segunda-feira, 12 de julho de 2010

West, Bruce & Laing


Para entender o que Jack Bruce fez após o fim do Cream, é preciso primeiro narrar rapidamente a história de um dos pioneiros do hard setentista, o power-trio Mountain.

Formado em 1969, o grupo tinha em sua formação Leslie West (guitarras, vocais), N. D. Smart (bateria, vocais) e Felix Pappalardi (baixo, vocais), sendo que este último havia sido o produtor do Cream nos álbuns Disraeli Gears, Wheels Of Fire e Goodbye. O som do Mountain era muito similar ao Cream, tendo como destaque justamente o poderoso baixo de Pappalardi e a potência vocal de West. O grupo participou do festival de Woodstock e pouco depois, Smart foi substituído por Corky Laing. Com a adição de Steve Knight nos teclados, lançaram os espetaculares Climbing! (1970), Nantucket Sleighride (1971) e Flowers of Evil (1971), além do essencial ao vivo The Road Goes Ever On (1972). O nome do grupo veio justamente da união de Smart, Pappalardi e West para a gravação do álbum solo de West, Mountain, lançado em 1969.
Mountain: Laing, Pappalardi, West e Knight

Porém, o curto tempo na estrada foi o suficiente para destruir as estruturas do grupo. No palco, eles tocavam tão alto que Pappalardi acabou ficando com problemas de audição. Além disso, o abuso de drogas e álcool por parte de West e Laing deterioraram as condições físicas de ambos, além do cansaço pela sequente sucessão de shows. Resultado, o Mountain separou-se em 1972, com Pappalardi voltando aos trabalhos por trás das mesas de som, indo produzir várias bandas, além de gravar com os japoneses do Creation o álbum Creation with Felix Pappalardi de 1976.


West, Bruce & Laing

Mas West não queria ficar abandonado, e decidiu tornar um sonho real. Desde a primeira vez que ouvira o Cream, West se encantou pelo talento de Bruce. O fácil contato de Pappalardi com o baixista, sendo que Pappalardi produziu e tocou no primeiro álbum solo de Bruce, Songs for a Taylor (1969), fizeram com que West e Bruce se tornassem bons amigos.

Bruce vinha de 3 álbuns solos: o já citado Songs for a Taylor, Things We Like (1970) e Harmony Row (1971), onde manteve o status de grande compositor e músico. Porém, sentia faltava de um "algo a mais" vindo de seu som, o que acabou encontrando na guitarra afiada de West. Foi o corpulento guitarrista que convidou Bruce para participar do Mountain. Bruce topou, mas como era muito amigo de Pappalardi, pediu que não adotasse o nome Mountain, mas sim um novo nome. Surge então, na primavera de 1972, mais um grande power-trio, o West, Bruce & Laing.

A ideia inicial do trio não era gravar discos, mas sim, tocar e tocar até a exaustão. A estreia oficial ocorreu em abril de 1972, com um show na cidade de Cleveland no dia 21, seguido por um show em Nova Iorque no dia 24 e em Boston no dia 27.

Porém, a Windfall, gravadora do Mountain à epóca, viu no novo trio a possibilidade de ganhar um dinheiro com o lançamento de um LP. Desta forma, assinam o contrato para a gravação do álbum, e entram em estúdio para gravar em poucos dias o primeiro e excelente disco de estreia.



Why Dontcha - Ótima estreia

Misturando o blues do Cream com o hard cru do Mountain, Why Dontcha foi lançado em novembro de 1972, e apresentava um Jack Bruce muito mais técnico do que nos tempos de Cream, pilotando dinamicamente piano, teclados e também baixo e voz.

O disco abre com a faixa-título, onde o riff de West apresenta a canção que é cantada pelo corpulento guitarrista, com um ótimo acompanhamentode Bruce e Laing, onde o destaque vai para as belas linhas de baixo de Bruce.

"Out In The Fields" vem a seguir, com Bruce ao piano acompanhado apenas pelos pratos, carregando uma bonita balada onde Bruce mostra seus dotes nos teclados. Acompanhado por vocalizações femininas, Bruce solta a voz, tendo no refrão uma marcante interpretação seguido por um interessante solo de West.

A clássica "The Doctor" é comandada por West, que canta forte enquanto gasta seu slide na guitarra. O acompanhamento de Laing e do baixão de Bruce, que também acompanha em algumas frases vocais, dão ainda mais peso ao som. Bruce faz uma sequência rápida de escalas, levado ao solo de slide feito por West, retornando a letra de uma das melhores canções do trio. As rápidas escalas de Bruce aparecem novamente, com West solando ao slide e Laing destruindo a bateria, em uma viajante sessão que leva ao final da canção com a repetição do refrão.

"Turn Me Over" lembra Cream, com Bruce tocando harmônica em um estilo similar a "Rollin' and Tumblin'". Essa é uma canção rara, já que é Laing quem comanda os vocais de um blues rápido levado pelo slide de West onde Bruce faz o solo principal na harmônica.

O lado A encerra com a cover de "Third Degree", de Eddie Boyd e Willie Dixon. Um fantástico e embriagante blues, com Bruce fazendo um duelo entre piano e baixo enquanto West solta notas rasgadas em sua guitarra. O solo de West parece ter saído dos primeiros discos do Led Zeppelin, tornando a faixa perfeita para um afundamento em um copo de uísque, enquanto se entorpecemos com os gritos de Bruce e com a guitarra de West. No encerramento da faixa, uma surpresa, a canção transforma-se em um visceral rock onde Bruce sola muito no baixo.



O trio em ação
"Shake Ma Thing (Rolling Jack)" abre os trabalhos no lado B, novamente com Bruce ao piano e dividindo os vocais com West. O solo do gordinho é feito novamente com o slide, pegando fogo com o enlouquecido acompanhamento de Bruce e Laing.

A balada "While You Sleep" surge com o piano seguido por um violão. West toca o que o grupo chamou de violin guitar, e é o vocalista da canção. Detalhe interessante é que Laing é o responsável por tocar o violão, e também para o bonito coral de vozes feito por Bruce no refrão.

Já "Pleasure" apresenta um riff característico feito por West, com Bruce no piano, baixo e vocais. As escalas de Bruce no baixo são impressionantes, tocando de forma rápida ora acompanhando a melodia vocal, ora o rif da guitarra. West sola sobre o rápido acompanhamento da cozinha e do piano, deste que é mais um grande som do West, Bruce & Laing.

"Love Is Worth Blues" é a paulada fundamental para os aprendizes do grupo. Muito similar as canções do Mountain, abre com West cantando emotivamente. A medida que a letra se desenrola, West vai cantando-a de forma cadenciada, até que a canção se transforma em uma ótima sessão instrumental, onde sequências de acordes em terça são a cama para West solar com muito pique. O encerramento se dá com West solando sozinho na guitarra, depois do pau ter pego geral no fantástico solo criado pelo trio.

Por fim,"Pollution Woman" fecha o vinil, com o baixo sendo inicialmente acompanhado apenas pelo cymbal, trazendo o pesado riff da canção. Bruce surge com os vocais, acompanhado por vocalizações femininas e tendo o ritmo feito por violões. No refrão, Bruce usa sintetizadores, enquanto West acompanha com frases vocais e intervenções da guitarra, naquela que para mim é a mais fraca do álbum.

"The Doctor" teve ampla divulgação nas rádios, tornando-se a carro-chefe do álbum e sendo uma das mais pedidas nos shows ao vivo. O LP ficou na vigésima sexta posição na parada da Billboad, e até hoje é reconhecido como um dos grandes álbuns de estreia em todos os tempos.

Sobre o disco, Laing comentou em uma entrevista para o blog da Poeira Zine:
Eu tenho que dizer que esses são os discos preferidos de toda a minha carreira. Eu costumo dizer que esses álbuns são meus filhos (risos). O Why Dontcha certamente foi um dos discos mais rapidamente compostos e gravados da história do rock. Tudo ali esbanjava urgência. Literalmente colocamos nossas tripas pra fora neste álbum de estréia."
Após o lançamento do LP, o trio partiu para uma turnê pelos Estados Unidos, tocando em Nova Iorque (06/11/1972), Boston (10/11/1972) e Dallas (29/11/1972). Dão uma pausa para as festas de final de ano, e voltam a ativa em fevereiro de 1973, já pensando em um segundo álbum, com a harmonia e alto-astral lá em cima e visualizando mais shows.

Partem então para a europa, onde realizam uma série de shows pelo velho-continente nos meses de março e abril, começando por Copenhagen (Dinamarca - 28/03), Viena (Áustria - 04/04), Paris (05/04), Munique (13/04), Kaiserslautern (Alemanha - 14/04), Frankfurt (16/04), Manchester (22/04) e encerrando a turnê em Newcastle (24/04).



A engraçada capa de Whatever Turns You On

O próximo passo foi entrar nos estúdios e concluir os trabalhos do segundo álbum, o qual foi lançado em julho de 1973. Com uma capa divertidíssima, contando os principais vícios de cada integrante (West com a comida, Bruce com bebidas e Laing com mulheres), Whatever Turns You On manteve o bom nível de Why Dontcha, apesar de não ter sido recebido tão bem pela crítica.

O disco abre com o riffzão de "Backfire", seguido por pequenos solos de West acompanhado pela cozinha. Bruce comanda os vocais de um ótimo rock'n'roll recheado pelos solos de West e as espetaculares escalas de Bruce.

"Token" vem a seguir, com a guitarra repleta de efeitos seguida por batidas na bateria. West canta sobre uma cadência bem hardiana, dividindo os vocais com Bruce em algumas partes. Bruce também é o responsável por alterar o ritmo da canção, tornando-a um agitado blues onde as escalas do baixo são o principal destaque junto com a sequência de solos de West eBruce.

A triste "Sifting Sand" possui participação apenas de Bruce no piano, baixo e órgão, contando com um lindo arranjo instrumental, encerrando o lado A com a paulada "November Song". Bruce começa cantando sozinho ao piano, tendo um violão ao fundo, que passa a acompanhar a letra junto com o órgão. Bruce solta a voz, em um raro momento onde o baixista canta calmamente. Finalmente, surge o solo de West, encerrando a canção com um leve andamento do piano.
A poderosa e barulhenta dupla de frente West / Bruce

"Rock and Roll Machine" abre o lado B com outro grande riff de West acompanhado por solos de slide, gravando mais um hard para a carreira do trio. Destaque para a ótima sessão de teclados, onde Bruce declama um poema, antes de encerrar a canção com um curto solo de West enquanto o nome da canção é gritado pelo gordinho.

"Scotch Crotch" trás Bruce ao piano, baixo e vocais, em outro animado blues onde West surge apenas para fazer um rápido solo sobre o andamento do paixo e do piano, levando a "Slow Blues".

Como o nome diz, é um blues arrastado, com Bruce ao piano e com West fazendo intervenções com a guitarra. Bruce canta muito nessa faixa, além de executar um ótimo solo ao piano duelando com West, e levando a "Dirty Shoes", uma paulada, começando com a bateria que dita o ritmo do piano e da guitarra, bem como os vocais de West. A canção vai ganhando volume, e então, Bruce e West passam a cantar juntos, embaladaços pelo acompanhamento visceral de Laing na bateria. West sola com slide, dando ainda mais pegada ao boogie feito pelo trio.

O disco encerra com "Like A Plate", onde harmônicos de violão introduzem a canção, para West soltar seu vozeirão acompanhado por violão, bateria e baixo. No refrão, as vocalizações femininas do primeiro álbum se fazem presentes, e o destaque vai para o bonito solo de órgão feito por Bruce.

"Whatever ..." ficou na posição 87 da Billboard, e não fez tanto sucesso quanto a estreia de Why Dontcha. Sobre o álbum, falou Laing: "Falando como baterista, gravar com um baixista como Jack Bruce foi uma experiência única e inesquecível. Ele é um mestre em seu instrumento e isso ficou mais latente ainda neste segundo registro. Tive sorte de estar junto desses caras e gravar álbuns como este.”

 

O derradeiro ao vivo

O grupo continou excursionando, fazendo shows por Europa e Estados Unidos. Da turnê, registram gravações que culminariam no fantástico álbum Live 'n' Kickin, lançado em 1974, que trás nos sulcos uma poderosa versão para "Play With Fire" dos Rolling Stones, além de inspiradas versões para "The Doctor", "Politician" (originalmente gravada pelo Cream) e a inédita "Powerhouse Sod".


Porém, antes do lançamento do disco ao vivo, o trio se separou por problemas internos e também com a gravadora Columbia, que era a chefe da Windfall e que não aceitou a quebra de contrato do Mountain, mesmo com o West, Bruce & Laing fazendo muitos shows e vendendo relativamente bem. Em 1973, a Columbia lançou a coletânea The Best Of Mountain, incentivando Pappalardi a voltar com o Mountain, o que ocorreu em 1974, com o lançamento do ao vivo Twin Peaks, gravado durante a turnê japonesa do Mountain em 1973.


O Mountain não duraria muito tempo, encerrando as atividades ainda em 1974, após o lançamento de Avalanche. Em 17 de abril de 1983, a esposa de Pappalardi, Gail Pappalardi, matou o marido, baixista e produtor, por questões de ciúmes, sendo condenada a apenas 4 anos de prisão, os quais cumpriu e depois se isolou na Califórnia.


Em 1985, o Mountain retornaria com Laing, West e Mark Clarke (ex-Colosseum e Uriah Heep) no baixo, registrando o álbum Go For Your Life (1985) e Man's World (1996). A dupla continou excursionando ora com o nome de Mountain, ora como West Band, tendo inclusive o excepcional Noel Redding (Experience) no baixo, e nos anos 2000 lançou dois álbuns: Mystic Fire (2002) e Masters of War (2007).


Já Jack Bruce seguiu sua carreira solo, além de participar de álbuns de artistas como Frank Zappa e John McLaughlin. Tocou ao lado de Bruce e Gary Moore no BBM, com quem lançou o disco homônimo em 1994. Um ano antes, esteve presente na reunião do Cream para o Rock 'n' Roll Hall of Fame (ao lado de Clapton e Baker) e também foi atração no retorno do grupo em 2005, com os shows em Londres e Nova Iorque.



West, Bruce Jr. & Laing

Em 2009, o filho de Bruce, Malcolm Bruce, convidou West e Laing para fazer uma série de shows com o nome West, Bruce Jr & Laing, que foi amplamente massacrada pela imprensa especializada, acusando Bruce de copiar o pai. O trio fazendo poucos shows durante o mês de janeiro de 2010, encerrando as atividades e o legado de um dos mais verdadeiros power-trios do rock.

Um comentário:

  1. While you sleep the quiet nights
    While you sleep the quiet nights
    Before you lie the morning light shines down on you
    Disguised is the heat for today

    While you sleep glory glows
    While you sleep glory glows
    A newborn child, a horse run wild, love reposed
    A world with no man ruled by fear

    Played by the ocean it's emotion
    Stay by the sea or the sand
    Played by the sea it's devotion
    Share all the waters with the land

    Played by the ocean it's emotion
    Stay by the sea or the sand
    Played by the sea it's devotion
    Share all the waters with the land

    While you wait for love to come
    While you wait for love to come
    A hopeless smile, an endless mile, a hurt man's truth
    A heart making love, woman for you (making love for you)

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