sábado, 15 de maio de 2010

UFO Parte III


Os anos 80 chegavam e o UFO passava pelo dilema de encontrar um substituto para Michael Schenker, que agora saía do Scorpions e montava a Michael Schenker Group (MSG). A solução encontrada ainda em 1979 foi voltar ao passado, e agora efetivar Paul Chapman como o líder das seis cordas.

De cara, partem para uma turnê pelos Estados Unidos, ao lado do Judas Priest e do AC/DC, que fazia a abertura para ambos, encerrando a mesma em junho de 79. Em agosto, mudam-se para a ilha caribenha de Montserrat, onde com a produção de nada mais nada menos que George Martin, começam a gravar o novo álbum do grupo, que ficou pronto em menos de dois meses.

Uma das seis capas de No Place To Run
Em janeiro de 1980, chegava as lojas o primeiro álbum pós-Schenker. No Place To Run trás bons momentos, começando com a instrumental "Alpha Centauri", onde sintetizadores fazem os acordes enquanto Parker marca o tempo no bumbo. Teclados começam a solar enquanto o tema dos sintetizadores vai mudando, chegando então em "Lettin' Go", com um longo sustain de guitarra que trás o riff principal e um forte acompanhamento de Parker e Way. Os vocais de Mogg não estão tão roucos, principalmente no grudento refrão entoando o nome da canção, e o solo de Chapman é em um estilo bem diferente do de Schenker, apostando em palhetadas rápidas e vibratos, seguido por um rápido solo de Raymond também na guitarra e entrando em uma sequência de acordes dedilhados e harmônicos que encerra a canção.

A cover de "Mystery Train" de Junior Parker e Sam Philips vem a seguir, com o violão de aço em escalas bluesístiscas apresentando o sensacional riff deste clássico do blues. Os vocais de Mogg surgem, e quando bateria e baixo começam a tocar, a pauleira pega, com Chapman tocando muito bem.

"This Fire Burns Tonight" apresenta Parker comandando uma canção típica do novo UFO, com teclados, guitarra dedilhada e vocalizações repletas de efeitos, onde o ponto alto é o refrão, encerrando o lado A com "Gone In The Night", onde o pesado e sujo riff é feito apenas pelas guitarras, apresentando um crescendo da bateria, que juntamente com Way acompanha o tema inicial, virando uma alegre balada com a entrada dos vocais.

Paul Raymond e Phil Mogg
O lado B abre com "Youngblood" inspirando-se em várias bandas. Esta é talvez a faixa mais mesclada do grupo, começando com o riff que lembra muito AC/DC, com viradas moonianas de Parker e um rock a la Stones, com o refrão relembrando os tempos da trilogia de Schenker. A faixa-título vem a seguir, com a guitarra oitentista de Chapman apresentando um som bem da época, onde o baixo toca lentamente, acompanhado pela batida bumbo-caixa de várias bandas hards dos anos 80.

"Take It Or Leave It", composta por Raymond, apresenta violões e guitarra sem efeito, com Mogg cantando uma balada na linha de bandas como Poison, Mötley Crüe, Whitesnake e Bon Jovi, com participação do piano e das tradicionais vocalizações falando "baby, baby".

"Money, Money" tem uma guitarra cheia de efeitos, que apresenta o riff principal, seguida por baixo, bateria e vocal. O baixo galopante de Way marca presença, mas a faixa tem uma sonoridade bem moderna e que desagrada aos ouvidos acostumados com faixas mais antigas.

No Place To Run encerra com "Anyday", onde o baixão de Way introduz com algumas notas, sozinho. A letra surge junto do andamento do baixo, e então, Parker aparece no refrão, que é pesado e seguido por um bom solo de Chapman.

A versão em CD de 2009 trouxe vários bônus, as quais são uma versão alternativa para "Gone in the Night" e mais três faixas gravadas no Marquee em 16/11/1980: "Lettin' Go", "Mystery Train" e "No Place to Run", além de um grande livreto contando histórias da época de gravação do mesmo.

Bem mais pop e americanizado, o disco alcançou a posição 51 na Billboard americana no início de 1981, e acabou surpreendendo até mesmo o grupo. Dele, foram extraídos os singles de "Young Blood" e "Lettin' Go". Um detalhe curioso sobre o lançamento deste álbum é que na capa, o nome do mesmo foi lançado em seis diferentes versões, cada uma com uma cor diferente (verde, azul, amarelo, púrpura, laranja e negro) além também da posição do nome do álbum, aumentando ainda mais as buscas dos colecionadores. Na Coréia, o álbum acabou saindo ainda com a capa inteira em cor diferente, totalmente rosa.

Antes da turnê de divulgação de No Place To Run começar, mais uma troca, agora com Neil Carter (ex-Wild Horses) substituindo Paul Raymond. Carter tocava teclados, guitarra, saxofone e ainda fazia arranjos orquestrais, e acabou empregando todos os seus dotes já na primeira participação com a banda, levando o UFO a se tornar quase uma banda AOR, porém ainda tocando pesado graças a Parker e Way.

A polêmica capa de The Wild, The Willing and the Innocent

Lançado em janeiro de 1981, The Wild, The Willing and the Innocent direcionava o grupo cada vez mais para um rock fácil e sem inspiração. O disco, que pela primeira vez tinha produção da própria banda, varia entre boas músicas e outras mais fracas, e caracteriza-se pela fraca participação de solos de guitarra.

"Chains Chains" é a responsável por abrir os trabalhos, onde a guitarra cheia de efeitos de Chapman introduz junto com o baixo e a bateria, puxando o riff ao lado de uma slide guitar. O peso acompanha os vocais de Mogg, com um ótimo refrão onde o violão faz o dedilhado para acompanhar as vocalizações, contando também com um tímido solo de Chapman.

"Long Gone" vem a seguir, com guitarra, baixo e sintetizadores introduzindo o tema principal. Os vocais de Mogg surgem, e a entrada de Parker dá o ritmo da canção, com outro bom refrão. Chapman resgata o emprego das guitarras gêmeas, além de usar várias escalas, tocando com velocidade em mais um pequeno solo. A canção encerra-se em uma pesada sessão instrumental, com belos arranjos de cordas feito por Paul Buckmaster

A faixa-título apresenta teclados e violão em sua introdução, com a guitarra surgindo no riff principal. Um hard oitentista e pesado, com um bom trabalho vocal, também contando com arranjos orquestrais e sem ter nenhum solo de guitarra.

O lado A encerra com "It's Killing Me", a qual começa com o tema da guitarra aumentando aos poucos, acompanhado pela leve cadência de Parker e Way. O grudento refrão e a boa participação de Chapman são os principais destaques.

Versão americana de The Wild, The Willing and the Innocent
O lado B abre com "Makin' Moves", onde guitarra e teclado fazem o bonito tema introdutório juntamente com o baixo, e assim, Chapman solta o riff para Parker e Way surgirem com o acompanhamento bumbo-caixa-baixo galopante. O solo de Chapman é dividido em duas partes, a primeira com o tema lento e depois com muitas palhetadas no tema de acompanhamento dos vocais.

Já em "Lonely Hearts", Carter introduz no piano elétrico, trazendo os vocais de Mogg. Guitarra, baixo e sintetizadores surgem, e a melodia do piano passa a ser feita pelo baixo e pela guitarra. O refrão em terças e as vocalizações no refrão são o principal destaque. Carter faz um curto solo de saxofone sobre o tema inicial, e a letra é retomada, com a canção encerrando apenas com o piano e o saxofone.

A fraca "Couldn't Get It Right" apresenta um riff repetitivo de Chapman, com efeitos de sintetizadores, e que são acompanhados pelo baixo e uma espécie de bateria eletrônica, em mais um som bem anos 80, que deve ter a parte inicial agradando aos fãs de U2 por exemplo. Na segunda parte, a canção ganha velocidade, sempre com a marcação da bateria eletrôncia, levando a um solo pouco inspirado de Chapman e que assusta aos antigos fãs.

O disco encerra com a balada "Procession Of Violence", onde o lindo dedilhado do violão é acompanhado por cordas e piano. Os vocais de Mogg surgem, enquanto as cordas fazem belas intervenções junto com vocalizações entre as frases de Mogg. A canção encerra-se com um solo de guitarra bem característico, e que para mim é o melhor de Chapman no UFO, acompanhado por um lento andamento de baixo, bateria, cordas e piano, valendo a pena o investimento no álbum.

Na versão digital de 2009, The Wild, The Willing and the Innocent ganhou um caprichado livreto e o bônus de "Hot 'n' Ready" gravada ao vivo durante o Reading Festival. O disco vendeu bem nos EUA, obtendo a posição 71, e na Inglaterra, dois singles foram lançados: "Couldn't Get it Right / Hot 'n' Ready" e "Lonely Heart / Long Gone", com o último conseguindo um relativo sucesso de vendas, alcançando a posição 19, a mesma do LP. Consta que John Sloman fez participações no álbum, mas as mesmas não foram creditadas.

Ainda nos EUA, a conservadora elite americana rejeitou a capa original, onde um homem aparece atacando uma mulher pelas costas com uma espécie de soldador. Assim, a capa americana apresentava apenas uma chama entre várias imagens não identificáveis, que era exatamente uma parte da capa original.

O UFO partiu em turnê novamente pelos Estados Unidos, agora abrindo para Ozzy Osbourne. Durante a turnê, começam a cômpor material para mais um disco.

O meloso Mechanix

Seguindo a linha do seu antecessor, empregando cada vez menos solos e apostando em baladas melosas, Mechanix foi lançado em fevereiro de 1982, trazendo como novidade a separação com a Hipgnosis, com a capa agora a cargo de John Pasche.

O disco abre muito bem, com a paulada "The Writer", com Chapman comandando o pesado riff, seguido por bateria, baixo e intervenções de sintetizadores. Os vocais de Mogg são fortes, cantando como nos bons tempos, e o destaque vai para a sequência de solos com Carter e Chapman, além da participação de Carter tocando saxofone novamente.

O disco segue com o bom cover para "Somethin' Else", imortalizada por Eddie Cochran, onde a bateria comanda este grande clássico do rock'n'roll, aqui com uma vestimenta mais moderna, onde o riff é executado por saxofone, guitarra e baixo.

A partir de então, o álbum cai em melosas e fracas baladas, com letras apelativas que causam inveja a David Coverdale, começando com "Back In To My Life", onde um riff pouco inspirado introduz, com a base feita pelo piano, violão, baixo e bateria. Mogg canta emotivante, principalmente no refrão, acompanhado por vocalizações femininas. Além disso, a faixa conta com um solo de Chapman de assustar aos fãs de Schenker.

"You'll Get Love" é outro som moderno, onde de novo Chapman não consegue criar um bom riff, além de uma levada sem inspiração, e o lado A encerra com "Doing It All For You", onde a bateria lenta de Parker é seguida por acordes de guitarra. Mogg canta com uma voz distorcida, em mais um rock pouco criativo, que tem como destaque apenas o tema instrumental que acompanha o solo de Chapman.

UFO com Neil Carter
"We Belong To The Night" abre o lado B com efeitos de sintetizador tomando conta das caixas de som, enquanto Parker faz diversos rolos, mantendo o nível das canções anteriores.

Já "Let It Rain" trás o riff com intervenções de guitarra, em um hard simples, alternando momentos onde o baixo galopante comanda o ritmo e tendo um refrão muito estranho, com teclados, sintetizadores e vocalizações falando o nome da faixa acompanhando os vocais de Mogg

A bela "Terri" tem sintetizadores e os vocais de Mogg abrindo a canção. O bonito arranjo de cordas feito por Carter leva a uma legítima balada dos anos 80, com guitarras dedilhadas e vocalizações no refrão, além de um solo rasgadaço de Chapman.

"Feel It" é um rock básico, com riffs simples e repetitivos, onde o destaque vai para a boa interpretação vocal de Mogg, e o LP encerra com "Dreaming", onde a guitarra pesada de Chapman introduz com um rápido solo, levando aos vocais de Mogg em um agitado som, com Parker socando a bateria. Chapman solta os dedos em um grande solo, acompanhado pelo pesado riff de Way, e o álbum encerra como começou, com muito peso, apesar de algumas quedas durante a sua audição.

Apesar de ser considerado um álbum mais mediano pelos fãs mais antigos, Mechanix agradou e muito a geração saúde dos anos 80, sendo o segundo álbum mais vendido na Inglaterra dentro da história do grupo, alcançando a posição 8 nas paradas dos charts da Billboard britânica (Strangers In The Night atingiu a sétima posição) puxado pelo compacto Picture de "Back Into My Life", tendo "The Writer" no lado B. Nos EUA porém, Mechanix atingiu a posição 82.

A versão japonesa deste álbum trouxe ainda a faixa "Heel of a Stranger" e o re-lançamento oficial de 2009 trouxe além de "Hell of a Stranger" os bônus: "We Belong To The Night", "Let It Rain" (ambas gravadas ao vivo em Oxford) e "Doing It All For You", gravado em uma passagem de som em Birmingham.

O compacto picture de "Back Into My Life"
O UFO batalhava com a NWOBHM (sendo um dos precursores da mesma), e observava cada vez mais seus fãs originais irem em busca dos sons de Saxon, Angel Witch, Venom e Iron Maiden, enquanto que os novos fãs pouco ligavam para a longa e importante carreira do grupo. A turnê de Mechanix era um fracasso de público. Poucos shows conseguiram ter todos os ingressos vendidos.

Desanimado e desiludido, Mogg afundava-se cada vez mais em álcool, enquanto Way, que sempre usou e abusou de drogas pesadas, estava viajando muito em heroína. O pior de tudo para Way e principalmente Mogg era o fato de Schenker estar se saindo muito bem com a MSG, vendendo muito mais discos na América do que o próprio UFO, principalmente com o sensacional One Night At Budokan, gravado ao vivo no Japão.

Acabado pelas drogas e pelo cansaço, Way, o membro fundador da nave espacial, pedia arrego e largava o UFO, indo trabalhar em outros projetos, como a produção do álbum de estreia do Twisted Sister, participar rapidamente da banda de Ozzy Osbourne e montar o projeto Fastway, ao lado de Fast Eddie Clarke, ex-guitarrista do Motörhead. Pouco depois, Way construiu sua própria banda, o Waysted.

O fraco Making Contact
Com os butiá caindo dos bolsos, Mogg e UFO ainda tinham um contrato a cumprir, e em total desânimo, vão para os estúdios, onde registram o tenebroso álbum Making Contact, o qual foi lançado em fevereiro de 1983 e que tinha um domínio total de composições por Neil Carter (9 das 10 faixas tem a participação do músico), agora efetivado também a baixista.

Produzido por Mick Glossop, o disco abre com "Blinded By A Lie", onde os teclados introduzem junto com o riff de Chapman. O acompanhamento de baixo e bateria lembra Asia, com os teclados fazendo os acordes para acompanhar os vocais de Mogg. Destaque apenas para o solo de Chapman, que leva para a faixa "Diesel In The Dust", com o baixo ditando o ritmo e tendo uma interessante sessão instrumental antes do solo de Chapman.

"A Fool For Love" retorna as baladas de Mechanix, com Mogg cantando acompanhado pelo dedilhado da guitarra, e tendo mais um interessante solo de Chapman, levando para "You And Me", com muitos sintetizadores e sem acrescentar nada de novo.

O lado A termina com "When It's Time To Rock", onde Chapman entra com seu solo, seguido de acordes de baixo, guitarra e pratos. Parker faz diversas viradas na bateria, e então Chapman puxa o riff principal naquela que para mim é a melhor faixa do álbum, com um bom ritmo e com Mogg cantando muito, mesmo tendo a bateria eletrônica de "Couldn't Get It Right", o qual fica obscurecida pelo bom trabalho de Chapman.

"The Way The Wind Blows" abre o lado B com um pesado riff de Chapman, seguido pelos acordes de teclados e mais um solo de Chapman. Outra boa faixa, com belas passagens de guitarra e do baixo, que peca apenas no fraco refrão.

"Call My Name" possui órgão de igreja em mais uma alegre balada, enquanto "All Over You" é aquele tradicional AOR comandado por baixo e sintetizadores, onde Carter faz uma canja nos backing vocals.

"No Getaway" tenta resgatar algo de bom dentro do LP, com baixo e guitarra dividindo-se para fazer os temas do riff, e Carter novamente participando nos vocais e também tocando teclados, com a pedrada "Push It's Love" encerrando o álbum, onde temos um bom riff de baixo e um grudento refrão. O solo de Chapman nesta faixa é muito bom, com um belo arranjo do baixo. Destaque total para Parker, o único que teve dignidade de tocar pesado e forte como nos bons tempos.

A versão em CD de Making Contact trouxe apenas "Everybody Knows" como bônus, e o disco vendeu relativamente bem na Inglaterra, com a posição 32. Em compensação, nos EUA, o UFO ficou na humilhante 153.
UFO com Billy Sheehan

Apesar da gravadora dizer não, Mogg tentou fazer uma excursão para divulgar o LP, contratando Billy Sheehan para o baixo. Porém, em um show na cidade de Atenas, Mogg desmaiou no palco devido ao abuso das drogas. A plateia acabou destruindo o local e quase linchando seguranças e banda, com Sheehan sendo atingido por uma garrafa.

Coletânea Headstone (com a árvore genealógica)

David Grey (ex-Damned e Eddie And The Hot Rods) ainda chegou a substituir Sheehan, mas já era tarde, e em abril de 1983, Mogg anunciava ao mundo o fim do UFO. Pouco depois, a Chrysalis largou no mercado a coletânea dupla Headstone - The Best of UFO, contando com 18 canções e cobrindo o período desde a entrada de Schenker até o fim do grupo, sendo o lado D gravado ao vivo no Hammersmith Odeon, no show de despedida do UFO. Entre as canções nos demais lados, músicas relacionadas aos ex-membros da banda, como "Fool For Your Lovin" (Whitesnake), "She Said" (Lonestar), "Lovedrive" (Scorpions), "Armed and Ready" (MSG) e "Criminal Tendencies" (Wild Horses), sendo as mesmas belamente explicadas na incrível árvore genealógica incluída na capa interna do LP.

Porém, dois anos depois, uma nova aeronave surgia no espaço aéreo do grupo ...

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