O casal Elis Regina e César Camargo Mariano desfrutaram do sucesso de Falso Brilhante, mas não baixaram a guarda. Enquanto excursionavam com o espetáculo, aclamado em todo o Brasil, preparam material para um novo álbum, e também um novo espetáculo, gerando mais dois álbuns essenciais. Após o lançamento de ambos, uma polêmica envolvendo o casal e a Philips colocou a imagem principalmente de Elis no ventilador, porém, uma série de três lançamentos soberanos colocaram novamente a gaúcha no topo das estrelas.
A clássica "Romaria" está registrada no álbum homônimo de 1977 |
O primeiro álbum pós-Falso Brilhante retomou os títulos homônimos. Lançado em 1977, Elis foi desenvolvido durante o espetáculo Falso Brilhante, e mantém o mesmo nível rocker de seu antecessor. Acompanhada por César (piano, grande piano, Hammond, orquestrações e arranjos), Nathan Marques (guitarras, violão, viola, voz), Crispin Dell Cistia (guitarra, violão, viola, teclados), Wilson Gomes (baixo) e Dudu Portes (bateria, percussã0), Elis brinca com vários estilos, e deixa registrado nos anais da Música Popular Brasileira a clássica e definitiva versão de "Romaria", uma de suas interpretações mais célebres, ao lado de "Arrastão", "Como Nossos Pais", "Águas de Março", "Fascinação" e "O Bêbado E A Equilibrista", tendo o acompanhamento do Grupo Água, formado por Renato Teixeira (autor da canção) no violão e voz, Carlão na viola e voz, Sérgio Mineiro na flauta e voz e Márcio Werneck na flauta.
O instrumental do LP passeia por inspirações progressivas, como a visível influência de Genesis em "A Dama do Apocalipse", na qual o moog e a utilização do mesmo timbre da guitarra de Steve Hackett por parte de Nathan fazem o ouvido fácil fácil achar que estamos ouvindo algo de Wind and Wuthering ou A Trick of the Tail, e a cantora lembra Secos & Molhados na primeira parte de "Colagem", que possui para mim o grande momento do LP, com as viagens progressivas tipicamente Yes onde Nathan abusa do pedal de volume na melhor linha Steve Howe no trecho "Soon" de "The Gates of Dellirium", entre longas camadas de teclados que sufocam a angustiante voz de Elis.
Ouvir Elis na verdade causa uma sensação de delírio e confusão pelas primeiras vezes, por que em nada temos de parecido em álbuns consagrados, já que o LP vive de momentos intensos como outros muito amenos, apresentados na balada "Sentimental Eu Fico", com uma ótima participação de César ao piano, na flamenca "Vecchio Novo", destacando o baixo de Wilson, e a forte faixa-título, pequena amostra do que apenas duas pessoas são capazes de fazer com seu cérebro, quando acompanhados por um time de excelência. O que Elis canta nessa faixa já vale o álbum, e as intervenções do moog e piano de César são uma lisergia à parte.
O LP também contém várias participações especiais, que vão de Ivan Lins no piano e vozes da dolorida "Qualquer Dia", e na alegre "Cartomante", essa com Thomas Roth, Lucinha Lins e Zé Luiz fazendo vocalizações, e Nathan novamente delirando com o pedal de volume, e Milton Nascimento fazendo vocalizações e tocando violão na bela versão de "Caxangá", bem como também ao violão na emocionante revisão para "Morro Velho", essa com a majestosa contribuição de Antonio Carlos Dell Claro no violoncelo. Um destaque interessante nesse LP, relançado em CD em 1993, vai para a citação às marcas dos instrumentos usados pelos músicos, com o uso das guitarras Les Paul e Fender, bem como o exclusivo uso do baixo Rickenbacker, o que só enaltece ainda mais a forte ligação do casal Elis e César com o rock setentista.
O instrumental do LP passeia por inspirações progressivas, como a visível influência de Genesis em "A Dama do Apocalipse", na qual o moog e a utilização do mesmo timbre da guitarra de Steve Hackett por parte de Nathan fazem o ouvido fácil fácil achar que estamos ouvindo algo de Wind and Wuthering ou A Trick of the Tail, e a cantora lembra Secos & Molhados na primeira parte de "Colagem", que possui para mim o grande momento do LP, com as viagens progressivas tipicamente Yes onde Nathan abusa do pedal de volume na melhor linha Steve Howe no trecho "Soon" de "The Gates of Dellirium", entre longas camadas de teclados que sufocam a angustiante voz de Elis.
Elis, sorrindo com o sucesso |
Ouvir Elis na verdade causa uma sensação de delírio e confusão pelas primeiras vezes, por que em nada temos de parecido em álbuns consagrados, já que o LP vive de momentos intensos como outros muito amenos, apresentados na balada "Sentimental Eu Fico", com uma ótima participação de César ao piano, na flamenca "Vecchio Novo", destacando o baixo de Wilson, e a forte faixa-título, pequena amostra do que apenas duas pessoas são capazes de fazer com seu cérebro, quando acompanhados por um time de excelência. O que Elis canta nessa faixa já vale o álbum, e as intervenções do moog e piano de César são uma lisergia à parte.
O LP também contém várias participações especiais, que vão de Ivan Lins no piano e vozes da dolorida "Qualquer Dia", e na alegre "Cartomante", essa com Thomas Roth, Lucinha Lins e Zé Luiz fazendo vocalizações, e Nathan novamente delirando com o pedal de volume, e Milton Nascimento fazendo vocalizações e tocando violão na bela versão de "Caxangá", bem como também ao violão na emocionante revisão para "Morro Velho", essa com a majestosa contribuição de Antonio Carlos Dell Claro no violoncelo. Um destaque interessante nesse LP, relançado em CD em 1993, vai para a citação às marcas dos instrumentos usados pelos músicos, com o uso das guitarras Les Paul e Fender, bem como o exclusivo uso do baixo Rickenbacker, o que só enaltece ainda mais a forte ligação do casal Elis e César com o rock setentista.
Pedro Mariano, Maria Rita e Elis Regina, em 1978 |
Em 09 de setembro de 1977 nasce o terceiro filho de Elis Regina, e o segundo do casal, no caso Maria Rita, hoje famosa cantora de nosso país. O nascimento de Maria Rita não atrapalhou a divulgação daquele que considero o maior espetáculo realizado por Elis e César, o qual estreiou em 17 de novembro de 1977 no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, e gerou aquele que é o melhor álbum ao vivo nacional da década de 70, Transversal do Tempo.
Excepcional álbum ao vivo, o melhor de um artista brasileiro na década de 70 |
Para a falar a verdade, eu gostaria mesmo de colocar esse disco aqui e deixar o ouvinte ouvi-lo, por que palavras não irão descrever o que Transversal do Tempo me causa. Gravado ao vivo no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro, entre 6 e 9 de abril de 1978, em uma temporada que durou três meses com a companhia de Nathan, Crispin, Dudu e Fernando Sizão (baixo), temos um disco complexo, em uma lisergia e potência que não há em nenhum outro álbum de Elis. Basta ouvir o que o grupo faz na magistral e intrincada versão para a épica "Deus Lhe Pague" (Chico Buarque), com um peso absurdo, a raivosa voz de Elis e as marcações que fariam Frank Zappa aplaudir o arranjo em pé, ou então a assustadora e esquizofrênica versão para "Construção", escondida perfeitamente após a alegre revisão para "O Rancho da Goiabada", e que deve ter feito Chico Buarque cair do sofá com os gritos e percussões que encaixariam-se perfeitamente na trilha sonora de um filme de terror, entre a esplêndida e fulminante voz de Elis, as notas ácidas de Nathan e os viajantes acordes de hammond, em uma faixa que a palavra "viagem" a define muito bem. Nathan aliás dá seu espetáculo à parte fazendo o dedilhado do violão da linda "Meio Termo", a interpretação mais cativante de Elis no álbum, já que somente com o violão ao fundo, a pimentinha dá um show de dramaticidade e emoção, complementadas por uma viajante sessão de encerramento com percussão e um acorde longo de hammond, que conduzem-nos para a incrível "Corpos", na qual os efeitos de teclados e da guitarra, além do peso da cozinha baixo/bateria, auxiliam Elis a alcançar notas altíssimas, variando da intensidade progressiva para o melhor do jazz rock.
Logo no início do álbum, o moog e o mellotron de César mostram que o objetivo é colocar o normal para baixo, desconstruindo a clássica "Fascinação", com Elis rasgando a garganta. Mas se você quer mesmo ver o que é desconstruir um clássico, ouça a tecladeira hipnotizante de "Boto" (Tom Jobim), ou Elis Regina chorando ao microfone na psicodélica versão do tradicional samba paulista "Saudosa Maloca". Put@ que o P@riu!, como é que é possível alguém conseguir fazer algo tão sinistro e condizente com a letra depois de ficar praticamente marcado à ferro no nossos ouvidos a alegre versão do Demônios da Garoa? Que grandiosa versão, para mim, definitiva, e que só por ela já vale o LP.
O casal mostra uma intimidade arrepiante na complicada "Sinal Fechado", apenas com Elis soltando os pulmões entre as variações de intensidade do piano de César, na ótima "Cartomante", trazendo as mesmas características de sua versão do álbum de 1977, ou então, acalma os ânimos na intimista "Cão Sem Dono", além de divertir com o samba da complicadíssima letra de "Querelas do Brasil". Para resumir esse discaço, relançado em CD em 1989, fico com as palavras de Aldir Blanc: " ... muitos entenderam e gostaram, muitos entenderam e não gostaram, outros gostaram e não entenderam, e alguns não entenderam e não gostaram. Então, o show deve ser bom". Na verdade, o show é digno do nome ESPETÁCULO, com letras garrafais.
Logo no início do álbum, o moog e o mellotron de César mostram que o objetivo é colocar o normal para baixo, desconstruindo a clássica "Fascinação", com Elis rasgando a garganta. Mas se você quer mesmo ver o que é desconstruir um clássico, ouça a tecladeira hipnotizante de "Boto" (Tom Jobim), ou Elis Regina chorando ao microfone na psicodélica versão do tradicional samba paulista "Saudosa Maloca". Put@ que o P@riu!, como é que é possível alguém conseguir fazer algo tão sinistro e condizente com a letra depois de ficar praticamente marcado à ferro no nossos ouvidos a alegre versão do Demônios da Garoa? Que grandiosa versão, para mim, definitiva, e que só por ela já vale o LP.
Espetáculo "Transversal do Tempo", talvez o melhor da carreira de Elis |
O casal mostra uma intimidade arrepiante na complicada "Sinal Fechado", apenas com Elis soltando os pulmões entre as variações de intensidade do piano de César, na ótima "Cartomante", trazendo as mesmas características de sua versão do álbum de 1977, ou então, acalma os ânimos na intimista "Cão Sem Dono", além de divertir com o samba da complicadíssima letra de "Querelas do Brasil". Para resumir esse discaço, relançado em CD em 1989, fico com as palavras de Aldir Blanc: " ... muitos entenderam e gostaram, muitos entenderam e não gostaram, outros gostaram e não entenderam, e alguns não entenderam e não gostaram. Então, o show deve ser bom". Na verdade, o show é digno do nome ESPETÁCULO, com letras garrafais.
O espetáculo Transversal do Tempo percorreu o mundo, sendo apresentado no Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará, além de Itália, França e Espanha, sendo a apresentação no Teatro Lírico de Milão considerada o zênite dessa temporada europeia. Por outro lado, a gravadora Philips pretendia lançar um segundo volume de Transversal do Tempo, já que no espetáculo eram apresentadas normalmente vinte e cinco canções, e no próprio registro oficial, ficamos com a sensação de que algumas canções foram podadas, mas Elis acabou se desligando da gravadora por desentendimentos com seu antigo parceiro e agora produtor Roberto Menescal, com o projeto sendo infelizmente cancelado.
Disco lançado contra a vontade da Pimentinha, trazendo sobras de Elis (1972) e Elis (1973) |
Elis assinou com a WEA, mas em revelia, a Philips acabou resgatando material inédito no álbum Especial. Este disco contém onze faixas que não foram lançadas nos álbuns Elis (1972), Elis (1973) e Elis & Tom (174), , e traz de tudo um pouco. Temos o samba alegre "Noves Fora", o samba-jazz "Entrudo", com um ótimo arranjo de cordas, a intimista "Violeta de Belfort Roxo", e as perfeitas revisões para "Credo" (Milton Nascimento) e a linda "Joanna Francesa" (Chico Buarque), que seria originalmente lançada na trilha do filme homônimo de Cacá Diegues (filme aliás, fracasso comercial, mas que ainda está para ser descoberto pelos amantes da cinematografia brasileira). A novidade sonora fica para a onda disco de "Ou Bola Ou Búlica", uma das letras mais complicadas de João Bosco e Aldir Blanc, com Elis mostrando uma agilidade fantástica, e a magistral balada "Deixa O Mundo E O Sol Entrar".
Acho perfeita a versão de "Bodas de Prata" (também de João e Aldir) e o crescendo da belíssima "Valsa Rancho", canções que por si só já valem a aquisição desse álbum na discografia da Elis. A quebrada "Dinorah, Dinorah" e a versão em inglês da bossa "Bonita" (Tom Jobim) complementam Especial, que não é um grande disco se comparado aos outros álbuns lançados durante o período ao lado de César, mas ao mesmo tempo, seria uma lástima se os fãs acabassem desconhecendo versões tão relevantes como "Valsa Rancho", "Ou Bola Ou Búlica", "Deixa O Mundo E O Sol Entrar", "Credo" e "Joanna Francesa". Relançado em CD em 1994.
Acho perfeita a versão de "Bodas de Prata" (também de João e Aldir) e o crescendo da belíssima "Valsa Rancho", canções que por si só já valem a aquisição desse álbum na discografia da Elis. A quebrada "Dinorah, Dinorah" e a versão em inglês da bossa "Bonita" (Tom Jobim) complementam Especial, que não é um grande disco se comparado aos outros álbuns lançados durante o período ao lado de César, mas ao mesmo tempo, seria uma lástima se os fãs acabassem desconhecendo versões tão relevantes como "Valsa Rancho", "Ou Bola Ou Búlica", "Deixa O Mundo E O Sol Entrar", "Credo" e "Joanna Francesa". Relançado em CD em 1994.
Elis e os cabelos black-power de 1974 |
Elis ficou put@ da vida com esse lançamento, mas a gravadora argumentou que pelo contrato feito com a cantora, ela ainda devia dezesseis canções para a gravadora.
Onze saíram em Especial, e as restantes foram acordadas com a seguinte distribuição: "O Que Foi Feito de Vera", "Sabiá" e "Yesterday", canções registradas para os álbuns Elis (1977), Elis & Tom (1974) e um compacto simples, respectivamente, nunca foram lançadas oficialmente, mas estão em poder da Philips. Já "No Dia Em Que Eu Vim Me Embora" e "Para Lennon e McCartney" foram posteriormente lançadas no álbum póstumo Luz das Estrelas, lançado pela Som Livre, como veremos na última edição desta Discografia.
Onze saíram em Especial, e as restantes foram acordadas com a seguinte distribuição: "O Que Foi Feito de Vera", "Sabiá" e "Yesterday", canções registradas para os álbuns Elis (1977), Elis & Tom (1974) e um compacto simples, respectivamente, nunca foram lançadas oficialmente, mas estão em poder da Philips. Já "No Dia Em Que Eu Vim Me Embora" e "Para Lennon e McCartney" foram posteriormente lançadas no álbum póstumo Luz das Estrelas, lançado pela Som Livre, como veremos na última edição desta Discografia.
O álbum com o Hino da Anistia: "O Bêbado e a Equilibrista" |
O disco de estreia do casal pela WEA foi Elis, Essa Mulher, em 1979, que tem a banda de apoio formada por Luizão Maia (baixo), Hélio Delmiro (violão, guitarra), Paulinho Braga (bateria), Cidinho (percussão), além de arranjo de metais com os músicos Maurílio e Márcio Montarroyos (trompete), Edmundo Maciel (trombone), Zé Bodega (saxofone), Celso, Mauro, Jorginho, Jayme e Altamiro (flautas), bem como a orquestra de cordas da WEA, e trouxe mais um grande clássico para a já imensa coletânea de sucessos da pimentinha, no caso a eterna versão de "O Bêbado E A Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. Essa canção, com uma letra enorme e complicada, mas com uma melodia encantadora, tornou-se o hino da anistia, e colocou Elis como uma das referências artísticas contra a ditadura, algo que ela havia lutado e muito durante os anos 70, mas deixando um pouco a pulga atrás da orelha para os fãs se ela era uma aliada ou contrária ao regime militar.
Além do clássico, Elis, Essa Mulher é um álbum muito maduro e romântico, com temas bastante voltados para a intimidade feminina, concentrando-se principalmente nas relações amorosas, tendo a única exceção "O Bêbado E A Equilibrista", por que no mais, temos a fantástica revisão para "Basta de Clamares Inocência", samba tradicional de Cartola transformada em um jazz de cortar os pulsos, levada pelo groove de Luizão Maia, as baladas "Altos e Baixo" e "As Aparências Enganam", essa com uma excepcional performance de César ao piano, os boleros "Beguine Dodói" e "Bolero de Satã", com participação especial de Cauby Peixoto, e a dolorida "Essa Mulher", com a participação de Joyce no violão.
Por outro lado, depois de algum tempo Elis resolveu voltar aos grandes sambas, com uma empolgante versão para "Eu Hein Rosa" e a agitada "Cai Dentro", ambas tendo a participação de Jorge Luiz, Carlinhos e Ronaldo da Mocidade no agogô, repique e pandeiro, respectivamente, além do naipe de metais citado, e o samba-choro "Pé Sem Cabeça". O álbum, relançado em 1987 na versão digital, levou Elis novamente para a Europa, tendo destaque shows na Bélgica (ao lado de Toots Thielemans) e no 13° Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, onde realizou uma inesquecível jam session ao lado de Hermeto Pascoal, além de uma rápida passagem pelo Japão.
Além do clássico, Elis, Essa Mulher é um álbum muito maduro e romântico, com temas bastante voltados para a intimidade feminina, concentrando-se principalmente nas relações amorosas, tendo a única exceção "O Bêbado E A Equilibrista", por que no mais, temos a fantástica revisão para "Basta de Clamares Inocência", samba tradicional de Cartola transformada em um jazz de cortar os pulsos, levada pelo groove de Luizão Maia, as baladas "Altos e Baixo" e "As Aparências Enganam", essa com uma excepcional performance de César ao piano, os boleros "Beguine Dodói" e "Bolero de Satã", com participação especial de Cauby Peixoto, e a dolorida "Essa Mulher", com a participação de Joyce no violão.
Elis em 1979, mais madura e mais mulher |
Por outro lado, depois de algum tempo Elis resolveu voltar aos grandes sambas, com uma empolgante versão para "Eu Hein Rosa" e a agitada "Cai Dentro", ambas tendo a participação de Jorge Luiz, Carlinhos e Ronaldo da Mocidade no agogô, repique e pandeiro, respectivamente, além do naipe de metais citado, e o samba-choro "Pé Sem Cabeça". O álbum, relançado em 1987 na versão digital, levou Elis novamente para a Europa, tendo destaque shows na Bélgica (ao lado de Toots Thielemans) e no 13° Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, onde realizou uma inesquecível jam session ao lado de Hermeto Pascoal, além de uma rápida passagem pelo Japão.
Registro duplo com o aclamado espetáculo Saudade do Brasil |
Depois da bem sucedida turnê pela Europa, e da mini-turnê nipônica, o casal trouxe Elis, Essa Mulher para o Brasil, e começou a montar o espetáculo Saudade do Brasil, com o objetivo de tornar o Brasil ainda mais brasileiro, redescobrindo uma brasilidade que, segundo a própria, foi perdida durante a ditadura militar. Com uma super banda formada por Nathan Marques (guitarras, violão), Kzam (baixo, violão), Sagixa (bateria), Bocato (trombone), Sérgio Henriques (teclados), Nonô Camargo (trompete), Cláudio Faria (trompete), Octavio Bangla (saxofone e clarinete), Lino Simão (saxofone), Paulo Garfunkel (flauta, clarinete, saxofone), Chiquinho Brandão (flauta) e Chacal (percussão), além de um grupo de 11 bailarinos, o mesmo estreou em janeiro de 1980 em São Paulo, e logo foi extremamente aclamado por público e mídia. A WEA oferecu a oportunidade de o casal registrar o espetáculo em um disco ao vivo, mas Elis preferiu gravar tudo em estúdio, e assim, nasceu seu primeiro e único álbum duplo, Saudade do Brasil. Em pouco mais de uma hora de duração, o álbum é dividido em momentos intensos e outros de profunda intimidade.
O lado A é de tirar o fôlego, começando com a longa instrumental "Abertura", com um andamento veloz e um ótimo arranjo de César, que intercalou canções conhecidas da pimentinha como "Arrastão" e "Lapinha" entre um maravilhoso naipe de metais, e seguida pela vinheta "Terra de Ninguém", leva para a magistral sequência "Maria, Maria", "Agora Tá" e "Alô, Alô Marciano", essa última repleta de brincadeiras no estilo de cantar de Elis, debochando da "high society" citada na canção.
O lado B é mais suave, com a latina "Canção da América", onde a voz de Elis é tão suave quanto uma pluma, a dolorida "As Aparências Enganam", muito mais sofrida do que a registrada em Elis, Essa Mulher, graças ao arranjo orquestral criado por César, a tocante "Moda de Sangue", em outra sensacional interpretação da gaúcha. O samba "Marambaia" e a infantil "O Primeiro Jornal" destoam do clima ameno deste lado, e particularmente, considero a última uma das canções mais fracas registradas pela cantora.
O lado C resgata o clima apreensivo e progressivo da turnê de Transversal do Tempo, e desprezando-se a vinheta "Presidente Bossa Nova", temos a ótima releitura para "Conversando No Bar", totalmente diferente da versão de Elis (1974), a arrepiante "Onze Fitas", na qual os efeitos dos teclados de César são simplesmente insanos, uma entrega total de Elis para "Menino" e a triste e comovente, mas com a melhor interpretação de Elis no álbum, "Aos Nossos Filhos", uma das letras mais belas de Ivan Lins.
O lado D é o que mais gosto, principalmente por que é o mais surpreendente, com a intimista "Sabiá", de Tom Jobim, apenas com Elis e o piano de César, a assustadora "Aquarela do Brasil", com um coro de vozes e percussão remetendo-nos às tribos indígenas, enquanto Elis manda ver na tradicional peça de Ary Barroso, duas canções de Gonzaguinha, sendo a linda e clássica "Redescobrir", trazendo seu imortal coro de vozes cantando "como se fora a brincadeira de roda" e a estonteante montagem para "Mundo Novo, Vida Nova", e a fantástica "O Que Foi Feito Deverá", mais uma canção de Milton Nascimento, outro artista que um dia irei tomar coragem de trazer sua vasta discografia para essas páginas. Saudade do Brasil foi lançado originalmente em um box com livreto e encartes especiais, em tiragem limita de de 25 mil cópias, e posteriormente, foi relançado em dois volumes (Saudade do Brasil Vol. 1 e Saudade do Brasil Vol. 2), misturando a sequência de canções da versão original.
O lado A é de tirar o fôlego, começando com a longa instrumental "Abertura", com um andamento veloz e um ótimo arranjo de César, que intercalou canções conhecidas da pimentinha como "Arrastão" e "Lapinha" entre um maravilhoso naipe de metais, e seguida pela vinheta "Terra de Ninguém", leva para a magistral sequência "Maria, Maria", "Agora Tá" e "Alô, Alô Marciano", essa última repleta de brincadeiras no estilo de cantar de Elis, debochando da "high society" citada na canção.
Encartes do Box Saudade do Brasil |
O lado B é mais suave, com a latina "Canção da América", onde a voz de Elis é tão suave quanto uma pluma, a dolorida "As Aparências Enganam", muito mais sofrida do que a registrada em Elis, Essa Mulher, graças ao arranjo orquestral criado por César, a tocante "Moda de Sangue", em outra sensacional interpretação da gaúcha. O samba "Marambaia" e a infantil "O Primeiro Jornal" destoam do clima ameno deste lado, e particularmente, considero a última uma das canções mais fracas registradas pela cantora.
O lado C resgata o clima apreensivo e progressivo da turnê de Transversal do Tempo, e desprezando-se a vinheta "Presidente Bossa Nova", temos a ótima releitura para "Conversando No Bar", totalmente diferente da versão de Elis (1974), a arrepiante "Onze Fitas", na qual os efeitos dos teclados de César são simplesmente insanos, uma entrega total de Elis para "Menino" e a triste e comovente, mas com a melhor interpretação de Elis no álbum, "Aos Nossos Filhos", uma das letras mais belas de Ivan Lins.
O lado D é o que mais gosto, principalmente por que é o mais surpreendente, com a intimista "Sabiá", de Tom Jobim, apenas com Elis e o piano de César, a assustadora "Aquarela do Brasil", com um coro de vozes e percussão remetendo-nos às tribos indígenas, enquanto Elis manda ver na tradicional peça de Ary Barroso, duas canções de Gonzaguinha, sendo a linda e clássica "Redescobrir", trazendo seu imortal coro de vozes cantando "como se fora a brincadeira de roda" e a estonteante montagem para "Mundo Novo, Vida Nova", e a fantástica "O Que Foi Feito Deverá", mais uma canção de Milton Nascimento, outro artista que um dia irei tomar coragem de trazer sua vasta discografia para essas páginas. Saudade do Brasil foi lançado originalmente em um box com livreto e encartes especiais, em tiragem limita de de 25 mil cópias, e posteriormente, foi relançado em dois volumes (Saudade do Brasil Vol. 1 e Saudade do Brasil Vol. 2), misturando a sequência de canções da versão original.
Arrepiante sequência de imagens de Elis debulhando-se em lágrimas em "Atrás da Porta" |
É importante ressaltar que no meio das gravações do álbum, o casal teve seu relacionamento passando por turbulências, chegando a se separar por algumas semanas. Mas após uma linda homenagem realizada por Elis durante o especial da Rede Globo Elis Regina Carvalho Costa, na qual primeiro ela debulha-se em lágrimas durante "Atrás da Porta", naquele que é um dos momentos mais marcantes da TV brasileira, e depois, sentada ao lado de César no piano, faz misérias com "Rebento", o casal reconciliou-se, propiciando assim a criação da última obra oficial registrada pela gaúcha enquanto viva.
Essa magistral apresentação pode ser conferida no DVD que leva o nome do especial, que inclusive, foi relançado em formato box em 2007.
Essa magistral apresentação pode ser conferida no DVD que leva o nome do especial, que inclusive, foi relançado em formato box em 2007.
A despedida para os fãs |
Elis saiu da WEA, e assinou com a EMI-Odeon, que em dezembro de 1980 lançou Elis, álbum dedicado à Rita Lee e que traz alguns nomes que se consagrariam nos anos 80, como Beto Guedes, Guilherme Arantes e os irmãos Borges. A banda de apoio conta com Nathan Marques (guitarra, baixo, violão), Sergio della Monica (percussão), Picolé (bateria), Pisca (violão) e Pedro Baldanza (baixo), e temos nele a dançante "O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre", de Beto Guedes, a balada "Só Deus É Quem Sabe" (Guilherme Arantes), os sambas "Sai Dessa" e "Calcanhar de Aquiles", que abrem e fecham o LP respectivamente, e o bolero "Nova Estação", com a participação de Kzan no baixo e Chico Batera nas marimbas.
A perfeita versão de "O Trem Azul", de Lô Borges, conta com a participação de José Roberto no saxofone, Lô Borges esse que participa de "Vento de Maio" (Telô e Márcio Borges) cantando de forma incidental "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo", enquanto "Vivendo e Aprendendo a Jogar" (Guilherme Arantes) é um funk dançante influenciado pela cena disco. Este álbum contém o último grande momento de Elis com César, a linda bluesy "Rebento", (Gilberto Gil), com Elis emocionada acompanhada pelo magistral piano de César, fazendo até surdo chorar.
Considerado um álbum fraco quando de seu lançamento, hoje ele é admirado e consagrado como uma das principais obras do casal, mas particularmente, não entra em um Top 5 do que foi feito pela dupla nesse período, apesar de "Rebento" ser incrível. Elis foi relançado em CD em 2002, trazendo como bônus "Tiro ao Álvaro", "Se Eu Quiser Falar com Deus", "O que Foi Feito Devera (de Vera)" e "Outro Cais", e em 2007, ganhou uma belíssima caixa especial da Odeon para homenagear o único lançamento da artista pelo selo, trazendo como bônus a última participação de Elis em um programa de TV, o especial Jogo da Verdade da TV Cultura, que foi ao ar nove dias antes de sua morte. A despedida de Elis é uma obra que marcou por ser também o fim do relacionamento do casal, que se separou oficialmente em 1981, deixando um legado de onze discos essenciais.
A perfeita versão de "O Trem Azul", de Lô Borges, conta com a participação de José Roberto no saxofone, Lô Borges esse que participa de "Vento de Maio" (Telô e Márcio Borges) cantando de forma incidental "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo", enquanto "Vivendo e Aprendendo a Jogar" (Guilherme Arantes) é um funk dançante influenciado pela cena disco. Este álbum contém o último grande momento de Elis com César, a linda bluesy "Rebento", (Gilberto Gil), com Elis emocionada acompanhada pelo magistral piano de César, fazendo até surdo chorar.
Todo o material do box Elis |
Considerado um álbum fraco quando de seu lançamento, hoje ele é admirado e consagrado como uma das principais obras do casal, mas particularmente, não entra em um Top 5 do que foi feito pela dupla nesse período, apesar de "Rebento" ser incrível. Elis foi relançado em CD em 2002, trazendo como bônus "Tiro ao Álvaro", "Se Eu Quiser Falar com Deus", "O que Foi Feito Devera (de Vera)" e "Outro Cais", e em 2007, ganhou uma belíssima caixa especial da Odeon para homenagear o único lançamento da artista pelo selo, trazendo como bônus a última participação de Elis em um programa de TV, o especial Jogo da Verdade da TV Cultura, que foi ao ar nove dias antes de sua morte. A despedida de Elis é uma obra que marcou por ser também o fim do relacionamento do casal, que se separou oficialmente em 1981, deixando um legado de onze discos essenciais.
O casal César Camargo Mariano e Elis Regina |
Depois de uma breve temporada por Chile, Estados Unidos (onde quase foi registrado um álbum com Wayne Shorter, o que não vingou por que a gaúcha teve mais um dos vários desentendimentos que levaram a criação de seu apelido por Vinícius de Moraes) e da estreia do festival Trem Azul, o primeiro sem César, a cantora saiu da WEA para assinar com a Som Livre, por onde não chegou a lançar nenhum álbum oficial. No dia 19 de janeiro de 1982, depois de uma overdose de cocaína e álcool, a cantora é encontrada morta no seu apartamento pelo então namorado Samuel Mac Dowell. Era o fim da vida de Elis, que entrou para a eternidade como a maior e mais talentosa voz do Brasil.
Nesse período, foram lançada as coletâneas O Melhor de Elis (1979) e Elis Regina e Seus Amigos em Encontros Históricos (1981), bem como os compactos "O Bêbado E A Equilibrista" / "As Aparências Enganam" (1979), o primeiro em cinco anos, "Alô, Alô, Marciano" / "No Céu da Vibração" (1980), "Se Eu Quiser Falar Com Deus" / "O Trem Azul" (1980) e "Me Deixas Louca / Baby Face" (1982). Elis também participou de alguns álbuns, cantando "O Que Foi Feito Devera" no álbum Clube da Esquina 2 (1978), "Outros Cais", no álbum Os Borges, do grupo formado pela família Borges - Lô, Yé, Márcio, Marilton e Telo - (1980), "Tiro ao Álvaro" no álbum Adoniran Barbosa e Convidados (1980), "O Pequeno Exilado" no álbum homônimo do gaúcho Raul Ellwanger (1980), "A Corujinha", do álbum A Arca de Noé (1980), além de ter inseridas em trilhas de novelas as canções "Fascinação" (O Casarão, 1976), "Altos e Baixos" (Água Viva, 1980), "Moda de Sangue" (Coração Alado, 1980) e "Me Deixas Louca" (Brilhante, 1981).
Em quinze dias, irei trazer os álbuns póstumos lançados em nome de Elis com material inédito, bem como um apanhado geral das coletâneas que podem introduzir o ouvinte ao maravilhoso mundo dessa bela discografia da pimentinha, encerrando então nossa homenagem para a ainda hoje Maior Voz do Brasil.