quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Capas Legais: Jefferson Airplane - Bark [1971]



O programa de hoje do Capas Legais resgata o primeiro lançamento da gravadora Grunt, Bark. O sexto disco do Jefferson Airplane foi lançado com uma excêntrica capa no formato de bolsa de supermercado. Confira, compartilhe e aproveite para inscrever-se em nosso canal!



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Consultoria Recomenda: Não Ouça Isso Aqui




Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Mairon Machado

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale e Fernando Bueno

Bem interessante esta escolha de tema do Mairon: discos ruins de bandas que você curte. Temos aí alguns trabalhos que nossos consultores não gostam e que o restante comentou. Como sempre, umas opiniões aí polêmicas e difíceis de engolir. Você também gosta desses discos? Ou concordam que sejam também uma porcaria? Deixem suas opiniões nos comentários!

Focus – Focus [1985]

Por Mairon Machado

Tenho muitos discos frustrantes em minha coleção, mas com certeza, a maior decepção veio desse Focus. Afinal, é a união novamente dos grandes nomes que consagraram a banda holandesa nos anos 70, porém nos anos 80, quase 10 anos após a sua separação. Jan Akkerman e Thijs Van Leer ostentam alaúde e flauta na contra-capa, e só podemos esperar lindos arranjos e melodias advindos das caixas de som, criadas por esses gênios do progressivo. Mas o que ouvimos é uma vexatória tentativa de soar moderno, e que naufraga em tediosas explorações eletrônicas e sintetizadores de timbres tinhosos, vide “Indian Summer” (tenebrosa), e “Le Tango” (que ganharia uma versão mais digna anos depois). O pior fica para os mais de dez entediantes e insuportáveis minutos de “Beethoven’s Revenge“, um dos piores abortos musicais da história. Pouco se escapa aqui, como “King Kong”, onde a capa faz justiça com a participação de flauta e violão, mas não de forma tão empolgante como imaginávamos, algumas passagens de “Who’s Calling“, quando a guitarra e flauta dão o ar da graça na tinhosa “Olé Judy”, e alguns parcos momentos de “Russian Roulette”. Estava pegando poeira na prateleira há algum tempo, e voltou para rodar para essa edição, apenas para ficar mais alguns anos servindo apenas como complemento da coleção do Focus. Vergonha alheia.


André: Não chega a ser uma bomba, mas sim um peido de véio. Um disco inofensivo, sem graça, um prog eletrônico pouco inspirado e que tenta pegar carona na onda oitentista sintetizada. Até tem umas coisinhas legais de flauta em “King Kong”, mas nada de marcante. Sei lá, parece que queriam misturar world music com folk, com prog, com eletrônico, com mais um monte de coisa e saiu uma salada bem sem nada de destaque.

Daniel: Eu tenho este álbum, pois ele veio em uma caixa do Focus com outros 12 discos. Vou confessar que nunca havia prestado muita atenção nele e neste exato momento entendi o porquê. Na realidade, esta não é a banda que gravou o clássico “Hocus Pocus”. Isto aqui é um programa de uma rádio FM, que é transmitido às 3 horas da tarde, direcionado a quem está em uma sala, esperando uma consulta médica ou como trilha sonora de repartição pública. Não necessariamente terrível, mas a chamada “música de elevador”.

Davi: Esse disco deve ter sido um belo balde de água fria para quem comprou na época. Afinal, esse álbum marcava o primeiro trabalho de inéditas da dupla Jan Akkerman e Thijs Van Leer, em uma década. E, para piorar, usaram o nome do Focus na capa do disco. Até acho que seria aceitável se saísse com o nome de The Unfinished Demos, porque é exatamente essa a sensação que fica de várias faixas. Akkerman e Van Leer apresentam aqui um álbum instrumental e adequado ao som da época. Ou seja, um disco repleto de sintetizadores, bateria eletrônica e uma sonoridade mais clean. Não tenho tanto problema com isso, mas achei o repertório bem fraco. O disco é bem sem graça e você se esquece de tudo que ouviu poucos minutos após terminar a audição. “King Kong”, “Le Tango” e “Ole Judy” são as melhores, mas mesmo assim estão longe do que considero uma grande faixa. Achei o disco irregular.

Fernando: Confesso que nunca tinha ouvido esse disco. Gosto e tenho muitos discos do Focus mas nunca tive a necessidade de ouvir toda a discografia. Muitas bandas progs se perderam nos anos 80 por tentar modernizar seu som ou simplesmente ir na onda do que estava em alta na época, mas o Focus foi para outro nível. Os timbres são ruins, as ideias são ruins e tudo isso me parece que foi resultado de uma reunião que feita também em um momento ruim.

Megadeth – Risk [1999]

Por Daniel Benedetti


Este disco é uma das maiores decepções musicais que tive. Tudo bem, os dois álbuns da discografia do Megadeth que o antecedem já não são do nível que a banda atingiu em Rust in Peace, mas tinham os seus momentos. Este aqui, nem isso. Há um riff aqui e outro acolá, mas, no grosso, o que fica são canções amenas, sem nenhum ‘punch’, sem nenhuma pegada, com vocais vexaminosos de Dave Mustaine. Há canções constrangedoras como “The Doctor Is Calling”, “I’ll Be There” e “Ecstasy”, todas são um “pop metal” sem nenhuma graça, sem vibração ou mesmo sentido. Mas nada supera “Crush ‘Em”, a pior música da carreira do Megadeth. Enfim, este álbum é uma catástrofe.

André: Dos discos daqui, é o único que irei contrariar e dizer que gosto do álbum. Por mais que tenha sido um fracasso comercial e grande parte do pessoal tenha malhado o disco na época, digo que o álbum até envelheceu bem. Tem uma pegada hard rock moderna com alguns momentos de metalcore. Mas as composições e o estilo do disco me agradam. Eu por exemplo adoro “Crush’ Em”. Outra que também curto é “Seven” que contam com riffs legais e uma pegada do hard oitentista que gosto, mesmo que seja estranho a primeira ouvida com as vozes de Mustaine. Enfim, não acho ruim, sei que destoa do restante da discografia da banda, mas esse é um daqueles casos que de “Discos que Parece que Só Eu Gosto”.

Davi: Sabe quando a banda sai da sua zona de conforto, mas seus fãs são conservadores demais para entenderem o álbum e começam a torcer o nariz para o artista? Bem, esse é exatamente o caso de Risk. O Megadeth é um dos gigantes do thrash metal, que nasceu quando seu líder foi expulso de outro gigante do thrash metal. Bem… Os caras lançam um álbum, o que todo mundo espera? Thrash metal! O que está presente no disco? Heavy metal com influência de rock alternativo e rock industrial. Pronto! A treta se tornou real. Esse é aquele trabalho típico que, se tivesse sido lançado com o nome de Dave Mustaine Project, não teria sido massacrado. Ok, “Crush ‘Em” é bem fraquinha, mas o disco, como um todo, é bem interessante. “Breadline” tem um pé no pop, mas é uma boa canção. “Prince of Darkness”, “The Doctor Is Calling” e “Ecstasy” também são faixas acima da média. Claro, o disco não é perfeito, tem uns fillers aqui e ali, mas está longe de ser essa bomba atômica que pintam. Deixe o mimimi de lado e dê uma nova chance.

Fernando: Nunca desgostei totalmente desse álbum do Megadeth. Analisando todas as circunstâncias de quando ele foi lançado é muito compreensível o seu resultado. Os anos 90 fora cruéis para algumas bandas e quem tentou algo diferente nem sempre deu certo. Vem à cabeça um exemplo parecido, o Kreator, que como o Megadeth errou a mão, mas fez discos que tem seus momentos interessantes. Entretanto a velha comparação com o Metallica também deve ter interferido muito, pois sabemos que mesmo dizendo que não, os rumos de sua ex-banda sempre influenciava no que Dave estava fazendo.

Mairon: Pessoal sempre caiu de pau nesse disco, e confesso que nunca entendi por que. Gosto bastante de “Insomnia” e da pesada “The Doctor Is Calling”. Ok, o disco tem experimentações como os eletrônicos de “Prince of Darkness”, momentos psciodélicos da ótima “Wanderlust”, flerte com disco music(?) em “Crush ‘Em”, uma das melhores músicas que Mustaine fez em sua carreira, e até uma pisadinha no Metallica de Load e Re-Load em “Seven” (que solos de guitarras massa). Mas para aí, essas músicas são muito legais, e melhores até que os discos da “banda rival” da turma de Mustaine. Admito que “Breadline” e “I’ll Be There” são fraquinhas, que a primeira parte de “Time” é desnecessária, mas no mais, acho que a coisa funciona muito bem. Fala sério, como não cantar “Ecstasy” em plenos pulmões, e ainda por cima com aqueles violões?? É um disco bastante diferente na discografia do Megadeth, mas acho ele muito bom, e longe de ser o pior da banda, já que mesmo nos anos 2000 vieram coisas bem mais fracas ou com pouca inspiração.


Queensrÿche – Q2K [1999]

Por André Kaminski


Eu sempre achei que essa banda tinha um potencial enorme para lotar estádios e ser uma banda gigante. Mas depois de Empire [1990], a banda só flopou em seus lançamentos posteriores com um ou outro disquinho bom ou meia boca. Este é um dos piores. Um rockzinho alternativo chato, monótono, com um instrumental previsível e de pouco capricho. Não sei como os caras aguentaram essas baboseiras do Tate por mais de 20 anos desde a obra prima que foi o Empire. Depois que eles separaram, tanto Tate quanto o restante da banda até que entraram nos eixos e lançaram trabalhos melhores. Mas aí já era tarde demais para serem aquela banda gigante que eu achei que poderiam ser. Se quiserem pegar o melhor da banda, escutem os 4 primeiros, daí ouça o Mindcrime II (que eu até achei bom) e aí voltem ao autointitulado de 2013 para frente que você terá boas coisas. Quanto ao restante, fuja. Desse aqui principalmente.

Daniel: Que disco chato! Vou soar repetitivo, mas este é outro trabalho sem nenhuma pegada, sem nenhum punch. Eu gosto do grupo, especialmente de seus álbuns iniciais, mas este aqui foi uma tortura de ouvir até o fim. “Liquid Sky” é um símbolo da chatice do álbum, bem como a insuportável “Burning Man”. Para não dizer que nada se salva, “Breakdown” é legalzinha, mas é só. Nada de músicas mais trabalhadas e zero de inspiração.

Davi: A fase do Queensryche que vai do EP ao Empire é devotada entre os fãs de heavy metal. A partir de Promised Land, seus álbuns começam a dividir cada vez mais os seguidores. E esse aqui teve um fator extra para isso. O guitarrista Chris De Garmo, figura extremamente importante nessa primeira fase, havia largado o barco. Para o seu lugar veio (o bom) Kelly Gray. Discos como Operation Mindcrime e Empire ficaram na memória dos fãs por apresentar um repertório cativante e complexo. Em Q2K, os arranjos estavam mais simples e a sonoridade aqui estava mais próxima do Hear In The Now Frontier do que fase clássica. Trata-se de um álbum variado, extremamente bem tocado e bem cantado, porém eles não haviam se livrado da influência do rock alternativo, que tanto vinha incomodando parcela de seus fãs. Contudo, se você ouvir o disco, sem comparar com o que foi feito no passado, simplesmente der o play e tentar entender o contexto do álbum, você provavelmente irá se divertir bastante. Eu, particularmente, gosto muito de faixas como “How Could I?”, “Breakdown” e “The Right Side of My Mind”. Não é um clássico, mas é um bom disco.

Fernando: Achar disco ruim na discografia do Queensryche não é coisa difícil, principalmente depois de Promise Land. Talvez esse nem seja seu pior disco. Tem outros que poderiam estar aqui como Dedicated to Chaos, Tribe, American Soldier… Ou seja, a banda perdeu por no mínimo 20 anos de carreira.

Mairon: O Queensrÿche é uma banda que realmente não consigo gostar, mas o EP de estreia, que foi recomendado em um Consultoria Recomenda há alguns anos, eu curti bastante. Não sabia o que esperar deste disco, e até que me surpreendi positivamente. A banda não está voltada aquelas inspirações progressivas do final dos 80, início dos 90, e soa como um hard noventista com pitadas de grunge. A coisa funcionou bem. Gostei de faixas como “Breakdown”, “Falling Down”, “How Could I?” e “Sacred Ground”. Impressionante como a voz do Geoff Tate me lembrou o Michael Kiske de Chameleon (que achei que pintaria nessa lista). “One Life” é uma ótima música, dá vontade de cantar junto, e com um lindo solo carregado no wah-wah (Alice in Chains deve ter ficado faceiro aqui), bem como “The Right Side of My Mind”, a única a flertar com progressivo, mas de forma muito sutil. Até a baladinha “When the Rain Comes…” é legalzinha, melhor que a clássica “Silent Lucidity”. A segunda metade do álbum cai bastante, principalmente em faixas como “Beside You”, “Burning Man”, “Liquid Sky” e “Wot Kinda Man”, essa última um Soundgarden pioradinho. No geral, gostei do disco, mas entendo que para um fã de Queensrÿche, realmente não combina.

Gov’t Mule – Mighty High [2007]

Por Davi Pascale


Quando pedi para o Mairon que me explicasse o tema, ele me disse que teria que recomendar um disco de uma banda que fosse fã, mas que não gostasse tanto do disco em específico, que considerasse uma bola fora. Não demorou muito e vários títulos começaram a pipocar na minha cabeça. Pensei no Zooropa (U2), no Los Hermanos 4, no Eye II Eye do Scorpions, mas acabei optando por esse do Gov´t Mule por considerá-lo menos manjado. Me tornei fã do Gov’t Mule ainda nos anos 90, por recomendação do pessoal da Aqualung, quando ainda era moleque. De cara, adorei o som blues rock praticado pelo trio. As músicas eram fantásticas, os músicos impressionantes, e vim acompanhando a cada lançamento desde então. Comprei esse disco na época de lançamento e, pela primeira vez, fiquei decepcionado. Claro, a parte de execução continua brilhante, mas achei o repertório bem chato. Aqui, eles saem do senso comum e caem no universo do reggae/dub. Até gosto de algumas coisas do gênero, mas sei lá, acho esse trabalho bem cansativo. A música que abre o álbum “I´m a Ram” considero excelente, “The Shape I´m In” acho bacana e a versão de “Play With Fire” (Rolling Stones) ficou interessante, o resto do disco não me agrada. Nem mesmo a versão do clássico “Hard to Handle” (Otis Redding) me cativou. Claro, não vou dizer que é um lixo, a banda sempre teve qualidade de sobra, mas definitivamente é um trabalho que não me encanta. Vamos ver o que nossos colegas têm a dizer.

André: Não conheço muito da banda, mas sei que eles fazem um southern rock competente. Então me surpreendi quando comecei a tocá-lo e começou a sair um “reggae rock” aqui das minhas caixas de som. Não sou fã de reggae, mas ouço sem fazer cara feia. Porém, achei o disco meio chatinho. Não é um horror, mas é aquela coisa meio inofensiva, como uns momentos xaropentos que me remeteriam a uma espécie de “reggae alternativo” como em “Horseflies”. “Unblow your Horn” tem um trompete que soa, como dizemos aqui no Sul, “paia”. Bem esquecível e totalmente deslocado na discografia dos caras.

Daniel: Eu confesso que nunca dei bola para essa banda e não conheço seu trabalho anterior, portanto, não sou capaz de comparar este disco com a obra prévia do grupo. Dito isto, também confesso que “Reggae Rock” não é algo que costume me agradar, ainda mais quando me parece um pastiche. Este é o pior disco da lista – e com sobras. “Rebel with a Cause”, a segunda faixa, quase me fez desistir da audição, mas segui em frente. Mal sabia que a versão para “Play with Fire” seria uma tortura infindável, que “Unthrow That Spear” é ruim de doer ou que “Reblow Your Mind” gira sem sair do mesmo lugar. Para não dizer que odiei tudo, “So Ram, So Strong” tem uma malemolência legalzinha. Concluindo: se isto é o tal Gov’t Mule, nunca mais!

Fernando: Eu não consigo nem dizer se esse disco do Gov´t Mule é ruim ou não, pois desconheço a banda quase que completamente. Porém sei que os fãs de Southern rock tem a banda em alta conta, então só de encontrar sinais de reggae e dub já me fazem ir com a maré e não recomendar esse disco.

Mairon: Confesso que não sou um grande conhecedor da obra do Gov’t Mule, mas o pouco que havia ouvido, havia gostado (principalmente os discos dos anos 90). Esse álbum em especial nunca tinha ouvido, e me foi uma baita surpresa. Jamais imaginaria o grupo gravando reggae e versões dub para suas canções, e por mais que eu goste de reggae, a combinação com o estilo southern original do grupo não combinou. É difícil ouvir as jams “Reblow Your Mind” e “Outta Shape”, ou entao “Rebel With a Cause” e “The Shape I’m In”, sem sentir uma sonolência pesada. A coisa piora em “Horseflies”, “Plasticine Era”, “Unblow Your Horn”, na desnecessária revisão para “Play With Fire”, ou então “Unthrow That Spear”, faixas perfeitas para se soltar aquele “put@ que p@riu, olha o que me obrigam a ouvir …”. Se a banda ficasse só no que foi consagrado mundialmente, seria ótimo, como o solo de “I’m a Ram”, ou se o disco fosse todo com os vocais animados de Toots Hibbert em “Hard to Handle”, ou até mesmo a malemolência de “So Ram, So Strong”, daí até passaria por média. Mas não é, infelizmente. Como diz a canção “Hard to Dubya”, é duro de ouvir isto … Ótima indicação para esse Recomenda. Fuja sem medo!

Van der Graaf Generator – Alt [2012]

Por Fernando Bueno

Eu já até escrevi sobre esse disco aqui para o site. Lembro que foi uma decepção tão grande quando recebi esse disco e coloquei para tocar que me senti na obrigação de avisar outros fãs da banda para que não cometesse o mesmo erro que eu. Afinal o meu objetivo aqui no site é passar as boas impressões que eu tenho de música para os leitores e escrever sobre algo que eu não gostei nunca foi a intenção. Ou seja, o desgosto foi tão grande que causou essa ocasião única para mim. O texto original ficou perdido pelo nosso problema com o antigo servidor. E talvez nem possa ser considerada uma perda.

André: Daquele tipo de coisa que eu simplesmente abomino: arte pós-moderna. Pintam um quadro de branco e chamam de “O Nada”, “O Vazio”. Dão um pincel para um macaco fazer sujeira e chamam a bagunça de “Arte Símia”. Basicamente o mesmo tipo de comparação pode ser dito sobre este disco: um monte de baboseiras instrumentais coladas que alguns chamam de “música”. Ruim. Muito ruim. E além de ruim, é chato.

Daniel: Esqueça-se da banda que gravou álbuns como Pawn Hearts e Godbluff. Se o leitor for ouvir este Alt esperando aquele som, vai ser pura decepção. Este disco é totalmente experimental, quase uma “bricolagem” de sons e efeitos sonoros, com passagens instrumentais. É um disco que eu chamaria de ‘desafiador’, pois exige do ouvinte uma boa dose de ‘boa vontade’, não apenas para compreender a proposta, mas, principalmente, embarcar nesta viagem experimental. Eu curti e “Dronus” é uma faixa incrível!

Davi: Tudo bem, a banda é boa, fez história, mas isso aqui é uma verdadeira tortura. Trata-se de um álbum extremamente experimental, que apresenta os músicos fazendo jams e colocando efeitos fora de hora. Nenhuma música mais melódica e nenhum momento que faça seus olhos brilharem, que te deixe intrigado. É aquele álbum típico que deixaria Yoko Ono feliz, mas que deixa meus ouvidos tristes, muito tristes. Nenhuma música se destaca. Achei o álbum horripilante do início ao fim. Foi o pior da lista, fácil, fácil.

Mairon: Esse álbum do Van der Graaf Generator é um tanto quanto controverso entre os fãs da banda, mas não o considero o pior. Totalmente instrumental e bastante improvisicional, a união do trio Peter Hammill, Hugh Banton e Guy Evans cria um clima bastante interessante ao meu ver, como uma espécie de trilha sonora, de onde destacam-se experimentações como “Colossus”, “Dronus” e “Splendid”, ou os espetáculos a parte de Guy em “Elsewhere”, uma das melhores faixas do álbum. Quando há criação exclusiva por parte de Banton, a coisa flui ainda melhor, vide a linda “Repeat After Me” e a espetacular “Midnite or So”. Ok, o disco possui alguns delírios e viagens desnecessárias, mas nada que seja tão ridículo ou ruim assim. Se Time Vaults estivesse por aqui, até entenderia, mas Alt eu discordo fortemente

domingo, 12 de setembro de 2021

Saxon - Inspirations [2021]




 O que leva um grupo de veteranos do Heavy Metal a gravar um disco de covers de bandas que foram inspirações em sua carreira? Bom, uma pandemia mundial é uma boa justificativa para isso, e foi o que os britânicos do Saxon construíram durante o ano de 2020, culminando com Inspirations, vigésimo terceiro álbum da banda, lançado no dia 19 de março deste ano. O grupo está com Biff Byford (vocais), Paul Quinn (guitarras), Doug Scarratt (guitarras), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glockler (bateria)

Temos aqui homenagens bastante diversificadas, como os dois grandes nomes do British rock nos anos 60, sendo que o disco abre com uma pesada versão para “Paint it Black” dos The Rolling Stones, que mantém as harmonias do original, mas claro, com as guitarras fazendo as vezes do Sitar, ganhou bastante peso, assim como o rockaço de “Paperback Writer”, mais uma versão para uma canção dos The Beatles a entrar no hall de “melhor que a original”, principalmente pela presença das guitarras.

Nigel Glockler, Doug Scarratt, Biff Byford, Nigel Glocker e Paul Quinn

O genial Jimi Hendrix é homenageado com “Stone Free”, bem mais para cima do que a versão de Hendrix, mas diria que num patamar abaixo do que a original, fugindo um pouco do clima que o Deus Negro da guitarra criou, assim como o gigante Motörhead recebe uma paulada versão para “Bomber”, que é um dos grandes momentos de Inspirations. Outro grande trio a ser homenageado pelo Saxon é o Thin Lizzy, com uma fantástica “The Rocker”, que assim como “Stone Free”, ficou bem mais up do que a original, mas aqui, pontos positivos ao Saxon.

A Santíssima Trindade do hard britânico também está no CD, com “Immigrant Song”, versão muito fiel a do Led Zeppelin, até com os agudos bem feitos pela voz experiente de Bifford. “Evil Woman”, original do The Crows, mas mundialmente conhecida pela versão do Black Sabbath, também está bastante fiel ao que a turma de Iommi fez, com o baixão de Nibbs em destaque. E o Deep Purple surge com “Speed King”, outra muito fiel ao original, que peca pela ausência do hammond durante o solo, mas que foi relativamente compensado pelas guitarras, os quais aqui sim criaram solos totalmente novos, que fogem do que foi registrado pelo Purple em In Rock (1970).

Versão em vinil branco

Como surpresas, temos AC/DC e sua “Problem Child”, bastante fiel ao que foi gravado por Angus Young e cia, a linda versão de “See My Friends” dos The Kinks, que é talvez a que mais foge dos padrões originais, apenas com as linhas vocais bastante similares, e o surpreendente Toto de “Hold the Line”, que, acredito eu, possa ter sido a inspiração para os britânicos gravarem álbuns como Innocence Is My Excuse e principalmente, Destiny, até por que eles gravaram neste disco a versão de "Ride Like the Wind" (Cristopher Cross), e ouvindo a boa versão do Saxon para esse clássico, é possível perceber elementos destes discos por aqui, principalmente no refrão. 

Curti bastante também a capa do disco, na qual traz as caricaturas dos onze grupos homenageados junto a caricatura do Saxon, sendo divertido ficar buscando cada uma das bandas. Senti falta apenas de alguma canção do progressivo, pois uma banda que fez algo tão sensacional para "In the Court of the Crimson King" (Killing Ground, de 2001) certamente tem referências para serem "inspiradas" em um disco. Em pouco mais de 36 minutos, o álbum passa de forma divertida e muito bem apreciada para esses tempos difíceis em que o álbum foi criado, mas que certamente, deve ter dado um grande alívio para o quinteto em ter tocado canções tão emblemáticas para a história da música, e como o título do álbum sugere, inspiraram na formação de um dos grandes grupos do heavy metal britânico. 

Contra-capa em vinil

Track list

1. Paint It Black
2. Immigrant Song
3. Paperback Writer
4. Evil Woman
5. Stone Free
6. Bomber
7. Speed King
8. The Rocker
9. Hold The Line
10. Problem Child
11. See My Friends
Imagem que inspirou a capa de Inspirations

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Rush - A Farewell To Kings (40th Anniversary) [2017]



Ontem, completou-se 44 anos de A Farewell To Kings, quinto disco de estúdio dos canadenses do Rush. O álbum por si só é considerado o primeiro da fase mais progressiva da banda, que seguiu ainda com Hemispheres (1978), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981). Afinal, depois de namorarem por dois anos com o progressivo, o trio canadense, aqui formado por Geddy Lee (baixo, violão de doze cordas, mini-mooh, badd pedal synthesizer, vocais), Alex Lifeson (guitarras, guitarra de doze cordas, violões, violão de 12 cordas, violão clássico, bass pedal sinthesizer) e Neil Peart (bateria, sinos, tímpano, tubular bells, Wind Chimes, triângulo, Bell Tree, Vibraslap) resolveu assumir a relação (basta ver a quantidade de instrumentos que o trio está tocando), e o casamento ocorreu em 1977, gerando quatro filhos geniais citados acima.

Em A Farewell to Kings, o trabalho dos canadenses é praticamente perfeito. Aliás, o que Lifeson faz em todo o álbum é de tirar o chapéu, e deixar aquela dúvida de por que ele nunca está entre os dez mais nas listas de melhores guitarristas de todos os tempos. Mesmo as canções mais simples, no caso a clássica "Closer to the Heart" e a lindinha "Madrigal", o homem está impressionando. Nas demais músicas, ouvimos a pura perfeição, seja nos extasiantes cinco minutos da faixa-título, destacando o violão clássico de Lifeson e seu solo de guitarra fora do comum, no hard simples de “Cinderella Man” ou nas maravilhas prog “Xanadu”, trazendo uma das mais apreensivas e perfeitas introduções criadas pelo trio, e “Cygnus X-1″, diamante bruto que foi lapidado um ano depois, tornando-o fácil um dos melhores da carreira dos caras. 

Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart em 1977

Então, seguindo a série de lançamentos em comemoração aos 40 anos de seus discos, já apresentado aqui com 2112 e Hemispheres, volto no tempo para comentar a versão de A Farewell To Kings, que foi lançada em 2017. A versão aqui apresentada é a Deluxe Edition, com três CDs, deixando a edição box Super Deluxe, com quatro LPs, três CDs, e mais um Bluray, apenas para o sonho de conquista de um colecionador (mas citarei o diferencial do box ao final). Já comentei sobre o álbum nos parágrafos acima, e o que posso acrescentar aqui é que as faixas estão com a mixagem feita para o relançamento, em CD de 2015, chamada de Abbey Road Mixes, então, vamos aos extras.

Nos CDs bônus, o lançamento resgata o show dos canadenses no dia 20 de fevereiro de 1978, no Hammersmith Odeon de Londres. Parte deste show saiu como CD bônus no ao vivo Different Stages (1998), com onze canções deste show lançados naquela época. Agora, o show vem completo, trazendo além das onze de Different Stages (a saber "Bastille Day", "By-Tor And The Snow Dog", "Xanadu", "A Farewell To Kings", "Something For Nothing", "Cygnus X-1", "Anthem", "Working Man", "Fly By Night", "In The Mood" e "Cinderella Man"), estão somadas quatro canções: "Lakeside Park", "Closer to the Heart", "2112" e "Drum Solo", totalizando 35 minutos a mais. O CD 3 também traz alguns extras, que comento na sequência.

O trio e toda sua parafernália ao vivo

Pegando a apresentação no Hammersmith, após a abertura com "Nights Winters Years", de Justin Hayward e John Lodge, entre muitas explosões, o Rush entra detonando com "Bastille Day", apropriadamente utilizada para abrir a turnê de um álbum chamado A Farewell To Kings. Essa paulada de Caress of Steel é tocada sem tirar uma nota em relação ao original, e logo, o trio acalma os ânimos com a suave "Lakeside Park", de 2112, onde já podemos perceber o uso do bass pedal synthesizer por parte de Lee e Lifeson, com pequenas intervenções entre as pontes da canção. Voltamos para a pancadaria com "By-Tor & The Snowdog", de Fly By Night, e um show à parte de Peart, e encurtada pela metade, abrino os trabalhos para "Xanadu". Essa é uma das grandes atrações do show no Hammesrmith Odeon, já que podemos conferir cinco das seis canções de A Farewell to Kings sendo apresentadas ao vivo, e claro, os doze minutos de "Xanadu", com o trio utilizando praticamente todos os instrumentos possíveis em uma única canção (os famosos double-necks de Lee e Lifeson e a incrível parafernália de instrumentos percussivos de Peart, além do já citado bass pedal synthesizer) é sempre um momento especial. A versão de "Xanadu" é bem próxima ao original e ao que ouvimos em Exit ... Stage Left, mas não por menos encantadora, mostrando que o Rush não era uma banda muito adepta à improvisos, sempre primando pela excelência de suas apresentações. Que grande som!

A versão aqui tratada

Seguimos pela linda "A Farewell To Kings", com Lifeson no violão clássico e mais uma série de empregos de novos instrumentos, seja o mini-moog de Lee ou os diversos apetrechos percussivos de Peart, em outro grande som deste álbum, passamos por "Something For Nothing" (2112), com Peart empregando os sinos tubulares, e encerramos o primeiro CD com "Cygnus X-1", simplesmente perfeita, em toda sua integridade e grandeza, ao longo dos seus 11 minutos dos quais é difícil dizer qual dos músicos está na melhor performance. Uma das canções mais fantásticas da carreira do Rush, simples, e ao mesmo tempo extremamente complexa, e que permitiu posteriormente a sequência para "Cygnus X-1: Book Two - Hemispheres". 

O segundo CD traz as outras duas canções de A Farewell to Kings, mas começa com a paulada "Anthem", de Fly By Night, para mim a melhor faixa para abrir um show do Rush, mas que aqui vem abrindo o segundo CD. Passa por "Closer to the Heart", muito fiel ao original, e tem seu auge com os vinte minutos de "2112", a emblemática faixa que mudou a vida dos canadenses, como tratado aqui, e que nesse show do Hammersmith Odeon, ganhou mais uma interpretação visceral. Os agudos de Lee são impressionantes, o vigor de Peart é de perder o fôlego com quatro minutos, e toda a técnica de Lifeson nos seus solos e riffs são para colocar o guitarrista em um pedestal muito acima de alguns nomes consagrados do instrumento. Acho bem legal também que Lifeson resgata o tema de Contatos Imediatos de Terceiro Grau no momento em que o personagem central da suíte descobre a guitarra. Outra coisa interessante é a interpretação vocal de Lee no momento da conversa do personagem com os sacerdotes do Templo de Syrinx, mudando a forma de falar, e inclusive adicionando drama na voz da personagem quanto os sacerdotes menosprezam-o pela primeira vez. Rush inovando aqui!

O trio de ouro do rock canadense

A sequência final, com o Bis, é aquela conhecida, com "Working Man", "In The Mood" e o solo de bateria, porém acrescentando "Fly By Night" no meio delas. O solo de Peart já é bem próximo ao que depois ficou consagrado em "YYZ" de Exit ... Stage Left, porém adicionando diversos instrumentos. Para surpresa geral, no segundo Bis, a banda apresenta a última canção de A Farewell To Kings, "Cinderella Man", uma rara oportunidade de ouvir essa bela faixa ao vivo, já que depois disso ela participou pouca vez dos set lists dos canadenses. Ficou apenas "Madrigal" de fora, o que convenhamos, é bem pouco perto da grandiosidade do álbum. Fechando o segundo CD, temos uma série de cinco canções bônus. 

A primeira é uma (na minha mais honesta e sem paixão visão) desnecessária versão de "Xanadu" feita pelo Dream Theater. Não entendo a lógica de gravar um cover tocando todas as notas igual ao original, apenas com a bateria soando diferente primeiro por que é Mike Mangini quem está tentando ocupar o posto de Neil Peart e segundo por que as peles sintéticas de hoje em nada se comparam ao som das peles dos anos 70. Os caras parecem adolescentes que estão aprendendo a tocar, que tentam imitar igualzinho os seus ídolos, e quando conseguem vão mostrar faceiros para as tias o resultado. Está tudo certinho, tudo bonitinho, mas é muito mecânico para o meu gosto. Para piorar, James LaBrie nunca foi um bom cantor, e ver ele destruindo na interpretação desse clássico é mais vergonhoso do que ver eleitor do Bolsonaro defendendo o mito com a famosa frase "E o PT?". Ridículo, muito ridículo esse cover aqui. Depois vem "Closer to the Heart" na versão do Big Wreck. Confesso que não conhecia a banda, mas aqui não se preocuparam em fazer algo idêntico ao original, o que ficou interessante, como uma espécie de hard pop que lembra Extreme nos anos 90, bem divertido. O solo foi totalmente renovado, e acho que é o mínimo que poderíamos esperar de algo assim. Não fiquei fã da banda, mas curti a revisão que eles apresentaram.

O box Super Deluxe de A Farewell To Kings

Os canadenses do The Trews (belo nome) revisitaram "Cinderella Man", que apesar de pecar como o Dream Theater, reproduzindo fielmente as notas originais, os vocais aqui encaixaram muito bem, e é agradável ouvir a canção com essa nova perspectiva vocal. O último cover vem de Alain Johannes, músico famoso por sua passagem no Queens of the Stone Age que fez uma viajante revisão para "Madrigal", recheada de sintetizadores. Para fechar os bônus, "Cygnus X-2 Eh", faixa que serviu para fazer os sons incidentais que abrem "Cygnus X-1". 

Acompanha ainda um livreto de 44 páginas, das quais 20 são dedicadas a contar a história de A Farewell to Kings, bem como esmiuçar cada canção do álbum de uma forma tão detalhada em minutagem, e conceitos técnicos, que até fiquei com vergonha dos meus textos dos tempos de Maravilhas do Mundo Prog. Para se ter uma ideia, a faixa-título recebeu quatro páginas de avaliação, enquanto "Xanadu" são cinco páginas de detalhes feitos por Rob Bowman. Também no livreto há as letras do álbum, algumas imagens do trio e uma bela arte de recriação tanto da capa (que apresenta uma interessante charada com três "hobbies" pertencentes cada um a um membro da banda) e com uma bonita arte que acompanha as letras, ambas feitas por Hugh Syme, que criou a capa original. 

O box Super Deluxe contém as mesmas canções deste box, porém, no Blu-Ray, além do áudio das canções originais de A Farewell  to Kings, temos também os vídeos promocionais para "A Farewell To Kings", "Xanadu" e "Closer To The Heart", tornando-se realmente um fetiche para os colecionadores completistas. Daqui uns meses trarei o que está na versão de 40 anos de Permanent Waves, lançada ano passado, e aguardo o que virá para Moving Pictures.

Contra-capa da versão tratada aqui

Track list

Album - 2015 Abbey Road Remaster

1. A Farewell To Kings

2. Xanadu

3. Closer To The Heart

4. Cinderella Man

5. Madrigal

6. Cygnus X-1

CD 2 Live At Hammersmith Odeon - February 20, 1978

1. Bastille Day ( Features A Performance Of Justin Hayward & John Lodge " Nights Winters Years " )

2. Lakeside Park

3. By-Tor & The Snowdog

4. Xanadu

5. A Farewell To Kings

6. Something For Nothing

7. Cygnus X-1

CD 3

1. Anthem

2. Closer To The Heart

3. 2112

4. Working Man

5. Fly By Night

6. In The Mood

7. Drum Solo

8. Cinderella Man

9. Dream Theater - Xanadu

10. Big Wreck - Closer To The Heart

11. The Trews - Cinderella Man

12. Alain Johannes - Madrigal

13. Cygnus X-2 EH


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