível surpreendente. Mas vamos concentrar os ouvidos nestes dois tratores aqui e nos render definitivamente à máxima de que “menos é mais”.

André: As vezes surgem umas viajadas instrumentais parecidas com o krautrock alemão que o Marco tanto ama, mas este é um disco muito bom com sua mistura do peso do hard rock com psicodelia. O baixo de "Ravenscroft 13 Bar Boogie" é muito bom, as linhas de guitarras muito empolgantes. Infelizmente, a produção pobre deixou o som da bateria meio magro e as vezes até oculto. Uma pena que esses dois ótimos músicos ficaram só neste disco.

Davi: Um dos mais interessantes dessa leva. Duo inglês que fazia um interessante cruzamento entre o folk (perceptível em faixas como “Everytime It Happens” e “Watcher”), o hard rock e uma boa dose de psicodelia. Para a época, tinha uma sonoridade pesadinha. O trabalho de guitarra é excelente e o vocal bem agradável. Disco bacana de ouvir.

Diogo: Este álbum inicia deixando uma boa impressão pelas linhas vocais de Jim Milne em “All Ends Up” e de arranjos que aproximam a banda do progressivo sem necessariamente enquadrá-la, algo que se nota na pegada folk do início de “Little Girl in Yellow”, antes de mergulhar mais fundo no estilo supracitado. Isso é sentido ainda com mais força em “The Watcher”, acústica na totalidade e dotada de um acento psicodélico. De resto, há alternância de momentos mais ou menos memoráveis e outros sem grande atratividade, mostrando que a primeira faixa, em especial, é mesmo a mais interessante. Audição até agradável, mas que não me marcou muito.

Fernando: Vi que a banda gravou esse disco como dupla e depois de um tempo adicionou um baixista e anos e anos depois voltaram como um quarteto inclusive com um tecladista. O som me pareceu um Blue Cheer menos pesado e mais folk. O que me lembrou do Blue Cheer foi a distorção meio tosca, tão tosca que deixou o som bem magrinho quando eles partem para partes que deveriam soar pesadas. As viagens sonoras como acontecem em “Everytime It Happens” E “Make the Journey” já me agradaram mais.

Mairon: A vida nos propicia várias surpresas, e em termos de música, somos invadidos praticamente diariamente por uma novidade que nos perguntamos: "Como eu não ouvi isso antes?". Não entendo como um grupo tão bom quanto o Tractor não fez sucesso. A guitarra de Jim Mine, carregada de distorção, é a grande atração em faixas que nos trazem toda a essência do hard setentista. Destaque para os solos ácidos da longa "Make the Yourney", a viagem alucinante de "Little Girl in Yellow" e o ritmo acústico de "Everytime it Happens". O CD que peguei na internet vem com três bônus, destacando a linda "Overture". Baita banda, e mais um disco raro para eu catar (ainda querem que eu perca tempo ouvindo bandas novas que fazem mais do mesmo ....).

Ronaldo: Dupla britânica apadrinhada pelo lendário John Peel, da rádio BBC. As composições se ligam muito mais ao rock psicodélico dos anos 60, mas com a pegada e a performance da década seguinte. Muito fuzz e ótimos momentos, dá até pra esquecer a falta que um contrabaixo faz. Coisas como "Shubunkin" fazem a vida de um ouvinte valer a pena.

Ulisses: Pô, ótimo álbum de rock com uma boa dose de psicodelia. A dinâmica entre Milne e Clayton é certeira e o disco é coeso, variando entre o pesado e o "viajadão" na medida certa, com destaques para "The Watcher" e "Hope in Flavour", e até remetendo ao Black Sabbath em "All Ends Up".


 

Sixty Nine - Circle of Crayfish [1972]

Por Ronaldo Rodrigues

Nos anos 50 e 60, o órgão Hammond era usado em formações com bateria e guitarra apenas. Nessa seara, surgiram os maiores mestres do instrumento, como Jimmy Smith, Larry Young e Lonnie Smith. Estes caras tratavam o baixo no próprio teclado (utilizando pedais com notas graves) e faziam estrago. Em fins dos anos 60, com o caminho aberto por Keith Emerson e The Nice para o rock sem guitarra, alguns tecladistas se aventuraram a eliminar os dois elementos - baixo e guitarra. Esse duo alemão faz, com bastante proeminência, essa experiência e se sai bem, pelo apoio de boas composição no estilo progressivo e uma boa dose de virtuosismo.

André: Depois que o Ronaldo os apresentou este disco, lá em 2015, posso dizer que já o ouvi outras vezes e sempre me surpreendo com a fúria do uso do Hammond  por parte desses alemães. Se a banda tivesse ido mais adiante, Keith Emerson teria um rival e tanto para se preocupar. Excelente disco, para quem curte Emerson, Lake & Palmer e afins.

Davi: Dupla alemã formada por Armin Stöwe e Roland Schupp. Os dois rapazes são responsáveis por gravar todos os instrumentos do disco. Os caras fazem um cruzamento de hard com prog rock. O que mais me chamou a atenção durante a audição foi o teclado de Armin que, em alguns momentos, me remeteu ao saudoso Jon Lord. A maior parte do play é instrumental. Ainda bem, porque achei o trabalho vocal bem fraquinho. Disco interessante, mas não morri de amores.

Diogo: A imediata associação que fiz ao dar o play na primeira faixa deste disco foi com o Emerson, Lake & Palmer, pois a performance de Armin Stöwe ao órgão não nega influência de Keith Emerson. O baterista Roland Schupp pode não ser um Carl Palmer, mas tempera com muito jazz o prog sinfônico da dupla, como pode ser ouvido em “Kolibri”. Quando Armin resolve abrir a boca, as coisas não melhoram, mas instrumentalmente o álbum é muito interessante. Não gostei tanto assim de sua tentativa de soar mais grandiloquente, caso da longa “Paradise Lost”, e acho que a dupla se sai melhor em canções mais compactas, como “Crayfish”, que fecha o álbum lembrando um pouco o Atomic Rooster, algo que acontece mais vezes durante os 43 minutos de Circle of the Crayfish.

Fernando: Estranho eu não ter chego no Sixty Nine quando estava na fissura por coisas como ELP, Triumvirat e bandas do tipo. Não sei como é ao vivo, mas eles nem parecem como um duo, já que há várias camadas sonoras que apenas em estúdio seria possível. Lendo sobre a banda, no pouco material que consegui encontrar, descobri que Armin Stöwe cometeu suicídio há alguns anos atrás. Triste!

Mairon: Outro disco fantástico!! Teclados e bateria (Armin Stöwe e Roland Schupp respectivamente) construindo canções fabulosas, que passeiam soberanamente pelo jazz ("Kolibri"), hard rock ("Journey") e o progressivo tradicional ("Crayfish" e "Ballast"), com o auge sendo a insana "Paradise Lost", uma viagem musical de mais de quinze minutos, com barulhos espaciais e a exploração singular dos teclados e percussão, transformando-se em uma canção animada e com um interessante vocal, vocal aliás que é o único pequeno deslize em "Becoming Older", que é uma balada bonitinha, mas destoante do resto do disco. Ouvidos desatentos irão diversas vezes confundir-se com Atomic Rooster e Emerson Lake & Palmer, mas na verdade, é uma dupla incrível da Alemanha, que só nos mostra mais uma vez como os anos 70 e 60 foram inspirados. Sonzeira!!!

Marco: Não é das minhas sonoridades alemãs preferidas (o que não quer dizer que eu não goste, muito pelo contrário), mas é um belo exemplo do tipo de banda que eu tinha em mente quando sugeri esse tema. O disco ao vivo deles também é muito bom.

Ulisses: Um prog embasado nos teclados/sintetizadores/orgão de Stöwe e na bateria sólida de Schupp. Grande parte do disco é instrumental, mas o duo tem criatividade para manter as coisas interessantes na maior parte do tempo. É uma boa recomendação para os aficionados em prog.


 

Jucifer - Throned in Blood [2010]

Por Ulisses Macedo

O tema, desta vez, foi um pouco complicado pra mim. Seja no rock, no folk, no pós-punk ou no alternativo, existem várias duplas que todo mundo já ouviu falar - algumas que eu cogitei devem figurar por aqui - mas, das que eu conheço, nenhuma que eu realmente quisesse indicar para alguém. Exceto este estranho casal aqui, que eu ouvi há algum tempo e consegui lembrar: marido e mulher que têm uma queda por música suja, lenta, pesadíssima, com ocasionais espasmos de velocidade guiados por blast beats e riffs super distorcidos. A fórmula é esta, mas cada CD traz uma surpresa diferente. Em Throned in Blood, primeiro do selo próprio do casal (Nomadic Fortress), Livengood e Valentine falam sobre guerra e desolação, como Auschwitz ("Work Will Make Us Free"), o massacre dos nativos norte-americanos ("Return of the Native") e o uso de bombas nucleares ("Hiroshima" - puro sludge!). As pérolas da vez ficaram para o final, com a épica "Spoils to the Conqueror" e a inesperada "Armageddon", que fecha o disco com voz e banjo melancólicos.

André: O problema do álbum é que ele tem uma cara de coisa amadora gravada na garagem que não tem muito como elogiar. Sem baixo ainda, rock/metal sem baixo é o mesmo que comer lasanha sem queijo. Nem lembrava que já tinha ouvido esse disco. E pelo jeito, vou me esquecer de novo...

Davi: Dupla norte-americana formada por Edgar Livengood na bateria e sua esposa Gazelle Amber Valentine nas guitarras/vocais. Metal agressivo com vocal feminino gutural/vomitado. Não me agradou muito. Nunca fui fã numero 1 desse estilo de vocalização e sem a presença do baixo me dá a impressão de estar ouvindo uma demo tape. Falta aquele gravão predominante nos estilos mais agressivos. A falta de solos de guitarra ajuda a fortalecer minha opinião de sonoridade inacabada. Valeu pela curiosidade, mas não compraria.

Diogo: Tendo começado a realmente gostar de música com o Black Sabbath, é natural que sonoridades pesadas e arrastadas tenham destaque em meu cardápio musical. O Jucifer, porém, não caiu muito no meu gosto. Curto doom metal, até algo mais drone, mas essa turma do sludge não é muito minha praia. Quando o grupo aposta em lances mais minimalistas, como em “Disciples of an Expanding Sun”, até que a coisa fica mais interessante, mas em geral o disco não me envolveu. Faltam bons riffs e climas soturnos, algo que julgo essencial em um trabalho desse tipo. Quando a dupla aposta em algo mais “podrão”, puxando para o grind, as coisas dão ainda menos certo. É, não rolou.

Fernando: Não consegui ouvir esse disco completo e em ordem. Não achei para baixá-lo e fui pegando coisas aleatórias no Youtube. A primeira música que ouvi foi “Armaggedon” que me preparou para algo totalmente diferente da desgraceira do restante do disco. Ouvir mulheres nesse tipo de som extremo é interessante, mas nem sempre bom. A impressão é que eles gravaram o disco em um gravador na garagem da casa deles em um tipo de gravação que os indies gostam de chamar lo-fi. Em tempo, a capa é muito legal!

Mairon: Pataqueoparéu, que disco barulhento hein? Não gostei mesmo. A voz é horrível, a guitarra é de uma distorção suja e ensurdecedora, o baterista parece que só conhece o pedal do bumbo e os pratos, quando não martela a caixa alucinadamente que nem em "Contempt", as músicas não parecem se encaixar em nenhum andamento, enfim, agressivo demais para meus ouvidos sensíveis (ui, que meigo). A melhorzinha é "Good Provider", não por que é  boa, mas por que dura menos de um minuto (é já é um pavor!). To brincando, "Armageddon" é a que se salva, por que é só violão e voz. Ouvir "Hiroshima" e "Return of the Native" foi de uma tortura apavorante, a prova de que até eu podia ter montado uma banda tamanha a infrutífera sensação que essa "música" passa. Não conseguiu atrair-me em nada, me desculpe.

Marco: Já ouvi chuva de granizo no telhado mais agradável do que isso. Mas estou beirando a melhor idade: sou suspeito.

Ronaldo: Distorções e gritos. O que comentar de um disco rotulado como "noise-rock"?

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Glenn Hughes - The Official Bootleg Box Set Volume Three - 1995 - 2010 [2020]

Encerrando essa pequena série com os boxes que Glenn Hughes lançou recentemente trazendo shows e raridades de sua carreira, apresento hoje The Official Bootleg Box Set Volume Three: 1995 - 2010. Este box segue o padrão do segundo volume, com seis CDs e um pôster-encarte que traz poucas informações pertinentes do que há em cada CD, focando somente nas datas das apresentações, track lists e créditos de composição/registro. Acho bastante lamentável que não exista informações sobre os músicos que participaram nos shows, mas enfim, é um detalhe que talvez seja mais para completistas exigentes como eu.

Quanto a música, bom, é uma sequência do que vieram anteriormente, primeiro box cobre 1994 a 2010 e o segundo de 1993 a 2013. Aqui são quatro shows realizados no Reino Unido no período entre 1995 e 2010, com três deles na Inglaterra e um na Irlanda do Norte.

Os dois primeiros CDs trazem Hughes em uma apresentação no Wulfrun Hall de Wolverhampton, no dia 17 de novembro de 1995.  O show começa com um solo de bateria, o que é relativamente estranho, mas curto, intitulado "Intro", e então, Hughes sobe ao palco com duas canções da carreira solo, "Big Time", faixa que abre o álbum que estava sendo promovido à época, Feel (1995) e "The Liar", do ótimo From Now On (1994). O álbum segue com apenas mais uma canção da carreira solo, a agitadíssima "Push", e clássicos de projetos de Hughes, com "Muscle And Blood" "First Step of Love" e "Coast to Coast" (Hughes/Thrall), "You Are The Music", "Your Love Is Alright" e "Way Back to the Bone" (Trapeze), e claro, Deep Purple rolando através de "This Time Around" (uma introdução vocal fantástica de Hughes, mostrando todas suas qualidades em falsetes emocionantes, e muito sentimento) "You Fool No One", "You Keep On Moving", Gettin' Tighter", "Stormbringer" e "Burn", sendo as cinco últimas justamente as que encerram a apresentação, ou seja, todas presentes no CD 2. 

Apesar de não haver nenhuma canção que não tenha aparecido nos track lists dos boxes anteriores, vale muito ressaltar a quantidade de improvisos e variações que a banda dá em relação aos originais, como por exemplo o bonito solo de teclado em "Coast to Coast" ou as boas passagens de guitarras nas faixas do Trapeze e do Purple, principalmente em "You Fool No One", que apesar de manter a linha original, cria muito em cima do que Blackmore fazia. Isto se torna um ponto bem positivo para quem curte sair da mesmice, e óbvio, para este box. E claro, Hughes está afiadíssimo, mandando ver nas suas improvisações vocais, seja na citada "This Time Around" ou na impressionante revisão de "You keep On Moving". Falando na banda, apesar de não indicado no encarte, Hughes apresenta a mesma antes de "You Fool No One", sendo composta por Dave Patton e George Nastos (guitarras), Ruben Valtierra (teclados), Paul Kirkham (baixo) e Glenn Deitsch (bateria). A qualidade de gravação é regular, bem bootleg mesmo, mas todos os instrumentos estão bem audíveis. Só fica a sensação de estarmos ouvindo o show em um canto qualquer do local, porém com uma parede entre você e as caixas de som. Nada muito prejudicial.

 O CD 3 segue na turnê de 1995, agora no dia seguinte, com o show no Astoria 2 em Londres. O repertório é praticamente o mesmo dos CDs 1 e 2, retirando "The Liar", "This Time Around" e "You Keep On Moving", e a gravação também é de uma qualidade interessante, apesar de aqui o baixo estar mais inaudível. Improvisos e muito feeling é transmitido de cima do palco pela mesma banda (óbvio, o show é no dia seguinte, mas de qualquer forma, Hughes a apresenta aos fãs), e particularmente, não sei a necessidade de em uma caixa que propagandeia 1995-2010 serem colocados dois shows seguidos da mesma turnê. Vale ainda lembrar que canções apresentadas dias antes, no show de Glasgow em 8 de novembro, estão presentes como bônus no CD 3 do segundo volume, e lá eu ressalto que a qualidade de gravação é ruim, mas vale pela raridade. Bom, aqui, os três primeiros CDs tem uma qualidade de gravação bem melhor, então, as raridades das bônus de A Dino in Gino que entraram no segundo box caem por terra. 

No CD 4, aquele show mais intimista com Hughes tocando violão e que já apareceu nos outros boxes também se faz presente, com a apresentação no dia 3 de maio de 2008 em Bedford, Reino Unido, durante a convenção de fãs do Deep Purple. Hughes está acompanhado de Anders Olinder nos teclados, e claro, emociona os fãs mandando ver  um repertório muuuuuuuuito diversificado. Curioso que apesar de ser uma convenção de fãs do Purple, somente cinco das doze canções são dos ingleses, a saber "Mistreated" (mais de doze minuts de Hughes mandando ver nos acordes do riff e improvisando demais com a voz, sensacional!!!!), "This Time Around", "You Keep On Moving", "Stormbringer" e uma lindíssima revisão para "Holy Man", perfeita para a ocasião. Outro grande destaques vai para "Coast To Coast", com Hughes brilhando ao violão, e com um falsete incrível ao final, ovacionado pelos presentes.

Hughes está muito à vontade, conversando com os fãs, explicando um pouco de seu período no Purple, seus conflitos com Ritchie Blackmore, e como o Trapeze é o seu bebê, apesar de toda a importância que o Deep Purple tem para sua vida. É muito bom ouvir ele além do habitual baixo e voz, tocando seu violão como um grande guitarrista. Logo no início, ele diz que escolheu as canções para tocar que significam muito para ele, como por exemplo a encantadora versão de "Nights in White Satin" dos Moody Blues, similar a que aparece no primeiro box desta série, e diferente da linda versão presente em Music For The Divine (2006), e principalmente "I Found A Woman", quase nunca apresentada ao vivo, e pertencente a excelente Play Me Out (1977), que já vale muito a presença aqui. Outra que Hughes resgata de Play Me Out é a belíssima "It's About Time", que é seguida por uma irreparável e surpreendente versão para "Seaful" (Trapeze), que somente com violão, teclados e a voz de Hughes coloca o ouvinte de quatro! Outra grande surpresa é o resgate de "Will Our Love End", faixa obscura de You Are The Music, We're Just the Band (Trapeze), e que encaixou muito bem no conceito acústico proposto por Hughes. A qualidade da gravação é excelente, como se a dupla estivesse em nossa sala, sendo este CD com certeza o ponto alto desta caixa.

Por fim, os dois últimos CDs são de uma apresentação em Belfast, Irlanda do Norte, no dia 9 de outubro de 2010. Para quem esteve nas apresentações que Hughes fez no país em dezembro daquele ano (semanas depois desta apresentação), ficará uma bela sensação de nostalgia, e também de enganação, já que o repertório apresentado nos shows pelo Brasil é uma versão enxuta das 14 canções que estão no quinto e sexto CDs deste box. O set concentra-se na carreira solo de Hughes, o que achei bastante interessante perante os demais boxes, pois é uma das poucas mídias em todos os três boxes que mais da metade das músicas não são de Purple, Trapeze ou Hughes/Thrall. A soma destes projetos entrega seis canções. Do Purple, Hughes resgata a linda "Sail Away", obscura dentro de tantos clássicos de brilho em Burn, e a faixa-título deste que certamente é o principal álbum da Mark III, e só! Ambas, aliás, com interpretações muito fieis aos originais. Já dos demais projetos de Hughes, temos apenas "Muscle and Blood" (Hughes/Thrall) e "Medusa" (lindíssima e pesada, conforme o original), "Keepin' Time" e "Touch My Life" (Trapeze), todas seguindo as harmonias e melodias originais, mas claro, com Hughes sempre improvisando aqui e acolá, principalmente a surpreendente "Keepin' Time", que supera os doze minutos de duração, principalmente pelos solos de bateria e de baixo, onde Hughes pisoteia o wah-wah sem piedade, além de "Sail Away", que chega aos 9 minutos.

As demais oito faixas são da carreira solo do inglês, e assim, passeamos pelos seus álbuns dos anos 90 e 2000, com o peso sufocante de "Addiction" (Addiction - 1996), a pancada "You Kill Me" (The Way It Is - 1999), "Can't Stop The Flood" (Building the Machine - 2001), "Don't Let Me Bleed" (show vocal de Hughes, abusando de diversas técnicas), "Orion" e "Soul Mover" (Soul Mover - 2004), os embalos de "Steppin' On" (Music For The Divine - 2006), recheada de improvisos, e o swingue espancante de "Crave", única música do álbum que estava sendo promovido à época, First Underground Nuclear Kitchen (2008). Naquela turnê, Hughes estava ao lado de Søren Andersen (guitarras), Anders Olinder (teclados) e Pontus Engborg (bateria), conforme ele anuncía ao final de "Soul Mover", já que aqui nem o site de Hughes comunica qual a formação. A qualidade de gravação é excelente, com todos os instrumentos muito destacados e nítidos, o que eleva ainda mais os pontos deste box, que dos três que aqui apresentei, apesar de ter menos material diversificado, e havendo repetição quase completa do track list nos dois primeiros shows, em termos do que você ouve é o melhor. Claro, há poucas raridades, como a quantidade de canções solo no show de 2010 ou a participação na conferência dos fãs de Purple em 2008, mas se você quer escolher apenas um dos boxes para comprar, vá nesse sem medo.

Track list

CD 1 Wulfrun Hall, Wolverhampton, UK 17th November 1995 (Part 1)

1.1 Intro

1.2 Big Time

1.3 The Liar

1.4 Muscle And Blood

1.5 You Are The Music

1.6 Your Love Is Alright

1.7 Push

1.8 This Time Around

1.9 Coast To Coast

CD 2 Wulfrun Hall, Wolverhampton, UK 17th November 1995 (Part 2)

2.1 Way Back To The Bone

2.2 First Step Of Love

2.3 You Fool No One

2.4 You Keep On Moving

2.5 Gettin' Tighter

2.6 Stormbringer

2.7 Burn

CD 3 Astoria 2, London, UK 18th Novermber 1995

3.1 Big Time

3.2 Muscle And Blood

3.3 You Are The Music

3.4 Your Love Is Alright

3.5 Push

3.6 Coast To Coast

3.7 Way Back To The Bone

3.8 First Step Of Love

3.9 You Fool No One

3.10 Gettin' Tighter

3.11 Stormbringer

3.12 Burn

CD 4 Esquires, Bedford, UK 3rd May 2008

4.1 Coast To Coast

4.2 I Found A Woman

4.3 Mistreated

4.4 It's About Time

4.5 Seafull

4.6 This Time Around / Owed To "G"

4.7 Will Our Love End

4.8 Nights In White Satin

4.9 Don't Let Me Bleed

4.10 Holy Man

4.11 You Keep On Moving

4.12 Stormbringer

CD 5 Spring & Airbrake, Belfast, N.I. 9th October 2010 (Part 1)

5.1 Muscle And Blood

5.2 Touch My Life

5.3 Orion

5.4 Sail Away

5.5 Medusa

5.6 You Kill Me

5.7 Can't Stop The Flood

5.8 Crave

5.9 Don't Let Me Bleed

CD 6 Spring & Airbrake, Belfast, N.I. 9th October 2010 (Part 2)

6.1 Keepin' Time

6.2 Steppin' On

6.3 Soul Mover

6.4 Addiction

6.5 Burn


domingo, 9 de maio de 2021

Cinco Múscas Para Conhecer: As Homenagens De Bono Para A Mãe



Amanhã, Paul "Bono" Hewson completa 61 anos. Vocalista do U2, o irlandês também é o responsável pela maioria das letras que os caras gravaram, as quais vão desde temas religiosos e cunhos sociais, até relacionamentos familiares. Bono escreveu muitas músicas em homenagem a sua mãe, Iris, a qual faleceu em 10 de setembro de 1974, quando ele tinha apenas 14 anos, vítima de um aneurisma cerebral que ocorreu durante o velório do avô de Bono, Alec Rankin.

A tragédia familiar ocorreu após a festa de cinquenta anos de casamento dos avós de Bono, e mudou totalmente sua vida, abandonando os estudos e dedicando-se apenas a duas grandes paixões: música e garotas. Foi o pontapé inicial para ele começar sua carreira como artista, infelizmente, de forma tão dura, e por isso, ele faz questão de vez por outra homenagear sua mãe em canções. Então, como uma homenagem ao aniversariante Bono, e também à todas mães nesse dia das mães, apresento aqui cinco canções que Bono fez para Iris.

"I Will Follow" - Boy [1980]

Primeira canção do primeiro álbum da banda, e primeiro vídeo clipe promocional dos meninos, "I Will Follow" é uma canção que narra sobre o amor incondicional das mães pelos filhos, que seguirá cuidando dos mesmos onde quer que eles estejam. Uma letra simples, mas que sobre uma base de um riff de apenas três notas, criado pelo próprio Bono em um momento, segundo ele, de raiva, a faixa é empolgante e energética. O refrão grudento é perfeito para levantar plateias, e certamente, é um dos grandes clássicos da banda, tanto que é a única a aparecer em todas as turnês do U2. Foi o segundo single de Boy, tendo no lado B "Boy-Girl" (nas versões britânicas, australiana e neo-zelandesas, imagem do texto), "Out of Control" (versões americana e canadense) e "Gloria" (versão holandesa)

"Tomorrow" - October [1981]

Essa triste canção lançada no segundo disco da banda, October, apresenta a dor de Bono quando do funeral de sua mãe. A letra reflete sobre o fato de não termos mais nosso ente querido no dia seguinte, e ainda, para um adolescente como Bono, a saudade até de momentos onde a repreensão da mãe surgia. A música surge com o triste som das Uilleann Pipes (gaitas de foile irlandesas) de Vincent Kilduff, deixando apenas acordes de sintetizadores para Bono soltar sua comovente voz. A cada "Won't you come back tomorrow" (Você não voltará amanhã) cantado por Bono, sentimos uma pontada de dor no coração. Quando ele canta "I want you, I really want you", é impossível não segurar as lágrimas, enquanto a gaita de foile perambula pela voz de Bono, até a entrada magnífica da banda. Um grande momento de inspiração e despedida de Bono, e uma das grandes músicas do U2 nesse período inicial.

“Lemon” - Zooropa [1993]

Particularmente uma das melhores canções do U2, "Lemon" foi inspirada em um vídeo em Super-8 que Bono viu de sua mãe. Para ele, era muito estranho encontrar um vídeo de sua mãe em uma idade mais nova do que ele, e como a tecnologia dos vídeos podem preservar as memórias das pessoas. No vídeo, Iris está como dama de honra, em vestido verde-limão, que acabou batizando a canção. "Lemon" flerta com a disco music, e Bono usa e abusa de falsetes para cantá-la. O ritmo sensual da canção em nada sugere as doloridas lembranças que "irão fazer chorar", mas sim te colocar para dançar pela casa sem nenhuma vergonha. Baita música, uma das melhores da banda em minha opinião, presente em Zooropa e lançada como single em diversos formatos.

Bono e Íris

“Mofo” - Pop [1997]

Uma canção que nasceu sobre uma linha de blues, "Mofo" é o emprego do melhor do techno junto ao rock dos irlandeses, e traz claramente as dores que Bono sentiu pela perda da mãe quando jovem. Frases como "Conforte-me mãe", "Eu ainda sou seu filho", "Você partiu e me fez alguém" deixam explícito o quanto o vocalista tem dificuldades em entender e aceitar a morte de Iris. A letra é muito franca, mostrando um homem adulto que sente a falta do zelo materno. O ritmo dançante, os vocais sussurrados, as viajantes linhas de sintetizadores de The Edge e uma produção mais que perfeita de Flood fazem destas umas melhores canções de Pop, tanto que ela se tornou responsável por abrir os shows daquela turnê. "Mofo" também saiu em single, recebendo diversos remixes e se tornando figurinha carimbada em muitas festas de música eletrônica pelo mundo, apesar da dolorida letra. 


“Iris (Hold Me Close)” - Songs of Innocence [2014]

Esta bela canção narra novamente sobre a dor que Bono sente pela ausência da mãe, e como essa perda acabou moldando sua trajetória como home. Iris é a "estrela que se foi há muito tempo" e que ele "irá encontrar novamente". É uma linda dedicação de amor e saudades de sua mãe, levada por um clima que lembra muito canções da fase The Joshua Tree ou Unforgettable Fire, através do baixo marcante de Adam Clayton e das linhas exuberantes da guitarra de The Edge. Saiu apenas em Songs of Innocence, sendo que foi apresentada durante a turnê de promoção do mesmo, inclusive com a mãe de Bono aparecendo nos telões em um vídeo caseiro. 
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